ILDA BASSO (Org.)
JOSÉ CARLOS RODRIGUES ROCHA (Org.)
MARILEIDE DIAS ESQUEDA (Org.)
II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO
LINGUAGENS EDUCATIVAS:
PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES NA ATUALIDADE
BAURU
2008
S6126 Simpósio Internacional de Educação (2. : 2008 : Bauru, SP)
Anais [recurso eletrônico] / 2. Simpósio Internacional de
Educação / Ilda Basso, José Carlos Rodrigues Rocha,
Marileide Dias Esqueda (organizadores). – Bauru, SP :
USC, 2008.
Simpósio realizado na USC, no mês de junho de 2008,
tendo como tema : Linguagens educativas – perspectivas
interdisciplinares na atualidade.
ISBN 978-85-99532-02-7.
1. Educação – simpósios. 2. Linguagens educativas. I.
Basso, Ilda. II. Rocha, José Carlos Rodrigues. III. Esqueda,
Marileide Dias. VI. Título.
CDD 370
ILUSTRAÇÃO: INTEGRAÇÃO DE LINGUAGENS
Guiomar Josefina BIONDO
Maria Luiza Calim de Carvalho COSTA
Departamento de Artes e Representação Gráfica
Sônia de BRITO
Departamento de Comunicação
FAAC-Unesp- Bauru
RESUMO
Este trabalho propõe algumas reflexões sobre a imagem como ilustração. Os caminhos para
essa reflexão se encontram: na relação texto/imagem, no estudo da imagem na comunicação
social, no processo de leitura e interpretação do texto visual. Vivemos no mundo da imagem e
graças ao seu forte poder de sugestão, de demonstração, ficam evidentes as ligações entre ela
e as palavras. Nesse jogo entre palavra e imagem foi a ilustração que ganhou destaque, pois
sendo responsável pela organização icônica atrai para si as formas poéticas do verbal,
emprestando a ele sua propriedade visual e imagética. Essa transposição das palavras em
imagens não é feita transpondo um sistema a outro, ou um signo a outro, mas dá-se pela
oposição entre línguas, portanto, não necessita de serem cenas figuradas. Contudo, quando
aproximamos as imagens das palavras, elas necessitam de serem lidas mais, do que de serem
vistas. A leitura não é ato isolado, é interação verbal e visual entre indivíduos e seus mundos,
exercita a nossa capacidade de experiências interdisciplinares, ampliando as possibilidades de
compreensão, interpretação, resultando desse modo no diálogo entre o visual e o verbal.
Palavras-chave: texto/ imagem, ilustração, leitura, comunicação.
ABSTRACT
This paper proposes some reflections on the image as illustration. The paths to this debate are:
the relationship text/image, the study of the image in the media, in the process of reading and
visual interpretation of the text. We live in the world of image and thanks to its strong power
of suggestion, demonstration, are clear links between it and the words. In this game between
word and image was the illustration that won prominence, as being responsible for organizing
iconic attracted to each other poetic forms of verbal, lending him his property and visual
imagery? This transposition of words in images is not transposing a system to another or a
sign to another, but there is the opposition between languages, therefore, need not be
represented scenes. However, when approaching the images of words, they need to read more,
than to be seen. The reading is not isolated act, is verbal and visual interaction between
individuals and their worlds, and exercises our ability to experience interdisciplinary,
expanding the possibilities of understanding, interpretation, thus resulting in the dialogue
between
the
visual
and
verbal.
Keywords: text/image, illustration, reading, communication.
Pensar em ilustração é buscar a aproximação entre palavra e imagem. Uma relação
que, à primeira vista, poderá ser de transposição fiel da palavra ao texto que se deseja ilustrar.
Isso deve a sua presença material no texto, esquecendo que do mesmo modo que a pintura
ilustra o texto ela poderá ilustrar a imagem. E nos dizeres de Mário Praz, que: "a idéia de uma
fraternidade entre as artes, esteve sempre presente no pensamento humano, devendo existir
algo mais profundo do que a simples especulação".
Hoje, mais do que nunca, a palavra e imagem têm ligação evidente e clara em todas as
situações, vivemos na era da imagem e a escolha de uma cena no texto não necessita servir
rigorosamente às exigências do mesmo.
