ASPECTOS SUBJETIVOS RELACIONADOS AO
DESIGN DE AMBIENTES:
UM DESAFIO NO PROCESSO PROJETUAL
SIMONE MARIA BRANDÃO MARQUES DE ABREU
Belo Horizonte
2015
SIMONE MARIA BRANDÃO MARQUES DE ABREU
ASPECTOS SUBJETIVOS RELACIONADOS AO
DESIGN DE AMBIENTES:
UM DESAFIO NO PROCESSO PROJETUAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design
da Universidade do Estado de Minas Gerais como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Design, na área de
concentração em Design, Inovação e Sustentabilidade.
Orientadora:
Profª. Maria Regina Álvares Dias, Drª
(Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG)
Belo Horizonte
2015
A162a
Abreu, Simone Maria Brandão Marques de.
Aspectos subjetivos relacionados ao design de ambientes [manuscrito] : um
desafio no processo projetual / Simone Maria Brandão Marques de Abreu. - 2015.
159 f. ; il. color. grafs. tabs. fots. ; 31 cm.
Orientadora: Maria Regina Álvares Dias
Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Minas Gerais. Programa
de Pós-Graduação em Design.
Bibliografia: f. 131-135
1. Desenho (Projeto) – Decoração e Ornamento – Filosofia - Teses. 2.
Decoradores de Interiores - Percepção – Teses. 3. Designers – Aspectos
Psicológicos – Teses. 4. Ciência (Materiais) – Decoração de Interiores – Teses.
5. Metodologia de Pesquisa – Sentido e Sensações – Desenho (Projeto) – Teses.
I. Dias, Maria Regina Álvares. II. Universidade do Estado de Minas Gerais. Escola
de Design. III. Título.
CDU: 747
Ficha Catalográfica: Cileia Gomes Faleiro Ferreira CRB 236/6
AGRADECIMENTOS
Essa dissertação foi para mim um grande aprendizado em termos de esforço, dedicação e absorção de
conhecimento. No entanto, nada seria possível sem o grande envolvimento de minha orientadora
professora Regina Álvares Dias. Sua busca constante de bibliografia sobre um tema tão pouco estudado;
sua dedicação nas leituras; além de sua compreensão em momentos pessoalmente difíceis. Muito
obrigada, professora Regina, por abraçar esse trabalho com confiança. Desejo ainda agradecer àqueles cujo
agradecimento pessoal não foi suficiente para externar minha gratidão:
Agradeço aos professores do Programa de Pós-graduação em Design da Escola de Design da Universidade
do Estado de Minhas Geria (UEMG), pela seriedade e participação nessa caminhada.
À Escola de Design que gentilmente cedeu o espaço para realização da maioria das entrevistas com os
profissionais. Aos funcionários, Adalete, Nila e Rodrigo que de uma forma ou de outra estiverem torcendo
positivamente.
Meu muito obrigada aos participantes, designers de ambientes, pelas informações cedidas para esse
estudo, dedicando tempo a esse trabalho. Agradeço, principalmente aos entrevistados, que apresentaram
sua forma de projetar ambientes, sem medo da crítica, na certeza da proposta estabelecida.
Agradeço aos meus familiares: meu esposo Alexandre, minhas filhas Letícia e Ana Júlia, que tiveram
trabalho dobrado em casa e ainda, bastante compreensão diante de minha ausência física e afetiva; meus
irmãos Ana Mary e Roberto que precisaram dedicar um pouco à mais aos afazeres no lar de nossos pais;
minha mãe, ansiosa pelo término desse trabalho, sabendo do esforço que enfrentava e meu pai, que
mesmo sem total lucidez, tenho certeza que investiu em pensamentos positivos.
Aos amigos, à querida amiga Samantha Cidaley que apoiou, confiou, estimulou, além de sempre estar
pronta, a qualquer hora, para ouvir minhas lamúrias, angústias e alegrias e ainda, à amiga Marina Pires
sempre afetiva e afinada nas revisões de texto.
Enfim, agradeço ao Pai Maior pelo envio de muita força e iluminação para a absorção do conhecimento e
lucidez na escrita de palavra por palavra dessa dissertação.
Muito obrigada!
RESUMO
ABREU, Simone Maria Brandão Marques. Aspectos subjetivos relacionados ao Design de
Ambientes: um desafio no processo projetual 2015, 135 f. Dissertação (Mestrado em Design),
Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2015.
Durante o processo de elaboração de projeto de design de ambientes são inúmeras as
questões que emergem para que ambientes estejam de acordo com aquele usuário ou
grupo social que se relacionará com o lugar planejado. Projetar espaços às necessidades de
seus habitantes é o desafio do designer de ambientes, no qual necessita entender melhor
os aspectos funcionais, simbólicos, psicológicos e de relação entre o humano e o ambiente.
Porém, diante de uma sociedade atual distinta, múltipla e complexa, há uma maior
necessidade de designers que saibam traduzir as questões subjetivas do sujeito para que a
identidade do usuário possa fazer parte dos espaços projetados. Encontrar uma nova
maneira de projetar, de solucionar problemas, de apresentar novas formas tangíveis
daquilo que vem das emoções, desejos e afeto do usuário é o que impulsiona essa
pesquisa. Nesse sentido, este trabalho investiga como os profissionais designers de
ambientes e interiores projetam, como selecionam os materiais e objetos para a
composição de ambientes, através da linguagem subjetiva. Elaborou-se uma pesquisa com
profissionais atuantes, docentes da graduação e pós-graduação para compreender como
na prática essas questões são trabalhadas. Numa primeira etapa, aplicou-se um
questionário on-line, respondido por 77 participantes e numa segunda etapa, aplicou-se
entrevista individual com nove profissionais e professores. Os resultados apontaram os
principais problemas enfrentados e mostraram diferentes formas de abordagens adotadas
pelos profissionais. Os principais desafios estão na falta de critérios mais seguros e
consistentes durante a especificação dos materiais e objetos, sendo que a maioria dos
casos se adota a própria intuição e bom senso para o planejamento de ambientes. Além
disso, as questões objetivas são as mais investidas no ato de projetar. Em relação ao
ensino, observaram-se os mesmos problemas, bem como a necessidade de maior reflexão
dos docentes quanto a prioridade das questões tangíveis em projeto. A maioria dos
profissionais consultados concorda com a necessidade da construção de método
apropriado para a prática projetual do design de ambientes, considerando a linguagem
subjetiva dos materiais e objetos.
Palavras-chave: Design de Ambientes, aspectos subjetivos, materiais, objetos, projeto
ABSTRACT
ABREU, Simone Maria Brandão Marques. Subjective aspects related to Interior Design: a
challenge in the design process 2015, 135 f. Dissertação (Mestrado em Design), Programa de PósGraduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015.
During the drafting process of the interior design project there are numerous issues that emerge
for environments conform to one user or social group that will relate to the planned place.
Designing spaces to the needs of its inhabitants is the challenge of the interior designer, in which,
need to better understand the functional, symbolic, psychological and relationship between man
and the environment. However, before a distinct, multiple and complex modern society, there is a
greater need for designers who knows how to translate the subjective aspects of the subject so
that the user's identity can be part of the projected spaces. Find a new way to design, to solve
problems, to present new tangible forms of what comes from the emotions, desires and the
user's affection is what drives this research. In this sense, this work investigates how professional
environments / interior designers project, how they select the materials and objects to the
composition environments through subjective language. A search was elaborated with active
professionals, undergraduate and graduate instructors to understand how in the practice these
issues are worked. In the first step, we applied an online questionnaire, answered by 77
participants and in a second stage, applied individual interviews with nine professionals and
teachers. The results showed the main faced problems and it showed different types of
approaches taken by professionals. The main challenges are the lack of safe and more consistent
criteria for the specification of materials and objects, and most cases adopts own intuition and
common sense to planning environments. Moreover, objective questions are the most invested in
the act of designing. In relation to teaching, there were the same problems like the need for
greater reflection of teachers as the priority of the tangible issues in project. The most consulted
professionals agree with the need for appropriate method of construction for the design practice
of interior design, given the subjective language of materials and objects.
Keywords: Interior Design, subjective aspects, materials, objects, project
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Questões acerca do ambiente: Banq restaurante - Boston.......................................
FIGURA 2 - Sala de jantar: linguagem da hierarquia......................................................................
FIGURA 3 - Sala de jantar: cadeiras diferenciadas..........................................................................
FIGURA 4 - Sala de estar: arranjo simétrico....................................................................................
FIGURA 5 - Sala de estar: arranjo assimétrico................................................................................
FIGURA 6 - The Tunnel of Love – Ukraine ......................................................................................
FIGURA 7 - Exemplo de banheiro nostálgico..................................................................................
FIGURA 8 - Esquema básico da comunicação................................................................................
FIGURA 9 - Café D'espresso - Nova York.........................................................................................
FIGURA 10 - Sala de jantar Beijing Noodle Bar - Las Vegas...........................................................
FIGURA 11 - Receptores do sistema nervoso.................................................................................
FIGURA 12 - Sistema visual..............................................................................................................
FIGURA 13 - NAT - Fast Food Orgânico - Hamburgo......................................................................
FIGURA 14 - Mc Donalds - Batumi .................................................................................................
FIGURA 15 - Sistema tátil ...............................................................................................................
FIGURA 16 - Poltrona Up 5 d Up 6 .................................................................................................
FIGURA 17 - Poltrona Uncle Jim......................................................................................................
FIGURA 18 - Shustov Brandy Bar – Odessa.................................................................................
FIGURA 19 - Sistema auditivo.........................................................................................................
FIGURA 20 - Basílica de San Pedo – Roma.....................................................................................
FIGURA 21 - Igreja São Francisco de Assis - BH ............................................................................
FIGURA 22 - Sistema olfativo.........................................................................................................
FIGURA 23 - Lojas Troussardi/Produtos Troussardi.......................................................................
FIGURA 24 - A língua e as áreas dos sabores................................................................................
FIGURA 25 - Casa Bonomi - Belo Horizonte ..................................................................................
FIGURA 26 - Modalidades sensoriais relacionadas à percepção dos produtos...........................
FIGURA 27 - Síntese de características das modalidades sensoriais.............................................
FIGURA 28 - Linha horizontal..........................................................................................................
FIGURA 29 - Classificação dos materiais........................................................................................
FIGURA 30 - Materiais metálicos utilizados em ambientes..........................................................
FIGURA 31 - Materiais polímeros utilizados em ambientes..........................................................
FIGURA 32 - Materiais cerâmicos utilizadas em ambientes..........................................................
FIGURA 33 - Materiais compósitos utilizados em ambientes.......................................................
FIGURA 34 - Significado do natural.................................................................................................
FIGURA 35 - Significado do artificial...............................................................................................
FIGURA 36 - Constelação de atributos...........................................................................................
FIGURA 37 - Descrição associados à constelação de atributos - Sala de Jantar...........................
6
16
16
16
16
20
26
26
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67
FIGURA 38 - Associação de atributos de um ambiente imaginário..............................................
FIGURA 39 - Fluxo metodológico da disciplina Metodologia Aplicada ao Projeto de Design.....
FIGURA 40 - Exemplo de mapa de percepção ..............................................................................
FIGURA 41 - Elementos básicos QDP Design.................................................................................
FIGURA 42 - Síntese das Metodologias projetuais para o Design de Ambientes.........................
FIGURA 43 - Objetivos a serem alcançados, atividade e indicadores...........................................
FIGURA 44 - Estrutura da metodologia de pesquisa.....................................................................
FIGURA 45 - Questões do painel de especialistas..........................................................................
FIGURA 46 - Estrutura de tabulação dos entrevistados 1.............................................................
FIGURA 47 - Estrutura de tabulação dos entrevistados 2.............................................................
FIGURA 48 - Estrutura de tabulação dos entrevistados 3.............................................................
FIGURA 49 – Perfil dos profissionais: sexo.....................................................................................
FIGURA 50 – Perfil dos profissionais: faixa etária..........................................................................
FIGURA 51 – Perfil dos profissionais: grau de instrução................................................................
FIGURA 52 – Tempo de atuação dos profissionais .......................................................................
FIGURA 53 – Quantidade de ambientes projetados.....................................................................
FIGURA 54 – Metodologia aplicada 1.............................................................................................
FIGURA 55 – Grau de importância ao elaborar projeto 1.............................................................
FIGURA 56 – Fator de escolha dos materiais e objetos 1..............................................................
69
70
72
74
76
78
80
91
92
92
93
95
95
96
96
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100
102
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Cálculo para determinar tamanho da amostra.........................................................
TABELA 2 – Perfil dos professores entrevistados..........................................................................
TABELA 3 – Metodologia aplicada 2..............................................................................................
TABELA 4 – Grau de importância ao elaborar projeto 2...............................................................
TABELA 5 – Fator de escolha dos materiais e objetos 2...............................................................
TABELA 6 – Fonte de escolha dos materiais e objetos.................................................................
TABELA 7 – Decisões projetuais 1..................................................................................................
TABELA 8 – Decisões projetuais 2..................................................................................................
TABELA 9 – Aceitação de método..................................................................................................
86
98
99
101
103
105
106
106
107
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 01
1.1. PROBLEMA .................................................................................................................... 07
1.2 HIPÓTESE ........................................................................................................................ 08
1.3 PRESSUPOSTOS ............................................................................................................. 08
1.4 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 09
1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 09
1.6 RESULTADOS ESPERADOS ............................................................................................ 10
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................. 11
2.1 DESIGN DE AMBIENTES ................................................................................................ 12
2.1.1 Ambiente ............................................................................................................... 14
2.1.2 Espaço e lugar ....................................................................................................... 17
2.1.3 Conforto ambiental .............................................................................................. 21
2.2 PERCEPÇÃO E SISTEMA SENSORIAL............................................................................ 25
2.2.1 Percepção ................................................................................................... 27
2.2.2 Sentido visual .............................................................................................. 31
2.2.3 Sentido tátil ................................................................................................ 35
2.2.4 Sentido auditivo .......................................................................................... 39
2.2.5 Sentido olfativo .......................................................................................... 42
2.2.6 Sentido gustativo ........................................................................................ 44
2.2.7 Síntese das modalidades sensoriais ............................................................ 46
2.2.8 Sinestesia .................................................................................................... 49
2.3 MATERIAIS E OBJETOS NO DESIGN DE AMBIENTES.................................................... 51
2.3.1 Significado dos materiais ............................................................................ 56
2.3.2 Significado dos objetos ............................................................................... 59
2.4 METODOLOGIA PROJETUAL PARA O DESIGN DE AMBIENTES ........................... 65
2.4.1 Ferramenta constelação de atributos ........................................................ 65
2.4.2 Descrições associadas à constelação de atributos ..................................... 66
2.4.3 Metodologia ergonômica para ambiente construído – MEAC................... 68
2.4.4 Metodologia aplicada no ensino do design de ambientes ........................ 69
2.4.5 Quadro de diretrizes projetuais - QDP design............................................ 74
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................................. 77
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................................. 79
3.2 ESTUDO 1: PROCESSO PROJETUAL DOS PROFISSIONAIS (ON-LINE) .................... 82
3.2.1 Objetivos do questionário ......................................................................... 83
3.2.2 Amostragem .............................................................................................. 85
3.2.3 Procedimentos ........................................................................................... 87
3.2.4 Análise dos dados ...................................................................................... 87
3.3 ESTUDO 2: PROCESSO PROJETUAL DOS PROFISSIONAIS (PAINEL DE
ESPECIALISTAS)......................................................................................................... 88
3.3.1 Objetivos da entrevista ............................................................................................ 88
3.3.2 Amostragem ......................................................................................................... 90
3.3.3 Procedimentos ..................................................................................................... 90
3.3.4 Análise dos dados ................................................................................................ 91
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 094
4.1 PERFIL DOS PROFISSIONAIS ..................................................................................095
4.1.1 Profissionais do estudo 1 - questionário on line...................................................... 095
4.1.2 Profissionais do estudo 2 - entrevista ......................................................................097
4.2 RESULTADOS APRESENTADOS DO ESTUDO 1 - QUESTIONÁRIO .................................... 098
4.2.1 Metodologia projetual utilizada pelos profissionais ..................................... 097
4.2.2 Como consideram os aspectos objetivos e subjetivos em projeto ............. 100
4.2.3 Sobre as decisões projetuais ........................................................................ 105
4.2.4 Aceitação de um método que trate das questões subjetivas ...................... 107
4.3 RESULTADOS APRESENTADOS DO ESTUDO 2 - ENTREVISTA .......................................... 108
4.3.1 Maneira de projetar dos profissionais ................................................................ 108
4.3.2 Como consideram os aspectos subjetivos em projeto ..................................... 115
4.3.3 Como realizam as escolhas de materiais e objetos .......................................... 118
4.3.4 Importância de um método que inclua os aspectos subjetivos ..................... 119
4. CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 121
5.1 ATENDIMENTO AOS OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS ........................................... 122
5.2 COMENTÁRIOS FINAIS.................................................................................................... 127
5.3 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS..................................................................... 129
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 131
APÊNDICE
APÊNDICE A - Esclarecimentos para o questionário
APÊNDICE B - Questionário aos profissionais do design de ambientes
APÊNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
APÊNDICE D - Entrevista aos especialistas
ANEXO
ANEXO A – Documento do Conselho de Ética
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
______________________________________
1.1. PROBLEMA
1.2 HIPÓTESE
1.3 PRESSUPOSTOS
1.4 OBJETIVO GERAL
1.5 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.6 RESULTADOS ESPERADOS
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
______________________________________
O
s tempos vividos pela sociedade atual são profundamente marcados pelo
impacto da globalização que trouxe interação e aproximação de pessoas, uma
interligação com o mundo e uma dinamização da economia, política, sociedade e cultura. O
cenário, antes bem mais estático e previsível, passa a ser dinâmico, complexo e de difícil
compreensão. Essa transformação atinge todas as áreas do conhecimento, bem como a do
design, que precisa apoiar-se nas disciplinas que auxiliem na interpretação do sujeito, mas
também na decodificação da realidade contemporânea, ora não mais entendidas somente
por cálculos exatos, ou melhor, pela objetividade. As questões afetivas, psicológicas e
emocionais, valores esses subjetivos, antes percebidos como secundários, agora são
imprescindíveis para a construção de produtos e serviços de identidade, portanto
inovadores e sustentáveis.
De acordo com Cardoso (2008), foi por meio da Revolução Industrial que ocorreu
transformações nos hábitos de consumo da sociedade. Ocorrida entre os séculos 18 e 19,
foi principalmente no século 19 que o sistema de fabricação passou a produzir em grandes
quantidades e custos mais baixos que os da manufatura. O custo dos produtos foi
diminuindo tanto, que passou a não depender da demanda existente, gerando seu próprio
mercado. Sugeriu, então, naquele contexto, que quanto maior a produção, maior seria o
consumo. "A industrialização foi um sistema que passa a gerar demanda em vez de suprir
aquela existente" (CARDOSO, 2008, p. 27). É neste cenário que as pessoas passaram a ter a
oportunidade de comprar muitos produtos e, por conseguinte, fez-se nascer uma
sociedade de consumo. A beleza dos produtos passou a ser questionada e o profissional
designer dedicou-se ao esforço de conformar a estrutura e a aparência dos artefatos. Por
volta de 1930, popularizou-se o lema "a forma segue a função", numa visão de que forma e
função adequar-se-iam ao propósito de um bom produto. Portanto, seriam as
preocupações do designer unir forma e função e o paradigma seria a produção em massa:
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
1
tudo igual em grandes quantidades para todos. Essa leitura da maneira de como produzir
bons produtos passou a ser questionada em 1960 e no Brasil na década de 1980. "Hoje a
indústria caminha a olhos vistos em direção à produção flexível, com cada vez mais setores
buscando segmentar e adaptar seus produtos para atender à demanda da diferenciação".
(CARDOSO, 2012, p. 17).
Assim sendo, Moraes (2011) elucida, sustentado pelos teóricos como Levitt (1990); Mauri
(1996); Klein (2001); Finizio (2002), que a primeira modernidade, antes da globalização, foi
definida como uma época de "cenário estático", isso é, prevaleciam mensagens de fáceis
entendimentos e de previsíveis decodificações. Havia também, por parte da sociedade, a
necessidade de segurança rumo à felicidade. Esse modelo de felicidade referia-se à
estabilidade de emprego e uma solidez do núcleo familiar. Todavia, ao mesmo tempo em
que essa sociedade alcançava estabilidade e um núcleo familiar consistente, sentia-se
prisioneira do controle rígido das normas trabalhistas, tais como: cartão de ponto, folha de
presença e rígida hierarquia funcional. Então, esse aparente modelo feliz e de sucesso
mostrou-se frágil no decorrer do tempo, colocando em confronto a lógica linear e objetiva.
Diante da globalização um novo olhar do mundo passa a ser considerado, devido à
expansão produtiva em todo o globo, bem como o avanço e disseminação da tecnologia.
Produtos passam a ser fabricados de forma massificada, por uma linguagem sígnica
aleatória e de conteúdos frágeis. Essas características fomentaram para um "cenário
dinâmico e complexo". Porquanto, as demandas passam a ser distintas e as expectativas
diversas, alterando o que antes era desenvolvido de forma contínua e linear, agora passam
a ser fluídicas e imprevisíveis. (MORAES, 2011).
O desafio dos produtores de design na atualidade, ao atuarem em cenários
mutantes e complexos, deixa de ser o âmbito tecnicista e linear e passa à
arena ainda pouco conhecida e decodificada dos atributos intangíveis e
imateriais dos bens de produção industrial. Tudo isso faz com que o design
interaja de forma transversal com as disciplinas cada vez menos objetivas e
exatas. Desta forma, ocorre a confluência com outras áreas disciplinares
que compõem o âmbito do comportamento humano, como as dos fatores
estésicos e psicológicos até então pouco considerados na concepção dos
artefatos industriais (MORAES, 2011, p. 35-36).
Além disso, Cardoso (2012) alarga a discussão expondo que o período da informação digital
2
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
alterou o sistema de fabricação, distribuição e finanças. “O mundo virtual ampliou tanto ao
ponto de parecer que a realidade desmancha-se no ar, o ‘imaterial’ passou a ser o fator
decisivo". (CARDOSO, 2012, p. 20). Outra questão relevante trazida por esse autor é que
mudanças importantes vêm ocorrendo por meio da complexidade contemporânea, no que
diz respeito à maneira de experimentarmos o tempo e o espaço. As pessoas fazem muitas
coisas simultaneamente, tanto quanto é possível falar ao celular com um amigo na mesma
cidade ou digitar uma mensagem eletrônica para alguém em outro canto do mundo no
mesmo parâmetro de instantaneidade. A virtualidade possibilita transições muito rápidas
entre o material e o imaterial, "a agilidade com que o imaterial pode ser capturado e
transmitido torna supérflua sua materialização" (CARDOSO, 2012 p. 40). Essas
transformações que levam o autor a questionar qual seria o impacto disso no design,
profissão pautada naquilo que é material, palpável, tangível. Para ele não existe uma
fórmula para os desafios do mundo complexo, mas pode-se dizer que reconhecê-los como
complexos já é um grande avanço. Aprofundar na análise do problema de projeto;
compreender que elementos de um todo gera complexidade e estão interligados; bem
como exercitar o pensamento para saber dar respostas que tenham sentido para
problemas distintos são atitudes que o designer terá que ter para melhor projeção.
(CARDOSO, 2012).
Conquanto, Moraes (2011) apresenta uma metodologia para a
complexidade
contemporânea. Para ele o modelo metodológico antigo era de fácil decodificação, de
conteúdos previsíveis, isso pelo fato de poucas informações simultâneas. Além disso, o
projeto tinha como objetivo um produto final. O formato era objetivo e linear, bem como
os fatores inerentes ao projeto consistiam: delimitação do mercado e do consumidor; o
briefing; o custo; os materiais a serem utilizados; a ergonomia antropométrica; a
viabilidade de execução e uma estética com tendência ao equilíbrio e a neutralidade.
Embora esse formato tenha atendido por muitas décadas, no cenário complexo e mutante
atual não atende mais. Hoje a necessidade interpretativa é o fator primordial para explicar
as questões complexas. O designer precisa de uma ótica mais dilatada, voltada não
somente para as questões do produto, mas também do seu entorno. De acordo com
Moraes (2011) o metaprojeto é um modelo de intervenção possível para o contexto atual.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
3
Para esse autor, os designers trabalham na perspectiva de cenários e não de um produto
em si, delineando possíveis respostas a projetos atuais ou futuros. "O resultado almejado
pelo metaprojeto é definir uma proposta conceitual para um novo artefato industrial, ou
efetuar uma análise corretiva em um produto e/ou serviço já existente". (MORAES, 2011 p.
49). O metaprojeto avança no entendimento do todo, de uma linguagem, levando o
designer a projetar de forma diferenciada, estratégica e inovadora, segundo Moraes
(2011).
Diante desse contexto distinto, múltiplo e complexo que estamos vivendo é que será
exigido muito mais das habilidades dos profissionais para a manipulação das informações;
para a interpretação dos fatos e para a tomada de decisão. Há uma necessidade notória de
valorizar os conteúdos subjetivos ou imateriais, as relações afetivas, psicológicas e
emocionais. Esses conteúdos devem ser mais contemplados nos produtos, sejam eles
gráficos, produto, moda ou ambientes para obterem maior sentido ou significado,
porquanto, maior identidade com o usuário. Encontrar uma nova maneira de projetar, de
solucionar problemas, de apresentar novas formas tangíveis daquilo que vem das emoções,
desejos e afeto do usuário é um dos maiores desafios para o designer. De acordo com
Moraes (2011), atualmente a necessidade de se dar forma a um produto é mais uma
questão semântica, comunicativa e ergonômica do que tecnológica. Logo levanta-se a
inquietação: o que mudou ou vem mudando no cenário em relação ao projeto de design de
ambientes? Como era o processo de projeto de ambientes em décadas passadas e como é
o processo hoje? Antes de tudo, os profissionais de ambientes estão preparados para as
transformações ocorridas no cenário complexo atual? Se estão, como ocorre, de forma
fundamentada ou intuitiva? É possível dar forma ao intangível, no contexto de ambientes
projetados? Existe possibilidade de trazer maior pertencimento aos ambientes
construídos?
Durante o processo de elaboração de projeto de design de ambientes, inúmeras são as
questões que emergem para que ambientes estejam de acordo com aquele usuário e/ou
grupo social que os ocupará, ou melhor, que se relacionará com o lugar planejado. Espaços
inadaptados, tanto nos aspectos objetivos quanto subjetivos, podem gerar desequilíbrios
físicos e/ou psíquicos levando ao stress. Projetar espaços às necessidades de seus
4
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
habitantes é o desafio do designer de ambientes, que necessitará entender melhor os
aspectos funcionais, simbólicos, psicológicos e da relação entre humano e o ambiente.
Perceber melhor o sujeito, suas necessidades, sua forma de ver o mundo são alguns dos
objetivos a serem atingidos por esse profissional. É um processo complexo, mas necessário,
para garantir uma ocupação significativa, constituindo vínculos de pertencimento,
induzindo ao bem-estar e à qualidade de vida. Entretanto, ressalta-se ainda que são raras
as pesquisas que tratam dessas temáticas aplicadas com efeito nos projetos de design de
ambientes.
A intangibilidade da linguagem que um ambiente possui, seu conceito e como o designer
poderá atuar no arranjo espacial de tal forma que essa linguagem possa ser concretizada
por meio da especificação dos materiais e objetos empregados são pontos que levam às
seguintes questões: Como atender de forma tangível as sensações de um ambiente, por
exemplo, requintado ou de aconchego, de discreto ou suntuoso, de nostálgico ou
contemporâneo? Que materiais ou acabamentos são empregados nos ambientes bem
como capazes de interpretar tais sensações? Como os profissionais lidam com isso hoje? Se
um ambiente é resultado do arranjo de um conjunto de materiais, sejam eles: metais,
cerâmica, polímeros e compósitos e esses agregados de texturas, cores, formas e ainda por
objetos sustentados de história e emoção e que também se expressam pelos materiais que
são construídos, estabelece-se então como pergunta: como aplicar esses materiais e
objetos de maneira tangível e eficaz à linguagem não verbal construída para o ambiente,
seja esse ambiente interno ou externo, residencial ou coorporativo, seja ele espaço público
ou privado?
Como profissional, mas também educadora, venho atingir a compreensão sobre a
concepção de melhores ambientes que não fiquem limitados às configurações de arranjos,
ao limite de mobiliário pré-estabelecido, por cores e formas conformadas e pouco
exploradas para uma dimensão inovadora, portanto, que ambientes não sejam percebidos
unicamente pelos valores objetivos e os valores intangíveis não sejam empregados pelo
designer simplesmente de forma intuitiva. A inquietação é para a compreensão e aplicação
de ambientes com maior identidade, pois são também construídos pelos valores subjetivos
e necessitam ser aplicados com maior fundamentação. O designer precisa ser capaz de
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
5
compreender as necessidades de um usuário, compreender mais sobre sua interioridade,
que pode ser definida “como um processo em que uma pessoa reflete sobre a consciência
do indivíduo no mundo e uma relação psicológica do mundo que é significativo em
maneiras específicas de consciência individual” (PEROLINI, 2011, p. 170). Como esses
usuários avaliam um ambiente projetado? O que significa potenciais usuários para um
novo ambiente? Como buscar identidade sem compreender os valores do usuário? Como
entender os valores do sujeito sem buscar abrangência em seus aspectos subjetivos? Como
projetar espaços sem compreender sua linguagem? Como essa linguagem se materializa na
forma de texturas, objetos e materiais diversos empregados? Enfim, o que os profissionais
têm feito para se adequarem a esse contexto?
FIGURA 1 - Questões acerca do ambiente: Banq restaurante - Boston
Qual a sensação que esse
ambiente proporciona?
Qual a razão da escolha
dos materiais e objetos?
O que eles comunicam?
A forma de disposição dos
objetos interfere na ideia
conceitual?
Fonte:www.raguke.com
O ambiente apresentado na Figura 1 demonstra um diferencial formal na solução do
revestimento dos pilares e teto. Lâminas de madeira foram cortadas e montadas de forma
a dar movimento. Qual a sensação que esse ambiente proporciona? Qual a razão da
escolha da madeira e o que esse material e forma comunicam? Qual o motivo das
6
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
escolhas? O piso é de cimento queimado e as cadeiras em madeira ebanizada que
contrastam na cor e forma com a madeira mel do teto e pilares. A disposição do mobiliário,
escolha dos objetos, a cor, interferem na ideia conceitual estabelecida?
Para Lefebvre, citado por Christian Schmid (2012), o espaço não existe por si mesmo, ele é
produzido por seres humanos que constroem nele sua vida. Como se o espaço geométrico
fosse neutro e as pessoas que o habitam é que o modificam em algo de pertencimento,
transformando-se em lugar, onde se estabelece parada, segundo Nóbrega e Cavalcante
(2011). A construção do ambiente é essa conversão do espaço em lugar, que
adequadamente arranjado por cores, formas e materiais, tangibiliza a maneira de ser dos
sujeitos que o habitam. Se adequadamente interpretado pelo designer, construirá sentido
e, por fim, conforto que, de acordo com Rybczynski (2002), envolve uma combinação de
sensações não só físicas, mas também emocionais e intelectuais. Essa é a maior relevância
de um projeto de design, saber colocar de forma tangível o que é subjetivo, o que é sentido
por cada indivíduo, e isso é o que faz um ambiente ser pertencido.
Como então entender essa linguagem subjetiva? Por meio da percepção. Os materiais e
seus acabamentos e também os objetos transmitem uma sensação que é percebida por
cada indivíduo de forma diferente. Como isso tem sido tratado ou resolvido pelos
profissionais da área do design de ambientes? Existem metodologias que possam auxiliar o
designer de ambientes nas questões interpretativas do usuário bem como na transposição
dos aspectos subjetivos do usuário em materiais e objetos?
A linha de pesquisa que se insere nessa proposta está na área do Design, Materiais,
Tecnologia e Processos e permitirá conhecer os aspectos subjetivos dos materiais seus
acabamentos e objetos, favorecendo compreender melhor o desdobramento de ambientes
de maior pertencimento, traduzindo maior qualidade de vida.
A proposta é que esse estudo possa auxiliar o designer de ambientes a compreender
melhor o contexto atual no que diz respeito à linguagem intangível e a importância dessa
linguagem nos ambientes projetados.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
7
1.1 Problema
Aspectos objetivos e subjetivos são relevantes na construção de ambientes assertivos na
relação espaço e usuário, mas esses últimos, os subjetivos, talvez sejam pouco utilizados
devido à sua complexidade. Além disso, poucos são os métodos que conseguem estruturar
uma seleção e escolha de materiais e objetos que possibilitem ambientes coerentes com o
conceito estabelecido em projeto. Considera-se que o conhecimento da linguagem
subjetiva de materiais e objetos possa contribuir para um melhor planejamento de
ambientes, na medida em que essa linguagem faz parte da construção de significados
desses espaços é indispensável ser estudada e aplicada nos dias atuais. Portanto, como os
profissionais da área de ambientes abordam os aspectos objetivos e subjetivos no processo
de design?
1.2 Hipótese
Considerando que para projetar um ambiente adequado é necessário fazer um bom
arranjo funcional, simbólico e de relação usuário-espaço e que há uma crescente demanda
pela compreensão das questões subjetivas do homem na atualidade, que interferem na
construção de ambientes significativos, este trabalho parte da hipótese de que:
é necessária uma fundamentação dos aspectos subjetivos para que as escolhas
dos materiais e objetos sejam coerentes com os usuários do espaço a ser
planejado;
é possível elaborar uma diretriz que seja capaz de auxiliar na melhor escolha
desses materiais e objetos e que esteja de acordo com a linguagem conceitual
intangível estabelecida em projeto.
