Rotina com
Purpurina
Administrando sua casa
sem estresse e com estilo
Maria Eugenia Sahagoff
PREFÁCIO
São poucas as pessoas no mundo que, gostando da idéia de
fazer tudo bem feito, conseguem colocá-la em prática. Pois para isso a vontade não basta; é preciso ter capacidade, vocação,
dom. E esse dom de fazer tudo bem feito acompanha Maria
Eugênia desde a infância. Foi nesse período tão doce da vida
que nasceu a nossa amizade, e desde então aprendi a admirar
seu detalhismo equilibrado, seu perfeccionismo sem frescura,
sua capacidade de fazer as coisas funcionarem. Qualidades
assim são inatas, mas também podem ser ensinadas e assimiladas. Prova disso é este delicioso “Rotina com Purpurina”, livro-guia-manual que cairá como uma bênção nas mãos de
mães, donas de casa e noivas a caminho de um novo “lar doce
lar”. São conselhos práticos, histórias divertidas e experiências
pessoais que costumavam ser transmitidas exclusivamente
dentro da família, de avós e mães para filhas e netas. Agora
estão ao alcance de milhares de leitoras e leitores, que têm
muito a descobrir e aprender com Maria Eugênia. Parabéns,
minha amiga querida, e desde já muito obrigada por mim, por
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minhas filhas e por todas nós mulheres, por suas dicas e vivências preciosas.
Maria Cecilia Giffoni
Proprietária das lojas Cecilia Dale
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APRESENTAÇÃO
As donas de casa brasileiras são privilegiadas: a maioria
das pessoas de classe média pode contar com o auxílio de empregadas domésticas, luxo reservado para poucos. Este aspecto tem conseqüências importantes na estrutura social brasileira, facilitando a vida em milhões de lares cujos donos trabalham fora ou têm atividade que não poderiam exercer sem o
auxílio desse tipo de mão-de-obra.
Quando não se pode contar com esse apoio, busca-se outros meios de descomplicar a vida: comidas prontas congeladas, roupas que dispensam o ferro, etc. Não há, porém, recurso contra certas coisas: ninguém escapa da faxina. O pó e a
sujeira não perdoam. O trabalho doméstico tem duas características próprias: a primeira é que só aparece o que não foi
feito. Se a pessoa não espanou a casa, todo mundo nota. Se o
fez, ninguém repara; a segunda é que as tarefas não acabam
nunca. Ao fim do café-da-manhã, já se começa a preparar o
almoço, cujos pratos mal estarão lavados quando se iniciar a
faina do jantar. Isto sem contar as camas por fazer, toalhas de
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banho por trocar, lavagem de roupa, dia após dia, entra ano,
sai ano. Se houver criança pequena na casa, então... Pior ainda
se houver adolescentes deixando um rastro de desarrumação
atrás de si, como a cauda de um cometa.
Quando tudo parece ter entrado nos eixos, filhos criados e
educados, a geração mais velha começa a dar trabalho, exigindo cuidados especiais – o que significa mais mão-de-obra.
Como minha mãe costumava dizer: “A velhice é uma merda,
mas a outra hipótese é muito desagradável”. A vida tem seu
curso inexorável. A vida doméstica, também.
Ter uma doméstica em casa sempre me pareceu natural.
Fazia parte do contexto. Só quando tive de me virar por conta
própria, casada, com filhos e trabalho, pude avaliar a importância da disponibilidade desse serviço.
Por fatores diversos, as pessoas não permanecem eternamente no mesmo emprego. Tive a felicidade de possuir uma
empregada por dezesseis anos que, infelizmente, faleceu. Outras vieram e se foram após alguns anos, meses ou mesmo dias.
Volta e meia tendo de substituir a mão-de-obra, via-me na
obrigação de explicar tudo de novo, tim-tim por tim-tim. Essa
sempre foi a pior parte.
Falta de tempo e paciência fizeram com que eu preparasse
uma série de instruções básicas, que repassava de uma empregada para outra sempre que havia necessidade de mudança.
