http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL PRODUTIVA NO SETOR SUCROENERGÉTICO NA REGIÃO DE FRUTAL/MG Marcelo Alves Teodoro Mestrando no Programa de Pós Graduação em Geografia UNESP/Campus Rio Claro [email protected] INTRODUÇÃO As abordagens teóricas e metodológicas acerca da dinâmica na atividade agropecuária na sociedade contemporânea vêm se tornando ponto regulador na discussão de quais rumos a produção primária vem tomando diante as monoculturas, e até que ponto isso, pode interferir na diversidade da produção no campo. O Brasil se apresenta como um dos líderes mundiais na produção primária, se destacando principalmente na produção de grãos, carne e biocombustíveis. As condições naturais, tais como, morfologia do terreno, condições climáticas e qualidade dos solos, são características que propiciam ao desenvolvimento de tal atividade. Concomitantemente com essas condições existem também, as políticas governamentais que auxiliam na expansão da produção agropecuária, com recursos financeiros destinados ao subsídio do setor primário. Este trabalho tem como objetivo principal analisar a centralização do capital e a especialização territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG) a partir da década de 2000. Parte-se da hipótese que a centralização do capital, isto é, as aquisições e fusões de usinas por empresas nacionais e internacionais a partir do início do século XXI, tem como uma de suas expressões territoriais o aprofundamento das especializações produtivas, com importantes consequências tanto para o campo (concentração fundiária, substituição de atividades produtivas, expropriação de pequenos produtores de base familiar) quanto para as cidades próximas (alteração da dinâmica populacional com a atração de migrantes, mudanças no mercado de trabalho, especialização funcional e incremento da economia urbana, aprofundamento da urbanização corporativa e das 2155 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 desigualdades socioespaciais). Sabe-se, que o conceito de “Região” na Geografia é amplo, perpassando por todas as correntes de pensamento, na qual em cada uma, a mesma recebe conotação distinta uma da outra. Nesta pesquisa, propõe-se analisar o termo “região” para além de uma conceituação apenas de cunho natural, histórico-cultural e administrativa, mas sim, uma análise conforme Santos (2008) de uma região como um compartimento produtivo do espaço geográfico decorrente do aprofundamento da divisão territorial do trabalho. Dispõe-se de uma área definida pela sua coerência produtiva, cujos limites são flexíveis, decorrentes da alteração da extensão do fenômeno analisado. “O aprofundamento da divisão territorial do trabalho e a consequente especialização regional produtiva, decorrente da modernização e expansão da agricultura, têm originado novas compartimentações regionais no território brasileiro” (FREDERICO, 2012, p. 281). A partir da década de 2000, a conjunção entre as políticas do Estado brasileiro de estímulo às exportações do agronegócio e de tentativa de condução de uma transição energética promoveu a expansão significativa da área e da produção de cana de açúcar. Para Pires do Rio (2011, p.28-29), as propostas de transição energética pelo Estado brasileiro não ganhavam tamanha relevância desde os choques do petróleo na década de 1970. Para a autora, a transição energética consiste em transformações de longo prazo, que não implica necessariamente no desaparecimento das fontes energéticas anteriores, mas que consiste numa “mudança ampla e radical dos recursos e tecnologias envolvidos na geração de energia bem como nos padrões de produção e consumo”. No caso da política estatal recente de estímulo à produção de biocombustíveis, o objetivo imediato é abastecer parte da frota nacional de veículos com o uso de etanol e biodiesel (acrescido ao diesel comum), bem como a tentativa de transformação do primeiro numa commodity internacional. Com relação às políticas de estímulo às exportações, desde a década de 1990, a subordinação do Estado brasileiro às indissociáveis lógicas financeiras e liberal tem resultado em políticas de sustentação do superávit primário via aumento das exportações. Trata-se, como propõe Santos (1999), do predomínio do “imperativo das exportações”, isto é, a adoção de políticas estatais com o intuito de aumentar as exportações brasileiras, sobretudo, daqueles produtos em que somos mais competitivos, como as commodities agrícolas e minerais. 