UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA CELINA MARIA PINTO GUERRA DORE ASPECTOS ESTRUTURAIS, FARMACOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DE FUCANAS DA ALGA MARROM Sargassum vulgare Natal (RN) 2012 CELINA MARIA PINTO GUERRA DORE ASPECTOS ESTRUTURAIS, FARMACOLÓGICOS E BIOLÓGICOS DE FUCANAS DA ALGA MARROM Sargassum vulgare Tese de doutorado apresentada ao Departamento de Bioquímica, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Bioquímica. Orientadora: Profa. Drª. Edda Lisboa Leite. Natal (RN) 2012 “Se vi mais longe foi por estar sobre ombros de gigantes” (Isaac Newton) À minha orientadora, Edda Lisboa Leite, por acreditar em mim, mesmo nos momentos em que nem eu acreditava. Por ser um enorme exemplo de profissional e pessoa, pelas conversas científicas e pessoais, por me deixar fazer parte de seu grupo e de sua vida. Muito obrigada por tudo. “Um professor afeta a eternidade. Ele nunca será capaz de dizer quando a sua influência se detém” (Henry Adanson) “Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita. Alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja curta nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura.” (Cora Coralina) A Deus. À Ele toda honra e toda Glória. À toda minha família (Pinto- Guerra e Fontes- Dore), especialmente meus pais, Verônica e Otávio e meu irmão, Daniel, por ser a minha base mais sólida, pela torcida, incentivo, apoio e amor incondicional. Amo muito vocês! Ao meu marido, Marcel, pessoa que escolhi para dividir a minha vida, por ser minha luz e fortaleza. Obrigada por você estar sempre ao meu lado. O meu amor é seu. Aos meus filhos Davi e João, por me ensinarem a ser mãe e por traduzir o real significado do amor incondicional. Vocês são a razão da minha vida. Amo muito vocês. “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos” (Bob Marley) À minha prima Liliane, que foi embora tão cedo e que me traz lembranças alegres da sua risada gostosa, das danças na garagem, do seu companheirismo e carinho. Á minha avó Maria Lourdes Ferreira da Silva pela sua delicadeza e educação rígida, das músicas tocadas no piano e delícias preparadas para todos. Ao meu avô José Guerra Ferreira da Silva, médico de alma e coração, que sempre se preocupou com minha formação e que sempre queria saber da minha vida acadêmica. Ao meu avô Jandir Susini Pinto, que se orgulhava em dizer que sua neta fazia doutorado, mesmo sem saber direito o que isso significava. Às vezes é como se sua voz e seu perfume ainda se fizessem presentes. Sei que você tá fazendo uma seresta aí no céu para comemorar essa conquista. “Não existe essa coisa de homem feito por si mesmo. Somos formados por milhares de outros” (George Matthew Adams) AGRADECIMENTOS A todos os professores e funcionários do Departamento de bioquímica da UFRN, que sempre estiveram dispostos a me ajudar. Aos grandes amigos do laboratório de Glicobiologia Vegetal: Marília Nascimento, Allison Castro, Luísa Will, Thuane Pinheiro, Kahena Florentin, Thiago Costa, Hugo Wescley, Hanna Medeiros, Joedysson Magalhães, Almino Paiva, Leonardo Rêgo. Por sermos uma equipe, por sempre poder contar com vocês não só nos assuntos do laboratório, mas também pelas conversas, pelos conselhos, pelo apoio. Durante esses anos acompanhei de perto momentos bons e ruins de cada um de vocês, foram risadas e briguinhas, lágrimas e sorrisos, tantas coisas... Me sinto parte da história de vocês e é muito bom me sentir assim. Sentirei saudades. A Marília Santos, meu total oposto, mas que sempre esteve por perto nos momentos mais cruciais. Podendo revelar quão grande é o seu coração. Você é pura emoção, e isso se reflete em tudo que faz. A Thiago Costa que sempre me irradiou com sua alegria. Sempre escutou todos os meus lamentos científicos e pessoais. Você mora no meu coração! A minha querida Monique Alves, por compartilhar comigo seu imenso conhecimento. Por sua sensatez. A Profª. Luciana Guimarães, que me acompanhou desde a iniciação científica, por me ajuda enormemente a entender as fucanas de Sargassum vulgare. A minha banca de qualificação (Prof. Hugo Rocha, Profa. Suley Chavante e Profa. Luciana da Matta) pelas grandes contribuições que fizeram para aprimorar a minha tese e por compreenderem todas as dificuldades enfrentadas para que este trabalho ficasse pronto. Ao Prof. Hugo Rocha pelo grande apoio e incentivo, pelas conversas informais e conselhos. Aos amigos conquistados da UNIFESP, especialmente Camila Accardo, Leonardo Nobre e Renan Cavalheiro. A Ana Katarina que com sua enorme competência e disponibilidade realizou os testes de viabilidade celular , uma pessoa com enorme cultura científica que me ajudou imensamente em todo o trabalho. Ao meu irmão do coração Fernando Roberto, que além de fazer parte da minha vida científica, assume o papel de irmão mais velho, com direito a todo o amor que o cargo exige. Às minhas queridíssimas Ariane Lacerda, Virgínia Penélope e Paula Ivani, pela conversas, as risadas, os almoços e energia positiva. Aos meus colegas da turma pioneira do doutorado do DBq: Serginho, Bruna, Ana Helena, Leandro, Raniere, Joana, Patrícia, Ticiana. Aos meus amigos de graduação, em especial, Juska Mendonça, Emília Teixeira, Liliane Gurgel, Tatiana Moritz e Vanessa Evangelista. Alguma vez alguém disse que os amigos são os irmãos que escolhemos, então, agradeço imensamente às minhas amigas- irmãs: Gioconda Moura, que desde sempre está ao meu lado, dividindo experiências da faculdade, pós- graduação, filhos, relacionamentos, alegrias e tristezas, seja em Natal ou em São Paulo, sempre me ajudando. Amo você! ; Regina Venturini, Suênia de Carli, Denise Marinho, Alzeni Fonseca, Flávia Lima, Claudinha, Catarina, Micheline, Sânzia, minhas amigas e vizinhas que seguram as pontas quando não dá tempo de chegar em casa, que compartilham de pertinho todas as dificuldades e alegrias e que torcem imensamente pelo meu sucesso. Vocês são muito especiais! A minha grande tia- amiga Patrícia Araújo, por me dar a oportunidade de fazer parte de sua vida de maneira incondicional. Amo muito! A todos os colegas do laboratório BIOPOL , especialmente Ruth, Rafael, Nednaldo, Moacir, Jailma, Mariana e Sarah. A Profª. Drª. Helena Bonciani Nader pela grande oportunidade que me deu de desenvolver meus experimentos no seu laboratório, e por toda sua equipe que contribuiu para que tudo se tornasse possível. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), a Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da UFRN pelos recursos para a realização deste trabalho. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste trabalho. “Há dois tipos de sabedoria: a inferior e a superior: A sabedoria inferior é dada pelo quanto uma pessoa sabe, e a superior é dada pelo quanto ela tem consciência de que não sabe” (Chico Xavier) A pedidos da minha Orientadora: De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos começando, a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Fazer da interrupção um novo caminho, da queda um passo de dança, do medo uma escola, do sonho uma ponte, da procura um encontro. E assim terá valido a pena. (Fernando Pessoa) RESUMO O presente estudo analisa a composição química e seus efeitos sobre os radicais livres, inflamação, angiogênese, coagulação, VEGF e proliferação celular dos polissacarídeos de uma alga Sargassum vulgare. O polissacárido sulfatado foi extraído a partir de algas marrons por proteólise com a enzima maxataze. A presença de proteínas e açúcares foram observados no cru de polissacarideos. Fracionamento do o extrato bruto foi feito com concentrações crescente de acetona (0,3-1,5 v), produzindo quatro grupos de polissacarideos. Estes compostos aniônicos da alga S. vulgare, foram fracionados (SV1) e purificados (PSV1) exibindo com alta açúcares totais e sulfatecontent e nível muito baixo de proteínas.A fucana SV1 contém baixos níveis de proteína e de hidratos de carbono e alto teor de sulfato. Este polissacarídeos prolongou o tempo de tromboplastina parcial activada (aPTT) a 50 ug (>240 s). não foi observado qualquer efeito de SV1 sobre o tempo de protrombina (PT), que corresponde a via extrínseca da coagulação. SV1 exibiu alta ação antitrombótica in vivo, com uma concentração 10 vezes maior do que a heparina. SV1 promoveu a actividade de inibição enzimática direta da trombina e estimulou a atividade enzimática do FXa. Mostrou também, atividade inibidora optima de trombina (50,2 ± 0,28%) a uma concentração de 25 ug / mL. A sua acção anti-oxidante de radicais scavenging por DPPH foi de (22%), indicando que o polímero não tem qualquer ação citotóxica (hemolítica) em tipos de sangue ABO e Rh, em diferentes grupos de eritrócitos e exibindo alta ação anti-inflamatória em edema de pata de ratos Wistar em todas as concentrações testadas induzida por carragenina. Tal processo foi demonstrado por edema e infiltração celular. A angiogenese é um processo dinâmico de proliferação e diferenciação. Ele requer proliferação endotelial, migração, e a formação do tubo. Neste contexto, as células endoteliais são um alvo preferido para muitos estudos e terapias. A eficácia antiangiogenico de polissacarídeos foi examinada in vivo na membrana corioalantóica pinto (CAM) usando-se ovos fertilizados. Diminuições na densidade dos capilares foram avaliados e pontuados. Os resultados mostraram que SV1 e PSV1 tem um efeito inibidor da angiogenese. Estes resultados foram também confirmados por tubulogenesis inibição na célula endotelial da aorta de coelho (RAEC) em matrigel. Células RAEC quando foram incubadas com SV1and PSV1 demonstraram inibição da secreção de VEGF, a 25, 50 e 100 ug/mL. A secreção de VEGF com a linha de células RAEC durante 24 h, foi mais eficaz para PSV1 a 50 ug / mL (71,4%) do que SV1 100 ug / mL (75,9%). SV1 e PSV1 posuiram uma acção antiproliferativa (47%) contra as células tumorais tipo HeLa. Estes compostos foram avaliados também, no ensaio de apoptose (anexina V - FITC / PI) e a viabilidade celular pelo ensaio de MTT de RAEC. Estes polissacarídeos não afetaram a viabilidade e não tiveram ação apoptótica ou necrótica. Nossos resultados indicam que estes polissacarídeos sulfatados têm ações antiangiogênica e antitumoral e constituem um importante alvo biológico e farmacológico. Palavras-chave: alga marrom, Fucana, hemostasia, angiogênese. ABSTRACT The present study examines the chemical composition and their effects on free radicals, inflammation, angiogenesis, coagulation, VEGF effects and cellular proliferation of a polysaccharides from alga Sargassum vulgare. The sulfated polysaccharide was extracted from brown seaweed by proteolysis with enzymes maxataze. The presence of proteins and sugars were observed in crude polysaccharides. Fractionation of this crude extract was made with growing concentration of acetone (0.3-1.5 v) and produced four groups of polysaccharides. Anionic polysaccharides from brown seaweed Sargassum vulgare, SV1and PSV1 were fractionated (SV1) and purified (PSV1), and displayed with high total sugars and sulfate content and very low level of protein. This fucan SV1 contains low levels of protein and high carbohydrate and sulfate content. This polysaccharides prolonged activated partial thromboplastin time (aPTT) at 50 µg (>240 s). SV1 was found to have no effect on prothrombin time (PT), corresponding to the extrinsic pathway of coagulation. SV1 exhibits high antithrombotic action in vivo, with a concentration ten times higher than heparin. Polysaccharides from S. vulgare promoted direct inhibition enzymatic activity of thrombin and stimulated enzymatic activity of FXa. SV1 showed optimal inhibitory activity of thrombin (50.2±0.28%) at a concentration of 25 μg/mL. Its antioxidant action on scavenging radicals by DPPH was (22%), indicating the polymer has no cytotoxic action (hemolytic) on ABO and Rh blood types in different erythrocyte groups and displays strong anti-inflammatory action on all concentrations tested in the carrageenan-induced paw edema model, demonstrated by reduced edema and cellular infiltration. Angiogenesis is a dynamic process of proliferation and differentiation. It requires endothelial proliferation, migration, and tube formation. In this context, endothelial cells are a preferred target for several studies and therapies. The antiangiogenic efficacy of polysaccharides was examined in vivo in the chick chorioallantoic membrane (CAM) model by using fertilized eggs. Decreases in the density of the capillaries were assessed and scored. The results showed that SV1 and PSV1 have an inhibitory effect on angiogenesis. These results were also confirmed by inhibition tubulogenesis in rabbit aorta endothelial cell (RAEC) in matrigel. These compounds were assessed in Apoptosis assay (Annexin V - FITC / PI) and cell viability by MTT assay of RAEC. These polysaccharides do not affect the viability and do not have apoptotic or necrotic action. RAEC cell when incubated with SV1 and PSV1showed inhibition of VEGF secretion, observed when compounds were incubated at 25, 50 and 100 μg/μL. The VEGF secretion with the RAEC cell line for 24 h, was more effective for PSV1 at 50 μg/μL(71.4%) than SV1 100 μg/μL (75.9%). SV1 and PSV1 had an antiproliferative action (47%) against tumor cell line HeLa. Our results indicate that these sulfated polysaccharides have antiangiogenic and antitumoral actions. Key-words: brown seaweed, fucan, hemostasis, angiogenesis LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Árvore diagramática representando a organização dos eucariotos em seis grupos principais ................................................................................................21 FIGURA 2 – Representação esquemática da Cascata de Coagulação ..................25 FIGURA 3 – Esquema de diferenciação entre os processos de vasculogênese e angiogênese ..............................................................................................................30 FIGURA 4 – Uma visão geral da família VEGF e seus receptores ..........................32 FIGURA 5 – Mecanismo de ação e cofatores necessários ás enzimas Superóxido dismutase, Catalase e Glutatina peroxidase..............................................................37 FIGURA 6 – Esquema do teste de tromboplastina parcial ativada (aPTT) .............57 FIGURA 7 – Esquema do Tempo de Protrombina (PT).............................................58 FIGURA 8 – Rendimento das frações polissacarídicas extraídas de S. vulgare com diferentes concentrações de acetona (0,3 0,5, 1,0 e 1,5v) .......................................63 FIGURA 9 – Perfil de eluição de SV1 em cromotografia de gel filtração Sepharose CL-4B.........................................................................................................................65 FIGURA 10- Eletroforese em gel de agarose das frações de polissacarídeos sulfatados de S. vulgare obtidas do fracionamento com acetona ...........................68 FIGURA 12– Espectroscopia de infra vermelho das frações SV1 (linha vermelha) e fração purificada PSV1 (linha azul) de polissacarídeos sulfatados de S. vulgare........................................................................................................................70 FIGURA 13 – Ensaio CAM para verificação do potencial antiangiogênico de SV1 e PSV1..........................................................................................................................72 FIGURA 14 – Efeitos de SV1 e PSV1 na formação de tubos capilares de células endoteliais da aorta de coelho (RAEC)......................................................................73 FIGURA 15- Inibição da secreção de VEGF..............................................................74 FIGURA 16 – Efeito de SV1 e PSV1 isolados de S. vulgare na proliferação de células das linhas RAEC, HeLa, B16 e Raw 264.7....................................................76 FIGURA 17 – Análise da distribuição de células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) no ciclo celular..............................................................................................77 FIGURA 18 – Análise da Citometria de fluxo com dupla marcação para anexina V e PI em células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) Histograma...........................78 FIGURA 19 – Análise de citometria de fluxo com dupla marcação para anexina V e PI em células endoteliais da aorta de coelho............................................................79 FIGURA 20 – Ação antiinflamatória de SV1 e PSV1 em um modelo de edema de pata induzido por carragenana...................................................................................80 FIGURA 21 – Análises histológicas do edema de pata induzido por carragenana e tratada com diferentes concentrações de SV1 e PSV1 ............................................82 FIGURA 22 – Ação anticoagulante de polissacarídeos sulfatados de SV1............84 FIGURA 23 – Ensaio do substrato cromogênico da trombina ..................................85 FIGURA 24 – Ensaio do substrato cromogênico do Fator Xa ...................................86 FIGURA 25 – Atividade Antitrombótica dos polissacarídeos sulfatados de SV1 ...87 FIGURA 26 – Ação citotóxica de SV1 nos eritrócitos de diferentes tipos ABO e Rh ....................................................................................................................................90 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Valores de escore utilizados para avaliação do efeito antiangiogênico no teste da membrana corioalantóica em ovos de galinha fertilizados..................50 TABELA 2 – Percentual dos monossacarídeos presentes nas frações extraídas de S. vulgare ............................................................................................................64 TABELA 3 – Teores de açúcares totais, proteínas, compostos fenólicos e sulfato dos polissacarídeos sulfatados, fucanas das frações extraídas com acetona 1,0 M (SV1) e purificadas (PSV1) de S. vulgare............................................................................66 TABELA 4 – Percentual de varredura de Radicais DPPH pelos polissacarídeos de SV1 e PSV1...............................................................................................................88 LISTA DE ABREVIATURAS/SIGLAS µg: micrograma µl: microlitro aPTT: Tempo de Tromboplastina Parcialmente Ativada CAM: Membrana corioalantóica CAT: Catalase CS: Condroitin sulfato DS: Dermatan sulfato EDTA: Ácido etilenodiamino tetra-acético eNOS: Óxido nítrico sintetase endotelial ERMO: Espécies Reativas do Oxigênio Molecular g: grama GSH: Glutationa Reduzida GSH-Px: Glutationa Peroxidase GSH-Rd: Glutationa Redutase h: hora H2O: Água H2O2: Peróxido de Hidrogênio HE: Hematoxilina e Eosina HS: Heparan sulfato IL-1ß: Interleucina 1ß IL-6: Interleucina 6 IL-8: Interleucina 8 Kg: quilograma LDL: Low Density Lipoprotein LPS: Lipopolissacarídeo M: Molar min: minuto ml: mililitro mM: milimolar MTT: Brometo de 3- (4,5- dimetiltiazol)-2,5- difenil tetrazolium NF-κB: Fator nuclear capa beta NK: Natural killer nm: nanômetro nNOS: Óxido nítrico sintetase neuronal NO: Óxido nítrico NO2: íon nitrito NO3: íon nitrato O-2: Ânion superóxido O2: Oxigênio molecular ºC: graus centígrados OH: Radical hidroxila PBS: Tampão salina fosfato PI: Iodeto de Propídeo PDA: Diaminopropanoacetato PT: Tempo de Pró-trombina ROS: Espécies reativas do oxigênio SOD: Superóxido Dismutase TNFα: Fator de Necrose Tumoral α v: volume VCAM-1: Molécula de adesão de células vasculares 1 VEGF: Fator de Crescimento Endotelial Vascular μM: Micromolar SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................18 1.1. Algas marinhas .......................................................................................18 1.2. Fucanas ...................................................................................................21 1.3. Hemostasia .............................................................................................22 1.4. Coagulação .............................................................................................24 1.5. Trombose ................................................................................................27 1.6. Angiogênese ...........................................................................................30 1.7. Inflamação ...............................................................................................33 1.8. Antioxidantes ..........................................................................................36 2. OBJETIVOS .........................................................................................................40 3. MATERIAIS E METÓDOS ...................................................................................41 3.1. Material Biológico ...................................................................................41 3.1.1. Alga Marinha..................................................................................................41 3.1.2. Plasma Humano.............................................................................................42 3.1.3. Células............................................................................................................42 3.1.4. Animais...........................................................................................................42 3.1.5. Ovos de galinha fertilizados.........................................................................43 3.2. Outros Materiais .....................................................................................43 3.2.1. Kits e Reagentes .........................................................................43 3.2.2. Padrões .......................................................................................45 3.2.3. Aparelhos .....................................................................................45 3.3. Obtenção dos polissacarídeos sulfatados ..........................................46 3.4. Eletroforese em gel de agarose ............................................................47 3.5. Análises químicas ..................................................................................47 3.5.1. Dosagem de Açúcares Totais ......................................................47 3.5.2. Dosagem de Sulfato ....................................................................48 3.5.3. Dosagem de Proteínas ................................................................48 3.5.4. Dosagem de Compostos Fenólicos .............................................48 3.6. Purificação ..............................................................................................49 3.7. Análise de Infravermelho .......................................................................49 3.8. Composição Monossacarídica ..............................................................50 3.9. Ressonância Magnética Nuclear ...........................................................50 3.10. Avaliação das Atividades Biológicas .................................................50 3.10.1. Ensaios da avaliação da ação de SV1 e PSV1 na angiogênese.50 3.10.1.1. Método de CAM.................................................................50 3.10.1.2. Ação na tubulogênese in vitro............................................51 3.10.1.3. Dosagem do Fator de Crescimento Endotelial Vascular.52 3.10.2. Ação de SV1 e PSV1 na viabilidade celular in vitro (Ensaio de MTT)..........................................................................................................53 3.10.3. Ensaio de apoptose (Anexina V-FITC/ PI) e distribuição do ciclo celular nas células endoteliais da aorta de coelho (RAEC)......................................................................................................53 3.10.3.1. Ensaio da Apoptose( Anexina V-FITC/PI).......................54 3.10.3.2. Ensaio da distribuição das células no ciclo celular.......54 3.10.4. Atividade anticoagulante..............................................................55 3.10.4.1. Tempo de Tromboplastina Parcial ativada......................56 3.10.4.2. Tempo de Protrombina ...................................................57 3.10.5. Atividade Enzimática de fatores da coagulação (Ensaio do substrato cromogênico).............................................................................58 3.10.5.1. Ensaio de atividade da trombina........................................58 3.10.5.2. Ensaio de atividade do Fator Xa........................................59 3.10.6. Atividade antitrombótica in vivo....................................................59 3.10.7. Atividade Antiinflamatória.............................................................60 3.10.8. Atividade Antioxidante- Sequestro de radicais DPPH..................60 3.10.9. Avaliação da ação citotóxica de SV1 e PSV1 sobre hemácias de grupos sanguíneos ABO e Rh positivo e negativo (Hemólise direta).......61 3.10.10. Análise estatística.......................................................................62 4. RESULTADOS ....................................................................................................63 4.1. Extração e purificação dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha Sargassum vulgare ..........................................................................63 4.2. Perfil eletroforético de SV1 e PSV1 ......................................................66 4.3. Análises espectroscópicas ...................................................................67 4.3.1. Espectroscopia de infravermelho de SV1 e PSV1 .....................67 4.3.2. Ressonância Magnética Nuclear (RMN) de PSV1 ......................69 4.4. Atividades Biológicas ............................................................................71 4.4.1. Atividade Antiangiogênica............................................................71 4.4.1.1. Teste da Membrana Corioalantóica (CAM).......................71 4.4.1.2. Tubulogênese em células da linhagem RAEC..................72 4.4.1.3. Dosagem de fator de Crescimento Endotelial Vascular secretado por células da linhagem RAEC................................73 4.4.2. Ação de SV1 e PSV1 na viabilidade de diferentes linhagens celulares in vitro.........................................................................................74 4.4.3. Avaliação da ação de SV1 e PSV1 na apoptose e ciclo celular de RAEC.........................................................................................................76 4.4.4. Atividade anti-inflamatória 4.4.4.1. Avaliação da ação de SV1 e PSV1 em um modelo de edema de pata induzido por carragenana................................80 4.4.4.2. Análises Histólogicas.........................................................81 4.4.5. Atividade Anticoagulante..............................................................83 4.4.6. Ensaio de atividade de fatores de coagulação.............................84 4.4.6.1. Ensaio do substrato cromogênico da trombina..................84 4.4.6.2. Ensaio do substrato cromogênico do Fator Xa..................85 4.4.7. Avaliação da ação de SV1 na atividade antitrombótica in vivo...86 4.4.8. Atividade Antioxidante..................................................................88 4.4.9. Avaliação da Ação citotóxica de SV1 sobre hemácias do grupo ABO e diferentes Rh .................................................................................89 5. DISCUSSÃO ........................................................................................................91 6. CONCLUSÕES ..................................................................................................103 REFERÊNCIAS .......................................................................................................104 1.0. INTRODUÇÃO 1.1. Algas marinhas As algas são organismos cujas linhagens filogenéticas têm origem há mais de 3 bilhões de anos (HAN & RUNNEGAR, 1992; SCHOPF, 1993). Esses organismos compreendem um agrupamento artificial que tem pouca coisa em comum, a não ser o fato de serem seres aquáticos, desprovidos de um tecido constituído de células estéreis envolvendo os órgãos de reprodução. Estes organismos são dotados de um sistema diferenciado para condução de água. Por esta razão, são grupos polifiléticos e não constituem uma categoria taxonômica definida existindo um amontoado de categorias díspares, tão diversas que chegam a ser classificadas em 2 ou 3 reinos diferentes. Tradicionalmente são conhecidos como Monera, Protista e Plantae, ou ainda com diferentes denominações em outros sistemas apoiados em dados de biologia molecular (SOGIN et al., 1989; BHATTACHARYA & MEDLIN, 1998). A literatura taxonômica foi organizada de forma pedagógica, baseada no sistema proposto por Whittaker, 1969. Estudos feitos por este pesquisador consideraram que as espécies de organismos vivos seriam classificadas em cinco reinos: Animalia (Metazoa), Plantae, Fungi, Protista (eucariotos) e Monera (procariotos). Entretanto, os estudos realizados nos últimos anos mostram melhorias acentuadas na compreensão das relações evolutivas, graças aos avanços na filogenética molecular, bem como, no amadurecimento do conhecimento sobre várias características das células eucarióticas. Os eucariontes podem ser divididos em poucos grupos de origem monofilética, onde estão inseridas: Opisthokonta, Amebozoa, Plantae, Chromalveolata, Rhizaria e Excavata (Figura 1). Independente da taxonomia é inegável a enorme importância das algas para a biosfera. Do ponto de vista de sua importância econômica, as algas marinhas são utilizadas como alimentos para o homem e animais, e fornecem produtos imprescindíveis para a vida do homem moderno, com valores que ultrapassam alguns bilhões de dólares por ano. Por exemplo, o comércio de “nori” (gênero Porphyra) foi responsável pela movimentação 1,8 bilhões de dólares/ano no começo desta década (OLIVEIRA, 1996). Por serem organismos autótrofos, os gases gerados pelo processo de fotossíntese são responsáveis pela estruturação da atmosfera terrestre como a conhecemos possibilitando a vida dos organismos aeróbios na superfície do planeta (KIRSHNER, 1994; DUVE, 1996). As algas têm um papel fundamental na manutenção do ecossistema marinho, por serem os produtores primários desse ecossistema e participarem de maneira direta na sua enorme biodiversidade tanto na formação do fitoplâncton,como sendo elementos formadores dos recifes de coral e estando presas a diferentes substratos. Desta forma, as algas são fatores importantes para manutenção do ciclo do carbono e assim, contribuem de forma significativa para a manutenção do clima do planeta (OLIVEIRA, 1996). Devido à sua grande diversidade de habitats, as algas estão sujeitas a grandes variações de umidade, temperatura, radiação solar e salinidade, além de estarem expostas à rebentação e às forças abrasivas do movimento das águas. Além da sua enorme importância ecológica, as macroalgas marinhas ainda produzem outros metabólitos com potencial econômico importante como ácidos graxos, esteróides, carotenóides, lectinas, compostos halogenados, toxinas e, principalmente, os polissacarídeos sulfatados presentes em sua matriz extracelular. Esses compostos são alvo de pesquisas na área de farmacologia, e por seu uso potencial nas diferentes indústrias (LEITE ET AL., 1998, ROCHA, et al., 2006; MANDAL et al., 2008; LUO et al., 2009: MAKATENKOVA et al, 2009; POMIN, 2009, CIANCIA et al., 2010, JIAO et al, 2011). Polissacarídeos sulfatados compreendem um grupo de macromoléculas com um grande numero de propriedades biológicas. Esses polímeros aniônicos têm uma grande distribuição na natureza ocorrendo em uma grande variedade de organismos como mamíferos e invertebrados (ANAHTHI et al 2008; ANNIE et al., 2006). As algas marinhas são as fontes não animais mais importantes de polissacarídeos sulfatados. Entretanto, o tipo e estrutura desses polímeros varia de acordo com a espécie de alga. Desta forma, a cada novo polissacarídeo sulfatado de alga marinha que é purificado, tem-se um novo composto com estrutura única e, consequentemente, com potencial para novas atividades biológicas (BADMIS, GUPTA & SURESH, 2003). Figura 1. Árvore diagramática representando a organização dos eucariotos em seis grupos principais. Fonte: adaptado de Simpson, Roger, (2004). 1.2. Fucanas As algas da classe Phaeophyceae possuem em sua matriz mucilaginosa polissacarídeos sulfatados que possuem como principal característica a presença de unidades monossacarídicas constituídas por L-fucose e grupos sulfato (YANG et al, 2006). As fucanas se classificam quanto a sua composição monossacarídica em homofucanas, contituídas apenas por unidades de L- fucose e heterofucanas quando, além da fucose, são encontrados no polímero outros monossacarídeos como xilose, galactose, ácidos urônicos, D-manose e D- glicose (LEITE et al, 1998; DUARTE et al, 2001, PONCE et al, 2003). No geral, as heterofucanas são heterogêneas e ramificadas, o padrão de sulfatação é irregular, sendo bastante dificil propor estruturas para tais moléculas (BILAN et al, 2002).Devido à grande quantidade de cargas negativas relacionadas ao sulfato, as fucanas possuem um carater altamente higroscópico. Desta forma, estariam relacionados com a proteção da alga contra desidratação quando esta é submetida a longos períodos de exposição ao sol durante marés baixas. Além disso, a natureza mucilaginosa das fucanas parece tornar a alga flexível o bastante para crescer em ambiente líquido e rígida o suficente para permanecer estendida, de forma a melhor captar a luz e nutrientes existentes (PERCIVAL & MC DOWELL, 1967). 