Dois grandes atores mais assíduos em comédias trazem hoje (22) à cidade espetáculos (que não fazem rir). Marisa Orth estreia O Inferno Sou Eu, em que interpreta Simone de Beauvoir, e Pedro Cardoso volta com Os Ignorantes, de sua própria autoria, que acompanha a história de uma bala perdida. A convite do Guia, eles trocaram perguntas, que foram respondidas à maneira de suas peças – com muita seriedade. ELA PERGUNTA ELE RESPONDE ELE PERGUNTA ELA RESPONDE Vivem me perguntando se consigo fazer outra coisa além de comédia. Você sofre esse tipo de cobrança? É mesmo chato insistirem em tanta diferença entre comédia e drama. Para mim é tudo a mesma coisa. O mesmo tombo que nos machuca quando a gente cai é depois engraçado quando a gente conta. Como o público reage às verdades que você diz na peça? Acredito que reagem bem. Não acuso ninguém de nada. Indico todos nós como culpados. A começar por mim mesmo. Você é autor e ator da sua peça. Como você diferencia esses dois papéis? Acho que não discrimino. Creio que todo ator é sempre também um autor. Ainda que não crie uma lógica dramatúrgica completa, ele é autor da sua interpretação do personagem, e de toda a história que se quer contar. Mesmo quando conto histórias escritas por outros, não abdico da autoria da minha interpretação. Na TV, falamos com milhões de pessoas ao mesmo tempo. No teatro, só com um pequeno número. Como isso afeta o seu trabalho? São menos pessoas, mas posso ouvir a respiração delas quando estou no teatro. Acho que ali mostro meu trabalho mais bem acabado. Levando em consideração a quase total falência do sistema educacional, será possível fazer um teatro popular como a TV? Toda forma de cultura sofre com os efeitos deste empobrecimento do espírito crítico. Temos que tentar encontrar esse teatro popular. Se não acreditarmos nisso, estaremos fazendo o que da nossa vida? Passado meio século de conquistas para a liberdade individual, você acha que ideias como as de Simone e Sartre se tornaram dominantes? Simone de Beauvoir abriu possibilidades para as mulheres que nossas mães não suspeitariam. No entanto, os tais mecanismos sociais e principalmente psicológicos de repressão continuam atuando. Teatro Bradesco (1.457 lug.). Bourbon Shopping. R. Turiaçu, 2.100, Pompeia, 3670-4141. 90 min. 16 anos. 6ª e sáb., 21h30; dom., 20h. R$ 60/R$ 80. Até 31/1. Teatro Jaraguá (271 lug.). R. Martins Fontes, 71, Bela Vista, 32554380. 70 min. 12 anos. 6ª e sáb., 21h; dom., 20h. R$ 70/R$ 80. Até 25/4. GUGA MELGAR/DIVULGAÇÃO E JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO Capa OUÇA MARISA E PEDRO (SEM RIR)