2156 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Com a crise cambial de 1999, a política de reforço das exportações tornou-se ainda mais agressiva com o objetivo de gerar saldos de comércio exterior para o pagamento dos serviços da dívida externa e para suprir o déficit de conta corrente e reverter a consequente redução das reservas internacionais. Desde então, tem-se firmado, segundo Delgado (2012), um “pacto de economia política do agronegócio” com o objetivo de estimular o aumento das exportações brasileiras. Para isso, houve uma reestruturação da economia do agronegócio, com a forte atuação do Estado: na reativação do crédito rural para a produção agroexportadora1 ; na regulação frouxa do mercado de terras, ao facilitar a apropriação de terras devolutas2 ; na política cambial de desvalorização do Real (pelo ao menos num primeiro momento), essencial para o aumento das exportações de produtos primários; no financiamento do BNDES para a implantação e renovação das usinas e áreas produtivas e para a realização de fusões e aquisições entre as empresas do agronegócio; e na articulação das pesquisas desenvolvidas pela Embrapa com empresas globais. Trata-se, ainda segundo Delgado (2012), de um “novo projeto de acumulação de capital no setor agrícola”, estimulado e organizado pela política macroeconômica e financeira do Estado brasileiro, que tem beneficiado algumas empresas agroindustriais e proprietários de terra. A combinação entre as políticas anteriores (transição energética e estímulo às exportações) resultou na expansão significativa da área plantada, da quantidade produzida e da produtividade das principais culturas do agronegócio, em particular, da cana de açúcar. No caso desta última, entre 1999 e 2012, a área plantada praticamente dobrou, ao passar de aproximadamente cinco milhões para pouco mais de nove milhões de hectares, com acréscimo de 20% na produtividade e aumento de 330 milhões para mais de 720 milhões de toneladas na quantidade produzida, crescimento de 120% (PAM\IBGE, 2012). O estado de São Paulo é o maior produtor nacional com 60% da quantidade total produzida. A partir de São Paulo, se constituiu na última década duas frentes de expansão de produção de cana de açúcar: uma em direção ao oeste, adentrando os estados do Mato Grosso do Sul e norte do Paraná; e outra, que nos interessa particularmente, em direção ao nordeste do estado, adentrando-se na região do Triângulo Mineiro e estado de Goiás. A região de Frutal (MG) encontra-se exatamente na direção deste segundo eixo de expansão, na divisa com o estado de São Paulo. Entende-se por região de Frutal (MG) a área produtiva de cana de açúcar de treze usinas que congrega no total 15 municípios, como demonstrado no mapa à seguir: 2157 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Mapa 1: localização geográfica da Região de Frutal A Região de Frutal está localizada em uma área do Estado de Minas Gerais que atendem a seletividade espacial do setor canavieiro. Conforme Castillo; Camelini (2012, p. 11) a região supracitada está inserida em uma área que conta com a vantagem da contiguidade do Estado de São Paulo, sendo sede dos principais grupos usineiros, das indústrias de bens de capital e serviços associados, dos centros de biotecnologia e destino da produção encaminhada à exportação. ABORDAGENS TEÓRICAS Para apreender as renovadas formas de centralização do capital e especialização territorial produtiva vinculadas ao setor sucroenergético é necessário, segundo Silveira (2010), a construção de um “esquema”. A sua formulação é a tentativa de confrontar um conjunto teórico com a problematização em estudo. Dentre a grande quantidade de categorias e conceitos internos e externos à Geografia que poderiam compor nosso esquema, e considerando as dinâmicas agrárias e agrícolas de maneira indissociável, este projeto se fundamenta na articulação dentre outras das seguintes noções: território usado 2158 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 (SANTOS; SILVEIRA, 2001; SILVEIRA, 2008), centralização do capital (SMITH, 1988), agricultura científica e agronegócio globalizado, (ELIAS, 2011; SANTOS, 2000), regiões competitivas agrícolas (CASTILLO; FREDERICO, 2010) e especializações territoriais produtivas (SILVEIRA, 2011). Em uma perspectiva conceitual, entender a Região Agrícola em seu verdadeiro