Em vez de detalhar as tarefas, acostumei-me a entregar na admissão um roteiro de atividades constantes. Melhor e menos
desgastante para ambos os lados.
Quando meus filhos tomaram cada qual seu rumo, como
acontecera comigo, sentiram na pele o que era tomar conta do
próprio ninho. Pediram-me conselhos e repassei uma cópia das
minhas anotações: regras básicas que independiam do tamanho da moradia ou do número de moradores.
Constatei que o método funcionava não só para mim e
resolvi organizar esta experiência como um manual prático,
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para que mais gente pudesse dele se servir. É claro que a dor
ensina a gemer mas, se o aprendizado puder ser menos doloroso e mais rápido, melhor.
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EMPREGADOS
Contratação
A necessidade tem cara de herege. Quando se está precisando de mão-de-obra, vale tudo. Pede-se indicações ao porteiro do prédio, às amigas, à empregada da vizinha, além de
recorrermos a anúncios e agências.
Recentemente, tomei conhecimento de um serviço da Prefeitura de Santana do Parnaíba. Algumas voluntárias selecionam os moradores da região que estão procurando emprego,
fazem um cadastro e entram em contato quando aparece uma
oferta de trabalho. Proporcionam, inclusive, local para a entrevista entre os candidatos e os empregadores. O serviço é inteiramente gratuito. Um exemplo de integração governo/comunidade a ser seguido. Para quem se interessar, vá à rua Professor
Eugenio Teani, 39, das 8h às 17h. Convém ligar antes, explicando o tipo de empregado procurado, para dar tempo a uma
pré-seleção – até o dia em que escrevi este livro, o telefone era
(11) 4154.2832.
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Muita gente é avessa a anúncios em jornais por questões de
segurança. Não vejo desse modo, pois sempre deve ser tomada
uma série de cuidados, sendo imprescindíveis as referências. Se
a pessoa já trabalhou anteriormente, há sempre alguém que
pode falar a respeito do desempenho e dos motivos da dispensa. Carta de recomendação pode ser facilmente forjada. O registro em carteira ajuda, mas muitos patrões ainda têm o péssimo hábito de não cumprir este requisito legal: o de registrar
o empregado no momento da admissão.
Difícil alguém ser mantido num emprego durante anos se
cometer falha grave. Os dados da carteira podem ser falsos –
aconteceu comigo, mas é raro acontecer.
As agências de empregados também se limitam a confirmar
uma ou outra declaração do empregado. Nunca colhem informações oficiais. Responsabilizam-se pela substituição dentro
de um prazo determinado, mas não pela integridade da pessoa.
Há, inclusive, agências inescrupulosas que mantêm um quadro
fixo de domésticas que trocam de casa tão logo termina a validade do contrato inicial, proporcionando ininterrupto faturamento de novas taxas para a agência.
Felizmente, as ardilosas são exceções. Tenho uma amiga
cuja empregada já completou 26 anos de casa e foi contratada
por meio de uma agência de empregados.
Ao contratar, não caia no conto do INSS. Tive uma experiência muito negativa nesse sentido. Coloquei um anúncio em
busca de um motorista, que também fizesse serviços gerais,
por determinado salário. O candidato de minha preferência
dispunha-se a trabalhar desde que, em vez de pagar à Previdência, eu adicionasse o valor respectivo ao seu salário, por
sua conta e risco. Por menos, não ficaria. Caí em tentação.
Passados dois anos de ótimos serviços, surgiu-lhe uma oportunidade de empregar-se num posto de gasolina do bairro, cuja
oferta eu não poderia cobrir. Como todo mundo trabalha por
dinheiro, é claro que ele pediu as contas. Naquele momento,
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sob a alegação de que eu não recolhera os encargos trabalhistas, exigiu mundos e fundos. De nada adiantou lembrar-lhe ter
sido exigência sua a integração do INSS ao salário. Fiquei danada da vida, não com ele, mas comigo mesma por ter sido tão
ingênua. Pedi que voltasse dali a dois dias. Fui ao posto da
Previdência, mandei fazer os cálculos, com juros, correção e
multa, do período trabalhado e amarguei o recolhimento de
uma nota preta. Quando o indivíduo apareceu, todo pimpão,
crente que estava abafando, entreguei-lhe um maço de carnês,
todos pagos. Ficou com cara de tacho e eu aprendi a lição.