A preponderância da comunicação pela imagem é processo inequívoco e em
desenvolvimento acelerado nesse fim de século. Atualmente, os desenhos (ícones) já são
bastante difundidos e grandemente usados em imensas situações de comunicação e pelo seu
grande avanço chega a substituir a palavra escrita, pois o circulo de comunicação entre os
homens parece sofrer tendência de completar-se retomando à imagem. Assim, a ilustração,
que é uma forma de apresentação do pensamento humano, sempre esteve presente, segundo a
historia, nos textos escritos, e evoluiu consubstancialmente até nossos dias de maneira
vertiginosa, como forma de dar sentido, de esclarecer, de completar as informações, de
exemplificar ou demonstrar as idéias contidas no texto.
O sentido etimológico da palavra ilustração vem de iluminar, que é interpretado como
esclarecimento, jogar luz. Porém, ilustratio do francês tem sentido de aparição, dar a ver um
novo texto, uma nova obra manifestada como fenômeno, acontecimento e pensamento,
fazendo existir a finalidade da imagem que transcende do texto, dando-se ênfase ao
entendimento e não à visão.
O entendimento é como no sonho, uma transposição que interfere no imaginário.
Segundo Schapiro (1996), a transposição é feita pelo leitor observador, que lê e vê, através da
linguagem. Essa transposição das palavras em imagem não é feita transpondo um sistema a
outro, ou um signo a outro, mas dá-se pela oposição entre línguas e, portanto, não necessita de
serem cenas figuradas, que buscam nas propriedades significantes os elementos de
transposição, posicionando-se contra tudo que é cópia.
A tarefa do artista é passar para o visual um texto verbal, cuja legibilidade da imagem
depende do significado da palavra ali escrita e as formas reconhecidas por elas mesmas. Nesse
caso, a transposição de enunciado verbal a representação icônica seria termo a termo e isso na
representação se igualaria a um comentário ou a uma explicação, portanto não seria suficiente
para esgotar o significado da imagem.
Porém, a característica de ilustrar, com a idéia de esclarecimento do texto, está sendo
substituída pela própria idéia ou mensagem da ilustração. A ilustração existe nos dois
sentidos, tanto a imagem é capaz de esclarecer o texto quanto o texto a imagem. Esta é a
proposta de Schapiro (1996), "a referência ao texto permite elucidar o tema sob o qual se
organiza uma imagem, ela mesma não deixa de projetar luz sobre ele".
A partir destas ponderações gerais, tem-se o interesse de esclarecer alguns motivos
que justificam o uso da ilustração, a relação do texto com a imagem, o estudo da imagem na
comunicação social escrita; o processo de leitura e interpretação do texto visual e verbal e a
percepção indicam os caminhos para essa reflexão. Vários autores falam sobre esse assunto
entre eles podemos citar: Platão, Mitchel, Mario Praz, Patrick Vaudy, Barthes, Schapiro,
Louis Marin, Chartier entre outros. Cada um indicando a reflexão para uma direção distinta.
Quanto à relação texto/imagem, são evidentes as ligações e a constante necessidade de
apelar ao seu poder de sugerir, de demonstrar, que tanto a imagem pode ilustrar um texto
verbal ou o texto pode esclarecer a imagem, tendência essa que se mantém durante toda
história, fabricando signos e tecendo a cultura.
O termo imagem adquiriu tantas significações que às vezes se torna difícil dar uma
definição que abarque todas elas. Uma das definições antigas é de Platão. "Chamo de
imagem as sombras, depois os reflexos que vemos na água" (Alegoria da Caverna de Platão,
apud A república, início, livro VII).
A imagem não deve servir para imitar a aparência do sensível, mas para a imitação da
realidade inteligível; ela tem função essencialmente alegórica, ou seja, ela deveria ter por
papel a ilustração do discurso e de fazer falar para aqueles que são incapazes de entender a
razão das coisas. Como se observa, Platão reduz a imagem à alegoria e à função racional de
quase-coisa, ou de coisa no mundo, buscando apenas a objetivação da imagem, esquecendo-se
das questões do imaginário.
Aqui vale evocar Sartre (apud Vauday 2002), alegando que a pintura não reflete o
mundo mas projeta o imaginário, não havendo o perigo dela ser confundida com o real porque
ela é diferente das coisas que ela representa através da imagem. A imagem para esse teórico,
não é o duplo do objeto, recusando a expressão "imagem da coisa", mas "coisas da imagem".
Essa análise sartriana, faz tirar a imagem de seu status de quase-coisa, extraindo-a do
mundo dos objetos para uma vida intencional do espírito. A imagem não pode assemelhar-se a
seu modelo e não tem nada do modelo, uma vez que ela figurativisa aquilo que é invisível.
