UNVERSDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
GABINETE DO REITOR
COMISSÃO DA VERDADE
TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTA
Entrevista realizada em: 31.5.2013
Hora: 14h30min.
Local: Sala de reuniões dos Colegiados Superiores
Entrevistado: Diógenes da Cunha Lima
Responsável pela transcrição: Monique Maia de Lima (bolsista)
Carlos Gomes: Boa tarde a todos, vamos dar início a nossa reunião. Hoje, dia 31 de
maio de 2013, o último dia do ano. Oh, do mês, perdão, já estou querendo terminar o
ano... Eu estou doido pra que termine tudo [risos]. Eu queria dar inicialmente alguns
informes. Fizemos uma reunião na terça-feira de fórum pequeno, tivemos a visita de
uma jornalista, Conceição que é assessora do Instituto do Cérebro, que veio solicitar o
apoio da Comissão para uma conferência ou uma palestra que irá fazer o professor
Silvio Mota, que é o presidente da Comissão da Verdade do Estado do Ceará, esse
professor, Silvio Mota, é o professor do nosso cientista Sidarta, tudo bem, nós
acertamos, não é pai, não é sogro, tudo bem, nós vamos dar apoio. E parece que ficou
aprazado para o dia dezessete de junho pelas nove horas no auditório da Biblioteca Zila
Mamede, então nós iremos para lá, dar apoio a essa palestra dele. Também compareceu
a estudante Renata, que veio apresentar um projeto cinema pela verdade, que será
iniciado aqui na Universidade. É um projeto que terá um tempo razoável, ela deixou até
uns panfletos e pediu que sempre tivesse alguém da Comissão da Verdade, porque após
a exibição do filme vai haver um debate e será interessante alguém da Comissão da
Verdade... [inaudível]. Conseguimos os endereços da servidora Araci Siqueira, citada
em vários depoimentos, que era uma das pessoas que tomava conta do acervo da ASI.
Também consegui de Ivaldo Caetano, e também o endereço do ex-reitor Domingos
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Gomes de Lima, vamos ver se mantêm contato com os três para agente agendar a data.
Todos têm conhecimento da ata, já receberam previamente, as correções que foram
pedidas já foram feitas, então, não havendo outra alteração a fazer, tem, professor,
alguma alteração? Então eu considero aprovada a ata. Então informe o professor Almir.
Almir Bueno: Apenas para dar conta dos trabalhos lá em Caicó, esta semana a gente
entrevistou dois funcionários: José Dutra Medeiros e João Inácio. João Inácio era
estudante nos anos 80, o principal desta semana, até nem tanto as informações das
entrevistas que também foram importantes para mencionar nomes, pessoas que a gente
pode contatar lá, mas foi pelo fato que a gente ainda não tinha se detido no arquivo da
Universidade no campo CERES e esta semana o bolsista Edilson, junto com o
funcionário João Inácio, porque eu não estava naquele momento, eles encontraram uma
pasta da ASI ali em Caicó, dados de professores e alunos, são dados que depois Edilson
vai passar um pente fino.
Edilson Pedro Araújo da Silva: Pela documentação que eu analisei incipientemente,
ainda vou me reunir com Almir na próxima semana, mas o que eu consegui identificar
são fichas funcionais de alunos, fichas estudantis de alunos de 74 a 79 estavam nessa
pasta, isso não significa que não apareça no decorrer da documentação outro material.
Mas a priori basicamente alunos.
Carlos Gomes: Vocês têm notícias daqueles três nomes que eu mencionei, conseguiram
alguma coisa?
Almir Bueno: Na verdade, em relação à Zoé, consta como desaparecido, mas foi
enterrado em Caicó, a família questionou, a gente tem contato com o irmão dele, que é
professor no Colégio Diocesano Seridoense, e a gente também vai entrar em contato
com ele para algum tipo de informação, em relação aos outros dois a gente ainda não
fez.
Carlos Gomes: Está bom. Nós recebemos hoje o professor Diógenes da Cunha Lima,
que foi reitor no período de 1979 a 1983, foi professor do curdo de Direito e foi quem
instalou a prática jurídica, que eu me lembre na Universidade, Edgar Schmidt e
Diógenes. E o professor Diógenes da Cunha Lima veio hoje nos prestar informações, a
respeito nós temos nosso trabalho aqui, nós temos estritamente os acontecimentos
dentro do âmbito da Universidade, as perguntas que temos que fazer decorrem de
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testemunhos que nós temos feito aqui, de recortes de jornais e alguns documentos
esporádicos que nós conseguimos. Então, inicialmente, eu gostaria de passar a palavra
para que o senhor nos dissesse se antes de ingressar na Universidade teve alguma
vivência na política universitária.
Diógenes da Cunha Lima: Tive e grande, eu participei na política universitária desde
que entrei na Universidade, ao lado do grupo fui candidato duas vezes derrotado, porque
na época se dividia muito bem ideologicamente a coisa, fui candidato ao diretório
acadêmico. Amaro Cavalcante e meu companheiro, meu colega de turma, teve quatro
votos a mais. Depois fui candidato a UEE, que era a união estadual de estudante,
novamente derrotado por quatro votos com Marcos Guerra.
Almir Bueno: Em que ano foi isso, professor?
Diógenes da Cunha Lima: Isso na época de 72 ou 73, por aí... [inaudível]. Na
Faculdade de Direito foi Zé Willington, vitorioso, e Marcos Guerra, graças a Deus os
dois vitoriosos em todos os sentidos.
Carlos Gomes: Mas antes da Universidade?
Diógenes da Cunha Lima: Não... Fui um secundarista com o mínimo de participação,
porque eu presidia um clube chamado pan-americano, um clube atrevido do Atheneu
que visava a solidariedade dos povos da América Latina.
Carlos Gomes: Então era só cultural...
Diógenes da Cunha Lima: Mas aqui acolá tinha os diretórios [inaudível].
Carlos Gomes: Professor, pois não...
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Só para atualizar o contexto, a data de
seu ingresso na Universidade e a colação de grau.
Diógenes da Cunha Lima: Logo em seguida, em 74, logo após que me formei eu fui
convocado...
Carlos Gomes: Não, o ingresso no curso.
Diógenes da Cunha Lima: Como estudante foi 59.
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Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Eu ingressei em 58.
Carlos Gomes: Colou grau em que ano?
Diógenes da Cunha Lima: 73 [inaudível].
Carlos Gomes: Como ingressou como professor?
Diógenes da Cunha Lima: Como professor, eu fui indicado por um professor, Edgar
Barbosa, que foi meu professor, a Otto Guerra, porque ele estava querendo uma pessoa
que fosse jovem, tivesse boas notas, mas que tivesse prática profissional e por acaso
provavelmente eu era o único que tinha essas condições, eu vivia dentro de cartório, fui
assistente do promotor de Natal e Nova Cruz, comecei em Nova Cruz e depois vim pra
Natal e vivia dentro de cartório, então eu tinha as duas coisas, Otto Guerra levou meu
nome, eu fui contratado de uma maneira curiosíssima, doutor Onofre Lopes disse: “você
vai trabalhar dois anos aqui e vai ganhar um mês sim outro não, se depois de dois anos
você aprovar eu faço um contrato com você”, e claro que eu aceitei. Depois de alguns
meses eu fui a Dr. Otto e perguntei: “Dr. Otto, o senhor está gostando do meu serviço,
tá servindo?”. Ele disse: “estou”. Então, eu disse: “Eu não estou satisfeito não porque eu
tenho coisa para pagar todo mês e eu só recebo um mês sim outro não”. Ele me levou a
Dr. Onofre, Otto Guerra que era uma figura notabilíssima: “Professor Onofre, deve ter
alguma coisa errada porque ele trabalha um mês sim outro sim, e ele ganha um mês sim
outro não”. Resultado, a partir daí eu fui contratado como auxiliar de ensino, depois
professor e participei de prática jurídica com Edgar Schmidt.
Almir Bueno: Em que época foi?
Diógenes da Cunha Lima: Em 64, logo em seguida.
Carlos Gomes: Ele assinou a primeira intervenção da minha vida como estudante
estagiário, talvez ele não se lembre disso, foi numa ação incrivelmente difícil, porque
não existia no Brasil, só em são Paulo, era uma anulação de casamento por coito fobia.
Eu tenho isso guardado, muito bem... E o reitorado? Como é que foi? O convite?
