AU TO RA L UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES TO PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DI R EI DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS EG ID O PE LA LE I DE INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DO CU M EN TO PR OT A COMPETÊNCIA DO ATO DE LER MARIA ELIZABETH DE CASTRO REHWAGEN ORIENTADORA: MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE BELO HORIZONTE JULHO / 2007 1 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A COMPETENCIA DO ATO DE LER MARIA ELIZABETH DE CASTRO REHWAGEN Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL. BELO HORIZONTE JULHO / 2007 3 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus que com certeza, durante todo esse tempo me abençoou e me deu força para seguir em frente. Ao meu marido Bruno, que com paciência e cari nho me ajudou na digitação desse trabalho. E agradeço à professora Maria da Conceição Maggioni Poppe, do Instituto “A vez do Mestre”, que me orientou, fazendo correções e me dando sugestões para a conclusão dessa pesquisa. 4 DEDICATÓRIA Dedico esta pesquisa aos meus familiares, que tanto me apoiaram e a todos que de alguma forma, contribuíram para a conclusão deste trabalho acadêmico. 5 RESUMO O capítulo I, foi subdividido em quatro partes que envolvem o objeto da pesquisa e os elementos que nela interferem substancialmente no ato de ler e na formação do leitor. Neste capítulo foi enfatizado a produção da leitura, sua importância na construção dos conhecimentos, as estratégias para levar o aluno à compreensão do que está sendo lido e o processo para uma leitura significativa por parte do aluno. A pesquisa tece considerações a respeito da relevância do conhecimento prévio, do nível de letramento da criança antes de freqüentar a escola, da formação das competências em leitura e da leitura realizada com prazer. O capítulo II, foi subdividido em duas partes onde estão reunidos os tipos mais freqüentes de dificuldades de aprendizagem relacionados com a leitura e escrita. Depois de apresentar as áreas consideradas imprescindíveis para a aprendizagem, de termos exposto os sinais que se apresentam, no dia-a-dia de cada um, de acordo com a deficiência de origem, pretendemos definir os transtornos específicos do aprendizado, os tipos de dificuldade de aprendizagem que podem advir dessas situações. O capítulo III, foi subdividido em quatro partes, que tem como base, diversas pesquisas realizadas, onde apontam várias causas como responsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de evasão e reprovação escolar, bem como: falta de estimulação adequada nos prérequisitos necessários à alfabetização, problemas emocionais, falta de maturidade para iniciar o processo de alfabetização e dislexia. O diagnóstico precoce do distúrbio de aprendizagem é um ponto fundamental para a superação das dificuldades escolares. Na verdade, os distúrbios de aprendizagem dependem de causas múltiplas, cabendo ao profissional que realiza o diagnóstico, evidenciar a área mais comprometida e, consequentemente, a recomendação da abordagem terapêutica mais indicada para a superação das dificuldades. 6 METODOLOGIA As principais obras e autores que serviram de referência a minha pesquisa foram: CONDEMARIN, M e BLOMQUIST, M. _ La dislexia: manual de lectura corretiva. Chile, Editorial Universitária, 1970. “Descreve dez diferentes classes de problemas emocionais como causas que contribuem para as deficiências de aprendizagem. Nesta classificação, faz-se notória a agressividade da criança dirigida à figura paterna e ao professor enquanto autoridades; os condicionamentos negativos para a leitura – quando esta é apresentada de forma desagradável e pouco motivadora; desatenção e inquietude frente à situação escolar geradora de tensão.” . BOFARULL, M. Tereza. Avaliação da compreensão da leitura: proposta de um roteiro de observação. In: TEBEROSKY, Ana et al. Compreensão de leitura: a língua como procedimento. “Entre tantas estratégias de leitura, deve ser utilizada no ensimo básico a estratégia de metacognição – uma reflexão sobre o processo de aprendizagem. Isso,(...) permitirá ao leitor, pensar sobre a própria atuação, propor um objetivo de leitura, planejar os passos que dará para atingir esse objetivo, supervisionar e avaliar esse processo para modificá-lo, se necessário.”(p.128) DOWNING, J. e Thackray, D.V. _ Madurez para la lectura. Buenos Aires, Kapeluz, 1974. 7 “Quando se fala em maturidade para o aprendizado, temos que nos remeter ao conceito de maturação. Entende-se por maturação para a leitura e escrita, o momento ideal do desenvolvimento em que cada criança individualmente, pode aprender a ler e a escrever com facilidade e proveito.” ESCOTT, Clarice Monteiro. A formação Psicopedagógica nas abordagens clínica e institucional, uma construção teórico-prática. Porto Alegre: Feevale, 2001. “O fracasso escolar está alicerçado, basicamente, sobre duas dimensões que se infuenciam numa relação dialética: a individual, que diz respeito ao aluno e suas vivências, pertencente a uma estrutura familiar, e outra extrema, que corresponde à escola e aos aspectos culturais, ideológicos e sociais da apendizagem.”(p.201) FREIRE, Paulo. A impotância do ato de ler: em três artigos que se completam 4ª ed. São Paulo: Autores Associados e Cortez, 1983. “A leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquela.” (p.22) “A leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a leitura do mundo. Com ela , a leitura da palavra foi a leitura da “palavramundo”.(p.17) “Ensinar exige respeito aos saberes do educando.”(p.33) GARCIA,. Jesus Nicasio .Manual de Dificuldades de Aprendizagem - Linguagem, leitura, escrita e matemática.Porto Alegre, 1998 . 8 “Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagem, leitura, escrita,(...) causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração emocional ou condutal. Não é o resultado de retardamento mental, de privação sensorial ou fatores culturais e instrucionais”.(p.8) JOHNSON, D. e Myklebust, H.R. _ Distúrbios de aprendizagem, princípios e linhas práticas educacionais. São Paulo: EDUSP, 1983. “É importante ressaltar, no entanto, que independente do tipo de aprendizagem, os distúrbios para aprender ocasionados por uma disfunção neurológica, equivalem apenas a uma dificuldade para ler, passível de reeducação e, nunca a uma incapacidade para aprender.” QUIRÓS, J.B. e Della Cella, M. _ La dislexia em la Ninez. Buenos Aires: Ed. Paidos, 1965. “Ao ingressar na etapa de alfabetização, uma criança deve ter um vocabulário compreensivo _ palavras que a criança fala e compreende o seu significado _ de 2.500 palavras, o que lhe permite um bom desempenho a nível de aprendizagem.” SERRA, Joan e OLLER, Carles. Estratégias de leitura e a compreensão do texto no ensino fundamental e médio.Porto Alegre 2003. “O professor deve ensinar em contextos reais de aprendizagem; a partir da solução de conflitos cognitivos; a partir de todas e de cada uma das áreas curriculares”.(p.37) 9 SMITH, Corine e STRICK, Lisa. Dificuldades de aprendizagem de A a Z. Tradução: Dayse Baptista, Porto Alegre: Artmed,2001. “Não nos surpreende que as crianças em desvantagem social e educacional também considerem mais difícil juntar recursos necessários para superarem deficiências neuro-cognitivas.Os alunos com dificuldade de aprendizagem normalmente usam as áreas em que são mais fortes para compensarem áreas de fraqueza, mas aqueles que não tiveram níveis adequados de estímulos e apoios em casa tem bem menos áreas de recursos as quais recorrer.” SMITH ,Frank. Leitura significativa. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed Sul Ltda,1999. “A habilidade para escrever melhora com a leitura, assim como a ortografia.” (p.124) “Somente através da leitura o escritor aprende todos os mistérios que conhece.” (p.79) “A base da compreensão é a previsão e a previsão é alcançada encontrando sentido naquilo que já sabemos sobre o mundo.” (p.79) “Sole, Isabel. Leitura em educação infantil? Sim, obrigada! In: TEBEROSKI, Ana et al. Compreensão de leitura: a língua como procedimento. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003. “No processo da leitura, as etapas de sua produção tem uma seqüência lógica, em que uma prepara imediatamente para a outra”.(p.17) “Acredita que o conhecimento prévio dos indivíduos influi de maneira decisiva no tratamento da nova informação.” (p.23) . 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................11 CAPÍTULO I – Considerações sobre a leitura................................................. 16 CAPÍTULO II _ Dificuldades de aprendizagem.................................................31 CAPÍTULO III _ Causas dos distúrbios de aprendizagem................................40. CONCLUSÃO................................................................................................... 82 BIBLIIOGRAFIA CONSULTADA..................................................................... .86 ANEXOS.......................................................................................................... 90 ÍNDICE............................................................................................................. 98 FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................................. 100 11 INTRODUÇÃO A motivação para desenvolver esta monografia está em entender as dificuldades dos alunos das escolas públicas em interpretar o que lêem. Muitos alunos terminam os nove anos do ensino fundamental sem compreender o conteúdo das outras disciplinas, por não saberem ler corretamente. Aqui deparamos com um grande desafio. Como formar leitores motivados e capazes de interpretar aquilo que lêem? Vamos considerar que a ação do psicopedagogo, ou seja, profissional que auxilia na identificação e resolução dos problemas no processo de aprender, está voltada para a prevenção das dificuldades de aprendizagem e prevenção do fracasso escolar não só do aluno, mas também dos educadores, demais envolvidos no processo. .Ele também deverá investir na possibilidade de melhoria das relações de aprendizagem e na construção da autonomia de alunos e educadores. Segundo Escott (2001, p.201), o fracasso escolar está alicerçado, basicamente, sobre duas dimensões que se influenciam numa relação dialética: a individual, que diz respeito ao aluno e suas vivências,pertencente a uma estrutura familiar, e outra extrema, que corresponde à escola e aos aspectos culturais, ideológicos e sociais da aprendizagem. A aprendizagem e não aprendizagem, serão determinadas pela dinâmica possível entre fatores simbólicos e cognitivos, inseparáveis das relações de aprendizagem, expressas através do desenho, da linguagem corporal, da linguagem falada e dos gestos. Pensemos também que na relação descrita por Escott, todos ensinam e aprendem a partir de seus conhecimentos, de suas possibilidades individuais, de sua dimensão afetiva, onde estão incluídos expressões de afeto, amor, medo, raiva ou agressividade. 12 O cotidiano escolar abriga duas dimensões principais: o cognitivo e o afetivo. A dimensão cognitiva é aquela em que a construção e a aquisição do conhecimento se faz através do processo de aprendizagem, processo este que se viabiliza a partir de uma modificação de comportamento relativamente duradoura, através da observação, treino ou experimentação, e onde o professor deve apresentar como um mero facilitador deste processo. Embora atualizando a dimensão racional, a relação professor/aluno é permeada pela dimensão afetiva, posto que aquele que aprende é também uma pessoa globalmente considerada, tanto em seus aspectos cognitivos, intelectuais, quanto em seus aspectos afetivos, emocionais. Para que possamos desenvolver uma tarefa, ela deve nos parecer atraente, deve despertar o nosso interesse e deve poder preencher uma necessidade, que pode funcionar como motor da ação. Assim, não é a razão o que nos leva à ação, mas a emoção, cada vez que escutamos um aluno ou alguém dizer que este professor é racional e não emocional, estaremos escutando o eco de emoção que está sob a afirmação, em termos de um desejo de ser ou de obter. Igualmente, quando afirmamos que este ou aquele aluno apresenta alguma dificuldade no fazer, significa que existe de fato uma dificuldade no querer, que cabe ao professor desvendar (ou melhor decodificar) para o aluno, levando-o a perceber este “fazer” como algo interessante e necessário, logo, alvo do seu “querer”. Sabemos que são muitos os fatores que interferem no ato de aprender, por isso, voltando ao tema estudado, preocupa-nos como ficará o aluno incompetente em leitura, amanhã, pois essa deficiência também se refletirá na sua escrita. Segundo Smith (1999, p.124), “a habilidade para escrever melhora com a leitura, assim como a ortografia”. Assim, a competência em escrita é uma conseqüência de um bom aprendizado de leitura. Diante disso, não podemos deixar que nossos alunos passem de um ano para outro, sem saber 13 ler, sem interpretarem o que lêem, sem saber produzir sentido a partir do que lêem. Aprender a ler tem sua importância ligada à necessidade de interação do indivíduo com a sociedade e com o mundo do conhecimento.Toda a cultura da humanidade só pôde ser conhecida através dos registros deixados pelos povos aos seus descendentes. Lendo, foi possível ao ser humano retomar os conhecimentos das culturas passadas e desenvolver-se a partir do que já foi iniciado pelos que vieram antes. No início das civilizações, aquele que dominava a palavra oral ou escrita, ou se expressava com fluência, também detinha o poder. Isso vale igualmente para hoje. Quem sabe ler e pensar corretamente, isto é, consegue refletir sobre o que foi lido tem condições de, pelos menos, reconhecer seus direitos de cidadania. Um país de analfabetos tende a ser um país subdesenvolvido. Há, pois, uma necessidade premente de se formar uma população letrada. Cagliari (1994) valoriza a leitura acima de qualquer outra competência. Para ele saber ler é mais importante do que saber escrever. A vida social das pessoas e seu sucesso nas áreas de atuação profissional dependem integralmente das leituras que fazem. Em muitos casos, essa leitura não se limita apenas às palavras. As imagens são responsáveis por grande parte da comunicação, hoje. Assim, as linguagens verbais e não-verbais se auxiliam mutuamente. As ruas das cidades estão cheias de cartazes, anúncios de todos os tamanhos, repletos mais de imagens do que de textos. Isso facilita a compreensão das mensagens que devem chegar rapidamente aos olhos do leitor em movimento. Por outro lado, com isso, os jovens encontram nas leituras dos textos desafios que, às vezes, pensam serem intransponíveis. A idéia da pesquisa sobre a leitura surgiu, então, através do nosso interesse em despertar no leitor o interesse e o hábito de leitura. Leva-los à 14 descoberta do prazer e da necessidade de ler. Propor alternativas para levar o leitor a compreender a importância de interpretar o que se lê. Portanto, são objetivos desta pesquisa, analisar o processo de formação do leitor e verificar como está sendo trabalhada a leitura, no ensino fundamental da escola pública. Embora o objetivo maior das escolas seja assegurar o domínio da leitura e da escrita aos seus alunos, pouco se realizará nesse campo, sem a ajuda da família. A compreensão da importância de aprender a ler só terá sentido para o aluno bem motivado, à medida que essa competência consegue levá-lo para um universo novo. Os significados desse aprendizado se revelarão de acordo com os interesses despertados pelos seus objetos de leitura. Para que isso ocorra, a influência da família é essencial. A criança que cresce numa família de leitores, ou numa família que cria oportunidades para que as leituras aconteçam, está mais propensa a ser um bom leitor e a sentir prazer com as leituras que seleciona. Consideramos que, para o aluno ser um apaixonado pela leitura, é