Luis Fernando Veríssimo: o cronista da vida privada brasileira
Luis Fernando Veríssimo: the chronicler of the Brazilian private life
Kennedy de Oliveira GOMESi
Resumo: O presente estudo retrata as crônicas de Luís Fernando Veríssimo que,
segundo pesquisas, é o autor mais lido do Brasil, sendo que tal recepção do público
deve-se aos temas abordados pelo autor, já que sensibiliza a todos com a sua linguagem
coloquial. Dessa forma transforma suas crônicas em um bate-papo entre dois amigos,
tornando-se, assim, representante ativo do Pós-modernismo.
Palavras-chave: Crônica, Luis Fernando Veríssimo, Pós-modernismo.
Abstract: This study depicts the chronicles of Luís Fernando Veríssimo, that according
to the researchs, he is the most widely read author of Brazil, and such public reception
due to the issues addressed by the author, because it sensitizes everyone with their
colloquial language. Then, he turns his chronicles in a chat between two friends,
becoming, this way, active representative of Postmodernism.
Keywords: Chronicles, Luís Fernando Veríssimo, Postmodernism.
O Pós-modernismo nasceu na década de 50, objetivando fazer com que o erudito
e o popular pudessem se entrelaçar e invadir o cotidiano das pessoas com a expansão da
tecnologia eletrônica em massa.
Nas mais diversas artes pós-modernas, o que é possível presenciar é a
pluralidade de ideias e interpretações de um mesmo estilo artístico. Como definiu o
escritor Jair Ferreira dos Santos, em seu livro O que é Pós-moderno.
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¹ Graduado em Jornalismo pela UniSEB e pós-graduando em Comunicação: Linguagens
Midiáticas pelo Centro Universitário Barão de Mauá - CEP 14140-000 - Cravinhos - SP - Brasil e-mail: [email protected]
A essência da pós-modernidade vem através das cópias e imagens de
objetos reais, da reprodução técnica do real, e significa apagar a
diferença entre o real e o imaginário, ser e aparência, ou seja, um real
mais real e mais interessante que a própria realidade. Um exemplo
disso é a televisão que, aliada ao computador, simula um espaço
hiper-real, espetacular, que excita e alegra. (SANTOS, 2008).
Os autores pós-modernistas trazem em suas publicações esse ecletismo tão
divulgado pelo movimento, e conseguem adaptar os seus textos à época presente. Como
é o caso do escritor brasileiro Luis Fernando Veríssimo, que é conhecido por seus textos
de humor e já teve seus livros reconhecidos mundialmente.
O escritor nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936, é filho do
também escritor Érico Veríssimo, e viveu parte de sua infância nos Estados Unidos, já
que seu pai lecionava em uma das universidades americanas. E foi na Califórnia que
começou a ter contato com a literatura. Em 1945 volta para a capital gaúcha e, em 1950,
quando começa a surgir o movimento pós-modernista, edita com sua irmã Clarissa e seu
primo Carlos Eduardo Martins a sua primeira publicação, que foi denominada de O
Patentino (privada de patente), que era um jornal que continha notícias sobre sua
família e que era colado na parede do banheiro da casa.
Em 1953 retorna para os EUA onde conclui o secundário. Com isso começa a se
apaixonar por jazz e futebol. Em 1956 retorna ao Brasil e começa a trabalhar no
departamento de arte da Editora Globo. Em 1966 começou como copydesk do jornal
Zero Hora (Porto Alegre), e em seguida passou por diversas seções. Na mesma época
também foi tradutor no Rio de Janeiro, o que o ajudava a completar sua renda. Em 1967
começa a ter uma coluna diária no jornal Zero Hora, que tratava somente do
Internacional, seu clube de coração. Já em 1969 assume a coluna de Jockyman e inicia
escrevendo matérias assinadas. Em 1971 cria o jornal “O Pato Macho”, que circulava
diariamente na capital gaúcha com notícias, entrevistas, textos de humor e cartuns. Já,
em 1973, a editora José Olympio decide lançar o seu primeiro livro que se chama O
popular, reunindo textos publicados na imprensa. Com isso a crítica nacional começa a
reconhecer seu trabalho e a elogiá-lo.
