Sistema Signwriting de grafia das Línguas de Sinais: Desafios
do ensino-aprendizagem em ambientes virtuais
Severina Batista de Farias Klimsa1 (UFPB/UFPE)
Bernardo Luís Torres Klimsa2 (UFPB/IFPE)
Resumo:
As línguas de sinais são línguas naturais das pessoas surdas, sendo utilizada
como forma de expressão e comunicação da comunidade surda de um
determinado país. Porém, é de todo impossível escrever estas línguas
através de um alfabeto comum como o da Língua Portuguesa. Em 1974,
surge nos Estados Unidos o SignWriting, um sistema de escrita das línguas
gestuais, contrariando a ideia de que as línguas espaço-visuais não
poderiam ter uma representação gráfica. Em 2006, no Brasil, com a
criação do curso de graduação em Letras/Libras, a escrita de sinais foi
introduzida na matriz curricular como disciplina obrigatória para a
licenciatura e o bacharelado. Surgem então os desafios do ensinoaprendizagem de uma língua tridimensional no ambiente virtual do
referido curso. Assim, iniciamos uma investigação sobre processo de
ensino-aprendizagem da escrita de sinais com os recursos tecnológicos
disponíveis no ambiente virtual do curso de Letras/Libras da UFPB. Os
resultados nos mostram que a tecnologia é um meio facilitador com
inúmeras possibilidades de ensino-aprendizagem da escrita de sinais. A
pesquisa contribui para a formação dos profissionais que atuarão
diretamente com pessoas surdas, pois a escrita de sinais possibilita aos
surdos escreverem na sua própria língua sem recorrer a uma língua oral.
Palavras-chave: Escrita de Sinais, Signwriting, Surdos, ensinoaprendizagem
Abstract:
Sign languages are natural languages of deaf people, being used as a form
of expression and communication of the deaf community in a given
country. However, it is quite impossible to write these languages through a
common alphabet as the Portuguese language. In 1974, the United States
appears to SignWriting, a writing system of sign languages, contradicting
the idea that visual-spatial language could not have a graphical
representation. In 2006, in Brazil, with the creation of the undergraduate
course of Letras/Libras, writing signs was introduced as mandatory in the
curriculum for the bachelor's degree and discipline. Then come the
challenges of teaching and learning a language in three-dimensional virtual
environment that course. Thus, we initiated an investigation into the
teaching and learning of writing signs with the technological resources
available in the virtual environment of Letras/Libras of UFPB. The results
show us that technology is a means facilitator with numerous possibilities
for teaching and learning of writing signs. The research contributes to the
1
Severina Batista de Farias KLIMSA, (Profª Assistente do CE/UFPE. Doutoranda em Linguística – PROLING/UFPB)
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). E-mail: [email protected]
2
Bernardo Luís Torres KLIMSA, (Profº. do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFPE. Mestre em Ciências da Linguagem
– UNICAP/PE). Instituto Federal de Pernambuco (IFPE). E-mail: [email protected]
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training of professionals who will work directly with deaf people because
writing signals enables deaf write in their own language without resorting
to an oral language.
Keywords: Writing Signs, Signwriting, Deaf, teaching-learning
Introdução
A escrita é uma das tecnologias de registro que revolucionou a humanidade
nas esferas: histórica, econômica, jurídica, política, social, filosófica e cultural,
para citar apenas algumas. O fascínio dos povos primitivos por uma forma de
expressão que atravessasse as fronteiras geográficas, culturais e temporais, esteve
presente em muitas civilizações, não sendo possível definir, ao certo, quem teve,
pela primeira vez, essa brilhante ideia de documentar a fala, o pensamento e o
sentimento do ser humano.
Os pictogramas, ideogramas, rebus, hieróglifos e o sistema cuneiforme
mesopotâmico, foram alguns dos predecessores da escrita alfabética, utilizada na
contemporaneidade, que consiste na representação dos fonemas através de
grafemas. Essa escrita alfabética que, por séculos, mostrou-se prática e produtiva
no registro de uma grande diversidade de Línguas Orais, revela-se, contudo,
ineficiente para o registro das Línguas de Sinais.
Por isso, outros sistemas de escrita específicos para as Línguas sinalizadas vêm
sendo desenvolvidos, experimentados e divulgados, tornando a Escrita de Sinais
objeto de pesquisa e temática de diversas produções bibliográficas.