preciso que ele, além de vivenciar, em casa, a prática da leitura, tenha um professor também apaixonado pela leitura. O professor que lê com prazer, com volúpia, com garra, com curiosidade atiçada, com entusiasmo, vibrante, possivelmente, terá alunos que também serão grandes leitores. Orientar o aluno para a aquisição das competências em leitura significa levá-lo além da mera identificação das palavras – da decifração da escrita - é mostrar-lhe os sentidos que o texto possa vir a ter para ele. Nesse aspecto, o aluno deverá ser capaz de verificar, através do seu interesse pelo texto, o que nele é mais relevante. No primeiro capítulo, foi realizado um levantamento teórico onde foi enfatizado a produção da leitura, sua importância na construção do 15 conhecimento, as estratégias para levar o aluno à compreensão do que está sendo lido e o processo para uma leitura significativa por parte do aluno. No segundo capítulo, foi abordado os tipos mais freqüentes de dificuldades de aprendizagem, relacionada com a escrita e leitura, bem como os sintomas da deficiência e o problema relacionado a ela. Será mostrado também, ao longo do texto, o modo como cada deficiência afeta o desempenho, o desenvolvimento escolar e o processamento da linguagem. No terceiro capítulo foram apontadas várias causas como responsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de evasão e reprovação escolar, bem como: falta de estimulação adequada nos pré-requisitos necessários à alfabetização, problemas emocionais, falta de maturidade para iniciar o processo de alfabetização e dislexia. 16 CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEITURA A formação de leitores é um processo que se inicia na alfabetização, pois "alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever” (Soares, 1998, p.31). A criança e o adulto analfabetos, entretanto, antes de saber ler a linguagem verbal, fazem uma leitura constante do mundo que os cerca. Segundo Freire (1983, p. 22), “a leitura de mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”. Se as linguagens criadas pelo ser humano existem para intermediar suas relações com seu universo, “este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente” (Ibid., 1983, p.22) em todas as suas ações. Então, é nessa relação com o mundo de cada um e desse com todos que o processo da leitura realmente tem o seu começo. Encorajar a criança ao desenvolvimento dessa leitura, que não deixa de ser um nível de letramento, permite que sua percepção se aguce para as linguagens presentes em sua realidade. Entre tantas formas de expressão utilizada pelo ser humano, a linguagem verbal encontra-se fartamente nos impressos agregados ao fazer diário de seus pais e irmãos, nas idas ao supermercado, através da leitura de histórias, enfim, através de tudo que chega aos seus olhos, mesmo que não saiba, ainda, seus significados. Na hora certa, o texto estará intencionalmente em frente à criança. Haverá um momento em que a criança estará pronta para identificar as letras e verificar que juntas, de um determinado modo, formarão as palavras. Isto permitirá a ela entrar também no mundo das palavras escritas, dando continuidade ao processo de alfabetização. 17 Os caminhos que a criança inevitavelmente percorrerá para se tornar um leitor, começa, portanto, nos seus ambientes mais próximos, junto à sua família, por exemplo. Essa seria a primeira responsável para a criação de ambientes propícios à produção da leitura. 1.1 Ler: o conceito e suas implicações Uma busca no dicionário irá definir a palavra ler como “conhecer, interpretar por meio da leitura”1. A interpretação do que se lê depende de cada pessoa, de seu contexto de vida, da sociedade em que vive, do seu trabalho, da família, e do momento histórico. Esse aspecto da leitura pode representar maior desafio para o leitor, se esse não aceitar que sua leitura pode ser diferente da de outro leitor, devido, mesmo, às suas diferenças culturais. Além disso, o desafio persiste pelo fato de a interpretação não ocorrer isolada da compreensão. Essa é uma etapa que prepara o leitor para a interpretação, mas é possível que ocorra simultaneamente a ela, uma vez que nenhuma fase na produção da leitura é estanque. Solé (2003, p.17), no título do seu artigo – Ler, leitura, compreensão: sempre falamos da mesma coisa –, resumidamente esclareceu a equivalência entre essas palavras. No processo da leitura, as etapas de sua produção têm uma seqüência lógica, em que uma prepara imediatamente para a outra. Assim sendo, Smith (1999, p. 79) explica que “a base da compreensão é a previsão e a previsão é alcançada encontrando sentido naquilo que já sabemos sobre o mundo”. Finalmente, pode-se afirmar que ler é questionar um texto, isto é, construir ativamente um significado em função de suas necessidades e seus projetos, a partir de diferentes princípios, de natureza distinta, e de estratégias pertinentes para articulá-los (Jolibert,1994). De acordo com o que foi esclarecido acima, o aluno que diz ter lido um texto, mas não o compreendeu, na verdade não demonstra ter adquirido 1 DICMAX Michaelis Português. Versão 1.1, 1998. 18 competências em leitura. Ele não sabe ler, no sentido pleno dessa ação. Essa é uma falha decorrente da capacidade que o aluno tem de reconhecer os códigos lingüísticos. Nesse caso, ele se prende à forma, mas o conteúdo lhe escapa. O conceito de leitura, para muitas pessoas, segundo Martins (1983, p.22) , estaciona-se no nível da ”decifração da escrita, sua aprendizagem, no entanto, liga-se por tradição ao processo de formação global do indivíduo, à sua capacidade para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural”. É através da leitura que o indivíduo se prepara para a vida em sociedade. Esta afirmação não é nova, pois os gregos e romanos apoiavam a educação correta para a vida na leitura e na escrita. Adquirir essas competências era um privilégio das classes mais altas da sociedade, isto é, dos homens livres (Martins, 1983). 1.2 As condições para a produção da leitura O desenvolvimento de habilidades para a leitura liga-se a fatores tais como: as conexões entre as experiências do leitor e o texto, isto é, entre as situações em que vive e outros textos. Isto significa que a criança, o jovem, e até mesmo um adulto, para adquirir tais habilidades em leitura, precisam saber relacionar o texto à sua frente, com tudo que já aprenderam. Dessa forma, a leitura deixa de ser “uma simples habilidade, mas sim uma maneira de elaborar significados, que terá de variar entre culturas” Solé,( 2003, p.18, grifos da autora). Os leitores em formação devem ser capazes de identificar os intertextos, os reflexos do cotidiano na obra literária, relacionar o discurso à sua memória, o máximo possível. Pode-se chamar a isso de conhecimento prévio.Solé, (2003, p. 23) “acreditava que o conhecimento prévio dos indivíduos 19 influía de maneira decisiva no tratamento da nova informação”. Esse mesmo autor explica que as experiências desses indivíduos faziam com que a leitura adquirisse sentidos que dependiam diretamente de um conhecimento já adquirido. Nesses casos, o tratamento do texto era valorizado, pelo conhecimento prévio desses leitores. Esse atributo, necessário a todo leitor competente, é construído ao longo da vida e é, precisamente, ele que favorece ao leitor uma intimidade com o texto. O que se aprende fora e dentro da escola, através dos livros ou sem a ajuda dos mesmos, é relevante para a aquisição das competências em leitura, e esse aprendizado tem origem já na infância. Freire (1983, p.17), referindo-se às suas experiências, esclarece que “a leitura da palavra, da frase, da sentença, jamais significou uma ruptura com a ‘leitura’ do mundo. Com ela a leitura da palavra foi a leitura da ‘palavra-mundo’”. Em seus relatos, no livro A importância do ato de ler, explica que, ao começar a freqüentar a escola, ele já estava alfabetizado. Ele agradece isso à sua família que, em todos os sentidos, criou