sentido proposto a ser trabalhado nesta pesquisa, faz-se necessário elucidar antes os circuitos espaciais de produções. O circuito espacial de produção são os processos que são envolvidos desde a produção até o consumo final dos produtos. Castillo; Frederico (2010) mencionam que, A noção de circuito espacial produtivo enfatiza, a um só tempo, a centralidade da circulação (circuito) no encadeamento das diversas etapas da produção; a condição do espaço (espacial) como variável ativa na reprodução social, na atividade produtiva dominante (produtivo). (CASTILLO; FREDERICO, 2010, p. 463). Com a globalização, os circuitos espaciais produtivos se efetivam no espaço através das regiões produtivas. A globalização reproduz as segmentações políticas do espaço geográfico, particularmente a divisão do mundo em territórios nacionais, ao mesmo tempo em que faz emergir uma forma regional como expressão geográfica do novo paradigma produtivo (CASTILLO; FREDERICO, 2010, p. 19). O conceito de região proposto nesta pesquisa estabelece uma discussão teórico-metodológica acerca de dois termos principais que são eles: “Região Competitiva” (CASTILLO; FRDERICO, 2010) e de “Regiões Produtivas Agrícolas” (ELIAS, 2011). Os autores conceituam o que se trata essa competitividade das regiões, [...] a ideia de região competitiva pode ser entendida como a expressão geográfica da produção na era da globalização. Parece-nos que este conceito permite dar conta de um amplo espectro de atividades econômicas, incluindo a agricultura, a indústria, os serviços e os casos mistos, como o agronegócio. As regiões competitivas, atreladas a determinadas atividades produtivas, coexistem com outros tipos de região, como as históricas e administrativas” (CASTILLO; FREDERICO, 2010, p. 20). De forma sucinta, pode-se entender “região competitiva” como uma porção do espaço geográfico em que há presença de uma atividade agrícola moderna exercendo sua hegemonia sob a agricultura tradicional e nos pequenos produtores. Em se tratando das “Regiões Produtivas Agrícolas”, a autora evidencia-se que, 2159 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 As RPAs são os novos arranjos territoriais produtivos agrícolas, os territórios das redes agroindustriais, escolhidos para receber os mais expressivos investimentos produtivos inerentes ao agronegócio globalizado, representando suas áreas mais competitivas. Nelas encontram-se partes dos circuitos espaciais da produção e círculos de cooperação de importantes commodities agrícolas, evidenciando a dinâmica territorial do agronegócio. (ELIAS, 2011, p. 153). Vale ressaltar também, que os agentes produtores do espaço geográfico nas “regiões produtivas agrícolas” ditam as transformações e influências no espaço tanto rural, quanto urbano. Na presente pesquisa, o termo região agrícola remontará a área de influência do município de Frutal – MG, no qual, nos últimos anos vem sendo bastante vulnerável ao montante de capital financeiro que por uma ordem global de exportação, ditam regras de organização do espaço geográfico, dando origem a um espaço segregado e concentrado nas mãos de grupos agroindustriais. O processo de conversão de atividades agropecuárias tradicionais e de pequenas propriedades em atividades voltadas ao setor agroindustrial induz a região transformar sua atividade na chamada especialização regional produtiva. “A expressão territorial decorrente do crescimento das exportações do agronegócio é o aumento e a especialização das áreas destinadas à produção de produtos agrícolas”. (FREDERICO, 2012, p. 8). Em consequência da globalização dos mercados, algumas exigências são estabelecidas, de modo que algumas áreas, regiões ou países passam atender as lógicas de mercado de maneira especializada ligada diretamente ao sentido de exportação. Os interesses setoriais por lugares restringem e debilitam a rede urbana regional, os sistemas de transportes e as comunicações em áreas rarefeitas. Devido o alto grau de emprego de sistemas técnicos das empresas, as mesmas não geram empregos locais em níveis significativos. A produção fica concentrada nas mãos de agentes das empresas modernas, nas quais, dominam as estruturas mercadológicas locais, de distribuição, de compras, concentrando ainda mais a apropriação da mais-valia a partir da imposição de quantidades, qualidades e preços, tornando verdadeiros oligopólios territoriais. (SILVEIRA, 2011, p. 