Discurso do Presidente Dr Marco Antonio Mroz, Secretário de Estado Adjunto de Saneamento e Recursos Hídricos Dra Dilma Pena, Presidente da Sabesp Dr Carlos Roberto dos Santos, Diretor de Engenharia e Qualidade Ambiental da Cetesb, aqui representando o Presidente Osvaldo Okano. Dr. Luis Paulo de Almeida Neto e Dr. João Paulo Tavares Papa, diretores da Sabesp Aos representantes das diversas entidades profissionais nossas parceiras. Aos ex-presidentes e ex-dirigentes da ABES São Paulo e da ABES Nacional Aos colegas da Abes São Paulo Aos amigos, Em nome da gestão que se encerra e da que se inicia, muito obrigado pela presença de todos. Eu gostaria de iniciar fazendo alguns agradecimentos, iniciando pelos colegas da gestão que ora se encerra, e pelos profissionais que atuam nas diversas instâncias de nossa entidade, que é construída por essa militância voluntária. Particularmente, quero citar o meu antecessor, Dante Pauli, de quem tive a honra de ser vice-presidente por dois mandatos, e que hoje preside a ABES Nacional, e reafirmar a estreita parceria da seção São Paulo com sua gestão. Gostaria de agradecer aos funcionários da ABES São Paulo pelo esforço em dar suporte às diversas frentes em que as atividades da entidade se desdobram. Quero, mais pessoalmente, agradecer aos colegas da empresa em que trabalho, a Cobrape, pela compreensão com as necessidades de compartilhamento do tempo. Quero ainda agradecer a minha companheira de toda a vida, a Marisa. Não apenas pelo suporte pessoal, mas também, como profissional de nosso setor, pelo muito que me ensinou sobre saneamento ao longo dos anos. Meus amigos. A ABES se aproxima dos cinquenta anos. Nesse tempo, teve papel central na institucionalização do saneamento e meio ambiente no Brasil. Teve sempre atuação importante no desenvolvimento técnico do setor, e sua presença foi relevante no processo de democratização e de reformulação institucional nas décadas de 80 e 90. Hoje sua responsabilidade, em um setor em que muito foi feito, mas falta ainda tanto, é continuar a articular os profissionais em torno de uma agenda de desenvolvimento e de qualidade na prestação de serviços. E a força da ABES, além de sua história é a ampla representação que possui. A ABES congrega, nas áreas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem, resíduos sólidos, recursos hídricos e meio ambiente, profissionais de todas as formações, e de todo tipo de inserção nos processos produtivos, e de formação e disseminação do conhecimento. Profissionais de governo, nos três níveis. Profissionais do grande operador estadual, a Sabesp, dos serviços municipais, dos operadores privados. Profissionais de todas as áreas ambientais, a começar pela Cetesb, outra organização, como a Sabesp, de referência em nosso país. Profissionais atuando na regulação ambiental e na regulação da prestação de serviços. Profissionais das universidades, da consultoria, da construção, de serviços operacionais, de fabricantes de equipamentos. E, além dos profissionais, a ABES também representa as próprias empresas. Daí vem a grande força desta entidade. E temos discutido em nosso plano de trabalho, que não devemos temer enfrentar as diferenças de posições e opiniões que naturalmente podemos ter ao abrangermos tantas funções diversas dentro de nosso setor. Vamos enfrentar as polêmicas. Este é o melhor modo de contribuirmos para o desenvolvimento. Por outro lado, ao longo dessas cinco décadas muitas entidades foram criadas, organizando grupos específicos dentro de nosso setor, o que responde a uma sociedade que foi se sofisticando. A atuação da ABES não é isolada, e só pode se beneficiar da estreita parceria com as coirmãs. Esta já é a prática hoje, que pretendemos aprofundar. Como já dito, a ABES sempre teve grande atuação na capacitação técnica. Com o crescimento da demanda nos anos recentes, e com a constatação que, a despeito do grande acervo técnico do setor, temos hoje sensível déficit de capacidade, e padecemos de defasagem tecnológica, temos aqui um grande desafio. Para responder, o setor como um todo tem que empreender um esforço dirigido. A ABES-SP tem procurado