1.3. Hemostasia A hemostasia é uma resposta fisiológica protetora ao dano vascular resultando na exposição de camadas subendoteliais da parede do vaso aos componentes sanguíneos (MACKMAN, TILLEY, KEY, 2007). Este processo é bastante dinâmico, tendo como objetivo a interrupção do sangramento em local de lesão tecidual, no qual a coagulação do sangue é iniciada e terminada de forma rápida e bastante regulada (NATHAN et al., 2003). O sistema hemostático mantém o sangue em estado fluido sobre condições normais, e responde com rápida formação de um coágulo quando há lesão vascular (MACKMAN, TILLEY, KEY, 2007). No local de lesão são necessários mecanismos que restrinjam a formação de agregados plaquetários e o coágulo de fibrina, visando à manutenção da fluidez do sangue (HOFFBRAND, CATOVSKY, TUDDENHAM, 2005). O sistema hemostático é constituído por plaquetas, vasos sanguíneos, proteínas da coagulação, anticoagulantes naturais e o sistema de fibrinólise. O equilíbrio funcional da hemostasia é garantido por vários mecanismos envolvendo interações entre proteínas, respostas celulares complexas e regulação do fluxo sanguíneo (ZAGO, FALCÃO, PASQUINI, 2004). Vasos sanguíneos capilares são estruturas constituídas basicamente por uma monocamada de células endoteliais, as quais se interconectam para formar tubos que viabilizam o fluxo do sangue e a perfusão tecidual do organismo (TOBELEM, 1990; SWEENEY, 1998). A resposta primária da hemostasia envolve o endotélio vascular e plaquetas, formando o trombo plaquetário (de efeito transitório), que é reforçado pela fibrina gerada pelas proteínas da coagulação. O sistema fibrinolítico dissolve o trombo gradualmente visando à restauração do fluxo sanguíneo normal (ZAGO, FALCÃO, PASQUINI, 2004) e promovendo a degradação da fibrina mediada pela plasmina. Este sistema é composto por várias proteínas que regulam a formação da plasmina, gerada a partir do plasminogênio e de seus ativadores (COLLEN, 1999). No estado fisiológico não ocorre à formação e deposição de fibrina no compartimento intravascular devido às propriedades anticoagulantes do endotélio, à forma inativa das proteínas da coagulação e à presença de inibidores fisiológicos. No entanto, a perda do equilíbrio dinâmico das reações da coagulação conduz a distúrbios hemorrágicos ou trombóticos (COLMAN et al., 2001). Os polissacarídeos sulfatados de algas marinhas, como as fucanas, se destacam como fármacos promissores para um modelo semelhante a heparina, pois além de possuirem ação anticoagulante/ antitrombótica, possuem grande diversidade estrutural, podendo agir através de um mecanismo de ação diferente da heparina ( LEITE et al., 1998;ROCHA et al, 2006). 1.4. Coagulação A cascata de coagulação corresponde a várias seqüências de eventos nas vias extrínseca, intrínseca e via comum. Tais vias são catalisadas por enzimas inativas que se tornam ativas. O fator tecidual inicia a via extrínseca enquanto que a iniciação da via intrínseca é mediada pelo colágeno. Esta teoria enfatiza as proteínas procoagulantes sem considerar as células participantes na coagulação, cujas superfícies são essenciais para várias interações proteína-proteína (BIGGS, MACFARLANE, 1951, (MACFARLANE, 1964)). Na via extrínseca do sistema de coagulação ocorre a exposição do fator tecidual. Este fator é expresso por macrófagos, células epiteliais, e outros células t que estão, fisiologicamente separados do sangue e dos fatores da coagulação (OSTERUDE, 1998; GIESEN et al, 1999). O fator VII ativado (FVIIa) circulante se liga ao fator tecidual e o complexo gerado FVIIa–TF converte o fator IX e fator X em enzimas ativas, fator IX ativado (FIXa) e fator X ativado (FXa), respectivamente (SCHENONE, FURIE, FURIE, 2004; DAHLBACK, 2005). O FXa converte a protrombina (II) em trombina (IIa), e então, esta se associa com o fator XIII e gera o tampão de fibrina a partir do fibrinogênio (BIGGS, MACFARLANE, 1951). A via intrínseca é iniciada quando o fator XII (fator de Hageman) entra em contato com cargas negativas do endotélio subjacente, gerando o FXa através de uma cascata de ativação de zimogênios. Este processo é denominado “ativação por contato” e requer pré-calicreína (serina protease) e cininogênio de alto peso molecular (cofator não enzimático) (JENNY, MANN, 1998; COLMAN et al, 2001b) (Figura 2). Essa cascata explica a interpretação de testes de coagulação preliminares anormais como: o tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada. Observações experimentais e clínicas sugerem que esta teoria da cascata não reflete com precisão os eventos hemostáticos in vivo (BIGGS, MACFARLANE, 1951). Figura 2. Representação esquemática da cascata de coagulação. As letras pretas representam os precursores inativos (protrombina, V, VII, VIII, IX,X, XIII. As proteínas ativas estão apresentadas em vermelho. As setas em vermelho representam as vias de ativação de fatores da caogulação. As setas em laranja representam vias de ativação. (VERLI, 2005) No entanto, esta divisão da coagulação do sangue em via extrínseca e intrínseca é inadequada, uma vez que a separação dos processos hemostáticos in vivo não ocorre (JENNY, MANN, 1998; COLMAN et al., 2001). Outra teoria descreve a separação de duas vias para a formação do coágulo é substituída por outra na qual há ligação entre as duas vias e a existência de regulação por vários retroreguladores positivos e negativos (MCVEY, 1999). Esta nova hipótese leva em consideração as superfícies celulares dentro do processo da coagulação e que o fator tecidual apresenta papel central no processo (MORRISSEY et al, 1993). Os mecanismos hemostáticos estão associados a complexos enzimáticos procoagulantes, que compreendem serinoproteases dependentes de vitamina K (fatores II, VII, IX e X) e cofatores (V e VIII), localizados em uma superfície de membrana contendo fosfolipídeos (JENNY, MANN, 1998; COLMAN et al., 2001b). Esses complexos propagam o processo da coagulação e são formados na superfície de fosfolipídios carregados negativamente. O complexo tenase tem como constituinte o fator IXa e como seu cofator o fator VIIIa, enquanto que o complexo protrombinase apresenta o fator Xa e como seu cofator o fator Va. Os fatores VIIIa e Va derivam de proteínas precursoras circulantes e são convertidas, precocemente, em suas formas ativadas pela trombina ou fator Xa, durante a coagulação (SCHENONE, FURIE, FURIE, 2004; DAHLBACK, 2005; DAHLBACK, 2000; MANN, KALAFATIS, 2003; NICOLAES, DAHLBACK, 2002). O componente fosfolipídico é fornecido por tecidos celulares lesados, células inflamatórias e plaquetas ativadas, sendo estas últimas o principal contribuinte, expressando sítios de ligação para os complexos tenase e protrombinase. Ressaltase ainda, a necessidade dos íons cálcio para várias reações de coagulação (DRAKE, MORRISSEY, EDGINGTON, 1989; WILCOX, 1989). Os complexos tenase ativam o fator X, convertendo em FXa (forma ativada) e o complexo protrombinase converte a protrombina (II) em trombina (IIa). 1.5.Trombose Dentre as principais causas mundiais de morte (30% do total) estão as doenças que envolvem o coração e vasos sanguíneos e, conseqüentemente, trombose. A maioria dos processos tromboembólicos requerem terapia anticoagulante, o que explica os esforços atuais para desenvolver agentes anticoagulantes e anti-trombóticos potentes e específico (OLSON & BJORK, 1993). Desde a década de 1940, a heparina tem sido a droga predominante para o tratamento e prevenção da trombose venosa e tromboembolismo. No entanto, um efeito secundário da administração de heparina é a hemorragia (NADER et al, 2004). Além disso, um outro agravante seriam as preparações susceptíveis a contaminações, estando associadas a uma gama de efeitos adversos (GUERRINI et al, 2008; LIMA et al, 2011; SASSAKI, et al, 2011). O trombo pode ser definido como uma massa intravascular formada de componentes sanguíneos. (ZAGO, 2004). Em alguns casos, a doença constitui uma complicação de determinados tipos de cancro em fase avançada, sobretudo em caso de extensos tumores malignos da próstata e pâncreas, pois os tumores malignos, ao longo do seu rápido crescimento, podem corroer as paredes dos vasos sanguíneos vizinhos e transpor para a circulação determinadas substâncias tóxicas, elaboradas pelas próprias células tumorais, com a capacidade de ativar os mecanismos da coagulação. A deficiência da proteína C ou da proteína S está associada com um risco aumentado de trombose (COMP et al, 1984; GRIFFIN et al, 1981). É comum em doenças malignas, sendo a segunda causa mais comum de morte em pacientes com câncer (RICKLES, LEVINE, 1998). Em meados da década de 80, Colburn e Buonassi relataram que a superfície das células endoteliais tem atividade antitrombótica. Esses autores também afirmaram que quando ocorriam mudanças na superfície destas células, existia a possibilidade de formação de trombo. O heparam sulfato, um glicosaminoglicano presente na superfície e na matriz extracelular de células endoteliais possuindo atividade antitrombótica em vários modelos propostos por esses pesquisadores (COLBURN, BUONASSISI, 1982). Análises prévias demonstraram que células endoteliais quando na presença de heparina, aumentavam a síntese de heparam sulfato antitrombótico da superfície celular, e do heparam sulfato liberado no meio (NADER et al, 1989; PINHAL et al, 1995; PINHAL et al, 1994). A possibilidade de transmissão de príons e vírus para os pacientes tratados com este polissacarídeo é um fato, pois a heparina comercial é adquirida, principalmente, do intestino de bovinos e porcos (SHANMUGAM, MODY, 2000; BERTEAU & MULLOY, 2003). A atividade antitrombótica da heparina e de outros agentes antitrombóticos ocorre, pelo menos em parte, pela a ação destes nas células endoteliais estimulando a síntese de heparam sulfato antitrombótico (NADER, et. al., 2001). Heparina foi o primeiro composto usado como um agente anticoagulante e antitrombótico. Este composto anticoagulante forma um complexo ternário com a antitrombina III e com diferentes serina proteases da cascata de coagulação. A inativação da trombina pela antitrombina é acelerada mais de 1000 vezes na presença de heparina, que também potencializa o cofator II da heparina que é específico para trombina (SILVA& DIETRICH, 1975). A heparina pode exercer sua atividade antitrombótica também através da via do fator tecidual (TF), induzindo a síntese e liberação do TF pelas células endoteliais e deslocamento do TF ligado a membranas celulares (HANSEN et al, 2000; LUPU et al, 1999). 1.6. Angiogênese A formação de vasos sanguíneos pode ocorrer a partir de diversos processos, como a vasculogênese e a angiogênese, nos quais estão envolvidos diferentes mecanismos celulares, como a migração e diferenciação (RISAU, 1997). A vasculogênese é um processo definido como a formação de vasos sanguíneos a partir da diferenciação in situ de células tronco mesenquimais progenitoras de células endoteliais (angioblastos e hamangioblastos). Estas células precursoras são recrutadas de áreas de mesoderma adjacentes ao embrião e/ou originadas por divisão celular local, organizando ilhotas sanguíneas e estabelecendo um plexo vascular primordial (RUITER et al., 1992) (Figura 3). Figura 3. Esquema de diferenciação entre os processos de vasculogênese e angiogênese. Angiogênese é a formação de novos vasos capilares a partir de vasculatura pré-existente, sendo regulada por interações complexas entre fatores estimuladores e inibidores, incluindo fatores de crescimento, citocinas, enzimas proteolíticas, integrinas e componentes da matriz extracelular (BURGERMEISTER, et al, 2002). Algumas doenças são determinadas pela resposta angiogênica persistente devido a um aumento dos mediadores angiogênicos ou deficiência de inibidores, como, por exemplo, neoplasias, metástases, psoríase e artrite reumatóide. Os fatores ativadores da angiogênese interagem com glicosaminoglicanos e proteoglicanas, presentes na matriz extracelular, lâmina basal e receptores de superfície celular, regulando o crescimento, a proliferação, a migração, a diferenciação e a sobrevivência das células endoteliais sobre uma variedade de tipos celulares (SOLIMENE et al., 1999, CHIPPERFIELD et al., 2002). Os eventos teciduais que ocorrem nos processos de vasculogênese e angiogênese incluem a perda de adesão de células vizinhas, proteólise da matriz extracelular proximal, migração e proliferação celular, formação do tubo vascular (tubulogênese) e deposição da membrana basal (D’AMORE & THOMPSON, 1897; TOBELEM, 1990, KALLURI, 2003). Substâncias antiangiogênicas produzidas no tumor são capazes de frear o desenvolvimento de metástases em alguns tipos de tumores, o que confirmou as observações feitas anteriormente relacionadas com o incremento da agressividade das metástases após a exérese do tumor primário, fato esse que aumentou o interesse na procura de drogas que imitassem a ação de tais substâncias endógenas como são a Angiostatina e a Endostatina (O’RELLY et al, 1994, O´RELLY, et al, 1997, GIMBRONE et al, 1974). A angiogênese é um processo estritamente regulado, podendo ser rapidamente estimulado ou inibido (HANAHAN & FOLKMAN, 1996). Durante a resposta angiogênica, as células endoteliais, normalmente não proliferativas, são ativadas (FOLKMAN,1995) Um dos mais específicos e importantes fatores envolvidos na angiogênese é o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), o qual pode se ligar especificamente a diversos receptores da membrana da célula endotelial (FERRARA, et al, 2003). Além estimular a angiogênese, VEGF também é importante para manutenção da integridade e permeabilidade dos vasos sanguíneos (KECK, et al, 1989). Os membros da família VEGF estimulam respostas celulares por ligação a receptores da tirosina-quinase VEGFR na superfície da célula, causando-lhes a possibilidade de dimerizar e tornar-se ativado por meio transfosforilação. Os receptores de VEGF possuem uma porção extracelular consistindo de 7 domínios do tipo imunoglobulina, uma região transmembrana única e uma porção intracelular que contém um domínio da divisão tirosina-quinase . Na figura 4 observa-se um esquema básico dos ligantes e receptores do VEGF. Figura 4 .Uma visão geral da família VEGF e seus receptores (Fonte: Freitas et al., 2009) Os Fatores de crescimento de fibroblasto (FGF) também são uma família de fatores envolvidos na angiogênese e cicatrização de feridas. Existem evidencias comprovando sua ação no desenvolvimento embrionário. São proteínas que se ligam à heparina possuindo interações com heparan sulfato associados com proteínas, fundamentais na transdução de sinais. Os FGFs são de grande importância na proliferação e diferenciação de uma grande variedade de células e tecidos (Freitas et al., 2009). 