III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR OLHARES, MEMÓRIAS E APRENDIZAGENS NO ESPAÇO DE UM MUSEU Luciana Maria Ricci do Valle Mesquita – UEL - IC Fundação Araucária [email protected] Estes escritos são parte de nossa pesquisa de Iniciação Científica (IC) e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) iniciados em 2010, que tem o objeto de análise as imagens fotogáficas por José Juliani na cidade de Londrina no período de 1933 a 1967. A cidade de Londrina contemplada entre 2010 e março de 2011 a conhecer por meio da “Exposição visual de um autoditada José Juliani – o colono fotógrafo”no Museu Histórico Padre Carlos Weiss. Segundo o texto de Angelita Marques Visalli, nos conta em booklet da exposição que José Juliani “era descendente de italiano e para além da fotografia, exerceu outras atividades como agricultor, conserto de relógios, máquinas de costura, armas de fogo e marcenaria.” José Juliani ficara encantado com o trabalho dos fotógrafos em festas com seus tripés e sua vontade e incentivo dado pelos amigos o fez ter seu trabalho como fotógrafo contratado pela Companhia de Terras Norte do Paraná, a CTNP, e por volta de 1965 instalou sua máquina instantânea no centro da cidade ao lado da Catedral. A exposição nos apresentou sua expressividade em diversas categorias relacionadas ao desenvolvimento da cidade que nascia: Londrina. Nesta nossa pesquisa buscamos, neste primeiro momento,a cada imagem selecionada dentre as categorias: agricultura, transporte, saúde entre outras, relacionar, explicar o porquê de nossa seleção. Na pesquisa selecionamos fotografias para montagem de jogos pedagógicos que possibilitem deslocamentos temporais. Com esse material intencionamos investigar junto a professores e alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental quais procedimentos e estratégias construídas a partir das imagens que potencializam a construção de narrativas históricas. Ao deparar com as imagens percebíamos que mergulhávamos em questões culturais de um povo que nascia de uma miscigenação e que já impunha uma linha narrativa para a sua história. Londrina se mostrou nas imagens fotográficas uma cidade de solo fértil. Uma das imagens fotografada de um bebê ao lado de um repolho enorme pode ser interpretado a dimensão da grandiosidade de uma cidade que está nascendo e o que poderá vir a ser. Nesta dimensão de interpretações referentes a determinado contexto, ampliamos o entendimento de como o museu influência no processo de aprendizagem por meio de um 1918 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR resgate da memória de um homem. Concordamos com Jörn Rüsen (2010, p.25) quando nos diz “que a história é enraizada nas necessidades sociais para orientar a vida dentro da estrutura tempo”. Desta maneira, estes escritos nos apontam algumas reflexões sobre estes espaços físicos que nos reportam em tempos e revitalizam as consciências humanas. Carina Martins Costa (2008) se dedica a estudar a relação entre museu e educação. Em seu texto “A escrita de clio nos temp(l)os da mnemósine:olhares sobre materiais pedagógicos produzidos pelos museus”, e destaca os diversos espaços, tempos e propostas de linguagens existentes nestes espaços. Colabora ainda trazendo apontamentos sobre as cautelas que devemos ter ao utilizar o museu em nossas práticas pedagógicas, principalmente no sentido de não compreender tal espaço como “lugar do passado”. A narrativa sobre o passado nos museus é construída a partir do presente e com um intencionalidade para o futuro. Tal situação pode ser compreendida como uma situação de ensino e aprendizagem. Assim, […] Se os historiadores vierem a perceber a conexão essencial das três dimensões do tempo na estrutura da consciência histórica, eles podem evitar o preconceito acadêmico amplamente aceito de que a história lida unicamente com o passado: não há nada a se fazer com os problemas do presente e ainda menos com os do futuro. […] (RÜSEN, 2010,p.37) Costa,(2008, p.218) apresenta algumas perspectivas que são dadas aos museus e como estes reagem a tais nomeações, assim “a agenda pública pleiteada pela sociedade civil enfoca, de forma cada vez mais contundente, a luta pelo reconhecimento e pelo espaço de diversas memórias.” Percebemos