cumprir seu papel. Na atual gestão o programa de cursos teve grande expansão, chegando ao limite de nossa capacidade instalada. Nossos planos são de expandir essa capacidade e de profissionalizar a estrutura responsável. A ABES-SP atua também como entidade certificadora. Está em curso um programa de profissionalização dessa atividade, que visa instituir junto à ABES-SP uma entidade certificadora de profissionais, acreditada pelo Inmetro, que responda amplamente às necessidades do setor. A atuação técnica e institucional da ABES se estende ainda por suas câmaras técnicas. A ABES-SP possui cinco câmaras: de Resíduos Sólidos; de Saúde Pública; de Saúde e Saneamento em Comunidades Isoladas, de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, e de Educação Ambiental, esta na subseção de Campinas. Atua também nas diversas câmaras técnicas de âmbito nacional. As Câmaras Técnicas são um grande espaço de militância voluntária que expande a capacidade de contribuição da entidade. Da mesma forma, as subseções, que são nove atualmente, asseguram a presença da ABES em todo o território do estado. Para melhor aproveitamento de suas contribuições, as Câmaras Técnicas e as Subseções terão uma coordenação específica junto à Diretoria na gestão que se inicia. A ABES-SP preocupa-se com seus associados. Não fugimos, apesar de toda a amplitude de atuação referida, da realidade da grande maioria das associações. A participação não é fácil, os hábitos mudaram muito, as formas de organização necessitam ser modernizadas. A ABES-SP preocupa-se em buscar muitos de seus associados que estão hoje afastados, e é urgente aumentar o contato com os estudantes e com os jovens profissionais. Para isso, será necessário melhorar a comunicação, usar as novas mídias, buscar responder às necessidades reais desses profissionais e conectá-los com a associação. Mas tudo o que estamos falando aqui faz sentido efetivamente quando pensado e praticado sob a perspectiva do que de mais nobre uma entidade como a ABES tem como missão: a interlocução e a discussão das políticas públicas do setor que representa. E sobre isso gostaria de fazer algumas reflexões. Quando se olha para o saneamento e meio ambiente em São Paulo e no Brasil, vem a imagem do copo meio cheio e meio vazio. Em meu trabalho de quase trinta anos com instituições multilaterais de financiamento eu ouvi muitas vezes que o Brasil tem um nível de desenvolvimento técnico e institucional em nosso setor que o destaca em relação à grande maioria dos países em desenvolvimento; que temos muito a oferecer em termos de soluções bem sucedidas e de instituições sólidas e eficientes. Isso tanto é verdade, que recentemente o Banco Mundial estabeleceu um contrato de cooperação com a ABES Nacional para disseminação de boas práticas e assistência técnica a países da Ásia, África e América Latina, que já se encontra em pleno andamento. Em São Paulo, falamos hoje em universalizar o atendimento por abastecimento de água e esgotamento sanitário para as sedes municipais nos próximos anos. A qualidade da prestação de serviços está cada vez mais no centro da discussão institucional. Temos no país um sistema sofisticado de regulação ambiental, em grande medida desenvolvido a partir do estado de São Paulo. O corpo de profissionais em saneamento e meio ambiente em nosso estado e no país, nas mais diversas áreas de formação, significa uma grande capacidade e um patrimônio da sociedade brasileira, que a ABES busca representar. O outro lado, do copo meio vazio, aparece quando olhamos para nossa defasagem tecnológica em comparação com os países mais desenvolvidos; quando vemos nossa dificuldade de investir no ritmo necessário, com problemas de financiamento, de eficiência no projeto, na construção e na operação. Temos problemas na própria valorização do setor pela sociedade, bem demonstrados pela sua quase ausência nas recentes manifestações que sacudiram o país, com a notável exceção dos moradores da Rocinha, ao pedirem esgotos em lugar de teleférico. São muitos os desafios que o setor de saneamento e meio ambiente enfrenta em nosso complexo país, indicando a