Diógenes da Cunha Lima: O convite foi o seguinte, eu tinha mania de... Eu me
aproximei de Dr. Onofre, ele me valorizava muito e me estimulou a concorrer, ele não
estava feliz com o reitorado Genaro Fonseca, que tinha sido uma cria dele, mas ele não
estava feliz e me estimulou a concorrer, eu e um outro cidadão Paulo Bittencour. E tive
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qualquer coisa... como era o colegiado que decidia, o reitor mandava. Eu tive qualquer
coisa entre uns cinco votos e Paulo também uns seis e nada feito, no outro ano concorri
novamente, mas dessa vez como apoio do meu departamento, meu departamento
pleiteava uma vaga entre os seis nomes, a partir daí o apoio do centro, mas na época a
escolha era do governador do Estado, entrei na lista sêxtupla no quinto lugar, e na época
quem escolhia era o governador do Estado, o apoio do partido ou o apoio do reitor. Eu
não tinha dos três. Mas tinha o apoio do primeiro fundador da faculdade, Dr. Onofre,
tinha de Câmara Cascudo, que era meu padrinho e meu amigo, e tinha o apoio de
Dinarte Djalma Marinho, que eram mais ou menos ligados, Dinarte mais que Djalma
mas com prestígio nacional e começou a disputa. Havia um grande candidato que era o
vice-reitor, do outro lado, o candidato oficial, digamos assim, do governador, que era
Lavoisier Maia, que o presidente do partido era Tarcísio Maia, o reitor Domingos e o
ex-reitor Genaro apoiavam fortemente Clóvis Gonçalves, vice-reitor, engenheiro,
grande figura humana. Houve um fato definitivo, Dinarte conta essa história com muita
graça porque Dinarte sugeriu e eu fiz bonitinho, ele sugeriu uma carta de Câmara
Cascudo ao presidente da república e tirei uma cópia. Naquela época era aquelas
máquinas de escrever, era aquele carbono, e disse: “pegue uma cópia do carbono”.
Cascudo fez uma carta dizendo que eu era o máximo, elogios demais exagerado, pouco
verdadeiro porque eu não merecia tanto elogio e exigindo mesmo a minha escolha, a
partir daí eu levei a cópia da carta de Cascudo a Gilberto Freire que fez outra, levei a
Raquel de Queiroz que também topou, levei a um homem influente no país, que era
Odílio Costa e Filho, que era escritor e meu amigo e se dava bem comigo, era jornalista,
era diretor do Jornal do Brasil e era amigo íntimo de Eduardo Portella. Houve ainda,
por último, um bilhete de Jorge Amado e um telegrama de José Américo de Almeida.
Então com base em tudo isso ficou difícil para a escolha do outro candidato que se
movimentava pouco. Clóvis estava na dele, se viesse bem se não viesse, ele não fez
grande movimento, o que aconteceu. Um dia, isso foi Jarbas Passarinho que me contou,
ele procura Dinarte e diz: “Dinarte, você está causando um grande problema partidário,
para a revolução, você arranjou os monstros sagrados da literatura para apoiar o seu
candidato e com isso fica difícil. O presidente só nomeia, o sistema só nomeia quem o
governador indicar, então você escolha outro nome para não agredir ao governador e ao
presidente do partido que amanhã vai ser nomeado”. E Dinarte disse: “Diga ao
presidente que você trouxe o recado, que se eu tiver dois candidatos para um único
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cargo eu estou traindo um”. E no outro dia eu fui nomeado. Isso foi a base inicial
[inaudível].
Almir Bueno: Só para registro histórico, a Universidade já havia sido federalizada, mas
a indicação do reitor era... Praticamente uma atribuição do governador do Estado.
Diógenes da Cunha Lima: Era as duas coisas, era do reitor porque o colegiado só fazia
o que o reitor mandava, tanto que da primeira vez que eu fui candidato com o Paulo
Bittencour foi um desastre, da segunda vez que eu tentei, mas dúvidas diziam que
Domingos não fazia questão que eu entrasse e ouro dizia que ele era totalmente
contrário. Me dava muito bem com ele de maneira que ficou claro mais ou menos a
coisa. Então foi escolhida a lista sêxtupla, mais ou menos imposta pelo reitor, ele
escolhia tudo. E depois o governador do Estado e o presidente do partido do governo
com o reitor escolhiam, foi muita quebra, foi rigorosamente contrário ao sistema, ao
sistema anterior, por conta dos intelectuais. O telegrama de José Américo de Almeida
para mim não teve igual alegria porque dizia assim: “Diógenes é uma reivindicação de
todo o Nordeste”. Quem fez o telegrama para ele, e ele corrigiu, pois era enorme e
deixou apenas isso foi Juarez da Gama Batista, escritor, jornalista e grande figura
humana.
Carlos Gomes: Muito bem, então o senhor toma posse como reitor...
Diógenes da Cunha Lima: Tomo posse e tomo o primeiro choque, lá vem agora, de
interesse da Comissão. Quando houve a primeira contratação de pessoal, eu verifiquei
que havia um formulário, que dizia que depois de contratado pelo reitor estava assinado,
entraria em vigor após a ASI aprovação, isso era um formulário existente aqui. Eu
chamei a chefe do departamento de pessoal e disse: “pode rasgar que eu não vou assinar
nenhum desses, se eu assinar, sou professor de Direito, estou reconhecendo que a
autoridade superior da Universidade não é o reitor, a autoridade é o chefe da ASI o
senhor Adriel”. Eu levei ao ministro o assunto, Eduardo Portella, que se tornou meu
amigo como os outros, notadamente, o general [inaudível], que me apoiou na decisão. A
partir daí houve uma mudança, porque em várias universidades do país eu contei a
história e rasgaram também. Creio que a Universidade foi pioneira em cortar esses
contratos absurdos.
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Carlos Gomes: Nós temos na nossa documentação uma série de recortes de jornais e
alguns documentos exatamente as perguntas versam sobre isso. Primeiramente a ASI,
no tempo de sua gestão, funcionava onde?
Diógenes da Cunha Lima: Bom, o contato era com esse cidadão, chamado Adriel
Lopes Cardoso, funcionava dentro do prédio da reitoria, não tenho certeza, Adriel era a
pessoa que tinha contato em nome da ASI sempre.
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Como era esse contato?
Diógenes da Cunha Lima: Ele pedia autorização para falar comigo, e trazia problemas,
sobre vários, alguns que davam choques, vocês lembraram aqui o nome de Ademar de
Medeiros Neto, eu fui colocar Ademar, foi um desastre. Houve outro, Danilo Lopes
Bessa, Danilo foi proibido de sair e de entrar, ele estudou, foi nosso colega, e ele foi
proibido de reingressar e fugiu daqui, proibido de reingressar em qualquer universidade
federal do país. E foi, falou comigo, e eu disse: “vou mandar escrever você”. Chamei
Ana Guerra e fiz o ofício, ela disse: “mas não tinha que passar pelo colegiado?”, fiz o
ofício, disse: “eu aprovo, estou autorizando” e no final eu dei o diploma a ele, estava
encabulado, eu dizia que ele era bacharel de longo curso, ele passou vinte e dois anos
para se formar e recebeu o diploma no meu Gabinete, com altas autoridades, inclusive
Rupiano Cavalcante.
Carlos Gomes: Ele começou antes de mim e terminou sendo meu aluno, grande figura
Danilo. Bom, aqui tem a seguinte pergunta, conforme o Diário de Natal de 8.6.1979.
Por ocasião da posse do novo diretório acadêmico do Centro de Tecnologia, o
presidente Abdon Ferreira de Souza afirmou que a UFRN é a única universidade
brasileira a manter em sua estrutura a ASI, adotando sempre medidas policialescas.
Considerando que, segundo a mesma reportagem, as intenções do reitor eram de exercer
uma gestão de diálogo aberto, franco e leal, por que a ASI não foi efetivamente extinta?
Diógenes da Cunha Lima: Havia organismos nacionais, em outras universidades eu
tive conhecimento, mas eu sei que tinha, porque até o contrato eles aprovavam, pelo
menos durante muito tempo aprovavam o contrato de professor, e até mesmo
concursado passado em primeiro lugar, como era o caso do professor Machado,
recusado pela Universidade. Fui eu quem coloquei na marra, eu disse: “vocês deveriam
ter impedido dele concorrer, no momento em que ele competiu e tirou o primeiro
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lugar...”. Mas havia como isso, então havia momentos de traumas de discussões, por
exemplo, uma das vezes estava presente interessantes, lideranças estudantis, alunos
protestando contra o sistema do restaurante universitário na reitoria, ocupou o auditório
e estavam na linguagem. Me levaram lá em cima a mensagem que eles estavam
esculhambando a administração, os erros da administração, a imprensa, o reitor e por
aí... E eu desci, fiz um discurso, claro, coerente, pedi a palavra, começo de vaia e alguns
aplausos, perguntei se me davam a palavra e me deram, e disse: “essa é a Universidade
que eu quero, protestando, falando absurdo, dizendo que está errado pra ver se
conserta”. Os ouvintes ficaram espantados, entre eles quem estava presente e pode
testemunhar é Mineiro, o deputado, e o vereador Hugo Manso. Então houve coisas
assim, claro que eu não pretendia nem ficava, ao contrário, nunca me utilizei da ASI
para qualquer serviço, serviço entre aspas, ao contrário, sofria consequências por sua
presença, mas tinha como eu tinha [inaudível], como eu tinha amizade pessoal com dois
dos ministros, o Eduardo Portella não trazia muito incomodo, mas ainda eu designei
militares e ex-militares para algumas funções na Universidade, e isso me dava
tranquilidade para [inaudível], eu tinha quatro coronéis: coronel Mosca, coronel Leal, o
major que eu coloquei, a memória está ficando ruim, Cleanto Siqueira e ainda João
inválido. Então, esse pessoal tratava bem a Universidade, alguns já estavam na
Universidade, alguns foram mantidos e foi ampliado função. Eu tinha graves problemas
quando assumi notadamente no serviço de compra da Universidade e que foi organizado
pelo major João inválido, linha dura chegou lá para organizar, evitar roubos, safadezas,
molecagens toda a ordem foi feita e ele deu conta do recado.
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Quais eram as funções desses quatro
militares?