Nunca mais entrei nessa. Atravessou a soleira da porta, está
registrado, queira ou não. Por incrível que pareça, muitos empregados acham que “suja” a carteira o fato de, caso não se
adapte, constar pouco tempo de serviço numa casa. Por lei, no
entanto, não tem “meu pé me dói”... Fica o conselho para
quem quiser seguir.
Combine com seu empregado se você será responsável pelo
recolhimento do INSS integral ou se será descontada a parcela
cujo pagamento é devido pelo empregado. E, por favor, registre na carteira de trabalho o salário efetivamente pago e não o
mínimo. Numa ação trabalhista, esse ponto é facilmente comprovável pelo empregado, mediante a apresentação dos recibos diligentemente guardados para exibição na ocasião oportuna. Nunca subestime os conhecimentos de seu empregado,
pois há quase sempre um advogado disposto a patrocinar a
causa.
Leve em conta também que referências são relativas: o indivíduo pode ter agido corretamente num lugar e não tomar a
mesma atitude em outro. Ninguém, em sã consciência, pode
por a mão no fogo por alguém. Todo mundo limita-se a informar o que ocorreu no período em que o sujeito estava sob suas
ordens. O histórico anterior serve para dar uma idéia da personalidade do contratado, mostrando como se comporta no
ambiente de trabalho. Inúmeras vezes deixei de contratar uma
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Ao lidar com pessoas, empregados ou não, tenha sempre em mente que elas aceitam mais as opiniões de quem
elas gostam ou passam a gostar. É errado imaginar que o
que determina a boa vontade
é simplesmente o valor do salário. O dinheiro é a contrapartida indispensável do trabalho, mas a antipatia é uma
barreira intransponível.
Há quem dê referências falsas. Fui pessoalmente tirar informações de uma moça cuja carteira não estava
assinada, mas que alegava ter trabalhado bastante tempo em determinado local. O patrão desmanchou-se em
elogios. Uma semana depois de contratada, meus filhos chegaram do colégio e encontraram-na sentada no
chão e alisando com a mão as franjas do tapete. Conseguiram dissuadi-la a parar e ir tratar de outra coisa. A
seguir, ouviram-na chorar na cozinha alegando saudades do filho de dois anos cuja existência, até então, era
ignorada por todos. Um barulho na rua fê-la cismar que alguém da casa estava envolvido em briga e, por mais
que tentassem demovê-la da idéia, teve um ataque de nervos. A segurança do bairro foi chamada e levaramna de ambulância (isto mesmo!) à força, literalmente amarrada, para o hospital próximo, de onde foi transferida para o manicômio. Soube, então, que o “patrão” anterior tornara-se amante da moça e queria se livrar
dela a qualquer preço...
Não percebi o engodo quando fui falar com ele e, tendo a moça uma carinha de anjo de procissão, caí
como um pato.
empregada por tomar conhecimento de que ela não gostava de
trabalhar em grupo – no meu caso, seria impossível, pois havia
serviço demais para uma só. Certa vez, puxando papo, descobri que, acabada a faina diária, a candidata gostava de aumentar a renda mensal com atividades noturnas pouco ortodoxas
para os padrões morais da casa.
Se você está pegando informações por telefone, tente descobrir se a pessoa na outra linha não é simplesmente uma conhecida da candidata disposta a fazer o papel de ex-patroa.