Bruno e Sá (2008, p. 415) enfatizam que devido aos problemas encontrados
durante a sua alfabetização no ensino fundamental e médio, “a maioria dos surdos
não consegue ter seu desenvolvimento linguístico assegurado”, visto que a
educação oferecida a estes sujeitos ter sido prejudicada pela inadequação das
aquisições “de aprendizagem e da organização do sistema de ensino”. Por isso, os
surdos têm dificuldades para compreender e se comunicar usando a língua
portuguesa, “pois as aulas são ministradas de forma oral, consequentemente, os
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conteúdos trabalhados na sala nem sempre se tornam acessíveis para esses alunos”
sendo necessário um tratamento diferenciado a esses alunos como na elaboração
de material com conteúdos pedagógicos em Língua Brasileira de Sinais - Libras.
No Brasil com a criação do curso de graduação em Letras/Libras pela
Universidade Federal de Santa Catarina em 2006, uma nova possibilidade surge com
a inclusão da disciplina de escrita de sinais visando proporcionar aos estudantes do
curso o aprendizado de uma escrita visual.
Por se tratar de um curso de formação de professores, o aprendizado da
escrita da Libras por seu alunado vem suprir uma necessidade de alfabetização de
crianças surdas diretamente em língua de sinais, proporcionando assim uma maior
desempenho escolar visto que poderá escrever diretamente em escrita de sinais.
Pensando nesta possibilidade, a proposta deste trabalho visa analisar como se
deu o processo de ensino-aprendizagem da Escrita da Língua Brasileira de Sinais no
curso de graduação em Letras/Libras da UFPB Virtual por alunos surdos e ouvintes
matriculados na disciplina de Escrita de Sinais I e Escrita de Sinais II.
Feita esta breve introdução, passemos, então, a fundamentação teórica deste
artigo em que mostraremos como surgiu o sistema de escrita de sinais e como este
sistema funciona. Em seguida, apresentamos o percurso metodológico, para, então,
vir a análise dos dados. Por fim, são tecidas algumas considerações finais sobre a
temática e apresentadas as referências utilizadas no artigo.
Surgimento do sistema signwriting
O sistema SignWriting para grafia de línguas de sinais no foi o único capaz de
grafar fonemas de uma língua visual-gestual. William C. Stokoe foi o primeiro
linguista a realizar um estudo sistemático das línguas de sinais nos Estados Unidos,
na década de 60, criando uma escrita extremamente técnica capaz de descrever
essas línguas. Naquela ocasião, Stokoe conseguiu legitimar o status linguístico desta
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forma de comunicação/interação, uma vez que anteriormente se pensava que as
línguas de sinais no eram línguas naturais. O sistema denominado “sistema de
notação de sinais de Stokoe” é constituído por um conjunto de símbolos e regras de
escrita, definidos para representar os diversos aspectos fonético-fonológicos das
línguas de sinais.
O sistema Signwriting foi desenvolvido pela norte-americana Valerie Sutton,
por volta da década de 70 e pertence ao Sistema de Escrita e Notação de
Movimentos Sutton. Este abrange um variado leque de notações de movimentos
estando dividido em cinco grupos, a saber: 1) DanceWriting que regista
coreografias de danças; 2) SignWriting que regista línguas gestuais; 3) MimeWriting
que regista mímica e pantomima; 4) SportsWriting que regista ginástica, patinagem
no gelo e karaté; e, por último, 5) ScienceWriting que regista fisioterapia,
movimentos das crianças autistas, linguagem corporal e movimentos de animais.
(Capovilla & Raphael, 2001, p. 56).
Valerie Sutton era uma bailarina e o primeiro sistema que inventou foi o
dancewriting que lhe permitia escrever os movimentos da dança. Este sistema
despertou a curiosidade de alguns dinamarqueses que estavam, no momento, a
realizar investigações com o intuito de descobrirem uma forma de escrita da língua
gestual. Assim, em 1974 a Universidade de Copenhague convida Valerie Sutton a
adaptar à língua gestual o sistema até então desenvolvido. Começa assim a
desenvolver-se um sistema que teria por base os cinco pressupostos quirológicos
143 que compõem um gesto: configuração da mão, movimento, pontos de
articulação do gesto, localização, orientação da palma da mão e componente não
manual ou expressão facial.
De sistema escrito à mão, passou-se a um sistema possível de ser escrito no
computador, com o programa Signwriter, criado dentro do próprio movimento
Sutton para grafia das línguas visuais. Em 2004 surgiu um programa mais amistoso,
facilitando o uso para pessoas com pouco conhecimento de informática, uma vez
que utiliza a plataforma Windows. O programa foi desenvolvido por pesquisadores
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da Universidade Católica de Pelotas e denomina-se SWEdit3. Utilizo este programa
hoje e o considero muito acessível, possibilitando uso de gravuras em interface
com Editores de Texto e programas de Desenho Gráfico. Embora ainda seja uma
versão experimental, podemos produzir uma infinidade de materiais em Libras,
com o auxílio dele, como veremos adiante.