1.3 Pressupostos
Este trabalho segue os pressupostos, a saber:
os ambientes são construídos através da relação do humano-espaço e portanto
devem ser considerados seus aspectos formais/objetivos e de linguagem não-
8
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
verbal/subjetivos;
a relação humano-espaço pressupõe uma visão bidirecional: o ambiente exerce
influência sobre o sujeito e este também age e modifica o ambiente;
os ambientes possuem um arranjo de materiais e objetos diversos, constituídos
de forma, cores, texturas e acabamentos também diversos e por isso
complexos, por apresentarem características não somente físicas como também
subjetivas, passíveis de serem consideradas em projeto;
os materiais e objetos são portadores de significados que influenciam na
escolha do usuário, que interferem na linguagem intangível do ambiente e que
comprometem o bem-estar das pessoas;
que esses significados são percebidos pelos usuários, embora o processo seja
subjetivo e podendo variar de acordo com cada indivíduo, portanto possuem
uma estrutura comum, que pode ser identificada pelos aspectos culturais;
pela falta de fundamentação teórica, discentes e profissionais da área do
planejamento de espaços escolhem os materiais e artefatos de forma não
racionalizada ou de acordo com as tendências de mercado.
1.4 Objetivo geral
Investigar e entender como os designers de ambientes projetam, como abordam os
aspectos subjetivos na escolha dos materiais e objetos.
1.5 Objetivos específicos
1. Verificar com os profissionais qual a metodologia que utilizam para projetar
ambientes e se os aspectos subjetivos são considerados;
2. Discernir a relevância dos aspectos subjetivos, bem como lidam com esses aspectos
em projeto;
3. Averiguar como realizam as escolhas dos materiais e objetos;
4. Saber da necessidade e importância de um método que incorpore os aspectos
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
9
subjetivos em projeto.
1.6 Resultados esperados
Essa pesquisa pretende contribuir para maior fundamentação do Design de Ambientes, por
uma prática de projetos de maior identidade, eficiência, inovação e sustentabilidade.
Sendo assim, espera-se uma contribuição para a ciência permitindo maior fundamentação
do Design de Ambientes e que esses resultados possam servir de base para diretrizes no
avanço do ensino de projetos de ambientes, contribuindo para uma maior segurança na
prática de ensino, como também na formação de profissionais com maior capacidade
projetual. Além disso, para a sociedade, almeja-se contribuir para ambientes de maior
identidade, fazendo com que o usuário esteja satisfeito, tanto no ambiente onde mora,
quanto naquele no qual trabalha, como também nos de lazer, objetivando ampliar a
qualidade de vida e bem-estar as pessoas.
10
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Capítulo 2
REVISÃO BILBIOGRÁFICA
______________________________________
2.1 DESIGN DE AMBIENTES
2.1.1 AMBIENTE
2.1.2 ESPAÇO E LUGAR
2.1.3 CONFORTO AMBIENTAL
2.2 PERCEPÇÃO E SISTEMA SENSORIAL
2.2.1 PERCEPÇÃO
2.2.2 SENTIDO VISUAL
2.2.3 SENTIDO TÁTIL
2.2.4 SENTIDO AUDITIVO
2.2.5 SENTIDO OLFATIVO
2.2.6 SENTIDO GUSTATIVO
2.2.7 SÍNTESE DAS MODALIDADES SENSORIAIS
2.3 MATERIAIS E OBJETOS
2.3.1 SIGNIFICADO DOS MATERIAIS
2.3.2 SIGNIFICADO DOS OBJETOS
2.3.3 SINESTESIA
2.4 METODOLOGIA PROJETUAL PARA O DESIGN DE AMBIENTES
2.4.1 FERRAMENTA CONSTELAÇÃO DE ATRIBUTOS
2.4.2 DESCRIÇÕES ASSOCIADAS À CONSTELAÇÃO DE ATRIBUTOS
2.4.3 METODOLOGIA ERGONÔMICA PARA AMBIENTE CONSTRUÍDO
- MEAC
2.4.4 METODOLOGIA APLICADA NO ENSINO DO DESIGN DE
AMBIENTES
2.4.5 QUADRO DE DIRETRIZES PROJETUAIS - QDP DESIGN
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
11
Capítulo 2
REVISÃO BILBIOGRÁFICA
______________________________________
O segundo capítulo discute diversas abordagens teóricas sobre design de ambientes,
percepção, materiais, objetos e metodologias. Procura entender o design de ambientes no
contexto atual, o que seja ambiente, espaço, lugar e conforto ambiental, como o ambiente
é percebido pelos nossos sentidos para que possa ser projetado de forma estratégica, no
que diz respeito aos seus aspectos intangíveis. Trata dos materiais sob a ótica subjetiva no
contexto do design de ambientes e propõe, ainda, uma investigação sobre as metodologias
aplicadas ao design de ambientes, identificando aquelas que levam em conta as relações
subjetivas entre ambiente e usuário.
2.1 Design de ambientes
S
egundo Cardoso (2008), Moreira (2006) e Forty (2007), é possível, nas linhas
seguintes, organizar um contexto histórico para melhor explicar a atividade do
designer de ambientes/ interiores no Brasil e em Minas.
Organizar os espaços do cotidiano, tanto interno como externos, foi uma necessidade
acontecida na era moderna. A consciência da sociedade de um mundo privado e público
inicia-se nessa época, com a centralização do homem, com as grandes descobertas, com o
advento do capitalismo e com o nascer da classe burguesa. Possibilitou, então, o desejo por
móveis e pela divisão dos espaços internos de acordo com sua função. Mais tarde, com a
urbanização, no século 19, no qual o espaço do trabalho se desvinculou do espaço da casa,
separando o espaço interno do externo, os lares passaram a ser considerados e ornados
em demasia, para serem diferenciados dos espaços de trabalho. Nas décadas de 40 e 50 do
século passado, ampliaram-se as possibilidades de aquisição de artefatos, de móveis e de
eletrodomésticos para o consumo, evidenciando a extrema preocupação com a aparência e
eficiência nos ambientes habitados, evidenciando não mais um desejo de arranjo dos
espaços, mas uma necessidade, ditada pela então complexidade da modernização. Foi
12
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
demandado com maior ênfase, nesse contexto, “a presença de um profissional do assunto,
que considerasse, em projeto, aspectos técnicos e estéticos da composição” (MOREIRA,
2006, p. 52), de modo que o antigo recebesse novos valores em harmonia e
funcionalidade. Apesar dos espaços exigirem a necessidade de planejar o uso e a ocupação
adequada aos usuários, os profissionais que se habilitaram para exercer essa atividade
eram os arquitetos, artistas ou pessoas de ‘bom gosto’. Em Minas Gerais, na década de 60,
o profissional que passou a se dedicar com maior ênfase a essa tarefa era o decorador.
Para obter o título em Decoração, necessário seria, naquele momento, cursar por quatro
anos disciplinas práticas e teóricas. O objetivo desse curso era:
[...] formar profissionais qualificados para compreender as demandas do
público alvo, seu contexto social e cultural, entender o espaço, suas funções
e possibilidades, propor soluções adequadas, considerando aspectos
históricos e artísticos, e ainda, representar graficamente suas ideias
(MOREIRA, 2006, p. 67).
Em 2004, o Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Superior, através da
Resolução nº 5, de 8 de março de 2004, aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Design e o Curso de Decoração passa por uma reforma curricular,
transformando-se em Design de Ambientes/ Interiores. Essas foram as nomenclaturas
empregadas para o novo Curso, entendendo que tanto o Design de Ambientes quanto o
Design de Interiores projetam ambientes internos e externos.
O design de ambientes passa a ser uma atividade do design de caráter multidisciplinar
responsável por identificar e solucionar problemas oriundos das relações entre humano e o
espaço – tanto internos quanto externos, residenciais, empresariais, institucionais,
industriais ou efêmeros, arquitetônicos ou não arquitetônicos, incluindo ambientes virtuais
e de transporte – tendo o usuário como foco de projeto e considerando os aspectos
funcionais, estéticos e simbólicos do contexto social-econômico-cultural em que atua, de
modo a resultar em ambientes confortáveis e eficientes às demandas estabelecidas. Por
estar inserido na área das ciências sociais aplicadas, o designer de ambientes comprometese com a função social, contribuindo para o bem-estar e a qualidade de vida de seus
usuários. Para atender ao bem-estar das pessoas, o ambiente tem que ser capaz de
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
13
transmitir aos seus habitantes o sentimento de pertencimento e senso de identidade.
O arranjo ou planejamento de um ambiente envolve: uma pesquisa do contexto; o
entendimento sobre o usuário; construção de um conceito do ambiente, baseado no
estudo do contexto e do usuário; elaboração do layout; o estudo e a definição das cores,
formas, texturas, mobiliários, equipamentos e objetos que compõem o ambiente,
coerentes com o conceito construído; a especificação dos materiais para revestimentos de
pisos, paredes; além de estruturar o conforto ambiental no que diz respeito à configuração
da iluminação e dos sistemas de condicionamento de ar e acústica. Deve, também, atender
às exigências normativas pertinentes e dar atenção a questões como sustentabilidade e
inovação.
Para compreender como se processa o design de ambientes; como o espaço é conduzido
da mente para a realidade projetual, muitas vezes posicionando-se como algo mensurável
e desconectado de quem o ocupa, necessário será buscar o que seja ambiente, espaço,
lugar e conforto ambiental.
2.1.1 Ambiente
A palavra ambiente vem do latim ambiens que significa cercar, rodear, estar à volta de
alguma coisa ou pessoa. A Psicologia Ambiental estuda as inter-relações entre pessoas e
ambiente desde o nível microambiente, abarcando espaços privados como moradia até
ambiente global. Interessa-se, portanto, pela identidade do lugar e pela identidade social
urbana. Nessa perspectiva ambiente é:
[...] um conceito multidimensional, compreendendo o meio físico concreto
em que se vive, natural ou construído, o qual é indissociável das condições
sociais econômicas, políticas, culturais e psicológicas daquele contexto
específico. Tudo o que estiver presente em um determinado ambiente inclusive as pessoas - é parte que o constitui. Alterações sofridas em
qualquer de seus componentes acarretam modificações nos demais,
conferindo ao ambiente uma nova feição. Portanto, sua configuração é
dinâmica e unitária, incorporando mudanças que são assinaladas pelo
ambiente como um todo (CAMPOS-DE-CARVALHO; CAVALCANTE;
NÓBREGA, 2011, p. 28).
Segundo Campos de Carvalho, Cavalcante e Nóbrega (2011) a concepção de ambiente na
14
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Psicologia Ambiental compreende:
Componentes físicos: arquitetura, decoração, acústica, iluminação, temperatura,
equipamentos, mobiliário, objetos, características topográficas, climáticas, dentre
outros;
Componentes não físicos: aspectos psicológicos ou pessoais dos usuários daquele
ambiente - suas expectativas e experiências anteriores, motivações, padrões
comportamentais, crenças, autoestima, dentre outros; e
Aspectos sociais: papéis, atividades e valores dos participantes do contexto do
ambiente, bem como aspectos culturais, econômicos e políticos.
Os ambientes podem ser descritos em termos de suas propriedades objetivas/observáveis
ou subjetivas, aquelas percebidas pelos usuários; sua escala de imediaticidade –
proxêmica; suas características independentes, como iluminação, temperatura, tamanho
de grupo ou compostas – clima social. Todos esses aspectos não são abordados de forma
separada, são construídos um do outro, não há dissociação ou dicotomia entre eles,
caracterizando-os por um sistema aberto.
O ambiente construído, segundo Malard (2001, p. 1), é um sistema de comunicação, pois
através dele "são veiculadas diversas manifestações do imaginário coletivo ou, diretrizes
para o comportamento social". A estrutura do arranjo dispõe e combina objetos de forma a
obter um conjunto funcional capaz de comunicar valores sociais. Existe no arranjo dos
ambientes uma combinação tal de objetos, materiais, formas, cores, texturas que traz à
tona a comunicação de valores da cultura que o gerou. Isso pode ser observado nos
arranjos das mobílias da tradição burguesa. Um exemplo, são as salas de jantar, dispostas
de forma que refletem a hierarquia patriarcal predominante no século XIX no Brasil.
“Parece que só nas casas mais finas sentavam-se todos em cadeiras – a do patriarca, à
cabeceira da mesa, sempre maior, de braço, uma espécie de trono, como as cadeiras dos
mestres-régios na sala de aula” (FREYRE, 2000, p. 249).
As quatro figuras seguintes apresentam possíveis leituras reveladas pelas manifestações ou
padrões culturais. A Figura 2, percebe-se uma provável linguagem da hierarquia
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
15
evidenciada através da disposição da cadeira de cabeceira: diferenciada no tecido e na cor,
espaldar mais alto e ou acrescida de braços. Essa disposição, mesmo composta de bancos,
transmite uma intenção de divisão de categorias. É linguagem transmitida através da
escolha do objeto; do material empregado; da disposição do arranjo e/ou pela leitura
cultural intangível.
FIGURA 2 - Sala de jantar: linguagem da hierarquia
FIGURA 3 - Sala de jantar: cadeiras
diferenciadas
Fonte: decoracaodecasa.com.br
Fonte: realestategirl2026
No exemplo da Figura 3, percebe-se exatamente o oposto: uma disposição de cadeiras
diferenciadas entre si. Além de não possuir cadeiras na cabeceira da mesa, um "trono", as
cadeiras diferenciadas podem transmitir a ideia de que serão utilizadas por usuários
variados, pertencidos de história e cultura distintas. Esse conceito fomenta identidade e
por isso o ambiente transmite uma linguagem informal, simples ou mesmo
descompromissada.
FIGURA 4 - Sala de estar: arranjo simétrico
FIGURA 5 - Sala de estar: arranjo assimétrico
Fonte: www.arthurcasas.com
Fonte: www.tecto.com.br
16
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Outro exemplo pode ser observado na Figura 4, sofás iguais e cadeiras completando o
espaço, fechando o ambiente de estar; mesa central e mesas idênticas nas laterais dos
sofás. O arranjo físico simétrico traduz uma sensação de formalidade ou mesmo
padronizada. É uma linguagem disposta em espaços que comunicam impessoalidade.
Outra linguagem pode ser percebida na Figura 5: arranjo do mobiliário assimétrico; móveis
distintos; abuso de objetos de adorno. Essa disposição conduz um diálogo despretensioso,
de pouco rigor e por isso informal.
Para Malard (2001, p. 5) a ambiência possibilita duas dimensões:
Objetivas: são aquelas que dizem respeito às sensações corpóreas como conforto
acústico, térmico, lumínico e dimensional. É a dimensão entendida como uma
harmonia biológica com o ambiente – isolamento acústico, conforto térmico,
adequado nível de luminamento, medidas e proporções adequadas - possuindo
também certo grau de subjetividade. Um edifício de apartamentos, por exemplo,
que possui ar condicionado central, além de proporcionar conforto térmico, traduz
também como significado o "status", tornando-se signo de poder e modernidade;
Subjetivas: são aquelas relacionadas com o sistema de significação dos objetos e
são estritamente dependentes dos padrões culturais.
Observa-se que a dimensão objetiva é bem mais rica em especificações transmitindo a
ideia de maior fundamentação e análise que a subjetiva, enfraquecida de particularizações.
2.1.2 Espaço e lugar
O conhecimento do que venha a ser espaço e lugar representa papel significativo na
relação de ambiente-usuário. A forma com que o designer percebe o ambiente, como se
constroem os espaços e como estes se tornam lugares ou não lugares influenciará em uma
série de decisões projetuais, desde sua configuração até mesmo na escolha de materiais e
artefatos adequados. A importância desse conhecimento atribuirá valor aos projetos de
ambientes, principalmente no que diz respeito ao entendimento da influência do sujeito no
ambiente e este sobre o sujeito. Auxiliará também o designer a ser sensível em perceber
que ambientes são projetados decisivamente para o usuário.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
17
Christian Schmid (2012) explana a respeito dos fundamentos de Lefebvre (1997) sobre o
que seja espaço. Lefebvre propõe uma teoria que entende o espaço como essencialmente
ligado à realidade social; o espaço não existe por si mesmo, ele é produzido por seres
humanos que constroem nele sua vida. Esse ‘social’ não é corpo e matéria em uma soma
de ações e práticas, mas seres humanos vivos, construídos de corpo, pensamento,
imaginação, sensibilidade, ideologia e que se relacionam entre si pelas atividades e práticas
cotidianas. Os ambientes são estabelecidos como construções culturais.
E como o espaço social é produzido? Para Lefebvre (1997) a produção do espaço pode ser
dividida em três dimensões ou processos dialeticamente interconectados: (I) prática
espacial; (II) representações do espaço e (III) espaço de representação. Esses espaços se
referem, de acordo com Schmid (2012), ao espaço ‘percebido’, ‘concebido’ e ‘vivido’, e são
entendidos como de igual valor.
O espaço ‘percebido’ é reconhecido pelos sentidos, visão, audição, olfato, tato e
paladar e relaciona-se diretamente com a materialidade dos elementos que o
constituem;
O espaço percebido não pode ser reconhecido sem ter sido ‘concebido’ em
pensamento. Depois de percebido, passa a ser concebido, que presume um ato de
pensamento ligado à produção do conhecimento;
O espaço ‘vivido’ é a experiência prática do espaço.
“Essa tríade é, ao mesmo tempo, individual e social; não é somente constitutiva da autoprodução do homem, mas da auto-produção da sociedade. Todos os três conceitos
denotam processos ativos individuais e sociais ao mesmo tempo” (SCHMID, 2012, p. 102).
Lefebvre (1997) demonstra isso utilizando seguinte exemplo:
A troca assim como a origem histórica da sociedade da mercadoria não é
limitada à troca (física) de objetos. Ela também requer comunicação,
confronto, comparação e, por conseguinte, linguagem e discurso, signos e
trocas de signos, ou seja, uma troca mental, para que a troca material se
realize efetivamente. A relação de troca também contém um aspecto
afetivo, uma troca de sentimentos e paixões que ao mesmo tempo liberta e
aprisiona o enfrentamento (LEFEBVRE, 1977, p. 20).
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Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
O núcleo da teoria da produção do espaço se identifica em três momentos: produção
material, de conhecimento e de significados. Esse pensamento desenvolvido por Lefebvre
(1997) nos faz compreender que o espaço não é vazio, fechado por paredes, ventilado por
janelas e acessado por uma porta, protegido pelo teto e pavimentado por piso, aguardando
ser ‘preenchido’ por alguém. O espaço é uma construção das pessoas que o habitam, que
realizam suas atividades físicas, de trabalho, ou de lazer. É algo animado, envolvido de
história, relações interpessoais, cultura e sentimento de pertencimento. É construído por
comunicação, confronto, linguagem, discurso, signos, troca mental para que a edificação
material seja realizada. E mesmo assim, depois de materialmente construído, será
vivenciado, experimentado e tomado novamente como reflexão para construção de novos
ambientes. Compreende-se um ciclo vivo e complexo que não pode ser simplesmente
planejado sem um nível de percepção, fundamentação e experimentação.
Assim sendo, buscar culturas distintas para ambientar espaços é de tamanho equívoco
projetual, pois os tornam anônimos, desajustados às necessidades de quem o ocupa e sem
o profundo objetivo de bem-estar. Isso nos faz refletir quanto ainda profissionais da área
de planejamento de espaços buscam para seus projetos referências exteriores ou
igualitárias, que, de acordo com Lefebvre (1997), estariam desconectados com um
verdadeiro entendimento de espaço. Essa falha ocorre pela provável dificuldade que
enfrentam os profissionais da área em não possuir método adequado e fundamentado
para auxiliá-los de forma eficiente em suas práticas projetuais. Quais os materiais e objetos
que se ajustam ao espaço a ser planejado? Que significados possuem, para aquele usuário,
para que sejam arranjados de forma a fazer sentido?
Para Cavalcante e Nóbrega (2011), espaço pode ser uma área geométrica concreta ou um
englobante dentro do qual se situam todos os espaços particulares; é a base para
organização, indispensável à criação de distancias e delimitações. O espaço é algo exterior
em relação ao indivíduo, sendo, dessa forma, neutro, sem significado. Lugar é o espaço que
identificamos. É onde estabelecemos parada; seus limites são definidos. “É um espaço ao
qual se atribui significado e que ganha valor pela vivência e pelos sentimentos. Lugar é o
espaço com o qual se estabelece relação” (CAVALCANTE; NÓBREGA, 2011, p. 182). Traz
também a noção de que não lugares, que são espaços de circulação característicos da
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
19
sociedade atual, lugares de uso temporário, quase descartáveis que impedem a formação
de vínculos afetivos, tais como passarelas de ruas, estacionamentos, aeroportos.
Segundo Bachelard (1958, p. 47), “a relação da pessoa com um espaço é que permite sua
transformação em lugar”. O espaço geométrico é neutro, mas ganha significado quando é
inserido nele o homem. O espaço passa a ser reconhecido, ganha importância quando os
sentimentos e valores atribuídos a ele, que são trazidos pelo homem, adquirem assim
identificação.
De acordo com Tuan (2013), o significado de espaço se funde com o de lugar. Espaço é
mais abstrato que lugar. Para o autor, “o que começa como espaço indiferenciado
transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor” (TUAN,
2013, p. 14). Ele ainda comenta que os lugares são núcleos aos quais atribuímos valor e
onde as necessidades biológicas de comida, água, descanso e procriação são satisfeitas. O
lugar pode ser formado em um breve espaço de tempo ou mesmo em anos. Para que o
espaço se torne lugar, é decisivo senti-lo, não depende do tempo investido ou do tipo de
uso, mas sim da impressão causada pela relação do indivíduo com o ambiente e do tipo de
vínculo gerado. “É uma mistura singular de vistas, sons e cheiros, uma harmonia ímpar de
ritmos naturais e artificiais *...+ Sentir um lugar é registrado pelos nossos músculos e ossos”
(TUAN, 2013, p. 224). Viver, sentir, usar, perceber, relacionar são processos para
construção de um lugar, que vai além de um espaço físico.
FIGURA 6 - The Tunnel of Love - Ukraine (O túnel do Amor)
Fonte: www.placestoseeinyourlifetime.com
Um exemplo de lugar, na Figura 6, pode ser observado pelo ambiente do Túnel do Amor,
20
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
em Ukraine na Ucrânia. Ambiente produzido pelo envolvimento das árvores ao espaço que
transita o trem. O lugar é visitado nos momentos que o trem não circula e transmite um
envolvimento particular. É o espaço transformando-se em lugar, uma mistura ímpar de
vistas, sons e cheiros que vai muito além do tangível, portanto adquirindo valor.
É empolgante perceber a construção de um ambiente não só pelo seu arranjo material, sua
função, sua estética, mas pela riqueza dos valores subjetivos que diferenciam cada projeto
estabelecido. Cada material, cada objeto está carregado por um olhar de mundo
diferenciado. E é a partir desse olhar que se constroem conceitos distintos dos lugares
apropriados e por composições inovadoras e sustentáveis.
2.1.3 Conforto ambiental
O conforto, em termos de ambientes, pode ser considerado como uma expressão máxima
de adequação entre aquilo que está sendo projetado e o seu uso, transmitindo uma plena
satisfação pessoal. Varia de cultura para cultura, de pessoa para pessoa, sendo complexo
tentar generalizá-lo. Portanto o conforto é algo construído pelo entrelaçamento de
aspectos físicos e subjetivos.
Para Rybczynski (2002), conforto é uma necessidade humana fundamental, enraizada em
nós e que precisa ser satisfeita. Para o autor, conforto mostra-se de início em algo
encontrado principalmente no ambiente doméstico, conceito oposto ao da esfera pública.
O conforto não se dá pela aparência e, sim, pelo comportamento do ser humano. Isso é
explicado pelo fato da decoração ser um produto da moda e sua longevidade medida em
décadas; o comportamento, que é função de hábitos e costumes, é mais duradouro.
Conforto, ainda, não diz respeito somente à fisiologia humana. Apesar do corpo humano
não ter mudado, no que diz respeito a sua fisiologia, a nossa noção de conforto hoje não é
a mesma de cem anos atrás. Conforto não é uma experiência subjetiva; se o fosse seria de
se esperar atitudes diferentes perante ele, e em qualquer período histórico há de se
encontrar um consenso do que seja confortável ou não. “Apesar do conforto ser uma
experiência pessoal, o indivíduo o julga segundo normas mais amplas, que indicam que ele
pode ser uma experiência objetiva” (RYBCZYNSKI, 2002, p. 230). Se é objetivo, pode ser
medido, mas para Rybczynski (2002), isso na prática é mensurado quando se analisa o
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
21
conceito do desconforto, como por exemplo, determinar uma área de conforto térmico,
verifica-se a que temperaturas a maioria das pessoas sente calor ou frio; o que estiver no
meio, é confortável, o que estiver fora dessa média é desconfortável. A definição científica
de conforto seria algo como “uma condição em que se evitou o desconforto" (RYBCZYNSKI,
2002, p. 231). O conforto possui uma relação do que seja íntimo e privativo, gerado pelo
equilíbrio do que seja isolado ou público. Isso fica claro na descrição de identificação de
diferentes aspectos de um recinto de trabalho:
Isso incluía a presença de paredes atrás e do lado do trabalhador, a
quantidade de espaço aberto na frente do funcionário, a área de trabalho,
se o recinto é muito fechado ou aberto, uma vista para fora, a distância à
pessoa mais próxima, a quantidade de pessoas na região próxima e o nível
de tipo de ruído (RYBCZYNSKI, 2002, p. 233).
Para ele não é fácil achar uma definição simples de conforto. Assim como uma cebola que
possui diversas camadas, o conforto é um todo, algo simples e complexo, formado por
camadas transparentes de sentido - privacidade, bem-estar, conveniências, eficiência,
lazer, prazer - alguns mais profundos que outros, mas todos existentes. Enfim, reconhece
que o conforto é sentido, percebido e por isso envolve uma combinação de sensações não
só físicas, mas também emocionais e intelectuais.
Segundo Schmid (2005), conforto não se explica com itens estanques, precisamente
definidos. Também não é um jogo que vence a neutralidade, a eliminação dos fatores
indesejáveis, isto é, do desconforto, é algo mais. Para ele não é delimitar os critérios
térmico, acústico, visual ou químico; trata-se de seguir por um caminho que acrescente
emoção e prazer.
O aspecto ambiental é tratado como um dos conceitos de conforto, que não pode ser
dissociado dos outros contextos - corporal, sociocultural e psicoespiritual. Apresenta a casa
como sistema de maior qualidade do conforto. Ela acolhe, atende às necessidades básicas
de segurança, envolvimento, orientação no tempo e no espaço. A casa remete ao útero,
ambiente de maior proteção física, social e espiritual. Na rua o mundo se revela
desconfortável, o antônimo de casa. Ele nos leva a entender que as qualidades do conforto
são essas presenciadas em um lar.
22
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Quanto aos contextos, eles podem ser:
físicos: relacionados às sensações corporais e mecanismos homeostáticos;
psicoespirituais: ligados à consciência interna de si, incluindo estima, conceito,
sexualidade, e outros;
sociocultural: pertencendo a relações interpessoais, familiares, sociais, tradições
familiares, rituais e práticas religiosas;
ambiental: pertencendo à base externa da experiência humana como temperatura,
luz, som, odor, cor, mobiliário, paisagem, etc.
Essa visão mostra a importância da amplitude do conceito de conforto, integrando os
vários contextos aos espaços arquitetônicos, o conforto perpassando por todos os aspectos
do bem-estar.
Por fim, Schmid (2005) comprova que o conforto não é encontrado somente no sistema
fisiológico, mas demonstra que os sentidos - olfato, tato, sentido do calor, audição e visão interferem na percepção do ambiente construído, comprovando que o conforto é
compreendido também pelos aspectos subjetivos.
Para Silva e Santos (2012), a palavra conforto está envolta em uma aura de subjetividade,
de difícil definição objetiva, pois varia em cada meio cultural e para cada indivíduo. Para os
autores, o conforto é construído por atributos de contexto físico e de contexto subjetivo. A
segurança é um atributo objetivo e primordial para se vivenciar o conforto, está na base da
própria existência e, consequentemente, no habitar. O segundo ponto a ser considerado
como conforto é a busca da adequação ambiental da moradia - conforto ambiental
associado ao saneamento. A eficiência seria o terceiro atributo, conceito ligado à máquina,
àquilo que a máquina pode realizar para trazer eficiência. Em moradia, seria aquele espaço
mínimo e flexível, móveis eficientes às utilidades e circulação adequada, enfim a uma boa
ergonomia. Os atributos subjetivos atuam com os elementos físicos para a realização de
um conforto pleno. Esses atributos possuem forte marca cultural. O território é um
atributo de contexto subjetivo, pois é uma delimitação do espaço por um sujeito, através
de objetos que marcam os lugares ou através de limites físicos ou simbólicos. Está ligado à
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
23
segurança por ser uma reivindicação da posse de uma área. Esse espaço abrange desde um
pequeno cômodo até uma grande cidade. O segundo atributo é o lar, seguro por
comportar relações de pessoas tão próximas, que estabelecem redes de amparo e
confiança. O lar guarda nossa identidade, nossa história, espaço onde as lembranças e
objetos podem nos trazer alívio - conforto. A privacidade é um terceiro ponto a ser
considerado, a divisão dos ambientes em ‘compartimentos dos próprios donos’ e ‘espaços
comuns’ e por fim o atributo da beleza. Enfim, os atributos subjetivos como a sensação de
pertencimento, identidade, apropriação, privacidade, amparo, confiança, lembranças,
objetos e beleza podem nos auxiliar na compreensão do que seja conforto e associadas ao
ambiente físico e seus contextos traduzem o que seja conforto ambiental.
Barroso (2015) defende a ideia de que os profissionais devem ter como primeiras
preocupações, o conforto, a segurança e a satisfação humana. Em primeiro lugar, deve vir
o conforto. Isso significa dotar o ambiente de condições adequadas às tarefas que ali serão
desenvolvidas. A busca pelo conforto significa considerar também os aspectos sensoriais,
em especial a visão e a audição, dotando os espaços de uma ventilação e climatização
adequada, de uma iluminação correta e proteção acústica. A definição e escolha dos
materiais, mobiliário e equipamentos devem levar em consideração sua durabilidade e
facilidade de limpeza e manutenção. Isso também significa conforto. Em segundo lugar,
mas não menos importante, está a questão da segurança. Isso significa prever, para evitar,
o risco de acidentes em função da correta colocação dos produtos e equipamentos
permitindo ou restringindo o acesso aos mesmos de acordo com as necessidades. Em
terceiro lugar está a questão da satisfação humana entendida como sendo uma resposta
positiva às diversas expectativas e exigências estéticas, sensitivas ou emocionais. Viver em
um espaço acolhedor e prazeroso, como uma metáfora do colo materno, é o sonho de
todos.
24
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2.2 Percepção e sistema sensorial
O
s espaços para se tornarem lugares, isto é, ambientados, são organizados por uma
seleção de materiais e artefatos que possuem propriedades e características
particulares assumindo assim a construção da linguagem desse ambiente. "Para o designer
de interiores, os materiais são a substância da criação da noção de lugar, e ele deve ter um
conhecimento similar de sua paleta de materiais, isto é, do potencial e das limitações dos
materiais" (BROWN; FARRELLY, 2014, p. 90). Esses materiais e artefatos são escolhidos
pelos seus aspectos objetivos como os técnicos, de uso e os de sustentabilidade e os
O
aspectos subjetivos que dizem respeito aos estéticos e simbólicos. Portanto, é através dos
materiais, objetos e seus significados que o designer poderá realizar conexões entre o
ambiente e usuário.
Romanini (2011) salienta que design é: DE – a partir de e SIGN – signo, “sendo que signo é
tudo aquilo que representa algo de forma a criar um efeito qualquer” (ROMANINI, 2011,
s.p). A partir do momento que temos uma ideia, uma imagem, significa que já se formou
algo em nossa mente em algum momento produzindo sentido. De acordo com Romanini,
O
nós vivemos no signo a todo instante. Isso significa que quando idealizamos uma imagem
de um ambiente, seu conceito, essa ideia já foi concebida anteriormente e que os materiais
e objetos inseridos nesse ambiente também já foram imaginados de alguma forma
produzindo sentido, como o exemplo apresentado na Figura 7. Existe uma comunicação
instantânea ocorrendo nesse momento entre sensação e o objeto imaginado, que passa a
ser palpável em nossa mente. Esse objeto, ou conjunto de objetos, que é o produto do que
foi antes sensação, é a mensagem que temos para dar corpo e significado ao espaço.
Para que haja comunicação é preciso formar uma mensagem. Para ele cada produto é uma
mensagem.
Neste processo de ação sígnica, o designer é o emissor que faz a sintaxe
entre a forma ou conceito que elaborou abdutivamente e os aspectos
materiais de que dispõe para comunicar suas ideias, produzindo uma
proposição capaz de criar efeitos na mente dos intérpretes-receptores
(ROMANINI, 2008, s.p).
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
25
FIGURA 7 - Exemplo de banheiro nostálgico
sensação do antigo, do escuro, da história - traduzida nos objetos – mensagem
Fonte: imagens (1) shoppingspirit.pt, (2) delightbymilakdc.blogspot.com.br, (3) www. mocadossonhos.com,
(4) mudominhacasa.wordpress.com, (5 e 6) vamosdecorar.com. Elaborado pela autora, 2014
O designer é o emissor, articula os atributos e materializa através de formas, cores,
texturas, produzindo uma proposição que cria efeitos, capazes de dar sentido na mente do
receptor ou intérprete, que é o usuário (Figura 8).