Verifique se o endereço do emprego corresponde ao número
de telefone ligado. Dependendo do bairro, o nível de exigência
do empregador também varia, da mesma forma em que são
díspares os requisitos para a contratação de uma vendedora
para trabalhar na loja Cartier ou no botequim da esquina. Cada casa tem um padrão de necessidade. Isso nada tem a ver
com simpatia, honestidade ou eficiência. A candidata tem de
ser simplesmente adequada ao lugar que pretende ocupar. Leve
isso em conta ao pedir referências.
Ao contratar, devemos nos assegurar de que a futura empregada goste de animais – se for trabalhar numa casa com
gatos, cães ou aves; que tenha paciência com idosos ou leve
jeito com crianças, dependendo do caso. Pense numa contrata-
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ção a longo prazo e não aja para tapar buraco. Melhor gramar
um pouco sem ajuda do que ter de mandar alguém embora um
ou dois meses depois. Constante paciência ao bem conduz...
Mantenha uma pasta para cada empregado ou um fichário
exclusivo para tais documentos. Nele, devem ficar arquivados
os recibos, quinzenais ou mensais, as vias de INSS do empregador e as fichas de admissão. Lembre-se: documentos de INSS
prescrevem em vinte anos. Caso o empregado tenha perdido os
carnês e queira comprovar seu tempo de serviço, você pode ser
chamado para provar o recolhimento da sua parcela à Previdência dentro do prazo legal. Nessa altura, você nem se lembra
mais da cara da criatura, quanto mais onde pôs o papel, se não
estiver bem guardado. A pena vai ser sua: será responsabilizado pelo recolhimento de sua parte... Nunca parta da premissa
que coisas assim só acontecem com os outros.
Além do que, quanto maior o número de dados disponíveis
a respeito da pessoa que mora com você e que tem acesso à sua
intimidade, melhor. Mais do que nunca, o aspecto da segurança torna-se primordial. Exija na entrevista o preenchimento da
ficha sugerida a seguir, modificando-a nos pontos que julgar
relevantes. Solicite foto recente. Se perceber que a pessoa não
está em condições de arcar com este ônus, disponha-se a “patrocinar” o dispêndio. É rápido, barato e compensador. Numa
Outro caso foi o de um cinquentão, rechonchudo, que candidatou-se a chofer. Conferi, por telefone, as
referências do último emprego: ótimas. Uma senhora gentil atendeu e, conversa vai, conserva vem, convenceu-me de que o indivíduo seria ideal para a função de levar meus filhos ao colégio. Feitos os testes de direção,
meu marido aprovou sua contratação. Dois finais de semana mais tarde, pedi-lhe que comprasse algo em
Carapicuíba. Era sábado e ele tinha recebido uma caixinha extra. Foi, e nada de voltar. Já tarde, preocupados,
saímos em seu encalço. Antes de cumprir a tarefa, resolvera enxugar umas e outras no botequim com o recebido. Cheio de cachaça, tonto, tomou a direção e trombou com o caminhão da prefeitura. Sendo uma viatura
oficial, foi impedido de sair do local até ser registrada a ocorrência, o que levou o dia todo. Fora as dores de
cabeça, o carro ficou uma ruína. Pesquisas mais profundas comprovaram que a “ex-patroa” era simplesmente
a mãe do indivíduo que, exasperada com o filho daquela idade sem emprego e bebum, resolvera ajudá-lo a
recompor a vida. Azar o meu. Assim, mais de uma referência é imprescindível para evitar armação.
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Toda regra tem exceções. Grávida do meu segundo filho, fiquei sem ninguém. Não me lembro mais por
quê. Estudava para a segunda etapa de um concurso, tinha uma filha pequena e estava no maior sufoco. Uma
amiga me ligou dizendo que a empregada de sua mãe, com vários anos de casa, tinha uma amiga idosa que
poderia servir para quebrar o galho por uns tempos. Foi-me apresentada, então, uma pessoa da qual jamais me
esquecerei: Genoveva – Genô, para os íntimos. Era a encarnação da Tia Anastácia, do Sítio do Pica-pau Amarelo. Monteiro Lobato sentiria inveja de mim. Pois bem, Genô não só viu meu filho nascer, como cuidou dele e
de mim durante anos, até que numas férias, tendo ido à Minas visitar a família, veio a falecer. Ela era o máximo:
à noite, sentava-se placidamente em sua cama, esticava uma palhinha entre os dedos, arrumava o fumo que
cuidadosamente picava e pitava o cigarrinho, os olhos brilhantes acompanhando as evoluções da fumaça.