Diógenes da Cunha Lima: Mosca tomava conta mais ou menos da prefeitura da
Universidade, Jair era serviço de compra, não me lembro bem o nome [inaudível] era
assessor jurídico Leal, Coronel Leal, e Cleanto restaurante universitário.
Almir Bueno: Professor Diógenes, o senhor afirmou anteriormente que suas relações
com a ASI eram através de Adriel e também o senhor não sabia exatamente, não se
recorda onde ficava a ASI na Universidade.
Diógenes da Cunha Lima: Não por que nunca fui, quando ele queria pedia audiência a
mim, ele ia lá.
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Almir Bueno: O senhor nunca se preocupou com uma instituição dentro da
Universidade...
Diógenes da Cunha Lima: Não, não tinha nenhuma importância até porque eu tinha o
prestígio do ministro e nunca me preocupou. Uma vez houve um momento grave e
chato em que um serviço de informação, acho que a partir da ASI, vai ver outro
nacional, me perguntaram como foi que se gastou tantos litros de gasolina no carro do
reitor, eu respondi gozativo, explicando: “claro, o problema disso era que entre a
Universidade e o hospital das clínicas dava seis quilômetros, entre a Universidade e a
Faculdade de Odontologia dava três, que entre a Universidade e o campus de Caicó
dava duzentos e tanto... aí espero ter satisfeito a curiosidade”, e isso foi péssimo lá em
cima, porque eu estaria gozando, respondi que era uma curiosidade, uma pergunta
insólita, tola como esta.
Carlos Gomes: Agora a participação desses militares convidados de certa forma eles
escampiavam as informações da ASI.
Diógenes da Cunha Lima: Eu pendo que sim, penso que isso evitava que a ASI tivesse
influência maior, não acredito que a ASI tivesse influência maior aqui dentro, até
porque foram cortadas as asas no primeiro momento.
Carlos Gomes: Conforme o Estudante Eri Varela, o ex-presidente Geisel, dois dias
antes de sair do poder, extinguiu a ASI. Em outra reportagem, o ex-reitor Otto de Brito
Guerra respalda a informação, afirmando que os órgãos de segurança e informação
deveriam ser restritos dos ministérios por determinação do presidente Geisel, “agora
eles são órgãos supérfluos”. Por que o senhor anuncia em 1º.8.1979, no Diário de Natal,
que iria mantê-la?
Diógenes da Cunha Lima: Acredito, eu não me lembro mais disso, mas acredito que
foi combinado com o ministério. Acredito que havia essa coisa e o Serviço Nacional de
Informação tinha respaldo, houve momento chato em que pegaram uns arquivos meus e
o SNI considerou esses arquivos meus do tempo de estudante como esquerda, que eu
nunca fui, esquerda violenta, que eu nunca fui. Apenas eu protestava contra a seca,
miséria, e então talvez isso foi lembrado, não tinha porque lembrar uma história dessa
enquanto reitor da Universidade [inaudível]. Mas não me lembro.
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Carlos Gomes: Há outra indicação também em jornal, a Tribuna do Norte veiculou que
a função do assessor de informações havia sido extinta em 8.5.1979, por comunicação
interna do ministro da educação, Eduardo Portella. Como não se deveria demitir os
servidores que exerciam essas funções, pois muitos deles já trabalhavam há mais de dez
anos, eles passariam a ocupar outros cargos mantendo-se na comunidade universitária.
Considerando a insatisfação de alunos, professores e servidores com a presença da ASI
na Universidade e com a função do então professor Adriel Lopes Cardoso, por que
Adriel foi mantido na Universidade?
Diógenes da Cunha Lima: Adriel não significava negatividade, no sentido de que
nenhum ato meu era alterado em função de uma força superior de Adriel ou qualquer
desses organismos até por que na hora em que eu não me sentisse confortável com a
função de reitor eu dizia tchau, adeus e acabou-se... Exercia minha função na inteireza
que o cargo dava, funções que foram atribuídas pelo presidente da república do começo
até o fim. Não fazia nem mal nem bem a mim, claro que havia efervescência, por
exemplo, um episódio curiosamente mostra o outro lado. Fui procurado por um cidadão
recentemente e lembrou isso em Natal, Aldo Rebelo, ele foi presidente da UNE, na
época era proibido qualquer universidade ter reunião de estudante, UNE era coisa
considerada de comunista, de esquerda violenta e o ministério não dava... Na época eu
presidia o conselho de reitores das universidades brasileiras e Aldo me procurou
perguntando se poderia conversar. Claro, não só eu recebi, mas recebi com os reitores e
levei o pleito ao ministro que fosse reconhecida, como existem entidades de
funcionários... Por sinal era dirigida por um funcionário daqui, Francisco de Assis
Cavalcante. Havia órgãos de reitores, órgãos de professores universitários aqui, a ANES
nacional e a ADURN, por que não representação de estudantes? Terminou sendo aceito.
Aldo relembrou o episódio, de maneira que eu fico bem à vontade para registrar isso
aqui, porque é rigorosamente verdadeiro. Se é a busca da verdade sobre esses fatos...
Carlos Gomes: Há uma pergunta, você veja por que tanta pergunta sobre a ASI, porque
nós precisamos descobrir a documentação da ASI e não conseguimos, porque a ASI que
daria tudo que a gente pretendia. Muito bem, a outra pergunta, em matéria da Tribuna
do Norte, de 5.10.1979, instituída “A ASI misteriosa, embora desativada”, veicula que
Adriel só recebia em sua sala pessoas que eram convocadas restringindo o acesso de
outras ao local. Como a ASI ainda se mantinha sigilosa se no inicio da gestão do
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depoente o senhor já afirmava que ela não teria função policialesca e vigilância a
políticas estudantis...
Diógenes da Cunha Lima: Eu não sei exatamente quem ele recebia. Não tinha função
policialesca mesmo, porque eu não admitia isso aqui. Nunca admiti e não tinha
nenhuma função nesse sentido. Tivemos alguns momentos de choque, choque não, de
posições contrárias [inaudível]. Com Leão, ele chegou irritadíssimo porque ele tinha
dado um parecer contrário para um estudante e eu neguei e eu não aceitei em favor do
estudante. Ele chegou bravo no meu gabinete e disse: “reitor, o senhor mudou o meu
parecer”. Eu disse: “mais respeito, eu não sou homem de mudar o parecer de ninguém, o
parecer é um opinião, o senhor tem uma opinião eu tenho outra”... [inaudível]. Ele saiu,
pediu demissão, mas eu fui agradá-lo, pois ele era um excelente jurista, um estudioso,
eu fui agradá-lo para [inaudível] deixar esse episódio. Coisas dessa natureza, mas isso
não significava nada maior.
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Professor Diógenes, nós estamos aqui
fazendo perguntas e recebendo respostas, mas na realidade nós não vamos sair disso se
continuarmos fazendo as mesmas perguntas e recebendo as mesmas respostas. Eu fui
professor na época, evidentemente na época que o senhor foi reitor e concordo
totalmente com a sua informação, a ASI não era utilizada pelo gabinete do reitor, pela
pessoa do reitor, para subsidiar decisões ou para receber determinações. Mas é um fato
que é muito claro para quem viveu aquele período, talvez não chegasse ao reitor, mas na
base. professores e principalmente estudantes [inaudível], deixar de tomar decisão por
medo de traição. A existência da ASI, após quatro anos de ter sido extinta, passou a ser
um órgão do ministério e não das universidades. Há de convir que a presença da ASI
aqui é de uma figura como era o titular na época, o Adriel Lopes Cardoso, no período
mais negro da ditadura com espionagem, serviço secreto, ela causava um
constrangimento, constrangimento tal que gerou uma série de reportagens publicadas
pelo Diário de Natal, pela Tribuna do Norte, aqui tem pelo menos cinco matérias três
do Diário e quatro da Tribuna... Causava dentro da comunidade universitária um
ambiente que a gente poderia dizer que, se não fosse de terror, pelo menos de
intimidação clara. Era um fator de intimidação para o exercício democrático das
reivindicações estudantis ou de professores, isso visto vinte trinta anos atrás realmente
surpreende... Aqui dentro desta Comissão da Verdade, o tratamento dessa persistência
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da ASI, depois de tanto tempo de extinta chama atenção porque na realidade o reitor
Genibaldo Barros declarou aqui que extinguiu, tirou daqui.
Carlos Gomes: Ele tirou daqui, quem extinguiu foi Daladier, ele tirou daqui e devolveu
para onde era...
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: E que era para ter sido feito Data Venia
que quatro anos ele devolveu para o Ministério da Educação, que era onde esse ato do
presidente Geisel, quando Diógenes assumiu a reitoria, era determinando que ela fosse
para a repartição do Ministério da Educação, na época eu não sei qual era o nome... mas
era a delegacia regional do ministério da educação, na realidade hoje... retroagindo ao
tempo, vendo o que.. a ótica de um reitor que estava no gabinete com a total segurança
de suas ações e que não se submetia a ASI, mas a ASI incomodava e era um exercício
antidemocrático.