O SignWriting entrou no Brasil em 1996, com a descoberta de novas
possibilidades de uso desta escrita junto ao computador pelo professor Doutor
Antônio Carlos da Rocha Costa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul. Seu trabalho de pesquisa foi desenvolvido juntamente com as professoras
Márcia Borba e Marianne Stumpf, esta na época Doutoranda em Informática na
Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGIE).
Quadros4 afirma que o SignWriting apresenta características de evolução da
escrita alfabética, e que, em maio 1998, discutiu-se a possibilidade de
padronização da escrita do mesmo sinal, pois logo que o sistema surgiu, cada
pessoa escrevia da forma como entendia que um determinado sinal deveria ser
escrito graficamente, ou seja, alguns eram mais detalhistas no traçado, outros mais
simplistas.
Esta mesma pesquisadora esclarece ainda que processo semelhante aconteceu
com a língua inglesa, quando esta começou a ser escrita. Cada pessoa escrevia a
palavra de acordo com o som que ouvia, porém com a grafia que considerasse ser a
correta, processo este que teve fim com o surgimento da imprensa. Com o
estabelecimento de normas referentes à ortografia, passou-se a escrever de forma
socialmente convencionada. Segundo Capovilla (2001a, p. 55), quando as
convenções ortográficas de uma língua já estão consolidadas, o trabalho de leitura
e escrita é imensamente facilitado e as ambiguidades são reduzidas. Um
movimento pioneiro e de suma importância para tornar público este sistema no
Brasil deve-se à divulgação do Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da
3
Projeto realizado com apoios diversos, do CNPq e da FAPERGS, durante o período 1996-2006. Projeto realizado em estreita
ligação como Center for Sutton Movement Writing (http://www.signwriting.org). Disponível em: http://sign-net.ucpel.tche.br/
4
Quadros, R. M. Um capítulo da história do SignWriting. Disponível em http://www.signwriting.org/library/history/hist010.html
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Língua de Sinais Brasileira, de autoria dos pesquisadores Fernando Cesar Capovilla
e Walkíria Duarte Raphael. Nesta obra, além das explicações formais sobre o
sistema Signwriting, pode-se encontrar para cada termo em português a grafia em
escrita de sinais, o que possibilita a reflexão e o exercício desta escrita. (Capovilla
a, 2001, p.55).
Como funciona a escrita signwriting
Ao contrário da ilustração analógica (receptiva), a escrita SignWriting é feita
a partir do ponto de vista do sinalizador: na perspectiva EXPRESSIVA, como se o
leitor estivesse atrás do sinalizador, facilitando assim enormemente a leitura:
Figura 01
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume 1
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As expressões faciais também são escritas na perspectiva expressiva:
Figura 02
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Os sinais são escritos na vertical, de cima para baixo:
Figura 03
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume 1
Se a linha dos ombros for necessária, ela é descrita:
Figura 04
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Formas de mão básicas:
Figura 05
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A forma manual, que é o principal parâmetro para configuração de um sinal, é
descrita:
Figura 06
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Orientações da mão e da palma:
Figura 07
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume 1
A expressão fisionômica e a expressão do olhar podem ser descritos em
detalhes:
Figura 08
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume 1
Os símbolos de contato auxiliam a determinar o tipo de aproximação em
relação ao ponto de contato no corpo.
Figura 09
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Eixos imaginários onde ocorre o movimento, gerando todas as setas de
direção:
Figura 10
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Esta escrita possibilita a grafia da Libras preservando seus cinco parâmetros
de realização do movimento (Felipe, 2005, p. 23):
a) Configuração das mãos
b) Ponto de articulação: podendo esta estar em um espaço neutro fora do corpo do
sinalizador ou ancorado ao próprio corpo
c) Movimento: se existirem ou não, inclusive apontando rapidez ou lentidão do
sinal, concomitância ou não das mãos na hora da realização do sinal.
d) Orientação/direcionalidade.
e) Expressões faciais e corporais (indicando inclusive marcações para os olhos,
sobrancelhas, língua, etc)
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Um manual deste sistema de escrita pode ser acessado gratuitamente através
do site http://sign-net.ucpel.tche.br. Este material é uma tradução parcial e
adaptação da versão em inglês, feito pela professora Marianne Rossi Stumpf.