Depois dessa primeira publicação, Veríssimo já editou mais de 75 livros,
participou de aproximadamente 25 coletâneas, escreveu seis novelas e publicou um
grande número de quadrinhos e cartuns. Isso fez com que pudesse ganhar diversos
prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Jabuti, em 2001. Além disso, também
tem textos de ficção e crônicas publicados nas revistas Claudia, Playboy, Veja e
Domingo (integrante do Jornal do Brasil).
Luis Fernando Veríssimo traz em seus textos os mais diversos temas, sempre
procurando retratar a realidade em um determinado momento e época. Por isso o
cartunista Jaguar define o autor como o “cronista da vida privada brasileira”.
Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. Meu consolo
— comparando meu artesanato de chistes e cartuns com sua fábrica —
era que, enquanto eu rodo pelaí com minha grande capacidade ociosa
pelos bares da vida, na busca insaciável do prazer (B.I.P.), o campeão
do humor trabalha como um mouro (se é que os mouros
trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia
levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como
dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a
dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De
manhã à noite, sempre com a placa “Homens Trabalhando” pendurada
no pescoço. (JAGUAR, 2000)
O próprio autor gosta de dizer sempre em suas entrevistas, que são raras, não ter
diploma em Ensino Superior e que escreve por prazer, mas a cada momento fica mais
autocrítico e tenta fazer suas crônicas, cartuns e quadrinhos sempre em fatos observados
no cotidiano das pessoas.
Por se tratar de um autor que tem uma vasta obra, é o escritor que mais vende
livros no Brasil, mas nesta breve dissertação serão abordadas somente algumas de suas
crônicas, em especial as publicadas em suas colunas semanais em revistas e jornais
brasileiros.
1. O autor e suas crônicas
Um texto de Luis Fernando Veríssimo sempre retratará uma determinada época
ou situação. De forma informal e muitas vezes colocando o leitor dentro da história ou
alguém que ele conhece, consegue que seus textos sejam disputados por jornais, revistas
e diversas publicações nacionais e internacionais.
O autor consegue lidar com o gênero humorístico em suas diversas
possibilidades, e, como ele mesmo afirma, “o humor é a arte do exagero”. Em suas
crônicas retrata diversos assuntos de forma sofisticada, mas com uma linguagem
coloquial e elegante, enriquecida por “tiradas” engraçadíssimas e comentários
inteligentes. Entre os temas, traz a análise sociocultural do país e do mundo, bem como
a cultura de massas.
A limpidez, a elegância e o tom coloquial de seu texto fazem o leitor,
ao ler suas crônicas, deslizar por elas com sofreguidão, para descobrir
que surpresas esperam por ele. O tema de seus textos não é o mais
importante. Sobre qualquer assunto e a qualquer pretexto, o autor
revela suas obsessões, fala das mesmas coisas, preocupa-se com o
social e o ético, despreza o econômico. Família é um assunto preferido
por ele. Mesmo ocorrendo a repetição de assuntos, Veríssimo é capaz
de renovar os textos e brincar com as palavras com maestria.
(DUARTE, 2007).
Veríssimo tem como recurso primordial em suas crônicas a criação de
personagens, que com características próprias representam satiricamente aspectos da
realidade brasileira. Entre estes tipos podemos citar a “Velhinha de Taubaté”, que foi
criado em 1979, para fazer uma crítica ao governo do general João Baptista Figueiredo,
já que a idosa era “a última pessoa no Brasil que ainda acreditava em seu governo”.
Ao invés de fazer um comentário sério em cima de tal fato, o escritor optou por
uma maneira bem humorada de fazer a crítica, e o seu objetivo foi alcançado, já que por
26 anos Veríssimo se utilizou da personagem fictícia – velhinha – para fazer as críticas
sobre o cenário da política nacional, inclusive transformando a cidade de Taubaté em
cidade turística, já que todos queriam saber onde ela vivia. Vale salientar que ele
escolheu esse nome, porque inverteu as siglas de TV, ficando VT, assim denominandose “Velhinha de Taubaté”.