Mitchel em Iconology: Image, Text, Ideology, (1986), propõe pensar a imagem como
uma grande família que sofreu mudanças no tempo, no espaço e no processo e mais constrói
uma árvore genealógica desta família,
que está assim distribuída em: imagem gráfica,
imagem óptica, imagem percentual, imagem mental e verbal.
A imagem gráfica segundo esse autor é a representação pictórica do objeto material no
sentido literal, é aquela percebida pelos olhos, a imagem mental, verbal e percentual, varia de
pessoa para pessoa, envolvendo apreensão multisensorial e interpretação.
O que se conclui é que tanto as imagens mentais quanto as reais são medidas pelo
verbal, que permeia o entendimento do mundo, pois o verbal é convenção. Nisto há senso
comum. Assim, reconhecer que as imagens pictóricas são inevitavelmente contaminadas pelas
palavras nos leva à reflexões sobre as relações texto/imagem.
O outro fator é o uso da imagem na comunicação social escrita, que vai ser explicado
pela capacidade que a imagem tem de fazer abordagens simbólicas mais evidentes do que as
palavras pois estas são mais denotativas e as imagens mais permissivas.
Freqüentemente, a comunicação social escrita não se satisfaz com a palavra, cuja
força, na exposição de idéias, sentimentos, atitudes e comportamento, têm sido bastante
reconhecida. A imagem/ilustração é a parceria visual e necessária da comunicação escrita do
texto, seja ela qual for: didático, científico, nos romances ou histórias infantis, integrando-se
perfeitamente ao mundo da mensagem espetáculo. Assim, a ilustração pictórica ou fotográfica
está presente enquanto modo de apresentação da imagem em livros, revistas, cartazes,
indicando o seu reconhecimento e importância.
O seu uso nos romances, nas revistas, vem explicar o seu emprego na comunicação
contemporânea, esclarecendo que realmente é um dos processos mais amplos da interação
social, pois os ícones exercitam a linguagem e promovem cada vez mais a comunicação. O
uso da ilustração no romance pode ser explicado pela faculdade que ela tem para oportunizar
abordagens simbólicas, que são mais evidentes nelas no que na palavra. A palavra se presta
mais à demonstração, enquanto a imagem, permite abundância de sentido, que consegue
revelar infinidade de conotações simbólicas, tanto da experiência do indivíduo quanto da
coletividade, independentemente do autor. A ilustração na comunicação escrita funciona
como estímulo fora do leitor, sendo que ele a apreende, interioriza e organiza segundo sua
vivência, seu conteúdo. Ela é entendida como a mais rápida maneira para se veicular uma
mensagem.
O uso da ilustração na comunicação pode ser justificada também pelo seu grande
poder de síntese, de representatividade de espelho, de duplo do fato ou de idéias, ou do
sentimento, e mais, ela permite que a experiência, o fato sejam apreendidos imediatamente,
como acontece nos jornais e revistas, fazendo com que a distância da realidade, dê segurança
e permita conhecimento sem aproximação.
É a apreensão e compreensão do fato, sem o comprometimento com o real, sem
ameaças, que fazem o leitor descobrir a realidade, o acontecimento e seus significados à
distância. Ela não vem para enfeitar o texto ou para dar exemplo do que está impresso nas
páginas dos livros, ela vem com o objetivo de ser história e cultura, onde ambas têm presença
visual.
Na mídia cotidiana, a imagem deverá ser usada considerando fatores externos e
internos. Os externos são de modo a dirigir o observador-receptor para apreender o
significado pré-concebido e os internos usam de artifícios que permitam a entrada do sujeito
percebedor-leitor, deixando que ele mesmo atribua novos significados ao texto: seu humor,
suas emoções e sua visão de mundo.
A imagem desmaterializada saiu do suporte material na arte moderna e essa separação
entre imagem e pintura, nas obras de arte moderna, revelou que a pintura não precisa
necessariamente estar presa a ela para ter credibilidade e sentido, mas está no seu poder de
ilusão e captação. (Gombrich, 1986).
O equívoco que se na pintura como pintura ou como objeto e como imagem não seria
o mesmo que retirar da letra a sua materialidade e suporte?
A imagem não tem um ser próprio, ela existe à sombra da verdadeira ciência, à sombra
da realidade da qual ela ensaia, e capta a pujança, criando a ilusão através de seus
subterfúgios que são os desenhos, as cores a perspectiva etc.
A estreita relação entre texto e imagem, leitura do escrito e leitura do quadro, incitam
em colocar como centrais as relações entre as duas formas de representação, uma articulação
entre o visível e o legível. Como diz Poussim (apud Marin,2001) .