1.6. Inflamação A inflamação ou flogose (do latim inflamare e do grego phlogos, que significa pegar fogo) é uma reação dos tecidos vascularizados ao agente agressor caracterizada pela saída de líquidos e de células do sangue para o interstício (PEREIRA E BOGLIOLO, 1998). As causas para as reações inflamatórias são muito variadas, entretanto os mecanismos de aparecimento são comuns. Pereira e Bogliolo (1998) classificaram-nas em causas endógenas e exógenas. As endógenas seriam aquelas derivadas de degenerações ou necroses tissulares e as derivadas de alterações na resposta imunológica (por imunocomplexo ou autoimune). Enquanto as exógenas poderiam ser atribuídas agentes físicos (calor e frio; eletricidade; radiações; sons e ultra-sons; magnetismo; gravidade; traumas mecânicos e atritos) e agentes Químicos (Inorgânicos e Orgânicos), ou até mesmo agentes Biológicos (Infecciosos ou Parasitários). A inflamação, tida essencialmente como uma resposta protetora que inicia o processo de reparação tecidual, é uma resposta inespecífica do corpo a lesões. O processo inflamatório envolve interações complexas entre as células inflamatórias (neutrófilos, linfócitos e monócitos/macrófagos) e células vasculares (células endoteliais e células da musculatura lisa) (DI ROSA, 1972). Um mecanismo essencial na resposta inflamatória é o recrutamento de macrófagos para atuar contra microorganismos invasores ou suas toxinas (HAVSTEEN, 2002). Os macrófagos podem ser ativados por diferentes meios como a ativação clássica e a ativação alternativa. A ativação clássica de macrófagos desencadeia a produção de óxido nítrico e citocinas pró-inflamatórias, além de estimular a fagocitose e a capacidade de eliminar o patógeno. Enquanto a ativação alternativa leva a secreção de citocinas anti-inflamatórias e redução da fagocitose e capacidade de eliminar o patógeno (GORDON, 2003). Processos inflamatórios estão ligados aos processos patológicos da angiogênese, porque induzem mediadores como o NF-kB que têm sítios de ligação nas suas regiões promotoras (COSTA, INACIO, SOARES, 2007). Durante a inflamação crônica, os microvasos neoformados são principalmente capilares com uma única camada de células endoteliais bem diferenciadas e formação de vasos de paredes finas desprovidos de músculos lisos (USHIO-FUKAI, 2006). Estudos indicaram que o crescimento do tumor não é apenas determinado pela acumulação de alterações genéticas pelas células cancerosas malignas. Numerosas células hospedeiras, tais como células inflamatórias, endoteliais e fibroblastos são recrutadas e ativadas no microambiente tumoral em desenvolvimento (DE VISSER, EICHTEN, COUSSENS, 2006; VAN KEMPEN et al., 2002). O sistema imunitário protege contra patógenos invasores e células transformadas, incluindo o câncer, e divide-se nas principais componentes da imunidade inata e adaptativa. A imunidade inata consiste mecanismos de defesa celulares, bioquímicos, físicos e estruturais que respondem rapidamente após os eventos perigosos, tais como encontros com micróbios ou células transformadas. Os componentes celulares da imunidade inata incluem as células dendríticas (DC), macrófagos e monócitos, neutrófilos, mastócitos, natural killer (NK), γδ células T e T células natural killer (NKT). As células do sistema imune inato reconhecem os agentes infecciosos através dos receptores para os componentes específicos de microorganismos patogênicos. As estruturas destes componentes são altamente conservadas com padrões moleculares associados, incluindo os receptores tipo Toll (TLRs) (LI et al, 2007). Ativação do TLR pode também conduzir, diretamente ou indiretamente, a regressão do tumor (TNF mediada) através de uma maior permeabilidade vascular (MARUYAMA et al, 2011), havendo o recrutamento de leucócitos, a ativação da atividade lítica tumoral das células NK e linfócitos T citotóxicos (CTL), e aumento da sensibilidade de eliminação de células tumorais por moléculas efetoras, tais como TRAIL, TNF, e granzima B / perforina (MARUYAMA et al, 2011; VANE & BOOTIN, 1987). A angiogênese e a formação de nova vasculatura são cruciais para o desenvolvimento e progressão tumoral. A grande distinção entre inflamação crônica e tumor nos processos angiogênicos é que na inflamação os leucócitos infiltrantes e plaquetas são principais fontes de fatores angiogênicos, enquanto que no câncer, os principais produtores são as células tumorais com menor contribuição dos leucócitos. A neovascularização tumoral parece ser um processo mais complexo que inclui vasculogênese e linfangiogênese (CARMELIET & JAIN, 2000). 1.8. Antioxidantes A formação de espécies reativas do oxigênio (ROS) é uma conseqüência natural do metabolismo aeróbico e é parte integrante para a manutenção da homeostase do oxigênio nos tecidos (Castro & Freeman, 2001). Cerca de 1-3% de oxigênio consumido pelo organismo é convertido em ROS (SOHAL & WEINDRUCH, 1996). Três dos principais ROS (radical superóxido, peróxido de hidrogênio e radical hidroxila) são subprodutos de metabólicos normais que são geradas continuamente pelas mitocôndrias nas células em crescimento (MCCORD, 2000; LOPACZYNSKI & ZEISEL, 2004). Modificação oxidativa do DNA, proteínas, lipídios e pequenas moléculas celulares por espécies reativas do oxigênio (ROS) desempenham um papel em uma grande variedade de doenças comuns e condições degenerativas relacionadas à idade, o câncer e uma vasta gama de outras doenças humanas (BOREK, 1993; REAVEN & WITZUM, 1996). Estresse oxidativo é o termo dado para definir os distúrbios no equilíbrio entre mecanismos antioxidantes e pro- oxidantes em favor da pró- oxidação, devido ao mecanismo de sinalização intracelular e a defesa contra micoorganismos (MATES et al, 1999; HU et al, 2004). Outros sintomas podem ser resultantes da produção de Espécies reativas do oxigênio associados com a ativação do sistema imune (JIMENEZ et al, 2001). O estresse oxidativo pode ser induzido por espécies reativas do oxigênio, acreditando-se ser o fator primário em várias doenças degenerativas, bem como no processo natural de envelhecimento (HALLLIWELL, GUTTERIDGE & CROSS, 1992). Os radicais livres podem facilmente iniciar a peroxidação de membranas lipídicas, acarretando no acúmulo de peróxidos lipídicos provocando ações deletérias no organismo. Em condições fisiológicas, todo o oxigênio molecular captado nas mitocôndrias e processado na cadeia respiratória, tem o papel de transportar elétrons a nível celular. Somente 1% a 5% destes escapam formando oxirradicais. Portanto, a maioria dos radicais livres é derivada do metabolismo do oxigênio (BANERJEE et al., 2005). Essas ERMOs são capazes de agredir uma grande variedade de biomoléculas (SINGH & RAIINI, 2004). Desta forma, podem ter um papel crítico sobre muitas doenças, como câncer (MARAMATSU, et al.; 1995), aterosclerose (STEINBERG, et al, 1989), úlcera gástrica (DAS, et al. 1997) e outras. Os antioxidantes são substâncias que neutralizam ou previnem a oxidação de substratos oxidáveis. O aumento desses efeitos podem causar a varredura das ERMOs, ativando a bateria de proteínas detoxificantes ou prevenindo a geração desses radicais livres (HALLIWELL, GUTTERIDGE & CROSS,1992). Apesar da grande ação dos radicais livres nos sistemas biológicos, as células possuem uma maquinaria enzimática de combate a esses agressores, defendendo-se dos mesmos em duas linhas principais. A primeira seria como detoxificadora, aniquilando o agente agressor antes que cause a lesão. Nesta linha tem-se a ação da glutationa reduzida (GSH), superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT), glutationa peroxidase (GSH-Px) e vitamina E. Na segunda linha a ação é de reparar a lesão ocorrida, sendo constituída pelo ácido ascórbico, glutationa redutase (GSH-Rd) e também pela GSH-Px (FERREIRA E MATSUBARA, 1997). O mecanismo de ação dessas enzimas e os cofatores necessários para sua ação estão demonstrados na Figura 5. Glutationa Peroxidase (selênio) Glutationa Oxidada Figura 5. Mecanismo de ação e cofatores necessários ás enzimas Superóxido dismutase, Catalase e Glutationa peroxidase. O ataque de radicais livres às membranas celulares gera uma variedade de consequências como a perda da seletividade na troca iônica e liberação do conteúdo de organelas e de enzimas hidrolíticas dos lisossomas, e formação de produtos citotóxicos tal como o malonilaldeído, culminando com a morte celular. A lipoperoxidação também pode estar associada aos mecanismos de envelhecimento, de câncer e à exacerbação da toxicidade de xenobióticos (ROSS & MOLDEUS, 1991). Assim como na formação das ERMOs, nem sempre os processos de lipoperoxidação são prejudiciais, pois seus produtos são importantes na reação em cascata a partir do ácido araquidônico (formação de prostaglandinas) e portanto, na resposta inflamatória. Todavia, o excesso de tais produtos pode ser lesivo (ROSS & MOLDEUS, 1991). Doenças, como a aterosclerose, podem ser resultante de um processo inflamatório crônico. Este processo pode ser iniciado e mantido pela oxidação de lipoproteínas de baixa densidade (LDL= do inglês low density lipoprotein) da parede vascular (BASKIN et al., 2003). A aterosclerose é um processo multifatorial e muitos estudos vêm demonstrando um possível papel do óxido nítrico (NO) neste processo (BASKIN, et al., 2003). Não existe experimentalmente um conceito para “antioxidante”, a menos que seja associado a noção do oxidante a ser neutralizado. Desta forma, o conceito de antioxidante in vitro poderia ser extendido a células, organismos, animais ou populações até que a evidência seja obtida (AZZI, DAVIES, KELLY, 2004). Nos últimos anos, muitos recursos marinhos têm atraído atenção na busca de compostos bioativos para desenvolver novos medicamentos e alimentos naturais. Algas comestíveis são uma fonte rica de fibra alimentar, minerais e proteínas. As algas marinhas marrons, dentre as demais, são dotadas de interessantes propriedades biológicas e farmacológicas e diante desse contexto estão sendo estudadas (KUDA et al., 2002; FLEURENCE, 1999). 2.0. OBJETIVOS Objetivo Geral Avaliar as características estruturais de fucanas da alga Sargassum vulgare e analisar seu eventual papel farmacológico e biológico. Objetivos específicos 1- Analisar os aspectos estruturais das fucanas (SV1) e de sua subpopulação (PSV1) isoladas de S. vulgare. 2- Observar a ação antiangiogênica das fucanas in vivo e in vitro. 3- Verificar a ação dos compostos na viabilidade de células das linhagens RAEC, RAW 264.7, B16- F10 e HeLa. 4- Verificar a ação dos compostos sobre a apoptose e sua influência no ciclo celular de células da linhagem RAEC 5- Observar a influência das fucanas sobre a secreção de VEGF em células RAEC. 6- Avaliar a ação das fucanas sobre eventos da coagulação e trombose. 7- Analisar o potencial antioxidante dos polímeros SV1 e PSV1 8- Verificar a ação anti-inflamatória das fucanas 9- Avaliar a ação citotóxica de SV1 sobre hemácias do grupo ABO e diferentes Rh 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Material Biológico 3.1.1. Alga Marinha A alga marinha utilizada nesse estudo, Sargassum vulgare, foi coletada na praia de Búzios (RN) em maré baixa (entre 0,0 e 0,2 metros). Logo após a coleta as algas foram limpas e secas em estufa a 45ºC. Classe: Phaeophyceae Ordem: Fucales Família: Sargassaceae Gênero: Sargassum Espécie: Sargassum vulgare Após serem coletadas, as algas forma levadas ao laboratório, onde foram lavadas e retiradas as epífitas e inclusões calcárias. Em seguida, foram secas em estufa a 45ºC, trituradas e guardadas em recipientes adequados. 3.1.2. Plasma Humano O sangue humano foi coletado com citrato de sódio (concentração final 0,82%) sob agitação leve, em frasco de polietileno esterilizado. O plasma foi separado por centrifugação e alíquotas de 10 mL foram estocadas a -20°C em fracos de vidro esterilizados. 3.1.3. Células A linhagem celular HeLa foi gentilmente doada pelo Departamento de Genética da UFRN. A linhagem celular CLPS foi gentilmente doada pelo Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UNIFESP. A linhagem HeLa e RAW foram cultivadas em meio DMEM (Dulbecco´s Modified Eagle´s Medium) e a linhagem CLPS foi cultivada em meio HAM F-12 (Cultilab). Em ambos, foram adicionados Estreptomicina (5000μg/mL)/ Penicilina (5000 UI). As células foram mantidas em ambiente estéril a 5% de CO2. 3.1.4. Animais Foram utilizados ratos da linhagem Wistar aproximadamente 3 meses de idade, pesando cerca de 250- 300g, obtidos do biotério do Departamento de Bioquímica-UFRN. Todos os animais utilizados experimentalmente foram mantidos em gaiolas individuais, submetidos a água e dieta ad libitum em condições controladas de iluminação (ciclo 12h claro/escuro) e temperatura constante a 25ºC. Os animais foram acondicionados no laboratório durante no mínimo 2 h antes dos testes e utilizados uma única vez para os experimentos. Uma vez utilizados experimentalmente, os animais foram sacrificados por deslocamento cervical. Os ensaios foram desenvolvidos de acordo com as normas vigentes, tendo sido previamente aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da UFRN, protocolo Nº 039/2010. 3.1.5. Ovos de galinha fertilizados Foram utilizados ovos de galinha fertilizados, coletados imediatamente após a postura, em granjas localizadas na região metropolitana da região da grande Natal. No laboratório, os ovos foram delicadamente higienizados com solução de hipoclorito de sódio a 10% e posteriormente utilizados para os testes de angiogênese. Os ensaios foram desenvolvidos de acordo com as normas vigentes, tendo sido previamente aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da UFRN, protocolo Nº 039/2010. 3.2. Outros materiais 3.2.1. Kits e Reagentes 1,3 diamino propano, Aldrich Chemical Co. Inc. (Milwake, WI, EUA). Acetona, metanol e etanol da Merck (São Paulo-SP) Ácido sulfúrico, álcool etílico, álcool metílico, coomassie brillant blue R250 (Aldrich Chemical Co. Inc. Milwake, WI, EUA), fosfato de sódio dibásico, fosfato de sódio monobásico, hidróxido de sódio, peróxido de hidrogênio da CRq (Diadema, SP, Brasil). Ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) da VETEC (Duque de Caxias, RJ, Brasil) Azul de toluidina, vermelho de cresol, coomassie blue R250, da Sigma Chemical Company (St. Louis, MO, EUA) Cloreto de ferro e Reagente de Folin- Ciocalteau da Merck (Darmstadt, Alemanha); Estreptomicina/ Penicilina, Gibco Invitrogen (California, Estados Unidos); Fenol e molibdato de amônia da Reagen Quimibrás Indústrias Químicas S.A. (Rio de Janeiro, RJ, Brasil) Kit de tempo de tromboplastina parcial ativada e Kit de tempo de protrombina da Labtest (Lagoa Santa, MG, Brasil); Kit de ELISA para VEGF da CalBiochem Novabiochem, Canadá; DMEM (Dulbecco´s Modified Eagle Medium) e RPMI 1640 da Cutilab, SP; Maxatase (protease alcalina P126), da BIOCON do Brasil Industrial Ltda. (Rio de Janeiro, RJ, Brasil) Membrana de PVDF (Millipores, Bedford, MA, USA); Substrato Cromogênico Fator Xa, Fator Xa Bovino, Trombina, substrato cromogênico B2- FUR-pNa da Sigma Sigma Chemical Company (St. Louis, MO, EUA). Bacto-gelatin da Difco Laboratories Heparina sódica 5000UI/ml (Ariston) Brometo de cetiltrimetilamônio (CETAVLON) (Britsh Drug House Chemical Ltd.; Poole , Inglaterra) Cloridrato de Xilazina a 2% e Cloridrato de ketamina 5% (Köning do Brasil, Ltda) 3.2.2. Padrões L- fucose, D- xilose, D- galactose, D- manose, D- glucose, D-arabinose, ácido d- glucurônico, ácido D- galacturônico, foram adquiridos da Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO, EUA). 3.2.3. Aparelhos Agitador de tubos mod AP 56 da Phoenix Ltda. (Araraquara, SP, Brasil); Agitador orbital mod. 255-B da FANEM Ltda. (São Paulo, SP, Brasil). Banhos e estufas de temperatura constante da FANEM Ltda. (São Paulo, SP, Brasil). Bombas peristálticas Microperpex S mod. 2232 da LKB (Bromma, Suécia) e Econo Pump mod. EP-1 da Bio Rad Laboratories (Hercules, CA, EUA). Centrífuga refrigerada RC 2-B da Ivan Sorvall Inc. (Norwalk, CO, EUA). Centrífuga refrigerada CR 21 da Hitachi Koki Co. Ltd. (Tóquio, Japão). Espectrofotômetros Varian - Series 634 da Varian Techtron PPTY Ltd. (Springvale, Vico, Austrália) e Hitachi U-2000 (Tóquio, Japão). Espectrômetro de infravermelho modelo FT1 6PC da Perkin Elmer (EUA) Evaporador rotatório Evapo-Mix da Buchler Instruments (Fort Lee, NJ, EUA). Medidor de pH, Orion Research model 701 A/ digital lonalyzer (Cambridge, MA, EUA) Fontes de corrente contínua regulável desenvolvidas pelo Dr. H. Rzeppa, Técnica Permatron Ltda. (São Paulo, SP, Brasil). Coagulômetro da Drake (São Paulo, SP, Brasil) Citrometro de Fluxo FACSCalibur (Becton Dickison, USA) Bancada de fluxo laminar- Pachane Pa300, Piracicaba- São Paulo; Incubadora Thermoforma Serie II Water CO2 Incubator HEPA Filter Model 3110- USA; Microscópio Nikon CFI60, Spectrum Bioengenharia Médica Hospitalar LTDA. São Paulo- São Paulo- Brasil 3.3. Obtenção dos polissacarídeos sulfatados A alga coletada foi acondicionada em sacos plásticos e conduzida até o laboratório de Glicobiologia Vegetal - Departamento de Bioquímica/ UFRN. Subsequentemente foram retiradas as epífitas, e a alga foi lavada em água corrente, desidratada, triturada e verificada sua massa. Em seguida, a alga foi submetida ao processo de extração e fracionamento para a obtenção dos polissacarídeos sulfatados. Para a remoção dos lipídios, incluindo os pigmentos, a alga foi dessecada, pulverizada e foram adicionados 2 volumes de acetona. Posteriormente, a acetona foi retirada por filtração, sendo a alga colocada a temperatura ambiente para evaporação do solvente, obtendo-se desta forma, o pó cetônico. Ao pó cetônico foram adicionados 2 volumes de NaCl 0,15 M, ajustando-se o pH para 8,0. Em seguida, foi adicionada solução da enzima proteolítica maxatase (15 mg de maxatase por grama de pó cetônico), mantendo-se sob agitação a 60ºC, por 18 h. A suspensão foi então filtrada e o sobrenadante obtido foi denominado cru de polissacarídeos, o qual foi centrifugado a 8000 x g por 15 min. Após centrifugação, o precipitado foi desprezado. O sobrenadante foi fracionado com concentrações crescentes de acetona (0,3; 0,5; 1,0; 2,0 v) sob centrifugação a 8.000 x g por 15 min. Uma alíquota do sobrenadante foi removida para obtenção da FT (fração total) utilizando 3 v de acetona e centrifugação a 8.000 x g por 15 min (DIETRICH et al., 1995). A fração obtida a 1,0 v de acetona teve o melhor rendimento, sendo utilizada para maiores estudos. Essa fração foi chamada de SV1. 