Como se sabe, existe uma velhinha em Taubaté que é a última pessoa
no Brasil que acredita. Ela acredita em anúncio, acredita em nota de
esclarecimento, acredita até nos ministros da área econômica. Depois
que foi localizada, a velhinha de Taubaté, coitada, não teve mais
sossego. Todos os dias batem à sua porta querendo saber que canal ela
está olhando, que produto ela está usando e se a explicação do
governo sobre o último escândalo foi convincente. Ela sempre diz que
foi. Algumas agências de publicidade estão incluindo no seu approach
de marketing uma “Velhinha Factor”, ou a questão: isto passa pela
velhinha? Muitas entidades públicas e privadas mantêm a velhinha
sob constante observação. Fala-se mesmo que existe em Taubaté uma
unidade médica em prontidão permanente, exclusivamente para
atender a velhinha, em caso de mal súbito ou escorregão. Há uma
convicção generalizada de que, quando a velhinha se for, tudo
desmoronará. A boa saúde da velhinha interessa tanto ao governo
quanto à oposição responsável. Se ela morrer - ou deixar de acreditar,
teremos o caos, que não convém ao projeto político de nenhum dos
lados. Quando o Tancredo e o Figueiredo se encontrarem e um
perguntar como vai a saúde, não estará se referindo nem ao outro, nem
ao Aureliano. Estará falando da velhinha de Taubaté. Só a velhinha de
Taubaté nos separa das trevas. (VERÍSSIMO, 1979).
Em 2005, em tempos da crise do “Mensalão”, a velhinha teve o seu falecimento
anunciado pelo seu criador, em frente à televisão, decepcionada com o quadro político
brasileiro e, em especial, com o seu ídolo Antonio Palocci.
A Velhinha morava sozinha com seu gato, e não era raro a própria sair
de casa e oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam
em ônibus de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu
autógrafo. Ela sempre acompanhou a política e acreditou em todos os
governos, desde o de Getúlio Vargas, inclusive nos colaboradores dos
governos militares. O presidente Sarney telefonava frequentemente
para Taubaté para saber se a Velhinha, pelo menos, ainda acreditava
nele, e Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o
deixasse só. As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda
não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de
acompanhantes de congressistas em Brasília, embora a Velhinha
acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que
a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra
de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela
acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se
recuperara. Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs,
comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes
das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos
os depoentes, e acreditava que como todos estavam dizendo a verdade
a crise acabaria logo. Mas ultimamente começara a dar sinais de
desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença. A Velhinha
acreditara em Lula, desde o começo, e até rebatizara o seu gato, que
agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela
morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia.
Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando
com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido
suicídio. O ambiente no parque de diversão em torno da casa da
Velhinha de Taubaté é de grande consternação. (VERÍSSIMO, 2005)
Outro personagem que alcançou grande repercussão na história da literatura
brasileira, bem como a admiração popular, foi o popular “Analista de Bagé”, obra
lançada no ano de 1981 por Luis Fernando Veríssimo. O personagem se declarava
“freudiano de colá decalco” e “mais ortodoxo do que rótulo de Maizena”.
Os textos trazem à tona os bastidores do consultório de um hilário psicanalista
gaúcho, que se utiliza de conhecimentos “pseudocientíficos” e da sabedoria popular dos
pampas para poder auxiliar seus pacientes. Na história, o analista sempre recepciona os
pacientes com um quente chimarrão (“pra clarear a urina e as idéias”).
Longe de ser politicamente correto, o autor mostra nas crônicas do analista o
choque entre a fala e os costumes regionais, dessa forma fazendo uma crítica aos falsos
valores morais, à política e ao machismo.´
Veríssimo não abre mão de seu humor irônico e sarcástico, por isso se tornou
mestre na criação de diálogos fáceis e antológicos, o que podemos ver nesse trecho de
“O analista de Bagé”.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com
um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.
- Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
- O senhor quer que eu deite logo no divã?
- Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas
eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da
fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
- Certo, certo. Eu...
- Aceita um mate?
- Um quê? Ah, não. Obrigado.
- Pos desembucha.
- Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
- Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
- Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
- Outro.
- Outro?
- Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
- E o senhor acha...
- Eu acho uma pôca vergonha.
- Mas...
- Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
(VERÍSSIMO, 1982)
Mesmo sem criar personagens, suas crônicas sempre têm o discurso irônico e de
humor, como é o caso da crônica intitulada “Veríssimo apresenta Brasil a Obama”,
de 2008, que foi veiculada na revista americana Newsweek e traduzida por Graziele
Badke. Na ocasião ele diz que Obama ficará admirado com a maior festa do mundo, que
é o Carnaval e o melhor estádio do mundo, que é o Maracanã, que ainda quer ver o
melhor time em ação, não cita a equipe, mas sendo torcedor fanático do Internacional,
presume-se que seja o colorado gaúcho. Também ressalta os pontos ruins do Brasil,
como a desigualdade social, aglomerados de favelas e a corrupção.
[...] Se Obama vier, poderíamos proporcionar a ele não apenas uma
estadia agradável, mas uma experiência excelente. Ele poderia
participar da maior festa da Terra (Carnaval) ou ir ao maior estádio de
futebol do mundo (Maracanã) para assistir ao maior — ou pelo menos
mais vitorioso time nacional — em ação. [...] Temos um grande
governo esquerdista (mais ou menos), mas também uma economia
capitalista, e, estamos desenvolvendo um grande mercado de consumo
popular para nossos próprios produtos e para os importados. No
entanto, também temos a maior distância entre ricos e pobres do
mundo, junto com as maiores favelas e, provavelmente, os piores
escândalos de corrupção. (VERÍSSIMO, 2008)
De forma irônica e sarcástica o autor consegue com supremacia mostrar ao
presidente norte-americano os pontos bons e ruins do Brasil, dessa maneira fazendo um
retrato fidedigno da situação brasileira na época da publicação da crônica.
No início de sua “carreira”, seus textos eram mais extensos e, com o passar do
tempo, as crônicas foram ficando mais concisas, entretanto, com mais citações da
Literatura, fazendo com que o leitor precise de um pouco de conhecimento para que se
possa situar no tempo e espaço.
2. Veríssimo e seus apócrifos
O trabalho do escritor já é bem vasto, mas tem se tornado ainda mais amplo
devido às inúmeras crônicas e contos que são atribuídos a ele, nas principais redes
sociais, como Facebook, Orkut e Twitter.
Em entrevista ao Programa “Sempre um Bom Papo”, em 2010, Luis Fernando
Veríssimo conta que existem textos muito bons, mas que realmente não são seus,
entretanto, quando ele gosta absorve para seu currículo.
Esses textos apócrifos mudam o estilo do autor, já que às vezes ele é romântico,
conselheiro, e até tem textos de autoajuda, que nunca passaram pelos seus pensamentos
para serem escritos.
Durante o Salão do Livro de Paris, em 2005, Veríssimo recebeu uma coletânea
de textos de escritores brasileiros traduzidos para o francês, e se surpreendeu ao ver que
o seu texto escolhido era intitulado “Quase”, que em nenhum momento foi escrito por
ele. Na volta ao Brasil utilizou sua coluna no jornal Zero Hora, do dia 24 de março de
2005, para, de forma jocosa, relatar o episódio e o equívoco que havia ocorrido em
Paris.
O incômodo, além dos eventuais xingamentos, é só a obrigação de
saber o que responder em casos como o da senhora que declarou que
odiava tudo que eu escrevia até ler, na internet, um texto meu que
adorara, e que, claro, não era meu. Agradeci, modestamente.
Admiradora nova a gente não rejeita, mesmo quando não merece. O
texto que encantara a senhora se chamava “Quase” e é, mesmo, muito
bom. Tenho sido elogiadíssimo pelo “Quase”. Pessoas me agradecem
por ter escrito o “Quase”. Algumas dizem que o “Quase” mudou suas
vidas. Uma turma de formandos me convidou para ser seu patrono e
na última página do caro catálogo da formatura, como uma
homenagem a mim, lá estava, inteiro, o “Quase”. Não tive coragem de
desiludir a garotada [...]. Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor
do “Quase” para agradecer a glória emprestada. (VERÍSSIMO)
Após muito insistir em descobrir de quem seria o texto originalmente, recebeu
uma carta de uma estudante catarinense chamada Sarah Wesphal, 21 anos, contando ser
a verdadeira autora. A revelação valeu uma reportagem na capa do Caderno Variedades
do jornal Diário Catarinense, além de sites e revistas do Rio Grande do Sul.