7). Enfatizando essa característica de mercado ao setor agroindustrial, uma das características do atual período é a ocupação de milhões de hectares de Cerrado pela 2160 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 agricultura moderna globalizada ao mesmo tempo em que se aprofunda a divisão territorial do trabalho, expressa na forma de especialização regional produtiva. (CASTILLO, 2007, p. 22). Portanto, essa especialização produtiva transforma a região em um espaço homogêneo de produção agrícola, perdendo a diversidade da produção, levando a predominância de monocultura. Como propõe Santos (1994, p.15), a noção de território usado deriva da tentativa de superação dos “conceitos puros”, herdados da modernidade, por noções híbridas (LATOUR, 1994), caracterizadas pela indissociabilidade entre coisas naturais e sociais, materialidade e ações. Deste modo, não é o território, entendido apenas como o quadro material, inerte, o objeto das análises sociais, e sim o território usado pelos diferentes agentes. Derivado da noção de espaço geográfico como “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações” (SANTOS, 1996, p.51), o território usado se define, segundo Silveira (2008), “pela implantação de infraestruturas ou sistemas de engenharia, mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade”. A cada período histórico, o acúmulo de velhas e novas formas de divisão social e territorial do trabalho, ou seja, a articulação solidária e contraditória entre as formas materiais (naturais e socialmente produzidas) e sócio-políticas nos revela como o território é usado (SILVEIRA, 2008). Na tentativa de operacionalização dessa noção, este trabalho objetiva analisar as estratégias territoriais das usinas na região de Frutal: competências logísticas, relações de produção para obtenção da matéria prima, estratégias de monopolização do espaço, impedindo a entrada de outros grupos na mesma área produtiva, fusões e aquisições de empresas concorrentes. A centralização do capital é uma das principais expressões do território usado dos grupos empresarias. Para Smith (1988, p.172), baseado em Marx (1980), enquanto a concentração de capital expressa uma acumulação individual gerada pelo reinvestimento em novos meios de (re)produção, a centralização, por sua vez, ocorre quando dois ou mais capitalistas, anteriormente independentes, se combinam em um, através de incorporações, fusões e aquisições. Ao aumentar o poder de ação dos principais grupos econômicos, a centralização de capital permite o estabelecimento de uma nova divisão territorial do trabalho das empresas e da produção de cana de açúcar, com o consequente aprofundamento da especialização territorial produtiva. Dessa forma, enquanto as principais metrópoles do país, em particular, São 2161 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Paulo, concentra os escritórios de gestão das empresas, as áreas produtivas se especializam no fazer técnico (SANTOS, 1996; SANTOS; SILVEIRA, 2001; CASTILLO, FREDERICO, 2010). As áreas de difusão da cana de açúcar são um dos melhores exemplos de regiões especializadas. Nelas ocorre um verdadeiro rearranjo do território para atender às demandas do agronegócio globalizado (ELIAS, 2011). Sob a égide de grandes corporações, investidores e produtores, o meio geográfico se reorganiza, com a implantação seletiva de sistemas técnicos e normativos funcionais à agricultura científica globalizada (SANTOS, 2000). Trata-se da constituição de regiões competitivas agrícolas (CASTILLO; FREDERICO, 2010), isto é, de territórios corporativos e especializados na produção de determinadas commodities agrícolas. Dentre os mais importantes processos associados ao território usado nessas regiões destacam-se: a implantação de sistemas técnicos agrícolas com alta densidade de capital, informação e tecnologia; a concentração fundiária e a substituição da produção de alimentos pelas commodities; a expropriação dos pequenos produtores e dos recursos naturais (solo, água, vegetação); a crescente urbanização; e a construção de infraestruturas essenciais à circulação material e imaterial da produção (meios de transporte, armazéns, sistemas de comunicação e energia, estações aduaneiras do interior). A busca por maior produtividade e rentabilidade, sob as exigências do mercado globalizado, leva à especialização produtiva, tornando-se recorrente nas áreas produtoras de cana de