O legível e o visível, segundo ele, têm lugar comum e através de certas comparações
como: o efeito da visualização, ou seja, a contemplação; a aproximação dos campos
teóricos onde o legível e o visível no quadro e no texto são pertinentes, e por último,
buscar as semelhanças e diferenças entre leitura de uma página e de um quadro,
onde o legível e o visível se opõem ou se ligam de diversos modos.
Desse modo o texto de Louis Marin traduziu um esquema teórico de leitura da
imagem que depende da instrução, da injunção e da persuasão do leitor/intérprete, no seu
modo de contemplar e olhar.
A contemplação encontra-se dividida no percurso do olhar, no duplo processo de
iconização do texto escrito, 'na textualização do quadro, e mais, na reflexibilidade, apontando
outra direção, para onde a análise pode ser dirigida. A imagem por não ser cópia, é percebida
e entendida com a capacidade de usurpar as propriedades e características daquilo que está
sendo representado. Ela possui significado mágico e por essa sua concepção mágica,
consegue inclusive sugar as energias dos leitores.
Para Barthes (1984), a ilustração também é reconstituição modificada do real, que é
restituído pelo leitor.
Observando que o artista com sua ótica e sua técnica dá-se a ver na objetividade das
cores, focos de luz, jogo de penumbra, angulações, perspectiva, exteriorizando uma
mensagem na direção do espectador, abrindo-se ao imaginário, pois deixa que
qualquer um se aposse dela, permitindo que o receptor acrescente a sua marca, alma
(Barthes,1984).
Assim, buscando o imaginário, a ilustração dá mais vigor à mensagem, porque fala a
cada um de acordo com o significado por ele projetado, fato que permite compreensões
diferenciadas de significado individualizado, a partir do mesmo referencial.
O símbolo não é sinal tomado direto da realidade, ele se define pela consciência, e
será tanto mais rico quanto forem as lembranças, as experiências de vida, o conhecimento
adquirido social e culturalmente.
Quando se estuda o uso da ilustração, um dos aspectos que mais sobressai é a
percepção humana que tem grande implicação na recepção da mensagem.
Cada receptor é percebedor diferente, que esconde seus mundos diferentes e para que
haja comunicação é necessário uma ponte semântica entre os dois, entre o emissor e o
receptor e esta parte é facilitada pela cultura.
A percepção tem grande implicação na recepção da mensagem. Por ela o nosso
interior faz adaptação com o sinal, passando a dar configuração a mensagem recebida e sua
interpretação será tanto mais rica quanto forem suas lembranças fazendo com que seu
conhecimento atinja o sentimento.
Outra reflexão que poderá esclarecer o uso da ilustração é a sua interpretação, pois
quando aproximamos as imagens das palavras, elas necessitam de serem interpretadas muito
mais do que serem vistas. Uma ilustração é uma escritura gravada e como escritura ela
propõe propriedades específicas possíveis de serem lidas.
Para conseguir essas respostas fomos buscar Meyer Schapiro (1996), que ao
posicionar-se contra tudo que não revela a cópia, a mimese, a tradução, ele trabalha no sentido
do signo no seu contexto, ou seja, vai buscar as propriedades qualificantes do texto visual.
Não quer Schapiro (1996), propor para o leitor uma gramática ou um léxico, não vai
também colocar o sistema de signo em alerta e confrontá-los. Para ele, a imagem toma
emprestado da Lingüística a articulação, a fala. Um empréstimo que se dá por deslizamento
entre as línguas, tendo o sujeito como intérprete fazendo das figuras representadas uma
perfeita analogia.
Vê-se como o papel do receptor é importante na interpretação do texto, devendo ser
conhecedor do contexto histórico e encontrar os elementos e os efeitos que o transcendem
para poder construir novo texto. É nessa oposição entre sujeito perceptivo e figura
representada que Schapiro difere as suas interpretações, colocando o sujeito como terceira
personagem do texto. Esse leitor personagem vai dividir o espaço com os demais, fazendo
verdadeiro exercício de linguagem. No exercício de linguagem, a relação não se estabelece
entre significados iguais, mas é necessário encontrar o nível temático que são os elementos
abstratos, caso contrário a transposição do pensamento não deixa interferir no imaginário.
Essa transposição se dá através de metáforas, metonímias, alegorias, ou seja, de
figuras que são transformadoras de figurabilidade. Desse modo, Schapiro (1996), demonstra a
capacidade da imagem de ser língua tal qual um texto, é nela que as figuras revelam a
verdade do texto.