Diógenes da Cunha Lima: Não acredito, eu não sou um democrata no sentido absoluto
da palavra, eu sou um homem que procura exercer suas funções da melhor maneira
possível, se possível da maneira mais democrática, nem sempre... [inaudível]. E quero
apenas lembrar um fato menor... mas me lembrei agora de outro, a ASI não informava
apenas... não era função somente disso aí, ela informava coisas, ela me trouxe a
insatisfação do estudante pela má qualidade do alimento do restaurante universitário,
pelo mau serviço, a insatisfação do estudante e até sujeira lá dentro. Foi por isso que eu
chamei Cleanto e endireitou. Foi por isso não, foi primeiro a informação que eu procurei
ter... e depois endireitou isso ai... Então havia também informações positivas, não estou
querendo a posição dele que eu acho péssima... Estou aqui ouvindo esta história, talvez
eu até devesse ter demitido no primeiro momento que eu recebi aqueles contratos
absurdos que havia aqui, que muitos foram assinados anteriores, então até tivesse isso...
Agora sempre havia milhões de coisas, me lembrei agora um amigo nosso que veio para
cá, uma grande figura humana, Hélio Vasconcellos, que eu chamei para ser professor,
voltou para Natal e teve posições contrárias... Uma figura do porte de Hélio
Vasconcellos, que engrandece a Universidade [inaudível].
Carlos Gomes: Agora me diga uma coisa, as pessoas que trabalhavam na ASI eram da
Universidade?
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Diógenes da Cunha Lima: Não tomei conhecimento de quem trabalhava lá, nunca tive
contato com nenhum... A Universidade é um grande grupo de alunos e professores...
Não tive nenhum contato, a não ser com Adriel.
Carlos Gomes: Era outra pergunta exatamente isso... Eles não informavam quantos
eram... Ninguém sabe se eles eram da Universidade... Há uma outra pergunta aqui... em
matéria da Tribuna do Norte, de 28 de novembro de 1979, reitor afirmava saída da ASI
da área do campus, por que só Genibaldo fez isso?
Diógenes da Cunha Lima: [inaudível] Era administração de Genibaldo, entendeu,
retirar do campus, enfim cada um... Você informou que foi Daladier...
Carlos Gomes: O ato oficial foi Daladier... quem extinguiu a ASI, mas quem tirou
daqui foi Genibaldo, eu tenho o documento, mas não me recordo não... A gente guardou
para mostrar a Daladier quando ele vier... [inaudível] Há uma outra pergunta aqui,
professor Diógenes da Cunha, em matéria da Tribuna do Norte, de 4.12.1979, divulgou
a ampliação da ASI/UFRN, que passava a atuar em todo o sistema educacional do Rio
Grande do Norte, como na Escola Técnica Federal, na Secretaria Municipal de
Educação, Delegacia do MEC, Fundação José Augusto... Questiona-se o porquê dessa
ampliação, já que o reitor afirmava que ela só teria função informativa e não
policialesca, se lembra desse fato...
Diógenes da Cunha Lima: Não foi eu quem fez esse ato.. Até porque não extinguiria
[inaudível] a não ser quando havia uma informação relevante para a administração.
Nada mais que isso... funcionário que tem a função de informar, se a informação era
útil... Vamos endireitar isso aqui... Não queria nada errado, havia muitas acusações da
administração anterior e eu não queria seguir essas coisas, nada daquilo que tivesse,
nem condenar atos nem continuar errado, qualquer coisa que está errado se conserta... se
a gente tivesse alguma informação para consertar se não me interessava.
Carlos Gomes: Há outra pergunta aqui que é a mais forte no meu entender... A Tribuna
do Norte, de 26.6.1985, em entrevista dada por Adriel Lopes Cardoso deixa a entender
que Diógenes da Cunha Lima enquanto reitor foi o que mais acionou os serviços da
ASI...
Diógenes da Cunha Lima: Isso é mentira, jamais em qualquer momento eu acionei
para fazer isso... Jamais, até porque eu não ia me baixar a pedir informações ou a
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acionar a ASI para qualquer tipo de coisa, não condizia com a minha personalidade,
com o meu jeito de ser... A ASI me trazia informações, mas não era acionada para fazer
isso... Ele deve ter tido alguma mágoa... Reclamou dessa mágoa... transformou a mágoa
em acusação pesada quando eu já não estava na reitoria, jamais ele diria uma coisa
dessas enquanto eu estava na reitoria, porque se tivesse dito qualquer coisa parecida,
claro que ele se possível seria demitido ou afastado, se podia demiti-lo não teria
nenhuma dúvida que eu teria demitido, mas não sei nem se eu podia demiti-lo como
funcionário... [inaudível] Não somente essa coisa de reclamar [inaudível] [inaudível]
passou em primeiro lugar não podia entrar na Universidade, estava proibido, foi, mas
havia muitos casos como esse...
Carlos Gomes: Juliano foi do seu tempo como reitor...
Diógenes da Cunha Lima: Não... Juliano foi depois...
Carlos Gomes: Foi Danilo...
Diógenes da Cunha Lima: Danilo Bersa, Ademar de Medeiros Neto, vários... com
problemas...
Carlos Gomes: E qual era seu relacionamento com Adriel, onde vocês se encontravam?
Diógenes da Cunha Lima: Era assim: “como vai? Tudo bom? Alguma novidade? Tudo
ok?”. Sem maior problema...
Almir Bueno: Professor Diógenes foi reitor a partir de 1979, viveu o que se chamou de
período já da pós-anistia [inaudível].
Diógenes da Cunha Lima: [Inaudível] Foi a primeira vez no país a pedido de Djalma
Marinho que se fez um seminário com profissionais de todas as áreas, esquerda e
direita, para debate e foi feito... Com uma participação grande de figuras, inclusive um
grande líder de esquerda do Rio Grande do Sul que esteve aqui... Qual era o nome dele,
meu Deus... Foi um momento de tensão pela grande participação aqui.
Almir Bueno: Mas a pergunta é apesar de ser um período, já é um período da abertura
lenta e gradual, da anistia, mas é um período ainda repleto de tensões... eu era estudante
na época, eram os congressos da UNE, as manifestações do ABC paulista... O atual
ministro dos esportes, o senhor mencionou Aldo Rebelo, primeiro presidente da UNE, a
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questão do restaurante... A minha questão é: houve esse período pós-abertura?
Chegaram, além desses casos de tensão, chegaram ao seu conhecimento casos de
perseguição a professores, estudantes e funcionários por questões políticas se chegou a
tomar alguma atitude?
Diógenes da Cunha Lima: Não chegou reclamações dessa ordem até porque eu não
tomaria conhecimento dessa coisa, não daria muita importância, mas chegam muitas
reclamações claro, de abandono, de maus professores, de funcionários da Universidade
que não davam bola [inaudível].
Almir Bueno: Me desculpa, mas eu não entendi... O senhor não daria importância?
[inaudível].
Diógenes da Cunha Lima: Importância... Era uma questão ideológica do pensamento,
até porque eu publiquei e tenho visto algumas coisas publicadas... Que a Universidade
recebe e é o conjunto de todas as vozes e é o resultado de todas as vozes... Mas díspares,
mas diferentes... esse era o meu discurso. Eu recebia todas as vozes, então havia
reclamação porque eu sempre pensei diferente... E tanto é fato isso aí que depois que eu
voltei para a banca d advocacia o time que mais brigava comigo na luta, eram meus
clientes, eu fui advogado na luta de ex-perseguido e mortos até da família de Luis
Maranhão, da família de Iram Pereira, do coronel [inaudível] Pereira, ou seja, por essa
indicação... [inaudível]. Se é uma coisa que eu não admito é a discriminação por pensar
diferente, isso seria contra a minha personalidade...
Carlos Gomes: Professor, me responda uma coisa, ainda que veladamente, o senhor
recebia pressão dos militares daquele tempo?
Diógenes da Cunha Lima: Não, repare que quando Romildo Gurgel pretendeu a volta
para Universidade, Romildo foi cassado, professor de Direito, foi cassado por cassação
branca, houve uma guerra contra ele, mas não era esquerda ou direita, na época havia
conversas de acusações de Romildo, houve um movimento grande, mas eu tinha sido
advogado de Romildo. E até morrer foi professor...
Carlos Gomes: Eu tenho duas perguntas que decorreram de uma acusação, um
funcionário chamado Alberto Lima fez uma documentação, trouxe aqui, onde, em
resumo, houve um período na Universidade que permitiu uma melhoria dos servidores
que haviam atingido o nível universitário, esse cidadão, Alberto, também com outros
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pleiteou essa melhoria [inaudível]. Era uma questão remuneratória que ele já era
enquadrado, já era um funcionário, ele alega o seguinte: que ele requereu com um outro
colega e findaram perdendo o processo e esse colega dele que veio também aqui e
confirmou teve que fazer um isolado... ele também reclamou ao Ministério da Educação
e o ministério mandou auditores aqui e constataram realmente isso, que ele tinha
requerido mas não encontraram o processo. Nós encontramos inclusive documentação
pertinente ao registro desse processo, então alegaram que era uma questão de prazo
contra dois ou três dias que ele não preenchia um requisito, mas ele formou-se com uma
pessoa, Marcio, se não estou enganado o nome dele, que foi da mesma turma dele e que
foi enquadrado. Mas a acusação é o seguinte, é que ele foi até o pró-reitor, foi ao chefe
de serviço social reclamando do pleito e pediu para ir até o reitor, e o que o reitor teria
usado uma expressão, eu não estou encontrando aqui... vocês têm aí mais fácil não?