FIGURA 8 - Esquema básico da comunicação
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
A aceitação de um ambiente pelo usuário depende de quanto o designer seja capaz de
saber escolher produtos que se conectem com a escala de valores do usuário,
26
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
proporcionando um impacto positivo. Esses valores qualitativos permeiam os aspectos
abstratos que são percebidos pelos nossos sentidos. Compreender como esses valores são
percebidos auxilia o designer de ambientes a selecionar os materiais e artefatos
adequadamente para os espaços propostos.
Barroso (2015) chama a atenção de que o designer, não importando sua especialidade, tem
um compromisso direto com seu cliente. Sua responsabilidade é atender as necessidades
daquele que o contrata e daqueles que serão usuários de suas criações. Assim, respeitar o
gosto, a cultura e os valores daqueles que irão habitar ou usufruir do espaço ambientado,
deveria ser um imperativo de projeto. O repertório do cliente não é necessariamente o
mesmo do designer contratado, mesmo que pertençam a um estrato social semelhante,
pois cada um tem sua própria história de vida, de escolhas e recordações.
2.2.1 Percepção
Não significa que só pelo fato de estarmos de olhos abertos estejamos vendo a realidade.
Okamoto (2002) ressalta que a realidade é percebida por meio de conceitos, símbolos,
mitos, dentre outros. “Não se tem na mente a realidade absoluta, mas somente aquilo que
é perceptível por meio de fatos observáveis” (OKAMOTO, 2002, p. 22). O autor baseia-se
na filosofia hindu, onde o termo Maya se refere à concepção de mundo como resultado do
ponto de vista do indivíduo. No ocidente, ele diz que a realidade é uma ilusão - de acordo
com a teoria de Platão. Existe uma realidade interna ao ser, real, de acordo com seu
mundo de ideias, adquirida pela observação e vivência, mas não significa que seja realidade
para o outro, que possui outra visão de mundo. A realidade passa a ser, então, uma
interpretação do ser, uma aproximação da verdade. “Não vemos a realidade como ela é,
mas sim como nós somos” de acordo com Tiedermamn e Simões (1985, p. 34, apud
OKAMOTO, 2002). Recebemos milhares de estímulos do meio, os quais são filtrados de
acordo com o nosso interesse, interpretados conforme conceitos, símbolos e mitos,
transformando-se em significados para o indivíduo ou para um grupo, no caso, a cultura.
Portanto, para Ingold (2012) não é o que as pessoas percebem e, sim, como elas percebem,
que diferenciam as culturas. Para esse mesmo autor, cultura passa a ser, dessa maneira,
"[...] os diferentes modos de organizar as informações perceptivas em representações"
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
27
(INGOLD, 2012, p. 250).
Nesse contexto, percepção é uma função cerebral que atribui significado aos estímulos
recebidos pelos sentidos. Assim, quando se está inserido em um ambiente, os sentidos
fisiológicos como visão, audição, olfato, paladar e tato são estimulados diante dos
materiais empregados na construção desse ambiente e, unidos a um conjunto de ideias
que preenchem nossa mente (experiências e memória), produzem algum significado.
Então, para que um ambiente tenha sentido, que se adapte ao usuário, os materiais e
artefatos precisam ter coerência positiva com as sensações desse sujeito. A Figura 9 ilustra
um espaço perceptivo: ambiente de café - D 'espresso, em Nova York. Esse ambiente
'brinca' com a percepção do usuário por meio, principalmente, da inversão do
revestimento das paredes, piso e teto. O espaço passa ser interessante pela desorientação
exposta.
FIGURA 9 - Café D'espresso - Nova York
Fonte: www.aprendizdeviajante.com
Isso foi possível por meio da fixação de um papel de parede imitando piso - aplicado na
parede; papel imitando livros - aplicado na parede, piso e teto; e ainda, pelas luminárias
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Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
fixadas na parede. O usuário recebe essa mensagem e essa informação desconectada é o
que atribui significado ao ambiente. Estimula os sentidos perante os materiais empregados
na construção do ambiente, garantindo um impacto sensitivo positivo. Essa intervenção
perceptiva, utilizada pelo designer ao projetar um ambiente, contribui para a entrada do
usuário no estabelecimento pelo fato da curiosidade exposta, e por fim, para as vendas dos
produtos comercializados.
Outra imagem (Figura 10) que configura bem o aspecto perceptivo é o espaço Beijing
Noodle Bar, instalado no Caesars Palace, em Las Vegas. O restaurante tem uma ambiência
efêmera, criada com o uso de materiais diferentes e iluminação. O espaço é coberto com
uma luz difusa e aplicação de um véu sedoso com arabescos. O padrão arabesco está
também gravado no mobiliário. O corredor até a chegada do restaurante é configurado por
aquários bem iluminados, criando um espaço de transição tranquilo, longe das barulhentas
máquinas de caça-níqueis. O interior do restaurante é calmo - "interior suave, que lembra
um casulo" [...] um abraço sensual como o fascínio gerado por uma floresta densa ou os
segredos do oceano" (BROWN; FARRELY, 2014, p. 163). Os móveis soltos são brancos com
detalhe em aço inoxidável e alumínio e a cor utilizada é o rosa.
FIGURA 10 - Sala de jantar Beijing Noodle Bar - Las Vegas
Fonte: www.aprendizdeviajante.com
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
29
Para Gibson (1986), nosso planeta é composto por terra, água e ar. Os animais se
locomovem por meio da busca de luz, som e cheiro. A iluminação o faz ver, o som o faz
ouvir e a difusão o faz cheirar. Se não houvesse o cheiro, o som e a luz não haveria formas
de locomoção, busca pela vida e do bem-estar. A relevância dessas considerações é que o
ser humano é movimentado a perceber algo e não somente estimulado pelas coisas de
forma passiva, "o perceptor humano não espera passivamente pelos estímulos, ele os
busca numa percepção ativa no mundo" (SANTAELLA, 2012, p. 66). Assim, nossos sentidos
além de receptores passivos são também mecanismos ativos de busca e seleção de
informações, formando sistemas de orientação, exploração, seleção, organização,
investigação e extração. O estímulo passa a ser descoberto por aquele que o percebe,
ampliando o modelo antes unidirecional para dinâmico. Transpondo para o ambiente, este
passa a ser também aquilo que é percebido, isto é, o ambiente nos estimula a percebê-lo,
transformando em algo vivo e estimulante.
Conforme descrito por Okamoto (2002), do ponto de vista fisiológico, os sentidos são
classificados por três grupos de receptores do sistema nervoso, como na Figura 11:
FIGURA 11 - Receptores do sistema nervoso.
Fonte: Okamoto (2002, p. 55)
Exterorreceptores - são responsáveis pela captação de estímulos exteriores ao
organismo através da visão, tato, olfato, audição e paladar;
30
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Propriorreceptores - fornecem informações sobre o movimento, postura e
equilíbrio do corpo: sentido do movimento, vestibular, cinestésico e da dor;
Interorreceptores - são destinados à percepção do estado interno do nosso
organismo, como sede, fome, sexo, hidratação, respiração e vitalidade.
Todos os sentidos trabalham conjuntamente, dirigindo-se ao cérebro, completando as
informações para se ter uma percepção consciente. Mas, de acordo com Munari (1973),
são percebidos os estímulos que conseguem ultrapassar algumas barreiras como:
deficiência fisiológica, faixa etária, sexo ou cultura, que influenciam na percepção e
interpretação desses estímulos. Sendo assim, a percepção ocorre propriamente depois de
ultrapassar todo esse processo.
Os materiais e artefatos possuem várias características como: cor, forma, textura, peso,
movimento - percebidos pela visão; texturas, forma, peso, temperatura, segurança percebidos pelo tato; odores - percebidos pelo olfato. Os usuários os percebem de acordo
com sua visão de mundo, interpretam e devolvem como resposta se o ambiente é
confortável ou não. "Os sentidos estabelecem comunicação entre o ambiente construído e
nossa mente. Isto não corre em um processo mecânico de comunicação, de conteúdo
objetivo, mas sempre sujeito a uma interpretação, consciente ou não". (SCHMID, 2005, p.
325).
2.2.2 Sentido visual
A visão é um dos sentidos que permitem o aprimoramento da percepção do mundo. De
acordo com Okamoto (2002), a visão ocupa cerca de 87% das atividades entre os cinco
sentidos, principalmente ao detectar as cores. Os olhos captam a luz (energia), que é
transformada em impulsos nervosos, que são levados para o cérebro e lá interpretados
(Figura 12). Schmid (2005) afirma que a visão é um vínculo que se completa pela energia,
diferente do tato que é pela matéria. A visão não acontece no olho e sim no cérebro, por
isso "o ver" pode ser alterado pelo contexto de vida de cada sujeito. Além disso, pelo
princípio de completude, sempre tendemos a completar as imagens, possibilitando criar
muitas ilusões óticas. “A visão pode ter imagens distorcidas ou mal interpretadas; também
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
31
pode ocorrer que visualizamos o que desejamos ver” (OKAMOTO, 2002, p. 122). “Em
qualquer análise da visão, é necessário distinguir entre a imagem que se forma na retina e
o que o homem percebe” (HALL, 2005, p. 80). '*...+ os olhos estão sujeitos a diversas formas
de ilusão. (SCHMID, 2005, p. 276)
FIGURA 12 - Sistema visual
Fonte: www.dilences.com
Pode ser percebido pela visão: cor, textura, distância, movimento, forma e contorno.
Existem vários níveis de percepção gradativa da visão de acordo com Okamoto (2002):
configuração dos objetos e seres; a visão do volume - luz e sombra; sensação do peso - pela
textura e padrão.
De acordo com Hall (2005), os olhos são receptores remotos, ocupam-se do exame de
objetos distantes e é provável que cheguem até mil vezes mais em eficácia que os ouvidos
na varredura das informações. “Os olhos humanos, por terem superposição bifocal e
capacidade estereoscópica, proporcionam às pessoas um estado vívido, em três dimensões
e isso auxilia na organização espacial”. (TUAN, 2013, p. 21).
O ofuscamento é a maior manifestação de desconforto e é classificado como doloroso, de
acordo com Schmid (2005). O conforto visual, quanto à luz, vem daquilo que se realiza no
ambiente. “Pouco ajuda a luz de um lampião decorativo e aconchegante se alguém,
aguardando no ponto de ônibus, tenta ler um livro de bolso. E pouco vale a perfeita
iluminação de uma sala de estar se o que se deseja é cochilar” (SCHMID, 2005, p. 288).
32
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Existe brilho nos objetos de acordo com suas cores: cores claras refletem maior quantidade
de luz, maior brilho e cores escuras absorvem a luz. O nível de brilho pode trazer maior
comodidade quando utilizado de pouco contraste e na intensidade da luz natural.
A luz e seus aspectos subjetivos e, por consequência diz respeito à visão, são consideradas
por Schmid (2005): luzes menos concentrada enfatizam um caráter de intimidade, ganham
em dramaticidade, ampliam a percepção das texturas, arredondam arestas, reduzem o
ofuscamento, criam um ambiente mais "fechado" e propiciam prazer sensual. Ambientes
muito iluminados oferecem uma comunicação simplificada, generalizada, por vezes
grosseira e não requerem proximidade.
FIGURA 13 - NAT - Fast Food Orgânico – Hamburgo
Fonte: www.cumbu.com
A Figura 13 demonstra o espaço de Fast Food Orgânico - NAT - localizado em Hamburgo,
Alemanha. O menu é de sopas, saladas, hamburguers, massas quentes. O conceito é de
ambiente claro, limpo e que traduza naturalidade. Entretanto, pelas formas limpas,
material liso, monotonia das cores e principalmente pelo ofuscamento provocado pela
iluminação excessiva, faz com que o espaço não comunique ao usuário a sensação de
naturalidade, intimidade ou mesmo interação. Na Figura 14, percebe-se o novo conceito
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
33
das redes fast food Mc Donalds, em Batumi, Geórgia. O principal conceito é de uma
iluminação menos concentrada, isso faz com que reduza o ofuscamento, ampliando a
percepção das texturas; arredondando arestas; enfim, permitindo um ambiente mais
fechado, mais próximo do usuário. Além disso, os materiais e a forma arredondada
lembram a natureza. Esse novo conceito diz respeito a uma nova leitura, um novo
significado de fastfood - de que o usuário permaneça no ambiente. Essa estratégia foi
possível pelas alterações visuais e pelas interpretações subjetivas.
FIGURA 14 - Mc Donalds – Batumi
Fonte: imgur.com
As cores também produzem alguns efeitos subjetivos decorrentes de associações como: “o
azul lembra o céu, mar, imaterialidade, infinito. O verde, calma e frescor. O vermelho,
sangue. O laranja, fogo” (SCHMID, 2005, p. 310). As cores escuras são consideradas mais
pesadas, as claras e quentes parecem mais próximas que as cores cinzentas e frias.
Portanto, para analisar os impactos visuais que um material possa possuir, necessário será
o designer entender os efeitos da luz. Sem a luz não há visão, dessa maneira não há
possibilidade perceptiva do sentido visual.
34
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2.2.3 Sentido tátil
O tato é um vínculo que temos com a realidade física. “É o sentido que sinaliza a interação
concreta das pessoas com o mundo físico: não é uma percepção baseada em
representações como a contemplação de imagens, ou a audição de gravações” (SCHMID,
2005, p. 181). É aferição do visual, pois sinaliza como verdadeiro o que o olho não viu, ou
não interpretou adequadamente. “Ver é uma forma de tocar à distância, mas tocar fornece
a verificação da realidade” (MONTAGU, 1988; p. 127). “As experiências visuais e táteis do
espaço estão tão entrelaçadas que não podem ser separadas” (HALL, 2005, p. 74). A pele é
o órgão sensorial do tato, é o maior órgão sensitivo do corpo, contento terminações
nervosas que se dividem entre terminações livres, responsáveis pela dor e terminações
encapsuladas, responsáveis pelo tato, frio e calor e pressão, conforme mostra a Figura 15.
Essas terminações detectam o toque e a dor e enviam para o cérebro. Schmid (2005)
completa, "e como a pele é um invólucro fabuloso, à prova de água, lavável, elástica e
renovável, posso testar o mundo físico sem receio. (SCHMID, 2005, p. 191).
FIGURA 15 - Sistema tátil
Fonte: Dias (2009, p. 66)
A conscientização do significado profundo do que seja o tato é de extrema importância no
entendimento comunicativo dos materiais. “Nosso primeiro meio de comunicação, nosso
mais eficiente protetor” (MONTAGU, 1988, p. 21). Por ser um órgão presente em todo o
corpo, passa a ser o invólucro, delimitando território externo e interno. Desenvolvido
desde a infância pelo estímulo do toque entre mãe e filho, pelo aleitamento materno, por
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
35
exemplo, é um órgão que busca o acolhimento, aconchego, defesa física e emocional. O
que está relacionado ao aconchego e segurança diz respeito à interpretação do tato no
cérebro.
O sentido que o ser humano tem do espaço apresenta uma relação muito
próxima com seu sentido do eu, que está em íntima interação com o
ambiente. Pode-se considerar que o ser humano possui aspectos visuais,
cinestésicos, táteis e térmicos de seu eu cujo desenvolvimento pode ser
inibido ou estimulado pelo ambiente (HALL, 2005, p. 77).
É pela sensibilidade do tato que se consegue acomodar em poltronas sentindo a maciez do
assento e encosto (Figura 16) ou a sensação desagradável de assentar em uma cadeira fria
de alumínio, por exemplo.
FIGURA 16 - Poltrona Up 5 d Up 6
FIGURA 17 - Poltrona Uncle Jim
Fonte: www.bebitalia.com
Fonte: www.pinterest.com
O incômodo se dá em materiais que não dizem respeito ao aconchego e acolhimento,
como: ásperos, escorregadios, úmidos, frios, duros e pontiagudos, (Figura 17). Esses dois
últimos recebem o peso do corpo, refletindo posteriormente em dores; o incômodo se dá
pela necessidade de preservação da integridade física. Por isso, o mais confortável ao tato
seriam as superfícies macias.
A Figura 16 demonstra como exemplo a poltrona Up 5 e apoio de pés Up 6, projetada pelo
36
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
italiano Gaetano Pesce. A poltrona é caracterizada pelas formas de uma mulher: o encosto
em forma de seios e a parte inferior, das pernas. Ela envolve o usuário ao sentar-se,
revelando sentimento de proteção. Up 6 é uma esfera pesada com uma corda presa à
'mulher', que metaforicamente significa esforço e fardo pela vida. A Figura 17 procura
exemplificar a poltrona Uncle Jim, projetada por Philippe Starck, como inovação
tecnológica pela ousadia tecnológica de moldagem por injeção. Entretanto, é uma poltrona
que envolve pouco o usuário pelo fato de ser incômoda pelo material rígido e frio.
De acordo com Okamoto (2002), “a harmonia, a suavidade ou a agressividade do meio
ambiente reflete sobre o nosso sistema háptico, sobre a nossa sensibilidade” (OKAMOTO,
2002, p. 142), por isso, a forma com que se compõem os ambientes interfere de
sobremaneira no nosso bem-estar e é percebido pelo sentido do tato. Interfere, por
exemplo, no que diz respeito ao público e privado como no caso das cortinas, citado por
Schmid:
Os tecidos no ambiente, presentes como potenciais anteparos, têm o
efeito de compensar a crueza das janelas. Como se a área de exposição ao
mundo, com suas incertezas, surpresas e perigos, exigisse uma
contrapartida em acolhimento, percebido pelos olhos, mas interpretado
pelo tato (SCHMID, 2005, p. 195).
Menciona Rybezynski (2002) quanto ao dossel nas camas no século XVIII, eram utilizados
pelo caráter público que ainda possuíam os quartos. Esse autor ainda cita que os tapetes e
carpetes conferem algo envolvente aos pés “é agradável pisar e sentir o peso do corpo não
concentrado sobre o calcanhar *...+” (SCHMID, 2005, p. 191); esse material amplia a
segurança quanto à dor. Schmid (2005) contribui ainda trazendo que os materiais
industrializados ou pré-fabricados como o concreto, gesso, plástico, aço, vidro, alumínio e
outros transmitem uma ideia impessoal e morta e também afetam nas decisões do tato
quanto ao aconchego. Em contrapartida, os materiais naturais como pedra, madeira,
cerâmica e outros conferem qualidade orgânica, autêntica, robusta e duradoura,
transmitindo identidade ao produto, segurança e aconchego.
[...] o corpo é participação. Sentir significa, antes de mais nada, sentir algo
e alguém, que não somos nós. Antes de tudo: sentir com alguém. Mesmo
para sentir-se, o corpo procura um outro corpo. [...] O artesanal é um
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
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sinal, que expressa à sociedade não como trabalho (técnica) nem símbolo
(arte, religião), mas como uma vida física compartilhada (ALEXANDER
apud SCHMID, 2005, p. 203).
O bar-fábrica de aguardente Shustov Brandy Bar, na Ucrânia (Figura 18), demonstra
exemplo de ambiente aconchegante e envolvente: suas paredes são revestidas com
madeira de barris, garantindo uma textura não só agradável pelo material revestido, bem
como pelo significado do material. O teto feito de garrafas de conhaque todo ondulado
reproduz uma sensação de abrigo; os tampos das mesas produzidos de carvalho
recuperados de barris. O teto curvo do ambiente envolve o usuário, traz uma ideia de
útero, assim como a iluminação incandescente, que reproduz uma camada amarelada
difusa, trazendo a oportunidade de estímulo aos outros sentidos, que não seja somente o
da visão.
FIGURA 18 - Shustov Brandy Bar – Odessa, Ucrânia
Fonte: www.knstrct.com
Além disso, o assento de sofá macio e as cadeiras de madeira com encosto curvo ampliam
a segurança contra a dor. Parece que o corpo entra em contato com o material empregado.
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Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
De acordo com Brown e Farrelly (2014), o corpo apresenta um diálogo fluído com o mundo
material, portanto o designer deve conscientizar das escolhas realizadas: das justaposições
e contrastes de texturas, da parede contra a qual se apoia, do piso no qual se senta e no
corrimão no qual se segura. Enfim, esse ambiente exemplificado, passa a ser um invólucro,
que envolve o sujeito, dando uma ideia de proteção, característica do sentido do tato.
2.2.4 Sentido auditivo
Por estarmos permanentemente com o ouvido aberto, Okamoto (2002) coloca que o
ouvido tem um significado inconsciente profundo; estamos sempre ouvindo um fundo
sonoro no qual estamos sintonizados. Além disso, a audição é o primeiro dos sentidos a
desenvolver-se no feto, e assim, o primeiro contato com o mundo. O órgão sensorial da
audição é o ouvido que capta os sons e são direcionadas ao interior da orelha, Figura 19.
Essas vibrações chegam até a membrana do tímpano, que transmite as vibrações para os
três ossículos da orelha média que envia para a orelha interna e por meio de impulsos
nervosos chega até o cérebro onde a informação será interpretada. Existe maior tolerância
aos sons graves que os agudos, que são finos e penetrantes e por isso causam maior
irritabilidade.
FIGURA 19 - Sistema auditivo
Fonte: www.infoescola.com
Existe uma estreita relação do ouvido com o sentido espacial, formando o sentido do
equilíbrio. Okamoto (2002) explica que, quando se está andando, o som é mal
compreendido pelo fato do sentido do equilíbrio estar atuando para o controle do corpo;
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
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para melhor ouvir há uma necessidade de parar o corpo para concentrar a atenção na
audição.
A audição é um importante complemento da visão, muitos sons são provocados fora do
alcance visual. Para Tuan (2013), o som aumenta a nossa consciência, incluindo áreas que
estão atrás de nossa cabeça e não podem ser vistas. E o que é mais importante: o som
dramatiza a experiência espacial.
Para que uma mensagem auditiva seja transmitida, o ambiente requer adequação coerente
quanto aos materiais empregados. Um ambiente composto por materiais rígidos constitui a
base da dificuldade de acústica. Superfícies duras e lisas e sem objetos amplificam demais
o som, diminuindo a clareza do que está sendo dito. Esse fato se dá pelo efeito da
reverberação: é o som que se houve mesmo depois de sua produção ter sido cessada. Para
que isso não ocorra, é necessário o acréscimo de superfícies absorvedoras e objetos no
ambiente.
Os materiais duros podem ser utilizados para refletir o som e criar
cômodos que tenham uma acústica 'viva' e que sejam ressonantes; no
entanto, tais espaços podem ser desconfortáveis se ocupados por longos
períodos de tempo. Já os materiais perfurados, tecido e carpetes podem
ser empregados para amortecer o som. Considere mais uma vez o
contraste de um restaurante de luxo, onde as pessoas são encorajadas a
permanecer e uma cafeteria junto à calçada - as características acústicas
são muito diferentes (BROWN; FARRELLY, 2014, p. 80).
De acordo com Schmid (2005), um ambiente também pode ser considerado 'frio' pela
característica grosseira da acústica: “ao afirmar que uma sala é fria e formal, raramente
nos referimos à temperatura em si, mas a outros aspectos percebidos como antipáticos,
como as cores, ou uma acústica áspera *...+” (SCHMID, p. 260). O mesmo se dá quando o
volume dos espaços aumenta, são maiores as possibilidades de reverberação e, por
consequência, maior necessidade de materiais absorvedores.
Importantes considerações são tratadas por Schmid (2005) quanto aos aspectos subjetivos
do mundo auditivo, tais como: o espaço público é o da ação, dos acontecimentos, do ruído
nervoso do trânsito. A construção de ambientes em que não se perceba ruído seria uma
forma de disfarçar a realidade, um exemplo, seriam os cinemas. Há outros sons
40
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
característicos da intimidade, como o pulsar do relógio, lembra no útero o som das batidas
do coração da mãe, ouvir a voz de alguém conhecido também são sons que nos confortam.
“Um recinto cheio de pessoas, se muito ruidoso, sentimo-nos em certo anonimato. Já se
for cheio, mas silencioso, sentimo-nos expostos” (SCHMID, 2005, p. 264). O pé direito mais
baixo também transmite maior intimidade acústica e tetos mais altos transmitem menor
familiaridade, adequados para espaços púbicos ou de maior socialização.
As Figuras 20 e 21 apresentam exemplos de como o pé direito pode interferir na sensação
do espaço: a Basílica de San Pedro, em Roma, discorre de um pé direito imenso
comprometendo uma acústica adequada.
FIGURA 20 - Basílica de San Pedro – Roma
FIGURA 21 - Igreja São Francisco de Assis – BH
Fonte:www.flickr.com
Fonte:skycrapercity.com
Além disso, os usuários sentem-se minúsculos, pela múltipla proporção da altura,
transmitindo, dessa forma, pouca familiaridade do indivíduo com o ambiente. Apesar de
culturalmente a dimensão e ornatos dos espaços religiosos serem proporcionais ao valor
da grandiosidade divina, não deixa de ser também e, principalmente, um ambiente
projetado para reflexibilidade do fiel. Portanto, o pé direito muito alto compromete a
função principal do lugar. A Igreja São Francisco de Assis, Belo Horizonte, apresenta
dimensões de altura menores, pela qual o usuário acaba por se sentir pertencente ao lugar.
Apesar de a arquitetura ser modernista, limpa em formas e ornatos, o ambiente dessa
igreja acolhe o usuário, transmite 'calor', aconchego e recolhimento apropriado para a
reflexibilidade do sujeito.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
41
O ‘calor’ é o mais desejado nos ambientes domésticos, para tanto será necessária a
presença de superfícies estofadas ou acarpetadas para absorver os sons agudos,
transmitindo a ideia que sons agudos são irritantes e ‘frios’. “A riqueza em mobiliários,
objetos e tecidos faz com que a comunicação seja feita com clareza: há supressão do brilho
e uma certa promoção de calor. E a condição mais naturalmente aceita à casa é a sua
intimidade” (SCHMID, 2005, p. 273). Saber perceber dimensões e materiais adequados aos
ambientes passa a ser uma boa resposta aos atributos sensoriais auditivos. Isso beneficia o
bem-estar dos usuários, além de torná-los socialmente inclusivos.
2.2.5 Sentido olfativo
O mundo é olfativo, estamos constantemente em um mar de odores. Podemos fechar os
olhos e os ouvidos, mas não podemos eliminar o olfato, pois respiramos o tempo todo. O
olfato produz um colorido à imagem visual e também gustativa. O órgão sensorial do olfato
é o nariz. O odor penetra pelos orifícios nasais, passa pela a cavidade nasal e encontra ao
fundo a membrana olfativa que possui neurônios receptores olfativos que transmitem as
informações para o cérebro, Figura 22.
FIGURA 22 - Sistema olfativo
Fonte: www.afh.bio.br
As fibras nervosas do aroma percorrem um complexo caminho, algumas atingem o
hipotálamo, centro que controla o apetite, o medo, a raiva e o prazer; outras atingem o
hipocampo, que regula a memória e outras descem até o crânio, onde são reguladas as
funções como a lembrança de respirar. Essas ligações nervosas explicam por que os odores
42
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
conseguem despertar respostas emocionais tão fortes e também seu vínculo com a
memória.
O olfato é uma linguagem de referências muito fortes, a que se associam
emoções, registradas com muito realismo. Como consequência para o
ambiente construído, faz com que os materiais estruturais, de revestimento
ou outros quaisquer presentes no ambiente (plantas, perfumes e
ingredientes da cozinha), sejam criteriosamente escolhido. A riqueza
olfativa é uma garantia de sobrevivência do espírito da casa e das gerações
que nela habitam através de décadas (SCHMID, 2005, p. 325).
Na casa de seus pais, uma das mansões urbanas mais lindas de Grunderzeit,
havia um maravilhoso piso de parquet na sala de recepção formal, à qual as
crianças não tinham acesso, exceto nas ocasiões especiais, como o Natal
[...] Gadamer falava desta superfície como algo mágico - um piso de
madeira espetacular, imaculadamente bem-cuidado e tão lustrado que
enchia o ambiente com o aroma da cera (TAYLOR; PRESTON apud BROWN;
FARRELLY, 2014, p. 79).
De acordo com Okamoto (2002), os cheiros atraem, repelem, excitam, causam ojeriza ou
repulsa nas pessoas, estabelecendo um contato afetivo com o mundo, sem necessidade de
intérprete. O olfato também possui uma relação com a memória, gravamos imagens que
permanecem por muitos anos, fixadas em nossa mente sem perda de detalhes. Como
salienta Hall (2005, p. 56), "o cheiro evoca recordações muito mais profundas que a visão e
audição". Assim, um cheiro que tenha sido encontrado só uma vez na vida pode ficar
associado a uma única experiência e então a sua memória pode ser evocada
automaticamente quando se reencontra esse odor, conforme comenta Dias (2009).
A Figura 23 demonstra um exemplo de um ambiente de loja - Troussardi - que adota o
cheiro de perfume de flores para realçar a identidade própria do ambiente de suas lojas. O
perfume das flores invade a loja que comercializa produtos nobres de cama, mesa e banho.
A leveza dos produtos é associada ao cheiro prazeroso que permanece positivamente na
mente do usuário. Essa única experiência atrai o usuário para novas e felizes compras.
Além disso, a ‘suavidade’ e ‘docilidade’ do perfume comunicam com os materiais
empregados na loja: madeira laqueada, vidro, espelho e cores neutras.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
43
FIGURA 23 - Loja Troussardi e produtos Troussardi
Fonte: www.troussard.com.br
Fonte: lediniz.com
É por meio dessa memória associada às emoções que há uma possibilidade de identificação
e comunicação subjetivas, pois remetem a emoções vívidas que atraem ou repelem muitos
dos materiais que possuem relação com os odores. Podemos, “através do aroma inserir
curiosas referências pessoais, familiares, culturais, religiosas e históricas ao ambiente”.
(SCHMID, 2005, p. 177) Assim, ambientes podem ser projetados utilizando de recursos
olfativos para melhor adequar o usuário às sensações de bem-estar.
2.2.6 Sentido gustativo
O cotidiano do ser humano está também associado ao paladar. O paladar é o primeiro
sentido que se desenvolve e o último a perder seu valor. A língua é um órgão sensorial do
paladar sendo responsável pela detecção do gosto, textura, temperatura e se possui
componentes químicos irritantes no alimento. O olfato contribui com o paladar: ambos
dividem um túnel de ventilação comum. Quando comemos, moléculas voláteis são
liberadas pela comida e atingem a região nasal por uma cavidade oral, fazendo com que
sintamos o cheiro da comida que estamos ingerindo, "as informações do nariz e da língua
somadas resultam na percepção final do sabor da comida" (MALNIC, 2008, p. 69). Nossa
língua reconhece cinco tipos de gosto: o doce, o salgado, o amargo, o azedo e umami que
significa 'gostosura' ou sabor delicioso, como mostra a Figura 24.
44
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
FIGURA 24 - A língua e as áreas dos sabores
Fonte: www.portaldoprofessor.mec.gov.br
De acordo com Brown e Farrelly (2014), durante a primeira infância, são os sentidos do
olfato e do paladar que contribuem para construção da compreensão do mundo:
Nessa idade, todos os materiais e objetos são levados ao nariz e à boca para
serem explorados, para que possamos sentir seus cheiros, sabores e
texturas. À medida que crescemos e os outros sentidos se desenvolvem,
esses comportamentos instintivos se tornam menos importantes, mas
ainda assim permanecem como método poderoso de leitura e
interpretação de nosso ambiente (BROWN; FARRELLY, 2014, p. 79).
OKamoto (2002, p. 131) afirma que "comer é um ato social: dificilmente uma pessoa sente
prazer ao comer só. Sempre foi em convívio com outras pessoas, conversando
agradavelmente, que se valoriza o ato de comer." Isso reproduz uma comunicação
subjetiva de hospitalidade, amizade, intimidade, alegria e de encontro. Ambientes como
cozinha, sala de jantar, restaurantes, bares traduzem sentido quando reproduzem essa
linguagem subjetiva.
A casa de pães Bonomi é um exemplo de ambiente gustativo , veja na Figura 25. O espaço
comunica encontro, intimidade e convívio. O cheirinho de pão aguça o paladar e convida
para um encontro prazeroso com os amigos. A Bonomi fica em um casarão histórico
tombado do século XX e o ambiente interno foi bem planejado com móveis rústicos de
madeira. Existe uma mesa grande no centro do salão para dividir entre os clientes,
transmitindo a sensação de socialização; a janela aberta convida à interação com a rua,
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
45
favorecendo uma lembrança de vida interiorana; as cores da terra buscam a intimidade
com as montanhas.
FIGURA 25 - Casa Bonomi - Belo Horizonte
Fonte: aquelamesa.wordpress.com
Okamoto (2002, p. 133) reforça essa questão e conclui que o "gosto auxilia no processo do
eu em relação com o mundo”. Isso significa que, quando as coisas não possuem 'sabor', há
um desinteresse por elas.
2.2.7 Síntese das modalidades sensoriais
Dias (2009) propõe, na Figura 26, uma síntese das relações entre as modalidades sensoriais
com atributos gerais dos produtos. Essas modalidades em relação ao grau de percepção do
atributo pelo usuário. Ela relaciona informações de cada sentido e suas particularidades
objetivando compreender os respectivos papéis na percepção dos materiais. Os dois
quadros reforçam, de forma objetiva, a importância dos aspectos sensoriais relacionados
aos materiais, que, nesse caso, será examinado para o ambiente projetado.
46
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
A visão e o tato são modalidades sensoriais que apresentam maiores considerações no que
diz respeito aos atributos estruturais, materiais e de sua situação (Figura 26). Pode-se dizer
que, quando se planeja um ambiente, aquilo que se vê aferido pelo tato como verdadeiro,
(Figura 26) é o que traz maiores possibilidades de percepção pelo usuário, ampliando, por
consequência, as possibilidades de percepção comunicativa, encontradas nos valores
subjetivos desses materiais.