Quando aproximamos as imagens das palavras, elas necessitam de serem
interpretação, mais do que de serem vistas, essa é uma das vantagens de se aproximar o texto
de uma imagem. Pensar numa aproximação é importante, pois ambas devem ser lidas.
A especificidade da leitura é diferente do olhar. Ler um quadro é buscar o sentido
daquilo que é produzido, é decifrar, interpretar. Assim, uma página escrita ou pintada são
iguais: de um lado o quadro e do outro, a visão fazendo confrontar o visível em legível,
instaurando uma reflexão entre ver e ler. Vale citar (P.F. Richeomme, apud Chartier, p. 123)
“A pintura muda será para os olhos; a narração para suas orelhas e a exposição de uma e de
outra servirá a seus espíritos".
Tal citação vem conjugar os benefícios da ilustração, reconhecendo seu valor dentro
do caráter textual, tanto verbal quanto visual. A imagem ilustra a narrativa por sua presença
material no texto e a narrativa ouve "in presentia". A ilustração resgata a subjetividade do
sujeito no momento da leitura do material, transformando o objetivo em subjetivo,
reconhecendo como história. Essa interpretação histórica identificou o significante: forma e o
significado: sentido, tornando-os um só, isto é fazendo falar de um e de outro ser, não apenas
de si mesmo.
Segundo Antônio Mendonza Fillola (1994), a recepção literária, tal como a recepção
da pintura, tem dupla capacidade de ativar e desenvolver nosso conhecimento: lingüístico,
cultural, nossas experiências, nossa capacidade de observação e análise e ainda construir a
aprendizagem a partir de correlações, identificações, feitas a partir de conhecimentos
acumulados anteriormente e que são considerados como estudo histórico e cultural da
sociedade.
Segundo Baudelaire (apud Patrick Vauday, p.7), para se ler um quadro, e manter uma
relação com ele, para apreciar a sua consistência pictural, não basta, apenas, afastar ou
aproximar de uma pintura, não é apenas verificar a sua material idade para verificar se é ou
não sensível ou inteligível.
A leitura de um texto ilustrado exercita a nossa capacidade de experiências
interdisciplinares, ampliando as possibilidades de compreensão, interpretação que são
pressupostos da linguagem, nas suas particularidades e relações. O ato de ler, a ação de ligar
sentido, incita o leitor a adentrar pela trama do texto, descobrindo as estratégias, as relações
externas e internas.
Assim sendo, como o leitor deve receber uma mensagem ilustrada?
No texto ilustrado, o leitor deverá fundir seu horizonte de expectativas aos outros
horizontes dos dois textos, além da retórica do texto verbal, deve buscar a do texto visual, a
fim de passar pelas etapas de compreensão, interpretação e aplicação de uma forma complexa
de ler.
Para Chartier (1996), é preciso concentrar-se nas fronteiras da leitura, dadas entre o
texto e a imagem. Fala das "figuras" do ler, onde existem as possibilidades de relacionar o
legível e o visível para a codificação de livros ou quadros. A passagem do visível ao legível é
uma metalinguagem icônica, um ornamento que a imagem exige para a sua exibição.
Assim, como mostra Poussim, no seu processo de leitura, que na compreensão de um
quadro, o observador deve ajustar a imagem de acordo com as referências letradas que deve
ler.
As representações podem alertar o leitor para não generalizar que é uma questão,
quando este abandona as referências de tradição, formando aquilo ao pé da letra ou como
sendo a única coisa possível de se ler.
Como se percebe, a imagem não tem um ser próprio, ela existe à sombra da verdadeira
ciência, à sombra da realidade da qual ela ensaia, e capta a pujança, criando a ilusão através
de seus subterfúgios que são os desenhos, as cores, os planos as formas e os espaços
ocupados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
BARTHES, R. O Prazer do Texto. S. Paulo: Perspectiva, 1987.
CHARTIER, R. Práticas de Leitura. S.Paulo: Estação Liberdade, 2001.
LIMA, Y. S. de. A Ilustração na Produção Literária. São Paulo: Instituto de Estudos
Brasileiros-USP, 1985.
MANGUEL, A. Lendo Imagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
MITCHEL, W.J.T.(org) Iconology: Image, Text, Ideology. Chicago: The University of
Chicago Press, 1986.
SCHAPIRO, M. Word, Script and Pictures. New York: George Braziller, Inc, 1996.
VAUDAY, P. A Pintura e a Imagem. França: Edicions Pleins Feux, 2002.
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ilustração: integração de linguagens