Espera aí. O reitor teria dito, teria aconselhado “aqui você não tem espaço, aqui você
não tem futuro”. Esse rapaz se chama Alberto Lima e ele entrou em depressão e pediu
rescisão de contrato e saiu. Então a pergunta que eu faço diante dessa acusação... Porque
nós estamos apurando o caso por documentos para que seja feita uma revisão, o fato é
que esse rapaz, na mesma situação do outro, ele realmente foi preterido. O problema, se
foi dito isso, isso aí é secundário, mas qual era o instrumento legal que foi utilizado
naquela época me parece que o ministério pediu que houvesse uma correção no
enquadramento dos servidores, dando destinação, lotação etc. Se lembra se a reitoria
baixou, os documentos mostram isso, que teria sido baixado um documento um edital,
uma instrução... Se lembra dessa instrução?
Diógenes da Cunha Lima: Não me lembro, agora é claro que essa história ele
imaginou, não faz parte da minha personalidade dizer a um funcionário que tem a
mesma posição de outro que ele não tinha futuro jamais... Não conheço, não me lembro
de ter visto esse rapaz, não me lembro de ter ouvido o seu nome, não me recordo... Mas
é claro que se tinha uma situação de paridade [inaudível]... quando era contrário eu
examinava com maior cautela... Se fosse favorável, eu atendia... jamais eu faria uma
perseguição idiota como essa que foi feita a esse rapaz... penso que ele mal entendeu ou
não houve paridade com pareceres contrários que eu não encontrei forma de suprir. Eu
sempre procurava quando era contrário o parecer... Qualquer pleito eu ia examinar. Com
maior cautela até às vezes mandava Leão reexaminar... [inaudível] Jamais diria “não
tem futuro”. Acho que deve ser procurado, examinado e feito justiça a ele... o absurdo
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existe, agora, jamais... Não é do meu jeito de ser dizer a uma pessoa “você não tem
futuro”.
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Eu vou fazer uma pergunta, em primeiro
lugar ele que acompanhou o depoimento e é jurista, há alguma possibilidade legal de
confirmada, que havia uma paridade de situações e que o Alberto foi prejudicado, haver
uma reparação...
Carlos Gomes: Eu acredito que sim, porque a documentação que a gente coletou
mostra que esse colega de turma dele foi enquadrado, o processo dele foi extraviado,
mas ele existiu, a gente descobriu que ele existiu, e que o Ministério da Educação
chegou a fazer uma verificação, apenas ele entrou em depressão e pediu para deixar a
Universidade e somente agora ele voltou com esse problema. Então, há, nesse sentido,
de que existem pessoas na mesma situação dele e que conseguiram, a resposta foi que
ninguém encontrou o processo.
Almir Bueno: Ele chegou a alegar que apesar de ele não ter militância ele tinha umas
opiniões... [inaudível].
Diógenes da Cunha Lima: Se a ASI tivesse declarado o contrário seria mais uma razão
para mandar reexaminar pra saber se o rapaz tinha direito. Porque eu não iria aceitar um
depoimento que é de fiscalização de ordem na Universidade, de pessoa na Universidade,
jamais faria isso. Eu não iria dizer “você não tem futuro aqui” e mandar o cara embora
se eu sei que tinha direito, sobretudo por opinião contrária, disso ou daquilo outro... Ele
estava na dele, a Universidade vinha a ser receptiva a todas as vozes [inaudível].
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: É exatamente por conhecê-lo que levo
em consideração um pouco a personalidade do funcionário, ele pode ter entendido mal,
né, ele teve um problema clínico, pediu a demissão abruptamente. Então levando isso
em consideração, porque é um dos dois ou três casos que estamos analisando aqui, a
possibilidade da reparação que seria a grande contribuição dessa Comissão que não é
caça às bruxas, é fazer justiça a alguém companheiro nosso que [inaudível]. A minha
pergunta é essa: se houver a possibilidade de se levantar, já que você foi o autorizador
dos outros atos anexos muito parecidos, se você... Eu sabia que a resposta seria essa
mesma.
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Diógenes da Cunha Lima: Na minha época, o que Carlos está dizendo, o outro tinha
razão, se tinha razão jurídica pra ser o outro também tem... Então essa similitude pode...
Levar reconhecimento desde o inicio do processo...
Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: Desde o inicio do processo eu supus que
o servidor foi vítima da personalidade dele, talvez, ele entendeu mal o processo e tal...
ter um pouco mais de paciência [inaudível]
Carlos Gomes: Ele mesmo não sabia de nada, não tinha cópia de coisa nenhuma, não
guardou nem do requerimento, mas esses meninos são uns danados, esses bolsistas
descobrem tudo. Cada dossiê de coisas e aí a gente juntando as peças... tem um caso
igualzinho ao dele... Nós é que descobrimos...
Diógenes da Cunha Lima: Tem uma coisa que eu gostaria de dizer, e esta comissão
poderia lutar por isso, muitos documentos da Universidade são queimados e não
poderiam ser... Há uma lei que o serviço público depois de cinco anos queima, agora
não poderia queimar... Eu conto isso porque houve um processo de um professor que
pediu uma melhoria e pediu, como ele é poeta, e pra mim ele requereu todo em verso e
eu mandei estudar o assunto em verso também, o diretor do centro que também é uma
figura poética que também enviou em verso, enfim, quando chegou na CPP, que é a
comissão, essa não teve verso nenhum, mas terminou com um verso que eu fiz para a
diretora mandando pagar a ele por verso, bom, depois ele requereu o processo dele e
aposentou-se. Queria o processo dele para publicar essa história que é engraçada, já
tinham queimado o processo. E disseram que queimavam a cada cinco anos. Uma
repartição que não guarda a memória, eu penso que a Comissão da Verdade, me permita
dar essa sugestão e contribuição, de exigir que não mais se queimasse [inaudível] que
pelo menos se digitalize esse documento para o futuro.
Carlos Gomes: Esse fato é real, inclusive, quando eu ocupei provisoriamente o Centro
de Direito, recebi de Brasília uma solicitação de um histórico escolar, mandei investigar
e tive a notícia que havia sido queimado, eu fiquei horrorizado, histórico escolar
[inaudível] Professor, tem aqui uma última pergunta minha depois eu libero... É sobre
Rinaldo Barros, Rinaldo deu aqui seu depoimento e nós descobrimos que o senhor é o
advogado dele. No depoimento dele eu perguntei: Rinaldo por que você, quando voltou
de São Paulo, você não requereu para ser contratado? Ele disse: “é, infelizmente não
requeri”. Bom, nós não podemos ampliar a pergunta porque ele respondeu que não, mas
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depois se descobriu que ele requereu, nós temos documentos que ele requereu mais de
uma vez, cobrando aquele acerto que tinha sido feito de quando ele regressasse com o
mestrado [inaudível] No pleito judicial que está a seu cargo, há algum pleito dele de
voltar à Universidade?
Diógenes da Cunha Lima: Infelizmente não, era somente um pleito, ele foi torturado,
sofreu horrores e apesar da defesa da união pesada e benfeita nós ganhamos e agora
decidiu o Supremo Tribunal Federal transitou julgada de maneira que ele vai ser
indenizado desse sofrimento. Pelo menos a compensação financeira. já que não pode dar
outras [inaudível].
Ângela Ferreira: Boa tarde, meu nome é Ângela e estou representando a ADURN aqui,
e tenho falado pouco e observado bastante. A gente está aqui pra fazer esse resgate da
história e fazer também um julgamento político, então muitas vezes eu percebo que em
vários depoimentos que se discorre muito sobre as questões morais de ex-reitores, de
professor Otto Guerra, professor Onofre, até sobre alguns outros gestores, que foi o dia
que eu perguntei sobre Leite Morais, que foi um excelente gestor... fez um grande
trabalho na maternidade. Mas eu entendo que o julgamento tem de ser político, na hora
em o ex-reitor Diógenes diz que não se importava com a ASI, que não incomodava, mas
no meu entendimento foi uma posição política de não querer extinguir, não quis se
contrapor de alguma forma e isso é uma posição política... Até [inaudível] quando se
sabe que a ASI era um incômodo, que assustava, que incomodava, então, assim, de certa
forma a decisão de não se importar, de deixar pra lá, foi um decisão de não querer se
contrapor ao regime de uma forma, no meu entendimento, isso é uma certa conivência,
então em alguns momentos a gente percebe uma postura liberal e eu me lembro daquele
ato público que o senhor foi lá, falou, me lembro que você falou para justificar a crise
do petróleo e todo mundo vaiou, então teve um diálogo... Então existia essa postura,
existia um diálogo... Mas tem que assumir que houve uma posição política daquele
momento de não se contrapor aos estudantes e ao movimento docente, isso tem que ser
pontuado...
