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CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO
TERRITORIAL PRODUTIVA NO SETOR
SUCROENERGÉTICO NA REGIÃO DE FRUTAL/MG
Marcelo Alves Teodoro
Mestrando no Programa de Pós Graduação em Geografia
UNESP/Campus Rio Claro
[email protected]
INTRODUÇÃO
As abordagens teóricas e metodológicas acerca da dinâmica na atividade
agropecuária na sociedade contemporânea vêm se tornando ponto regulador na discussão
de quais rumos a produção primária vem tomando diante as monoculturas, e até que ponto
isso, pode interferir na diversidade da produção no campo.
O Brasil se apresenta como um dos líderes mundiais na produção primária, se
destacando principalmente na produção de grãos, carne e biocombustíveis. As condições
naturais, tais como, morfologia do terreno, condições climáticas e qualidade dos solos, são
características que propiciam ao desenvolvimento de tal atividade. Concomitantemente com
essas condições existem também, as políticas governamentais que auxiliam na expansão da
produção agropecuária, com recursos financeiros destinados ao subsídio do setor primário.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a centralização do capital e a
especialização territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG) a partir
da década de 2000. Parte-se da hipótese que a centralização do capital, isto é, as aquisições
e fusões de usinas por empresas nacionais e internacionais a partir do início do século XXI,
tem como uma de suas expressões territoriais o aprofundamento das especializações
produtivas, com importantes consequências tanto para o campo (concentração fundiária,
substituição de atividades produtivas, expropriação de pequenos produtores de base
familiar) quanto para as cidades próximas (alteração da dinâmica populacional com a
atração de migrantes, mudanças no mercado de trabalho, especialização funcional e
incremento da economia urbana, aprofundamento da urbanização corporativa e das
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desigualdades socioespaciais).
Sabe-se, que o conceito de “Região” na Geografia é amplo, perpassando por
todas as correntes de pensamento, na qual em cada uma, a mesma recebe conotação
distinta uma da outra. Nesta pesquisa, propõe-se analisar o termo “região” para além de
uma conceituação apenas de cunho natural, histórico-cultural e administrativa, mas sim,
uma análise conforme Santos (2008) de uma região como um compartimento produtivo do
espaço geográfico decorrente do aprofundamento da divisão territorial do trabalho.
Dispõe-se de uma área definida pela sua coerência produtiva, cujos limites são flexíveis,
decorrentes da alteração da extensão do fenômeno analisado.
“O aprofundamento da divisão territorial do trabalho e a consequente
especialização regional produtiva, decorrente da modernização e expansão da agricultura,
têm originado novas compartimentações regionais no território brasileiro” (FREDERICO,
2012, p. 281).
A partir da década de 2000, a conjunção entre as políticas do Estado brasileiro de
estímulo às exportações do agronegócio e de tentativa de condução de uma transição
energética promoveu a expansão significativa da área e da produção de cana de açúcar.
Para Pires do Rio (2011, p.28-29), as propostas de transição energética pelo Estado brasileiro
não ganhavam tamanha relevância desde os choques do petróleo na década de 1970. Para a
autora, a transição energética consiste em transformações de longo prazo, que não implica
necessariamente no desaparecimento das fontes energéticas anteriores, mas que consiste
numa “mudança ampla e radical dos recursos e tecnologias envolvidos na geração de
energia bem como nos padrões de produção e consumo”. No caso da política estatal recente
de estímulo à produção de biocombustíveis, o objetivo imediato é abastecer parte da frota
nacional de veículos com o uso de etanol e biodiesel (acrescido ao diesel comum), bem
como a tentativa de transformação do primeiro numa commodity internacional.
Com relação às políticas de estímulo às exportações, desde a década de 1990, a
subordinação do Estado brasileiro às indissociáveis lógicas financeiras e liberal tem
resultado em políticas de sustentação do superávit primário via aumento das exportações.
Trata-se, como propõe Santos (1999), do predomínio do “imperativo das exportações”, isto é,
a adoção de políticas estatais com o intuito de aumentar as exportações brasileiras,
sobretudo, daqueles produtos em que somos mais competitivos, como as commodities
agrícolas e minerais.