açúcar a constituição de subespaços monocultores em grandes propriedades, em detrimento de outras culturas e formas de produzir. Portanto, o objetivo principal deste projeto de pesquisa é analisar as consequências territoriais decorrentes da centralização do capital e da especialização produtiva em cana de açúcar na região de Frutal a partir da década de 2000. METODOLOGIA Com o objetivo de manter a coesão epistemológica durante a pesquisa e permitir uma melhor sistematização dos resultados encontrados, buscaremos adotar uma abordagem teórico-metodológica coerente, pertinente e operacional (SILVEIRA, 2000). Nesta linha de raciocínio, aprofundamos as leituras sobre os conceitos de: 1) centralização e concentração do capital; 2) especialização regional produtiva; 3) cidades funcionais ao campo moderno (cidades do agronegócio); 4) competitividade e vulnerabilidade territorial; 5) financeirização do capital; 6) globalização e neoliberalismo; 7) uso do território e 8) urbanização corporativa. 2162 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Paralelamente, realizou-se a revisão bibliográfica temática, cujo objetivo principal foi de realizar leituras sobre assuntos mais específicos do objeto de estudo. Os levantamentos de dados secundários serviram para a fundamentação quantitativa do trabalho. RESULTADOS Atualmente, a Região de Frutal1 é uma das principais áreas produtoras de cana de açúcar do Estado de Minas Gerais. Prova disso, pode ser constatado nos dados que ilustram a evolução da cultura canavieira nas ultimas duas décadas. No ano de 1990, a produção em toneladas foi de 1.896.950, com a área plantada de 26.555 hectares. Já no ano de 2000, a produção foi de 5.307.528 toneladas, com área plantada de 63.085 hectares. No ano de 2010, obteve um notável crescimento como pode ser visto, na quantidade produzida que apresentou 21.390.040 de toneladas, com a área plantada de 233.828 hectares (IPEADATA, 2013). Um crescimento significativo comparado à década anterior Sendo assim, entre 2000 e 2012, a área plantada de cana de açúcar aumentou de 63 mil hectares para 356 mil hectares, crescimento significativo de 464,3%, chegando a ocupar cerca de 20% da área total da região. Os dados permitem supor o aumento da especialização produtiva regional, isto é, o “aumento numa mesma região da diversificação de tarefas vinculadas a um mesmo processo, enquanto diminuem as demais técnicas e formas de trabalho” (SILVEIRA, 2010, p.79). Principalmente, com a diminuição na região da área plantada das demais lavouras temporárias (e.g. feijão, arroz, mandioca, etc.) de 205 mil hectares para 127 mil hectares, decréscimo de quase 40%, no mesmo período. O aumento da extensão das plantações de cana de açúcar está vinculado ao crescimento do número de usinas na região. No total são treze unidades, como mencionado anteriormente, sendo nove delas instaladas a partir de 2000. 2163 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 Quadro 1: Usinas situadas na Região de Frutal/MG Usinas Municípios Empresa Pertencente Ano de Inauguração Usina Frutal Frutal Grupo Bunge 2007 Usina Itapagipe Itapagipe Grupo Bunge 2006 Usina Coruripe Campo Florido Grupo Tércio Wanderley 2002 Usina Coruripe Iturama Grupo Tércio Wanderley 1994 Usina Carneirinho Carneirinho Grupo Tércio Wanderley 2008 Usina Coruripe Limeira do Oeste Grupo Tércio Wanderley 2005 Usina Cabrera Limeira do Oeste Grupo ADM 2011 Usina Cerradão Frutal Grupo Pitangueiras e Grupo Queiroz de Queiroz 2006 Usina Santo Ângelo Pirajuba Grupo Santo Ângelo 1984 Usina Volta Grande Conceição das Alagoas Grupo Delta Sucroenergia 1996 Usina Delta Delta Grupo Delta Sucroenergia 1950 Usina Conquista de Minas Conquista de Minas Grupo Delta Sucroenergia 2000 Destilaria Rio Grande Fronteira Grupo Destilaria Rio Grande S/A 2006 Fonte: Anuário da Cana (2013); e sites das próprias usinas A atuação de grupos nacionais e internacionais na implantação e aquisição de usinas na região é um dos melhores exemplos da centralização de capital no setor sucroenergético. A trading company Bunge adquiriu, em 2010, a empresa nacional Moema Participações S.A, passando a controlar duas usinas na região: Frutal e Itapagipe. Outro exemplo envolvendo uma trading foi a aquisição da Usina Cabrera pela americana ADM, em 2011. Com relação aos grupos nacionais destacam-se as atuações do Grupo Tércio Wanderley e Delta. O primeiro, originário da Região