Existe também a possibilidade de escrita do alfabeto manual, bem como dos
números:
Figura 11
Fonte: Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. Volume 1
Materiais e Métodos
Segundo Silverman (1993 apud MARCUSCHI, 2001, p.27), o dilema não é
escolher a perspectiva quantitativa ou qualitativa da pesquisa: o problema é saber
o que se pretende investigar e, consequentemente, quais os melhores caminhos a
serem traçados.
Esta pesquisa foi realizada pelos autores durante no período de 2012 e 2013
quando ministraram a disciplina de Escrita de Sinais I e Escrita de Sinais II no curso
de graduação em Letras /Libras, curso de licenciatura, modalidade de educação à
distância, da Universidade Federal da Paraíba.
Para
constituição
deste
trabalho
realizamos
um
estudo
de
caráter
observacional com abordagem qualitativa, paradigma de pesquisa que trabalha com
o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um universo mais profundo de relações, dos processos e dos
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fenômenos que não supõem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (Minayo,
1993).
Desse modo, desenvolvemos uma leitura da realidade, tendo em vista que os
fenômenos apreendidos por esta pesquisa se situam num dado momento histórico e
são influenciados pelo campo econômico, político e social de forma mais ampla.
Marcamos, assim, nosso fundamento epistemológico, baseado no pensamento
de Morin (2000) que não vê o conhecimento de forma estática. Diz ele:
(...) Se antes as ciências se baseavam na experiência, na observação e na
razão, ou seja, no procedimento empírico racional para chegar a um
fundamento científico capaz de ser o espelho da realidade e do mundo
(...) hoje, somos obrigados a nos situar, reconhecer-nos a nós mesmos para
falar da sociedade da qual fazemos parte. Morin (2000, p. 26).
Sendo assim, o ato de produzir conhecimentos deve se constituir num
exercício de reflexão que busque caminhar na direção de uma construção de
conhecimentos que não esteja embasado num pensamento simplificador. É
necessário, como afirma Morin (op. Cit., p. 30), pensar complexo, entendendo que
“o conhecimento navega em um mar de incertezas, por entre arquipélagos de
certezas”.
Como objetivo, nossa proposta buscou analisar o desenvolvimento do processo
de ensino-aprendizagem da disciplina de Escrita de Sinais I e Escrita de Sinais II no
curso de licenciatura em Letras/Libras da UFPB virtual, mediado pelos recursos
tecnológicos disponíveis nos AVEA’s.
O instrumento utilizado foi observações de situações de ensino-aprendizagem
da escrita de sinais no ambiente virtual moodle.
Um dos pontos positivos de utilização desta técnica, como observa Richardson
(1999), é a possibilidade de obter a informação no momento em que acontece o
fato, o que possibilita a verificação detalhada da situação que, se passado algum
tempo, poderia ser esquecido pelos elementos que observaram ou vivenciaram o
acontecimento.
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Participaram do estudos alunos surdos e ouvintes, matriculados na disciplina
de Escrita de Sinais I e Escrita de Sinais II no primeiro e segundo semestre de 2012
e no primeiro semestre de 2013.
O corpus constituiu-se a partir do mapeamento da prática pedagógica dos
professores ministrantes das disciplinas citadas e do material didático disponível
para o ensino-aprendizagem da disciplina de Escrita de Sinais I e Escrita de Sinais II
no AVEA do curso.
Resultados e discussões
O objetivo de visualizar as possibilidades de ensino-aprendizagem da escrita
de sinais em ambientes virtuais foi contemplado, pois percebemos que os alunos
assimilam à escrita e compreendem bem seus mecanismos de funcionamento
mesmo que virtualmente.
Através da escrita, os alunos puderam deixar aflorar sua criatividade, uma vez
que estavam livres da necessidade de tradução. Eles usaram a Escrita de Sinais
para grafar vocabulários e termos da língua portuguesa, como auxiliares na
tradução.
Ao aprender a escrita de Libras, os alunos adquirem uma ferramenta que
proporciona e estabelece acesso ao conhecimento aos surdos quando em processo
de alfabetização.
Percebemos que o mecanismo de aprendizagem da escrita de sinais foi melhor
assimilado pelos estudantes surdos usuários de Libras, visto que a não
obrigatoriedade de conhecimento em Língua Brasileira de Sinais para o acesso ao
curso, fez com que os discentes sem um mínimo domínio da Libras tivesse maior
dificuldade com o aprendizado da escrita.
Os conteúdos das disciplinas foram organizados em unidades temáticas e foi
utilizado e software libres SWEdit para a produção de vocabulários, frases e
pequenos textos.
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A percepção gramatical da estrutura da Libras foi ampliada, visto que os
alunos passaram a se preocupar mais com a forma correta da configuração de mão
na hora da realização escrita de um sinal: escrevendo corretamente, passaram a
sinalizar melhor.