Não tinha nenhuma noção de leitura mas, por ter uma memória prodigiosa, guardava as receitas de cor e
sabia preparar adicionando à tudo aquele tempero mineiro que fica na saudade. Eu mexia com ela: “Genô, não
se fazem mais Genovevas como antigamente...” Ela ria, orgulhosa dos seus quitutes. Era louca pelo meu filho,
que vira nascer. Quando eu perdia as estribeiras com ele, punha-me literalmente para correr, resmungando
que Deus não deveria ter dado filhos a quem não tinha paciência, e tomava a defesa do moleque. Um dia
dei-me conta de que a vitamina em gotas que deveria ser pingada nas mamadeiras estava rendendo demais.
Perguntei-lhe se estava lembrando de usá-las no leite que preparava. Mais do que depressa confirmou que
vinha fazendo direitinho, vinte gotas por dia. Como prova, foi ao armário e mostrou-me o vidro: não sei por
quanto tempo meu filho tomou Avitrin, uma vitamina para canários... Até hoje brinco com ele, que tem mania
de tocar violão e cantar, que deve sua arte ao engano da Genoveva.
Quando me via sair toda arrumada, à noite, sacudia a carapinha branca e, matreira, dizia: “Hoje é dia de
rato velho bater bigode e gambá pelar sovaco...”
Uma tarde, chegando do trabalho, encontrei-a à beira de um ataque de nervos, assoprando-se. Numa crise
de ciumeira, minha filha, três anos mais velha que o irmão, fora pega com ele na varanda do apartamento,
ameaçando lança-lo lá de cima. Se já era cardiopata à época, não sei como a Genô não enfartou naquele dia.
O que deveria ser um quebra-galho passageiro, passou de provisório a definitivo, inclusive no coração da
família.
necessidade, em vez de descrever para a polícia que a arrumadeira que fez uma “limpa” no seu armário era morena de olhos
escuros, o que corresponde à descrição de 98% da população
brasileira, você tem condições de identificá-la pela foto.
É melhor pecar pelo excesso do que pela falta: peça o atestado de antecedentes criminais, levantamento feito pela polícia. Muitas empregadas já carregam consigo esse papel para as
entrevistas. Lembre-se que ele só é válido por período determinado. No caso de contratação efetiva, providencie você mesma
uma versão atualizada. Não é nenhum bicho de sete cabeças:
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Junto com a Genô, trabalhava um faxineiro: seu João, um negro muito alto, braços e pernas de gafanhoto,
que não primava pela beleza – dentuço, diziam que ele era a cara do Fio, jogador do Flamengo. Mas, o que não
tinha de bonito, excedia-se em qualidades. Dividia os dias da semana em casa de um e outro parente, e foi
assim até se aposentar. Era caladão, mas às vezes vinha com uma tiradas engraçadas. Sempre louca por praia,
aproveitei a licença-maternidade para ficar lagarteando no mar o máximo que pude. Na época do parto, estava literalmente crioula. Acontece que meu filho, ao nascer, parecia um bicho de goiaba, de tão branco. Se eu
não estivesse acordada, acharia que tinham trocado o menino no berçário, de tão lourinho. Dias depois do
parto, eu já estava de volta à praia, no intervalo entre as mamadas. Uma manhã, entrei na cozinha, de biquíni,
com o bebê só de fralda no meu colo. Seu João, com aquele vozeirão grave de cantor de música soul, observou:
“Dona Maria Eugenia, a senhora tá igualzinha a São Benedito carregando o menino Jesus...”
vá ao posto policial e se informe. Caso more em São Paulo, use
o serviço Poupa Tempo (0800 77 23633), nos seguintes endereços:
• Praça
Alfredo Issa, 57 (próximo ao metrô Luz)
do Carmo, s/nº (próximo ao metrô Sé)
• Av. do Contorno, 60 (próximo ao metrô Itaquera)
• Rua Amador Bueno, 258 (Largo 13 de Maio – Santo Amaro)
• Praça
O Instituto de Identificação exige que o interessado ou seu
procurador leve RG original, certidão de casamento (se houver) e carteira profissional. O serviço é gratuito.
