Interceptação Infiltração Evaporação e Evapotranspiração Por LUCIANO MENESES CARDOSO DA SILVA Engenheiro Civil Especialista em Recursos Hídricos da ANA Doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB - CDS) M.Sc. Recursos Hídricos (UFRGS - IPH) Especialista em Saneamento Ambiental (Universidade de Linköping - Suécia) Slides próprios e obtidos de Tucci, Porto, Ahy e Freitas. Interceptação Conceitos A interceptação é a retenção de parte da precipitação A interceptação pode ocorrer devido a vegetação ou outra forma de obstrução ao escoamento como a depressão do solo. O volume retido é perdido por evaporação; Este processo interfere no balanço hídrico da bacia hidrográfica, funcionando como um reservatório que armazena uma parcela da precipitação para consumo A tendência é de que a interceptação reduza a variação da vazão ao longo do ano, retarde e reduza o pico das cheias Tucci, 2003 Interceptação vegetal A interceptação vegetal depende de vários fatores: características da precipitação e condições climáticas, tipo e densidade da vegetação e período do ano. As características principais da precipitação são a intensidade, o volume precipitado e a chuva antecedente. Tucci, 2003 Relação interceptação e total precipitado Tucci, 2003 Características O tipo de vegetação caracteriza a quantidade de gotas que cada folha pode reter e a densidade da mesma indica o volume retido numa superfície de bacia As folhas geralmente interceptam a maior parte da precipitação, mas a disposição dos troncos contribui significativamente. Em regiões em que ocorre uma maior variação climática, ou seja em latitudes mais elevadas, a vegetação apresenta uma significativa variação da folhagem ao longo do ano, que interfere diretamente com a interceptação A época do ano também pode caracterizar alguns tipos de cultivos que apresentam as diferentes fases de crescimento e colheita. Tucci, 2003 Equação da continuidade A equação da continuidade do sistema de interceptação pode ser descrita por Si = P -T - C Onde Si = precipitação interceptada; P = precipitação; T = precipitação que atravessa a vegetação; C = parcela que escoa pelo tronco das árvores. Tucci, 2003 Quantificação Equações empíricas Si= a + b.Pn a, b e n = parâmetros ajustados ao local e Si e P = precipitação, em polegadas. Cobertura Vegetal a b n Pomar "Ash" "beech" Carvalho "maple" arbustos pinus feijão, batata e outras 0,04 0,02 0,04 0,05 0,04 0,02 0,05 0,018 0,018 0,18 0,18 0,18 0,40 0,20 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,50 pequenas culturas pasto forrageiras pequenos grãos milho 0,02h 0,005h 0,01h 0,005h 0,05h 0,15h 0,08h 0,10h 0,05h 0,005h 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 h = altura da planta (em pés) Tucci, 2003 Exemplo do armazenamento em escoamento superficial de pequenas bacias Tucci, 2003 Desmatamento em São Paulo Tucci, 2003 Método de desmatamento Lal (1981) mostrou que o aumento do escoamento superficial, utilizando desmatamento manual, uso de tratores de arraste e tratores com lâminas para arado são, respectivamente, 1%, 6,5% e 12% da precipitação. Tucci, 2003 Alterações dos efeitos da precipitação com o desmatamento Maiores flutuações da temperatura e déficit de tensão de vapor das superfícies das áreas desmatadas; O volume evaporado é menor devido a redução da interceptação vegetal pela retirada da vegetação das árvores; Menor variabilidade da umidade das camadas profundas do solo, já que a floresta pode retirar umidade de profundidades superiores a 3 m, enquanto que a vegetação rasteira como pasto age sobre profundidades de cerca de 20 cm. Menor recarga das águas subterrâneas Tucci, 2003 Alterações dos efeitos da precipitação com a urbanização Aumento das vazões médias de cheia (em até 7 vezes, Leopold,1968) devido ao aumento da capacidade de escoamento através de condutos e canais e impermeabilização das superfícies (selamento); Aumento da produção de sedimentos devido à desproteção das superfícies e à produção de resíduos sólidos (lixo); Deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea, devido