3.4. Eletroforese em gel de agarose Para o preparo do gel, a agarose (0,6%) foi dissolvida em tampão 1,3 diaminopropanoacetato (PDA) 0,05 M, pH 9,0 aquecido a 100 °C. Em seguida o gel foi colocado sobre lâminas de vidro medindo 7,5 x 5,0 x 0,2. Cerca de 5 μL das frações (10 mg/mL) foram aplicadas em poços no gel e submetidas à corrente elétrica por volta de 1 h e 30 min a 100 V, em cuba resfriada a 4ºC (DIETRICH, DIETRICH, 1976). Após o tempo de migração, o gel foi submerso em CETAVLON 0,1%, por 12 h a temperatura ambiente para a precipitação dos polissacarídeos. Depois desse processo, o gel foi seco em corrente contínua de ar quente e corado em azul de toluidina 0,06% por 15 min. O excesso do corante foi removido por solução descorante. Em seguida, a lâmina seca a temperatura ambiente. 3.5. Análises químicas 3.5.1. Dosagem de açúcares totais Os açúcares totais foram quantificados pelo método do fenol/ácido sulfúrico de acordo com Dubois et al., (1956), empregando o monossacarídeo fucose como padrão. As leituras foram realizadas a 490nm. 3.5.2. Dosagem de sulfato A determinação do teor de sulfato foi realizada após hidrólise ácida (HCl 6N, 6 h, 100°C), pelo método turbidimétrico da gelatina-bário (DODGSON, PRICE, 1962). Como padrão foi utilizado o sulfato de sódio (1 mg/mL), o qual foi submetido às mesmas condições das amostras em estudo. 3.5.3. Dosagem de proteínas O conteúdo protéico foi determinado pelo método de Bradford, (1976), usando o reagente Coomassie Blue Brilliant e a albumina bovina como padrão, com leitura realizada em espectrofotometro a 595 nm. 3.5.4. Dosagem de compostos fenólicos A concentração de compostos fenólicos foi determinada pelo método de Folin Ciocalteau (SWAIN, HILLS, 1959) com algumas modificações, usando 0,5 mL de etanol, 2,5 mL de água destilada, 0,25 mL de reagente de Folin Ciocalteau, 0,5 mL de carbonato de sódio, 0,5 mL das amostras de S. vulgare (1 mg/mL). A leitura foi realizada a 755 nm. Uma solução de ácido gálico em água destilada foi usada para elaboração da curva de concentração padrão. 3.6. Purificação A massa molecular foi determinada por cromatografia de gel filtração em Sepharose CL-4B (140×1.8 cm), utilizando para eluição solução de ácido acético 0,2 M. A massa molecular foi monitorada pela análise de açúcares totais (DUBOIS et al., 1956) utilizando-se dextranas de diferentes tamanhos como padrões (Pharmacia) de massas moleculares de 10.000, 40.000, 70.000, 133.000, 482.000 e 2.000.000 Da e por identificação de compostos aromáticos a 280 nm/ UV (DAHMANE, LASIA, ZHAO, 2008). A amostra coletada foi reunida e chamada PSV1. Esta amostra foi gentilmente cedida pela Profª. Drª. Luciana Guimarães Alves Filgueira do departamento de Bioquímica da UFRN. 3.7. Análise de Infravermelho A espectroscopia de infravermelho foi realizada em espectômetro FT-IR ABB Bomen modelo MB 104 (4000 a 400 cm -1). O composto foi analisado após secagem sob a forma de pastilha de KBr, sendo necessário 10 mg do composto teste para a análise. 3.8. Composição Monossacarídica A composição monossacarídica dos polissacarídeos sulfatados da alga Sargassum vulgare foi determinada através de cromatografia liquida de alta performance (HPLC) contendo um detector de índice refrativo modelo L-2490. Os polímeros foram hidrolisados (2M HCl, 100°C, 2h) e posteriormente analisados quanto a composição monossacarídica. Os seguintes açúcares foram utilizados como padrões de referência: galactose, glicose, fucose, manose, ácido glucurônico, ácido manurônico, N- acetil glicosamina e xilose. A fase móvel constituiu de uma mistura de 0,1mol/L de KH2PO4 (pH 10)- acetonitrila (80:20). O fluxo foi de 1.0 mL/min e a temperatura da coluna foi de 80°C. 3.9. Ressonância Magnética Nuclear A espectroscopia de RMN de H1 e C13 foram realizadas a 500 MHz usando um aparelho Varian Unity 500. A fucana sulfatada (PSV1) foi eluida na coluna de 10 cm X 1 cm Dowex 50-X8 Na+, e as amostras foram dissolvidas em aproximadamente 0,7 mL de D2O 99.8%. 3.10. Avaliação das Atividades Farmacológicas 3.10.1. Ensaios de Avaliação da Ação de SV1 e PSV1 na angiogênese 3.10.1.1. Método de CAM A inibição da angiogênese foi realizada pelo método da membrana corioalantóica (CAM – chorioallantoic membrane assay) de acordo com DEOCARIS (2005) com algumas modificações. Os ovos foram mantidos em uma incubadora a 37°C e 55% de humidade. No quarto dia, 5 mL de albumina foi aspirado e um orifício de 1,5 cm2 foi aberto no quinto dia. Em seguida, o orifício foi fechado e a incubação continuada até o sétimo dia com a inserção de diferentes concentrações (100 e 1000 µg/ovo ) de SV1 ou PSV1 em solução de agarose no CAM. Para o controle positivo e negativo foram utilizados espirolactona e heparina na concentração de 10 µg/ovo, respectivamente. Como branco foi utilizado a agarose, e as áreas neovascularizadas do CAM foram fotografadas e analisadas com resultados expressos pela medição por score (BURGERMEISTER et al., 2002). Tabela 1: Valores de escore utilizados para avaliação do efeito antiangiogênico no teste da membrana corioalantóica em ovos de galinha fertilizados Score Efeito observado valor 0: sem efeito Sem áreas livres de capilares 0,5: efeito muito fraco Area com densidade de capilares pouco reduzida ao redor do disco Pequena area livre de lcapilares ou 1,0: Efeito fraco médio a area com significante redução de capilares. Efeito observado emu ma area com o dobro do tamanho do disco. 2,0: Efeito Forte Area livre de capilares maior que o dobro do tamanho do disco. 3.10.1.2. Ação na Tubulogênese in vitro As células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) na densidade de 20.000 células em 250 µL foram semeadas em placas de cultura 24 poços cobertas por uma camada de 250 µL de matrigel (BD-Biosciences). As células foram incubadas em estufa com 2,5% de CO2 e observadas com 4, 8, 12 e 24 h em microscópio invertido para identificar a formação de túbulos capilares (SENEGAGLIA et al., 2008). 3.10.1.3. Dosagem do Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) O VEGF foi mensurado a partir de um Kit de ELISA "sanduíche” que se baseia em um imunoensaio enzimático empregando anticorpos policlonais. Um anticorpo policlonal purificado por afinidade, específico para a proteína VEGF, foi imobilizado na superfície dos poços de plástico fornecidos com o kit. A amostra a ser ensaiada (amostras de teste, padrões e controles) foram pipetadas aos poços, tendo a propriedade de ligar qualquer VEGF presente ao anticorpo de captura. O material não ligado foi removido por lavagem e um anticorpo policlonal, conjugado com anticorpo anti-VEGF foi adicionado aos poços. Após esta incubação, e um passo de lavagem, um substrato cromogênico foi adicionado aos poços. A peroxidase catalisa a conversão do substrato cromogênico tetra-methylbenzidine (TMB) a partir de uma solução incolor a uma solução azul (ou amarelo depois da adição do reagente de parada), a intensidade da coloração foi proporcional à quantidade de proteína VEGF na amostra. O produto da reação colorimétrica foi quantificado utilizando um leitor de microplacas A quantificação foi conseguida através da construção de uma curva padrão utilizando concentrações conhecidas de proteína VEGF (fornecido liofilizado). Através da comparação da absorbância obtida a partir de uma amostra contendo uma quantidade desconhecida de proteína VEGF com a obtida com os padrões, foi possível estabelecer a concentração de proteína VEGF na amostra teste. Assim, a cultura de células endoteliais de aorta de coelho (RAEC) foi exposta a 25, 50, e 100 μg SV1 e PSV1 (triplicata) e incubando-se durante 24 h a 37 ° C. Após a incubação, o meio de cultura foi aspirado. A quantidade de VEGF no meio de cultura das células RAEC foi determinada utilizando-se o kit de ELISA, conforme recomendam os protocolos do fabricante (Calbiochem, VEGF Elisa Kit). 3.10.2. Ação de SV1 e PSV1 na viabilidade celular in vitro (Ensaio de MTT) O método de MTT (brometo de 3-[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazolium) é um ensaio de viabilidade celular utilizado para determinar a citotoxicidade após a exposição das células a substâncias testes. A citotoxicidade de SV1 e PSV1 foi medida como previamente descrita por Mosmann (1983) usando células endoteliais da aorta de coelho (RAEC). As culturas foram expostas a 25, 50 e 100 μg das fucanas (em triplicata) e incubadas a 37°C por 24 h. Após a incubação, 100 μL de meio F-12 contendo MTT (concentração final de 5 mg/mL), foi adicionado a cada poço, e as placas foram incubadas a 37°C por 4 h. Decorrido o tempo, o sobrenadante foi removido e 100 μL de etanol P.A. foram adicionados a cada poço para solubilizar os cristais de formazan. Após homogeneização, a leitura foi realizada a 570 nm. Os ensaios com as linhagem celulares HeLa, melanoma B-16 e Raw foram procedidos da mesma maneira, entretanto o meio de cultura utilizado foi o DMEM. 3.10.3. Ensaio de apoptose (Anexina V-FITC/ PI) e distribuição do ciclo celular nas células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) 3.10.3.1. Ensaio de apoptose (Anexina V-FITC/ PI) A morte das células RAEC foi avaliada utilizando-se a anexina V- isotiocianato de fluorosceína – anexina V-FITC (detecção da exposição da fosfatidilserina na membrana celular) e o iodeto de propídio (PI), de acordo com o kit de detecção de apoptose BD Pharmingen Annexin V-FITC (BD Biosciences, Franklin Lakes, NJ). As células RAEC foram cultivadas em meio F-12, a 37°C sob atmosfera de 2,5% de CO2. As células foram cultivadas em placas de 6 poços (100.000 células por poço) e deixadas por 24 h, até atingirem confluência. Após a incubação, as células foram carenciadas por 18 h e em seguida foram tratadas com 100 μg de SV1 e PSV1 (diluída em meio F-12) por 24 h. O sobrenadante, contendo as células não aderentes, foi removido e reservado em um tubo Falcon, o qual foi centrifugado a 1000 g por 15 min. As células aderentes na placa foram lavadas 2 vezes com tampão EBSS (contendo o indicador de pH vermelho de fenol) e em cada poço foi adicionado uma solução da enzima viocase (pancreatina) para descolar as células da placa. Em seguida, foi adicionado a cada poço meio F-12 contendo soro bovino fetal e a suspensão de células descoladas foi transferida para o tubo Falcon contendo as células não aderentes e que já foram submetidas ao processo de centrifugação. A suspensão de células aderentes e não aderentes na placa foram homogeneizadas e lavadas 2 vezes com tampão do kit diluído em PBS para ensaio de anexina V-PI e as células foram ressuspendidas em 50 μL. As células foram incubadas com 3 μL de anexina V e 5 μL de iodeto de propídio por 20 min a temperatura ambiente no escuro. Após a incubação, em cada tubo teste foi adicionado 350 μL do tampão do kit e as células foram imediatamente analisadas em citômetro de fluxo FACSCalibur (Becton Dickinson, USA). O ensaio foi realizado em duplicata. 3.10.4.2. Ensaio da distribuição das células no ciclo celular Para realização da análise da progressão do ciclo celular, as células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) foram submetidas a mesma metodologia aplicada para o ensaio de apoptose anexina V-FITC/ PI. A suspensão de células aderentes e não aderentes foram fixadas com formaldeído 2%, e incubadas a 4°C por 30 min. Após incubação, as células foram lavadas com PBS (150 mM, pH 7,4). Posteriormente, foi adicionado PBS contendo 0,01% de saponina, para permeabilizar as células. A seguir, foi adicionado uma solução estoque de RNase a 4 mg/mL em tampão acetato de sódio 0,05M, pH 5,0 contendo de MgSO 4 0,02 M. A suspensão foi incubada por 1 h a 37°C. Após este tempo, foram adicionados 5 μL da solução estoque de PI (5 mg/mL) a temperatura ambiente. As células foram homogeneizadas e em seguida transferidas para tubos de FACS, aos quais foram adicionados 300 μL de PBS. As células foram analisadas em citômetro de fluxo FACSCalibur (Becton Dickinson, USA). O ensaio foi realizado em duplicata. 3.10.4. Atividade anticoagulante O tempo de tromboplastina parcial ativada (aPTT) e o tempo de protrombina (PT) do pool de plasma citratado misturado a SV1 e PSV1 foram determinados por kits comerciais da Labtest (São Paulo, SP). O teste de aPTT avalia a influência dos compostos sobre os fatores da via intrínseca e comum da coagulação. O teste de PT serve para avaliar a influência sobre os fatores da via extrínseca e comum da coagulação. O sangue humano, utilizado na avaliação da atividade anticoagulante de SV1 e PSV1, foi obtido de voluntários sadios que não haviam utilizado medicamento ao longo de 2 semanas antes da coleta nem tinham feito uso de bebida alcoólica nos últimos três dias, assim como mulheres que não faziam uso de anticoncepcional. O sangue foi coletado por punção venosa e misturado cuidadosamente com citrato de sódio a 3,2%, na proporção de 9:1. Em seguida, o sangue foi centrifugado a 1000 x g por 10 min a temperatura ambiente. Após a centrifugação, o sobrenadante foi retirado e colocado em tubos plásticos siliconizados, representando o pool de plasma citratado. 3.10.4.1.Tempo de tromboplastina parcial ativada (aPTT) Para determinar o tempo de tromboplastina parcial ativada foram misturados 90 μL do pool de plasma citratado com 10 μL da SV1 e PSV1 contendo 5, 10, 25, 50, 100, 150, 200 μg, e incubados por 3 min a 37°C. Após esse tempo, foram adicionados 100 μL de cefalina pré-aquecida a mistura anterior, e incubado por mais 3 min a 37°C. Em seguida, foram adicionados 100 μL de CaCl2 pré-aquecido e o tempo para a formação do coágulo foi aferido em coagulômetro. Como controle foi utilizado 100 μL do pool de plasma citratado. Figura 6: Esquema do teste de tromboplastina parcial ativada (aPTT) 3.10.4.2. Tempo de protrombina (PT) Para a determinação do tempo de protrombina foram misturados 90 μL do pool de plasma citratado com 10 μL da SV1 ou PSV1 contendo 50, 75, 100, 150, 200 μg, e incubado por 3 min a 37°C. Após esse tempo, foram adicionados 200 μL do reagente soluplastin pré-aquecido a 37°C e o tempo para a formação do coágulo foi aferido em coagulômetro. Como controle foi utilizado 100 μL do pool de plasma citratado. Figura 7. Esquema do Tempo de Protrombina (PT) 3.10.5. Atividade enzimática de fatores da coagulação (Ensaio do substrato cromogênico) 3.10.6.1. Ensaio de atividade da trombina O ensaio do substrato cromogênico da trombina foi realizado em tubo de hemólise com volume final de 1 mL de acordo com Gaspar et al., (1995). modificado, utilizando trombina bovina a 8 NIH/mL em tampão TRIS-HCl 50 mM, pH 8,0. O substrato N-benzoyl-Phe-Val-Arg-γ-nitroamilidahydrochloride foi dissolvido em tampão e metanol em uma concentração de 3 mM. Para realização do ensaio 30 μL de trombina 8 NIH/mL, 815 μL de tampão e 10 μL da SV1 (3,1, 6,2, 12,5, 25 e 50 μg) foram incubados por 10 min a 37°C, e posteriormente foi adicionado 25 μL de substrato cromogênico da trombina na concentração de 3 mM. Essa mistura foi incubada por 20 min a 37°C. Após a incubação foi adicionado 120 μL de ácido acético 30% para parar a reação. A absorbância foi medida a 405 nm. O branco da amostra foi feito utilizando os mesmos reagentes, no entanto a adição do substrato só foi realizada após a reação ter sido parada com o ácido acético a 30%. Para avaliar a atividade total da enzima (100% de atividade enzimática), não foi adicionada a amostra teste. 3.10.5.2. Ensaio de atividade do FXa O ensaio do substrato cromogênico do FXa foi realizado em microplaca de 96 poços com volume final de 150 μL de acordo com Gaspar et al., (1995) modificado. O FXa foi dissolvido em tampão PBS 150 mM pH 7,4, com concentração final de 0,2 U/mL. O substrato cromogênico N-benzoyl-Ile-Glu-Gly-Arg-p-nitroanilide foi dissolvido em tampão PBS com concentração final de 1mM/mL. Para a ocorrência da reação 75 μL de tampão PBS, 20 μL de FXa e 10 μL de SV1 (3,1, 6,2, 12,5, 25 e 50 μg) foram incubados por 10 min a 37°C. Posteriormente, foram adicionados 25 μL de substrato cromogênico de FXa (1 mM/mL) e a mistura foi incubada por mais 30 min a 37°C. Após a incubação foi adicionado 25 μL de ácido acético a 30% para finalizar a reação. A absorbância foi lida a 405 nm. O branco da amostra foi feito utilizando os mesmos reagentes, no entanto o substrato somente foi adicionado após a reação ter sido parada com o ácido acético a 30%. Para avaliar a atividade total da enzima (100% de atividade enzimática), não foi adicionada a amostra teste. 3.10.6. Atividade Antitrombótica in vivo A atividade antitrombótica foi determinada utilizando o método descrito por Reyers et al., (1980). A amostra SV1 foi diluída em solução salina em doses individuais para cada animal de 5 e 10µg/g. Nos animais do grupo controle positivo foi administrado solução de heparina de baixo peso molecular a 1 µg/g, e o controle negativo usou-se apenas salina. Os compostos foram administrados na veia caudal em um volume total de 100 µL. Após 5 min., foi feita ligadura (fio Polycot) na veia cava inferior, distalmente ao ponto da origem da veia renal esquerda. A cavidade abdominal do animal foi então fechada com pontos simples (fio Monocryl). Após 1 h , a cavidade foi reaberta e nova ligadura foi feita 1 cm abaixo da primeira. O fragmento da veia cava entre as duas ligaduras foi removido e colocado em uma placa de Petri. O eventual trombo formado foi então retirado, lavado em solução salina e colocado em papel de filtro previamente seco e pesado. O papel de filtro contendo o trombo foi novamente secado à vácuo por 12 h e pesado. A diferença de peso antes e depois de conter o trombo permitiu determinar o peso seco do trombo formado. 