FIGURA 26 - Modalidades sensoriais relacionadas à percepção dos produtos
Fonte: Dias (2009, p. 74)
Na prática, então, a base do arranjo de um ambiente seria utilizar materiais onde há
possibilidade de vê-los e tocá-los, muito mais do que pelo seu cheiro, som ou pela
sensação do gosto. Ainda seria de se ponderar como primordial, nesse caso, os atributos
do volume e textura (grande importância nas duas modalidades sensoriais).
Quanto à implicação emocional, observado na Figura 27, o tato e o paladar são sentidos de
maiores informações afetivas em contrapartida com a visão. Levando-se em consideração
as reflexões de Hall (2005) que apresenta como aquilo que está distante como informação
racional e aquilo que está mais próximo, pelo fato de ser possível o contato físico direto,
como informação mais afetiva, pode-se considerar que: para um ambiente de maior
afetividade devem-se considerar materiais aos quais se pode tocar ou degustar (se
possível), ou possibilidade de estímulo gustativo.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
47
Para ambientes de conceito de maior racionalidade, como espaços de trabalho, por
exemplo, melhor seria optar por materiais que estimulem somente a visão, principalmente
no que diz respeito ao brilho e transparência, observado na Figura 26, ou seja, grande
importância para a visão e nenhuma interferência para o tato e paladar.
FIGURA 27 – Síntese de características e especificidades das cinco modalidades sensoriais
Fonte: Dias (2009, p. 75)
A visão e audição são os sentidos que percebem melhor os materiais quanto à sua situação,
distância e movimento. Em ambientes amplos, necessário se faz preocupar com o que será
visto a distância e com sua acústica, pois a percepção sonora estará elevada (Figuras 26 e
27).
O olfato e o paladar são os que interferem em menor grau no ambiente, mas é através do
olfato que são percebidas as relações de material e memória (Figura 26). Ambientes que
remetem à memória seriam mais bem percebidos se o material empregado tivesse uma
relação com o cheiro. É através do paladar que se pode trazer emoção, afeto, intimidade e
por fim, sensualidade ao ambiente (Figura 27): afinal quando um ambiente não tem 'gosto'
significa que está apático ou morto.
48
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2.2.8 Sinestesia
A ação dos olhos sobre uma imagem pode produzir no corpo humano
diversas sensações as quais, aliadas ao sentido da visão, proporcionam
planos sensoriais diferentes, como o tato, ao nos depararmos com a efígie
de algo rugoso; a audição, quando um músico lê uma partitura; ou ainda a
impressão de temperatura, como quando afirmamos que as cores são
quentes ou frias. A essa confluência de sentidos dá-se o nome de sinestesia
(HENRIQUES, 2012, p. 105).
Segundo Descartes citado por Tim Ingold (2000), um indivíduo cego de nascença possui
uma arte para perceber os objetos à sua volta: quando a ponta do bastão atinge um
objeto, um impulso nervoso é passado à mão que leva ao cérebro e esse, fornece dados
que desencadeia em cálculos mentais. Quando esse mesmo indivíduo deseja saber sobre a
distância de um objeto o qual ele toca, a mente realiza cálculos buscando como base a
conhecida distância do corpo ao objeto. Para Descartes, o mesmo acontece com a visão,
tudo o que tem a fazer é substituir os raios de luz refletida por bastão e todo o cálculo
mental passa também a ser realizado. A visão emprega olhos e raios de luz, enquanto o
tato emprega mãos e bastão. Não é o funcionamento dos olhos que reside a visão e, sim,
operações da mente sobre o que é levado a ela através dos sentidos. É uma construção da
imagem que está no exterior, no mundo interior do sujeito, através das informações
recebidas pelos sentidos. Por isso, nem sempre é preciso utilizar-se da visão para ver, é um
ato cognitivo, "[...] equipado com um bastão, ou até mesmo com as mãos livres um cego
pode ver! Assim como pessoas dotadas de vista andando sem luz em uma noite escuta o
breu". (Descartes, aput INGOLD, 2000, p. 255). Não é necessário a luz para se ver, sendo
assim, pode-se ver com o tato, com o ouvido ou até mesmo com a boca.
Dessa maneira a percepção através dos sentidos se dá de acordo com a modelagem de
experiências recebidas pelo corpo, de acordo com Ingold (2000). Os sentidos capturam
momentos de experiência e retransmitem para consciência reflexiva para subsequente
revisão e interpretação. Os mundos da imagem adicionam-se aos mundos dos sons, tatos,
cheiros e gostos, em uma multiplicação de paisagens. Percebe-se, portanto, a possibilidade
de uma representação simbólica - uma mensagem codificada enriquecida pelas várias
interpretações do sujeito, fazendo com que o significado de uma cor passe pela
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
49
temperatura do frio ou quente, ou mesmo daquilo que possua uma "boa estética" tenha o
denotação de bom gosto. A esse emaranhado de sensações absorvidas pelos sentidos, dáse o nome de sinestesia.
FIGURA 28 - Linha horizontal
Fonte: realestategirl2026.com
A Figura 28 transmite uma sensação de tranquilidade, equilíbrio e frescor. Essa linguagem
pode ser alcançada através da horizontalidade decodificada pela mente, através da
percepção adquirida culturalmente pelos sentidos: ao ver o mar (visão); ao ouvir suas
ondas (audição) e até mesmo ao sentir o vento na pele (tato). São várias sensações
absorvidas pelo corpo que, após decodificadas pela mente, simbolicamente denotam a
linha horizontal como referência dessas percepções. Observa-se, nessa mesma Figura, que
até mesmo os materiais e os objetos compostos no interior da residência obedecem a essa
linha horizontal, além da cor, dimensão e formas simplificadas. Ao apreender a
horizontalidade, quase que imediatamente se 'vê' o frescor do vento e a ‘música calmante’
das ondas.
50
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2.3 Materiais e objetos no Design de Ambientes
A
shby e Johnson (2011) afirmam que vivemos em um mundo de materiais e são
eles que dão substância a tudo que vemos e tocamos. Segundo os autores, os
materiais são a matéria de que é feito o design de produtos. Se considerando que o
produto aqui trabalhado é o ambiente, a matéria dos ambientes é o material. E se
pensarmos que os objetos são produtos de materiais, ambientes são construídos por
materiais e objetos. Para Brown e Farrelly (2014, p. 90) "para os designers de interiores, os
materiais são a substância da criação da noção de lugar".
Ashby e Johnson (2011) classificam os atributos técnicos dos materiais em família, classe,
membro e perfil técnico (Figura 29).
FIGURA 29 – Classificação dos materiais
FAMÍLIA
Metais
CLASSE
Elastômeros
MEMBRO
ABS
PERFIL TÉCNICO
atributos físicos
atributos mecânicos
cerâmicas
Polímeros
Termoplásticos
Poliamida
Policarbonato
Cerâmicas
Termofixos
Compósitos
Polietileno
Polipropileno
Poliestireno
Poliuretano
PTFE
atributos térmicos
atributos elétricos
atributos óticos
atributos ecológicos
atributos de processo
atributos acústicos
atributos táteis
PVC
Fonte: Ashby e Johnson (2011, p. 57)
Essa classificação de materiais está baseada em entendimento científico da natureza dos
átomos que os materiais contêm e das ligações entre esses átomos. Lima (2006) classifica
os materiais como cerâmicos, metais, naturais (polímeros naturais), polímeros sintéticos e
compósitos. Os materiais classificam-se em quatro grandes grupos estruturais: metais,
polímeros, cerâmicas e compósitos.
Segundo Ashby e Johnson (2011), os metais são aqueles compostos a partir da interação de
um ou mais átomos, possuem elétrons livres que se movimentam dentro de um campo
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
51
elétrico, por isso conduzem bem a eletricidade e refletem luz. São eles: aço, alumínio,
cobre, níquel, zinco, titânio, magnésio e tungstênio. São rígidos, fortes, duros, pesados,
dúcteis, fáceis de usinar e podem ser unidos de várias maneiras, permitindo uma
flexibilidade no design, veja na Figura 30 os metais mais utilizados em ambientes.
FIGURA 30 - Materiais metálicos utilizados em ambientes
IMAGEM MATERIAL
METAL
APLICAÇÃO
pastilha de aço inox polido
paredes
chapa de aço corten
mobiliário/
revestimento paredes/objetos
chapa aço inox
mobiliário/equipamentos/
revestimento paredes/bojos
de pia
aço inox colorido - polido e
escovado
mobiliário/equipamentos/
revestimento paredes
chapa de latão
mobiliário/
objetos
tela metálica
mobiliário/
revestimento paredes
chapa de alumínio polido
mobiliário/equipamentos/
revestimento paredes
chapa de alumínio texturizado
mobiliário/equipamentos/
revestimento paredes e pisos
chapa de cobre polido
mobiliário/
revestimento paredes
ferro fundido
objetos
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Os polímeros constituem uma estrutura molecular que consiste na repetição de pequenas
unidades chamadas meros, por isso – polímeros. São divididos em naturais – madeiras, lã e
couro e sintéticos – plásticos. Os polímeros plásticos são divididos em termoplásticos que
são aqueles que amolecem quando aquecidos e endurecem quando resfriados. Podem ser
misturados dando uma gama de efeitos visuais e táteis.
Dentre eles estão: acrílico, policarbonato, polietileno, polipropileno, poliéster, poliamida
52
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
(nylon), PVC – vinílicos. Os polímeros termofixos são rígidos, resistentes e duráveis. . Veja
na Figura 31 os polímeros mais utilizados em ambientes.
FIGURA 31 - Materiais polímeros utilizados em ambientes
IMAGEM
MATERIAL
POLÍMERO
NATURAL
TERMOPLÁSTICO
TERMOFIXO
ELASTÔMERO
APLICAÇÃO
madeira
mobiliário/
revestimento de
piso/parede/teto
couro
mobiliário/
revestimento parede
lã
tecido
Acrílico
mobiliário/tecido/
tapete/
carpete/objeto/
cobertura
Policarbonato
mobiliário/tecido/
tapete/carpete/
telha/objeto/
coberturas
Tecido/tapete/
carpete/objeto/
Poliéster
fibra
Poliamida (nylon)
fibras/tecido/
objetos
PVC
revestimento piso
laminado
melamínico
(fórmica)
revestimento
móveis/piso/parede
tintas
revestimento
mobiliário/piso/pared
e/teto
EVA
revestimento
piso
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
A resistência dos polímeros não se altera com o calor. Solidificados com o calor não
amolecem mais. Por isso, dificulta o processo de reciclagem. Alguns deles: melamínico
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
53
(tintas, laminados decorativos do tipo ‘fórmica’), poliuretanos, fenólicos, epóxis e silicones.
Por fim, os polímeros elastômeros que possuem propriedades elásticas. O termo borracha
é um sinônimo usual de elastômero. Possuem alto nível de amortecimento e são flexíveis.
Os polímeros plásticos podem ser conhecidos como fibras, películas, peças inteiriças
moldadas por pressão e espuma. São flexíveis quanto à cor, forma, acabamentos,
translucidez e rigidez. Por serem derivados do petróleo, recurso não renovável, são
condenados como agressivos ao meio ambiente.
Os cerâmicos são materiais do passado, bem como do futuro, são os mais duráveis de
todos os materiais. Veja Figura 32 alguns exemplos de cerâmicas utilizadas em ambientes.
Os materiais cerâmicos são compostos inorgânicos cristalinos, onde predominam o tipo de
FIGURA 32 - Materiais cerâmicos utilizadas em ambientes
IMAGEM MATERIAL
CERÂMICAS
APLICAÇÃO
cerâmica
revestimento
paredes/pisos/objetos
louça sanitária
vasos/pias/bojos/bidê/tanque
vidro
mobiliário/objetos/divisórias
tijolo de vidro
paredes
espelho
revestimento parede/
objetos
tijolo
paredes/pisos
telha
cobertura
gesso
paredes/tetos
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
54
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
ligação química iônica ou covalente. Os materiais que se enquadram como cerâmicos
incluem aqueles compostos por materiais argilosos, cimento e vidro. Esses materiais são
tipicamente isolantes térmicos e elétricos, em decorrência do tipo de ligação química, que
não possui elétrons livres para a condução de eletricidade e calor. Os cerâmicos são,
geralmente, mais resistentes às elevadas temperaturas e à abrasão que os materiais
metálicos e polímeros. Além disso, eles possuem, em geral, elevada dureza e elevada
fragilidade e ainda, alto grau de reciclabilidade. Cerâmicas tradicionais, com base em argila,
sílica e feldspato são macias e fáceis de moldar antes de queimadas. Podem criar tijolos,
louças, porcelanas, azulejos, ladrilhos, peças para banheiros e telhas. Cerâmicas térmicas
consistem em compostos puros ou quase puros, sintetizados por reações químicas, são
encontradas no uso típico: próteses ósseas, implantes dentários, ferramentas de corte,
brocas, materiais para matrizes e montagens.
Compósitos são materiais caracterizados pela união macroscópica de dois ou mais
materiais distintos, visando aglutinar propriedades e alcançar outras não encontradas nos
componentes individualmente.
O desenvolvimento dessa classe de material foi impulsionado pelas necessidades
aeronáuticas e bélicas de materiais que unissem elevadas resistência e leveza. Em geral são
constituídos de uma matriz (material de liga), como a resina, e uma fase dispersa
(partículas ou fibras). Produtos artificiais como o MDF, o aglomerado, o compensado, são
exemplos de compósitos inspirados em produtos naturais. Além desses, os cimentícios –
tijolo de concreto, o ladrilho hidráulico, placas de cimentício e a fibra de vidro.
Para Brown e Farrelly (2014), compreender o processo de seleção, composição e
combinação dos materiais é essencial para um projeto de design de ambientes. "A maneira
como os materiais são utilizados em um ambiente interno pode ser influenciada pelo
contexto histórico, cultural e físico, assim como as tradições e convenções absorvidas pelo
projetista" (BROWN E FARELLY, 2014, p. 7). Nesse contexto, os materiais são escolhidos
pelo designer não somente pelas questões físicas de aparência ou composição química,
bem como pela sua linguagem percebida. Veja na Figura 33 exemplos de compósitos
utilizados em ambientes.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
55
FIGURA 33 - Materiais compósitos utilizados em ambientes
IMAGEM MATERIAL
COMPÓSITO
APLICAÇÃO
Selestone
bancadas/revestimento
paredes/piso
Corian
bancadas/mobiliário
MDF
mobiliário/revestimento
paredes/divisórias
Compensado
mobiliário
Aglomerado
mobiliário
ladrilho hidráulico
revestimento paredes/piso
Cimentício
revestimento paredes/piso
Tijolo
paredes
fibra de vidro
banheiras/piscinas/mobiliário
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
2.3.1 Significado dos materiais
O espaço material é um conjunto de lugares exteriores ao sujeito, pode ser representado
como imaginário, isto é, definido como uma realidade interior do ser. O espaço pode ser
utilizado para exprimir uma ideia, uma realidade abstrata contida no indivíduo que está
habitando nesse lugar. “O espaço é uma realidade organizada psiquicamente a partir da
relação entre espaço próprio do corpo e ambiente exterior” (FISCHER, 1994, p. 47). Tentar
definir os significados dos materiais com suas formas, cores, texturas e os objetos pela
dimensão psicológica, isto é, aquela de estreita relação do indivíduo com o espaço, seria de
extrema complexidade, pois cada indivíduo percebe o mundo por uma única realidade.
Fischer (1994) afirma que existe uma linguagem conjunta apreendida e articulada pela
sociedade, historicamente transmitida e apoiada em símbolos, e que, através dessa
56
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
linguagem, os homens se comunicam, transmitem e desenvolvem o seu saber - esse é o
papel da cultura.
Toda cultura tem um papel integrador que socializa os comportamentos,
oferecendo aos indivíduos escolhas e opções entre uns e outros dos valores
dominantes, moldando a personalidade, imprimindo-lhe maneiras de se
comportar que dão uma coerência às suas condutas (FISCHER, 1994, p. 56).
Existe uma construção de ideias, de saberes, de realidades em conformidade com um
modelo, mais ou menos flexível, advinda de uma maneira de ver e sentir o mundo de um
grupo de pessoas, “as nossas atitudes, atividades, julgamentos são pelo menos
parcialmente idênticos aos dos outros” (FISCHER, 1994, p. 56). Então, materiais com suas
cores, formas e texturas possuem uma linguagem cultural que se expressa no ambiente de
maneia subjetiva. Para Hall (2005, p. 8), devemos aprender a interpretar as comunicações
silenciosas com a mesma facilidade com que interpretamos as impressas e faladas.
Manzini (1993) enfatiza que o material natural possui uma linguagem interpretativa: ele
leva tempo para ser sedimentado, criando possibilidades de memória. O artificial é tudo
aquilo que se produz velozmente, capaz de não realizar sedimento, “qualquer análise do
reconhecimento do artificial e do percurso da experiência terá sempre como ponto de
partida situar a experiência no tempo, quantificar-lhe duração e determinar o modo como
se relaciona com a memória” (MANZINI, 1993, p. 31).
Um material homogêneo, superfície plana, arestas vivas, “a máquina produz,
exclusivamente uma ordem que para a Natureza é improvável” (MANZINI, 1993, p. 31). A
linha reta produz uma sensação de algo artificial, produzida pela indústria, dando a ideia do
artificial, proporcionando um conceito mais técnico, de pouco pertencimento. “Para o
artífice, um nó da madeira ou um veio na pedra são obstáculos, mas também um estímulo
à variação. Para uma máquina são defeitos” (MANZINI, 1993, p. 32). O natural é real e
possível de variação. O natural é orgânico, flexível, livre, doméstico; o industrializado é
reto, fixo, artificial, do espaço de trabalho.
“A madeira já foi tocada, cheirada, rasgada, dobrada e cortada de mil maneiras, submetida
a esforços mecânicos [...] queimada, carbonizada, destilada e já com certeza alguém,
algures, a tentou comer *...+” (MANZINI, 1993, p. 36). O reconhecimento dos materiais se
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
57
faz pelo que a memória conseguiu absorver. O material novo não terá o mesmo
reconhecimento que um antigo. Os novos materiais, segundo Manzini (1993, p. 41), são
maquinaria de cena no grande espetáculo das comunicações, da imaginação informatizada,
da inteligência artificial. Logo, materiais antigos transmitem uma ideia de memória, valores
culturais, próprios para comunicar atributos como precioso, quente e doméstico e os novos
traduzem contemporaneidade, informação, o dissimulado. No princípio, no período
neolítico, a madeira, pedra, chifre e pele; mais tarde a lã, fibras vegetais, argila; na
industrialização o aço; em seguida, o plástico. Esses materiais traduzem sua história, cria-se
num novo ambiente térmico e cultural, cujo lema pode ser ‘menos matéria, menos energia,
mais informação’ (MANZINI, 1993, p. 43).
Construções maciças, duráveis e pesadas, o peso é tradicional, esses materiais utilizados
para essas construções significam peso. “As construções tinham sempre vistas como
marcas maciças, bem enraizadas no solo com as suas paredes sólidas. Eis que, de repente,
tomaram um aspecto transparente *...+ a própria imagem da leveza” (MANZINI, 1993, p.
116). O vidro, transparência e leveza, o novo, o industrial e a metrópole, são conceitos
desse material interligado à realidade cultural. A Figura 34 demonstra como os materiais
naturais traduzem os significados expostos de cultura, pertencimento, individualidade; o
mesmo acontece com a figura 35 onde os materiais industrializados e artificiais traduzem
uma linguagem fria e impessoal.
FIGURA 34 - Significado do natural
LINGUAGEM
MATERIAL
sedimentado - memória
valores culturais
pele
durável - tradicional
argila/cerâmica
tempo - antigo
fibra vegetel
artesão - preciso - quente
vegetal
variação
chifre
flexível - livre - doméstico
madeira
orgânico
pedra
subjetivo - privado
cores neutras - terra
Fonte: www.elianepinheiro.com
58
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Manzini (1993, p. 119) chama atenção para o fato de que a homogeneidade e as limitações
dos materiais e técnicas disponíveis em uma dada área e tempo conduziram a uma certa
uniformidade na substância material de tudo o que se construía. A uniformidade nos leva a
uma ideia de limitação de materiais disponíveis para a construção de algo. “Hoje, a
multiplicação de materiais e técnicas, por um lado, e dos comportamentos por outro,
permitem decompor o habitat em formatos diferentes, adaptados a necessidades culturais
e funcionais” (MANZINI, 1993, p 119).
FIGURA 35 - Significado do artificial
LINGUAGEM
MATERIAL
veloz - novo
homogênio
reto - superfícies planas
plástico
frio
vidro
máquina - indústrial - função
aço
Contemporâneo - atual
melamínicos
transparência - leveza
corian
metrópole - higiene
selestone
objetivo - público
formas - cores
Fonte:ark-arquitetura.blogspot.com
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Os comportamentos são fatores também de multiplicação das variáveis das formas, cores e
materiais empregados. Os comportamentos e a cultura auxiliam nos vários significados
hoje encontrados no compor dos objetos - construções (objetos habitáveis), mobiliário,
arranjos, etc. Enfim, o diferenciado faz parte da construção do atual, do novo; a
uniformidade das formas, cores, e arranjos simétricos, por exemplo, fazem parte da
tradição.
2.3.2 Significado dos objetos
Assim como a diversidade da fauna e flora, os objetos, segundo Baudrillard (2004), são
classificados como um mundo de produtos inventado pelo homem com o objetivo primeiro
de atender às suas necessidades. Diante de uma proliferação crescente, as necessidades se
multiplicaram e esses objetos também sofrem mutação e expansão ao ponto de faltar
vocabulário para designá-los. Estamos, então, imersos em um mundo de objetos
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
59
arranjados ou não em um ambiente e que comunicam “não se trata, pois, dos objetos
definidos segundo sua função *…+ mas dos processos pelos quais as pessoas entram em
relação com eles e da sistemática da conduta e das relações humanas que disso resulta”.
(BAUDRILLARD, 2004, p. 11). Isso significa que, além de um processo tecnológico que o
objeto enfrenta para sua existência, ele também é observado, comprado, consumido ou
usado por meio do discurso psicológico. Para Baudrillard (2004), o mundo dos objetos é um
sistema que abrange muito mais que seu uso; estende-se ao seu significado e permite que
o homem entre em contato com sua própria cultura.
Moles (1972) considera o objeto como um elemento essencial que nos cerca, primeiro
contato do homem com o mundo, manipulado semioticamente por ser possuidor de nome
para designá-lo, diferenciando-o de outro objeto. Por essa razão, torna-se um vetor de
comunicação, “elemento de cultura, o objeto é a concretização de um grande número de
ações do homem da sociedade e se inscreve no plano das mensagens que o meio social
envia ao indivíduo” (MOLES, 1972, p. 11). O objeto, por ser produzido pelo homem e para o
homem, no sentido de sociedade, está entre as relações do homem e o mundo; ele é
mensagem e mensagem social, “mediador de ambiente cotidiano, sistema de comunicação
social, carregado de valores como nunca no passado, apesar do anonimato da fabricação
industrial” (MOLES, 1981, p. 8).
Moles (1981) ressalta que, com a massificação da vida socializada, há um enfraquecimento
da presença do indivíduo, criando espaço a ser preenchido pelo objeto, transformando
objetos em bens que geram desejos, passando a ter “função e portadores de signos e
reveladores sociais, oposição do privado e do público e o artificial em oposição ao natural”
(MOLES, 1981, p. 11). O objeto cede lugar à imagem do próprio indivíduo, possuidor desse
objeto, que é motivado a destacar-se dentro do coletivo e, quando não atende, o objeto é
trocado por outro que desempenhe melhor papel. “Nesse sentido, vemos as relações
sociais de trabalho e a produção material da cultura constantemente alteradas pelo
processo de fetichização dos objetos” (DOHMANN, 2013, p. 35).
Dohmann (2013) afirma que os objetos não são mais adquiridos pelo seu valor de uso,
atributo óbvio, mas, sim, pelo que eles significam. Diminuídos na sua responsabilidade
60
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
funcional, os objetos passam a ser um potencial de significados, sinais que codificam uma
cultura, expressões materializadas da sociedade. “É através dessa linguagem conotativa
como certas coisas, das mais básicas e úteis às mais sofisticadas, conseguem 'falar' muito
além da sua função” (DOHMANN, 2013, p. 38). Por isso, para reconhecer acerca das
civilizações do passado, reporta-se ao estudo dos objetos, que fornecem dados para
reconstruir a história dos modos de viver do homem (COSTA, 2013, p. 81). Refletem,
portanto, a própria imagem do homem e o contexto no qual foi manufaturado através de
seus materiais, formas, cores e texturas e as identidades sociais que representam.
É nessa lógica que Sudjic (2010) abrange os conceitos de objetos de luxo, como sendo
aqueles que possuem requisitos suficientes para serem considerados fora do comum. A
linguagem é não manter-se igual, é estar superior à massa. Isso pelo fato de que o luxo não
é construído dentro do princípio funcional e sim do desejo, do fantástico. Não basta
parecer caro, mas precisa sinalizar valor e ambição.
Luta-se tanto pela sobrevivência de uma maneira objetiva e cansativa que se precisa
mesclar com o desejo, dar um tempo desse mundo e se entregar ao luxo. “Luxo era a
trégua que a humanidade encontrava para si na luta diária pela sobrevivência” (SUDJIC,
2010, p. 91). O luxo passa a ser um sinal de alívio e de status, entendendo que nem todos
conseguem 'se dar ao luxo' de ter desejos. O luxo, então, é ter aquilo que não se tem. Mas
na contemporaneidade tudo se tem, então, como obter objetos de luxo? É reinventar, se
não, o luxo não sobrevive. É possuir objetos como um laptop com brilhantes. Sua função
será a mesma, mas o objeto ganha um novo valor, o de que nem todos podem possuí-lo.
Por ser puro consumo, ele abastece as indústrias ocidentais, segundo Sudjic (2010) e passa
a ser sinônimo de objetos artificiais, industrializados e de fascínio. Enfim, luxo não é só
fabricar artigos diferenciados, mas também difíceis de se manterem. Afinal, um lençol de
linho precisa ser passado toda vez que for usado. São detalhes que convencem o
consumidor a gastar dinheiro para sentir-se anestesiado diante a realidade. “Luxo é a
maneira de propiciar um alívio da implacável maré de bens que ameaça nos afogar”
(SUDJIC, 2010, p. 129).
Nessa perspectiva, ambientes luxuosos seriam aqueles que ultrapassam o sentido de
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
61
realidade. Eles são efêmeros, pois necessitam de serem reavaliados constantemente, por
isso não são sustentáveis. Materiais que estão fora do padrão, tanto no sentido conceitual,
como estético e econômico. Objetos que não traduzem o natural, pelo fato da natureza
estar em todos os lugares e para todos; luxo é algo diferente, exclusivo, não sugere
igualdade, democracia ou inclusão. Porém, pode-se destacar que, pelo fato da escassez de
reservas naturais na atualidade, entende-se como possível traduzir a natureza como luxo.
Espaços são constituídos por um conjunto de objetos e suas inter-relações que expressam
a materialidade do indivíduo e de uma cultura e não somente pelas suas funções, mas,
primordialmente, pelos seus significados. Os móveis, objetos que são a base do arranjo de
um ambiente, funcionam como signos de pertencimento e de diferenciação social nas
sociedades. Eles não existem de maneira isolada, pois integram uma complexa “coreografia
de interações” (SUDJIC, 2010, p. 54). “A configuração do mobiliário está relacionada à
organização familiar e societária de uma época, uma vez que as modificações nos espaços
domésticos são indícios importantes para análise dos espaços de viver, da relação entre
público e privado, e da percepção do conforto” (COSTA, 2013, p. 85). “Os móveis se
contemplam, se oprimem, se enredam em uma unidade que é menos espacial que de
ordem moral” (BAUDRILLARD, 2004, p. 22). Percebe-se que o ambiente, para que atenda
ao usuário, ou para que possa construir um discurso homem e ambiente, necessário se faz
estar muito mais centrado 'na alma' do objeto que seu próprio arranjo no espaço.
Os objetos têm assim – os móveis especialmente - além de sua função
prática, uma função primordial de vaso, que pertence ao imaginário e que
corresponde sua receptividade psicológica. São, portanto o reflexo de toda
uma visão do mundo onde cada ser é concebido como um 'vaso de
interioridade' e as relações como correlações transcendentes das
substâncias – sendo a própria casa o equivalente simbólico do corpo
humano, cujo poderoso esquema orgânico se generaliza em seguida em um
esquema ideal de integração com as estruturas sociais (BAUDRILLARD,
2004, p. 34).
Costa (2013) elucida que, no regime patriarcal, rígido e fechado entre 1870 e 1920, os
móveis carregavam valores de uma sociedade tradicional e conotavam eternidade, eram
fabricados para durar. O arranjo das salas de estar sugeriam pouca ou nenhuma
mobilidade e suas superfícies eram lustradas e ebanizadas, sofrendo restrições formais e,
além disso, demonstravam a prosperidade do proprietário; é o que afirma Rybczynski
62
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
(2002). Na atualidade, continua Costa (2013), a casa moderna é influenciada por novas
práticas de consumo e os móveis deixam de ser ”depositário do afeto e da memória
familiares para serem escolhidos de acordo com sua forma, cor e função na composição do
conjunto” (COSTA, 2013, p. 91).
Para além dos móveis, Baudrillard (2004) salienta o valor da cor e traduz o interior burguês
como reduzido a cores cinza, malva, grená e bege. O uso da cor de ordem puritana é o
pastel. Afirma que as cores se libertam mais tarde e a causa está ligada à ruptura de uma
ordem global. Pode-se dizer, então, que a ordem está ligada à falta de cor e à libertação de
uma ordem, qual que seja, está ligada às cores vivas.
Barroso (2015) enfatiza que as casas não são museus ou galerias de arte. Uma casa para ser
um “lar” é uma extensão da vida das pessoas que nela habitam. Mudam com o tempo.
Evoluem com suas preferências. Trazem um novo gosto adquirido. Mudam de cor, de estilo
assim como as pessoas mudam de penteado, de roupas, de companhias e crenças; os
verdadeiros lares são também mutantes.
De acordo com Barroso (2015), nossa cultura está impregnada de histórias, lendas,
memórias e de um mundo material único e singular. Podem ser objetos com os quais
aprendemos a superar nossas deficiências ou a conviver pacificamente em nosso cotidiano,
aportando o sentimento de familiaridade. Nesse universo material nascem e florescem
artefatos que trazem consigo as raízes do lugar. Sua história, seu passado, seus mitos,
crenças e ritos. Esses objetos são expressão de nossa cultura. O artesanato e a arte popular
são portadores de uma visão de futuro, muito mais que um olhar ao passado. Renovam-se
continuamente, impulsionados pelo mercado e pelo desejo permanente de criar.
A tarefa fundamental de um designer é participar com o cliente da escolha
de materiais e peças, funcionais ou de decoração, ofertadas no mercado, ou
feitas artesanalmente na região. A descoberta de um elemento artesanal
que possa substituir outro importado ou sem um atributo diferenciador
significativo, é aquilo que fará o ambiente trazer consigo a personalidade
do lugar. [...] É necessário conhecer, tomar intimidade, se aproximar, para
depois gostar, amar ou respeitar. Entender que por detrás de uma peça
artesanal reside uma singularidade, uma exclusividade, um luxo emocional.
[...] Para os que pensam em decorar suas casas digo: luxo é ter um espaço
próprio, único, personalizado, com sua cara, seu jeito de ser e de viver,
onde você se sinta bem, recompensado, energizado e feliz. Para os
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
63
designers duas atitudes éticas fundamentais: o respeito com o gosto e com
o dinheiro de seu cliente. Trabalhe com ele e não para ele. Seja capaz de
aportar com seu amplo repertório tecnológico e cultural aquilo que o
cliente talvez desconheça e de repente nem sabe que necessita. Traduza o
desejo e expectativa em surpresa e encantamento (BARROSO, 2015).
64
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2.4 Metodologia projetual para o Design de Ambientes
D
D
o grego methodos, met'hodos que significa, processo racional para chegar a
determinado fim. O método auxilia na sistematização dos processos e ordenação
das etapas de uma determinada ação. Utilizar de métodos fundamentados para Design de
Ambientes é relativamente recente. São apresentados alguns deles, identificados na revisão
bibliográfica e que servirão como subsídio para a compreensão de métodos utilizados pelos
profissionais da área. A escolha partiu do princípio de métodos ou ferramentas que possam
ser aplicadas no design de ambientes e que auxiliem no âmbito subjetivo.
2.4.1 Ferramenta Constelação de Atributos
Trata-se de uma técnica experimental de análise de associação espontânea de ideias. Essa
técnica foi idealizada por Moles, conforme mostra a Figura 36, descrita em seu livro
Sociadinámica de la Cultura (1967) e empregada por diversos pesquisadores com o
objetivo de auxiliar os profissionais da área de projeto.
FIGURA 36 – Constelação de Atributos
Fonte: Adaptado de Ekambi-Schmidt (1994, p. 97) e Villarouco (2011, p. 39).
A técnica consiste em Interrogar a população sobre um ponto a ser estudado, elegendo
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
65
suas características. Depois de obtidas todas as respostas referentes ao mesmo ponto,
classificam-se os qualificativos por frequência mencionada, reagrupando-os. Um cálculo
determina então a ‘distância psicológica’ que separa o qualitativo do ponto central em
questão. É um método de representação gráfica de associações. O cálculo para as distâncias
é realizado da seguinte maneira:
Pi = número de aparições do atributos
número total de respostas
A distância psicológica se dará por: __1__ = distância em centímetros
log Pi
Após a determinação da distância, multiplica-se o valor por dez para melhor representar
essa distância em centímetros. Quanto maior o distanciamento menor a relação do
qualitativo com o centro de interesse.