à lavagem das ruas, ao transporte de material sólido, às ligações clandestinas de esgoto cloacal e pluvial, e à contaminação direta de aqüíferos; Tucci, 2003 43 Subterrânea Tucci, 2003 Tucci, 2003 Avaliação das alterações (vazão média) Antes de1970 19701990 Aumento % Rio Parana em Jupiá 5,852 6,969 19,1 R. Paranapanema em Rosana 1,057 1,545 46,2 R. Paraná em São José 6,900 8,520 23,3 R. Paraná em Guaira 8,620 11,560 34,1 R. Paraná em Posadas 11,600 14,255 22,9 R. Paraná em Corrientes 15,265 19,510 27,8 Local Tucci, 2003 Vazões observadas em Guaíra, rio Paraná (1931 a 1990) Tucci, 2003 Tucci, 2003 Infiltração Conceitos Infiltração: é a penetração da água no solo Taxa de Infiltração: é a “velocidade” ou intensidade da penetração da água no solo (mm/hora, mm/dia etc) Infiltração acumulada: é a quantidade de água total infiltrada após um determinado tempo (mm) USP, 2003 Infiltração Infiltração é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Portanto, é um processo que depende, fundamentalmente: da água disponível para infiltrar da natureza do solo do estado da sua superfície da topografia das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior. Tucci, 2003 Infiltração e percolação Precipitação Solo não saturado Solo saturado Lençol freático Tucci, 2003 Capacidade de Infiltração e Infiltração real Capacidade de infiltração (Ic) é a infiltração que pode ocorrer caso haja precipitação (P) maior ou igual a esta taxa. Varia com a umidade do solo Infiltração real (Ir) : é a infiltração que realmente ocorre em cada intervalo de tempo. Quando P > Ic, Ir = Ic Quando P < Ic, Ir = P Tucci, 2003 EXEMPLO Tucci, 2003 Equação de Horton A equação de Horton foi desenvolvida com base no seguinte: (a) equação empírica, estabelecida com base no ajuste da observação dos valores medidos; (b) admite que a Infiltração é menor que a precipitação Algoritmo de Berthelot elimina o problema do item b I Variação da taxa de infiltração Ii Inclinação depende de k Ib t (h) I = Ib + (Ii-Ib).e-k.t Ib: taxa de infiltração de base (mm/h) Ib = condutividade hidráulica (K) Ii: taxa de infiltração inicial (mm/h) k: parâmetro (1/h) t: tempo (h) Tucci, 2003 Evaporação e Evapotranspiração Conceitos A evaporação e a evapotranspiração ocorrem quando a água líquida é convertida para vapor de água e transferida, neste estado, para a atmosfera O processo somente poderá ocorrer naturalmente se houver ingresso de energia no sistema, proveniente do sol, da atmosfera, ou de ambos e, será controlado pela taxa de energia, na forma de vapor de água que se propaga da superfície da Terra Evaporação = transferência de superfície líquida Evapotranspiração = transferência de água do solo, da vegetação e de superfície líquida Tucci, 2003 Movimento da molécula de água entre as superfícies de água e o ar Vapor de água Condensação Vaporização Água líquida USP, 2003 Curva de pressão de Vapor da Água USP, 2003 Movimento da molécula de água entre as superfícies de água e o ar Quando as taxas de condensação e vaporização evaporação se : igualam diz-se que o não há ar está saturado. USP, 2003 USP, 2003 Evaporação é a transformação da água do estado líquido para vapor, a partir de uma superfície líquida (lago, solo descoberto úmido, água interceptada da precipitação) Consome cerca de 585 calorias/g a 25 0C USP, 2003 Transpiração é a parte da evapotranspiração que vai para a atmosfera através das plantas (estômatos) USP, 2003 As taxas transpiração de evaporação e (evapotranspiração) são dadas em unidades de altura divididas por unidade de tempo : mm/dia, mm/mês... USP, 2003 Taxas de Evaporação Padrão Evaporatranspiração potencial (ETP): é a evaporação do solo e a transpiração das plantas máxima que pode ser transferida para atmosfera. Com base nas condições climáticas e características das plantas é possível estimar a EVT potencial Representa quanto é possível retirar de água do ambiente, em dado tempo. Tucci, 2003 Taxas de Evaporação Padrão Evaporatranspiração real (ETR): é a o total transferido para a atmosfera de acordo com a disponibilidade hídrica