Pedro Emanuel Mendes
Martins de Carvalho, reflecte o pensamento de uma determinada elite política
nacional relativamente ao posicionamento internacional de Portugal. Defende a
integração de Portugal num bloco Luso-Brasileiro, mas não esquece o fenómeno
da integração europeia, que caracteriza como uma “realidade inelutável”198.
Em suma, podemos dizer que a ideia que Portugal tem da Europa é uma
ideia nacionalista e cristã, com base no Ocidentalismo199, e que se reflectia nas
relações e na posição de Portugal perante a Europa. Neste sentido, Portugal
participa em várias organizações de cariz europeu, mas sempre numa
perspectiva geoestratégica ocidentalista200, como foram os casos de OECE e da
sua sucessora OCDE201.
Internacionalistas”, in Separata da publicação Pontos de Doutrina. Coimbra, Edições da Comunidade
Distrital de Coimbra, 1967, pp. 22-23. Esta visão tinha já sido expressa anteriormente pelo Ministro
dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha em entrevista a um jornal alemão, por ocasião de uma
sua visita a Bona. Nesta entrevista ao “Diplomatische Korrespondenz”, qundo questionado sobre a
atitude de Portugal em relação ao movimento de unidade europeia, o ministro português afirma: “
Acompanhamos esse movimento com todo o interesse, e colaboramos com a melhor vontade em todos
os esforços para se intensificar a coordenação entre as Nações ocidentais. Mas abstemo-nos de quanto
respeita a formas de integração ou fusão, com a criação de organismos supranacioanis. Na verdade,
a nossa situação especial acarreta consigo que estejamos mais dirigidos para o oceano, para o mundo
atlântico, do que para o interior do nosso continente. (…) Portugal é um Império Ultramarino, e dentro
do interesse que têm para nós essas Províncias Ultramarinas, lógico é que não manifestemos pela
unificação europeia um interesse tão grande com os países da Europa Central.” Entrevista do Ministro
dos negócios Estrangeiros, Prof. Paulo cunha, ao “Diplomatische Korrespondenz”, por ocasião de uma
visita a Bona AHD – PEA 2º P, M 309. (sublinhados nossos)
198 CARVALHO, Henrique Martins de – “A Integração Europeia, Movimentos Nacionalistas e
Internacionalistas”, op. cit.
199 Esta doutrina Ocidentalista é particularmente forte em alguns círculos de direita, com ecos
importantes, designadamente no periódico Política dirigido por Jaime Nogueira Pinto. Manuel Maria
Múrias sublinha que “lutamos em África por nós e pelos outros. Lutamos pelo futuro. Sem Portugal
em África a batalha do Ocidente está perdida”. Cf. MÚRIAS, Manuel Maria – “A Batalha do Ocidente” in
Política, Ano 1, nº11, 31 de Maio de 1970, p. 12.
200 Aliás, só nesta perspectiva se pode perceber a integração de Portugal na Aliança Atlântica, Cf.
TEIXEIRA, Nuno Severiano – “Portugal e a fundação do pacto Atlântico” op. cit., p. 79.
201 Criada em 16 de Abril de 1948, no surgimento da ajuda norte-americana (plano Marshall),
tinha como função orientar e coordenar os esforços na recuperação económica da Europa. Recordese o âmbito do plano Marshall que, como componente da doutrina Truman,, tinha por objectivo
fomentar sociedades “ocidentais estáveis”, evitando que no caos económico após a Segunda
Guerra Mundial se pudessem instalar regimes comunistas. Para uma perspectiva portuguesa
sobre o Plano Marshall veja-se GUERRA, Ruy Teixeira – “Algumas notas sobre as Relações entre os
Estados Unidos e a Europa” in VALÉRIO, Nuno (org.) – Ruy Teixeira Guerra. Lisboa, Cosmos, 2000
pp. 5-68. Sobre a participação portuguesa veja-se ROLLO, Fernanda – Portugal e o Plano Marshall.
Lisboa, Estampa, 1994.
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