Essa ferramenta é de fácil interpretação gráfica, flexível e objetiva. Requer recurso humano
para elaborar o questionário e análise interpretativa e os recursos financeiros despendidos
são pouco significativos. Pode ser utilizada para qualquer objeto de estudo e não é
complexa na sua construção.
2.4.2 Descrições associadas à Constelação de Atributos
Ekambi-Schmidt (1974) desenvolve um método apresentado em seu livro La percepción del
Habitat, oriundo da técnica empregada por Moles (1967), onde a autora realiza análise dos
espaços residenciais. O ponto central são os diferentes espaços da casa, como por
exemplo: hall, escada, sala de estar, sala de jantar, quarto, banheiro e outros. Ela realizou
questionários com 35 pessoas sobre os qualitativos dos ambientes da casa. Esses
qualitativos foram respondidos apresentando características espontâneas, onde os
entrevistados apresentaram seus sentimentos frente ao ambiente determinado. Refere-se,
portanto à imagem simbólica do indivíduo diante do espaço, diz respeito a sua vivência
afetiva. Em uma segunda etapa, foi realizado questionário apresentando características
induzidas, onde os entrevistados apresentam os qualitativos objetivos frente ao ambiente
relacionado, isto é, sua expressão racionalizada, tais como funcionalidade, produtividades,
entre outros. As respostas foram compiladas e analisadas, classificando esses qualitativos
66
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
por frequência mencionada. Realizou o cálculo para permitir a ‘distância psicológica’ que
separa o qualitativo em questão. Um exemplo (Figura 37) refere-se à sala de jantar. Esse
método permite com rapidez analisar e compreender quais são os atributos do espaço
mencionado, facilitando com clareza, para o designer, qual seria o melhor caminho a
percorrer quanto ao ambiente proposto, no sentido objetivo e subjetivo do ambiente em
questão.
FIGURA 37 – Descrições associadas à Constelação de Atributos - Sala de Jantar
Fonte: (EKAMBI-SCHMIDT, 1994, p. 121)
A autora faz algumas considerações relevantes quanto ao método, tais como: proporciona
imagem concisa e clara da percepção do ambiente estudado; o maior número de respostas
igualitárias diz respeito a uma percepção coletiva, socialmente construída - um estereótipo
social; quanto aos qualitativos, pouco citados, pertencem a uma percepção individual,
passa a ser uma sensibilidade particular, mas não sem importância; observa-se que há uma
diferença entre a língua (cultura coletiva) e o discurso, sendo que o discurso oferece lugar
para uma expressão inovadora e original do indivíduo, em oposição à língua que depende
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
67
de uma percepção coletiva que passa a ser um código fiel aos princípios culturais.
2.4.3 Metodologia Ergonômica para Ambiente Construído - MEAC
Villarouco (2011) apresenta uma metodologia de sua autoria, em aperfeiçoamento à
medida que é aplicada, adequada para espaços de trabalho e em parte oriunda da
ferramenta Constelação de Atributos de Moles (1967) e da técnica de Ekambi-Schmidt
(1974). Essa metodologia pretende adequar ergonomicamente o espaço construído e
contempla duas fases, sendo uma de ordem física do ambiente e outra da identificação da
percepção do usuário em relação ao espaço, conforme Villarouco (2011, p. 33). Na fase de
identificação de variáveis de percepção dos usuários é quando se aplica a Constelação de
Atributos.
A proposta inicia-se com a análise física do ambiente com o uso da Análise Ergonômica do
Trabalho (AET), onde é realizado um levantamento da organização e dos processos de
produção do local a ser trabalhado. Depois passa para análise de tarefas - conhecimento do
espaço, do trabalho realizado, tarefas desempenhadas, características dos postos,
equipamentos e outros. Para tanto, necessárias serão as entrevistas, elaboração de
fluxogramas, medições de temperatura e iluminamento, registros fotográficos. Por fim,
nessa fase, é avaliado o ambiente quando ao seu uso.
Após essa fase, inicia-se a fase de pesquisa sobre a percepção do ambiente. Exemplo de
uma empresa real como mostra a Figura 38.
Primeiro deve-se realizar perguntas do tipo: quando você pensa no seu ambiente de
trabalho, de uma maneira geral, quais são as imagens ou ideias que lhe vêm à mente? As
respostas são agrupadas em categorias e afinidades.
Oliveira, Rangel e Mont'alvão (2013) demonstram que o método apresenta facilidade de
aplicação e riqueza de informações junto aos usuários. Além disso, é pouco provável
separar as questões afetivas ligadas ao produto pesquisado, assim como não se acredita na
separação do ambiente estereotipado do objetivo. O número de respondentes influencia
no cálculo final das distâncias, sendo aconselhável a maior amostra possível.
68
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
FIGURA 38 – Associação de atributos de um ambiente imaginário
Fonte: (VILLAROUCO, 2011; p. 42)
2.4.4 Metodologia aplicada no ensino do Design de Ambientes
Essa metodologia foi elaborada por parte de alguns docentes do Curso de Design de
Ambientes da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG e está
sendo aplicada no ensino de projetos de design de ambientes. No seu conteúdo,
contempla saber interpretar o usuário, além de conceituar e planejar ambientes através de
método.
A ferramenta foi inserida no Curso, no ano de 2008, como parte fundamental da disciplina
Metodologia Aplicada ao Projeto de Design e aplicada em todas as disciplinas de Prática
Projetual: interiores, exteriores, desenho de móveis, iluminação e Projeto de Graduação.
Isso pode ser verificado no Projeto Pedagógico e nos Programas de Disciplina do Curso
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
69
dispostos no site da Escola.
FIGURA 39 - Fluxo metodológico da disciplina Metodologia Aplicada ao projeto de Design de Ambientes
FLUXO METODOLÓGICO
Fonte: UEMG (2012)
Adjacente do método do design, a metodologia adotada no Curso de Design de Ambientes
(Figura 39) foi estabelecida com alguns acréscimos, devido às especificidades encontradas
para o arranjo adequado de um ambiente, nos aspectos funcionais, conceituais e estéticos
da composição.
Projeto de produto e projeto gráfico, por exemplo, apresentam: demanda, briefing,
problema, conceito, geração de alternativas, solução, elaboração, produto final, execução e
análise de resultados. Não necessitam, entretanto, do entendimento do que seja
fluxograma e organograma, nem mesmo setorização de um espaço. Além disso, não se
encontra em seus projetos a complexidade do arranjo de um ambiente, por isso não
necessitam da preocupação com a forma, cor, textura, luz ou mobiliário para adequar ou
70
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
integrar aos elementos espaciais, traduzindo funcionalidade e linguagem necessárias para
provocar significado.
Segue-se o entendimento de cada etapa da metodologia aplicada:
CAPTAÇÃO
1. Demanda (D): equivale à necessidade do cliente. A análise desta demanda definirá as
características que a determinarão como demanda de design ou não e se trata de uma
demanda de design de ambientes. Muitos projetos não são para o design de ambientes
e, sim, para a arquitetura, design de produto ou gráfico.
ATENDIMENTO
2. Problema (P): compreende o diagnóstico e visa entender o que o cliente quer, além de
definir os limites dentro dos quais o designer irá trabalhar.
3. Briefing (B): significa a passagem de informação de uma pessoa para outra, através de
um relatório que aborda dados importantes e necessários para a elaboração do projeto
em questão. Compreende coleta + análise + contextualização de informações. Sua
elaboração pode ser dividida em três fases: preliminar (fp) - visita para conhecimento
geral da demanda, quem é o cliente, quais os objetivos e necessidades projetuais e
coleta de informações técnicas como: entendimento do espaço a ser trabalhado,
estrutura física; fase de revisão (fr) - revisão das informações para elaboração de
proposta comercial e, após a aprovação da proposta, a última fase; fase de conclusão
(fc) - pesquisa e contextualização delimitando e direcionando as ações: quem é o
usuário, quais são suas necessidades, seu estilo de vida, localização e entorno do espaço
a ser projetado (principalmente se o espaço for comercial), pesquisa sobre o assunto a
ser projetado, pesquisas análogas, pesquisa histórica, contextualizar as necessidades
projetuais.
DESENVOLVIMENTO
4. Conceito (C): compreende a linguagem do espaço, seu ajuste sensorial. Para tal
construção, divide-se: Mapa de percepção (mp) - delimita atributos (Figura 40) e
relaciona esses atributos a referências visuais, tudo isso de acordo com as
interpretações adquiridas no briefing: quem é o usuário, seu estilo de vida,
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
71
necessidades projetuais. Para elaborar essa etapa, o designer necessita ser um bom
intérprete dos aspectos subjetivos do usuário e do contexto. É uma etapa complexa
pelo seu teor subjetivo.
Figura 40 - Exemplo de Mapa de Percepção
Atributos
PESSOAS, CULTURA IDENTIDADE GASTRONOMIA COR CHEIROS NATUREZA DIVERSIDADE BELO INTELECTO
Referências visuais
Fonte: Projeto residencial executado, elaborado pela autora, 2014
Inspiração (i): analisa os atributos e as referências visuais do mapa de percepção e
busca referência simbólica, sentimental ou figurativa que auxilie na definição do
conceito. Exemplo de acordo com o mapa de percepção anterior:
Poesia – arte de fazer obras em versos
desperta o sentimento do belo
Conceito (c); determina a intenção do projeto com base na fase de Inspiração. Um
exemplo de acordo com a inspiração anterior, a linguagem projetual foi definida como
‘Afetividade’.
5. Mapeamento funcional (MF): Compreende o ajuste prático. Pode ser dividido em três
fases:
Organograma (o): visualiza, analisa e ordena a estrutura organizacional do projeto.
Pode demonstrar seus órgãos, departamentos, níveis hierárquicos e principais relações
entre eles. Esta fase é elaborada pelo designer e não adquirida pela empresa, por
exemplo;
72
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Fluxograma (f): visualiza, analisa e organiza a sequência de trabalho, suas operações e
rotinas dos usuários;
Setorização (s): diagrama indicativo, baseado no organograma e orientado pelo
fluxograma que determina como o espaço disponível deverá ser ocupado, viabilizando a
eficiência no funcionamento da organização.
APRESENTAÇÃO
6. Geração de alternativas (GA): Tradução do conceito em possíveis soluções. Várias
alternativas são estudadas para uma solução final coerente com a resolução do
problema. Neste momento, precisa-se dispor de todo o planejamento do ambiente de
acordo com a intenção projetual que foi determinada na fase do conceito. É nessa fase
de geração de alternativas que (de acordo com o exemplo de conceito ‘Afetividade’) se
deve experimentar os vários arranjos do espaço em termos de fluxo, setorização,
mobiliário, cores, formas, texturas, cheiros e outros que possam traduzir a sensação de
afetividade. Nesse momento é que o designer testa toda sua bagagem de
fundamentação e decisão projetual.
7. Solução (S): Define e elabora a melhor alternativa projetual.
PREPARO DA SOLUÇÃO
8. Verificação (V): Verifica as possíveis falhas ou ajustes na resolução do problema, pósapresentação do projeto para o cliente.
EXECUÇÃO
9. Elaboração (E): Decorre o detalhamento da solução aprovada. Em design de
Ambientes, o detalhamento é complexo; detalha-se: piso, teto, luminotecnia,
mobiliário e outros e ainda se elabora memorial descritivo, memorial justificativo e
orçamentário.
10. Produto final (PF): solução projetual elaborada, constituindo documentação técnica.
11. Execução (Ex): Implementação, por terceiros, das diretrizes do Produto Final. Nessa
etapa, o designer pode ou não supervisionar as ações, como: produção do mobiliário,
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
73
montagem de stand e outros.
RESULTADOS
12. Análise de resultados (AR): Objetiva certificar se, após execução, a solução projetual foi
eficaz, ou seja: produziu o efeito desejado? Deu bom resultado? Atingiu o objetivo
esperado?
2.4.5 Quadro de Diretrizes Projetuais - QDP Design
Com o objetivo de auxiliar na etapa de planejamento de projeto, a ferramenta QDP Design
é aplicada na fase de geração de alternativas. Meio facilitador para transformar conceito
em solução, a ferramenta reúne em si dados relativos à representação, personalidade,
coerência visual, princípios de ordem e organização do espaço bem como orientação para
os elementos da composição do produto projetado. Apesar de ser uma ferramenta para o
design, ela vem sendo utilizada no Curso de Design de Ambientes da Escola de Design.
Segundo Moreira (2010) o QDP Design é constituído de 4 elementos básicos (Figura 41):
FIGURA 41 - Elementos básicos QDP Design
Fonte: Adaptado de Moreira (2010, p. 3)
1. Objeto síntese: compreendido como a ‘alma’ do ambiente. Corresponde ao
artefato que funda o sentido da existência de um espaço habitado. O ‘objeto’, cuja
tarefa é auxiliar na orientação do projeto, pode contribuir na significação do
arranjo;
2. Característica e caráter: tendo como referência o conceito do projeto, a
característica designa intenção para a aparência do lugar, a ser percebida pelo
usuário. Deve determinar o atributo que caracterize qualitativamente o ambiente
74
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
em questão. O caráter pode ser compreendido como propriedade intencional
atribuída ao ambiente no que se refere às reações emocionais e estados de humor
do usuário na experiência de uso de determinado lugar. Denomina as sensações e
sentimentos que o lugar deve provocar no usuário;
3. Princípio da ordem e organização do espaço: compreende a distribuição
harmoniosa de artefatos no espaço disponível. Para tanto, utiliza-se da escala,
proporção, equilíbrio, ritmo, ênfase e unidade-variedade;
4. Elementos da composição do ambiente: podem-se considerar as peças ou partes
que constituem e determinam o ambiente projetado. Ganham sentido quando
correspondem à característica e caráter do ambiente, estabelecidos anteriormente.
Esses elementos são: linha, forma, volume, textura, cor, luz, cheiro e som.
O QDP Design auxilia na transposição do conceito de um ambiente para sua aplicação
tangível, principalmente na fase de interpretação de característica e caráter. Mas todo esse
processo ainda é realizado de forma intuitiva por parte do designer.
Por exemplo, a partir do conceito 'afetividade', as características seriam como a afetividade
se apresenta de forma tangível no espaço. Como se pode apresentar o conceito afetividade
através das formas, texturas, cores e outros. Essa transposição é realizada de forma
intuitiva. Talvez os materiais escolhidos fossem os texturizados, talvez os naturais, mas não
há fundamentação para tal escolha. Quanto ao caráter, é como a 'afetividade' seria sentida
no espaço. Essa transposição também é intuitiva e exige muita capacidade interpretativa
por parte do designer, em maior proporção que a da característica, pois carece de
profunda habilidade na interpretação subjetiva, e isso não é uma condição conquistada por
todos os profissionais da área, dificultando enfim, ambientes que sejam suficientemente
apresentados de forma coerente com o conceito estabelecido.
O quadro a seguir (Figura 42) apresenta uma síntese dos métodos selecionados para este
estudo, considerando a denominação e autor, princípio, características, aplicação e outras
considerações de cada método.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
75
FIGURA 42 - Síntese - Metodologias Projetuais para o Design de Ambientes
DENOMINAÇÃO
FERRAMENTA CONSTELAÇÃO
DE ATRIBUTOS
(MOLES, 1967)
PRINCÍPIO
CARACTERÍSTICAS
APLICAÇÃO
CONSIDERAÇÕES
Associação espontânea de
ideias
- método de representação gráfica que pode
ser adequado para qualquer metodologia
- abrange o entendimento quantitativo
- objetivo na sua visualização
- flexível na sua aplicação
- permite poucos recursos financeiros para ser
construído
- prática projetual do design
nos seus aspectos subjetivos
- exige boa capacidade de
interpretação por parte de quem
irá construí-la
- respostas igualitárias refere à
percepção coletiva - estereótipo
- respostas únicas referem à
percepção individual
- percepção única pode ser utilizada
em propostas inovadoras
DESCRIÇÃO ASSOCIADAS À
CONSTELAÇÃO DE ATRIBUTOS
(EKAMBI-SCHMIDT, 1974)
Técnica de Moles
relacionada aos atributos
do espaço da casa
- abrange a imagem simbólica de atributos
- permite imagem concisa e clara do ambiente
casa
- prática projetual do design
de ambientes
- espaço casa
- aplicada na fase de geração
de alternativas
METODOLOGIA ERGONÔMICA
DE ATRIBUTOS PARA
AMBIENTES CONSTRUÍDOS –
MEAC
(VILLAROUCO, 2011)
Técnica de Moles e de
Ekambi-Schmidt
relacionada ao espaço de
trabalho
- adéqua ergonomicamente ao espaço
construído nos seus aspectos qualitativos
(ambiente imaginário)
- funcionalidade na sua aplicação
- prática projetual do design
de ambientes
- espaço de trabalho
- aplicada na fase de
atendimento - percepção do
ambiente pelo usuário
- difícil de separar questões afetivas
do produto pesquisado
- aconselha-se maior número de
amostras para validar as repostas
METODOLOGIA APLICADA AO
ENSINO DO DESIGN DE
AMBIENTES
(UEMG, 2012)
Metodologia relacionada às
metodologias do design
apropriada para o Design
de Ambientes
- amplia a percepção fase conceitual e
mapeamento funcional do projeto de
ambientes
- prática projetual do design
de ambientes
- utilizada em todas as fases
projetuais
- contribui para um bom
planejamento projetual nos
aspectos objetivos e subjetivos
- os aspectos subjetivos são
interpretados de forma intuitiva
pelo designer
- prática projetual do design
- aplicada na fase de geração
de alternativas
- amplia o olhar para questões
projetuais subjetivas
- transposição ou interpretação da
característica e caráter são
realizadas de forma intuitiva pelo
designer
QUADRO DE DIRETRIZES
PROJETUAIS QDP – DESIGN
(MOREIRA, 2010)
Quadro de diretrizes para
transformar conceito em
solução
- construção de objeto síntese, característica e
caráter, princípios de ordem e elementos de
construção
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
76
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Capítulo 3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
______________________________________
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
3.2 ESTUDO 1: PROCESSO PROJETUAL DOS PROFISSIONAIS (ON-LINE)
3.2.1 OBJETIVOS DO QUESTIONÁRIO
3.2.2 AMOSTRAGEM
3.2.3 PROCEDIMENTOS
3.2.4 ANÁLISE DE DADOS
3.3 ESTUDO 2: PROCESSO PROJETUAL DOS PROFISSIONAIS (PAINEL DOS
ESPECIALISTAS)
3.3.1 OBJETIVOS DA ENTREVISTA
3.3.2 AMOSTRAGEM
3.3.3 PROCEDIMENTOS
3.3.4 ANÁLISE DE DADOS
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
77
Capítulo 3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
_____________________________________________
D
e acordo com Silva (2005, p. 19), "pesquisar significa, de forma bem simples, procurar
respostas para indagações propostas." Ander-Egg (1978, p. 28) acrescenta que pesquisa é
"procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou
dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento". Pesquisa é, portanto, um conjunto
de atividades planejadas que se orientam pela busca de respostas a questões propostas. A
pesquisa aqui delineada direcionou-se na investigação de como os designers de ambientes e
interiores orientam-se na escolha dos materiais e objetos considerando a linguagem subjetiva
como meio.
Os processos metodológicos propostos nessa pesquisa pretenderam atender aos quatro
objetivos específicos, mostrados na Figura 43.
FIGURA 43 – Objetivos a serem alcançados, atividade, indicadores e publicações
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. LEVANTAR O CONCEITO
DE DESIGN DE AMBIENTES,
ESPAÇO, LUGAR,
AMBIÊNCIA E CONFORTO
NO CONTEXTO ATUAL
2. ENTENDER DO SISTEMA
SENSORIAL, O QUE SEJA
PERCEPÇÃO E OS SENTIDOS
HUMANOS
3. CONHECER DOS
MATERIAIS E OBJETOS, SEU
ASPECTO OBJETIVO,
CONCEITO E LINGUAGEM
SUBJETIVA
ATIVIDADES
Pesquisa
bibliográfica
INDICADORES
PUBLICAÇÃO
1. Artigo - O desafio do design de
ambientes na construção do
bem-estar: um panorama da
evolução das residências ao
longo da história.
1. Publicado - Colóquio
Internacional Design 2015
2. Artigo - Design de ambientes:
semiótica no design como
comunicação.
Pesquisa
bibliográfica
Pesquisa
bibliográfica
Questionário
Painel de
Especialistas
3. Artigo - Significação como
possível caminho inovador para
projetos de Design de Ambientes.
2 e 3. Previstos para
publicação
4. Artigo - O objeto possibilitando
identidade aos ambientes
construídos.
4. Previsto para publicação
5. Artigo - Desafios do design de
ambientes na definição da
linguagem dos materiais e
objetos.
5. Publicado VIII Congreso
Internacional de Diseño de
La Habana, FORMA 2015
Como os profissionais lidam com
78
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
os aspectos subjetivos dos
materiais e objetos.
6. Artigo - Desafios do design de
ambientes na definição da
linguagem dos materiais e
objetos.
Pesquisa
bibliográfica
4. DISCERNIR E IDENTIFICAR
MÉTODOS PROJETUAIS
EXISTENTES PARA A ÁREA
DO DESIGN DE AMBIENTES
Pesquisa
documental
Questionário
Painel de
Especialistas
7. Artigo - Ensino no Curso de
Design de Ambientes da Escola de
Design: metodologia aplicada à
prática projetual.
Como os profissionais elaboram
projetos para ambientes
6. Submetido ao Actas de
Diseño, Buenos Aires,
2015
7. Previsto para publicação
Como os profissionais lidam com
os aspectos objetivos subjetivos
na escolha de materiais e objetos
Assinalar aspectos importantes
dos métodos empregados pelos
profissionais da área
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
3.1 Caracterização da pesquisa
Essa pesquisa é de natureza aplicada, uma vez que objetiva gerar conhecimentos para o
emprego prático, dirigidos à solução de problemas relacionados à aplicação concreta.
Segundo Barros e Lehfeld (2000, p. 78), a pesquisa aplicada tem como objetivo "contribuir
para fins práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na
realidade". As respostas levantadas nessa pesquisa serão um caminho possível para ser
aplicada tanto no ensino quanto na prática profissional de projetos de design de ambientes.
A abordagem aqui inserida é quantitativa e qualitativa. A pesquisa quantitativa, de acordo
com Silva (2005, p. 20), "considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir
em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las." Entretanto, a pesquisa
qualitativa "fornece informações sobre atitudes, sentimentos e opiniões - busca motivações"
(PERDIGÃO; HERLINGER; WHITE, 2012, p. 67), trata-se de questões onde o ser humano está
inserido, portanto se pondera seus traços individuais, os quais não podem ser traduzidos de
maneira quantificável. A Figura 44 apresenta a estrutura da metodologia de pesquisa:
aplicada, quanti-qualitativa e de caráter exploratória.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
79
FIGURA 44– Estrutura da metodologia da pesquisa
DESCRIÇÃO
INSTRUMENTO DE PESQUISA
CARACTERÍSTICAS
NATUREZA DA PESQUISA
Pesquisa Aplicada
Resultados aplicáveis
ABORDAGEM DO
PROBLEMA
Qualitativa e quantitativa
OBJETIVOS DA PESQUISA
Caráter exploratório
Envolve levantamento bibliográfico e entrevistas
com pessoas com experiência prática do problema
a ser pesquisado
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
Bibliografia
Questionário
Entrevista
Estudo aprofundado do tema para obter resposta
ao problema central
AMOSTRAGEM
Amostra não-probabilística
Seleção dos elementos da população para compor
a amostra depende ao menos em parte do
julgamento do pesquisador
Dados numéricos
Dados existentes
COLETA DE DADOS
Levantamento de dados
Informações sobre atitudes, sentimentos e
opiniões - questões subjetivas
Questionário - on-line
Entrevista - Painel de especialistas
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Quanto aos objetivos da pesquisa, ela pode ser considerada de caráter exploratório. De
acordo com Gil (1991, p. 45), "visa proporcionar maior familiaridade com o problema com
vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses." Para tanto será necessário um
levantamento bibliográfico, questionários, entrevistas, explorar conceitos, analisar e
formular questões visando "desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador
com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa
ou modificar e clarificar conceitos." (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 188)
Os procedimentos metodológicos abrangeram, como primeira etapa, o levantamento
bibliográfico a partir de material já publicado, constituído de livros, artigos de periódicos e
material disponibilizado na Internet. Visou-se a fundamentar os questionamentos
apanhados inicialmente e ainda embasar as questões do questionário e entrevistas.
Na segunda etapa de pesquisa, após o levantamento bibliográfico, foi elaborado e aplicado
um questionário on-line (APÊNDICE A e B) direcionado aos profissionais do design de
80
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
ambientes com o objetivo de conhecer sobre o planejamento projetual de ambientes. Foram
verificados, com esses profissionais, os métodos utilizados para projetar ambientes; qual a
maior relevância ao projetar espaços - aspectos objetivos ou subjetivos; onde buscam
informações para escolha dos materiais e objetos; e se esta escolha é fundamentada ou
intuitiva.
A terceira etapa apresentou como objetivo investigar e entender como os profissionais da
área de ambientes projetam, como abordam os aspectos subjetivos na escolha dos materiais
e objetos, as metodologias que utilizam e suas aplicações. Nessa etapa foi aplicada a técnica
denominada "Painel de especialistas", que teve como objetivo evidenciar questões
relacionadas aos métodos e processos empregados nas atividades relacionadas (APÊNDICE C
e D). Essa técnica é utilizada quando a pesquisa adotada no trabalho é multimétodos, ou
seja, uma pesquisa que compreende diversas técnicas para um levantamento de dados mais
amplo e completo. Para Pinheiro, Farias e Abe-Lima (2013, p. 185), o painel de especialistas
é uma técnica "empregada em psicologia, administração e ciências sociais em geral,
geralmente em investigações que incluem mais de uma técnica de pesquisa, de acordo com
concepções multimetodológicas." A visão de um especialista tem cunho técnico e é baseada
em experiências prévias de projetos profissionais ou acadêmicos, que podem agregar
informações relevantes à pesquisa. Verificar a visão de especialistas no assunto pode auxiliar
na observação de fenômenos percebidos na revisão de literatura e nas entrevistas com
usuários, podendo ser integrada às demais informações e contribuir para a concepção de
diretrizes e recomendações que possam aprimorar o estudo.
Para realizar os questionários e entrevistas foi necessária a seleção de população para
compor, posteriormente, uma amostra que é "um subconjunto de indivíduos selecionados
para representar o universo" (PERDIGÃO; HERLINGER; WHITE, 2012, p.183). Os
respondentes foram selecionados pelo pesquisador objetivando aproximar as perguntas
com pessoas de experiência prática do problema a ser pesquisado. O questionário foi
respondido por 77 profissionais e para a entrevista foi selecionado um grupo de nove
profissionais atuantes na área do design de ambientes. Após coletados os dados, todos
foram analisados; primeiro o questionário, depois a entrevista e por fim um cruzamento de
dados como conclusão. No questionário buscou-se o maior número possível de respostas
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
81
que pudessem ser quantificáveis, enquanto na entrevista, buscou-se analisar as respostas de
forma subjetiva, investigando com maior profundidade o problema de pesquisa, apesar de
sua análise ser trabalhosa e individual.
Em relação à ética, essa pesquisa foi submetida para avaliação na Plataforma Brasil - sistema
eletrônico criado pelo Governo Federal para sistematizar o recebimento dos projetos de
pesquisa que envolvam seres humanos nos Comitês de Ética em todo o país - sob o número
37048214.4.0000.5525. Foi submetida para avaliação na data de 25/09/2014; obteve
aceitação em 06/10/2014 e o parecer foi liberado em 03/11/2014, conforme Anexo A. Como
observação, vale ressaltar que, no momento em que essa pesquisa foi submetida à avaliação
estava titulada como: A linguagem dos materiais e objetos: um desafio no processo projetual
do Design de Ambientes.
3.2 Estudo 1: Processo projetual dos profissionais (on-line)
Essa pesquisa, realizada através da aplicação de questionário (APÊNDICE A e B), foi
direcionada aos profissionais do design de ambientes. Selecionou-se um perfil de
profissionais para essa pesquisa baseado nos seguintes requisitos:
Possuir formação superior completa ou incompleta em Design de Ambientes, Design
de Interiores ou Decoração e,
Atuar na área como docentes, profissionais liberais e/ou como profissionais atuantes
na área empresarial, na cidade de Belo Horizonte.
O questionário foi composto de 15 questões fechadas, de múltiplas escolhas, e abertas para
que o respondente pudesse melhor expor sua opinião. Na maioria das questões fechadas,
acrescentou-se a opção “outro” com o intuito de possibilitar ao profissional sua contribuição
pessoal ao questionário, caso desejado. Todas as respostas foram mantidas em
confidencialidade e estimou-se por volta de 10 minutos para responder todas as questões.
82
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
3.2.1 Objetivos do questionário
O questionário é um instrumento de pesquisa que visa recolher informações sem interação
direta e ainda possui uma facilidade de interrogar um elevado número de pessoas em um
espaço de tempo relativamente curto. Além disso, o questionário busca maior uniformidade,
rapidez e simplificação na análise das respostas.
A elaboração do questionário se baseou nos objetivos de modo a responder aos problemas
de pesquisa. O conjunto de questões foi organizado de forma lógica - perfil do pesquisado;
metodologia de trabalho; emprego dos aspectos objetivos e subjetivos em projeto;
relevância de um método para projeção. Preocupou-se com perguntas claras e curtas,
visando a uma compreensão fácil das questões, portanto respostas mais fiéis à realidade do
respondente.
As cinco primeiras questões visaram traçar o perfil dos profissionais participantes como:
sexo, faixa etária, grau de instrução, tempo de atuação como profissional, número
aproximado de projetos realizados na área.
A sexta questão teve o propósito de verificar a maneira de projetar dos profissionais. Devese salientar aqui que essa maneira de projetar baseia-se prioritariamente pelos profissionais
atuantes em Belo Horizonte. Qual a metodologia adotada:
se é a do design, que considera basicamente: problema, briefing, conceito, geração
de alternativas, solução e elaboração;
se é a metodologia oriunda da arquitetura que considera basicamente: anteprojeto,
projeto e detalhamento.
O intuito desse item é entender qual o cenário desse profissional na atualidade, inicialmente
construído dentro da visão da arquitetura. O antigo decorador passou a ser designer,
entendendo, percebendo e interpretando o usuário de forma integral; considerando o
ambiente a ser projetado de forma a solucionar problemas e principalmente entendendo
que ambientes possuem linguagem direcionada ao comprometimento com os fatores
subjetivos do indivíduo. De acordo com as respostas, mesmo especificado através da
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
83
nomenclatura metodológica, foi possível perceber se os profissionais na atualidade
ambientam de forma a considerar os aspectos subjetivos dos usuários. Apesar de serem
duas as maneiras de projetação, os itens dispostos na questão foram planejados em uma
configuração embaralhada e combinada de tal forma a compor a melhor maneira que possa
identificar a metodologia do profissional questionado.
A sétima questão teve o propósito de discernir quais os aspectos de relevância para esses
profissionais ao projetarem espaços. O propósito é descobrir se esses profissionais
consideram de maior importância os aspectos objetivos, que são basicamente:
funcionalidade, segurança, custo, qualidade, técnica, tecnologia, tendência da moda ou de
mercado ou se são os subjetivos, essencialmente: desejo; emoção, cultura, estética.
As questões 8 e 9 foram elaboradas para entender como são efetuadas as escolhas dos
materiais e objetos no planejamento de ambientes. A intenção é entender se os
profissionais se apoiam em escolhas fundamentadas, isto é, se escolhem os materiais de
acordo com a linguagem estabelecida em projeto e sabem justificar essa escolha, ou se
constroem ambientes escolhendo materiais e objetos de forma intuitiva, ou através do bom
senso, isto é, não há uma preocupação em eleger formas, cores ou texturas que possam
estabelecer relação com o objetivo da linguagem conceitual inicial. As formas, cores e
texturas possuem uma linguagem subjetiva que, bem escolhidas e empregadas de forma
fundamentada, elevam as possibilidades de ambientes adequados ao usuário.
As questões 10 a 12 visaram saber da importância do uso de um método que abarque os
aspectos subjetivos em projetos. Sabe-se da dificuldade que os profissionais enfrentam ao
interpretar os aspectos subjetivos dos usuários e ainda de empregá-los de forma eficiente
em projetos. Sendo assim, qual a resposta que esses profissionais teriam se houvesse um
método que os auxiliasse nos aspectos intangíveis em projetos?
E por fim, o entrevistado foi solicitado a emitir sugestões e comentários sobre a presente
pesquisa de que participou e foi convidado a participar de uma segunda etapa da pesquisa.
Caso positivo, ele informava seu e-mail para que a pesquisadora pudesse realizar um novo
contato posterior.
84
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
3.2.2 Amostragem
A amostragem é o processo ou técnica de escolha de amostras adequadas e representativas
para análise de um todo, e, nesse caso, a seleção de membros de uma população ou de um
universo estatístico que possam constituir uma amostra. A amostra, segundo Marconi e
Lakatos (2012, p. 27), "é uma porção ou parcela, convenientemente selecionada do universo
(população), é um subconjunto do universo". A amostra pode ser probabilística ou não
probabilística. Para essa pesquisa, optou-se pela não probabilística que, de acordo com esses
mesmos autores, é aquela que não faz "uso de formas aleatórias de seleção" (MARCONI;
LAKATOS, 2012, p. 37) e do tipo por tipicidade: "seleciona um subgrupo de população que, à
luz das informações, possa ser considerado como representativo de toda a população"
(MARCONI; LAKATOS, 2012, p. 44).