FICHA CADASTRAL
Profissão: .........................................................................................
Pretensão salarial: ............................................................................
Nome completo: ...............................................................................
Nome do pai: ...................................................................................
Nome da mãe: ..................................................................................
Data de nascimento: ......... / ......... / .........
Cidade: ................................................... Estado: ...........................
Endereço: ........................................................................................
Número: ................... Bairro: ..........................................................
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Estado: .............................................................................................
Há quanto tempo mora nesse endereço: ...........................................
Telefone para contato/recado : .........................................................
Formação escolar: ............................................................................
Outros cursos: ..................................................................................
No momento, está estudando?
Sim ( )
Não ( )
Em caso afirmativo, em qual horário? ..............................................
Carteira de habilitação:
Estado Civil:
Casada ( )
Sim ( )
Não ( )
Solteira ( )
Divorciada ( ) Viúva ( )
Número de filhos: ............................................................................
Idade dos filhos: ...............................................................................
Em caso de filhos menores, quem ficará responsável por eles durante
o trabalho?
Nome: ..............................................................................................
Grau de parentesco: .........................................................................
Telefone para contato: ......................................................................
Nome do marido ou companheiro: ..................................................
Profissão do marido: ........................................................................
Local de trabalho do marido: ...........................................................
Número do RG: ................................................................................
Órgão emissor: .................................................................................
Data de emissão: ..............................................................................
CTPS: .................................... Série: ................................................
Título de Eleitor: ..............................................................................
Zona: ................................... Seção: ...............................................
Últimos empregos:
1. Cargo: .........................................................................................
Nome do empregador: .................................................................
Endereço: ....................................................................................
Telefone: ......................................................................................
Data de admissão: .......................................................................
Data de demissão: .......................................................................
Motivo: .......................................................................................
20
2. Cargo: .........................................................................................
Nome do empregador: .................................................................
Endereço: ....................................................................................
Telefone: ......................................................................................
Data de admissão: .......................................................................
Data de demissão: .......................................................................
Motivo: .......................................................................................
3. Cargo: .........................................................................................
Nome do empregador: .................................................................
Endereço: ....................................................................................
Telefone: ......................................................................................
Data de admissão: .......................................................................
Data de demissão: .......................................................................
Motivo: .......................................................................................
Em sua casa, você convive com:
Crianças ( )
Idosos ( ) Animais ( )
Saúde:
Você tem ou teve:
Pressão alta:
Sim ( )
Não ( )
Diabetes:
Sim ( )
Não ( )
Alergias:
Sim ( )
Não ( )
Desmaios:
Sim ( )
Não ( )
Toma alguma medicação com regularidade?
Sim ( ) Não ( )
Nome: ..............................................................................................
Usa óculos?
Sim ( )
Não ( )
Fuma?
Sim ( )
Não ( )
Está grávida?
Sim ( )
Não ( )
Em caso de emergência, quem deve ser chamado?
Nome: .............................................................................................
Endereço: .........................................................................................
Grau de parentesco: .........................................................................
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Folgas:
Semanal ( )
Quinzenal ( )
Pode folgar durante a semana?
Sim ( ) Não ( )
Freqüenta algum culto habitualmente?
Sim ( ) Não ( )
Dia e horário: ...................................................................................
Data da entrevista: ...........................................................................
Assinatura: .......................................................................................
Juntar uma foto recente
Todas as informações acima serão tratadas de forma confidencial.