ambiente adequado, para que a aprendizagem da leitura acontecesse. Avaliando a importância do papel da família e da comunidade no processo da aprendizagem da leitura, há experiências relatadas por estudiosos que colocam o grupo familiar como o primeiro responsável pelos avanços no desenvolvimento das crianças. Terzi (1995, p. 96) destaca o papel da família na alfabetização e no letramento das crianças pré-escolares em comunidades que valorizam todo esse processo de aprendizagem como estratégia de inserção social. Segundo esta autora, a comunidade de: Maintown – é constituída por pessoas que apresentam um alto grau de letramento e valorização da escrita. Nela os pa Is esperam que as crianças desenvolvam hábitos e valo res próprios de uma sociedade letrada. Estes sempre rela cionam o sucesso escolar com “aprender a amar os livros”, apontando o valor do livro como fonte de saber, de entrete 20 nimento e possibilidade de trabalho independente. Qualquer manifestação da criança de iniciar um evento de letramento determina a interrupção imediata, pelo adulto, da atividade em que estava envolvido e pronto atendimento à criança. A autora elucida, ainda, que as famílias dessa comunidade criam inúmeras oportunidades para que as crianças tenham contatos permanentes com a leitura. As atividades que desenvolvem, para que isto aconteça, vão desde leituras variadas antes de dormir até “leitura de caixas de cereal, de sinais de trânsito, de propagandas de televisão e a interpretação de instruções de jogos e brinquedos comerciais”(Terzi, 1995, p.96). 1.3 O que é o texto Quando a criança supera as fases da alfabetização, supõe-se que ela já comece a adquirir habilidades de síntese e análise, pois é exatamente o que vem fazendo o tempo todo, enquanto aprende o sentido das orações, dos parágrafos ou das palavras. Isso representa o texto para ela. Depois, seleciona outros textos que deseja ler, não muito grandes, mas que ainda permanecem desafiadores, pelo seu pouco domínio da língua escrita. Por enquanto, para o leitor nesse nível, texto tem um sentido preciso. Considerando a interlocução entre o leitor e o autor um fator relevante para a compreensão dos textos, a escola deveria repensar a seleção dos livros didáticos usados na formação do aluno, principalmente nos seus primeiros anos escolares. Os textos, nessa fase, devem permitir ao aluno utilizar suas experiências para realizar sua interpretação. Ao fazer isso, a escola se permite incluir em sua proposta pedagógica, pelo menos, dois dos saberes que Freire (2000, p. 33 e 46) acredita serem essenciais ao bom andamento do processo ensino-aprendizagem: ensinar exige respeito aos saberes do educando; ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural . 21 As oportunidades dadas aos alunos para desenvolvimento das suas habilidades de produção de leitura, no período da educação básica – educação infantil, ensinos fundamental e médio –, devem considerar sua origem e, a partir dela, aceitar suas experiências. Os textos podem naturalmente ter referências em seus universos. Isso facilitaria todo o processo educacional, uma vez que a “leitura se tornará mais ou menos significativa para as crianças se tiver uma funcionalidade clara para elas, isto é, se o propósito da leitura responde a necessidades reais compartilhadas” (Gil & Soliva, 2003, p.110). As reclamações sobre o insucesso escolar, principalmente no que se refere à aprendizagem da leitura e da escrita, são constantes. Por outro lado, as pessoas que reclamam não buscam soluções e se esquecem de que o sistema educacional não mudou inteiramente suas propostas, nas últimas décadas. Isso significa que um ensino, antes destinado às elites da sociedade, permanece com as mesmas características, sendo mantido sem adaptações, para as camadas sociais que não comungam a mesma ideologia das classes dominantes (Soares, 1996). Muitas vezes, a incompreensão do texto pelo aluno não se localiza apenas no significado das palavras desconhecidas. Isso pode ser sanado se o aluno souber consultar o dicionário e souber encontrar seu significado no próprio texto. As dificuldades encontram-se, sobretudo, na intertextualidade, na posição ideológica do escritor e nos fatores externos ao texto, como aspectos sócio-históricos. Isso ocorre pela própria característica estrutural da linguagem escrita ou falada, que impõe “a necessidade de preenchimento dos espaços que existem no texto; esta incompletude é gerada por toda as espécies de implícitos (pressupostos e subentendidos)” (Medeiros, 1997,p.56). 1.4 Estratégias de leitura A compreensão de textos é um processo complexo em que estão envolvidos elementos como: os conhecimentos lingüísticos, o conhecimento 22 prévio a respeito do assunto do texto, o conhecimento geral a respeito do mundo, motivação e interesse na leitura, entre outros. Serra e Oller (2003, p.37) alertam para que o professor ensine “em contextos reais de aprendizagem; a partir da solução de conflitos cognitivos; a partir de todas e de cada uma das áreas curriculares”. Em contrapartida, o professor deve orientar a compreensão da leitura, voltando-a para a aprendizagem, de modo a gerar “autonomia e auto-regulação; ativação dos conhecimentos pessoais e ser considerada como instrumento de aprendizagem e de motivação” (ibid., 2003, p.37). Há a necessidade de considerar alguns aspectos que podem promover ou restringir o processo da leitura, caso não sejam bem trabalhados, são eles: • Identificar sinais gráficos (letras) de cada língua com fluidez. • O aluno deve confrontar a informação que recebe com a que já possui ou com aquela que adquire em seu ambiente. Deve ser capaz de distinguir o verdadeiro do falso. • Ativar o conhecimento prévio do aluno; • Promover a relação ativa do aluno com o texto. À medida que interage com o conteúdo, ele avança mais na compreensão. • É importante distinguir a estrutura do texto: carta, relato ou diálogo. • Definir os objetivos de leitura. conferindo sentido e significado a essa atividade avaliando seus resultados. • Conhecer os objetivos de leitura: O quê? Por quê? Para que devo ler? (Serra e Oller, 2003, p. 38-41) 23 Esses aspectos, possíveis na estratégia usada pelo professor, de acordo com a sugestão dos autores citados, devem ser concentrados principalmente durante o ensino médio, embora elas representem uma necessidade ao longo de toda a escolaridade do indivíduo. 1.4.1 Níveis de leitura e a estratégia metacognitiva Tendo como base o que já foi exposto acima, pode-se observar que uma divisão didática do processo de leitura esclarecerá o que ocorre com o leitor durante o ato de ler. Um bom leitor, segundo Medeiros,( 1997), pratica quatro níveis de leitura e questiona o que lê, praticamente todo o tempo. Para atingir esses níveis, ele deve, desde o início de sua aprendizagem, dominar e superar cada nível, em qualquer tipo ou tamanho de texto, até que eles atuem simultaneamente durante sua leitura, pois são cumulativos. Os níveis aos quais o autor se refere são: 1. Leitura elementar: leitura básica ou inicial. Ao leitor cabe reconhecer cada palavra de uma página. O leitor que dispõe de treinamento básico e que adquiriu rudimentos da arte de ler. 2. Leitura inspecional: caracteriza-se pelo estabelecido para a leitura. Arte de sistematicamente. tempo folhear 3. Leitura analítica: é minuciosa, completa, a melhor que o leitor é capaz de fazer. É ativa em grau elevado. Tem em vista, principalmente, o entendimento. 