diversidade de questões que uma entidade como a ABES deve enfrentar. Permito-me comentar algumas delas: Um exemplo dos avanços e das lacunas é a questão das favelas. O Brasil, em grande medida com trabalho pioneiro em São Paulo, entendeu que não havia outra forma, com a quantidade da população vivendo em favelas nas grandes concentrações urbanas, senão incorporá-las plenamente às cidades. A urbanização de favelas é uma das questões em que nosso país hoje transfere conhecimento. Mas as áreas de favelas urbanizadas diferem dos trechos urbanos implantados a partir de um ordenamento de ocupação do solo. O trabalho ainda está incompleto; é necessário legalizar e definir padrões urbanos adequados a essas áreas. No que diz respeito ao saneamento, ainda não há políticas de atendimento consolidadas; é preciso haver práticas técnicas e comerciais específicas para essas áreas, que tratem seus habitantes plenamente como clientes e como cidadãos. Da mesma forma, as comunidades isoladas, que a ABES-SP trata com atenção, dedicando uma Câmara Técnica ao assunto, ainda não têm no estado e no país políticas que as atendam sistematicamente; ainda estamos na fase de experiências piloto e de soluções parciais. Na despoluição dos corpos d’água naturais, outro exemplo de grandes avanços e desafios. Investimos em tratamento de esgotos como em nenhum período anterior. Resultados aparecem, mas ainda há muito por investir, com foco crescentemente na eficiência operacional. E, em muitos casos, precisamos aplicar tecnologias mais avançadas. Além do tratamento em sistemas separadores, a despoluição de áreas urbanas como a Região Metropolitana de São Paulo requer que se discuta a operação integrada de sistemas de esgotamento sanitário e de drenagem urbana. Sem tratamento direto nos sistemas de drenagem pluvial não há como atingir os padrões de qualidade desejados pela sociedade. A ênfase na operação das estruturas de drenagem se coloca também para o controle de inundações. É preciso buscar modernizar a operação dos sistemas de drenagem pluvial, se possível com a instituição de tarifa, ou preço público, que permita sua autonomia como serviço operável em forma empresarial. O controle de inundações enfrenta também a sobrecarga sobre as estruturas existentes e a instalar, decorrente do aumento de vazões críticas de projeto que começam a ser constatadas como decorrência das mudanças climáticas em curso. Por sinal, mudanças climáticas é um outro assunto que a ABES-SP trata especificamente em uma Câmara Técnica. Na coleta, disposição e tratamento de resíduos sólidos, instituímos legislação estadual e federal avançada, que dá os marcos para a separação dos diferentes tipos, redução da geração, reciclagem, disposição e tratamento. Hoje estamos em meio ao esforço pela eliminação dos lixões e implantação de disposição e tratamento adequados. Já em meio ambiente, São Paulo é pioneiro na instituição de um sistema de planejamento e de regulação ambiental. Vivemos atualmente uma fase de modernização e aprofundamento dos processos de licenciamento e controle. A ABESSP tem dado muita atenção a este assunto, promovendo eventos de grande repercussão e participação. Em se falando dos recursos hídricos, São Paulo possui água em quantidades suficientes para suas necessidades, mas a distribuição é desigual, com áreas extremamente carentes, como a região metropolitana de São Paulo. A eficiência no uso da água, o controle de demandas, a redução de perdas são imperativos não somente para a eficiência empresarial dos operadores de serviços, mas uma necessidade ambiental do estado. Muitos avanços vêm sendo alcançados, mas este é um assunto em que a constância no esforço, o controle de custos e a medição de resultados são essenciais. Além da eficiência no uso, a transposição de água entre bacias é uma necessidade em São Paulo, e já é praticada há muitas décadas. Agora estamos entrando em uma nova fase, em que a continuidade do desenvolvimento econômico, e a segurança hídrica da parte mais densa e mais rica do estado, a chamada macrometrópole paulista, dependerá da operação integrada das diversas estruturas de