Para definir a amostragem foi necessário conhecer a população envolvida na pesquisa, quem
e quantos são os profissionais a serem questionados. Como o estudo destina-se aos
designers de ambientes, a população foi composta por profissionais com formação nessa
área do saber; atuantes; de qualquer tempo de formação; que exerçam a profissão na
cidade de Belo Horizonte; que sejam de qualquer idade e sexo e desde que estejam, no
mínimo, em formação superior nessa área. Para saber o número de profissionais atuantes na
área, procuraram-se as associações de classe da cidade de Belo Horizonte que são:
Associação Mineira de Decoradores de Nível Superior (AMIDE) e Associação Brasileira de
Designers de Interiores (ABD). A AMIDE associa decoradores e designers de interiores ou de
ambientes de nível superior. A ABD associa decoradores, designers de interiores ou de
ambientes de nível superior e técnico e arquitetos que ambientam os interiores dos espaços.
Obtiveram-se dessas associações os seguintes números de profissionais atuantes em Belo
Horizonte e de nível superior:
AMIDE - 400 associados;
ABD - estima-se 180 associados atuais.
Assim, a população estimada de profissionais de acordo com o perfil especificado é de 580
profissionais. A amostra foi definida com base na “Tabela determinante de tamanho de
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
85
amostra” da Tabela 1.
TABELA 1 - Cálculo para determinar tamanho da amostra
TAMANHO DA AMOSTRA PARA NÍVEL DE CONFIANÇA DE 95%
ERRO AMOSTRAL
ERRO AMOSTRAL
ERRO AMOSTRAL
+/- 3%
+/- 5%
+/- 10%
TAMANHO DA
SPLIT
SPLIT
SPLIT
SPLIT
SPLIT
SPLIT
POPULAÇÃO
50/50
80/20
50/50
80/20
50/50
80/20
100
92
87
80
71
49
38
250
203
183
152
124
70
49
500
341
289
217
165
81
55
750
441
358
254
185
85
57
1.000
516
406
278
198
88
58
2.500
748
537
333
224
93
60
5.000
880
601
357
234
94
61
10.000
964
639
370
240
95
61
25.000
1.023
665
378
243
96
61
50.000
1.045
674
381
245
96
61
100.000
1.056
678
383
245
96
61
1.000.000
1.066
682
384
246
96
61
100.000.000
1.067
683
384
246
96
61
Fonte: SEBRAE (2013, s.p.)
Para melhor compreensão da tabela, split 50/50 significa uma população muito ampla e
diversificada, enquanto que split 80/20 uma população mais restrita, que é o caso específico
dessa pesquisa. A amostra está aproximada, de acordo com a tabela, ao tamanho 500 da
população, sendo então:
para erro de 3% - 289 respostas
para erro de 5% - 165 respostas
para erro de 10% - 55 respostas
86
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
3.2.3 Procedimentos
O questionário foi enviado em formato digital, realizado no software Surwey Monkey e,
posteriormente, as respostas foram analisadas de forma qualitativa. Essa ferramenta digital
foi selecionada pela facilidade de digitar e encaminhar as questões, apresentando uma
busca dos dados de forma clara, segura e fácil de ser decodificada e inserida na pesquisa.
Além disso, essa ferramenta proporcionaria facilidade de compartilhamento com outros
aplicativos, o NVivo, por exemplo. Após sua confecção, o questionário foi enviado como
teste para três pessoas, objetivando saber se a estrutura estava correta e o tempo para
respostas permanecia coerente com o estimado.
O
questionário
da
pesquisa
ficou
disponível
na
internet
no
endereço
https://pt.surveymonkey.com/s/YQ5YGYP no período de 21/10/2014 até 07/01/2015. Foi
enviada uma carta para a associação da AMIDE, solicitando o envio por e-mail do
questionário para seus associados. A escolha por essa associação se deu pelo fato desta
possuir o perfil de amostra necessário para a pesquisa. Excepcionalmente, esse caminho não
foi o positivo. Após um mês do questionário disponível na internet não havia respostas. Foi
necessária uma busca por respostas ao questionário através de telefonemas aos
profissionais associados, envios por e-mail e ainda solicitação aos docentes da Instituição
Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais. Dessa maneira, foram possíveis
77 respostas durante o período exposto.
3.2.4 Análise dos dados
Após a realização da coleta de dados, foi desenvolvida a análise e interpretação dos dados
coletados que foram selecionados, tabulados e posteriormente cruzados com os dados das
entrevistas.
O software Surwey Monkey desempenhou toda a análise estatística do questionário,
formatou e tabulou todas as informações, exceto das questões abertas tais como: questão 5
“tempo de atuação do profissional” e a questão 6 “número de ambientes projetados”. Essas
questões foram selecionadas, agrupadas e tabuladas pelo pesquisador, o qual formatou em
tabela.
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
87
Após o fechamento do sistema, os gráficos foram gravados e submetidos à análise cuidadosa
dos dados, verificando se as respostas alcançaram o objetivo de responder à pergunta
problema ou se demandava novos estudos.
3.3 Estudo 2: Processo projetual dos profissionais (painel de especialistas)
O segundo estudo foi direcionado aos profissionais do design de ambientes. Esses
profissionais são de formação superior em Design de Ambientes, Design de Interiores ou
Decoração e atuantes na área como docentes e/ou profissionais liberais, na cidade de Belo
Horizonte. A entrevista foi composta de 17 questões abertas, as respostas foram mantidas
em confidencialidade e estimou-se por volta de 60 minutos para responder todas as
questões.
3.3.1 Objetivos da entrevista
Segundo Andrade (2005, p. 146), a entrevista tem o objetivo de averiguar fatos ou
fenômenos; identificar opiniões; determinar a conduta previsível em certas circunstâncias;
descobrir os fatores que influenciam ou determinam opiniões, sentimentos e condutas. A
entrevista consiste em fazer uma série de perguntas, seguindo um roteiro pré-estabelecido
que pode ser padronizado ou não.
Para a elaboração das questões da entrevista, foi necessário buscar os objetivos da pesquisa
e levantar perguntas buscando respostas ao problema de pesquisa. O conjunto de questões
foi organizado de forma lógica - perfil do pesquisado; metodologia de trabalho; emprego dos
aspectos subjetivos em projeto; escolha de materiais e objetos para o arranjo de um
ambiente; relevância de fundamentação das relações subjetivas para melhor aplicação nos
ambientes projetados. Tal como o questionário, houve preocupação com perguntas claras,
visando melhor entendimento por parte do entrevistado e maior fidelidade nas respostas.
As primeiras questões, de 1 a 5, visaram identificar o respondente - nome, e-mail, telefone,
sexo, grau de instrução, tempo de atuação profissional e número de ambientes projetados.
As questões de 6 a 11 objetivaram verificar a maneira de projetar dos profissionais designers
de ambientes. Qual a metodologia utilizada para elaborar projetos, quais as facilidades e
88
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
dificuldades encontradas. Qual a evolução que encontrou na forma de trabalho desde a
formação. As questões que abordam no briefing, no que diz respeito aos aspectos
subjetivos. Como interpretam o usuário. Se conceituam o ambiente, como procedem e como
tangibilizam o conceito. Qual a lógica para compor ambientes. O intuito dessas questões é
apurar se os profissionais procuram conceber o ambiente a considerar, ou mesmo perceber,
o usuário de forma integral, isto é, se também considera em projeto seus aspectos
subjetivos.
As questões de 12 a 14 foram elaboradas para entender como esses profissionais
ambientam os espaços considerando os aspectos subjetivos do usuário. Qual a importância
desses aspectos em projeto. Qual o grau de complexidade que entendem existir esses
aspectos em projeto. Quais as ferramentas que utilizam para interpretar a subjetividade.
Quais as questões que abordam para entender o usuário em sua subjetividade. Se acreditam
que a subjetividade interfere na linguagem do ambiente e se essas questões devem ser
fundamentadas para serem melhor aplicadas em projeto. A intenção é compreender como
as questões de estima, cultura, desejos, emoção e outras subjetivas são abordadas pelos
profissionais. Se eles as consideram relevantes em projeto e se essas interpretações se
apoiam em fundamentação ou são explanadas de forma intuitiva ou através do bom senso.
As questões 15 e 16 objetivaram conferir como realizam as escolhas de materiais e objetos.
Um ambiente é construído por materiais e objetos. Apesar dos profissionais considerarem os
aspectos subjetivos do indivíduo em projeto, eles realmente escolhem os materiais e objetos
considerando as questões subjetivas? Onde buscam informações para essas escolhas? O
intuito é aferir se na prática esses profissionais conseguem tangibilizar as questões
subjetivas.
A questão 17 busca saber da importância do uso de um método que abarque os aspectos
subjetivos em projetos. Sabe-se da dificuldade que os profissionais enfrentam ao interpretar
os aspectos subjetivos dos usuários e ainda de empregá-los de forma eficiente em projetos.
Esses profissionais compreendem que existe importância em construir um método que
fundamente e auxilie na construção do subjetivo em projeto
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
89
3.3.2 Amostragem
A entrevista foi realizada com um total de nove profissionais do design de ambientes,
caracterizados por: docentes e/ou autônomos na área do design de ambientes e interiores.
O número de nove profissionais foi escolhido baseado em pelo menos 10% do número total
de respondentes do questionário. No perfil desses respondentes, foram considerados ainda
os aspectos: sexo, faixa etária, grau de instrução, experiência profissional (anos de atuação)
e número de ambientes projetados durante o tempo de atuação profissional.
A escolha desses profissionais teve o objetivo de abarcar profissionais
interessados pelo tema da pesquisa e de perfil variado, buscando perceber todas as
questões profissionais de forma integral. A escolha se deu da seguinte forma:
pelo interesse expressado no questionário (Estudo 1) relativo a pergunta
14;
pela diversidade da experiência profissional, incluindo com menor tempo
de atuação, menos de 5 anos até mais de 30 anos de atuação;
pelos diferentes graus de formação - superior, especialização, mestrado e
doutorado;
pelo menos um profissional que atue em área externa (paisagismo, por
exemplo).
3.2.3 Procedimentos
A entrevista foi realizada individualmente, filmada e gravada. Todo o processo ocorreu de
01/12/2014 até 10/01/15. Teve o objetivo de investigar, aproximar e cruzar informações
sobre questões da metodologia de trabalho desses profissionais e como são abordados os
aspectos subjetivos em seus projetos. Além disso, buscou-se compreender melhor os
campos que ficaram em aberto ou pouco explorados no questionário, pelo fato de serem
questões quantitativas.
A Figura 45 mostra o conteúdo das questões que foram abordadas no Painel de
90
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Especialistas, assim como os objetivos pretendidos:
FIGURA 45 – Questões do painel de especialistas
ESPECIALISTA
PROFISSIONAIS
DA ÁREA DE
AMBIENTES
CONTEÚDO DAS QUESTÕES
OBJETIVO

1. Qual o método adotado para
projetação de ambientes
2. Aspectos subjetivos - como são
percebidos/ como são conduzidos para a
tangibilidade dos materiais e objetos

Perceber outros métodos empregados por
profissionais , para compreender o emprego
dos aspectos subjetivos
Qual o método de percepção dos aspectos
subjetivos e como são conduzidos para o
ambiente
Fonte: Elaborado pela autora, 2014
Após serem feitas as perguntas pelo entrevistador e respondida pelo entrevistado, a síntese
das respostas foi formalizada pelo pesquisador. A gravação da entrevista teve como objetivo
não perder o valor do discurso. Levaram-se em consideração os gestos e a fala do
entrevistado, para melhor interpretação dos conteúdos respondidos.
As entrevistas gravadas foram repassadas posteriormente pelo pesquisador e todas as falas
relevantes que, por ventura, tenham passado despercebidas, foram anotadas e mapeadas.
Após a formalização, as informações foram cuidadosamente tabuladas pelo pesquisador.
3.3.4 Análise de dados
A apresentação dos dados foi estruturada de maneira a possibilitar um melhor
entendimento. Quadros foram criados para melhor interpretação dos dados da entrevista,
conforme Figuras 46, 47 e 48. O levantamento dos dados teve como princípio a análise do
discurso, colocando em evidência os itens presentes na fala do entrevistado, como palavraschave que se repetem, ou mesmo observações semelhantes. Todas as entrevistas foram
repassadas, uma a uma, e registradas de acordo com a estrutura a seguir:
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
91
FIGURA 46 – Estrutura de tabulação das entrevistas 1
ANÁLISE - QUANTO À METODOLOGIA
COMO TRABALHAM
REALIZA CONCEITO
TANGIBILIZA
O AMBIENTE
REALIZA BRIEFING
QUESTÕES QUE
ABORDA PARA
SUBJETIVIDADE
DIFERENÇAS NA
FORMA DE
PROJETAR
ANTES/ATUAL
LÓGICA
PARA COMPOSIÇÃO
DE AMBIENTES
ENTREVISTADO 1
ENTREVISTADO 2
ENTREVISTADO 3
ENTREVISTADO 4
ENTREVISTADO 5
EM DIANTE
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
FIGURA 47 – Estrutura de tabulação das entrevistas 2
ANÁLISE - ASPECTOS SUBJETIVOS
IMPORTÂNCIA
DOS
ASPECTOS
SUBJETIVOS E
OBJETIVOS
GRAU
COMPLEXIDADE
DOS ASPECTOS
SUBJETIVOS
FERRAMENTA
PARA
INTERPRETAR A
SUBJETIVIDADE
QUESTÕES QUE
ABORDA PARA
COMPREENDER
O SUBJETIVO DO
USUÁRIO
O SUBJETIVO
INTERFERE
NA LINGUAGEM
DO AMBIENTE/
COMPROMETE
O BEM-ESTAR
DO USUÁRIO
A SUBJETIVIDADE
DEVE SER
FUNDAMENTADA
PARA SER
APLICADA
EM PROJETO
ENTREVISTADO 1
ENTREVISTADO 2
ENTREVISTADO 3
ENTREVISTADO 4
ENTREVISTADO 5
EM DIANTE
Fonte: Elaborado pela autora, 201
92
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
FIGURA 48 - Estrutura de tabulação das entrevistas 3
ANÁLISE - MATERIAIS E OBJETOS
COMO REALIZA A ESCOLHA PELA OBJETIVIDADE
OU SUBJETIVIDADE
ONDE BUSCAM INFORMAÇÕES PARA A ESCOLHA
ENTREVISTADO 1
ENTREVISTADO 2
ENTREVISTADO 3
ENTREVISTADO 4
ENTREVISTADO 5
EM DIANTE
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
93
Capítulo 4
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
______________________________________
4.1 PERFIL DOS PROFISSIONAIS
4.1.1 PERFIL DOS PROFISSIONAIS DO ESTUDO 1 - QUESTIONÁRIO
4.1.2 PERFIL DOS PROFISSIONAIS DO ESTUDO 2 - ENTREVISTA
4.2 RESULTADOS APRESENTADOS DO ESTUDO 1 - QUESTIONÁRIO
4.2.1 METODOLOGIA PROJETUAL UTILIZADA PELOS PROFISSIONAIS
4.2.2 COMO CONSIDERAM OS ASPECTOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS
EM PROJETO
4.2.3 SOBRE AS DECISÕES PROJETUAIS
4.2.4 ACEITAÇÃO DE UM MÉTODO SUBJETIVO
4.3 RESULTADOS APRESENTADOS DO ESTUDO 2 - ENTREVISTA
4.3.1 MANEIRA DE PROJETAR DOS PROFISSIONAIS
4.3.2 COMO CONSIDERAM OS ASPECTOS SUBJETIVOS EM PROJETO
4.3.3 COMO REALIZAM AS ESCOLHAS DE MATERIAIS E OBJETOS
4.3.4 IMPORTÂNCIA DE UM MÉTODO QUE INCLUA OS ASPECTOS
SUBJETIVOS
94
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Capítulo 4
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
_____________________________________________
E
sse capítulo apresenta e discute os resultados coletados conforme descrito no capítulo
anterior, ou seja: perfil dos profissionais, resultados dos Questionário do Estudo 1 e
resultados das Entrevistas presenciais do Estudo 2.
4.1 Perfil dos profissionais
4.1.1 Profissionais do estudo 1 - Questionário on-line
Os profissionais são na maioria do sexo feminino, correspondendo a 91%, 8% do sexo
masculino e 1% outro, veja na Figura 49. Percebe-se a expressividade feminina entre os
profissionais, bem como outras pesquisas de âmbito nacional, citada em ABD (2011), que
confirmam essa presença feminina significativa entre os profissionais do design de
ambientes e interiores.
FIGURA 49 – Perfil dos profissionais: sexo
FIGURA 50 – Perfil dos profissionais: faixa etária
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Nota-se que grande parte dos profissionais pesquisados, 68% são jovens de até 40 anos,
sendo que 50% têm idade entre 18 a 30 anos, 18% estão na faixa 31 a 40 anos. Acima dos 40
anos estão 32% dos profissionais, sendo que 22% têm idade entre 41 a 50 anos, 9% entre 51
a 60 anos e 1% acima de 60 anos (Figura 50).
O questionário foi apresentado para profissionais de curso superior concluído ou por
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
95
concluir em design de ambientes, interiores e decoração. Dessa forma, o perfil acadêmico
apresentou os resultados apontados na Figura 51. Da amostra participante, 47% possuem
graduação na área, 6% não finalizaram ainda o curso superior; e 46% possuem pósgraduação. Destes, 36% concluíram uma especialização, 4% têm mestrado concluído, 3%
estão finalizando o mestrado, 4% têm o doutorado concluído ou por concluir.
Vendas
FIGURA 51 – Perfil dos profissionais: grau de instrução
4%
6%
Superior completo
3%3% 1%
Especialização
Superior incompleto
47%
Mestrado
Mestrando
36%
Doutorando
Doutorado
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
O tempo de experiência dos profissionais pesquisados varia de menos de 10 anos até 40
anos: 77% dos questionados possuem menos de 10 anos de experiência, 12% têm de 11 a 20
anos, 20% possui de 21 a 30 anos de experiência, 2% mais de 30 até 40 anos (Figura 52).
Colunas1
FIGURA 52 – Tempo de
atuação dos profissionais
9%
2%
1 a 10 anos
12%
11 a 20 anos
21 a 30 anos
77%
31 a 40 anos
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
O volume de projetos executados no período de experiência profissional de acordo com os
respondentes (Figura 53) varia de até 50 a mais de 1.000 ambientes. Grande parte dos
profissionais participantes, 44%, declarou ter participado de até 50 projetos. Um grupo de
96
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
17% de profissionais desenvolveu de 51 a 100 ambientes. Portanto, dentre os 77
respondentes, 61% deles ambientaram no máximo 100 espaços. Há coerência dessa
resposta com o tempo de atuação desses profissionais que, na maioria, está entre 1 a 10
anos de profissão.
FIGURA 53 – Quantidade de ambientes projetados
Vendas
até 50 ambientes
12%
51 a 100 ambientes
9%
27%
101 a 500 ambientes
44%
4%
14%
501 a 1000 ambientes
acima de 1000 ambientes
17%
não mensuram
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Observa-se que 27% dos respondentes projetaram de 100 a 1.000 ambientes: 14%
projetaram entre 101 a 500 ambientes, 4% entre 500 a 1.000 ambientes e 9% mais de 1.000
ambientes. Um grupo de nove profissionais, correspondente a 12% do total, não mensuram
o número de projetos realizados.
4.1.2 Profissionais do estudo 2 - Entrevista
O segundo grupo de profissionais participou das entrevistas presenciais, no total de nove
pessoas (Tabela 2). Desse grupo, 100% são do sexo feminino, com faixa etária variada: 44,5%
de 18 a 40 anos de idade, 33,3% têm idade entre 31 a 40 anos, 55,5% acima de 41 anos.
O perfil acadêmico é também variado: 18% possuem a graduação na área e as demais, cerca
de 78%, possuem pós-graduação. Do total, 33,3% possuem especialização, também 33,3%
possuem mestrado concluído ou a concluir e 9% possui doutorado.
Em relação ao tempo de experiência, o grupo se mostrou bastante heterogêneo, uma vez
que era composto por profissionais jovens e mais maduros profissionalmente, com
experiência menor de 3 anos e maior de 28 anos. Quanto à quantidade de ambientes
projetados, nota-se também grande discrepância, entre 40 a 13.000 ambientes projetados,
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
97
sendo uma média de 2.774 ambientes, como aponta a Tabela 2.
TABELA 2 - Perfil dos profissionais entrevistados
PERFIL PROFISSIONAIS ENTREVISTADOS
PROFISSIONAL
SEXO
FAIXA ETÁRIA
GRAU DE
INSTRUÇÃO
ANOS DE ATUAÇÃO
AMBIENTES
PROJETADOS
01
FEM
41 a 50 anos
especialização
16
(entre 16 a 20)
2.800
02
FEM
mais de 60 anos
especialização
37
(mais de 30)
não mensura
03
FEM
31 a 40 anos
mestrado
08
(entre 05 a 10)
250
04
FEM
51 a 60 anos
doutorado
28
(entre 26 a 30)
1.500
05
FEM
31 a 40 anos
mestrado
15
(entre 10 a 15)
400
06
FEM
18 a 30 anos
mestranda
03
(entre 0 a 05)
40
07
FEM
31 a 40 anos
especialização
11
(entre 11 a 15)
200
08
FEM
41 a 50 anos
superior
26
(entre 26 a 30)
4.000
09
FEM
41 a 50 anos
superior
27
(entre 26 a 30)
13.000
FEM
100%
variável
variável
variável
média
2.774
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
A partir dos resultados de ambos os estudos, com um total de 86 profissionais e docentes,
verifica-se que os participantes possuem pleno domínio da profissão, com grande vivência
em projetos de ambientes, conhecimento suficiente para avaliar e aferir julgamentos a
respeito dos aspectos tratados nessa pesquisa.
4.2 Resultados do Estudo 1 - Questionário
4.2.1 Metodologia projetual utilizada pelos profissionais
Os profissionais participantes do estudo 1 declararam aplicar metodologias de maneiras
distintas: 32% dos respondentes adotam uma maneira de projetar entre a da arquitetura e a
do design, porém, quase na mesma porcentagem, estão os que adotam plenamente a
metodologia do design, correspondendo a 30% dos respondentes. (Figura 54 e Tabela 3).
Considera-se o resultado incoerente, diante da realidade dos analisados, pelo fato desses
98
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
profissionais possuírem, em sua maioria, menos de 5 anos de formação (Figura 54).
Baseando-se nesse tempo de formação, esperava-se que a maioria, adotasse a metodologia
do design e não da arquitetura (a não ser daqueles que possuem as duas formações).
Contudo, apenas 4% declararam adotar plenamente a metodologia da arquitetura e 52%,
dizem utilizar o conceito como método projetual. Além disso, 96% afirmam utilizar do
briefing e 74% alegam buscar o problema ao projetar ambientes, significando que procuram
orientar-se pelo usuário e seu contexto ao projetarem.
FIGURA 54 - Metodologia aplicada 1
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
TABELA 3 – Metodologia aplicada 2
AMBIENTES PROJETADOS
RESPOSTA
PORCENTAGEM
1. PROBLEMA-BRIEFING-ANTEPROJETO-PROJETODETALHAMENTO
22
32%
2. PROBLEMA-BRIEFING-GERAÇÃO DE ALTERNATIVASSOLUÇÃO-ELABORAÇÃO
08
12%
3. BRIEFING-CONCEITO-ANTEPROJETO-PROJETODETALHAMENTO
15
22%
4. PROBLEMA-BRIEFING-CONCEITO-GERAÇÃO DE
ALTERNATIVAS-SOLUÇÃO-ELABORAÇÃO
21
5. ANTEPROJETO-PROJETO-DETALHAMENTO
03
4%
77
100%
TOTAL
30%
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
De acordo com as respostas, foi possível perceber que os profissionais tendem a projetar
considerando o conceito do ambiente, momento em que se caracteriza como interpretação
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
99
da linguagem do espaço, desenvolvendo, possivelmente, maior preocupação com os fatores
subjetivos projetuais. Conclui-se esse fato pela leitura das opções 3 e 4 enumeradas na
Tabela 3.
4.2.2 Como consideram os aspectos objetivos e subjetivos em projeto
Perguntou-se aos profissionais sobre o grau de importância que atribuem aos aspectos
subjetivos e objetivos ao elaborarem projetos de design de ambientes. Foram dispostos
vários aspectos relevantes em um projeto, não distinguindo, no entanto, se esses eram
objetivos ou subjetivos. Foi atribuída uma escala numérica de 1 a 5, na qual 1 equivale a um
atributo pouco importante e 5 ao de alta importância (Figura 55).
Considerar o “usuário” como o item mais importante foi a resposta de 86% dos profissionais
pesquisados, seguido do atributo “funcionalidade” por 82% dos respondentes. Grande parte
dos participantes, 79% atribuíram o grau de altamente importante aos itens “solução do
problema” e “qualidade”.
FIGURA 55 - Grau de importância dos aspectos objetivos e subjetivos ao elaborar projeto 1
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
100
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
O grau de importância entre 4,69 a 4,66 (na escala de 1 a 5) foi atribuído a itens como
“segurança” por 75%, “aspectos técnicos e construtivos” por 74% e “eficiência” por 73%,
como mostra a Figura 55 e Tabela 4. Conclui-se, dessa forma que, apesar da solução de
problema e o usuário serem relevantes para os profissionais, estes não interpretam os
aspectos subjetivos como fator de solução ou de problema projetual e não percebem a
subjetividade como fator primordial do usuário.
Com exceção do primeiro item “usuário”, os seis itens subseqüentes são de ordem objetiva
ficando à frente de todos os aspectos subjetivos da lista.
O item “estética” divide a opinião dos respondentes entre o grau de importância 5 por 40%,
TABELA 4 - Grau de importância dos aspectos objetivos e subjetivos ao elaborar projeto 2
(1 = menos importante e 5 = mais importante)
MÉDIA
1
2
3
4
5
PONDERADA
USUÁRIOS
0%
0
3%
2
1%
1
10%
8
86%
66
4,79
FUNCIONALIDADE
1%
1
0%
0
0%
0
17%
13
82%
63
4,78
SOLUÇÃO DO PROBLEMA
1%
1
0%
0
3%
2
17%
13
79%
61
4,73
QUALIDADE
1%
1
0%
0
3%
2
18%
14
78%
60
4,71
SEGURANÇA
1%
1
0%
0
3%
2
21%
16
75%
58
4,69
ASPECTOS TÉCNICOS E
CONSTRUTIVOS
1%
1
0%
0
4%
3
21%
16
74%
57
4,66
EFICIÊNCIA
1%
1
0%
0
3%
2
23%
18
73%
56
4,66
ESTÉTICA
0%
0
1%
1
12%
9
47%
36
40%
31
4,26
DESEJO
1%
1
0%
0
19%
15
35%
27
45%
34
4,21
CUSTO
0%
0
3%
2
29%
22
32%
25
36%
28
4,03
EMOÇÃO
3%
2
6%
5
23%
18
29%
22
39%
30
3,95
ASPECTOS SUBJETIVOS DOS
MATERIAIS
4%
3
10%
8
27%
21
34%
26
25%
19
3,65
TECNOLOGIA
0%
0
8%
6
43%
33
31%
24
18%
14
3,60
ASPECTOS SUBJETIVOS DOS
OBJETOS
3%
2
11%
9
32%
25
38%
29
16%
12
3,52
TENDÊNCIA DE MERCADO
8%
6
19%
15
46%
35
22%
17
5%
4
2,97
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
101
grau 4 por 47% e grau 3 por 12%. O aspecto “desejo” dos usuários foi avaliado nos graus de
importância 5 por 45%, grau 4 por 35% e grau 3 por 19%. O atributo “emoção” que sintetiza
as reações positivas causadas pelo ambiente também foi avaliado de maneira distinta pelos
pesquisados: foi reconhecido como altamente importante 5 por 39%, grau 4 por 29%, grau 3
por 23% e grau de pouca importância 2 por 6%. Opiniões divididas também foram emitidas
sobre os “aspectos subjetivos dos materiais”: considerados muito importante 5 por 25%,
grau 4 por 34%, grau 3 por 27%, grau de pouca importância 2 por 11% e sem importância 1
por 3%.
Os aspectos objetivos menos relevantes para os respondentes foram: o “custo” foi
considerado muito importante para 36%, “tecnologia” para 18% e grau 3 para 43%;
“tendência de mercado” considerado muito importante 5 por 5%, grau 4 por 22%, grau 3 por
49%, grau de pouca importância 2 por 19% e sem importância 1 por 8%.
Na pergunta seguinte, veja figura 56, busca-se entender quais os fatores que o profissional
FIGURA 56 - Grau de importância dos fatores de escolha dos materiais e objetos 1
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
102
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
leva em conta para escolher e selecionar os materiais e objetos que vai aplicar no ambiente
projetado. A objetividade fica também nítida nas respostas às quais foi atribuído o grau de
importância 5: 81% responderam que escolhem principalmente pela funcionalidade, 70%
pela segurança, 67% pela qualidade e 66% pela eficiência (Figura 56 e Tabela 5). Os aspectos
subjetivos, tais como: “design, forma, cor e textura”, conforme tabela 5, são fatores
considerados muito importante, grau 5 por 51% e grau 4 por 43% dos pesquisados. O fator
TABELA 5 - Grau de importância dos fatores de escolha dos materiais e objetos 2
(1 = menos importante e 5 = mais importante)
1
2
3
4
MÉDIA
5
PONDERADA
PELA FUNCIONALIDADE
0%
0
0%
0
5%
4
14%
11
81%
62
4,75
PELA SEGURANÇA
0%
0
0%
0
5%
4
25%
19
70%
54
4,65
PELA QUALIDADE
0%
0
0%
0
1%
1
32%
25
67%
51
4,65
PELA EFICIÊNCIA
0%
0
1%
1
3%
2
30%
23
66%
51
4,61
PELO DESIGN, FORMA, COR,
TEXTURA
0%
0
1%
1
5%
4
43%
33
51%
39
4,43
DE ACORDO COM OS
DESEJOS DO USUÁRIO
0%
0
1%
1
3%
2
52%
40
44%
34
4,39
PELA EXPERIÊNCIA
PRAZEROSA DO USUÁRIO
0%
0
3%
2
10%
8
36%
28
51%
39
4,35
PELO VALOR SIMBÓLICO OU
DE ESTIMA
1%
1
4%
3
16%
12
41%
32
38%
29
4,10
PELOS COSTUMES DA
CULTURA QUE ESTOU
INSERIDO
3%
2
3%
2
16%
12
53%
41
25%
20
3,97
PELO CUSTO
0%
0
1%
1
26%
20
52%
40
21%
16
3,92
PELA TECNOLOGIA
0%
0
4%
3
44%
34
39%
30
13%
10
3,61
PELOS COSTUMES DE
OUTRAS CULTURAS
4%
3
13%
10
32%
25
39%
30
12%
11
3,42
PELA EXCLUSIVIDADE
5%
4
14%
11
44%
34
29%
22
8%
6
3,19
PELA INTUIÇÃO E BOM
SENSO
8%
6
12%
9
22%
17
50%
39
8%
6
3,39
PELA TENDÊNCIA DA MODA
10%
8
25%
20
39%
28
25%
20
1%
1
2,82
DE ACORDO COM MEU
GOSTO PESSOAL
14%
11
27%
21
23%
18
36%
27
0%
0
2,79
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
103
“pela experiência prazerosa dos usuários” é considerado muito importante, grau 5 por 51%,
grau 4 por 36% e grau 3 por 10%. Levar em conta os “desejos do usuário” é considerado
muito importante para 44% e um pouco menos importante, grau 4, para 52% dos
profissionais. Fazer escolhas levando em consideração os fatores “valor simbólico ou de
estima” é muito importante para 38% e um grau 4 de menor importância para 43% e grau 3
para 16% dos respondentes. Nos aspectos do “costume e cultura em que se está inserido” o
cliente é muito importante para 25%, de menos importância 4 para 53% e grau 3 para 16%
dos pesquisados. Nota-se que os itens subjetivos acima ficam em grau de importância
inferior em relação aos quatro primeiros aspectos objetivos já citados anteriormente.
Os valores objetivos menos importantes para os profissionais, são: “custo”, considerados
muito importante para 21% e de menos importância 4 para 52% e grau 3 para 16%;
“tecnologia” é altamente importante para 13%, de menos importância 4 para 39% e grau 3
de média importância para 44% dos pesquisados. O aspectos da ”exclusividade” é muito
importante para somente 8%, menos importância 4, para 29% e grau 3 para 44% dos
profissionais. Seguir as “tendências da moda” não é considerado muito importante, somente
1%, dividindo os valores entre intermediários entre menos e pouca importância, em 25%,
39% e 25% respectivamente. Os aspectos subjetivos menos importantes, são: costumes de
outras culturas - 12% e gosto pessoal 0%, sendo que esse último é considerado pelos 14%
dos respondentes (grau 1) como o de menor relevância. A leitura desse último ponto é que o
designer diz que está percebendo mais o usuário, pelo fato de considerar pouco seu gosto
pessoal em relação aos outros aspectos registrados na figura, porém ainda 36% (grau 4) dos
respondentes consideram um pouco importante seu gosto pessoal como prática de projeto.
Na pergunta seguinte sobre as “Fontes de escolha dos materiais e objetos” fica clara a
objetividade em projetos. A maioria dos profissionais, 91% responderam que a fonte de
busca de materiais e objetos se dá nas lojas especializadas, veja na Tabela 6.