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Com a crise cambial de 1999, a política de reforço das exportações tornou-se
ainda mais agressiva com o objetivo de gerar saldos de comércio exterior para o pagamento
dos serviços da dívida externa e para suprir o déficit de conta corrente e reverter a
consequente redução das reservas internacionais. Desde então, tem-se firmado, segundo
Delgado (2012), um “pacto de economia política do agronegócio” com o objetivo de
estimular o aumento das exportações brasileiras.
Para isso, houve uma reestruturação da economia do agronegócio, com a forte
atuação do Estado: na reativação do crédito rural para a produção agroexportadora1 ; na
regulação frouxa do mercado de terras, ao facilitar a apropriação de terras devolutas2 ; na
política cambial de desvalorização do Real (pelo ao menos num primeiro momento),
essencial para o aumento das exportações de produtos primários; no financiamento do
BNDES para a implantação e renovação das usinas e áreas produtivas e para a realização de
fusões e aquisições entre as empresas do agronegócio; e na articulação das pesquisas
desenvolvidas pela Embrapa com empresas globais. Trata-se, ainda segundo Delgado (2012),
de um “novo projeto de acumulação de capital no setor agrícola”, estimulado e organizado
pela política macroeconômica e financeira do Estado brasileiro, que tem beneficiado
algumas empresas agroindustriais e proprietários de terra.
A combinação entre as políticas anteriores (transição energética e estímulo às
exportações) resultou na expansão significativa da área plantada, da quantidade produzida
e da produtividade das principais culturas do agronegócio, em particular, da cana de açúcar.
No caso desta última, entre 1999 e 2012, a área plantada praticamente dobrou, ao passar de
aproximadamente cinco milhões para pouco mais de nove milhões de hectares, com
acréscimo de 20% na produtividade e aumento de 330 milhões para mais de 720 milhões de
toneladas na quantidade produzida, crescimento de 120% (PAM\IBGE, 2012). O estado de
São Paulo é o maior produtor nacional com 60% da quantidade total produzida. A partir de
São Paulo, se constituiu na última década duas frentes de expansão de produção de cana de
açúcar: uma em direção ao oeste, adentrando os estados do Mato Grosso do Sul e norte do
Paraná; e outra, que nos interessa particularmente, em direção ao nordeste do estado,
adentrando-se na região do Triângulo Mineiro e estado de Goiás.
A região de Frutal (MG) encontra-se exatamente na direção deste segundo eixo
de expansão, na divisa com o estado de São Paulo. Entende-se por região de Frutal (MG) a
área produtiva de cana de açúcar de treze usinas que congrega no total 15 municípios, como
demonstrado no mapa à seguir:
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Mapa 1: localização geográfica da Região de Frutal
A Região de Frutal está localizada em uma área do Estado de Minas Gerais que
atendem a seletividade espacial do setor canavieiro. Conforme Castillo; Camelini (2012, p.
11) a região supracitada está inserida em uma área que conta com a vantagem da
contiguidade do Estado de São Paulo, sendo sede dos principais grupos usineiros, das
indústrias de bens de capital e serviços associados, dos centros de biotecnologia e destino
da produção encaminhada à exportação.
ABORDAGENS TEÓRICAS
Para apreender as renovadas formas de centralização do capital e especialização
territorial produtiva vinculadas ao setor sucroenergético é necessário, segundo Silveira
(2010), a construção de um “esquema”. A sua formulação é a tentativa de confrontar um
conjunto teórico com a problematização em estudo. Dentre a grande quantidade de
categorias e conceitos internos e externos à Geografia que poderiam compor nosso
esquema, e considerando as dinâmicas agrárias e agrícolas de maneira indissociável, este
projeto se fundamenta na articulação dentre outras das seguintes noções: território usado
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(SANTOS; SILVEIRA, 2001; SILVEIRA, 2008), centralização do capital (SMITH, 1988), agricultura
científica e agronegócio globalizado, (ELIAS, 2011; SANTOS, 2000), regiões competitivas
agrícolas (CASTILLO; FREDERICO, 2010) e especializações territoriais produtivas (SILVEIRA,
2011).
Em uma perspectiva conceitual, entender a Região Agrícola em seu verdadeiro
sentido proposto a ser trabalhado nesta pesquisa, faz-se necessário elucidar antes os
circuitos espaciais de produções.