4. Leitura sintópica: leitura comparativa de quem lê muitos livros, correlacionando-os entre si. Nível ativo e laborioso de leitura (Molina, apud Medeiros, 1997, p. 63, grifos do autor) No caso da leitura elementar, o leitor não possui domínio total da leitura. Ele lê na superfície tendo como referência apenas o que está sendo 24 expresso através dos códigos lingüísticos. Ele não consegue ler ainda o que não está sendo dito. ORLANDI, (1987, 275) ele não consegue formular a pergunta : “o que [o autor] não está querendo dizer ao dizer isso?”; não sendo também capaz de respondê-la Na leitura inspecional o leitor está apenas tomando conhecimento do que se trata o livro. Não está lendo em profundidade. Ele está folheando para tomar a decisão de ler ou não. As leituras analítica e sintópica refletem a competência de um leitor que se encontra num nível superior do ato de ler.Ele lê para entender e depois lê com um alto teor de conhecimento prévio. Esse último permitirá a ele, não só reconhecer os intertextos, mas também desenvolver uma compreensão das razões que levaram o autor a interagir com outros autores, naquele contexto de leitura. O grau de competência do leitor irá lhe permitir transitar com liberdade por esses níveis. Quando o leitor atinge essa meta, a tendência é afastar jamais da leitura, por saber que ali está uma fonte considerável de construção de conhecimentos. A essa altura, esse leitor, considerado competente, é autônomo na busca de novos conhecimentos, no estudo; tem interesse em aprender; e tem prazer em estudar (Medeiros, 1997). Dominar os níveis acima é essencial para a formação do bom leitor, e a criança, desde muito pequena, deve ser preparada para alcançá-los. Portanto, o professor deve acompanhar de perto o aluno durante sua formação, verificando se, dentro do processo de interação leitor/texto, a pessoa que lê consegue perceber: a informação que está sendo facilitada pelo texto; a informação facilitada pelo contexto em que está inserido esse texto; e finalmente, verificando se a pessoa que lê consegue aplicar seus conhecimentos prévios sobre o texto e sobre o mundo na compreensão do mesmo (Bofarull, 2003). É a partir desses elementos que “o leitor faz previsões, 25 verifica-as e elabora outras, até chegar à compreensão do texto” (Ibid., 2003, p. 127). Faz parte das estratégias para levar os alunos à compreensão do texto, inicialmente, a leitura compartilhada com o adulto, em voz alta. Nesse momento, o professor fornece as ajudas necessárias à compreensão do texto. Á medida que a criança consegue um autocontrole dentro desse processo, sua capacidade de praticar a leitura individual e silenciosa também melhora. Isso lhe permite passar para outras modalidades de leitura (Bofarull, 2003). Em todas essas fases do aprendizado da leitura, ainda dentro do período do ensino básico – fundamental e médio - , a aquisição do domínio das estratégias tem que ser exaustivamente avaliada. A sugestão de Bofarull (2003) é de que a avaliação seja feita em três momentos: avaliação inicial, avaliação formativa e avaliação cumulativa. Avaliação inicial: para conhecer a bagagem que o estudante possui sobre o tema, estimular e pôr em prática os conhecimentos prévios que o aluno possua. Avaliação formativa: para obter informação acerca das estratégias de leitura que utiliza. Permite intervir nessas estratégias e proporcionar a ajuda no momento adequado. Avaliação cumulativa: para saber o que o aluno aprendeu. É a que se realiza no final do processo (Bofarull, 2003, p. 129,). 26 Essas avaliações referem-se tanto ao aluno quanto ao andamento dos processos de ensino e aprendizagem. Segundo, ainda, Bofarull (2003), o que deve ser avaliado, nesse momento, não são os resultados,mas o processo, etapa por etapa. Isto é, deve-se adaptar cada aspecto da estratégia à necessidade do aluno. Assim, no caso de haver falhas, elas serão sanadas antes de conduzir o aluno à etapa seguinte. As estratégias aqui propostas podem ser classificadas em três momentos: antes, durante e depois da leitura, para fins de avaliação de todo o processo. É preciso, entretanto, que o professor tenha em mente que as estratégias são úteis em todo o período em que o processo de leitura está acontecendo. Bofarull (2003), com base nesses três momentos, sugere um roteiro de observação da compreensão da leitura (Quadro 1), que pode ser útil ao professor durante a avaliação das competências em leitura a serem adquiridas pelo aluno. Nesse roteiro, as estratégias previstas para antes da leitura destinam-se a definir os seus objetivos e a permitir que o aluno construa os conhecimentos prévios necessários à compreensão do texto. Os objetivos podem ser alguns entre os vários existentes, por exemplo: ler para buscar informações geral ou específica, ler para aprender, ler para montar um jogo, e assim por diante. Smith (1999, p.125) acredita que “para aprender a ler, as crianças devem ver formas de empregar a leitura para ampliar seus objetivos e interesses”. 27 As perguntas dessa seção buscam verificar se o aluno tem interesse e motivação para ler o texto e se ele fornece algum a pista sobre o sucesso ou insucesso no desempenho dessa ação. Nessa hora, é preciso compreender que as dificuldades podem estar tanto no texto quanto nas condições preexistentes no aluno para proceder à leitura. Definindo o objetivo da leitura, torna-se fácil ativar os conhecimentos prévios necessários para compreensão do texto. Segundo Barbosa ( 1992 ), a estrutura cognitiva funciona como se fosse os conhecimentos prévios que o aluno possui. Quanto mais ricos forem esses conhecimentos, mais facilidade a criança terá em ler, interpretar e compreender o texto lido. QUADRO 1 ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DA COMPREENSÃO DA LEITURA Antes da Leitura • Que atitude emocional apresenta o leitor? • Qual é o objetivo da leitura? • Ativa o conhecimento prévio? Durante a Leitura • Usa os sinais do texto para construir o significado? • Verifica a hipótese, levanta outras novas e, existindo algum erro, reflete para encontrar sua causa? 28 • Diante das dificuldades, que recursos utiliza para superá-las? Depois da Leitura • Identifica o tema? • Identifica a idéia principal? • É capaz de ter uma compreensão literal? • É capaz de ter uma compreensão interpretativa? O conjunto de estratégias inserido no tópico durante a leitura permitirá que o aluno faça inferências - previsões, interpretações e conclusões. Aqui, ele pode verificar seu nível de compreensão enquanto lê e determinar o que fazer a respeito dos erros. Também é nesse momento que o aluno constrói significados, reconhece que os sinais dentro do texto – ordem das palavras, tipos de letras, negritos, itálicos (grifos de um modo geral ), maiúsculas – são importantes para sua compreensão. Levantamento de perguntas sobre o texto, questioná-lo para aprender, é um aspecto da aprendizagem que deve ser trabalhado intensamente com o aluno, pois é exatamente isso que lhe permitirá desenvolver o espírito científico na construção do conhecimento. 29 A etapa Depois da leitura contém um conjunto de estratégias que levará o aluno a “sintetizar, resumir, fazer esquemas, mapas conceituais e ampliar o conhecimento inicial” (Bofarull, 2003, p. 133 ). Esse roteiro é individual e deve conter as observações sobre o aluno e o andamento do processo, visando detectar as falhas, adequar o processo ao leitor-aprendiz e melhorar a aplicação das estratégias do processo de leitura. Resumindo, ao leitor-aprendiz devem ser propostos textos conforme seu desempenho, dentro do processo de aprendizagem. A importância disso está em não lhe apresentar desafios acima de sua capacidade e, então, concluir que o problema de compreensão é do aluno e não do texto. Se as complexidades que um texto pode manifestar forem dosadas e apresentadas ao leitor iniciante, gradativamente, a criança será capaz de vencer a tarefa de aprendizagem da leitura com mais tranqüilidade depois compreenderá o que lê e poderá crescer passo a passo. Isso significa melhorar a legibilidade dos textos didáticos, favorecer sua compreensão e assim facilitar o aprendizado da leitura. A legibilidade é definida como uma interação entre o leitor e o texto ou, mais especificamente, entre o conhecimento prévio do leitor e a informação que ele capta do texto. Um texto é mais legível na medida em que permite ao leitor usar maximamente as estratégias de compreensão de que dispõe Barbosa ( 1992). 