O tempo disponibilizado para o aprendizado no ambiente, durante o período
em que a disciplina foi ministrada dificultou um trabalho mais efetivo de
continuidade de uso do sistema. Os alunos foram bastante enfáticos ao narrarem a
necessidade de um tempo maior para o aprendizado da escrita e mais aulas
presenciais.
A falta de conhecimento que outros profissionais que lidavam diretamente
com esses alunos tinham em relação à Escrita de Sinais dificultou muito a expansão
do trabalho, visto que os alunos só tinham os professores da disciplina para
recorrer.
A Lei de Libras - 10.436, de 24 de abril de 2002 - e sua normatização através
do Decreto 5.626, publicada em dezembro de 2005, instituiu, entre outras coisas,
que esta língua de sinais deva “ser inserida como disciplina curricular obrigatória
nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível
médio e superior – em todas as licenciaturas – e nos cursos de Fonoaudiologia, de
instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos
sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
As implicações legais destas determinações foram muitas: novos cursos
superiores e de pós-graduação, para dar conta da formação desses professores que
estarão atuando nesses espaços; nova reestruturação das escolas que recebem
alunos surdos, entre outros. Porém na prática, pouca coisa mudou, havendo a
necessidade de se efetivarem práticas pedagógicas reflexivas, que girem realmente
em torno das necessidades específicas dos alunos surdos, falantes de Libras. Um
novo profissional, principalmente da área de Letras, que irá lidar especificamente
com o ensino de línguas, necessitará ser formado para que se atenda a esta
demanda existente na escola regular.
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Considerações Finais
As discussões sobre a inclusão do ensino de Escrita de Sinais para alunos
surdos ainda é recente e faltam profissionais com este tipo de conhecimento
específico, alguns deles ainda em processo de formação.
Graças à tecnologia, a escrita da língua de sinais também pode ser utilizada
no computador com o software SW-Edit. Pensa-se que no futuro a escrita da língua
de sinais pode chegar até aos celulares e/ou outros programas de computadores e
outros novos meios de comunicação.
Pela primeira vez no Brasil, as especificidades linguísticas dos surdos são
considerada e tornan-se importantes. A iniciativa deste curso é nova no país e
mostra um certo grau de pionerismo. A fortificação da Língua Brasileira de Sinais
com a identificação de diferenças regionais é vista como um dos resultados deste
curso.
Este curso tem sido um grande sucesso e possibilitou o reconhecimento do
MEC que agora apóia sua expansão para uma segunda edição através de um novo
vestibular. Esta nova edição deve abranger mais pólos, possibilitando novas áreas
do Brasil terem a mesma oportunidade.
Para Belloni (2001, p.74) uma das mudanças proporcionadas pela EAD é a
transformação do professor de uma entidade individual para uma entidade
coletiva. Na EAD não há um único professor, mas equipes responsáveis pelo
planejamento e pela operacionalização da disciplina.
Vale destacar que o uso das tecnologias da comunicação e da informação no
ensino da escrita de uma língua espaço-visual, favorece a interação e,
consequentemente, o aprendizado e o desenvolvimento nessa língua. Nesse
sentido, a construção da disciplina no AVEA contribuí com o processo de ensinoaprendizagem da Libras no Ensino Superior Brasileiro, avançando em relação às
práticas tradicionalmente construídas.
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Referências
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BRUNO, Marilda Moraes Garcia; e SÁ, Michele Aparecida. A inclusão de alunos surdos no
sistema regular de ensino: uma análise das concepções e reflexões dos professores. In: 9º
Encontro de Pesquisa em Educação da ANPED - Centro Oeste. CD ROM nos Anais do 9º
Encontro de Pesquisa em Educação da ANPED - Centro Oeste, Brasília, p. 415-429, 2008.
CAPOVILLA, F. C. e RAPHAEL, W. D. Dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua de
Sinais Brasileira, Volumes I e II. São Paulo: Editora da Universidade São Paulo, 2001.
FELIPE, T. A. e MONTEIRO, M. S. Libras em Contexto – curso básico. 5ª ed. Livro do
Professor. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo.
Hucitex, 1993.
MORIN, E. Os setes saberes necessários à educação do Futuro. São Paulo: Cortez. 2000.
MARCHUSCHI, Luiz Antônio. Aspectos da questão metodológica na análise verbal: o
continuum qualitativo-quantitativo. Revista Latinoamericana de Estúdios Del Discurso
1(1): 2001, p.23-42.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas / Roberto Jarry Richarson;
colaboradores. José Augusto de Sousa Peres, (et. Al). São Paulo. Atlas, 1999.
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