existente (umidade do solo) e a resistência das plantas. A evapotranspiração real é igual ou menor que a evapotranspiração potencial ETR <= ETP Tucci, 2003 Taxas de Evaporação Padrão Evapotranspiração real: Difícil obtenção. Demanda longo tempo de observação e custa caro Evapotranspiração potencial: Obtida a partir de modelos baseados em leis físicas e relações empíricas de forma rápida e suficientemente precisa Há várias teorias que relacionam ambas em função da disponibilidade de água do solo (umidade). Nenhuma aceita universalmente Tucci, 2003 V EIHMEY ER E HENDRICKSON 1.0 ETr = EVAPOTRANSPIRAÇÃO RELATIVA ETp MUSTONEN E Mc GUINNESS 0.8 PIERCE 0.6 THORNTWAITE E MA TTHER MINHA S ET A L. 0.4 HOLMES E ROBERTSON 0.2 0.0 0 20 40 60 80 100 C.CAMPO P. MURCHA UMIDADE DO SOLO (%) Resultados de vários estudos mostrando a variação da ET relativa com a Umidade do Solo Taxas de Evaporação Padrão Evapotranspiração de Referência ETo: É a evapotranspiração de uma superfície extensa coberta com grama de altura uniforme, em crescimento ativo e cobrindo completamente a superfície do solo e sem restrição de umidade. Embrapa, 2005 USP, 2003 Tanque Classe A USP, 2003 Método do Tanque Evaporimétrico Correlaciona a evapotranspiração potencial (ETP) com a evaporação medida no tanque (E) ETP = Kp * E Kp = coeficiente do tanque, depende do tipo de tanque e de outros parâmetros meteorológicos (valor mais comum: Kp = 0,7) USP, 2003 Atmômetro USP, 2003 Fórmulas de Cálculo (Métodos Indiretos) 12345- Balanço de Massas ou Aerodinâmico (Lei de Dalton) Balanço hídrico (reservatórios) Balanço de energia (radiação solar) Fórmula de Penman (baseado em 1 e 3) Fórmulas Empíricas Fórmula de Thornthwaite (baseado em temperatura) Fórmula de Blaney Criddle (baseado em temperatura) Fórmula de Jasen e Haise (baseado em radiação) Etc. USP, 2003 Balanço de Massas ou Aerodinâmico (1ª Lei de Dalton: relação entre evaporação e pressão de vapor) Ea = B. (eas - ea) 0.622* K * *a *u2 B 2 p * w *[ln(z2 / z0 )] 2 USP, 2003 Balanço de Massas ou Aerodinâmico Ea = Evaporação em m/s eas = pressão de saturação, em Pa ea = pressão de vapor, em Pa K = constante de von Karman (0.4) a = massa específica do ar u2 = velocidade do vento a 2 m do solo p = pressão atmosférica, em Pa w = massa específica da água ( 997 kg/m3) z0 = espessura da camada limite ( ~0.03 cm) USP, 2003 Equação do balanço hídrico dV/dt = I - Q - Eo.A + P.A Variação de volume entrada evaporação precipitação saída USP, 2003 USP, 2003 Esquema de um Lisímetro USP, 2003 Métodos de estimativa Baseados na temperatura : Thorntwaitemuito limitado e tende a subestimar a evapotranspiração; Blaney-Criddle: utilizado para irrigação e considera o tipo de cultura Radiação ou combinado (Método Penman): utiliza dados climáticos como temperatura, radiação solar, insolação, umidade do solo e velocidade do vento. Tucci, 2003 Fórmula de Blaney-Criddle ETP = p*(0.46*t + 8.13) onde : ETP = Evapotranspiração potencial, em mm/mês p = porcentagem mensal de horas de insolação em relação ao total anual (em %). Tabelado em função da latitude e do mês do ano t = temperatura média mensal do ar, em º C USP, 2003 Fórmula de Blaney-Criddle ANA, 2005 Método dos Coeficientes de Cultura (Kc) USP, 2003 Método dos Coeficientes de Cultura (Kc) Kc Cultura Abóbora-seca Abobrinha Alface Alho Batata Batata-doce Berinjela Beterraba Brócolos Cebola Cenoura Couve-flor Ervilha-seca Ervilha-verde Feijão-vagem Grão-de-bico Lentilha Mandioquinha-salsa Melancia Melão Milho-doce Morango Pepino Pimentão Repolho Tomate indústria Tomate de mesa inicial 0.5 0.5 0.7 0.7 0.45 0.5 0.6 0.5 0.7 0.7 0.7 0.7 0.4 0.45 0.7 0.4 0.4 0.5 0.4 0.5 0.4 0.4 0.6 0.55 0.7 0.45 0.6 vegetativo 0.75 0.75 0.85 0.85 0.75 0.8 0.85 0.8 0.85 0.85 0.85 0.85 0.7 0.8 0.85 0.7 0.7 0.75 0.7 0.75 0.8 0.65 0.8 0.8 0.85 0.65 0.85 produção 1 1 1 1.05 1.15 1.15 1.15 1.05 1.05 1.05 1.05 1.05 0.85 1.1 1.05 0.85 0.85 1 1 0.95 1.15 0.85 1 1.05 1.05 0.85 1.15 maturação 0.8 0.8 0.95 0.075 0.75 0.65 0.8 0.95 0.95 0.75 0.95 0.95 0.3 1 0.95 0.3 0.3 0.8 0.75 0.7 1.05 0.75 0.75 0.9 0.95 0.6 0.9