a importância que deve ser atribuída aos museus enquanto espaços de aprendizagem. Desta forma, entendendo o museu enquanto espaços pedagógicos estes “desempenham importante papel no que diz respeito não só à criação de consciências pessoais, mas também à construção e à representação de identidades coletivas diversas” (COSTA, 2008, p.219). Há constante relação entre estes espaços e os homens, possibilita então a (re)significação mútua de ambos, apesar de ainda persistir a ideia de que “museu é coisa do passado”. O homem é um ser curioso Compreendemos que a existência de várias formas de se interpretar a relação educação _ museu explica-se pela complexidade humana e cria diversas melodias. Pretendemos anunciar algumas dessas variações melódicas sobre este processo. 1919 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Compreendemos que, [...] As crianças, quando desenham em ambiente estimulador da expressão, não usam a cor estereotipada. O adulto porém, em nossa sociedade letrada, ganha em conhecimento e perde em sensibilidade, não só porque preconceitos e clichês culturais se interpõem entre o olhar e a obra, como o seu próprio desenvolvimento tridimensional se deforma para o bidimensional das imagens planas. (MACHADO, SANDRONI, 1998, p.41). Este pensamento nos reporta às contribuições que o professor tem no processo educativo dentro do espaço do museu e que podem ser o reforço, ou a transformação, de práticas culturais. Inês Gouveia e Lise Corrêa Rodrigues apresenta-nos o trabalho realizado no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro junto a alunos do Ensino Médio pensando sobre as questões de conceito do espaço museu. Dialogam com nossa perspectiva ao destacar [...] o museu como um espaço plural, aberto aos mais diversos públicos, cuja dinâmica se dá através do diálogo constante com a sociedade, sendo neste sentido, um lugar de construção de conhecimento.[...] (GOUVEIA,RODRIGUES, 2006, p.3). Verificamos que no processo de desenvolvimento humano apreendemos e damos novos significados aos acontecimentos conforme nosso contato com a situação e vivência. Rüsen (2010, p.39) no diz “a questão básica é como o passado é experienciado e interpretado de modo a compreender o presente e antecipar o futuro”. Por isso, nosso olhar atento as imagens registradas pelo fotógrafo José Juliani (1933-1967), em uma situação de pesquisa cujo objetivo é encontrar meios para potencializar o ensino e a aprendizagem da História para professores e crianças da primeira etapa do ensino fundamental, revelou as aspectos da cidade de Londrina que redimensionam a relação passado, presente e futuro. Gouveia e Rodrigues (2006), destacam a a conceituação do espaço museológico pela abordagem de apresentar aos que vivenciam esta experiência. Acreditamos, assim como estas autoras que o (re) significar é algo essencial para esta pesquisa, pois, é buscar reconstruir formas de pensar num coletivo. É interessante apontar que elas apresentaram alguns objetos para os alunos e dialogaram com os mesmos questionando os significados que continham e e se poderiam vir a estar num museu. Percebemos a importância do papel do professor em ouvir as respostas de seus alunos e compreender que também os mesmos mantinham algumas falas de que precisariam ser objetos antigos para estarem no museu. Aos poucos estas autoras apresentaram que no processo dialogado com os alunos foi esclarecido que no museu não ficariam necessariamente ou somente objetos antigos. 1920 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR Em relação aos objetos/imagens apresentados foram apresentados suas texturas, formas e aqui podemos apontar o quanto se trabalha a sensibilidade do ser humano, pois, neste momento trabalha-se também a memória dos alunos em relação ao apresentado a eles e as suas representações. Acrescentamos a nossa pesquisa a indagação: qual será as sensações e reflexões que as pessoas vivenciam ao adentrarem em um museu? João Francisco Duarte Júnior no auxilia na construção da resposta em seu livro “O sentido dos sentidos a educação (do) sensível”. Explica que se trata de: [...]um sentido no sentido. Ou seja: tudo aquilo que é imediatamente acessível a nós através dos órgãos dos sentidos, tudo aquilo captado de maneira sensível pelo corpo, já carrega em si uma organização, um significado, um sentido.