3.10.7. Atividade Antiinflamatória A ação anti-inflamatória das fucanas foi avaliada através do testes de edema de pata induzido por carragenana. Ratos Wistar com 2 meses de idade foram anestesiados, divididos em 5 grupos iguais (n=5) e tratados com diferentes doses das amostras por via intraperitonial (25, 50 e 100 mg/kg de peso animal em 1 mL de solução salina 0,9%). 30 minutos após o tratamento, o edema foi induzido por apliacação de 0,1 mL de carragenana a 1% em solução salina na região subplantar da pata dianteira esquerda dos animais. A variação da espessura da pata foi aferida 30 minutos antes e 1 a 4 horas depois da indução da inflamação com a utilização de paquímetro digital (WINTER, RISLEY & NUSS, 1962). Por fim, os animais foram eutanasiados. A inibição do edema foi expressa tendo como parâmetro o volume da pata dos controles. 3.10.8. Atividade Antioxidante - Sequestro de radicais DPPH A atividade seqüestradora de radicais 2,2-difenil-1-picrilhidrazil (DPPH) foi determinada de acordo com o método de Ye et al., (2008) modificado. Assim, 0,1 mL de concentrações variadas (0,08 – 5,0 mg/mL) das frações SV1 e PSV1 foram adicionados em 1,5 mL de solução etanólica de DPPH (0,1 mM)8 Após 30 min em temperatura ambiente, a absorbância foi mensurada a 517 nm. A atividade seqüestradora de radicais DPPH foi determinada pela fórmula: atividade seqüestradora (%)= (1- Aamostra/ Acontrole) x 100, onde Acontrole se refere a absorbância da solução etanólica de DPPH na ausência da amostra, a qual foi substituída por álcool etílico (absorbância do controle), e Aamostra se refere a absorbância da solução etanólica de DPPH na presença da amostra teste (absorbância da amostra). 3.10.9. Avaliação da ação citotóxica de SV1 e PSV1 sobre hemácias de grupos sanguíneos ABO e Rh positivo e negativo (Hemólise direta) O ensaio de atividade hemolítica direta foi realizado de acordo com Belokoneva et al., (2003) com algumas modificações. O sangue foi coletado por punção venosa e misturado ao anticoagulante EDTA. As hemácias foram lavadas com tampão PBS (0,15 M, pH 7,4) e centrifugadas até que o sobrenadante permanecesse transparente. Para o ensaio, foi utilizada uma suspensão de hemácias a 10% v/v em tampão PBS, a qual foi incubada com diferentes massas (25, 50 e 100 μg) de SV1 e PSV1 a temperatura ambiente por 1 e 6 h. Após a incubação, as misturas foram centrifugadas a 800 x g por 5 min, e os sobrenadantes lidos a 540 nm. Como controle positivo foi utilizado o Triton X-100 a 1% e como controle negativo tendo o PBS substituido a amostra teste. O resultado foi expresso em porcentagem de hemólise (%) = (A amostra – A PBS) / (A Triton X-100 a 1% - A PBS), onde A amostra, A PBS e A Triton X-100 a 1% se referem às absorbâncias das amostras testes, do controle negativo (PBS) e do controle positivo (Triton X-100 a 1%), respectivamente. As reações foram realizadas em triplicata usando sangue de diferentes tipos sanguíneos (A, B, AB e O positivos) como também de diferentes fatores Rh (A positivo e A negativo). 3.10. Análise estatística As atividades farmacológicas testadas foram analisadas estatisticamente pela Análise de variância (ANOVA) com nível de significância de p< 0,05 e pelo Teste de Turkey-Kramer para determinar as diferenças entre os valores obtidos para os grupos controle e experimentais (comparações múltiplas) com níveis de significância de p<0,05. 4.0. RESULTADOS 4.1. Extração e purificação dos polissacarídeos sulfatados da alga marinha Sargassum vulgare Para a obtenção dos polissacarídeos sulfatados, a metodologia utilizada combina digestão proteolítica, através de uma enzima de proteólise não específica obtida de Sporobacillus, chamada maxatase, e precipitação com volumes crescentes de acetona (DIETRICH et al., 1995). A variação gradual da proporção do solvente diminui a constante diéletrica da água, promovendo a precipitação de diferentes populações de polissacarídeos sulfatados a cada fração. Quatro diferentes populações polissacarídicas foram obtidas (0,3; 0,5; 1,0 e 1,5v) a partir da precipitação gradativa do cru de polissacarídeos obtido de Sargassum vulgare. (Tabela 01). A fração eluída a 1,0v de acetona apresentou o melhor rendimento (39%) e alto teor de açúcares totais, sendo a fração utilizada para os processos de purificação (Figura 8). Figura 8. Rendimento percentual das frações polissacarídicas extraídas de S. vulgare com diferentes concentrações de acetona (0,3 0,5, 1,0 e 1,5v) Observa-se na figura 8 o rendimento das frações resultantes do fracionamento em acetona. A fração de maior rendimento foi a fração precipitada com acetona 1,0v denominada de SV1. Uma alíquota de 50 mg de SV1 foi eluída em uma coluna de gel filtração Sepharose CL-4B. Desta forma, foi possível remover os pigmentos presentes na amostra e também ter uma medida estimada de sua massa molecular (Figura 9). Na tabela 2 podemos observar que todas as frações possuem ácidos glucurônicos principalmente, as frações 0,3 e 0,5v. As frações 1,0v e 1,5v apresentaram um maior teor de sulfatos 14,2 e 17,3% respectivamente. Das quatro frações analisadas a fração precipitada com 1,0 v de acetona (SV1) foi a que apresentou um maior rendimento em massa e em valores de açúcares totais. Tais dados foram similares aos obtidos por Alves em 2003, com essa mesma espécie de alga. Tabela 2. Percentual de monossacarídeos consituintes das frações de polissacarídeos sulfatados de Sargassum vulgare. Açúcares Manose Proteínas Fração Fucose Totais Galactose Xilose (%) (%) (%) Ácido Sulfato Glucurônico(%) (%) (%) (%) (%) 0.3v 16,6 0,7 2,0 1,3 3,4 n.d. 89,4 3,1 0.5v 27,8 1,5 4,0 3,5 14,8 5,3 62,8 10,4 1.0v 63,1 0,8 36,8 11,1 22,6 n.d. 53,1 15,6 17,3 12,4 17,1 8,1 (SV1) 1.5v 57,8 n.d (não detectado) 5,7 n.d. 3,1 A fração SV1 foi eluída em frações de 2 mL e monitorada pelas dosagens de açúcares totais. As frações reunidas foram aquelas que apresentaram maior dosagem de açúcares totais, sendo chamada de PSV1. A amostra apresentou um peso molecular de 160 KDa e baixo teores de compostos fenólicos (0,9%) em relação a SV1, parte desta fração purificada foi gentilmente cedida pela Profª. Drª. Luciana Guimarães Alves Filgueira. Figura 9: Perfil de eluição de SV1 em cromatografia de gel filtração Sepharose CL-4B. Cerca de 50mg de cada fucana foram submetidos a cronmatografia em coluna de gel filtração. As frações de 2mL foram coletada a partir de um coletor de fração acoplado a coluna e o acompanhamento do perfil de eluição foi feito pela dosagem de açúcares totais. A tabela 3 mostra a composição química geral da PSV1, mostrando que o processo de purificação resultou numa perda da quantidade de proteína, açúcares totais e sulfato em relação à fração SV1. Tabela 3. Teores de açúcares totais, proteínas, compostos fenólicos e sulfato da fucana purificada (PSV1) a partir da SV1 Açúcares Proteínas (%) Totais (%) PSV1 Compostos Sulfato (%) Fenólicos (%) 50,2 n.d. 0,6 20,3 4.2. Perfil eletroforético das frações provenientes da acetona e de PSV1 O perfil eletroforético em gel de agarose, usando o sistema de tampão 1,3-diaminopropano e coloração com azul de toluidina, permitiu a observação de quatro tipos de populações polissacarídicas diferentes. Entretanto, conforme é caracterizado na literatura, as fucanas, de Sargassum vulgare, possuem perfil polidisperso menor e metacromasia característica dos compostos sulfatados de polissacarídeos de algas (Figura 10). 1 2 3 4 5 6 Figura 10. Eletroforese em gel de agarose das frações de polissacarídeos sulfatados de S. vulgare obtidas do fracionamento com acetona. Cerca de 50μg de cada fração forma submetidos à eletroforese em gel de agarose 0,6% em tampão PDA 0,05M, pH 9,0. A revelação foi feita com azul de toluidina 0,01%. Legenda: 1- Padrões de glicosaminoglicanos: CS- condroitim sulfato; DSdermatam sulfato; HS- heparam sulfato; 2- Fração eluída a 0,3v de acetona; 3- Fração eluída a 0,5v de acetona; 4- Fração eluída a 1,0v de acetona (SV1); 5- Fração eluída a 1,5v de acetona.; 6- Fucana purificada a partir de SV1 (PSV1). 4.3. Análises espectroscópicas 4.3.1. Espectroscopia de infravermelho de SV1 e PSV1 As amostras foram escaneadas em comprimentos de onda variando entre 500 e 4000 cm−1. Ambas amostras exibiram uma maior absorção de bandas na região entre 3423 e 3028 cm−1, estando relacionadas a ligação O-H. Também foram observadas picos 2143 e 1641 cm–1, correspondendo ao C-H do grupo metil da fucose e grupo carboxil do ácido urônico, respectivamente. Absorções a 840 cm-1 estão relacionadas a uma região de particular importância, pois indicam a presença do sulfato na posição axial do C4 da fucose (Figura 11 –linha vermelha), enquanto que quando encontramos este grupamento na posição equatorial, observa-se um pequeno pico na faixa 820 cm-l (DUARTE et al., 2001; OLSON et al., 1993). Uma banda foi encontrada em todas as amostras, com picos na região de 1255 cm-1, atribuída ao grupamento S=O e sugere a presença de ésteres de sulfato. Nos espectros apresentados, esse sinal está largo e provavelmente se sobrepõem ao sinal na faixa de 1044 cm-1, sendo esta marcação também relacionada ao sulfato. Figura 11. Espectroscopia de infra vermelho das frações SV1 (linha vermelha) e fração purificada PSV1 (linha azul) de polissacarídeos sulfatados de S. vulgare. 4.3.2. Ressonância Magnética Nuclear (RMN) da fucana purificada PSV1 A espectroscopia de RMN é um método bastante utilizado para a obtenção da estrutura geral de polissacarídeos. As análises de RMN foram usadas para determinar as características de PSV1. Estudos com esses polissacarídeos indicam uma estrutura bastante complexa. O espectro de RMN de 1H de PSV1 possui sinais na região anomérica a 5.0–5.5 ppm. O sinal a 4.61 ppm (Figura 12A) foi atribuído ao resíduo 3-D-galactopiranosil, conforme citado Ale et al. Esta complexidade dos polissacarídeos se reflete na qualidade do espectro. O espectro de 13 C de PSV1 exibe uma considerável complexidade, mostrando três sinais na região α-anomérica. Sinais entre 105 e 74 ppm corresponde aos carbonos anomérico pertencente a um monossacarídeo que contenha uma substituição de sulfato ou de outro monossacarídeo,em uma posição diferente do C1. Enquanto que o grupo com sinais a 71-66 ppm estariam relacionados aos carbonos sem substituição. No espectro de 13 C, sinais foram assinalados a 103.1 e 61.3 para galactoses e 100.8 para xilose (Figura 12). Figura 12. Análise dos polissacarídeos sulfatados (SV1 e PSV1) da alga marinha S. vulgare. A Fração SV1 foi analisada por espectroscopia de rmn de H1 e fração PSV1 por rmn de C13. 4.4. Atividades Biológicas 4.4.1. Atividade Antiangiogênica 4.4.1.1. Teste da Membrana Corioalantóica (CAM) As frações SV1 e PSV1 foram testadas no ensaio de CAM para avaliar seu potencial antiangiogênico. Um sistema de escore foi estabelecido de acordo com metodologia empregada por Burgermeister, et al, 2002. O escore 0 representa o crescimento normal de capilares e o escore 2 indica um forte efeito antiangiogênico com uma grande área livre de capilares (Tabela 1) . SV1 e PSV1 foram administrados em veículos de discos de agarose nas massas de 100 e 1000μg/ disco, e a heparina de baixo peso molecular usada como padrão. Nas concentrações testadas, SV1 e PSV1 apresentaram forte ação antiangiogênica, sendo atribuído escores 0.5 para heparina, 1.0 para SV1 100 e SV1 1000 e PSV1 100, e foi observado aumento no potencial antiangiogênico nos ovos tratados com PSV1 1000, sendo atribuído a este escore 2,0 (Figura 13). Figura 13: Ensaio CAM para verificação do potencial antiangiogênico de SV1 e PSV1. A: Branco (agarose); B- Heparina; C- SV1 100; D- SV1 1000; E: PSV1 100; F: PSV1 1000. 4.4.8.2. Tubulogênese em células da linhagem RAEC A figura 14 mostra que SV1 e PSV1 inibem a formação de tubos capilares. Observa-se que não há diferença entre as concentrações testadas de SV1, sendo o efeito das mesmas, semelhante ao apresentado pela heparina. Nas placas tratadas com PSV1, observa-se um efeito dose- dependente, há uma maior eficiência na inibição do contato entre as células quando estas são incubadas com concentrações mais altas do composto. Figura 14: Efeitos de SV1 e PSV1 na formação de tubos capilares de células endoteliais da 5 aorte de coelho (RAEC). RAECs (1×10 por poço) em meio contendo 10% de soro, foram semeadas em placas com matrigel e tratadas com diferentes concentrações SV1 e PSV1 (A: Controle; B: Heparina; C: SV1 25; D: SV1 50; E: SV1 100; F: PSV1 25; G: PSV1 50; H: PSV1 100. Fotomicrografia de contraste de fase (X100). 4.4.1.3. Dosagem de Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) secretado por células da linhagem RAEC PSV1 e SV1 inibiram significativamente a secreção de VEGF no meio de cultura das células RAEC incubadas com as amostras nas concentrações de 25, 50 e 100μg. Não há diferença estatística significante entre as amostras. Entretanto, fazendo a comparação entre as concentrações da mesma amostra foi visto que houve diferença significativa nas concentrações PSV1 25 (60,4%) e PSV1 50 (71,4%) (P˂0,001), PSV1 25 (60,4%) e PSV1 100 (69,3%) (P˂0,01), SV1 25 (66,9%) e SV1 100 (75,9%) (P˂0.01) e entre SV1 50 (68,3%) e SV1 100 (P˂0,01). A inibição da secreção de VEGF foi mais efetiva por PSV1 50 sendo da ordem de 71,4% e por SV1 100 de 75,9% (Figura 15). Figura 15. Inibição da secreção de VEGF. Valores expressos por média ± D.P. (n=3). Análise estatística em comparação de PSV1 e SV1: (***): P˂0,001; (*):P˂0,05. 4.4.2. Ação de SV1 e PSV1 na viabilidade de diferentes linhagens celulares in vitro Considerando o efeito contra células de origem tumoral, compostos que apresentam atividade citotóxica têm interessantes efeitos na quimioterapia somente quando sua toxicidade é alta para células tumorais do que para as células não tumorais. Então a ação dos polissacarídeos sulfatados de S. vulgare foi testada sobre a viabilidade de células tumorais e não tumorais. A viabilidade celular foi verificada em diferentes linhagens através do teste do MTT, que avalia a função mitocondrial de células viáveis através da conversão deste sal no seu derivado, o formazan. A RAEC é uma linhagem de células endoteliais normais, provenientes da aorta de coelho; A linhagem RAW 264.7 são macrófagos murinos; as linhagem HeLa e B16- F10 são células tumorais, a primeira é originada da cérvix humana e a outra é um melanoma de rato. O efeito das amostras analisadas frente às células demonstrou que ambas possuem mesma ação antiproliferativa em células tumorais (p˃ 0, 05) não apresentando diferença estatisticamente significante. Entretanto, PSV1 e SV1 foram mais efetivas como inibidoras da proliferação em células HeLa. Observou-se que PSV1 na concentração de 50 μg inibiu cerca de 47% da proliferação dessas células. Desta forma, ocorreu uma ação antitumoral direta frente às células HeLa. As amostras SV1 e PSV1 quando testadas com células endoteliais normais, não apresentaram inibição da proliferação celular. Entretanto, SV1 na concentração de 100 µg apresenta uma pequena inibição da proliferação, na ordem de 20%. SV1 exibiu ação proliferativa sobre as células RAW 264.7. Quando esta linhagem foi tratada com quantidades diferentes (25, 50, e 100 μg) de SV1 para 24, 48 e 72 h, a proliferação das células foi observada 127,67 ± 3,08%, quando as células foram incubadas com 25 ug de SV1, durante 72 h. Não houve diferença estatisticamente significativa com relação ao controle, quando essas células foram tratadas com diferentes concentrações de PSV1 (p> 0,05) (Figura 16). Figura 16. Efeito de SV1 e PSV1 isolados de S. vulgare na proliferação de células das linhas RAEC, HeLa, B16 e Raw 264.7. Células tratadas com 25, 50 e 100 μg de SV1 ou PSV1 por 24 horas. Nível de significância em relação ao controle: (***) p<0,001. Valores são médias ± desvio padrão (n=3). 