O circuito espacial de produção são os processos que são envolvidos desde a
produção até o consumo final dos produtos. Castillo; Frederico (2010) mencionam que,
A noção de circuito espacial produtivo enfatiza, a um só tempo, a centralidade da
circulação (circuito) no encadeamento das diversas etapas da produção; a
condição do espaço (espacial) como variável ativa na reprodução social, na
atividade produtiva dominante (produtivo). (CASTILLO; FREDERICO, 2010, p. 463).
Com a globalização, os circuitos espaciais produtivos se efetivam no espaço
através das regiões produtivas. A globalização reproduz as segmentações políticas do
espaço geográfico, particularmente a divisão do mundo em territórios nacionais, ao mesmo
tempo em que faz emergir uma forma regional como expressão geográfica do novo
paradigma produtivo (CASTILLO; FREDERICO, 2010, p. 19).
O conceito de região proposto nesta pesquisa estabelece uma discussão
teórico-metodológica acerca de dois termos principais que são eles: “Região Competitiva”
(CASTILLO; FRDERICO, 2010) e de “Regiões Produtivas Agrícolas” (ELIAS, 2011).
Os autores conceituam o que se trata essa competitividade das regiões,
[...] a ideia de região competitiva pode ser entendida como a expressão
geográfica da produção na era da globalização. Parece-nos que este conceito
permite dar conta de um amplo espectro de atividades econômicas, incluindo a
agricultura, a indústria, os serviços e os casos mistos, como o agronegócio. As
regiões competitivas, atreladas a determinadas atividades produtivas, coexistem
com outros tipos de região, como as históricas e administrativas” (CASTILLO;
FREDERICO, 2010, p. 20).
De forma sucinta, pode-se entender “região competitiva” como uma porção do
espaço geográfico em que há presença de uma atividade agrícola moderna exercendo sua
hegemonia sob a agricultura tradicional e nos pequenos produtores.
Em se tratando das “Regiões Produtivas Agrícolas”, a autora evidencia-se que,
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As RPAs são os novos arranjos territoriais produtivos agrícolas, os territórios das
redes
agroindustriais,
escolhidos
para
receber
os
mais
expressivos
investimentos produtivos inerentes ao agronegócio globalizado, representando
suas áreas mais competitivas. Nelas encontram-se partes dos circuitos espaciais
da produção e círculos de cooperação de importantes commodities agrícolas,
evidenciando a dinâmica territorial do agronegócio. (ELIAS, 2011, p. 153).
Vale ressaltar também, que os agentes produtores do espaço geográfico nas
“regiões produtivas agrícolas” ditam as transformações e influências no espaço tanto rural,
quanto urbano.
Na presente pesquisa, o termo região agrícola remontará a área de influência do
município de Frutal – MG, no qual, nos últimos anos vem sendo bastante vulnerável ao
montante de capital financeiro que por uma ordem global de exportação, ditam regras de
organização do espaço geográfico, dando origem a um espaço segregado e concentrado nas
mãos de grupos agroindustriais.
O processo de conversão de atividades agropecuárias tradicionais e de
pequenas propriedades em atividades voltadas ao setor agroindustrial induz a região
transformar sua atividade na chamada especialização regional produtiva. “A expressão
territorial decorrente do crescimento das exportações do agronegócio é o aumento e a
especialização das áreas destinadas à produção de produtos agrícolas”. (FREDERICO, 2012,
p. 8).
Em consequência da globalização dos mercados, algumas exigências são
estabelecidas, de modo que algumas áreas, regiões ou países passam atender as lógicas de
mercado de maneira especializada ligada diretamente ao sentido de exportação.
Os interesses setoriais por lugares restringem e debilitam a rede urbana
regional, os sistemas de transportes e as comunicações em áreas rarefeitas. Devido o alto
grau de emprego de sistemas técnicos das empresas, as mesmas não geram empregos
locais em níveis significativos. A produção fica concentrada nas mãos de agentes das
empresas modernas, nas quais, dominam as estruturas mercadológicas locais, de
distribuição, de compras, concentrando ainda mais a apropriação da mais-valia a partir da
imposição de quantidades, qualidades e preços, tornando verdadeiros oligopólios
territoriais. (SILVEIRA, 2011, p. 7).