Há uma pré-disposição de que lojas especializadas em materiais e objetos para ambientes
comercializem o que está na moda e/ou o que o mercado deseja que o consumidor compre.
Diante dessa realidade, profissionais da área tendem a adequar as escolhas de materiais e
objetos ao mercado. A massificação de ambientes pode ser a conseqüência dessas escolhas,
104
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
quando o ideal seria buscar um diferencial para o usuário, considerando em projeto seus
desejos, emoções, entre outros. Portanto, se os profissionais buscam suas escolhas nas lojas,
pressupõe-se que os aspectos subjetivos podem não estar sendo ponderados na prática
projetual.
TABELA 6 - Fonte de escolha dos materiais e objetos
REFERÊNCIA PARA ESCOLHA
RESPOSTA
PORCENTAGEM
LOJAS ESPECIALIZADAS
71
91%
AMOSTRAS FÍSICAS
67
87%
WEBSITES
59
77%
REVISTAS ESPECIALIZADAS DA ÁREA DO DESIGN
50
65%
INDICAÇÃO DE OUTROS PROFISSIONAIS
45
58%
LIVROS DA ÁREA DO DESIGN - TEÓRICOS E PRÁTICOS
37
48%
BLOGS
27
30%
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Outra leitura a ser considerada é que a maioria dos questionados busca referência para
escolhas de materiais e objetos naquilo que é tangível, como materiais e objetos que
possam ser vistos e percebidos pelo tato. Essa análise é entendida pela porcentagem das
respostas: lojas especializadas - 91% e amostras físicas 87%. As outras respostas de escolhas
permitiu menor possibilidade da percepção dos materiais e objetos por meio do tato, tais
como: websites - 77%; revistas especializadas da área do design - 65%; indicação de outros
profissionais - 58%; livros da área do design - teóricos e práticos - 48% e blogs - 30%; que
possibilitam maior interpretação virtual, por parte do designer. Isso pode significar que o
profissional escolhe melhor em condições tangíveis, fato característico da objetividade.
4.2.3 Sobre as decisões projetuais
Grande parte dos pesquisados, 46%, consideram os aspectos objetivos como realidade
projetual, pelo fato desses possuírem possibilidade de quantificação e ainda 35% dizem que
empregam os aspectos subjetivos em projeto, mas são difíceis de serem medidos, por isso
são aplicados por meio de decisões intuitivas ou de bom senso, (Tabela 7). Essas respostas
estão coerentes com as análises anteriores, nas quais os aspectos objetivos são os de maior
relevância projetual.
Onze dos setenta e sete respondentes, (14%), entendem que os aspectos objetivos são mais
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
105
empregados pelo fato dos usuários serem mais exigentes quanto à tecnologia, usabilidade e
segurança. Somente 5% dos respondentes afirmam que os aspectos subjetivos são pouco
empregados por serem difíceis de quantificar. Esses aspectos dizem respeito à
individualidade do sujeito e por isso são complexos de serem percebidos e aplicados.
TABELA 7 - Decisões projetuais 1
OPÇÃO DE RESPOSTA
RESPOSTA
PORCENTAGEM
OS ASPECTOS OBJETIVOS DE UM PROJETO SÃO MAIS CONSIDERADOS POR
POSSUÍREM A POSSIBILIDADE DE QUANTIFICAÇÃO, QUE SÃO ELES:
FUNCIONALIDADE, SEGURANÇA, CUSTO E TECNOLOGIA
35
46%
OS ASPECTOS SUBJETIVOS SÃO MAIS EMPREGADOS, MAS DIFÍCEIS DE SEREM
MEDIDOS, POR ISSO, APLICADOS POR MEIO DE DECISÕES INTUITIVAS OU DE
BOM SENSO.
27
35%
OS ASPECTOS OBJETIVOS SÃO MAIS EMPREGADOS PELO FATO DOS
USUÁRIOS SEREM MAIS EXIGENTES QUANTO À TECNOLOGIA, USABILIDADE E
SEGURANÇA.
11
14%
OS ASPECTOS SUBJETIVOS SÃO POUCO EMPREGADOS POR SEREM DIFÍCEIS DE
QUANTIFICAR. DIZEM RESPEITO À INDIVIDUALIDADE E POR ISSO, COMPLEXOS
DE SEREM PERCEBIDOS E APLICADOS
04
5%
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Diante da complexidade percebida na atualidade, os aspectos subjetivos estão sendo
considerados e incorporados em projetos de design. Foi questionado, veja na Tabela 8,
TABELA 8 - Decisões projetuais 2
OPÇÃO DE RESPOSTA
RESPOSTA
PORCENTAGEM
PERCEBO OS ASPECTOS SUBJETIVOS, SUA IMPORTÂNCIA E BUSCO
INFORMAÇÕES NA TEORIA DO DESIGN PARA APLICÁ-LOS DE FORMA SEGURA
46
59%
PERCEBO OS ASPECTOS SUBJETIVOS E SUA IMPORTÂNCIA EM PROJETO DE
DESIGN, MAS ESCOLHO MATERIAIS E OBJETOS PARA COMPOR O AMBIENTE
DE FORMA INTUITIVA OU PELO BOM SENSO
28
36%
PERCEBO OS ASPECTOS SUBJETIVOS EM PROJETO, MAS PREFIRO
CONSIDERAR EM PROJETO OS ASPECTOS OBJETIVOS, POIS SÃO BEM MAIS
FÁCIES DE SEREM TRABALHADOS PELO DESIGNER E PERCEBIDOS PELO
CLIENTE
24
31%
NÃO COMPREENDO BEM E NÃO TENHO FACILIDADE EM TRABALHAR COM A
SUBJETIVIDADE
3
4%
PELO FATO DE UMA DEMANDA PROJETUAL INTENSA E PELA COMPLEXIDADE
DE MANUSEIO DOS ASPECTOS SUBJETIVOS EM PROJETO, NÃO POSSUO
TEMPO HÁBIL PARA ELABORAR AMBIENTES CONSIDERANDO O EMPREGO DA
SUBJETIVIDADE
3
4%
SE HOUVESSE UM MÉTODO QUE AUXILIASSE NO EMPREGO DOS ASPECTOS
SUBJETIVOS EM PROJETO, EU OS ABORDARIA EM MAIOR CONSTÂNCIA NO
PLANEJAMENTO DE AMBIENTES
0
0%
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
106
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
qual a frase que mais se enquadra à realidade projetual dos designers. Foi dada a
oportunidade de escolher até duas opções. Dos respondentes, 59% disseram adotar, como
melhor opção, "que percebem os aspectos subjetivos em projeto, sua importância e que
buscam informações na teoria do design para aplicá-los de forma segura".
Em seguida, 36% dos respondentes consideram os aspectos subjetivos, mas escolhem
materiais e objetos para compor o ambiente de forma intuitiva ou pelo bom senso; 31%
percebem os aspectos subjetivos em projeto, mas preferem considerar os objetivos, pelo
fato de serem bem mais fáceis de serem trabalhados e percebidos pelo cliente; 4%
responderam que não compreendem bem o que seja subjetividade e não encontram
facilidade em projetar considerando os aspectos subjetivos; também 4% entendem que a
demanda projetual é intensa e a complexidade da subjetividade amplia o tempo projetual
que não possuem; e ainda, nenhum respondente opta, como realidade de sua profissão, o
emprego constante da subjetividade no planejamento de ambientes.
4.2.4 Aceitação de um método que trate das questões subjetivas
São positivas as respostas dos profissionais quanto à aceitação de um método que pudesse
auxiliar no emprego dos aspectos intangíveis em projeto de design de ambientes (Tabela 9).
Foi dada a oportunidade, nessa questão, do respondente escolher por quantas opções
desejasse. A maioria das respostas - 80% - leva a acreditar que os designers experimentariam
o método e que, se fosse apropriado, empregariam em seus projetos; 58% certamente
entendem que um método seria uma ferramenta útil e relevante para a prática projetual;
TABELA 9 - Aceitação de método
OPÇÃO DE RESPOSTA
RESPOSTA
PORCENTAGEM
EU IRIA TESTAR PARA CONHECER E CASO FOSSE INTERESSANTE IRIA
EMPREGAR EM MEUS PROJETOS
59
80%
CERTAMENTE SERIA UMA FERRAMENTA ÚTIL E RELEVANTE PARA O MEU
TRABALHO
45
58%
EU OS ABORDARIA EM MAIOR CONSTÂNCIA NO PLANEJAMENTO DE
AMBIENTES
15
19%
EU NÃO IRIA USAR, POIS ACREDITO QUE O MEU MÉTODO PESSOAL JÁ É
EFICIENTE
01
1%
Fonte: Elaborado pela autora, 2015
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
107
19% empregariam o método em maior constância no planejamento de ambientes e somente
1% não utilizaria de método para sua prática projetual, acreditando que a forma particular
de trabalho já é eficiente. Além disso, comentários finais no questionário, apresentados de
forma aberta, foram favoráveis ao tema, como: "acho muito relevante a temática";
"aspectos subjetivos, ao meu ver se aproximam de um maior grau de sucesso projetual".
4.3 Resultados do Estudo 2 - Entrevista
Nos itens a seguir, além de tratar dos resultados da entrevista, ter-se-ão como exemplos os
relatos mais significativos registrados pelos respondentes durante a entrevista.
4.3.1 Maneira de projetar dos profissionais
Os nove respondentes do Estudo 2 revelaram que iniciam a entrevista com o cliente e
abordam praticamente as questões objetivas de projeto, como: (a) qual a necessidade que
entendem possuir para contratar um designer, isto é, qual o problema projetual a ser
resolvido?; (b) atividades que realizam no espaço?; (c) móveis equipamentos e utensílios que
necessitam para realizarem tais atividades?; (d) o que há de manter ou retirar do ambiente
existente? e, (e) às vezes, quais os recursos financeiros que possuem para execução do
projeto? Afirmam que os clientes nunca dizem o quanto podem gastar, talvez pelo receio de
apresentar o quanto possuem para tal fim.
"Se for numa casa, a mulher os filhos, a parte de empregados que trabalham na
casa, na parte de dentro e fora da casa. Se é uma empresa, os departamentos
como eles funcionam; como é a sistemática; qual o fluxo de pessoas que entram e
saem; horário de trabalho. Se é hospitalar, que tipo de clínica que é; que tipo de
hospital que é; que tipo de paciente normalmente frequenta. Se é um consultório
odontológico, o que poderia favorecer para que aquele ambiente não fosse tão
estressante." (Entrevistado 4)
Realizam uma proposta de trabalho e, logo após o seu aceite, realizam o levantamento
métrico do espaço, fotografam, anotam tudo o que diz respeito às questões físicas do
espaço, como: localização das janelas; aberturas de portas; insolação; localização de pilares;
pé direito; localização dos pontos hidráulicos e elétricos; materiais e objetos existentes e
ainda vegetações existentes e declives, no caso daquele que projeta áreas externas e/ou
108
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
paisagismo.
Foi perguntado a esses profissionais se eles realizam, no momento do briefing, questões
diretas sobre a subjetividade do usuário. Há uma unanimidade em afirmar que não
constroem nenhuma questão para abordar esse aspecto, ou pelo menos objetivando esse
aspecto. A maneira que conseguem ter conhecimento sobre os aspectos subjetivos do
usuário é através da percepção. Deixam os clientes falarem muito e procuram perceber suas
respostas: a maneira de falar; a maneira de vestir; a maneira de gesticular; a postura ou até
mesmo o modo de escrever um e-mail:
"Normalmente quando eu começo a perguntar que tipo de planta que eles gostam,
que tipo de coisa que eles gostam, aí é que eu acho que eles passam alguma coisa.
Aí, a gente deve ficar muito atenta." (Entrevistado 2)
"Além dessa questão direta, que é perguntar e a pessoa te responder, a habilidade
em perceber, de ler nas entrelinhas é fundamental (...) isso é vivência, experiência,
ter o senso aguçado de percepção. (...) Você conversa com uma pessoa, o jeito dela
falar, o jeito dela vestir, o jeito de conduzir um e-mail, escrever um e-mail, ela pode
te mostrar que é uma pessoa educada, atenciosa aos detalhes, mais relaxada, mais
informal. Isso pode te dar indício de como projetar para ela." (Entrevistado 3)
"Eu acho que o visual, o jeito da gente vestir, a casa, é muito de você, onde você se
mostra. E aí se a pessoa tiver percepção... E é aí que eu acho que entra a parte de
sensibilidade mesmo, e você vai perceber como ela é, o estilo que ela tem, o que
ela gosta, às vezes ela mesmo não sabe, mas ela já é aquilo." (Entrevistado 8)
A única pergunta que constroem de forma mais direta quanto às questões subjetivas é o que
gostam e não gostam. Restringem a perguntar de que cor gosta ou não gosta, de que estilo
gosta ou não gosta. Alguns procuram apresentar ou encaminhar por e-mail imagens de
ambientes, para que o usuário possa se identificar com o que gosta ou não. Os profissionais
acreditam que esse procedimento auxilia muito na compreensão dos aspectos subjetivos do
usuário, apesar de adotarem esse método sem a consciência de que estão analisando a
subjetividade do sujeito. Além disso, há uma interpretação pessoal e intuitiva por parte do
profissional, que muitas vezes caminha para uma projeção aliada no senso comum.
"As imagens são uma linha demonstrativa da linha do que você vai seguir no
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
109
projeto" (Entrevistado 1)
"Projeto para quarto de bebê: tons pastéis; projeto para um espaço kids: colorido;
projeto para um homem: cinza, branco, preto; projeto para jovens designers
recém- casados: colorido, objetos de design..." (Entrevistado 3)
Os profissionais afirmam que os clientes têm muita dificuldade de expor sua intimidade. Isso
fica muito claro no momento em que lhes solicita abrir um armário do quarto ou mesmo
realizar um levantamento nos armários do banheiro. Por isso, acreditam que o cliente, em
primeiro lugar, deve confiar no profissional e, para se conseguir isso, busca caminhos da
informalidade. Uma das respondentes afirma que depois de indagar tudo sobre as questões
projetuais, ela solicita ao cliente que diga três palavras que possa resumir o que seja o
ambiente a ser trabalhado. Dessa forma a respondente afirma que o cliente "brinca" com as
palavras e ela consegue perceber um pouco mais sobre as questões subjetivas, apesar de
serem interpretadas pela designer de acordo com o repertório pessoal. Às vezes, lançam
algumas perguntas como: estilo de vida; que esporte gostam; o que gostam de fazer nas
horas vagas:
"Acho que essas coisas assim... muito particulares do cliente, eles têm uma certa
dificuldade de falar com a gente. Eu acho que precisam ter um pouco de segurança
com para falar." (Entrevistado 2)
"Se a pessoa já mora em um lugar, acho interessante você ir na casa dela. Porque
dentro da casa dela, (acho que casa é muito isso, é o nosso espelho) você vai vendo
o que ela tem, vai vendo como coloca as coisas, o jeito dela. (...) Ela tem que te
falar como ela recebe, se é muita gente, se recebe alguém, se ela gosta de ler, ou
se não gosta, são coisas que vão te direcionando na formação do projeto"
(Entrevistado 8)
"A maioria tem uma dificuldade enorme de abrir a porta do armário. (...) Banheiro?
As pessoas têm dificuldade de deixar ver. (...) Eu pergunto - estilo de roupa que usa,
a cores que gosta mais, se tem um sonho de expor lembranças pessoais. Você entra
na intimidade da pessoa com esses pequenos detalhes assim." (Entrevistado 9)
Procuram ouvir muito e todas as interpretações são intuitivas e pessoais, isto é, interpretam
pela construção ou repertório que possuem.
110
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
"É nossa função ouvir e interpretar" (Entrevistado 2)
"Precisa saber ouvir - ouvir diferente, entender postura, olhar, estilo de vida."
(Entrevistado 5)
"Eu vou tentando perceber, é muito intuição. Não sei se eu tenho um método...
acho que não. Acho que eu vou pelo que vem na hora, o que ele vai respondendo,
aí eu vou percebendo o estilo de vida, aí eu vou conversando, e cai numa conversa,
conta um caso. Aí começa a perceber um pouco do jeito." (Entrevistado 8)
"E cada dia mais eu aprendo que a gente tem que ouvir muito mais, a cada
momento, às vezes, uma palavra do cliente faz toda a diferença numa entrevista
inicial. (...) Às vezes eu faço essa visita, assim...de forma mais tranquila, para poder
demorar, sentir um pouquinho, se tem animal na casa, se não tem, se briga, se não
briga. Se tem muitos filhos, se tem essa questão de disputar, ver essa concorrência
familiar... tudo isso. É o ouvir em si." (Entrevistado 9)
Após o momento do levantamento, os profissionais partem para a projetação. A maioria não
conceitua o ambiente, ou pela maneira que os designers respondentes dizem: "não
conceituo formalmente". Isso quer dizer que entendem que há uma linguagem a ser
adotada no ambiente, mas não racionalizam essa questão. Não realizam uma análise do
briefing para construir o conceito a partir daquele. Realizam o conceito de forma aleatória
ou intuitiva e, por esse mesmo motivo, torna-se complexo desempenhar as escolhas de
materiais e objetos interligando com a linguagem estabelecida previamente. Param para
pensar, muitas vezes, mas utilizam do bom senso para construírem a tangibilidade do
ambiente. Somente um respondente realiza conceito formalmente. Retira do briefing as
interpretações necessárias; busca o estilo de vida do usuário; utiliza do mapa de percepção;
configura uma inspiração e constrói o conceito. Outra entrevistada comenta que entende
que o conceito realizado formalmente amplia a possibilidade de ambientes com maior
identidade, apesar de ser muito complexo o processo e muito difícil, mas para ela o que
diferencia por completo a decoração do design é essa questão interpretativa, isto é, uma
boa interpretação do briefing objetivando atingir uma linguagem adequada do ambiente:
“Os trabalhos que eu acho mais sensacionais que eu vejo aqui (Escola de Design),
são trabalhos que são absolutamente criativos, que não são cópia, que a pessoa
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
111
consegue incorporar tanto a essência do ponto de vista interpretativo, do que é
uma solução estética e que tem um conceito por detrás e trazer isso para o
espaço... A coisa fica tão mais assim... Uau! Não parece uma cópia do que se tem
feito e são para mim os projetos mais bacanas. (...) Isso não é fácil, é muito difícil!
(...) O que separa a decoração do design é essa questão: interpretativa...
(Entrevistado 3)
Extraindo o profissional que realiza o conceito, os demais partem para a o layout, préprojeto, anteprojeto ou geração de alternativas, considerando primeiramente seu arranjo
funcional e para depois analisarem as questões como forma, cor, textura e material a ser
empregado. Pronunciam que a linguagem do ambiente é atendida de forma mental e
intuitiva, não interligam objetivamente o que perceberam em briefing para uma linguagem a
ser adotada em projeto. A maioria afirma que a materialização da linguagem é realizada de
forma intuitiva. Somente uma respondente utiliza do quadro de diretrizes para tangibilizar o
conceito. Apesar disso, a maioria garante que seus projetos são bem aceitos pelos clientes e
raríssimas são as vezes que usuários manifestaram insatisfação. Diante desse contexto, há
uma hipótese de que os ambientes possivelmente possam estar sendo elaborados de acordo
com o senso comum, no qual agrada um número considerado de pessoas. Após realizarem o
layout, alguns utilizam de croquis ou sketchup para compreensão em terceira dimensão,
outros apresentam primeiro o layout para o cliente, a maioria uma solução, outros
apresentam mais de uma solução para o cliente e após a aprovação, realizam o 3D. Para
esses que buscam em primeira instância a apresentação em layout, justificam essa escolha
pelo fato da preferência de prestar as questões de funcionalidade ao cliente, que são, para
esses respondentes, as mais importantes.
Aprovada pelo cliente a solução, a próxima etapa é o detalhamento ou elaboração para
execução. Alguns proferiram que realizam, após o detalhamento, memorial e orçamentos
para execução. A grande maioria proporciona como opção do cliente o desejo ou
necessidade do acompanhamento da execução do projeto pelo designer, mas afirmam que
um projeto acompanhado pelo profissional obtém resultados muito mais eficientes e
satisfatórios.
Percebe-se que as nomenclaturas utilizadas pelos profissionais entrevistados autônomos e
112
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
não docentes são oriundas da arquitetura, tais como: pré-projeto, anteprojeto, projeto,
detalhamento, diferenciadas das do design, que são: geração de alternativas, solução e
elaboração, mais utilizadas pelos docentes. Deve-se salientar aqui que essas nomenclaturas
são as mais utilizadas nos Cursos de Design e Arquitetura da cidade de Belo Horizonte.
Os profissionais encontram dificuldades e facilidades diversas no ato de projetação, porém
afirmam, por unanimidade, que a interpretação das questões subjetivas do usuário é difícil e
as questões são todas analisadas de forma intuitiva, pela experiência ou pelo bom senso.
Não procuram nenhuma informação na psicologia, ou na teoria do design, por exemplo, para
sustentar suas escolhas ou decisões projetuais. Dizem também, em uma certa constância de
respostas, que um profissional designer é muitas vezes psicólogo e que por isso um estudo
nessa área é de primordial relevância para melhores interpretações do subjetivo do usuário.
Sugerem, por exemplo, a inserção de maior carga horária desse conhecimento nas escolas
que formam o designer de ambientes e interiores:
"Eu sempre falei que fazer um projeto é quase que uma terapia. Você tem que
descobrir isso (questões subjetivas) sem que o cliente perceba... não é sem que ele
perceba... você precisa abordar o cliente, de uma tal forma, que ele confie em você
e vai soltando aos poucos as informações". (...) Vai descobrindo de uma forma
sutil, vai observando." (Entrevistado 4)
"Vou escrever um livro de psicologia do cliente na obra. Difícil um não estressar...
Obra mexe muito com as pessoas. Você entra muito dentro, bagunça para poder
ficar legal, você desarruma, você desestrutura uma estrutura que ele já tem ali
montada, mesmo que não seja a ideal para ele, você desestrutura aquilo para ficar
bacana, isso gera conflito. (...) Eu sinto falta de um estudo sobre isso na nossa
profissão. Isso é muito claro para mim, como que você mexe com a pessoa. Como
você desestrutura mexendo com a casa, mexendo com o dinheiro dela, são coisas
que a gente mexe que é muito pessoal." (Entrevistado 8)
De acordo com o tempo de profissionalização, eles avaliam que houve algumas alterações na
sua maneira de projetar. Os de formação mais antiga afirmam que o processo de trabalho no
momento que formaram era muito mais artesanal, mais artístico e menos metodológico que
na atualidade. As questões técnicas, como funcionalidade, também eram muito mais
aplicadas em projeto como mais importantes e comentam que a causa dessa forma
funcional de projetar vem de uma formação por docentes arquitetos:
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
113
"O layout eu faço primeiro sem pensar muito em cor, não penso muito nisso. Eu
vou no layout. O que eu foco muito é a funcionalidade, se é funcional. Para mim
tem que funcionar. Não pode ter aquele móvel que vai ficar no meio do caminho,
não pode ter um móvel que vai tampar a visão de não sei quê, de costa para a
televisão... (...) Primeiro o funcional, depois a beleza ou a estética." (Entrevistado 8)
Hoje percebem bem mais as necessidades subjetivas, mas são unânimes em dizer que são
questões que sabem da existência, mas não sabem lidar muito bem com elas. Uma das
respondentes acrescenta que antes o espaço era projetado considerando espaço-objeto,
hoje ela percebe a projeção espaço-humano:
"Hoje eu estabeleço maior relação com o indivíduo. A maneira com que eu aprendi
a projetar não tinha relação com o indivíduo, era com os objetos. Você vai colocar
poltrona, com sofá, com mesinha, porque essa solução funciona. Hoje não, se vai
ter uma cadeira, uma mesa e uma poltrona é porque o indivíduo precisa daquilo, e
não simplesmente porque é o que cabe ali dentro. Uma questão para a gente
pensar: o arquiteto pensa na relação dos objetos e não da relação das pessoas com
os objetos". (Entrevistado 5)
As questões tecnológicas são também um diferencial na atualidade: os programas como
autoCAD e sketchup são de muita utilidade no processo de representação técnica e facilita
de forma considerável na eficiência projetual. Além disso, o domínio da internet auxilia
relevantemente na busca de informações, tais como: consulta; escolha e especificação de
materiais a serem aplicados nos ambientes; além de também ajudar na percepção desses
mesmos materiais nos espaços, através das imagens expostas nos links, sites e outros.
Felizmente todos conseguem afirmar que obtiveram, pelo desenrolar do tempo de trabalho,
maior capacidade de ouvir, entender e interpretar o usuário. Afirmam que tem sido uma
conquista adquirida pelo ato de projetar, pela constância e pela observação. A maneira de
construir o briefing também ganhou maiores detalhes e menor superficialidade, com isso
maior eficiência nas perguntas a serem elaboradas e também melhores interpretações das
repostas.
A lógica para compor os ambientes é variada: para alguns o primeiro passo é a escolha dos
materiais, no sentido de composição; para outro é estabelecer repertório e repetir padrões;
para um terceiro é estabelecer link entre briefing, conceito e geração de alternativas e para
114
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
a maioria, o primeiro passo é projetar a função e depois pensar na estética, harmonia, cor,
iluminação, formas, desejos e herança, no sentido afetivo que o cliente traz.
"Primeiro penso de forma funcional, depois volto para a linguagem do ambiente:
cores, formas e texturas". (Entrevistado 6)
"Primeiro funcionalidade e forma - mas na visão funcional. Depois estética,
harmonia, cor, iluminação e formas”. (Entrevistado 8)
"Primeiro funcionalidade, custo e segurança, em segundo, o desejo do cliente
realizado e em terceiro o respeito pela herança que o cliente traz." (Entrevistado 9)
4.3.2 Como consideram os aspectos subjetivos em projeto
Foi questionada qual a importância dos aspectos objetivos e subjetivos em projeto e qual
deles os entrevistados consideram o mais importante. Por unanimidade, os respondentes
consideram os dois aspectos de muita importância na prática de projetos, além de
entenderem que um bom projeto é aquele que possui os dois aspectos em igualdade.
Apesar disso, compreendem também que possuem projetos onde algumas questões
objetivas podem ser de maior relevância, como em um hospital, por exemplo e, em outros
projetos, as questões subjetivas podem ser mais apreciadas. Outros respondentes, apesar de
acharem que todos os dois aspectos são de igual importância em projeto, acabam por
compreender que os subjetivos são a "alma" do projeto e é a parte mais difícil de um
profissional entender:
"A solução de projeto só fica completa se tiver os dois lados. Não tem jeito de
chapar tudo no objetivo, no racional, digamos assim, porque muita solução de
projeto é percebida, não é vista. Eu falo isso muito para o cliente: a iluminação não
é vista, você não precisa ver a luz, você precisa perceber a sensação que a
iluminação te dá." (Entrevistado 1)
"Eu não sei falar qual é o mais importante, depende da demanda. Tem demanda
que vai precisar ficar mais atento a parte, que você está falando, que é a objetiva e
tem demanda que tem que ficar mais atento a parte que é subjetiva."
(Entrevistado 3)
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
115
"Nossa senhora! Isso aí (o subjetivo) é a "alma" do projeto. É daí que vai nascer o
projeto, não adianta nada das outras coisas, se não tiver bem entendido isso. É o
ponto de partida do projeto (...) Aí é o mais importante, talvez isso seja o mais
difícil para o profissional entender." (Entrevistado 4)
"O corpo é a funcionalidade, a alma é o sopro. Não adianta ter o corpo sozinho."
(Entrevistado 5)
Foi indagado sobre a complexidade dos aspectos subjetivos em projeto. Se os entrevistados
entendem serem muito difíceis de compreender ou de serem interpretados. A maioria
respondeu que sim, muito, extremamente complexo. Um respondente disse que não é
complexo, mas possui um "sexto sentido" muito bom, por esse motivo consegue realizar as
interpretações com certa facilidade. E outro ainda disse que não é complexo, mas complexo
é analisar a parte subjetiva, ler nas entrelinhas, pois analisa o subjetivo pela intuição ou pelo
bom senso. Interessante foi a resposta de dois entrevistados que apesar de afirmarem que o
subjetivo é complexo, ao mesmo tempo entendem como uma questão curiosa e
desafiadora. Buscar essa questão subjetiva passa a ser uma forma de se encontrar com o
outro e isso passa a ser ponto de estímulo e felicidade para o designer:
"Não, não acho que é muito complexo o subjetivo, complexo é analisar a parte
subjetiva, porque a gente analisa de forma intuitiva, a gente não tem um respaldo,
um estudo, um preparo para poder estar projetando, para poder estar analisando
a parte subjetiva". (Entrevistado 1)
"Fora de brincadeira...o subjetivo agora fica como uma interrogação muito grande
na minha cabeça. Como profissional que já trabalhei tantos anos e que tive uma
formação onde nem se falava em aspectos intangíveis." (Entrevistado 4)
"Não é fácil. Você entender o subjetivo não é nada fácil - vem uma relação toda por
trás. É uma história de vida. (...) Acho que o mais legal do design é esse estímulo à
curiosidade. É você encontrar com outro, você perguntar, você ver expressão...
Para mim é o mais legal. Engraçado... Isso me faz feliz." (Entrevistado 3)
"Eu acho muito difícil, muito. Até mesmo porque o ser humano é uma pessoa
complexa. Ele muda de opinião... E expressar isso com elementos no espaço, é
dificílimo. Por isso é tão fácil errar! (Entrevistado 6)
116
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
"Muito complexo, enxergar o outro e materializar. É muito difícil. Tem que
conversar, interpretar. Tem que prestar muita atenção." (Entrevistado 7)
Compreendendo que a subjetividade é necessária, mas ao mesmo tempo complexa, quais as
ferramentas que os designers possuem para interpretar a subjetividade? A maioria
respondeu observação, intuição, bom senso. Além disso, as questões que abordam para
entender o subjetivo são as do dia-a-dia da vida do cliente; as questões íntimas do usuário;
perceber o ambiente onde o usuário reside. Para interpretar, há necessidade de conteúdo e
estudo por parte do designer, além de muita sensibilidade, abertura ao entendimento das
coisas e conhecimento cultural:
"A interpretação é a ’alma‘ do projeto. (...) A interpretação depende de conteúdo,
de estudo. (...) Por que não essa cor ou aquela? São aspectos que são mais difíceis
de serem interpretados e eu acredito que as pessoas mais sensíveis, que tenham
uma bagagem de conhecimento cultural mesmo, abertas para entender,
conseguem fazer melhor." (Entrevistado 3)
Os aspectos subjetivos interferem na linguagem intangível e comprometem no bem-estar do
usuário? Foi uma questão aberta aos entrevistados que responderam em maioria e com
muita ênfase que interferem e comprometem demais. Talvez pelo fato do subjetivo falar
mais do sujeito que as questões objetivas. É o que personaliza o projeto. É a "alma" do
projeto. Diferente de um ambiente bonito, esteticamente agradável, as questões subjetivas
vão muito além disso. Importante a consideração de um entrevistado que alerta para o
profissional, que precisa estar receptivo ao enxergar o outro como ele é, sendo que essa
troca precisa ficar aberta, para que o ambiente seja realmente a identidade do usuário.
"Talvez muita gente não dê o valor que isso tem, talvez porque não entenda essas
palavras complicadas como: intangível, tangível, subjetivo..." (Entrevistado 4)
"Nós profissionais precisamos estar receptivos em enxergarmos o outro da maneira
que o outro é. Porque, também, se a gente cria uma imagem do outro assim ou
assado, não enxerga o outro como realmente ele é... (...) A troca, que é importante,
tem que ficar aberta." (Entrevistado 5)
"Sem esses aspectos o projeto fica bonito, mas uma vitrine de loja, sem alma. Eu
acho que é o que personaliza o projeto. (...) O cliente entra na casa e diz: essa é a
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
117
minha casa e o amigo entra na casa e diz: essa casa é a sua cara. Isso é muito
bacana! Agora, essa casa é bonita, é linda... É diferente... É uma loja... (...) Tem
cliente que vai querer a "casa vitrine" e que vai ser a cara dele! (Entrevistado 8)
4.3.3 Como realizam as escolhas de materiais e objetos
O resultado aqui avaliado é que os profissionais designers de ambientes, apesar de
considerarem os aspectos subjetivos em projeto como relevantes e ainda compreenderem
que o ambiente é um arranjo de materiais e objetos, não optam por tal ou qual objeto ou
material pela leitura subjetiva. Tendem a olhar pelos dois lados, porém alguns constroem os
ambientes pela composição, isso é, se tal material compõe bem com o outro material para
que haja equilíbrio. Por exemplo: se possui muita madeira no ambiente há necessidade de
equilibrar com o aço ou vidro. Se há necessidade de madeira para adquirir melhor
composição, precisa-se encontrar um lugar para a madeira, mas não pelo fato de que o
cliente gosta da madeira, mas pelo fato de uma composição mais adequada. Percebe-se que
o designer faz essas escolhas buscando o melhor, porém as escolhas acabam não sendo
realizadas de forma racional ou coerente, que tenha sentido com o que foi delineado
anteriormente no briefing ou até mesmo no conceito.