Imprima no seu computador e deixe algumas vias prontas,
na devida pasta, para usar quando necessário. Você deve estar
pensando que isso é um exagero, mas tenho certeza de que, se
não estiver tratando com um mentiroso contumaz, os dados
da ficha cadastral serão de extrema utilidade: permitirão que
você saiba com quem está lidando e facilitarão a vida de ambos os interessados. Se sua opção for anunciar em jornais ou
similares, dê preferência, se possível, por fazer constar o telefone do seu escritório. Ou especifique o horário de atendimento,
para não ficar irritada com a quantidade de telefonemas nos
momentos mais inconvenientes.
Não aceite falar com a amiga da amiga que precisa de emprego: quem quer trabalhar, trata por conta própria.
Especifique suas exigências básicas e não abra mão das
mesmas, pois sempre se arrependerá.
Lembre-se de que certos fatores são simplesmente biológicos: inútil contratar uma pessoa idosa para cuidar de uma
criança pestinha cheia de energia e que fica correndo como um
corisco o dia todo. Não haverá gás suficiente na empregada,
por mais boa vontade que tenha.
Aquela enfermeira deslumbrante que transformava seu
bebê num pacotinho embrulhado para presente e engomava
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roupinhas e lençóis como ninguém pode se tornar totalmente
inadequada tão logo ele saia do berço. Tudo tem um momento
certo na vida – tanto para o empregado quanto para o empregador.
Se você é uma aficionada por animais, deixe que na entrevista a pretendente tenha contato com seu cão ou gato. Observe o modo como o animal foi olhado e abordado. As primeiras
impressões são importantíssimas. Independentemente do que
foi escrito na ficha, vale analisar as reações.
Contratando alguém para todo o serviço ou para faxina,
deixe algo flagrantemente fora de propósito no caminho que a
candidata vai percorrer ou no lugar em que vai estar: um papel
amassado no chão, um objeto caído, alguma coisa que não
pressuponha nenhum tipo de conhecimento anterior. Anote
quem prestou atenção ao fato ou teve a iniciativa de corrigir a
situação.
Saiba onde e com quem estão os filhos da candidata e descubra o nível de responsabilidade da pessoa – se simplesmente
os fez e largou pelo mundo, como não é incomum, cuidado. Se
trata assim a carne da própria carne, o que será da sua?
Prefira alguém que more nas proximidades. Nas folgas,
chegará mais rápido em casa e terá mais tempo para descansar
e retornar ao trabalho mais bem disposta. Se ela tiver família e
morar próximo à sua casa, será mais fácil dar um pulinho para
De outra feita, minha sogra, para quem seu João também trabalhava, observou que seus convidados talvez tivessem alguma dificuldade em ver a numeração da casa, pequena e escondida pela folhagem, para uma
festa qualquer que estava dando. Morava na rua Codajás, no Leblon, local elegante do Rio. Seu João ouviu a
conversa e tomou suas providências: ao chegarmos para o evento, vimos, horrorizados, um enorme 523 pintado com tinta preta, contra o rosa clarinho do muro – aqueles algarismos arredondados, o 5 e o 2 parecendo
“esses” opostos, comumente desenhados nos tapumes de madeira das construções. Seu João na porta, exultante, por ter resolvido o problema – ninguém se perderia.
Já grisalho, mas ainda trabalhando, na volta para casa, de trem, teve o rosto todo arrebentado num assalto – levaram-lhe o restante do dinheiro da passagem e da diária. Coisas que revoltam, no mundo violento em
que vivemos.
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Vale muito mais elogiar
do que reclamar. Enfatizar o
lado bom do que foi feito leva
maior capricho nas tarefas seguintes, em busca de elogios.
Todo mundo tem pontos fracos e fortes. Cabe ao empregador extrair as habilidades e
melhores talentos do empregado, fazendo com que ele se
sinta importante. Mostre coisas boas!
tratar de algum assunto que exija sua presença sem perturbar
o andamento do serviço.