Enfatizando essa característica de mercado ao setor agroindustrial, uma das
características do atual período é a ocupação de milhões de hectares de Cerrado pela
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agricultura moderna globalizada ao mesmo tempo em que se aprofunda a divisão territorial
do trabalho, expressa na forma de especialização regional produtiva. (CASTILLO, 2007, p.
22).
Portanto, essa especialização produtiva transforma a região em um espaço
homogêneo de produção agrícola, perdendo a diversidade da produção, levando a
predominância de monocultura.
Como propõe Santos (1994, p.15), a noção de território usado deriva da tentativa
de superação dos “conceitos puros”, herdados da modernidade, por noções híbridas
(LATOUR, 1994), caracterizadas pela indissociabilidade entre coisas naturais e sociais,
materialidade e ações. Deste modo, não é o território, entendido apenas como o quadro
material, inerte, o objeto das análises sociais, e sim o território usado pelos diferentes
agentes. Derivado da noção de espaço geográfico como “um conjunto indissociável, solidário
e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações” (SANTOS, 1996, p.51),
o território usado se define, segundo Silveira (2008), “pela implantação de infraestruturas ou
sistemas de engenharia, mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade”. A cada
período histórico, o acúmulo de velhas e novas formas de divisão social e territorial do
trabalho, ou seja, a articulação solidária e contraditória entre as formas materiais (naturais e
socialmente produzidas) e sócio-políticas nos revela como o território é usado (SILVEIRA,
2008).
Na tentativa de operacionalização dessa noção, este trabalho objetiva analisar as
estratégias territoriais das usinas na região de Frutal: competências logísticas, relações de
produção para obtenção da matéria prima, estratégias de monopolização do espaço,
impedindo a entrada de outros grupos na mesma área produtiva, fusões e aquisições de
empresas concorrentes. A centralização do capital é uma das principais expressões do
território usado dos grupos empresarias. Para Smith (1988, p.172), baseado em Marx (1980),
enquanto a concentração de capital expressa uma acumulação individual gerada pelo
reinvestimento em novos meios de (re)produção, a centralização, por sua vez, ocorre
quando dois ou mais capitalistas, anteriormente independentes, se combinam em um,
através de incorporações, fusões e aquisições. Ao aumentar o poder de ação dos principais
grupos econômicos, a centralização de capital permite o estabelecimento de uma nova
divisão territorial do trabalho das empresas e da produção de cana de açúcar, com o
consequente aprofundamento da especialização territorial produtiva.
Dessa forma, enquanto as principais metrópoles do país, em particular, São
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Paulo, concentra os escritórios de gestão das empresas, as áreas produtivas se especializam
no fazer técnico (SANTOS, 1996; SANTOS; SILVEIRA, 2001; CASTILLO, FREDERICO, 2010). As
áreas de difusão da cana de açúcar são um dos melhores exemplos de regiões
especializadas. Nelas ocorre um verdadeiro rearranjo do território para atender às
demandas do agronegócio globalizado (ELIAS, 2011). Sob a égide de grandes corporações,
investidores e produtores, o meio geográfico se reorganiza, com a implantação seletiva de
sistemas técnicos e normativos funcionais à agricultura científica globalizada (SANTOS,
2000). Trata-se da constituição de regiões competitivas agrícolas (CASTILLO; FREDERICO,
2010), isto é, de territórios corporativos e especializados na produção de determinadas
commodities agrícolas. Dentre os mais importantes processos associados ao território
usado nessas regiões destacam-se: a implantação de sistemas técnicos agrícolas com alta
densidade de capital, informação e tecnologia; a concentração fundiária e a substituição da
produção de alimentos pelas commodities; a expropriação dos pequenos produtores e dos
recursos naturais (solo, água, vegetação); a crescente urbanização; e a construção de
infraestruturas essenciais à circulação material e imaterial da produção (meios de
transporte, armazéns, sistemas de comunicação e energia, estações aduaneiras do interior).
A busca por maior produtividade e rentabilidade, sob as exigências do mercado
globalizado, leva à especialização produtiva, tornando-se recorrente nas áreas produtoras
de cana de açúcar a constituição de subespaços monocultores em grandes propriedades,
em detrimento de outras culturas e formas de produzir. Portanto, o objetivo principal deste
projeto de pesquisa é analisar as consequências territoriais decorrentes da centralização do
capital e da especialização produtiva em cana de açúcar na região de Frutal a partir da
década de 2000.