4.4.3. Avaliação da ação de SV1 e PSV1 na apoptose e ciclo celular de RAEC Análises por citometria de fluxo demonstraram que células RAEC tratadas com PSV1 possuem um perfil semelhante às não tratadas (Figuras 18 e 19). Não existe diferença estatística significante entre as células não tratadas e aquelas tratadas com PSV1, entretanto, isso não é visto nas células tratadas com SV1. De acordo com a marcação das células, as viáveis são anexina V (-) PI (-), as células em apoptose recente foram anexina V (+) PI (-), as células em apoptose tardia foram anexina V (+) PI (+), e as células necróticas anexina V (-) PI (+). Desta forma, PSV1 não tem ação apoptótica e não ocasionou necrose. Entretanto, SV1 não possui este comportamento, causando apoptose precoce e tardia nas células tratadas. Análises do ciclo celular por citometria de fluxo mostrou que células RAEC tratadas com PSV1 e SV1 por 24 h apresentaram uma proporção modificada entre as fases do ciclo celular, com relação às células não tratadas (Figura 17). Assim, PSV1 e SV1 promoveram um aumento no número de células na fase S do ciclo celular, bloqueando a progressão para a fase G2. Indicando que os compostos são citostáticos. Fase do Células não Células tratadas Células tratadas Ciclo tratadas (%) com PSV1 (%) com SV1 (%) G1 83,79 ± 0,00 65,6± 2,77 64,83± 2,55 G2 7,81 ± 0,00 6,33 ± 1,01 6,27 ± 1.47 S 8,41 ± 0.00 28,26 ± 2,04 28,89 ± 1,08 G2/G1 2,00 ± 0,00 2,00 ± 0,00 2,00 ± 0,00 celular Figura 17. Análise da distribuição de células endoteliais da aorta de coelho (RAEC) no ciclo celular. Celúlas endoteliais não tratadas (A) Tratadas com PSV1 (B) e tratadas com SV1 (C) por 24 h.Valores são expressos em média ± D.P. (n=2). Figura 18. Análise da Citometria de fluxo com dupla marcação para anexina V e PI em células endoteliais da aorta de coelho (RAEC). Histograma: A e B: Controle Negativo (sem tratamento); C e D: Células tratadas com PSV1; E e F: Células tratadas SV1. Quadrante superior esquerdo: marcação negative para anexina V e positive PI (Células não viáveis- células necrótica); Quadrante superior direito: marcação positive para anexina e PI (Células não viáveis- células em apoptose tardia); Quadrante inferior esquerdo: marcação negativa para anexina V e PI (células viáveis); Quadrante inferior direito: marcação positiva para anexina V e negativa para PI (célula não viáveiscélulas em apoptose recente). Figure 19. Análise de citometria de fluxo com dupla marcação para anexina V e PI em células endoteliais da aorta de coelho. Células Viáveis: marcação negative para anexina V e PI; Células não viáveis: marcação positiva para anexina V e negative para PI (Células em apoptose recente); Marcação positiva para anexina V e negativa para PI (Células necróticas); Marcação positiva para anexina V e PI: Células em apoptose tardia. Nível de significância em relação ao controle (Células não tratadas): ( ) P>0.05; (a) P˂0.001 Teste T Student’s . Valores expressos em média± D.P. (n=2). 4.4.4. Atividade Antiinflamatoria 4.4.4.1. Avaliação da açãode SV1 e PSV1 em modelo de edema de pata induzido por carragenana O papel de SV1 e PSV1 na inflamação aguda induzidas por carragenana foi verificadas nas concentrações de 10, 30 e 50 mg/kg. O edema foi reduzido em todas as concentrações testadas em ambas as frações. Com diferença significante com relação ao controle (p<0,001) não havendo diferença estatísticamente significante com relação à solução salina (controle negativo) e entre as concentrações nos diferentes grupos (Figura 20). Figura 20: Ação antiinflamatória de SV1 e PSV1 em um modelo de edema de pata induzido por carragenana. Carragenana (Controle Positivo), Salina (Controle negativo), fração SV1 (10, 30 and 50 mg/kg) e fração PSV1 (10, 30 and 50 mg/kg). Nível de significância relacionado ao controle negativo(*) p < 0,05. Valores expressos em média± D.P. (n = 6). 4.4.4.2. Análises Histológicas As análises histológicas da região plantar dos animais demonstraram que aqueles que receberam apenas solução salina (controle negativo) e coradas com HE mostraram ausência de reação inflamatória (Figura 18- A). As lâminas dos animais que foram administrados apenas carragenana (controle positivo) apresentaram intenso infiltrado celular, característico de reação inflamatória (Figura 21- B). Na figura 21 observam-se os efeitos SV1 e PSV1 nos grupos dos animais tratados em concentrações de 10, 30 e 50 ,mg/kg, respectivamente. Pode-se notar que as diferenças histológicas são visíveis, principalmente, quanto ao grau de infiltrado celular do tecido analisado, sendo estas diferenças facilmente constatadas. Pode-se perceber ainda, que a estrutura geral do tecido e o recrutamento de células para o local da inflamação sofreram uma diminuição nas três concentrações dos tratamentos testadas. A C B D E G F H Figure 21. Análises histológicas do edema de pata induzido por carragenana e tratada com diferentes concentrações de SV1 e PSV1. HE (X10) A) Controle Positivo (Carragenana); B) Controle Negativo (salina); C) Animais tratados com SV1 a 10mg/kg; D) Animais tratdos com SV1 a 30 mg/Kg; E) Animais tratados com SV1 a 50 mg/kg; F) Animais tratados com PSV1 a 10 mg/kg; G) Animais tratados com PSV1 a 30 mg/Kg; H) Animais tratados com PSV1 a 50 mg/kg. 4.4.5. Atividade Anticoagulante Os testes de PT e aPTT foram usados para distinguir os efeitos dos polissacarídeos na via extrínseca e intrínseca da coagulação, respectivamente. A atividade anticoagulante foi avaliada em diferentes concentrações das amostras. Observou-se que SV1 aumentou drasticamente o tempo de coagulação relacionado ao controle no teste de aPTT, sendo avaliada a ação deste composto sobre a via intrínseca e comum da coagulação sanguínea (p<0,001). Os resultados mostram que SV1 promoveu um aumento máximo no tempo de coagulação no teste de aPTT, quando utilizados 50 e 100 µg. As análises realizadas também demonstraram que SV1 não alterou o tempo de coagulação no teste de PT. A fração PSV1 não apresentou efeito anticoagulante em nenhuma das concentrações testadas nos dois testes. Figura 22: Ação anticoagulante de polissacarídeos sulfatados de SV1. Tempo de Tromboplastina parcial ativada (aPTT) e Tempo de Protrombina (PT) do pool de plasmas tratados com diferentes concentrações de SV1 (0; 6,7; 12,5; 25, 50 e 100 μg) Nível de significância relacionados ao controle negativo p < 0.05; **p < 0.01; ***p < 0.001. Valores são expressos como média ± D.P. (n=3). 4.4.6. Ensaio de atividade de fatores da coagulação 4.4.6.1. Ensaio do substrato cromogênico da trombina Considerando que apenas SV1 possui ação anticoagulante, apenas essa fração foi utilizada para avaliar seus efeitos sobre a inibição direta de fatores da coagulação. Utilizando-se o ensaio do substrato cromogênico da trombina, pode-se observar que a SV1 quando utilizada as concentrações de 3,1; 6,2; 12,5; 25 e 50 μg/ 10μL. SV1 mostrou atividade inibitória ótima para a trombina a 12,5 μg/ 10μL (55,3±1.13%) e 25 μg/ 10μL (54,2±2,18%). Não há diferença estatisticamente significante entre as concentrações 12,5 e 25 μg/ 10 μL (p < 0,05). Figura 23: Ensaio do substrato cromogênico da trombina. Atividade inibitória da SV1 sobre a atividade enzimática da trombina. Valores foram expressos por médias ± desvio padrão (n=3). Nível de significância em relação ao controle (100% de atividade enzimática). 4.4.6.2. Ensaio do substrato cromogênico do Fator Xa Utilizando o ensaio do substrato cromogênico do FXa, podemos observar que SV1 quando utilizada as concentrações 3,1, 6,2, 12,5, 25 e 50 μg/ 10 μL mostrou ação estimulatória de 19,2%, 30%, 31,7% e 38,9% sobre a atividade enzimática do FXa (Figura 24), respectivamente nas quatro primeiras concentrações testadas, com diferença estatisticamente significante quando comparada ao controle negativo (p<0,01). O comportamento na concentração de 50 μg/ 10μL foi diferente, não houve estimulação da atividade do FXa, não havendo diferença estatisticamente significante com relação ao controle negativo (p>0,05). Figura 24: Ensaio do substrato cromogênico do Fator Xa. Atividade estimulatória da SV1 sobre a atividade enzimática do Fator Xa. Valores foram expressos por médias ± desvio padrão (n=3). Nível de significância em relação ao controle (100% de atividade enzimática). 4.4.7. Avaliação da ação de SV1 na Atividade Antitrombótica in vivo Considerando a forte ação anticoagulante e a inibição direta da trombina gerada pela ação de SV1, foram realizados ensaios de atividade antitrombótica in vivo em duas diferentes concentrações, utilizando-se como padrão de referência a heparina, fármaco mais utilizado para o tratamento de distúrbios da coagulação/trombose. Os resultados mostram que SV1 possui efeito antitrombótico similar ao da heparina, quando utilizado em concentrações dez vezes maior (10μg/ g de peso corporal), (Figura 25) exibindo diferença estatisticamente significante com relação ao controle (p < 0,001). Entretanto, quando os animais foram tratados na dose de 5 μg/ g de peso corporal, esta atividade sofreu drástica diminuição, comparando ao controle (p < 0,01). Figura 25: Atividade Antitrombótica dos polissacarídeos sulfatados de SV1. Nível de significância com relação ao controle negative (**) p < 0,01 e (***) p < 0,001. Nível de Significância entre heparina e SV1 10 (#)p > 0,05. Valores são expressos em media ± D.P. (n = 3). 4.4.8. Atividade Antioxidante O DPPH é um radical livre estável, utilizado frequentemente para estimar a capacidade de varredura de radicais livres de substâncias antioxidantes (JIMENEZESCRIG et al., 2001). Foi avaliada a ação de SV1 e PSV1 em diferentes concentrações (0.15, 0.3, 0.6, 1,2 e 2,5 mg/mL). Conforme mostrado na tabela 03, SV1 possui atividade varredora de radicais na ordem de 22,2% a 2,5 mg/mL. A capacidade antioxidante de PSV1 foi menor, tendo sua atividade máxima em torno de 13,9% na concentração de 3,0 mg/mL. Tabela 04: Percentual de varredura de Radicais DPPH pelos polissacarídeos de SV1 e PSV1 Massa de Varredura de radicais DPPH Varredura de radicais polissacarídeo por SV1 (%) DPPH por PSV1 (%) 0,15 10,0±0.7 4,5 ±0,07 0,3 11,2±0.4 4,8 ±0,76 0.6 11,9±0.2 7,9 ±0,72 1,2 12,3±1.8 8,1 ± 1,0 2.5 22,2±0.4 10.3 ±0,07 3,0 22,0±0.6 13,9 ± 2,7 (µg) 4.4.9. Avaliação da Ação citotóxica de SV1 sobre hemácias do grupo ABO e diferentes Rh De acordo com a metodologia aplicada, foi demonstrado que SV1 não possui ação citotóxica em eritrócitos, mostrada pela ausência de hemólise significativa nas concentrações testadas (25, 50 e 100 μg). Não foi detectada hemólise significativa nas hemácias de diferentes grupos sanguíneos ABO (A+, B+, AB+ e O+) e Rh (A+ e A-). Avaliando primeiramente a ação de SV1 nos nas hemácias de grupo Rh diferente, foi demonstrado maior ação citotóxica com 7,5 ± 0,7% de hemólise sobre hemácias A+ tratadas com 100 μg de SV1 por 1 h. O menor percentual de hemólise (3,8 ± 0,1%) provocado pela SV1 foi visualizado quando as hemácias A+ foram incubadas com 25 μg da fração por 1 h (Figura 26). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes (p>0,05) entre as hemácias dos grupos Rh positivo e negativo entre todas as massas testadas da SV1 (25, 50 e 100 μg), quando foi avaliado o mesmo tempo de incubação (1 ou 6 h). Isto demonstra que não existe influência do fator Rh na ação que a SV1 exerce sobre as hemácias. Também, não foram detectadas diferenças estatisticamente significativas entre as hemácias dos grupos B+, AB+ e O+ (p>0,05). Porém, a SV1 promove hemólise estatisticamente diferente (p<0,01) sobre hemácias do grupo A+ quando comparada com o percentual de hemólise provocado pela fração em estudo sobre as hemácias dos outros grupos ABO testados (B+, AB+ e O+). Assim, SV1 não provocou danos significativos nas membranas de hemácias dos grupos sanguíneos ABO e Rh como pode ser visualizado na Figura 26. Figura 26: Ação citotóxica de SV1 nos eritrócitos de diferentes tipos ABO e Rh (A) Hemólise direta nos eritrócitos A positivo e A negativo. Eritrócitos foram incubados por 1h a 6h usando diferentes concentrações de SV1. Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos Rh testados (p > 0,05). Nível de significância entre A+ e A− na primeira hora (**) p < 0,01. (B) Hemólise direta nos grupos de eritrócitos A, B, AB e O positivo. Eritrócitos foram incubados por 1h com 50 μg de SV1.Não houve diferença estatística significante entre os grupos B, AB e O(p > 0,05), diferença significante entre o grupo A e os demais grupos (***)p < 0,01. Valores expressos pela média ± D.P. 5.0. DISCUSSÃO No presente estudo foram extraídas quatro frações polissacarídicas da alga marinha marrom Sargassum vulgare. Após a determinação da composição monossacarídica verificou-se a presença de fucose em todas as frações, isto aliado ao fato de se ter encontrado sulfato em todas as frações e outros tipos de monossacarídeos, que se apresentam em proporções diferentes em cada fração, leva a preposição de que a alga em estudo sintetiza mais de um tipo de heterofucana e que elas se encontram distribuídas nas frações obtidas. Uma varredura na literatura com relação à estrutura de fucanas de algas demonstra que algas sintetizando mais de um tipo de fucanas não é uma exceção e sim uma regra. Os dados das pesquisas feitas pelo grupo em que está inserido esta tese, também não fogem a esta regra, todas as algas estudadas até o momento sintetizam mais de um tipo de fucana, como Lobophora variegata, Dictyota mertensis (Farias 1992), Dictyota menstrualis (Albuquerque et al., 2004), Padina gymnospora, (Silva et al., 2005), Canistrocarpus cervicornis (Câmara et al., 2011), Sargassum filipendula (Costa et al., 2011), Spatoglossum schroederi (Leite et al., 1998, Rocha et al., 2005). Semelhante a essas fucanas a SV1 também é uma heterofucana composta por xilose, fucose, manose, galactose e ácido glucurônico. Devido a sua contaminação por proteínas, ela foi submetida a outro passo de purificação. . Pois, a variabilidade do teor protéico nas fucanas estaria relacionado com o método de extração e com a espécie de alga analisada. Hussein e col. (1980) encontraram em fucanas de Padina povonia um elevado teor de proteínas (67%) enquanto que Detrich e col. (1995) obtiveram para Padina gymnospora valores compreendidos entre 1,6-7,5%. Já as fucanas de Fucus vesiculosus apresentaram índices de contaminação protéica variando entre 0,16% - 0,24%, (Carvalho, 2001). Outras fucanas que foram extraída de S. schröederi apresentaram contaminação inferior a 5,8% (Leite et al., 1998). Vale salientar, que nestes dois últimos casos as fucanas foram obtidas por metodologias semelhantes as utilizadas neste trabalho. Geralmente, as fucanas extraídas de algas encontram-se contaminadas com proteínas, entre tanto, a fucana PSV1 não apresentou contaminação que pode ser atribuído a metodologia de purificação utilizada. Devido a grande diversidade estrutural das fucanas, representantes dessa família têm sido descritos com as mais variadas massas moleculares. Massas de 500 kDa foram observadas para fucanas extraídas da alga Lessonia nigrescens (Percival et al., 1984). Já da alga Sargassum horneri, Preeprame et al., (2001) obtiveram uma fucana de 270 kDa. Por outro lado Nishino et al., (1994) descreveram uma heterofucana com uma massa molecular de 6.8 kDa. Já fucanas de S. schröederi apresentaram massas moleculares em torno de 21 kDa (Leite et al., 1998; Rocha et al., 2005). Por tanto, não há um consenso com relação a definição do que seriam fucanas de alta e baixa massa molecular, o que revela a contradição devido a grande variação de massas moleculares apresentadas.. Um exemplo disso, é a descrição de uma fucana de baixa massa molecular de 56 kDa (Nagaoka et al., 1999). Dentro desse contexto, a fucana PSV1 é considerada de alta massa molecular. Discrepâncias como essas deixam evidente a necessidade de uma melhor definição do que seriam fucanas de alta, média ou baixa massas moleculares. A composição monossacarídica realizada por HPLC de PSV1 mostrou que esta é composta por resíduos de fucose, galactose, xilose e manose, esses dados corroboram com os obtidos anteriormente por Alves, 2003, que analisou as fucanas presentes em difentes porções (folíolo, flutuador e talo) da alga S. vulgare. Análise dos monossacarídeos presentes numa fração polissacarídica de Sargassum stenophyllum mostrou que esta era composta por resíduos de α- L- fucose, β-Dgalactose, β- D- manose e β- D- xilose (DIAS et al., 2008). As algas do gênero Sargassum se encontram na ordem fucales, onde é muito comum encontrar algas que sintetizam homofucanas como Fucus vesiculosus (NISHINO, et al, 1994) e Ascophylum nodosum (JIANG, et al, 2011). Contudo, não há na literatura descrição de homofucanas sintetizadas por algas do gênero Sargassum, há apenas descrição de heterofucanas. Esta característica faz com que alguns autores passem a chamar as fucanas de Sargassum de sargassanas, estas são ricas em ácido glucuronico, xilose, manose e galactose, além de fucose (Kloareg e Quatrano, 1988). Composição semelhante foi observada nas heteofucanas de S. vulgare, o que indica que esta alga, assim como as demais sargassales, também sintetiza sargassanas. As fucanas possuem estruturas muito complexas devido às muitas possibilidades de combinações de diferentes açúcares e posições de sulfatação, o que aliado ao fato da presença de altas massas moleculares criam dificuldades para sejam determinadas todas as