Diógenes da Cunha Lima: Eu acho perfeita a sua colocação... Eu não estava nem estou
interessado ao longo da minha vida de ser bonzinho, de ser aquele que aceitava todas as
coisas, por exemplo, eu ia para as reuniões da ADURN, me considerava membro e
participei muitas vezes, cada vez que havia uma reunião da ADURN eu ia, como a
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ANIS, durante todo o tempo que eu estive como presidente do grupo de reitores eu
sempre estava presente, eu ia com o presidente da ANIS conversar com o ministro, com
o grupo da ANIS... às vezes com alguns reitores, mas sempre eu estava presente. Então
havia esse diálogo, nunca tive a pretensão se uma coisa não me incomoda, se não
prejudica maior, não abre juízo, nunca tive a pretensão de ser conivente com nenhum
ato de violência em nenhuma hipótese, zero por cento de probabilidade de conivência,
conivência com um ato contrário daquele que eu acreditava. Porque é da minha alma
agora aquilo que eu acredito, por ela eu luto. Se a coisa não me incomodava, não criava
problemas e até chegaram a dar informações positivas... Houve algumas coisas que
podiam ser úteis, então nunca tive preocupação, a minha ideia sempre foi aquela de a
Universidade ser receptiva a todas as vozes, venham de onde vier [inaudível]. Algumas
vezes a ADURN tinha posicionamentos que eu adotava.
Ângela Ferreira: Mas não lhe incomodava o fato de incomodar a gente, os estudantes...
Diógenes da Cunha Lima: Eu nunca fui bonzinho...
Ângela Ferreira: Porque semeava muito medo, todo mundo tinha muito medo da ASI.
Diógenes da Cunha Lima: Eu não achava que fizesse tanto medo assim, talvez tenha
avaliado mal. Pra mim não incomodava, e acho que a maioria não incomodava, é
possível que alguns se sentissem incomodados, mas eu acho que a maioria não
incomodava.
Almir Bueno: Uma coisa que você falou que eu tenho falado e o doutor Ivis também,
que entendo essa questão de não incomodar e que era uma posição política. Mas pra
mim é um pouco estranho que o senhor pense no seu depoimento, acho que no de
Genibaldo, de não saberem nem onde a ASI se localizava, quer dizer, o reitor da
Universidade não sabia o local que exatamente se localizava a ASI...
Diógenes da Cunha Lima: Mas era tão importante... Não tinha importância nenhuma...
Almir Bueno: Eu só queria deixar registrado.
Ângela Ferreira: Não era importante para o reitor, mas para a comunidade universitária
era...
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Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade: O serviço secreto, mais secreto do
mundo, porque nem o gestor sabia [inaudível].
Ângela Ferreira: Uma outra questão, logo após 64, quando o ex-prefeito foi exilado,
deposto, o senhor assumiu a diretoria de cultura e sucedeu a Mailde Pinto, que inclusive
sucedeu [inaudível], como o senhor se sentiu, porque é um tanto...
Diógenes da Cunha Lima: [Inaudível] Novamente foi uma indicação de Edgar
Barbosa, Edgar era um professor um homem culto, pessoa maravilhosa... E que tinha
uns alunos o time dele que ele tentava apoiar [inaudível].
Conceição Fraga: Eu sou professora do departamento de história, não sou membro
desta comissão, mas assim como a colega que está aqui presente a gente fica com
algumas inquietações e questionamentos sempre no entendimento de que esse não é o
momento de prestação de contas de julgar o certo ou errado, de quem é que vai sair mais
bonitinho na fita, mas com o compromisso selado nesta comissão, e é com esse intuito
que nós estamos aqui querendo colaborar, e que esta comissão consiga ao final trazer
documentos, depoimentos que sirvam para as análises, cada um diz o que pensa, o que
acha e aí... Quero registrar formalmente a ausência de uma das pessoas que poderia
estar colaborando muito, o professor Spinelli, porque é um professor que viveu essa
época sei que é um professor que [inaudível]. Sei da dificuldade da criação da ADURN
[inaudível], aqui passou pessoas que se colocaram na posição de vítima, outros nem se
lembravam, a comissão é que ajudou, é um ato do Estado de maneira organizada
[inaudível] talvez o senhor não quisesse se contrapor a uma estrutura da... Sei também
que o perfil do senhor é muito esse, uma pessoa muito envolvida com movimentos
culturais, de uma sensibilidade para a cultura... Eu estou dizendo tudo isso porque eu
gostaria desse momento para fazer valer esse seu lado porque o tempo passou, a gestão
passou, o senhor teve a oportunidade de ser gestor naquele momento por [várias
conversas]. Eu sugiro que a Comissão mapeie esses militares que passaram por aqui
[inaudível]. Eu fui presa em 86, como é que não existia a ASI? [inaudível] Como é que
dentro da Universidade no auditório [inaudível]. Sugerir também informalmente à
Comissão de pensar, em saber também quando o senhor tiver a oportunidade de explicar
como eram nomeados os representantes da ASI, eram atos da Universidade através de
portarias, eram pessoas que já vinham pelo ministério com documentos porque assim
fica difícil acreditar. Como é que a autoridade máxima da Universidade não sabe como
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eles foram feitos, não sabe o que eles fazem, mas para alguns momentos, para outros a
frase é diferente, eu tinha reunião periódica a pedido deles, o senhor usou essa
expressão: “quando eles queriam eles me procuravam”...
Diógenes da Cunha Lima: Eu recebia no meu gabinete como recebia qualquer
funcionário como audiência...
Conceição Fraga: Mas recebia... [inaudível] Para a gente conseguir uma audiência
tinha que fazer muita manifestação, não era pouca não, era muita... Para conseguir
audiência, para o DCE ser recebido, pra gente conseguir alguma coisa... O senhor
chegou a afirmar aqui: recebia ele em sua sala e chegou até em alguns casos, como foi o
caso da denúncia que eles fizeram sobre o restaurante universitário, sobre a qualidade
do serviço, o senhor absorveu, aí me pergunto: o que mais a gente fazia todo dia era
denunciar a comida do RU, era tudo que a gente fazia, mas o senhor não recebia.
Diógenes da Cunha Lima: Não, observe bem, tenho consciência de que sempre que
podia recebia e se tivesse tempo eu jamais deixaria de receber quem me procurasse. As
secretarias e o pessoal que quisesse, aí fizesse alguma dificuldade porque o tempo era
tomado com muito trabalho com muita coisa... Eu fui professor, eu fui o único que
dessa parte dei aula até o dia que assumi e no outro dia que deixei fui dar aula, para
minha sala de aula, fui professor. Me considero um professor que assumiu determinadas
funções e tentou cumpri-las como podia. Agora, jamais deixaria de receber em nenhuma
hipótese estudantes [inaudível]. Em uma administração nem tudo é como a pessoa
deseja, era como você dar as diretrizes, o que eu dava era as diretrizes. Eu procurei uma
equipe, a melhor que eu podia e era uma equipe de alto nível eram pessoas... Reitor,
pró-reitor [inaudível] não eram pessoas de valor [inaudível].
Conceição Fraga: [inaudível] Tinha um menino que vendia umas coisas num carrinho,
coincidência ou não ele estava sempre presente... Ele sabia de tudo... [inaudível]. Esse
menino depois virou funcionário da Universidade... Ele inclusive conta muita história
[inaudível] Queria que essa Comissão o ouvisse [inaudível].
Lucila Barbalho Nascimento: Boa tarde, professor, eu sou bolsista da Comissão e em
uma das documentações que agente conseguiu localizar, de um dos ex-reitores do IFRN,
havia um prontuário em relação a esse reitor, quando do processo dele de eleição, para o
reitorado. Pergunto se havia, durante os pleitos que o senhor disputou para reitor aqui,
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se havia algum rumor ou se houve alguma conversa de algum dos seis com Adriel, que
já era chefe da ASI, se havia algum rumor em relação a isso, se vocês precisavam se
havia alguma pesquisa em relação ao nome de vocês junto aos outros órgãos de
informação dentro das instituições, alguma coisa desse tipo.
Diógenes da Cunha Lima: Havia sim, a notícia que eu tive é que eu fui enquadrado,
fui levado como de esquerda por esses artigos bestas que eu escrevi para a revista, como
é o nome da revista da Universidade? Parece que era Cactos...
Carlos Gomes: Cactos era bem antigo [inaudível].
Diógenes da Cunha Lima: Foi uma dessas, eu escrevi um artigo besta, que não tinha
nada, só protestava contra a fome e tarará do Nordeste e a ausência de poder público,
coisa besta... Não tinha nada de significativo e depois não tinha nada de... Eu era
apontado sempre como um homem de direita, então não era a coisa e mesmo assim
levaram porque havia interesses políticos de que fosse mantido aquele sistema, de que o
governador que escolhia o candidato e o pessoal lá todo, então havia interesses...
Lucila Barbalho Nascimento: Mas não havia nenhum contato direto do senhor.
Antes...
Diógenes da Cunha Lima: Não.
Lucila Barbalho Nascimento: Outra questão, em depoimento à Comissão, o coronel
Renato Leite, que assumiu como chefe da ASI quando da transferência para a delegacia
do MEC, ele afirma que foi substituído, Adriel foi substituído... Adriel foi substituído
porque Genibaldo Barros, reitor da época, não mais queria Adriel dentro da UFRN
devido às reivindicações de estudantes e servidores, enfim... A questão é: durante o seu
reitorado houve algum pleito, já que havia tantos pleitos, como bem disse a professora
Conceição Fraga, havia algum pleito dos estudantes pela retirada ou pela substituição de
Adriel, e se havia para não só acabar a ASI, mas além de acabar a ASI, vamos supor que
houvesse alguma substituição de Adriel e se houve por que não tomar a posição que
Genibaldo tomou futuramente de ao menos retirar a ASI da UFRN?
