JC REGIONAL Fotos: Éder Azevedo Bauru, domingo, 26 de agosto de 2012 - Página 22 Engenho resgata história da aguardente de Lençóis L ençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru) é conhecida em toda a região pela pinga que ao longo dos tempos ganhou notoriedade. O engenho São Luiz é um dos fabricantes. Nasceu em 1906 pelas mãos do bisavô de Luiz Gustavo Zillo. Nessa época, estava localizado no bairro Rocinha. Foi fundado quando o município tinha sua economia girando em torno dos engenhos, eram cerca de 100 em toda aquela região. Com o advento da fabricação de açúcar e álcool, eles foram minguando, hoje são menos de 50. Há quatro anos, o engenho São Luiz “renasceu”. Numa versão mais moderna e com o espírito de resgate da história da família, comenta Luiz Gustavo Zillo. “A ideia foi resgatar a história do engenho. Meu bisavô e os irmãos dele, em 1906, adquiriram um engenho no bairro da Rocinha. Depois, eles viraram comerciantes, comprando e vendendo aguardente na região até quando meu bisavô saiu do negócio, que ficou com os irmãos dele. Ele montou as usinas de açúcar. Foi nessa época que começou a diminuir o número de engenhos da região. O pessoal começou a sair do campo e arrendar as terras para as usinas.” Zillo frisa que o avô já não tinha mais engenho. “Em 2006, meu pai teve a ideia e começamos a construir um espaço próprio para fabricar a cachaça. Queríamos resgatar um pouco da tradição de Lençóis, que já foi famosa por ter pinga boa, de qualidade. Resgatar essa tradição que a cidade tem e retomar esse negócio que vem da história da família.” A intenção era fazer vinho, até porque a família tem uma pequena propriedade onde havia uma plantação de uva. “A propriedade é de meu avô. Plantava-se uva lá. Só que na região é difícil fazer vinho de qualidade. Então, optamos pela cachaça.” Para inovar e dar um ar contemporâneo para a cachaça, Luiz Gustavo Zillo criou outro layout. “Montamos um armazém para receber os clientes e criamos a marca São Luiz, que é o nome do bairro. A cachaça é artesanal e o processo é natural. No processo de envelhecimento, não adicionamos nada para mudar a cor ou o sabor.” Brasil tem várias opções de madeira para envelhecer a bebida O carvalho continua sendo a madeira ideal para a construção de tonel para envelhecer a pinga. O uso dessa madeira, usada na fabricação de conhaque e whisky, auxilia na aceitação da cachaça no mercado de bebidas, alerta o professor João Bosco Faria. “O carvalho sem dúvida é a madeira mais adequada para envelhecimento de cachaça, até porque a gente já aprendeu a reconhecer no whisky, no conhaque e no rum aquele gostinho que é do carvalho. Essas bebidas são envelhecidas no carvalho. Acaba ficando como padrão. Quando se usa o carvalho, o sabor é mais facilmente aceito. Sempre que a gente compara o sabor de outras madeiras com a de carvalho, esta tem mais aceitação.” Mas, opina o professor, o Brasil oferece várias opções de madeira para envelhecimento de cachaça. “O território brasileiro oferece inúmeras opções, temos a carvalheira, o bálsamo que também é chamada de Cabreúva, enfim tem as madeiras nossas que são que estão sendo sendo descobertas como uma possível opção ao carvalho.” Luiz Gustavo Zillo e a cachaça pronta: nas fotos, fases da produção Processo de produção Prêmios No ano passado, a cachaça São Luiz participou do Festival de Cachaças Especiais de Ourinhos, São Paulo, edição 2011. Concorreu com cachaças de todo o Brasil e se classificou em 3º lugar no ranking. Luiz Gustavo Zillo explica que no festival haviam cachaças fabricadas em todo o país. “Do Rio de Janeiro, Parati, Campinas. Concorremos com cachaça branca, ainda não tínhamos a envelhecida.” No ranking de cachaças brancas participantes da Feira Expo Cachaça Dose Dupla de São Paulo, a São Luiz pegou o 5º lugar. “Havia mais de 90 marcas do Brasil todo. Este ano, vamos participar de novo e vamos concorrer com a versão envelhecida também.” Para Zillo, a bebida premiada ganha destaque no meio. “Fica conhecida como uma bebida de qualidade. Ganha destaque nacional. Para nós isso é muito importante. Nosso alambique tem capacidade para produzir 50 mil litros/ano. Não atingimos essa produção ainda, mas não queremos ultrapassar esse limite para não perder a qualidade. Nosso processo é artesanal.” Luiz Gustavo Zillo explica que o processo de produção da cachaça é criterioso. A cana é cortada manualmente, não pode ser queimada para não interferir no processo de fermentação. Passa por um ‘banho’ para retirar a sujeira externa, assim como a moenda onde a cana é moída, e expele o bagaço que vai direto para a caldeira e gerará vapor para aquecimento dos alambiques. Em seguida, o caldo da cana vai para as dornas de fermentação de aço inox. “Cada uma tem capacidade para mil litros. Depois de 20 horas, o caldo da cana está fermentado. É nesse processo que o caldo é transformado em vinho.” O vinho então vai para o processo de destilação. “É onde o álcool é separado do vinho. Aqui se extrai o álcool que é produzido na fermentação que é a cachaça em si. Fabricamos um só tipo de cachaça. Tentamos manter o mesmo padrão em todas, mas como o processo é artesanal é difícil. De cada alambicada sai uma cachaça diferente da outra, cada dorna é independente, apesar delas estarem com o mesmo tipo de caldo para fermentar.” “Cachaça do coração “ Uma boa cachaça se faz com o coração, ensina Luiz Gustavo Zillo. “Uso o cobre para destilação. É um catalisador. Um dos melhores materiais para destilar bebidas, o whisky, o conhaque são destilados no cobre. Para ter uma cachaça diferenciada, é preciso descartar o início e o final da destilação. No meio se diz descartar a cabeça e a calda. O início e o final são tóxicos para o ser humano.” Ele explica que num processo de fermentação natural a higiene é um item primordial. “O cobre é utilizado ao longo dos séculos. Porém, o cobre é tóxico. Logo após a destilação temos que lavar os alambiques para retirar a borra que fica internamente. Enchemos os alambiques com água para não oxidar.” Envelhecimento em carvalho O envelhecimento da cachaça São Luiz é feito em tonéis de carvalho europeu. “Logo depois da produção da cachaça, ela é armazenada em barris de 200 litros. “Depois de um ano e meio, a cachaça adquire características de bebida envelhecida, ganha a cor amarelada. O sabor lembra carvalho.” Os barris de 20 mil litros são de madeira amendoim e geram a cachaça descansada. “É a cachaça branca. Ela não adquire a cor e nem odor da madeira. É uma cachaça com gosto de cana. É a mais forte.” Serviço: Engenho São Luiz Estrada municipal LEP 454 KM 0+ 172 metros, bairro São Luiz www.cachacasaoluiz.com.br Horário de funcionamento: de 2ª a 2ª das 9 ás 17 horas