30 Os níveis de leitura propostos por Medeiros (1997) e as estratégias de Bofarull (2003) organizam de uma forma didática o processo, como ele acontece. Em cada um deles, a meta primeira a ser atingida é a compreensão do texto, sabendo-se que cada tipo de leitor. Inclui-se, também, como meta a ser alcançada, pelo uso das várias estratégias, a formação de um leitor competente, capaz de transitar livremente, de forma autônoma tanto nos quatro níveis de leitura como nos três grupos de estratégias, apresentados respectivamente por Medeiros (1997) e Bofarull (2003). Esse leitor aceita ler o texto indicado, mas não se fixa a ele; busca, dentro do mesmo tema, outros materiais de leitura, outras informações. Ler muito passa a ser, portanto, uma característica relevante na formação de um bom leitor, sendo possível acontecer em qualquer idade. 31 CAPÍTULO II DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM As dificuldades de aprendizagem podem afetar toda a vida das pessoas, não podendo restringir à infância a manifestação desse fenômeno. Com isso, deixamos claro que não só as crianças podem ter seu dia-a-dia afetado pelas dificuldades de aprendizagem, adolescentes e adultos também podem passar por tal situação. Em sua definição, kirk aponta: “Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagem, leitura, escrita, aritmética ou outras áreas escolares, resultantes de um handicap causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração emocional ou condutal. Não é o resultado de retardamento mental, de privação sensorial ou fatores culturais e instrucionais.” (Kirk aput Jésus N. Garcia,1998, p.8) 2.1 Tipos mais freqüentes de dificuldades de aprendizagem Vamos agora abordar os tipos mais freqüentes de dificuldade de aprendizagem, relacionados com o tema dessa pesquisa. 32 Smith e Strick em “Dificuldades de Aprendizagem de A a Z” salientam o fato de que crianças com dificuldade de aprendizagem comumente estão lutando em uma ou mais de quatro áreas básicas que evitam o processamento adequado de informação: atenção, percepção visual, processamento da linguagem e coordenação muscular. Sabemos que essas áreas são imprescindíveis à aprendizagem, na medida em que fornecem as condições necessárias ao processamento adequado das informações. Buscaremos, agora, introduzir os quatro tipos de deficiências de processamento de informações que podem causar uma dificuldade de aprendizagem: aquelas que afetam a atenção, a percepção visual, o processamento de linguagem e as habilidades motoras finas. 2.1.1 Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade Trata-se de um padrão de conduta que as crianças e adolescentes apresentam em relação a dificuldades no desenvolvimento da manutenção da atenção, controle de impulsos, assim como a regulagem da conduta motriz em resposta às demandas da situação. “...Os sintomas primários seriam a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade além de outros sintomas...”(Jesus N. Garcia, 2001, p.74). Os déficits da atenção ocorrem com ou sem hiperatividade. Podemos falar de três tipos: o predominantemente desatento, o predominantemente 33 hiperativo, e o combinado. O tipo predominantemente desatento apresenta sintomas como: - dificuldade de prestar atenção em detalhes, de manter atenção nas tarefas ou lazer: de seguir instruções e terminar tarefas, dificuldade para se organizar, evita ou reluta a fazer tarefas que exijam esforço mental constante, etc. O tipo predominantemente hiperativo apresenta sintomas como: - agitação (mãos e pés), mexe-se na cadeira, levanta-se quando deveria permanecer sentado, sensações subjetivas de inquietação, dificuldade de ficar em silêncio, fala demasiadamente, tem dificuldade para aguardar a sua vez de falar, interrompe os outros, etc. Para se chegar a um diagnóstico de TDAH é necessária uma avaliação completa e cuidadosa, ou seja, uma escolha educacional inapropriada também pode levar a um comportamento desatento. 2.1.2 Deficiência da Percepção Visual Aqui o problema não é de visão, mas sim do modo como o cérebro processa as informações visuais. Estudantes com deficiência da percepção visual apresentam dificuldades para reconhecer, organizar, interpretar e/ou recordar imagens visuais, em conseqüência disso, têm problemas para entender todo tipo de símbolos (letras, palavras, números, diagramas, mapas, gráficos,tabelas). Os estudantes com problemas de percepção visual têm dificuldade com a memória visual e a visualização, tornando o aprendizado da 34 leitura dolorosamente lento, têm dificuldade para imaginar soluções para os problemas, muitas vezes têm dificuldades com as relações espaciais. A deficiência da percepção visual pode trazer transtornos na escrita, leitura e matemática . Os sintomas da deficiência da percepção visual na escrita são: - Atrasos na aprendizagem da escrita, antipatizam com a escrita e evita aprendê-la, os trabalhos escolares são incompletos, têm muitas rasuras e apagamentos, dificuldade para recordar as formas das letras e dos números, fraca ortografia (escreve foneticamente), não localiza erros no próprio trabalho e dificuldades em organizar os trabalhos escritos. Os sintomas da Deficiência da Percepção Visual na Leitura são: - Confunde letras de aparência similar (b e d; p e a), apresenta dificuldade para reconhecer e recordar palavras que vê (mas pode pronunciá-las foneticamente), frequentemente perde-se durante a leitura, confunde palavras de aparência similar, inverte palavras (lê mala por lama), tem dificuldades para encontrar letras em palavras ou palavras em sentenças, fraca memória para palavras impressas, seqüências de números, diagramas, ilustrações, etc, fraca compreensão das idéias principais e dos temas. 35 2.1.3 Deficiências de Processamento da Linguagem O maior número de estudantes identificados com problemas de aprendizagem são os que apresentam problemas com o processamento da linguagem. Eles podem ter problemas com qualquer aspecto da linguagem: ouvir palavras corretamente, entender seu significado, recordar materiais verbais e comunicar-se claramente. As dificuldades começam com a palavra falada e interferem na leitura e/ou na escrita no momento do ingresso na escola. As crianças com deficiências de processamento da linguagem podem ser lentas na aprendizagem da fala, podem ter um vocabulário menor, muitas vezes não entendem o que foi dito. Os jovens que apresentam essa deficiência também falam de um modo confuso , apresentam problemas para dominar o básico da gramática e usam palavras inapropriadas ao escrever, a memória do que foi lido (mas não realmente entendido) também tende a ser fraca. Os sintomas da Deficiência de Processamento da Linguagem na compreensão da fala e da linguagem são: - Atraso para aprender a falar, dificuldade para citar nomes de objetos ou de pessoas, utiliza uma linguagem vaga e imprecisa, a fala é lenta, a gramática é pobre, pronuncia mal as palavras, costuma usar gestos com as mãos para ajudar a transmitir a mensagem, demonstra pouco interesse por livros, histórias, não recorda instruções e, geralmente, evita falar (especialmente na frente de estranhos). 36 Os sintomas da Deficiência de Processamento da Linguagem na Leitura são: - Atrasos significativos para aprender a ler, dificuldade na citação de nomes e letras, problemas para associar letras e sons, discriminar os sons das palavras, mescla sons para formar palavras, dificuldade para analisar freqüência de sons, erros freqüentes de seqüência, lê muito lentamente, a leitura oral deteriora-se após algumas sentenças (devido ao declínio na capacidade para recuperar rapidamente sons da memória), a compreensão para o que está sendo lido é consistentemente fraca ou deteriora-se quando as sentenças se tornam mais longas e complexas, fraca retenção de novas palavras no vocabulário e evita a leitura. Os Sintomas da Deficiência de Processamento da Linguagem na Escrita são: - As tarefas escritas são curtas ou incompletas, frequentemente, caracterizada por sentenças breves, vocabulário limitado, persistem problemas com a gramática, erros bizarros de ortografia (não-fonéticos), o estudante pode ser incapaz de decifrar a própria escrita, apresentam dificuldades para oferecer detalhes, desenvolver idéias. Problemas relacionados à Deficiência de Processamento da Linguagem: - Dificuldade com o raciocínio verbal, problemas para entender trocadilhos, piadas, dificuldade para iniciar ou manter uma conversa. 