captação e produção de água, independentemente da entidade operadora. Por outro lado, a prestação de serviços de saneamento atinge a maturidade em nosso estado. À medida que nos aproximamos da universalização, a qualidade dos serviços prestados ganha crescentemente relevância. Vimos nas últimas décadas a construção de sólida capacidade profissional na Sabesp, em serviços municipais e em operadores privados. À consistente capacidade de regulação ambiental que já possuíamos, está-se acrescentando a regulação da prestação de serviços, ora em construção. A separação de responsabilidades entre poder concedente, operador e regulador é fundamental para um serviço eficiente de qualidade. A regulação, no entanto, não é simples. Os serviços de saneamento são os mais complexos entre os da infraestrutura urbana. É necessário bom senso e a compreensão de que se trata de uma construção entre as partes envolvidas, que demandará tempo e progressividade. Se a qualidade dos serviços prestados vai ganhando o centro das atenções no setor, também é verdade que os déficits de investimento continuam muito significativos. Embora as fontes de financiamento tenham aumentado, ainda temos uma necessidade não atendida de grande monta. E continuamos com problemas de eficiência e de qualidade na realização dos investimentos. Prazos excessivamente longos e problemas de qualidade e continuidade nos projetos e obras afligem tanto os responsáveis pelas obras, como aqueles que por elas esperam para serem melhor atendidos. Formas que ampliem o financiamento, e que embutam estímulos à eficiência e performance na execução, como as parcerias público-privado, e locações de ativos, têm espaço no leque de opções de ampliação de capacidade. Mas grande parte dos investimentos continuará a ser contratada como obras públicas tradicionais. Para esses, além do indispensável planejamento antecedente, o poder público necessitará sempre contratar com base em um orçamento consistente e confiável, obtido de um projeto bem contratado, bem remunerado e fiscalizado, e, e isto é essencial, elaborado com independência pelo autor, que só deverá prestar contas ao contratante final. É necessário dizer ainda, que os investimentos devem, no máximo possível, ser sustentados por tarifas realistas e justas. Mas nem tudo é possível custear por tarifas. É necessário destinar recursos fiscais ao setor, nos três níveis de governo. Mas não por alocações arbitrárias, que muitas vezes destinam esses recursos a sistemas e serviços perfeitamente capazes de retornar financiamentos por arrecadação tarifária, ou a serviços operados de modo ineficiente. Os recursos fiscais devem ser direcionados, preferivelmente por subsídios focados, e de forma transparente, a consumidores de mais baixa renda, a comunidades de pequeno porte, a ações de despoluição, que não são inteiramente financiáveis por tarifas, a ações de controle de inundações. E é necessário ainda desonerar de tributos este setor; com déficits históricos de atendimento, e ilogicamente sobrecarregado. Para encerrar essas reflexões sobre pontos que deverão ser importantes na atuação da nova gestão 2013-2015 da ABES-SP, eu gostaria de fazer referência às manifestações recentes que levaram à rua milhares de brasileiros. A ABES, como organização de profissionais, parte da sociedade civil que teve papel importante em momentos anteriores de afirmação de nossa democracia, precisa ter clara sua obrigação como forma de organização e veículo de participação. Quando vemos grande parte da energia despertada ser dirigida a ações sem foco, e a formas perigosas de culto da violência, é necessário resgatar o papel das entidades, e afirmar o valor e a importância da democracia representativa, tão duramente conquistada há não muitos anos passados, e defender os princípios republicanos que devem reger uma sociedade moderna que busca ser mais justa e desenvolvida. Espero que a equipe que hoje assume a ABES-SP, eleita sob o nome “Saneamento, Meio Ambiente e Cidadania”, possa desenvolver a agenda setorial em sintonia com as grandes discussões que nos unificam. Este é o nosso compromisso. Muito obrigado.