Diógenes da Cunha Lima: Bom, como é que eu posso responder, acho que...
Carlos Gomes: Houve pleito?
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Diógenes da Cunha Lima: Houve pleito, deve ter havido, eu não tolerava, eu não
gostava [inaudível], agora, na época, eu não achei uma coisa significativa, é possível
que hoje achasse. Muitas coisas que corriam naquela época e que ninguém acreditava
quem estava na administração não acreditava no que se dizia, pra mim era um absurdo
que se dizia... Fulano foi torturado, eu não acreditava que ninguém fosse capaz,
sobretudo o Exército, a Aeronáutica ou a Marinha pudesse ter gente capaz de torturar
uma pessoa, não acreditava nisso, havia notícias... Comecei a acreditar quando veio um
primo meu que era professor da universidade, veio do Rio de janeiro, médico, e que saiu
de lá porque se recusou a dar um atestado que o sujeito estava bom enquanto o sujeito
tinha sido batido... Então comecei a acreditar, isso não era eu somente, não era qualquer
um, na época não acreditava. Quem acreditava na administração, não acreditava nisso,
achava que isso era coisa de comunista que estava inventando esse papo porque estava
na guerra. Mas ninguém acreditava. Isso era muito escondido, depois é que passou a
prova concreta que aquilo havia, havia esses fatos, houve violências múltiplas em todo o
sentido, havia guerra revolucionária e havia contraguerra revolucionária, mas não era do
conhecimento geral, então pra mim não havia grande coisa, nem boa nem má. Não
incomodava muito, na minha cabeça, devia ser uma cabeça burra na época, achava que
não incomodava, não dava crise pra mim, não altera...
Lucila Barbalho Nascimento: No caso, quando o senhor encontrava com ele, das
vezes que o senhor encontrava com ele, com Adriel, foi até uma resposta a uma
pergunta do professor Carlos, o senhor disse que quando encontrava com ele
cumprimentava e perguntava: “há alguma informação, algum problema, alguma
questão?”.
Diógenes da Cunha Lima: Quando eu me encontrava com ele, encontrava quando ele
procurava num [inaudível], quando ele procurava, pedia uma audiência, conseguia na
hora que podia e detalhe, não era na hora que ele quisesse vai ter audiência ou não.
Porque tinha duas chefes de gabinete, professora Hebe Marinho e a professora Selma
Pereira, que esteve um tempo substituindo, então ela que decidia se podia ou não
receber e as duas não tinham muita simpatia por ele, então na hora que não tinha, pelo
que eu sei, dificultava o ingresso pra ele falar comigo, quando falava simplesmente
houve o choque inicial que foi essa história do rasgar, mandar rasgar os documentos, eu
mandei rasgar todo o formulário, não foi um só não, havia uma sequência de
formulários que era assinado normal, o reitor anterior assinava normalmente e depois
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que eles aprovavam [inaudível)], segundo comprovado, havia isso, pelo menos a
informação que eu tinha... Claro que ele não ficou satisfeito com isso, ele se sentia o
próprio Deus, era acima da autoridade superior designada pelo presidente da república
para exercer a função, então era uma coisa meio... Mas havia..
Carlos Gomes: Professor, o senhor conhecia alguém que tinha simpatia por Adriel?
[risos]
Diógenes da Cunha Lima: Ele era gentil, procurava ser gentil e atencioso e até
derramado.
Carlos Gomes: Na fotografia ele parecia ser muito alto.
Diógenes da Cunha Lima: Era um homem alto...
[conversas paralelas]
Diógenes da Cunha Lima: Um detalhe importante: quando eu assumi a reitoria, a
biblioteca era a sede da reitoria... e eu queria tirar porque eu queria ampliar a biblioteca
que era pequena, a Zila Mamede... Tinha designado para dirigir... Queria uma biblioteca
central ampla, então eu apressei a vinda pra cá, estávamos devendo esse prédio, foi
inaugurado comigo aqui e viemos pra cá... Agora, realmente eu não dava a importância
que os estudantes e os professores davam a ASI, não tinha a menor importância, era um
órgão de informação como existia. Por exemplo, na minha cabeça, como havia o SNI
nacional, havia um órgão, mas que não tinha maior significação... Era um órgão
qualquer, não estava preocupado nem admitiria que ele fizesse qualquer ato negativo...
É uma grande mentira. Eu, ou até outro reitor, não acredito que nenhum reitor tenha
feito aqui. Eu conheci os reitores, menos um talvez, que fosse capaz de acionar ou pedir
uma coisa dessas. Se sentia incomodado com uma coisa dessas ou poupo se sentia... Eu
não me sentia incomodado. Uma besteira, uma coisa de fora talvez ele acionasse os
militares [inaudível], talvez foi ele que levou os militares, os militares estavam todos
incomodados com a presença de Jorge Amado na Universidade, um grande escritor
brasileiro conhecido no exterior [inaudível].
Carlos Gomes: Só uma pergunta pra eu tirar a dúvida, mas o coronel Mosca, Leão,
Cleantho. Eles também eram informantes ou tinham função...
Diógenes da Cunha Lima: Não, função específica nenhum deles...
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Juan de Assis Almeida: Diógenes, vou fazer só uma pergunta aqui. Durante o mês de
setembro de 79, o senhor prometeu diversas vezes à comunidade universitária a retirada
da ASI aqui do campus universitário, por que não se concretizou esta promessa sua?
Houve alguma pressão? O senhor foi impossibilitado de tirar?
Diógenes da Cunha Lima: Não me lembro de ter assumido o compromisso.
Juan de Assis Almeida: A Tribuna do Norte diz.
Diógenes da Cunha Lima: Um detalhe importante que é preciso ter, eu fui contrário à
posição da Tribuna do Norte, eu era ligado a Dinarte Mariz que era opositor. A Tribuna
do Norte de todas as noticias dão um desconto, porque queria bater no reitor,
comprometer a candidatura, porque era um homem considerado ligado a Dinarte Mariz,
eles tinham ódio, o Rio Grande do Norte era dividido entre Dinarte e Aluízio
[inaudível]. Eu me dava bem com todos, mas levei muita pancada da Tribuna do Norte.
Patrícia Wanessa de Morais: Só aproveitando o que você falou sobre a Tribuna do
Norte ser suspeita, é que lembrei ter visto uma reportagem que a manchete era o
seguinte: “Reitor Diógenes manda alunos para a Polícia Federal”, aí você via isso, ia ler
a reportagem, você tinha ideia que o reitor realmente mandou alunos para serem presos,
mas quando você ia ler era que a Universidade tinha firmado um convênio para os
alunos estagiarem na Polícia Federal. A manchete enorme assim, né... Dizendo isso.
Diógenes da Cunha Lima: Havia muita coisa assim, manchetes como essa, por
exemplo, eram sempre preparadas [inaudível].
Thales Gomes de Lima: Professor, algumas perguntas que nós conseguimos, vendo e
acompanhando jornais e testemunhos sobre o ano de 79, a gente viu que na vinda do
ministro Eduardo Portella houve vários manifestos, vários protestos contra a vinda dele,
dos estudantes, e existiu nesse momento reclamações sobre a retirada da ASI por parte
dos estudantes, sobre a presença desse ministro e sobre a participação de militares na
Universidade. Eu queria saber o que o senhor, na Universidade, eu queria saber o que o
senhor teria a falar sobre esse momento, porque houve uma participação estudantil
considerável, isso mostra que para a comunidade estudantil isso incomodava, a ponto de
estar se manifestando contra o próprio ministro. Então queria saber sua opinião...
Diógenes da Cunha Lima: Eu não tenho conhecimento desse movimento grande, um
renascimento, por que a ANE existia no país e estava banida, então havia um
exacerbamento, a turma estava tentando, professores, alunos, funcionários... todos
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tentado levantar a bola a favor da democracia, então era contra tudo, como era contra o
reitor, houve uma manifestação aí que os professores colocaram um esparadrapo na
boca para dizer que não podiam falar.. E claro que eu passei, fui lá, girei... Mas havia
isso aí... Então repare bem, o ministro para mim era uma figura excelente, meu amigo
pessoal, fiz amizade com ele, como fiz com outro ministro talentosíssimo que era
general chamado (inaudível), que eram grandes figuras humanas e claro que eu queria a
valorização deles [inaudível] Eu protegia o senhor ministro na medida do possível, ele
levava vaia e eu como partícipe levava também [inaudível] [conversas inaudíveis].
[pergunta inaudível, provavelmente da professora Conceição Fraga].
Diógenes da Cunha Lima: Não tive conhecimento de nenhum professor informante de
lá [inaudível]. Talvez ele tenha recrutado pessoas de lá, mas jamais houve denúncia.
[inaudível].
Thales Gomes de Lima: Professor, sobre ainda o que o professor Carlos Gomes disse...
o caso de Alberto Leite, eu só tinha uma pergunta relacionada ao que a gente, aí que ele
veio, comentou e falou que teve uma reunião com senhor, que falou... Que houve uma
manifestação não positiva da sua parte e que depois ele fez uma denúncia ao MEC, e
isso resultou em uma sindicância aqui na Universidade, mas que esse processo não
logrou êxito, não foi bem formalizado, e que houve perguntas sobre o caso dele, mas
que não houve nenhum retorno a ele... Então eu gostaria de saber o que o senhor teria a
dizer sobre esse processo de sindicância, como ocorreu...