37 É importante chamar atenção para o fato de que na escola, muitas crianças e jovens por apresentarem dificuldade para entender e seguir instruções, são considerados desatentos, preguiçosos ou desobedientes. É necessário que os professores possam ter acesso a materiais especiais, recurso alternativo como, livros gravados em fita. Com apoio adequado essas pessoas podem conseguir sucesso em sua vida escolar. 2.2 Transtornos Específicos do Aprendizado Os transtornos Específicos do Aprendizado podem ser descritos como: Transtorno de Leitura, Transtorno da Expressão Escrita, Transtorno da Matemática e os Transtorno da Comunicação. Apresentaremos agora, aqueles relacionados com o nosso tema: 2.2.1 Os Transtornos da Expressão Escrita : Disgrafia – Comprometimento dos aspectos grafomotores, relacionados à motricidade fina, a organização espacial. Disortografia _ Dificuldade no processo de aquisição do sistema ortográfico, envolve o processo de discriminação das letras. Transtorno da escrita _ Dificuldade que surge na produção textual, na estruturação e no desenvolvimento do texto. 2.2.2 Transtorno de Leitura: Dislexia _ Está relacionada com a compreensão, refere-se às dificuldades de processamento da informação, o que consequentemente acarreta: leitura 38 lenta e silabada, dificuldade em reconhecer palavras familiares e freqüentes, trocas nas seqüências de letras, sílabas ou palavras, e etc. 2.2.3 Transtorno da Comunicação Alterações pré–linguísticas (percepção dos sons): Disfunção do Processamento Auditivo Central, devido a essa disfunção a pessoa tem dificuldade em ouvir na presença de ruídos, distrai-se com facilidade, entende mal o que ouve, problemas de leitura e escrita, aprendizagem ineficiente pelo canal auditivo. Distúrbios de Competência Lingüística (estrutura da língua),são sintomas: falar tardiamente, dificuldade na pronúncia de fonemas, dificuldade para rimas, dificuldades com estruturas silábicas mais complexas, além de ter dificuldades para incorporar palavras novas em seu vocabulário. Distúrbio de Competência Comunicativa (estrutura do discurso): dificuldade em utilizar as regras que governam o uso da linguagem em contextos sociais. Para podermos entender as dificuldades de aprendizagem, de uma forma global, precisamos compreender como o ambiente familiar e escolar da criança pode afetá-la em seu desenvolvimento intelectual e no seu potencial para aprendizagem, sabemos que se as condições oferecidas nesses 39 ambientes forem acolhedoras, estimulantes, confiantes, podem ajudar a fazer a diferença. Segundo Smith e Strick: “Não nos surpreende que as crianças em desvantagem social e educacional também considerem mais difícil juntar recursos necessários para superarem deficiências neurocognitivas.Os alunos com dificuldade de aprendizagem normalmente usam as áreas em que são mais fortes para compensarem áreas de fraqueza, mas aqueles que não tiveram níveis adequados de estímulo e apoios em casa têm bem menos áreas de recursos às quais recorrer”.(Smith C. e Strick L.2001, p.31). 40 CAPÍTULO III Causas dos Distúrbios de Aprendizagem As questões educacionais que têm preocupado os profissionais ligados ao ensino, referem-se aos altos índices de evasão e reprovação escolar que têm sido registrados nas Escolas Municipais e Estaduais e, o grande número de crianças que têm recorrido a tratamento psicopedagógico com dificuldades de aprendizagem. Acreditamos que, a única maneira de se reverter esta situação é buscar as reais causas das dificuldades de aprendizagem. Todas as crianças têm possibilidades para aprender e gostam de o fazer e, quando isto não ocorre é porque alguma coisa não está indo bem. Neste momento, é necessário que tanto os professores como os demais profissionais responsáveis pelo processo de aprendizagem, se questionem acerca dos fatores que podem estar contribuindo para que o aluno não consiga aprender. Com base em diversas pesquisas realizadas, podem-se apontar várias causas como resonsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de evasão e reprovação escolar, tais como: _ falta de estimulação adequada nos pré-requisitos necessários à alfabetização; _ métodos de ensino inadequados; 41 _ problemas emocionais; _ falta de maturidade para iniciar o processo de alfabetização; e _ “dislexia”. Além destes fatores, também se poderiam citar: a aspécto carencial da população; as diferenças culturais e/ou sociais; fatores intraescolares (currículo, programas, sistemas de avaliação, relação professor/aluno); deficiência mental; problemas físicos e/ou sensoriais (déficits auditivos ou visuais). É importante, portanto, que exista uma preocupação em determinar precocemente a causa da dificuldade para aprender. O diagnóstico precoce do distúrbio de aprendizagem é um ponto fundamental para a superação das dificuldades escolares. Além de orientar os educadores e pais sobre a melhor forma de lidar com a criança, direciona a elaboração de programas de reforço escolar e a adoção de estratégias clínicas e/ou educacionais que auxiliem a criança no desenvolvimento escolar. Neste processo de diagnóstico o professor é um elemento que possui um papel de destaque. A ele cabe o reconhecimento das crianças com dificuldades de aprendizagem, já que é o primeiro elo no processo ensino-aprendizagem. Feito este reconhecimento inicial, a criança deve ser encaminhada a um profissional especializado com o objetivo de se determinar a causa real do “não-aprender”. 42 No entanto, deve ficar claro que a aprendizagem da leitura e da escrita é um processo complexo que envolve vários sistemas e habilidades (lingüísticas, perceptuais, motoras, cognitivas) e, não se pode esperar, portanto, que seja determinado um único fator como o responsável pela dificuldade para aprender. Na verdade, os distúrbios de aprendizagem dependem de causas múltiplas, cabendo ao profissional que realiza o diagnóstico, o evidenciamento da área mais comprometida e, consequentemente, a recomendação da abordagem terapêutica mais indicada para a superação das dificuldades. 3.1 AUSÊNCIA DE ESTIMULAÇÃO NAS HABILIDADES BÁSICAS NECESSÁRIAS À ALFABETIZAÇÃO. As análises feitas sobre os comportamentos envolvidos nos processos da leitura e da escrita, permitiram a classificação das várias habilidades básicas ou pré-requisitos necessários à alfabetização. Estes pré-requisitos podem ser definidos como determinados “conceitos” que a criança deve adquirir durante o período pré-escolar, que facilitam e permitem a aprendizagem da leitura e da escrita.A aquisição destas habilidades não se dá de forma espontânea com o decorrer do tempo. É necessário que a criança seja submetida a um treinamento programado e específico, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra. 43 Não é nosso objetivo neste item, discutir sugestões de programas de treinamento para desenvolver as habilidades básicas necessárias à alfabetização, mas fornecer justificativas à cerca da importância de cada prérequisito no processo de aprendizagem e sua relação direta com os distúrbios de aprendizagem. IMAGEM-CORPORAL : Esta habilidade, implica no conhecimento adequado do corpo. Este conhecimento abrange: o conceito de corpo – o conhecimento consciente e intelectual do corpo e da função de seus órgãos ( o conhecimento de que tem duas mãos, duas pernas, cabelo, olhos, coração, etc.); o esquema corporal – conhecimento resultante das experiências táteis e das demais sensações que provêm do corpo (o esquema corporal regula a postura e o equilíbrio); e a própria imagem corporal: que é a impressão