Nordeste, possui quatro unidades na região. O Grupo Tércio Wanderley iniciou suas atividades na região de Frutal em 1994, a partir da aquisição da Destilaria Alexandre Balbo que operava no município de Iturama (MG) desde o ano de 1985. Logo depois, em 2002, o Grupo construiu uma unidade no município de Campo Florido, outra no município de Limeira do Oeste, em 2005, e mais recentemente, em 2012, adquiriu a Usina Carneirinho, no município de mesmo nome. Já o Grupo Delta possui três usinas na região: Delta, Conquista de Minas e Volta Grande. A primeira delas foi fundada na década de 1950 e adquirida e totalmente reformada pelo Grupo no ano de 2164 http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 2000. As outras duas foram construídas pelo próprio Grupo, com destaque para a última que possui o maior parque industrial em capacidade de moagem de Minas Gerais. Ainda que de maneira preliminar, os dados e informações supracitados permitem aferir presença dos processos de centralização de capital e especialização territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG). Dessa forma, este trabalho justifica-se por se debruçar sobre fenômenos recentes e que têm acarretado em grandes consequências para as atividades produtivas e a dinâmica territorial da região analisada. REFERÊNCIAS ANUARIO DA CANA (2013). Disponível em: < http://www.jornalcana.com.br/>. Acesso em: 10 fev. 2014. ______. Exportar alimentos é a saída para o Brasil?. In: ALBUQUERQUE, E.S. (Org.). Que país é esse?. 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ISBN: 978-85-7506-232-6 CENTRALIZAÇÃO DE CAPITAL E ESPECIALIZAÇÃO TERRITORIAL PRODUTIVA NO SETOR SUCROENERGÉTICO NA REGIÃO DE FRUTAL/ MG EIXO 2 – Dinâmicas e conflitos territoriais no campo e desenvolvimento rural RESUMO Este trabalho tem como objetivo principal analisar a centralização do capital e a especialização territorial produtiva no setor sucroenergético na região de Frutal (MG) a partir da década de 2000. Parte-se da hipótese que a centralização do capital, isto é, as aquisições e fusões de usinas por empresas nacionais e internacionais a partir do início do século XXI, têm como uma de suas expressões territoriais o aprofundamento das especializações produtivas, com importantes consequências tanto para o campo (concentração fundiária, substituição de atividades produtivas, expropriação de pequenos produtores de base familiar) quanto para as cidades próximas (alteração da dinâmica populacional com a atração de migrantes, mudanças no mercado de trabalho, especialização funcional e incremento da economia urbana, aprofundamento da urbanização corporativa e das desigualdades socioespaciais). Dessa forma, objetivamos demonstrar a relação entre a centralização do capital no setor sucroenergético e as transformações produtivas e na dinâmica territorial da região de Frutal (MG). Com o objetivo de manter a coesão epistemológica durante a pesquisa e permitir uma melhor sistematização dos resultados encontrados, buscaremos adotar uma abordagem teórico-metodológica coerente, pertinente e operacional (SILVEIRA, 2000). Desta forma, os procedimentos metodológicos constarão das seguintes etapas: revisão bibliográfica teórica e temática; levantamento de dados secundários; trabalhos de campo, visitas técnicas e entrevistas e trabalhos técnicos, elaboração de gráficos e mapas. A análise dos resultados se dará à luz de nosso referencial teórico-metodológico. Desta maneira, analisaremos, primeiramente, a formação das usinas e a consequente centralização de capital do setor sucroenergético na Região de Frutal. Tal tarefa será realizada em nossa periodização com o objetivo de compreender a formação sócio-espacial estudada. A segunda etapa enfatizará a atual constituição do circuito espacial produtivo sucroenergético da Região em estudo. Nesta fase, com o objetivo de mapear o citado circuito, serão realizadas pesquisas de campo e de dados sobre as trocas materiais e imateriais do referenciado setor. Na fase final, analisaremos as vulnerabilidades territoriais geradas pelo processo de centralização e concentração do capital no circuito espacial produtivo sucroenergético da Região de Frutal (MG). Finalmente, esperamos dissertar uma “geografia do presente” sobre a dialética entre o mercado sucroenergético e a Região de Frutal (MG). Palavras-chave: centralização de capital; especialização territorial produtiva; região de Frutal 2168