Diógenes da Cunha Lima: Rapaz, não sei, nunca tive notícias dessa história apenas eu
afirmei aqui é que não parece com o meu jeito de ser, não é da minha maneira de ser
responder da maneira que ele atribuiu, só sei disso e nada mais. Se existe alguma
possibilidade de rever esse processo, que eu não sei se seria possível, até por prescrição,
se há uma maneira e eu puder ajudar estarei disposto da maneira que for possível,
estudando verificando dando depoimento, o que for necessário. Eu jamais faria isso com
ninguém...
Thales Gomes de Lima: Só para complementar, investigando nos arquivos da
Universidade, as fichas cadastrais dos colegas apontados pelo senhor Alberto, a gente
consegue ver que no mecanismo de concessão dessa gratificação questionada, os amigos
que ele aponta dizem que esse ofício foi como se tivesse sido aprovado ou submetido
por parte do reitor, e na ficha do senhor Alberto nós não conseguimos encontrar
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nenhuma referência nesse sentido, mas que ele possuía todas as condições, e achamos
estranho porque esses colegas dele, no momento da efetivação dos seus contratos da
Universidade, eles passaram a ser servidores efetivos, Alberto também, mas todos eles
receberam uma reorganização de seus cargos e algumas [inaudível] gratificações em
função do diploma e o senhor Alberto não, então nesses documentos, o que eu achei
interessante é porque essa nomeação de novo cargo diz que esses colegas, consta lá no
espaço de observação, como se a cargo do reitor essa nova nomeação, e no dele não há
nada sobre esse pedido. Então, é interessante saber por que o senhor não se lembrar
dele, do caso dele em específico, mas esses outros passaram, pelo menos é a
informação...
Carlos Gomes: Havia alguma instrução normativa que havia sido baixada...
Diógenes da Cunha Lima: Não me lembro disso, observe, em quatro anos de
administração da Universidade passa milhares de casos pelo reitor, naquela época,
diferente de hoje, que tudo é colegiado, o reitor seria tudo, tudo era o reitor, tudo
terminava no reitor, então a quantidade de processo era muito grande.
Thales Gomes de Lima: Eu só imaginei, porque como se liga a questão da efetivação
de funcionários, acredito que tenha mobilizado grande parte da Universidade, porque
todos os servidores foram efetivados então foi um grande fato... Isso se alia à efetivação
desse pessoal, uma reorganização de casos, então, assim, isso passava pelo reitor, não
específico, o senhor se lembra...
Diógenes da Cunha Lima: Observe, houve casos aqui eu sei que, por exemplo, o reitor
foi autorizado a contratar pessoas que estavam preenchendo vagas que não havia, houve
outros que havia instruções do MEC para enquadramento e reenquadramento de
pessoas.
Carlos Gomes: Eu acho que é isso aí.
Diógenes da Cunha Lima: Então eu teria que ver isso aí pra poder ajudar, agora sem
ver não posso dizer mais porque o arquivo da minha cabeça não dá... Mas jamais faria
uma coisa negativa contra uma pessoa que está pleiteando um aumento de
Universidade, eu lutei muito por aumento de Universidade, fui professor a vida inteira
do curso secundário e depois do curso universitário, fiz dez anos de (inaudível),
terminei a função como professor, ainda hoje no escritório não faço mais que procurar
ensinar, não poderia ser contra o aumento de alguém, se era possível fazer... Nunca e
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muito menos ser agressivo com o rapaz, não dá, não bate com meu jeito de ser
[inaudível].
Moisés Domingos: É... esses quatro coronéis que o senhor colocou para certos locais,
na época não tinha servidor qualificado, tinha que chamar militar...
Diógenes da Cunha Lima: Eu não chamei ninguém de fora, chamei [inaudível], os
outros já estavam aqui dentro, acho que em cargo comissionado, tinham cargo de
comissão e eu achei que era adequado, os que restavam eu achei que eles estavam
trabalhando bem.
Moisés Domingos: Eles trabalhavam onde?
Diógenes da Cunha Lima: Na mesma função ou função equivalente.
[conversas inaudíveis]
Diógenes da Cunha Lima: Mosca já estava aqui, Leão, ao contrário, eu tive que
agradá-lo na hora que eu dei um [inaudível] para ele não sair, pedir demissão esse aí foi
eu que convidei [inaudível] O reitor ia convidar aquele que era... [inaudível] Eu queria
que resolvesse a coisa [inaudível] [inaudível].
Thales Gomes de Lima: Acho que talvez, professor, o questionamento levantado não é
sobre a competência de tais pessoas, mas por detrás daquele nome o que estaria sendo
colocado, porque como militares eles apresentam uma capacidade organizacional muito
boa, mas também de tolher a liberdade de funcionários e daqueles que estão atrás.
Agente está conversando com o senhor, todos os bolsistas também como forma de
tentar entender melhor, porque agente encontra matérias e testemunhos favoráveis a sua
pessoa no sentido que tenha ajudado, que tenha contribuído, mas a gente encontra
também uma série de informações que o senhor tinha um diálogo difícil, não conheço o
senhor, mas talvez focar na resolução do próprio problema sem talvez perceber o que
está por trás no personagem como um militar, um coronel, alguma coisa. Ainda mais...
no período de ditadura em que os estudantes recebiam uma serie de repressões de
pensamento e atitudes, tenha levado, tenha chegado a conclusão de que [inaudível].
[inaudível]
Diógenes da Cunha Lima: [inaudível] Eu queria decidir a parada, eu queria ajeitar a
reitoria, tive vontade de renunciar e foi preciso muito esforço, minha mulher queria que
eu deixasse, eu já tinha problemas de saúde, e eu estive muito perto de deixar... Porque
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não funcionava como eu queria, como eu achava que deveria ser a Universidade, eu
passei muito tempo estudando o que deveria ser a Universidade, eu tive a oportunidade
de conhecer universidades básicas dos Estados Unidos, da Alemanha, da França, da
Argentina... Então eu tinha noção do que deveria ser uma Universidade e chegava aqui
não conseguia [inaudível] você não pode estar querendo uma coisa grande dentro da
cultura, dentro da Universidade e tendo problema do restaurante que não funciona ou de
acusação de roubo numa entidade. Não pode, eu queria resolver a parada, não interessa
saber como tinha que resolver se resolve eu coloco lá, se não resolve adeus. Era o jeito
mesmo de ser, eu estava preocupado em fazer essa Universidade crescer no plano
nacional, se aparecer no plano nacional, eu fui para o conselho de reitores por minha
causa, era preciso aparecer ela era pouco expressiva começou a ter visibilidade nacional,
grandes figuras humanas trabalhando aqui, gente dedicada [inaudível]. Alguma coisa do
tempo me mostrou que eu errei [inaudível]. Era o meu jeito de ser, era como eu via que
era viável [inaudível].
Moisés Domingos: A gente quer entender o seu pensamento na época, antes fez
campanha, que ia tirar a ASI, ia acabar com isso tudo e pelo contrário, né, expandiu
mais ainda é isso que a gente queria entender...
Diógenes da Cunha Lima: Primeiro não toquei em ASI nem pra cima, nem pra baixo...
A ASI se exista ficou e teve, agora jamais expandiria a ação de ASI e nem daria ação a
ASI, ou a qualquer outro organismo que fosse negativo. Poderia servir de alguma
informação que fosse útil ao serviço da Universidade, contei alguns fatos que são muito
conhecidos aqui, de que houve tentativa de mudar o sistema administrativo que eu não
permiti.
Moisés Domingos: Mas a ASI é militar aí.
Diógenes da Cunha Lima: Eu não sou contra militar...
Carlos Gomes: A ASI não era militar, ela servia aos militares...
[várias pessoas falando ao mesmo tempo]
Diógenes da Cunha Lima: Mas eu não estava contra, aliás, fui nomeado por um
presidente chamado Figueiredo, que era militar.
Moisés Domingos: Correto, correto.
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Diógenes da Cunha Lima: Entendeu, não estava contra nem a favor. Eu queria servir a
Universidade
[inaudível].
Carlos Gomes: Professor Diógenes, muito obrigado pela presença. Pode usar do tempo
para fazer suas considerações.
Diógenes da Cunha Lima: Eu quero dizer que estou agradavelmente surpreso com a
Comissão, eu pensei que era Carlos, como eu tenho a maior admiração por ele e bem
querer, porque tudo quanto é coisa sem futuro pra ele, pessoal, sem vantagem, ele aceita
e faz, quando é uma coisa pra louvá-lo, ele se retrai. Então eu tenho uma maior
admiração por ele e vim pensando que era uma ou duas pessoas, tem uma haste
interessante, que a Comissão da Verdade diz, tem um amigo meu, que é da Comissão
Nacional da Verdade, Zé Paulo Cavalcante, e acho que é sempre bom a fixação da
matriz da história, a história que é ciência. Eu sou apaixonado por história vivo,
estudando isso, lamento não ter feito o curso professor, lamento mesmo, não ter feito o
curso específico, mas sou do instituto e estou entusiasmado com este trabalho, é preciso
que haja o resgate, que haja esta coisa [inaudível]. Obrigado a todos.
Carlos Gomes: Muito obrigada, está encerrada a sessão.
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Diógenes da Cunha Lima_31.3.2013