METODOLOGIA
Com o objetivo de manter a coesão epistemológica durante a pesquisa e
permitir uma melhor sistematização dos resultados encontrados, buscaremos adotar uma
abordagem teórico-metodológica coerente, pertinente e operacional (SILVEIRA, 2000). Nesta
linha de raciocínio, aprofundamos as leituras sobre os conceitos de: 1) centralização e
concentração do capital; 2) especialização regional produtiva; 3) cidades funcionais ao
campo moderno (cidades do agronegócio); 4) competitividade e vulnerabilidade territorial; 5)
financeirização do capital; 6) globalização e neoliberalismo; 7) uso do território e 8)
urbanização corporativa.
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Paralelamente, realizou-se a revisão bibliográfica temática, cujo objetivo
principal foi de realizar leituras sobre assuntos mais específicos do objeto de estudo. Os
levantamentos de dados secundários serviram para a fundamentação quantitativa do
trabalho.
RESULTADOS
Atualmente, a Região de Frutal1 é uma das principais áreas produtoras de cana
de açúcar do Estado de Minas Gerais. Prova disso, pode ser constatado nos dados que
ilustram a evolução da cultura canavieira nas ultimas duas décadas. No ano de 1990, a
produção em toneladas foi de 1.896.950, com a área plantada de 26.555 hectares. Já no ano
de 2000, a produção foi de 5.307.528 toneladas, com área plantada de 63.085 hectares. No
ano de 2010, obteve um notável crescimento como pode ser visto, na quantidade produzida
que apresentou 21.390.040 de toneladas, com a área plantada de 233.828 hectares
(IPEADATA, 2013). Um crescimento significativo comparado à década anterior
Sendo assim, entre 2000 e 2012, a área plantada de cana de açúcar aumentou de
63 mil hectares para 356 mil hectares, crescimento significativo de 464,3%, chegando a
ocupar cerca de 20% da área total da região. Os dados permitem supor o aumento da
especialização produtiva regional, isto é, o “aumento numa mesma região da diversificação
de tarefas vinculadas a um mesmo processo, enquanto diminuem as demais técnicas e
formas de trabalho” (SILVEIRA, 2010, p.79). Principalmente, com a diminuição na região da
área plantada das demais lavouras temporárias (e.g. feijão, arroz, mandioca, etc.) de 205 mil
hectares para 127 mil hectares, decréscimo de quase 40%, no mesmo período.
O aumento da extensão das plantações de cana de açúcar está vinculado ao
crescimento do número de usinas na região. No total são treze unidades, como mencionado
anteriormente, sendo nove delas instaladas a partir de 2000.
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Quadro 1: Usinas situadas na Região de Frutal/MG
Usinas
Municípios
Empresa Pertencente
Ano de
Inauguração
Usina Frutal
Frutal
Grupo Bunge
2007
Usina Itapagipe
Itapagipe
Grupo Bunge
2006
Usina Coruripe
Campo Florido
Grupo Tércio Wanderley
2002
Usina Coruripe
Iturama
Grupo Tércio Wanderley
1994
Usina Carneirinho
Carneirinho
Grupo Tércio Wanderley
2008
Usina Coruripe
Limeira do Oeste
Grupo Tércio Wanderley
2005
Usina Cabrera
Limeira do Oeste
Grupo ADM
2011
Usina Cerradão
Frutal
Grupo Pitangueiras e Grupo
Queiroz de Queiroz
2006
Usina Santo Ângelo
Pirajuba
Grupo Santo Ângelo
1984
Usina Volta Grande
Conceição das Alagoas
Grupo Delta Sucroenergia
1996
Usina Delta
Delta
Grupo Delta Sucroenergia
1950
Usina Conquista de
Minas
Conquista de Minas
Grupo Delta Sucroenergia
2000
Destilaria Rio Grande
Fronteira
Grupo Destilaria Rio Grande S/A
2006
Fonte: Anuário da Cana (2013); e sites das próprias usinas
A atuação de grupos nacionais e internacionais na implantação e aquisição de
usinas na região é um dos melhores exemplos da centralização de capital no setor
sucroenergético. A trading company Bunge adquiriu, em 2010, a empresa nacional Moema
Participações S.A, passando a controlar duas usinas na região: Frutal e Itapagipe. Outro
exemplo envolvendo uma trading foi a aquisição da Usina Cabrera pela americana ADM, em
2011.