características estruturais desses polissacarídeos e faz com que mesmo técnicas modernas de estudos estruturais, como RMN de alto campo, fiquem no limite de suas capacidades, sem que com isso promovam uma resolução da estrutura de fucanas (Chevolot et al., 2001; Bilan et al., 2002). As fucanas de sargassum são complexas, como mostrado por Duarte e col. (2001). Estes autores demonstraram que a heterofucana da alga Sargassum stenophyllum era formada por uma estrutura central de -1-galactose6 e pequenas quantidades de (12), (13) e (14) -galactoses e -1-manose2. Podendo ocorrer sulfatação em C3 de -1-galactose-6, em C2 de -1-galactose4 e em de C4 das -1-galactose-2. As cadeias laterais eram formadas por -1fucose-2SO4-4 e/ou -1-fucose-4SO4-3, -1-ácido glucurônico-4, tendo -xilose e as vezes -glicose com açúcar na posição terminal não redutor. As -1-galactose6 poderiam estar dissubistituídas por cadeias laterais em C2 e C3 ou C2 e C4 e as -1-manose-2 substituídas em C4. Portanto, não foi surpreendente o fato de que os espectros de RMN de PSV1 serem bastante complexos, com várias sobreposições de picos. Contudo, como visto em resultados, alguns sinais caracteristicos de heterofucanas foram detectados, e que indicaram a presença de galactoses, fucose, xilose e ácido glucurônico em PSV1. A espectroscopia de infravermelho foi realizada com SV1 e PSV1, de maneira comparativa os picos apresentados em ambas frações estão em regiões semelhantes, entretanto as marcações são mais intensas na fração purificada. Nestes espectros, destaca-se o sinal para o grupo sulfato substituído ao C-4 da fucose. Os espectros mostram sinais semelhantes aos encontrados em outros estudos, como os encontrados por Duarte et al, 2001. Uma fração polissacarídica de Sargassum hemiphyllum apresentou um alto teores de carboidratos 86,4% e baixos teores de proteínas. Os resultados experimentais mostraram que essa fração consistia, principalmente, de xilose e glucose com pequenas quantidades de galactose, arabinose, ramnose e frutose (Ou, et al, 2006). Foi realizada uma varredura nas atividades farmacológicas de SV1 e PSV1. seus efeitos anticoagulantes, antitrombóticos, Foram considerados citotóxicos sobre hemácias, antioxidantes, antiinflamatórios, sobre a viabilide de células normais e tumorais e seu papel frente ao processo angiogênico. A angiogênese no tumor tem sido uma área intensamente investigada ao longo da última década, pois é um componente essencial no crescimento e propagação do câncer, sendo um importante alvo para investigações para seu uso na terapia (FOLKMAN, 1990). Avanços nessa área estão relacionados à descoberta de fatores de crescimento, tais como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) que regulamenta especificamente a proliferação de células endoteliais (FERRARA, 2000). É importante considerar que a vasculatura tumoral não é uma simples linha de fornecimento de nutrientes para tumores, ele governa a fisiopatologia do tumor, e assim, o crescimento, metástase e resposta a várias terapias (FUKUMURA & JAIN, 2007). Nesse contexto, PSV1 e SV1 se destacam por serem compostos que atuam diretamente sobre a inibição da angiogênese in vivo e in vitro. O ensaio da CAM em embriões de galinha, é talvez o mais largamente utilizado no modelo in vivo para o estudo do desenvolvimento de vasos. Com relação aos ensaios in vitro a avaliação da interferência de compostos sobre o processo de tubulogênese de células endoteliais cultivadas sobre matrigel é amplamente reconhecido e aplicado para avaliar o papel antiangiogênico (Dias et al., 2008; Yancopoulos et al., 2000). Nesse contexto, o presente trabalho demonstra que SV1 e PSV1, possuem ação inibitória sobre a angiogênese, testadas in vivo em embriões de galinha e in vitro sobre a tubulogenêse de células endoteliais de aorta de coelho. O ensaio de tubulogênese em células RAEC demonstrou que as frações estudadas SV1 e PSV1 apresentam ação inibitória sobre esse processo de forma semelhante a heparina de baixo peso molecular. Corroborando com esses resultados no modelo in vivo foi possível observar que a fração PSV1 possui um maior potencial antiangiogênico quando comparado com a SV1, uma vez que promoveu uma maior inibição na formação de capilares na membrana corioalantóica de embriões de galinha. O estudo de Khorana et al., 2003 demonstra que a heparina de acordo com seu peso molecular apresenta ação diferente sobre a formação do tubo pelo método in vitro do matrigel em células em cultura, no qual a heparina não fracionada não exibiu efeito significativo na formação do tubo, entretanto na presença de heparina de baixo peso molecular só foi observada mínima tubulogênese. Os dados mostram que ação antiangiogênica de SV1 e PSV1 não é dependente de massa molecular, pois SV1 é composta tanto por moléculas de alta massa quanto de baixa massa molecular, e apresentou potencial semelhante a PSV1na tubulogênese. Dias e col., 2008, isoloram uma fucana da alga S. stenophyllum denominada Sarg. Este polímero inibiu o desenvolvimento das redes capilares em ensaio de CAM. A inibição conferida pela dose mais elevada de Sarg (1500 g /disco) foi aproximadamente o dobro que o alcançado por hidrocortisona (156 g/ disco). Os autores propõem que o mecanismo de ação desse composto é semelhante ao da heparina, ou seja, o Sarg compete com proteoglicanos pela associação ao bFGF. Uma vez que o bFGF se associa ao Sarg ele tem sua ação angiogênica bloqueada. Testes dessa natureza não forma possíveis de serem realizados, por tanto não se pode destacar a probabilidade de SV1 e PSV1 possam atuar por esse mesmo mecanismo de ação também. Entretanto, as fucanas testadas nesse estuda apresentaram ação antiângiogenica com uma massa 15 vezes menor que a testada por Dias e colaboradores. O que leva a pensar num mecanismo de ação diferente do proposto por esses autores. Recentemente, Liu et al., 2012 mostraram que fucanas extraídas de Undaria pinnatifida teve sua ação antiangiogênica relacionada a inibição da proliferação de células endoteliais humnas. Desta forma, investigou-se a ação direta de SV1 e PSV1 em relação à linhagem de células RAEC, onde apenas a fração SV1 promoveu inibição da proliferação, causando apoptose precoce e tardia. Como PSV1 não apresentou atividade antiproliferativa, o seu mecanismo de ação pode estar relacionado com outros fatores. Vários autores têm relatado que agentes antiangiogênicos desempenham sua atividade por interferir na ação de várias proteínas da família do VEGF (QI-ZHEN, ZHI-BIN, 2006). Desta forma, foi analisado a ação das fucanas estudadas na secreção de VEGF por células RAEC. Observou-se que as células RAEC incubadas com PSV1 e SV1 apresentaram secreção de VEGF inibida. Desta forma propõem-se que o mecanismo de ação antianagiogênico de PSV1 está relacionado com sua capacidade de inibir a secreção de VEGF. Já com relação a SV1,o seu efeito sobre a secreção de VEGF deve ser observada com ressalvas, pois apesar da inibição de VEGF por SV1, acredita-se que esta também está relacionada com a capacidade desse polímero de causar morte celular nas RAECs, o que por si só causaria diminuição da secreção de VEGF. Nierodzic & Karpalin, 2006, constataram que fatores da cascata de coagulação estão diretamente relacionados à angiogênese, TF/FVIIa e trombina induzem a angiogênese durante a progressão do câncer. Em contraste FXa não promove a tubulogênese in vitro. Neste contexto é importante destacar que SV1 inibiu diretamente a atividade da trombina, e estimula a ação de FXa. Desta forma, pode-se inferir que SV1 tem também sua ação antiângiogênica relacionada à ação direta sobre fatores de coagulação. Os dados mostraram que SV1 apresenta três mecanismos de ação antiangiogênicos: por inibição de fatores de coagulação, inibição de proliferação celular e inibição da secreção de VEGF. Entretanto, eles não foram capazes de torna-la mais potente que PSV1 que apresenta apenas capacidade de inibir a secreção de VEGF. A hipótese proposta para justificar tais dados é que SV1 é uma mistura de várias fucanas (Ver Figura 9), que seriam responsáveis por estes diferentes mecanismos de ação, e que não estariam atuando de forma sinérgica. Na investigação do potencial anticoagulante, SV1 e PSV1 foram testados quanto a sua ação nas vias extrínseca e intrínseca da coagulação sanguínea. Apenas SV1 apresentou atividade anticoagulante, entretanto esta se restringe a via intrínseca da coagulação, analisada pelo teste de aPTT. Poucos compostos anticoagulantes possuem ação sobre a via extrínseca da coagulação. Costa et al., 2010, analisando a ação de polissacarídeos extraídos de 11 espécies de algas sobre a coagulação, encontram em apenas uma espécie polissacarídeos com ação sobre a via extrínseca da coagulação. A literatura relata que peso molecular, ramificações, densidade de cargas e estrutura tridimensional de polissacarídeos sulfatados influencia nas suas interações com as proteínas da coagulação sanguínea (OLSON, BJORK, & BOCK, 2002). Analisando-se o perfil de eluição de SV1, constatou-se que este apresenta populações de alta e baixa massa molecular, entretanto, essas últimas estão ausentes em PSV1, o que leva a proposição que são essas populações de baixa massa molecular que dão atividade anticoagulante a SV1. Outro fator importante para atividade anticoagulante de SV1 foi identificado no espectro de IV, onde se observou a presença de sulfatação na posição 4 de monossacarídeos dessa fração, o que não foi observado em PSV1. Um bom anti-hemostático seria aquele que viesse a interferir em um ou mais dos elementos que detêm o extravasamento de sangue após lesão no vaso: vasoconstricção, agregação plaquetária e a coagulação sanguínea. Diversas espécies de algas marrons cujas fucanas foram extraídas por vários métodos por Grauffel et al., (1989) demonstraram que estes polímeros impediam a ação de trombina sobre o fibrinogênio mais eficazmente do que a heparina. Essa atividade é dependente da antitrombina (AT) e do cofator II da heparina (HC II). Em outro artigo foi demonstrado que a ação inibitória destes compostos sobre a formação do coágulo de fibrina seria mediada pelo HC II e pela interação das fucanas com o fibrinogênio (NISHINO et al.,1992) Testes in vitro foram realizados para verificar a ação de SV1 sobre inibição direta da trombina e Fator Xa, através da realização do ensaio do substrato cromogênico. SV1 inibiu a trombina e estimulou a ação do Fator Xa. Os dados relacionados a ação da SV1 na atividade enzimática da trombina e do FXa estão de acordo com estudo de Farias, (2011) onde foi visto a ação de galactanas sulfatadas extraídas da alga verde Codium isthmocladum com ação inibitória sobre a trombina e ação estimulatória sobre a atividade enzimática do FXa, sendo avaliada em sistema purificado pelo método do substrato cromogênico na presença de antitrombina, mostrando que galactanas sulfatadas, bem como outros polissacarídeos de algas, podem interagir diretamente com a trombina e FXa, e/ ou com a antitrombina. Desta forma, ao avaliar a ação antitrombótica de SV1 in vivo, pode-se inferir que esta está diretamente relacionada a capacidade deste polímero inibir diretamente a trombina, ou seja pela sua ação anticoagulante. Várias fucanas apresentam ação anti-inflamatória como por exemplo as fucanas de Fucus vesiculosus e Lobophora variegata, que apresentaram ação inibitória sobre o processo inflamatório na peritonite induzida por tioglicolato de sódio em ratos (Medeiros et al., 2008). O potencial anti-inflamatório foi testado para as duas frações SV1 e PSV1, através da ação destes compostos no edema de pata induzido por carragenana como proposto por Silva et al., 2010. Todas as concentrações testadas diminuíram significativamente o edema na região plantar dos animais. Existe uma relação direta entre a coagulação e a inflamação. Desta forma, compostos que agem sob as duas vias têm vantagens adicionais para seu uso como fármacos. Considerando o efeito contra células cancerosas, compostos que apresentam atividade citotóxica apresentam interessantes efeitos na quimioterapia somente quando sua toxicidade é mais alta para células cancerosas do que para as células não cancerosas. PSV1 e SV1 foram mais efetivas como inibidoras da proliferação em células HeLa. Outras fucanas de Saragassum também apresentaram atividade antiproliferativa. Fucanas de Sargassum filipendula foi testada na proliferação de células HeLa, HepG2 (Hepatocarcinoma) e células PC3 (Carcinoma de Próstata) utilizando o teste MTT. Essas heterofucanas exibiram uma forte inibição em células HeLa. As frações SF-1.0 e SF-1.5 exibiram uma atividade considerável, com um valor de IC50 de 15,69 e 13,83 mM, respectivamente (Costa et al, 2011). Além disso foi testada a ação de SV1 e PSV1 em células tumorais e não tumorais. A viabilidade celular foi verificada em diferentes linhagens também, através do teste do MTT. As amostras SV1 e PSV1 quando testadas com células endoteliais normais, não apresentaram inibição da proliferação celular. Entretanto, SV1 na concentração de 100 μg provocou uma inibição na proliferação de células RAEC (Figura 18 e 19). Esta seletividade contra linhagens cancerosas específicas é um dos pré-requisitos para o desenvolvimento de novos fármacos com menores efeitos colaterais. O crescimento tumoral é dependente do suprimento vascular em expansão, e o desenvolvimento de metástase envolve a passagem transvascular de células malignas e o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos no sítio de crescimento do tumor. Este crescimento de neo-vasos se dá através do processo angiogênico (Carmeliet, Jain, 2000). A angiogênese é um processo dinâmico de proliferação e diferenciação. Este processo requer proliferação endotelial, migração e formação do tubo, desta forma as células endoteliais representam um alvo preferencial para a terapia (CHEN, et al, 2005). As células vermelhas do sangue (hemácias) são os tipos mais diversos de células sanguíneas. Elas possuem em sua constituição hemoglobina, que permite que seja feita o transporte de oxigênio do pulmão para todos os tecidos do corpo. A hemólise das células vermelhas do sangue leva a liberação da hemoglobina circulante no plasma. Este evento é deletério e pode levar a anemia e hipóxia (MATON, et al, 1993). Considerando estes fatos, dados na literatura afirmam que a ocorrência de hemólise em eritrócitos se dá em consequência a danos oxidativos na membrana celular (CHUKHLOVIN, 1996). SV1 não apresentou ação citotóxica sobre eritrócitos. Esse dado pode ser relacionado ao potencial antioxidante deste composto, conforme visto pelo teste de varredura de radicais DPPH, contudo são necessários novos experimentos para confirmar essa hipótese. Apesar de não haver significância quanto ao potencial hemolítico, foi observado diferenças significativas na hemólise dos diferentes eritrócitos no grupo ABO. Esta diferença pode ser explicada pela constituição monossacarídica diferente dos grupos sanguíneos ABO, em que o antígeno A apresenta na extremidade da sua estrutura a Nacetilgalactosamina (ZAGO, FALCÃO, PASQUINI, 2004), que poderia provocar uma maior interação entre suas cargas positivas com as cargas negativas da SV1. Portanto SV1 e PSV1 são fucanas sulfatadas que atuam sobre a proliferação de células HeLa, tendo efeito antiangiogênico, possuindo também ação antihemostática. Esses dados em conjunto mostram o potencial dessas fucanas como modelos para identificação de compostos que poderão ser utilizados na clínica médica. 6.0. CONCLUSÕES Os resultados mostrados neste trabalho permitem concluir que: A alga marrom Sargassum vulgare sintetiza uma heterofucana sulfatada constituída por manose, xilose, galactose e ácido glucurônico, com peso molecular de 160 KDa. A ação antiangiogênica de SV1 é devido a sua capacidade de inibir a proliferação de RAEC, ao contrário de PSV1 que tem sua ação relacionada diretamente a inibição da secreção de VEGF. SV1 e PSV1 inibiram a viabilidade de células tumorais, principalmente as da linhagem HeLa. PSV1 não possui ação significativa sobre a viabilidade de células endoteliais da linhagem RAEC, e causa a proliferação de macrófagos RAW 264.7 PSV1 não tem ação apoptótica e não ocasionou necrose, ao contrário de SV1 que causou apoptose precoce e tardia nas células RAEC tratadas. SV1 foi capaz de inibir diretamente a trombina, estando essa ação associada ao seu potencial antitrombótico e anticoagulante. SV1 possui ação antioxidante verificada pela varredura de radicais DPPH. E ausência de citotoxicidade de hemácias, considerando a proteção a danos na membrana dessas células. 7.0 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, I.R.L.; QUEIROZ, K.C.S.; ALVES, L.G.; SANTOS, E.A.; anticoagulant activity. Braz. J. Med. Biol. 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