[...] (DUARTE JR.,2003,p.12). Por conseguinte, compreendemos melhor quando as pessoas adentram ao espaço do museu, ou ela está por inteiro ou ela não conseguirá interagir com intensidade a exposição visitada. No entanto, por mais que a pessoa não se interesse por estar presente dentro deste espaço ela não sairá da mesma forma que entrou. O autor nos fala do ser humano que experimenta, sente as sensações e, desta forma acreditamos que o contato e o envolvimento com o espaço do museu potencializa a sensibilidade e ajuda-nos a manter nossa própria existência. Essa sensibilidade, sentido de pertencimento e desejo de preservar a memória é o que inicialmente, se apresentam nos registros de José Juliani (1933-1967): a narrativa é sobre as transformações culturais de um povo que está desbravando novos solos, em terras promissoras. Aliando as sensações que a obra de José Juliani despertam às reflexões de João Francisco Duarte Jr, insistimos [...] na necessidade atual e algo urgente de se dar maior atenção a uma educação do sensível, a uma educação do sentimento, que poder-se-ia muito bem denominar educação estética [...]A partir desta colocação torna-se importante conceituar, ainda que de forma breve, o que se entende por estética. Remetemo-nos novamente a Duarte Júnior que indica o “retorno à raiz grega da palavra “estética”- aisthesis, indicativa da primordial capacidade do ser humano de sentir a si próprio e ao mundo num todo integrado.”(DUARTE JR.,2003,p.13). Voltaremos à pesquisa realizada com professores e alunos sobre os objetos de museus para pensar sobre a educação estética. No processo desprendido por Gouveia e Rodrigues (2006) os professores e alunos depois de realizarem o diálogo sobre os objetos apresentados realizaram também a visitação no espaço museológico. Na visitação, as autoras destacam que, dependendo do local visitado são desencadeadas diferentes sensações nos envolvidos 1921 III Encontro Nacional de Estudos da Imagem 03 a 06 de maio de 2011 - Londrina - PR como o cheiro, as lembranças das relações de poder político, a escravidão e a igreja, assim, havia uma interação entre espaço-visitante-exposição. Compreendemos que o museu é sim um dos espaços educativos e de grande aporte para o desenvolvimento humano. O museu é um espaço fixo e mutável, sem os homens ele não existe, não faz sentido. É um espaço que deve ser resgatado não como algo para rememorar apenas, mas para tornar um homem reflexivo, sensível e colocá-lo com seus pés no chão. Perceber a realidade e transformá-la com sensibilidade. E ainda, [...] Desenvolver e refinar os sentidos, eis a tarefa, tanto mais urgente quanto mais o mundo contemporâneo parece mergulhar numa crise sem precedentes na história da humanidade.[...](DUARTE JR.,2003,p.14). Ao desenvolvermos a sensibilidade ao homem temos a possibilidade de percebermos e revermos vários aspectos, assim […] é necessário reformular ideias sobre consciência histórica como sendo um fator básico na formação da identidade humana relacionando estes conceitos com o processo educacional, que é também básico para o desenvolvimento humano.[...] (RÜSEN, 2010,p.40) Chegamos há algumas confirmações de como o processo educativo é contínuo e ocorre em todos os lugares e se faz necessário que a teoria e prática caminhem juntas num tempo não solidificado. Referências: COSTA, C. M. . A escrita de clio nos temp(l)os da mnemósine: olhares sobre materiais pedagógicos produzidos pelos museus Educação em Revista Belo Horizonte n. 47 | p. 217-240 jun. 2008 GOUVEIA, I.; RODRIGUES,L.C.. “Espaço museu construção do saber”Ano 1, Nº Especial I. Maio de 2006. Dôssie especial : Museus e públicos jovem. Disponivel em :http:/www.unirio.br/jovemmuseologia/ JÚNIOR, J. F. .O sentido dos sentidos a educação (do) sensível 2ª Edição Campinas Criar Edições, 2003, 226 p. MACHADO, L. R.; SANDRONI L. C. . A criança e o livro .4 ª Edição São Paulo Editora Ática, 1998, p.38-p.45 RÜSEN, J. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão Jörn Rüsen e o ensino de História Curitiba: Ed. UFPR, 2010 VISALLE, A.M. Booklet Exposição “Expressão Visual de um autoditada José Juliani, o colono- fotógrafo.”Londrina. 2010 1922