Com relação aos grupos nacionais destacam-se as atuações do Grupo Tércio
Wanderley e Delta. O primeiro, originário da Região Nordeste, possui quatro unidades na
região. O Grupo Tércio Wanderley iniciou suas atividades na região de Frutal em 1994, a
partir da aquisição da Destilaria Alexandre Balbo que operava no município de Iturama (MG)
desde o ano de 1985. Logo depois, em 2002, o Grupo construiu uma unidade no município
de Campo Florido, outra no município de Limeira do Oeste, em 2005, e mais recentemente,
em 2012, adquiriu a Usina Carneirinho, no município de mesmo nome. Já o Grupo Delta
possui três usinas na região: Delta, Conquista de Minas e Volta Grande. A primeira delas foi
fundada na década de 1950 e adquirida e totalmente reformada pelo Grupo no ano de
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2000. As outras duas foram construídas pelo próprio Grupo, com destaque para a última
que possui o maior parque industrial em capacidade de moagem de Minas Gerais.
Ainda que de maneira preliminar, os dados e informações supracitados
permitem aferir presença dos processos de centralização de capital e especialização
territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG). Dessa forma, este
trabalho justifica-se por se debruçar sobre fenômenos recentes e que têm acarretado em
grandes consequências para as atividades produtivas e a dinâmica territorial da região
analisada.
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CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL
PRODUTIVA NO SETOR SUCROENERGÉTICO NA REGIÃO DE FRUTAL/
MG
EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a centralização do capital e a especialização
territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG) a partir da década de 2000.
Parte-se da hipótese que a centralização do capital, isto é, as aquisições e fusões de usinas por
empresas nacionais e internacionais a partir do início do século XXI, têm como uma de suas
expressões territoriais o aprofundamento das especializações produtivas, com importantes
consequências tanto para o campo (concentração fundiária, substituição de atividades produtivas,
expropriação de pequenos produtores de base familiar) quanto para as cidades próximas
(alteração da dinâmica populacional com a atração de migrantes, mudanças no mercado de
trabalho, especialização funcional e incremento da economia urbana, aprofundamento da
urbanização corporativa e das desigualdades socioespaciais). Dessa forma, objetivamos
demonstrar a relação entre a centralização do capital no setor sucroenergético e as
transformações produtivas e na dinâmica territorial da região de Frutal (MG). Com o objetivo de
manter a coesão epistemológica durante a pesquisa e permitir uma melhor sistematização dos
resultados encontrados, buscaremos adotar uma abordagem teórico-metodológica coerente,
pertinente e operacional (SILVEIRA, 2000). Desta forma, os procedimentos metodológicos
constarão das seguintes etapas: revisão bibliográfica teórica e temática; levantamento de dados
secundários; trabalhos de campo, visitas técnicas e entrevistas e trabalhos técnicos, elaboração
de gráficos e mapas. A análise dos resultados se dará à luz de nosso referencial
teórico-metodológico. Desta maneira, analisaremos, primeiramente, a formação das usinas e a
consequente centralização de capital do setor sucroenergético na Região de Frutal. Tal tarefa será
realizada em nossa periodização com o objetivo de compreender a formação sócio-espacial
estudada. A segunda etapa enfatizará a atual constituição do circuito espacial produtivo
sucroenergético da Região em estudo. Nesta fase, com o objetivo de mapear o citado circuito,
serão realizadas pesquisas de campo e de dados sobre as trocas materiais e imateriais do
referenciado setor. Na fase final, analisaremos as vulnerabilidades territoriais geradas pelo
processo de centralização e concentração do capital no circuito espacial produtivo
sucroenergético da Região de Frutal (MG). Finalmente, esperamos dissertar uma “geografia do
presente” sobre a dialética entre o mercado sucroenergético e a Região de Frutal (MG).
Palavras-chave: centralização de capital; especialização territorial produtiva; região de Frutal
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Marcelo Alves Teodoro