Problemas de saúde sempre ocorrem, mas certifique-se de
que não são incontornáveis. Uma pessoa alérgica que tenha de
trabalhar num local forrado de carpetes fungará o dia todo,
preocupada em não deixar o nariz escorrer. Espanar então,
nem pensar. Por outro lado, algumas enfermidades como diabetes ou pressão alta exigem restrições alimentares que você
deverá atender, caso não queira se sentir responsável pelo
agravamento da doença.
Como a maioria dos médicos utiliza uma linguagem inacessível aos simples mortais, a medicação tomada torna-se indicativa das limitações muitas vezes ignoradas até pelo próprio doente. Daí a necessidade de incluir o assunto no questionário.
Num país em que os conhecimentos sanitários da população em geral são reduzidos, costumo ministrar vermífugo de
amplo espectro para todo mundo em casa, uma vez por ano ou
sempre que muda o staff. Isto inclui os cachorros e minha própria família. Você tem certeza de que sua cozinheira lava cuidadosamente as mãos depois de usar o banheiro e antes de
preparar a comida? Se a resposta for sim, parabéns.
O fumo pode ser um problema no caso de empregadas que
dividem o mesmo quarto, caso uma seja fumante e a outra,
não. Pior do que o cigarro é o alcoolismo. Não tente dar uma
de Madre Teresa de Calcutá, pois o risco é grande.
Nas entrevistas, marque sempre mais de uma candidata, a
intervalos pequenos. Concentre seus esforços e não ocupe o
dia todo nisso, pois, na maioria das vezes, quase a metade não
aparece. Umas porque não conseguiram dinheiro da condução, outras preferiram não mudar de emprego, etc.
Observe a maneira da candidata trajar-se – está certo que o
hábito não faz o monge, mas muito da personalidade da pessoa fica exposta com o tipo e cores de roupa que usa. Lem-
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Para ilustrar a extensão da ignorância no campo da higiene, lembro-me de uma mocinha recém-chegada
ao Rio de Janeiro que veio me ajudar com as crianças. Foi se trocar no banheiro e fiquei escutando a descarga
sendo acionada a intervalos regulares. Preocupada com o que poderia estar acontecendo, fui averiguar. Lá
estava ela, de porta aberta, de pé diante do vaso sanitário, apertando o botão, encantada com a água que ia e
vinha, tão diferente do sistema que, sabe-se lá Deus, ela usava no lugar de onde vinha.
bre-se de que, ao sair de casa, a pretendente sabia que ia para
uma entrevista e deve ter caprichado o melhor que pôde. Seja
pobre ou rico, uma coisa é primordial: limpeza. Nada de golas
sebosas, pernas farinhentas, cabelos e unhas sujas. Todo mundo exala um determinado odor, independentemente do uso de
perfume. Os aromas são indicativos do nível de esmero com
seu corpo. Quem não cuida nem de si, como esperar que trate
sua casa de melhor forma?
Um assunto de suma importância: uniformes. Se possível,
faça uso deles. É mais barato para a empregada e mais higiênico para você. O visual fica também melhor quando você pode
estipular o modelito. Aliás, deixe claro o uso de uniformes na
contratação, para não haver reclamações posteriores. De modo geral, as empregadas até preferem usá-lo e são raros os
problemas nesse sentido.
Tenha uma caixa onde possam ficar armazenados os uniformes que você colecionará no exercício das suas funções como
dona de casa. Mantenha-os secos, lavados e limpos para que
não mofem. Procure comprar artigos resistentes, de cores e
tecidos firmes, que agüentem o tranco das lavagens contínuas.
Toda vez que entrar uma nova funcionária, adquira o hábito de retirar do armário os uniformes e aventais usados, selecionando quais entrarão em uso. Se for o caso dela dormir no
emprego, ordene os jogos de lençol e as toalhas de banho e
rosto.
Acostume-se a fornecer sabonete e desodorante – torne-os
parte da lista mensal de compras. Assim, fica garantido o uso
de ambos, com prodigalidade, para satisfação geral.
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Purpurina - Editora Nobel