Veríssimo em sua coluna no jornal Zero Hora retratou a verdadeira autora e em
tom de ironia disse: “editoras fiquem atentas a essa escritora, que ainda não lançou
livro, mas tem um texto traduzido para o francês”.
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a
desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me
entristece, que me mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi.
Quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu ainda está vivo,
quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que
escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas
ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no
outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida
morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de
cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos na frouxidão dos
abraços, na indiferença dos “Bons Dias”, quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o
amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos
para decidir entre a alegria e a dor, mas não são. Se a virtude estivesse
mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não
aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de
si. Não é que a fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam
ao alcance; para as coisas que não podem ser mudadas, resta-nos
somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros
fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta
cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é
instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade
sufoque, que a rotina acomode, que sonhando, fazendo que
planejando, vivendo que esperando porque embora quem quase morre
esteja vivo, quem quase vive já morreu. (WESPHAL, 2004)
Sobre seus apócrifos Luis Fernando Veríssimo publicou um texto no Blog de
Ricardo Noblat, jornalista do jornal o Globo, que dizia o seguinte:
“Também me dizem que, além de textos meus que nunca escrevi
(como textos igualmente apócrifos do Jabor, da Martha Medeiros e até
do Jorge Luís Borges), agora frequento a internet com um Twitter.
Aviso: não tenho tuiter, não recebo tuiter, não sei o que é tuiter.
E desautorizo qualquer frase de tuiter atribuída a mim a não ser que
ela seja absolutamente genial. Brincadeira, mas já fui obrigado a
aceitar a autoria de mais de um texto apócrifo (e agradecer o elogio)
para não causar desgosto, ou até revolta. Como a daquela senhora que
reagiu com indignação quando eu inventei de dizer que um texto que
ela lera não era meu:
- É sim.
- Não, eu acho que...
- É sim senhor!
Concordei que era, para não apanhar. O curioso e o assustador é que,
em textos de outros com sua assinatura e em tuiters falsos, você passa
a ter uma vida paralela dentro das fronteiras infinitas da internet”.
(VERÍSSIMO, 2010)
Vale salientar que a maioria dos apócrifos de Luis Fernando Veríssimo tentam
seguir a linha do escritor e fazer críticas sociais, através do humor, ironia e sarcasmo.
3. Conclusão
Luis Fernando Veríssimo retrata diariamente uma situação do Brasil ou do
mundo que, em suas colunas, transformam-se em uma conversa entre dois amigos, com
linguagem coloquial e elegante, fazendo o leitor pensar sobre determinado assunto e,
muitas vezes, sempre ficar com aquele gosto de “quero mais”.
A grande parte de sua produção é veiculada em jornais e revistas, sendo que em
todas sempre estão presentes a ironia e seu ponto de vista sobre a sociedade brasileira. A
abordagem da Política, Economia, Gastronomia, Futebol, Viagens, Literatura, entre
outros tantos temas, faz com que Veríssimo seja considerado um criador popular.
Os tempos verbais utilizados pelo escritor sinalizam uma atitude de engajamento
ou assumem um papel de narrador a favor de sua tese. Na maioria de suas crônicas
encontramos o tema do humor, o que possibilita a leitura mais descontraída e que
sensibiliza o leitor, muitas vezes, também, persuadindo-o.
Atualmente, pesquisas indicam que Veríssimo é o autor mais lido do Brasil. Essa
recepção do grande público é devido aos temas escolhidos pelo autor, que sempre são
atuais e retratam o dia a dia de grande parte das pessoas.
Referências
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Acesso em: 2 maio 2011.
BLOG do Noblat. Blog do Noblat. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/04/04/outro-voce-280562.asp>.
Acesso em: 13 maio 2011.
DUARTE, S. M. S. A percepção da ironia nas crônicas de Luís Fernando
Veríssimo. 2007. Dissertação (Mestrado) – Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora,
São Paulo, 2007.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de
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SÁ, J. A crônica. São Paulo: Ática, 1997.
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PLANETA Educação. Planeta Educação. Disponível em:
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POSSENTI, S. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas:
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ZERO Hora. Zero Hora. Disponível em:
<http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp>. Acesso em: 14 maio 2011.
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