“Eu olho os dois lados. (...) Na hora que eu monto uma composição, eu monto uma
imagem, eu tento colocar o que é de melhor solução para aquele espaço. O cliente
fala: Ah! Eu não queria o tampo de madeira porque vai dar tanto trabalho para
manutenção! Falo: mas... Olha aqui, mas a composição com a madeira, juntando o
todo, vai dar uma solução mais interessante, vai ter uma sensação melhor, vai ter
um resultado mais satisfatório (...) Se não tem outro lugar para colocar a madeira,
e é o tampo da mesa, tem que ser o tampo da mesa. (...) Preciso estar juntando
materiais para fazer uma composição e preciso determinar o lugar desses
materiais." (Entrevistado 1)
Às vezes, também, escolhem os materiais pelas questões objetivas como insolação e
funcionalidade, por exemplo. Se o ambiente está muito escuro pela falta de luz ou possui
pouca dimensão, há uma necessidade de escolher materiais claros. O custo também é uma
questão de escolha dos materiais, se for oneroso o material não será empregado no
ambiente. Outros respondentes correlacionam função e desejo, mas utilizam do bom senso
118
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
para tangibilizar a linguagem nos materiais e objetos.
A busca de imagens na internet, em blogs, revistas especializadas, exposições, mostras,
transmite uma possível ideia que há uma necessidade de realizar projetos pelo que está
disposto na mídia ou tendência de mercado. Depois de percebido o que está disposto pela
moda, aí sim, passa a ser "encaixado" ao que o usuário necessita e depois pelo que deseja.
Somente uma respondente utiliza da metodologia - quadro de diretrizes, procurando realizar
uma concordância do que foi ouvido e interpretado no briefing, depois pelo conceito e uma
leitura subjetiva dos materiais e objetos empregados. Portanto, ainda assim enfrenta muita
dificuldade e frustração quando projeta e não consegue comprar nas lojas o que planejou,
necessitando trocar por aquilo que as lojas possuem. Isso passa a ser um desafio para o
designer.
"Isso algumas vezes causa frustração, você projeta alguma coisa e aí você vai na
loja e não acha aquilo de jeito nenhum... no tecido, numa cor... Ah! Aquilo não é
"moda"! (...) A gente vai na loja e não compra o que deseja, compra o que tem."
(Entrevistado 5)
A impressão que passa pela maioria das respostas da entrevista é que todo o trabalho de
entender o cliente, seus desejos, seus sonhos, suas necessidades fica um pouco para trás na
hora da escolha dos materiais e objetos. Alguns itens são pinçados, outros são resolvidos
pelas questões da moda, mercado ou composição estética adequada.
4.3.4 Importância de um método que inclua os aspectos subjetivos
Entendendo que as questões subjetivas são relevantes em projeto, interferem no bem-estar
do usuário e são a "alma do projeto", foi indagado aos profissionais se a subjetividade deve
ser fundamentada para ser aplicada em projeto de forma mais eficiente. Foram muito
interessantes as respostas, pelo fato de os entrevistados brilharem os olhos ao responderem
com muita ênfase. Responderam, sem exceção, que claro que sim, sem dúvida. As questões
subjetivas, como estima, cultura, desejos e emoção, por exemplo, são analisadas pelo bom
senso e, fundamentadas, ajudariam em não ser tão intuitivo o processo. Ajudaria a
compreender melhor o usuário, deixaria o designer menos agoniado e por fim equivocar-se-
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
119
ia menos na prática de projeto. Não existe muita literatura sobre o assunto na área do
design de ambientes e interiores, improvisando as análises subjetivas de forma intuitiva.
Além disso, entendem que auxiliaria no ensino, para que os formandos produzissem melhor
e amadurecessem bem antes que muitos anos de profissão, aprendendo pelo "amor", isto é,
pelo que pode ser estudado e fundamentado ao invés de aprender, muitas vezes, com a
prática da profissão, através do "erra e corrige", isto é, pela "dor". Poderiam compreender
melhor a justificativa de um projeto estar adequado ou não, quando avaliados pelos
professores. Isso também se dá para os docentes que poderiam orientar, avaliar melhor e
até mesmo teriam segurança no que estariam ensinando. Porém, um dos entrevistados
salienta que deveria ser um método abordado de forma prática e fácil de ser entendido.
"Hoje os alunos estão muito individualistas... Se você não consegue mostrar isso...
(questões subjetivas) fundamentada em alguma coisa, eles acham que a gente
está contra eles. (...) Tem professores que também precisam disso para que eles
tenham segurança." (Entrevistado 2)
"Enquanto não se tem total domínio sobre isso, não precisa ter total, mas um
conhecimento aprofundado, domínio maior do conteúdo, fica difícil várias coisas:
orientar, avaliar, produzir..." (Entrevistado 3)
"Precisa ser de forma prática - não em discurso acadêmico. Fazer isso de forma
fácil. (Entrevistado 4)
"É muito difícil isso. Se a gente tivesse uma forma de entender... Ia ser bem mais
fácil. A gente sofre muito nessa parte, eu acho. É a parte do projeto que mais
complica: e agora, que é ele mesmo? Será que é isso que ele quer? Será que isso
representa tudo...? É o que dá mais agonia mesmo! (...) Se você acerta isso, se você
entende isso muito bem, você não erra no projeto. (Entrevistado 6)
"Tem muito pouco sobre isso. Acho que na nossa área tem muito pouca literatura,
não tem aonde você buscar, é tudo muito intuitivo." (Entrevistado 8)
“Eu acho que vai facilitar e vai gerar um amadurecimento precoce para quem está
formando, que a gente não teve. (...) Ou pelo menos vai dar a direção para que eles
entendam. (...) Eles vão aprender pelo amor, a gente aprendeu pela dor."
(Entrevistado 9)
120
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
Capítulo 5
CONCLUSÕES
______________________________________
5.1 ATENDIMENTO AOS OBJETIVOS GERAL E ESPECÍFICOS
5.2 COMENTÁRIO FINAIS
5.3. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
121
Capítulo 5
CONCLUSÕES
______________________________________
N
este capítulo são apresentadas as considerações finais da pesquisa, contemplando o
atendimento aos objetivos gerais e específicos e aos questionamentos propostos
inicialmente. Incluem-se ainda comentários finais e sugestões para pesquisas futuras.
5.1 Atendimento aos objetivos geral e específicos
O cumprimento do objetivo geral está diretamente associado à realização da pesquisa como
um todo, envolvendo a fundamentação teórica e as análises dos estudos realizados com os
profissionais participantes:
Investigar e entender como os designers de ambientes projetam,
como abordam os aspectos subjetivos na escolha dos materiais e objetos.
O resultado geral do estudo demonstrou que os designers de ambientes necessitam lidar
melhor com os aspectos subjetivos em projetos, apesar de reconhecê-los como relevantes
em suas práticas projetuais. Além disso, há necessidade iminente de maior fundamentação
sobre essa temática para que não só ambientes possam ser projetados com maior
fundamentação e eficiência, mas também para que os egressos possam iniciar a profissão
com maior segurança e qualidade de trabalho.
Conclui-se, portanto, que a proposição geral do presente trabalho foi atendida em sua
totalidade, mediante a consecução dos quatro objetivos específicos estabelecidos, a saber:
1. Verificar com os profissionais qual a metodologia que utilizam para projetar
ambientes e se os aspectos subjetivos são considerados;
122
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
2. Discernir a relevância dos aspectos subjetivos e como lidam com esses aspectos em
projeto;
3. Averiguar como realizam as escolhas dos materiais e objetos;
4. Saber da importância de um método que incorpore os aspectos subjetivos em
projeto.
A conclusão desses objetivos será apresentada a seguir, de acordo com a compilação dos
resultados obtidos do questionário e entrevista:
OBJETIVO 1
VERIFICAR COM OS PROFISSIONAIS QUAL A METODOLOGIA QUE UTILIZAM E SE OS
ASPECTOS SUBJETIVOS SÃO CONSIDERADOS
PARA PROJETAR AMBIENTES
O resultado geral desse objetivo demonstrou que os designers de ambientes e interiores
possuem um método que não atende plenamente aos aspectos subjetivos dentro de sua
estrutura lógica de trabalho.
A maneira de projetar do designer de ambientes e interiores é iniciada por entrevista com o
cliente para compreender as necessidades do trabalho, problema projetual e questões sobre
os aspectos físicos do espaço. No briefing abordam perguntas sobre os aspectos objetivos e
não há uma busca direta das questões subjetivas do usuário.
Não conceituam racionalmente, isto é, não adotam um método formal na correlação do que
foi respondido no briefing para chegarem a uma linguagem conceitual. Projetam o espaço
baseados em uma linguagem adquirida inconscientemente. Apesar de existir teoricamente
maneira objetiva e eficiente para a construção de conceito, os profissionais entendem como
muito difíceis a compilação e a interpretação do que foi dito no briefing e transformá-las em
linguagem a ser adotada.
A questão que permeia é que se não há correlação com as necessidades do usuário de forma
raciocinada, fica em aberto se esses profissionais não acabam por serem influenciados pelas
questões de mercado, estética, moda, composição ou mesmo pelo gosto pessoal na
construção da linguagem de um ambiente. Além disso, esses espaços podem tornar-se
iguais. Se não houver conexão do sujeito com a linguagem, há grandes possibilidades de se
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
123
arranjar ambientes que não estejam de acordo com a identidade do usuário, não
promovendo, portanto, bem-estar e qualidade de vida.
Quanto ao processo de geração de alternativas, faz-se de forma a considerar em maior
proporção os aspectos objetivos, como: funcionalidade, qualidade e segurança. A lógica para
a construção do arranjo dos ambientes é pela funcionalidade em primeira dimensão, para
depois discorrer as subjetivas como: cores, texturas, formas, estima e desejos do usuário.
O autoCAD e sketchup são as ferramentas mais utilizadas na representação técnica dos
ambientes e de muita relevância na eficiência projetual, principalmente para aqueles de
formação mais antiga que vivenciaram representações de forma manual. A internet também
muito contribui para o trabalho desses profissionais: na busca de informações técnicas de
materiais; de imagens de ambientes e na pesquisa sobre conhecimento da área. Isso
expande a possibilidade de ambientes mais adequados em relação aos anos anteriores onde
essas questões eram realizadas somente por periódicos ou livros nas bibliotecas, ampliando
o tempo de pesquisa.
A solução projetual é garantida por uma apresentação do projeto ao cliente, onde ocorre
discussão e alinhamentos. Depois se passa para a elaboração e execução do projeto.
Na execução do projeto, os profissionais deixam como opção o acompanhamento ou não,
mas entendem que um projeto a ser executado pelo designer que o concebeu fornece maior
eficiência e autenticidade.
O designer de ambientes e interiores na atualidade possui mais método para o trabalho,
mais formalidade que antes, onde o trabalho era mais artístico e artesanal. As questões de
funcionalidade e técnica eram também muito mais consideradas que hoje, onde há mais
consciência das questões íntimas do usuário. Entretanto, ainda há muita dificuldade,
frustração nas questões subjetivas pelo fato de não existir fundamentação teórica para isso,
concebendo, dessa forma, ambientes por leituras e escolhas através da intuição ou pelo
bom senso. Por fim, o saber ouvir o usuário é um dos pontos que mais interfere na
projetação de ambientes significativos.
124
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
OBJETIVO 2
DISCERNIR A RELEVÂNCIA DOS ASPECTOS SUBJETIVOS E
COMO ABORDAM ESSES ASPECTOS EM PROJETO
O resultado ao segundo objetivo demonstrou que os designers de ambientes e interiores
consideram muito relevantes as questões subjetivas, porém não sabem lidar com esses
aspectos em projeto. São eles que dão personalidade aos espaços, enfim são a "alma" do
projeto. O usuário é considerado como centro desse universo, porém a solução de
problemas projetuais é resolvida pelos aspectos objetivos. A objetividade é considerada a
mais importante em projeto, aliás, é a realidade projetual do designer de ambientes na
atualidade, pelo fato de possuírem possibilidade de quantificação. A funcionalidade é o
aspecto mais atendido. A subjetividade em projeto é difícil de ser medida, analisada e
interpretada, por isso muito complexa. Além disso, não há arsenal teórico sobre essa
temática para a prática projetual de ambientes, impossibilitando o profissional de lidar
melhor com essas questões. Pela complexidade e pela falta de fundamentação teórica, os
aspectos subjetivos são aplicados em projeto por decisões intuitivas ou pelo bom senso.
O designer de ambientes avalia o usuário nas questões subjetivas pela percepção: utiliza do
sentido auditivo - pelo jeito de falar do cliente e do sentido visual - para compreender os
gestos, a forma de vestir ou o arranjo do ambiente onde mora esse usuário. Busca a
informalidade como incentivo para o usuário falar ou mostrar mais sobre si. São maneiras
que os profissionais encontram para melhor entender e analisar o sujeito, sendo as
respostas traduzidas pelo repertório e visão de mundo construída pelo designer ao longo da
sua prática projetual. Deve-se considerar aqui que, se o profissional não possuir cultura,
capacidade de ouvir, ver ou perceber informações nas entrelinhas e, principalmente, anos na
experiência profissional, o resultado do arranjo do ambiente pode não ser significativo para
o usuário.
OBJETIVO 3
AVERIGUAR COMO REALIZAM AS ESCOLHAS DOS MATERIAIS E OBJETOS
O resultado ao terceiro objetivo aqui encontrado demonstrou que os designers de
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
125
ambientes e interiores escolhem materiais e objetos pelos aspectos objetivos.
Apesar de considerarem os aspectos subjetivos em projeto como relevantes, os profissionais
de ambientes não escolhem materiais e objetos pela leitura subjetiva desses. Como não
conseguem compilar e interpretar plenamente o que foi trazido pelo briefing, não há uma
linguagem adequada para o ambiente e por fim não consegue tangibilizar a linguagem em
materiais e objetos. Os profissionais, após realizarem o briefing, passam diretamente para a
geração de alternativas e entendem como princípio o arranjo funcional: onde colocar tal
poltrona, qual forma da mesa é a mais funcional para o espaço. Não se preocupam
inicialmente onde inserir tal móvel do sonho do cliente, ou se a forma da mesa de jantar é
quadrada pelo fato do usuário possuir características mais formais. O custo do material
também é considerado nessas escolhas, além da segurança e qualidade. Imagens de
ambientes já projetados são uma fonte para a escolha de materiais e objetos e a consulta
nas lojas especializadas é o maior fator de escolha. O que aqui pode ser considerado é que
se as escolhas estão baseadas em imagens pré-estabelecidas e nas lojas especializadas; os
ambientes tendem a ser iguais por estarem sendo planejados de acordo com as tendências
de mercado ou da moda. Podem com isso perder a identidade do usuário, permanecendo no
senso comum, perdendo a possibilidade de serem construídos de forma criativa e inovadora.
Além disso, ficou claro que os aspectos subjetivos são a personalidade do projeto, e os
ambientes não estão sendo construídos através de decisões adequadas para tal fim.
OBJETIVO 4
SABER DA IMPORTÂNCIA DE UM MÉTODO QUE INCORPORE OS
ASPECTOS SUBJETIVOS EM PROJETO
O estudo mostrou que desenvolver um método que leve em conta os aspectos subjetivos é
considerado relevante pelos profissionais de ambientes.
Diante da complexidade da atualidade; busca por ambientes de maior identidade; percepção
dos profissionais para tal realidade; complexidade que é a percepção e interpretação dos
aspectos subjetivos pelos designers e da falta de arsenal teórico para tal fim, existe uma
necessidade clara de se criar um método que auxilie nas decisões projetuais quanto aos
126
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
aspectos subjetivos. Profissionais afirmam que gostariam de experimentar um método que
os auxilie nas escolhas intangíveis de projeto e acrescentam que esse método seria de
relevância também para os discentes, na medida em que poderiam adquirir uma formação
de maior fundamentação, adquirindo com isso maior consciência do valor das questões
subjetivas em projeto de ambientes.
5.2 Comentários finais
O maior desafio para o Design de Ambientes na atualidade é fazer com que ambientes sejam
projetados de forma a considerar os aspectos de significação, visando espaços de maior
identidade. Apesar do reconhecimento desses aspectos em ambientes projetados, ainda na
prática estão sendo esboçados primordialmente pelo olhar da função.
Para vários estudiosos como MALARD (2001); SCHMID (2012); CAVALCANTE E NÓBREGA
(2011), BACHELARD (1958), TUAN (2013) e FISCHER (1994), o ambiente construído é dotado
de significado a partir do momento que é organizado por materiais e objetos atribuídos de
sentido. Porém, de acordo com a pesquisa realizada, a realidade ainda é que ambientes
estão sendo projetados prioritariamente por uma abordagem objetiva, tais como
funcionalidade e segurança. Essa abordagem é importante, contudo se estiver entrelaçada
com a abordagem subjetiva poderá enriquecer na significação de ambientes, oportunizando
modificar uma estrutura cultural dominante - a do senso comum. Possibilitará projetos
inovadores, na medida em que poderá enfatizar as questões intangíveis do usuário, como:
sua história, sua visão de mundo, seus afetos, suas emoções, seus sonhos. Além disso, para
ampliar a probabilidade de ambientes com maior sustentabilidade, se faz necessário
projetar espaços de maior identidade, pelo fato de que, com maior identidade, há maior
sensação de pertencimento e, por fim, menores possibilidades de consumo e/ou de
descarte. Portanto, espaços sustentáveis carecem também do entendimento das questões
subjetivas do ser.
Poderíamos compreender que um profissional de ambientes inovador e sustentável será
aquele que souber projetar ambientes considerando as experiências que os usuários
gostariam de ter, interpretar essas experiências, com o intuito de alterar significados,
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
127
portanto gerar novos resultados. Então, se os projetos atualmente estão sendo alicerçados,
em sua maior parte, pelas questões da função, além de estarem diante de pouca
possibilidade de atender plenamente ao usuário, os designers estão perdendo a
oportunidade estratégica de investir na criação de ambientes inovadores e sustentáveis, isto
é, ambientes com novos conceitos e principalmente que atendam ao princípio de que
ambientes também são dotados de valores de estima, de desejos e de símbolos.
Essa abordagem irá exigir muito mais dos designers de ambientes nas interpretações do
intangível, incluindo uma visão sistêmica para esse processo. Seria valoroso, talvez, propor
no briefing questões direcionadas às emoções, desejos e experiências do usuário,
objetivando perceber melhor quem é esse homem que irá usufruir desse espaço, cultural,
social e psicologicamente falando.
Nesse sentido, reforça-se a importância de trazer para o ensino uma análise crítica do que
seja a projetação de ambientes nos seus aspectos intangíveis. Como a análise realizada, os
questionários e entrevistas também procederam das respostas dos docentes, percebe-se a
necessidade reflexiva desses profissionais que ensinam projetação de ambientes, que estão
priorizando questões tangíveis em projeto, entendendo que as intangíveis são também de
igual importância.
O tesouro da humanidade é a diversidade, é preservar o diferente e construir identidade. O
equilíbrio está no respeito ao diferente, no desconforto, para que possamos buscar e utilizar
de autocrítica constante e conquistar o verdadeiro progresso da humanidade. A mudança
precisa começar por nós mesmos, dentro de nossos valores mais profundos. Trabalhar mais
pela qualidade, não só pela quantidade; pelas questões também subjetivas, não tanto pelas
objetivas. Posicionar-se; saber fazer escolhas; tomar decisões mais qualitativas. Esse é o
conceito de bem-estar que precisaremos fortalecer para tornarmos profissionais mais
conscientes de nossa função social que é projetar ambientes para qualidade de vida dos
usuários.
Para finalizar, gostaria de voltar aos dizeres de uma entrevistada, em uma fala carregada de
muito valor para os designers e para esta dissertação. Ela disse que buscar e interpretar os
aspectos subjetivos do ser é algo muito difícil, mas esse desafio é estímulo para o designer,
estímulo à curiosidade, estímulo para ser criativo, estímulo para conhecer o outro, sua
128
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
expressão, sua história, sua visão de mundo. Isso deveria deixar, não só ela, mas todos os
designers, extremamente felizes.
"Não é fácil. Você entender o subjetivo não é nada fácil - vem uma relação toda por
trás. É uma história de vida. (...) Acho que o mais legal do design é esse estímulo à
curiosidade. É você encontrar com outro, você perguntar, você ver expressão...
Para mim é o mais legal. Engraçado... Isso me faz feliz." (Entrevistado 3)
5.3. Sugestões para pesquisas futuras
Durante toda a pesquisa observou-se que outras questões podem ser trabalhadas e por isso
o tema não esgota por aqui. Recomenda-se:
Construção de método para a prática projetual do design de ambientes,
considerando as questões subjetivas. Qual a leitura subjetiva dos materiais,
objetivando melhores escolhas no emprego de ambientes. Um método que seja fácil
e que possa ser aplicado principalmente com os discentes e depois alargando a
possibilidade para os profissionais da área já formados.
Estudo focado nas questões diretas que poderiam ser abordadas no briefing, para
melhor identificação dos aspectos subjetivos do usuário. Questões fáceis direcionadas às emoções, desejos e experiências do usuário, porém eficazes que
poderiam nortear melhor quem é esse usuário ou consumidor.
Pesquisa na área do design e psicologia ou psicanálise. A inter-relação dessas duas
áreas
do
conhecimento
são
extremamente
cogitadas
pelos
profissionais
entrevistados e são relevantes para melhores interpretações das percepções dos
profissionais. Temas como interpretação das percepções visuais ou auditivas; como
lidar com o cliente na construção de ambientes nos desafios dos conflitos de obra;
quais os significados do ambiente na qualidade de vida do usuário.
Rever os métodos de ensino do design de ambientes incluindo disciplinas da
psicologia e psicologia ambiental buscando questões mais subjetivas: saber ouvir,
investigar, entender, decifrar e interpretar o usuário.
Estudar uma nova forma de projeto que saia do controle do seu criador - o designer:
Simone Maria Brandão Marques de Abreu
129
ampliar o olhar para a co-criação - designer + usuário/cliente - uma forma inovadora
que, se bem conduzida, poderá elevar as possibilidades de ambientes de maior
identidade, isto é, adequados às questões intangíveis do usuário.
130
Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no processo projetual
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Simone Maria Brandão Marques de Abreu
135
APÊNDICES
______________________________________
APÊNDICE A
ESCLARECIMENTOS PARA O QUESTIONÁRIO
APÊNDICE B
QUESTIONÁRIO AOS PROFISSIONAIS DO DESIGN DE AMBIENTES
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
APÊNDICE D
ENTREVISTA AOS ESPECIALISTAS
IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE
PROF ________ DATA ___/___/________
APÊNDICE A
ESCLARECIMENTOS PARA O QUESTIONÁRIO
Você está sendo convidado para participar, como voluntário, em uma pesquisa.
Título do trabalho: Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no
processo projetual
Mestrando responsável: Simone Maria Brandão Marques de Abreu
Orientador: Maria Regina Álvares Correia Dias, Dra.
Técnica de pesquisa: QUESTIONÁRIO AOS PROFISSIONAIS DO DESIGN DE AMBIENTES
Objetivo e esclarecimentos da pesquisa
Esse estudo tem como objetivo elaborar um método que possa auxiliar no ensino e na prática
projetual do design de ambientes com o propósito de fundamentar a transposição de atributos
conceituais intangíveis na seleção dos materiais e objetos no ambiente projetado.
Busca-se, com as respostas desse questionário entender quais os métodos utilizados para projetar
ambientes; qual a maior relevância ao projetar espaços - aspectos objetivos ou subjetivos; onde os
designers buscam informações para escolha dos materiais e objetos.
As informações coletadas serão utilizadas para compor parte das análises de estudo.
Esta pesquisa é individual e todas as suas respostas serão mantidas em confidencialidade.
Em relação às opiniões e informações declaradas durante esse questionário, todas as citações
aparecerão da seguinte forma: “Profissional 1, 2, e daí por diante”.
Agradecemos antecipadamente por seu tempo e interesse.
IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE
PROF ________ DATA ___/___/________
APÊNDICE B
QUESTIONÁRIO AOS PROFISSIONAIS DO DESIGN DE AMBIENTES
Esse questionário deve ser respondido de uma só vez e estima-se que sejam necessários
aproximadamente 10 minutos para completá-la.
Por favor, responda a TODAS as perguntas. Se estiver inseguro quanto a uma questão, não deixe a
pergunta sem resposta – selecione a opção que mais se aproxime de sua situação.
1. Sexo: Feminino 
Masculino  Outro 
2. Qual sua idade? (selecione sua faixa etária)
18 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50 anos
51 a 60 anos
mais de 60 anos
3. Qual seu grau de instrução?
Superior incompleto
Superior completo
Especialização
Mestrando
Mestrado
Doutorando
Doutorado
Outro _____________________________________________________________________
4. Há quanto tempo você atua profissionalmente na área? ____________________________
5. Qual o número aproximado de ambientes que já projetou?
_____________________________________________________________________________
6. Das sequências abaixo, qual a que mais se aproxima da metodologia adotada por você nos
projetos de Design de Ambiente?
problema/briefing/anteprojeto/projeto/detalhamento
problema/briefing/geração de alternativas/solução/elaboração
briefing/conceito/anteprojeto/projeto/detalhamento
problema/briefing/conceito/geração de alternativas/solução/elaboração
anteprojeto/projeto/detalhamento
outro _____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7. Ao elaborar um projeto de Design de Ambientes, assinale o grau de importância que você atribui
aos seguintes aspectos:
Assinale o grau de importância para os atributos, considerando 1 = menos importante, 5 = mais importante.
1
2
3
4
5
aspectos subjetivos dos materiais
aspectos subjetivos dos objetos
aspectos técnicos e construtivos
custo
desejo
eficiência
emoção
estética
funcionalidade
qualidade
segurança
solução do problema
tecnologia
tendências de mercado
usuário
Outros:
_____________________________________
8. Após conceituar o espaço a ser projetado, como costuma escolher os materiais e objetos?
Com relação às opções descritas abaixo, assinale
o seu grau de concordância para cada uma delas,
escolhendo o número que melhor reflita
a sua opinião na escala de 1 a 5.
1. Discordo totalmente
2. Discordo em parte
3. Neutro (nem concordo nem discordo)
4. Concordo em parte
5. Concordo totalmente
1
Discordo
totalmente
de acordo com os desejos do usuário
pela eficiência
pela exclusividade
pela experiência prazerosa dos usuários
pela funcionalidade
pela intuição e bom senso
pela qualidade
pela segurança
pela tecnologia
pela tendência da moda
pelo custo
pelo design, forma, cor, textura
pelos costumes de cultura da cultura que
estou inserido
2
Discordo
em parte
3
Neutro
4
Concordo
em parte
5
concordo
totalmente
pelos costumes de outras culturas
pelo valor simbólico ou de estima
outros:
_____________________________________
9. Onde busca informações para a escolha de materiais e objetos?
Escolha quantas opções forem necessárias.
 amostras físicas
blogs
indicação de outros profissionais
livros especializados da área do design - teóricos e práticos
lojas especializadas
revistas especializados da área do design - teóricos e práticos
websites
outro _____________________________________________________________________
10. Qual a frase que mais se aproxima de sua realidade projetual?
os aspectos objetivos de um projeto são mais considerados por possuírem a possibilidade de
quantificação, que são eles: a funcionalidade, segurança, custos e tecnologia.
os aspectos subjetivos são pouco empregados por serem difíceis de quantificar, esses fatores
dizem respeito à individualidade do sujeito e por isso complexos de serem percebidos e aplicados.
os aspectos objetivos são mais empregados pelo fato dos usuários serem mais exigentes quanto
à tecnologia, usabilidade e segurança.
os aspectos subjetivos são empregados, mas difíceis de serem medidos, por isso são aplicados
através de decisões intuitivas.
outra _____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11. Diante da complexidade percebida na atualidade, os aspectos subjetivos estão sendo
considerados e incorporados em projetos de design. Como você tem lidado com essa realidade?
Escolha até duas opções que se enquadra na sua forma de trabalho.
não compreendo bem e não tenho facilidade em trabalhar com a subjetividade.
percebo os aspectos subjetivos e sua importância em projeto de design, mas escolho materiais e
objetos para compor o ambiente de forma intuitiva ou pelo bom senso.
percebo os aspectos subjetivos, sua importância e busco informação na teoria do design para
aplicá-los de forma segura.
percebo os aspectos subjetivos, mas prefiro considerar em projeto os aspectos objetivos, pois
são bem mais fáceis de serem trabalhados pelos designer e percebidos pelo cliente.
pelo fato de uma demanda projetual intensa e pela complexidade de manuseio dos aspectos
subjetivos em projeto, não possuo tempo hábil para elaborar ambientes considerado o emprego da
subjetividade.
outra _____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
12. Se houvesse um método que auxiliasse no emprego dos aspectos subjetivos em projeto, você:
Escolha quantas opções forem necessárias.
eu não iria usar, pois acredito que o meu método pessoal já é eficiente.
eu iria testar para conhecer e caso fosse interessante iria empregar em meus projetos.
eu os abordaria em maior constância no planejamento de ambientes
certamente seria uma ferramenta útil e relevante para o meu trabalho

13. Você possui alguma sugestão ou comentário sobre essa pesquisa?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
14. Você deseja participar de uma entrevista - Painel de Especialista - outra etapa do processo de
pesquisa?
sim.
não

15. Se sim, deixe aqui seu nome e e-mail para contato.
_____________________________________________________________________________
Obrigada.
IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE
ESP ________ DATA ___/___/________
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido
sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste
documento.
Título do trabalho: Aspectos subjetivos relacionados ao Design de Ambientes: um desafio no
processo projetual
Mestrando responsável: Simone Maria Brandão Marques de Abreu
Orientador: Maria Regina Álvares Correia Dias, Dra.
Técnica de pesquisa: PAINEL DE ESPECIALISTAS
Objetivo e esclarecimentos da pesquisa
Esse estudo tem como objetivo elaborar um método que possa auxiliar no ensino e na prática
projetual do design de ambientes com o propósito de fundamentar a transposição de atributos
conceituais intangíveis na seleção dos materiais e objetos no ambiente projetado.
Busca-se, com as respostas dessa entrevista entender das metodologias de ensino e suas aplicações;
a relevância dos aspectos subjetivos para projetos de ambientes e sua relação com os materiais e
objetos.
As informações coletadas serão utilizadas para compor parte das análises de estudo.
Esta pesquisa é individual e todas as suas respostas serão mantidas em confidencialidade.
Em relação às opiniões e informações declaradas durante esta entrevista, todas as citações
aparecerão da seguinte forma: “Especialista 1, 2, e daí por diante”.
Agradecemos antecipadamente por seu tempo e interesse.
Eu, _______________________________________, RG_______________________,
abaixo assinado, concordo voluntariamente em participar do estudo acima descrito. Declaro ter sido
devidamente informado e esclarecido pelos pesquisadores responsáveis sobre os procedimentos da
pesquisa. Foi-me garantido que não sou obrigado a participar da pesquisa e posso desistir a qualquer
momento, sem qualquer problema.
Belo Horizonte, ____ de ___________________ de 2014.
________________________________________________________________
(Participante Voluntário)
IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE
ESP________ DATA ___/___/________
APÊNDICE D
ENTREVISTA AOS ESPECIALISTAS
Essa entrevista deve ser respondida de uma só vez e estima-se que sejam necessários
aproximadamente 50 minutos para completá-la.
Por favor, responda a TODAS as perguntas. Se estiver inseguro quanto a uma questão, não deixe a
pergunta sem resposta – tente aproximar ao máximo da sua realidade.
Nome: _______________________________________________________________________
E.mail: ___________________________________________ Tel: ________________________
1. Sexo: Feminino 
Masculino 
2. Qual sua idade? (selecione sua faixa etária)
18 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50 anos
51 a 60 anos
mais de 60 anos
3. Qual seu grau de instrução?
Superior incompleto
Superior completo
Especialização
Mestrando
Mestrado
Doutorando
Doutorado
Outro _____________________________________________________________________
4. Há quanto tempo você atua profissionalmente na área? ____________________________
5. Qual o número aproximado de projetos de Design de Ambiente que você participou?
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Sobre a metodologia:
6. Qual a metodologia que utiliza para os projetos de design de ambientes e quais são as facilidades e
dificuldades encontradas?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
7. Sua metodologia adotada hoje é diferente da que adotava quando formou? Qual a diferença e
semelhança.
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
8. Quais as questões que aborda no briefing no que diz respeito aos aspectos subjetivos do usuário?
Como você interpreta o usuário?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
9. Você conceitua o ambiente? Como é o processo? Como tangibiliza o conceito do ambiente?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
10. Um ambiente é constituído por materiais e objetos que o compõe, e estes por cores, texturas e
formas. Qual a maneira que possui para compor ambientes no uso de materiais e objetos? Se existe,
qual a lógica que adota para tal processo?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
11. Qual o grau de complexidade que entende existir nos aspectos subjetivos para projeção de
ambientes? Quais as ferramentas que utiliza para interpretar os aspectos subjetivos dos usuários e
sua aplicação nos ambientes?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Sobre os aspectos subjetivos:
12. Qual a importância dos aspectos objetivos - funcionalidade, segurança, custo, tecnologia, técnica,
qualidade - para um projeto de design de ambientes?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
13. Qual a importância dos aspectos objetivos - percepção do usuário, estética, interpretação dos
materiais e objetos, emoção, estima, desejos, cultura - para um projeto de design de ambientes?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
14. Qual você considera mais importante?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Sobre os materiais e objetos:
15. Você acredita que os aspectos subjetivos interferem na linguagem intangível e compromete no
bem-estar do usuário? Como?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
16. Como você realiza a escolha dos materiais e objetos para um ambiente? Através dos aspectos
objetivos ou subjetivos? E onde busca informação para essa escolha?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Sobre um método - questões subjetivas:
17. Você entende que seja importante fundamentar essas relações subjetivas para que possam ser
aplicadas de maneira eficaz nos projetos de ambientes?
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
ANEXOS
______________________________________
ANEXO A
AVALIAÇÃO PROJETO PLATAFORMA BRASIL
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aspectos subjetivos relacionados ao design de