que a criança tem de seu corpo proveniente das experiências com o meio ambiente (a imagem corporal pode ser inferida a partir dos desenhos da figura humana que a criança realiza). É através do corpo que a criança interage com o mundo. Desta forma, o conceito de imagem corporal torna-se indispensável para qualquer tipo de aprendizagem, pois é através de uma boa formação deste pré-requisito que a criança torna o seu corpo um ponto de referência estável. É o seu corpo, enquanto ponto de referência que servirá como base para a aprendizagem de todos os conceitos indispensáveis à alfabetização, tais como: em cima, embaixo; na frente, atrás; esquerdo, direito; alto, baixo; assim como permitirá o 44 desenvolvimento do equilíbrio corporal e do freio inibitório, ou seja, a capacidade da criança dominar seus atos motores de acordo com as delimitações impostas pela folha de papel, ou pelos contornos de um desenho, ou pelo ambiente. A criança que não consegue desenvolver a imagem corporal poderá ter sérios problemas em orientação espacial e temporal; na aquisição dos conceitos em cima, embaixo; dentro, fora; esquerdo, direito; horizontal, vertical, diagonal, etc; no equilíbrio postural; dificuldades de se locomover num espaço predeterminado ou escrever obedecendo aos limites de uma folha. LATERALIDADE: é o uso preferencial de um lado do corpo para a realização das atividades. Este uso preferencial refere-se ao olho, mão e pé. Assim, existem indivíduos destros que são aqueles que utilizam a parte direita do corpo (olho, mão e pé) para desenvolver e realizar as diferentes atividades.E existem indivíduos canhotos, que são aqueles que se utilizam da parte esquerda do corpo. Além destas duas classificações, também, se podem encontrar indivíduos com lateralidade contrariada, cruzada, indefinida e, ambidestros. A lateralidade contrariada, como o próprio nome indica, refere-se a pessoas, geralmente canhotos, que foram obrigados a mudar a preferência manual devido às exigências ( pressões ) sociais e/ou familiares. Fala-se em lateralidade cruzada quando não existe homogeneidade na preferência de um 45 dos lados do corpo. Por exemplo, indivíduos que têm o olho direito, a mão esquerda e o pé direito dominantes, ou indivíduos que possuem o olho esquerdo, a mão esquerda e o pé direito dominantes, e assim por diante. A diferença entre a lateralidade contrariada e a cruzada é que nesta última, não ocorreu a pressão ambiental para mudar a preferência lateral. Se essa pressão tivesse ocorrido,então, já não seria considerada cruzada mas, contrariada. Lateralidade indefinida é um termo utilizado para caracterizar crianças que ainda não se decidiram pelo uso preferencial de um lado do corpo – é esperado que a dominância lateral esteja estabelecida por volta dos 4 – 5 anos de idade. Se, a criança, após esta idade ainda não se decidiu em termos de preferência lateral é aconselhável que seja submetida a uma bateria de testes e, conforme o resultado obtido seja estimulada a utilizar um dos lados do corpo. Além disso, com base em estudos psiconeurológicos, a lateralidade indefinida é um fator, entre outros, que evidenciam uma imaturidade neurológica, isto levando-se em conta a teoria da especialização hemisferial. O termo ambidestria é aplicado a pessoas que se utilizam de ambos os lados do corpo com a mesma habilidade e destreza. A diferença entre a ambidestria e a lateralidade indefinida é que na primeira o indivíduo tem a preferência lateral definida mas, necessitando, pode utilizar-se com a mesma habilidade e destreza do outro lado do corpo. Na lateralidade indefinida, como se viu, não existe qualquer preferência lateral. 46 Quirós ( 1975 ) afirmou que não existem pessoas ambidestras. De acordo com este estidioso a ambidestria, quando encontrada, referia-se a pessoas, geralmente, canhotas que foram obrigadas a escrever com a mão direita e, como conseqüência, passaram a utilizar as duas mãos com a mesma habilidade. Hoje em dia, porêm, esta-se acreditando na possibilidade da existência de uma relação entre ambidestria e quociente de inteligência. Em outras palavras, pensa-se que, o fato de se utilizar as duas partes do corpo com a mesma habilidade, acarretaria numa maior estimulação cerebral (já que os dois hemisférios cerebrais “trabalhariam” continuamente) e, com isso, aumentariam as potencialidades intelectuais do indivíduo. Durante muitos anos pensou-se que a lateralidade indefinida, pudessem causar distúrbios de leitura, de matemática, de fala, mais precisamente gagueira, ou problemas emocionais. Hoje em dia sabe-se que as crianças que apresentam distúrbios de aprendizagem ou de fala, podem apresentar, também, esses tipos de lateralidade mas, não que os problemas que elas apresentam tenham sido causados pela lateralidade contrariada, cruzada ou indefinida. Em termos de processo de aprendizagem, constata-se que, as dificuldades que surgem nas crianças com lateralidade contrariada, cruzada e indefinida, referem-se: ao tipo de grafia (geralmente, estas crianças, apresentam grande disgrafia – letra feia); as dificuldades de orientação espacial quando utilizam a folha de papel; e, a postura inadequada para 47 escrever. Tanto as dificuldades de orientação espacial como as de postura inadequada, incidem diretamente sobre a produção gráfica da criança. CONHECIMENTO DE DIREITA E ESQUERDA: O conceito de direita e esquerda é de muita importância para o processo de alfabetização. Este conceito, intrinsecamente ligado ao conceito de imagem corporal e de lateralidade, permite à criança distinguir o lado direito e o lado esquerdo em si, nas outras pessoas e nos objetos. É esperado que por volta dos 6 ou 7 anos, a criança consiga reconhecer em si mesma estas noções. Piaget (in Quirós e Della Cella, l965), é da mesma opinião e, afirma que, a aquisição destas noções passa por três estágios progressivos. No primeiro estágio, entre os 5 e 8 anos de idade, a criança consegue distinguir direito e esquerdo nela. O segundo estágio, entre os 8 e 11 anos de idade, estas noções passam a ser percebidas do ponto de vista do outro. A criança consegue distinguir qual o lado esquerdo e direito em pessoas situadas na frente dela. O terceiro estágio, que compreende o período entre os onze e doze anos, a criança diferencia o lado esquerdo e direito nos objetos. Iniciar a aprendizagem da leitura e da escrita sem a aquisição destes conceitos, pode implicar em confusões na orientação espacial. A criança poderá apresentar dificuldades em discriminar letras que diferem quanto à posição espacial, por exemplo: b-d; p-q. 48 Uma outra dificuldade que pode aparecer é em relação ao sentido direcional da leitura e da escrita. Em nossa sociedade, a leitura e a escrita, realizam-se no sentido esquerda para a direita. A criança que não possui estas noções, tende a não respeitar esse sentido por não precisar corretamente, o lado esquerdo e direito. É comum, também, que a ausência desta habilidade, contribua para a escrita especular ou “escrita em espelho”. Esta escrita caracteriza-se pela total rotação das letras, palavras ou números. Este “espelhamento”, de acordo com as etapas de desenvolvimento das noções de esquerda e direita mencionadas anteriormente, é esperado que aconteça durante o período préescolar ou mesmo até aos 8 anos de idade.No entanto, essas dificuldades deverão ser motivo de preocupação, caso estejam presentes no momento em que se inicia a alfabetização, pois interferirão de forma negativa na associação entre letras e sons. ORIENTAÇÃO ESPACIAL: Quando se fala em orientação espacial, é necessário fazer a diferenciação entre posição no espaço e relações espaciais. Segundo Frostig e outros (l980), a posição espacial é “a relação entre um objeto e o observador”. A criança com uma boa imagem corporal pode perceber a posição que os objetos ocupam, usando como ponto de referência o seu próprio corpo. Desta forma, ela consegue discriminar as 49 diferentes posições espaciais que os objetos ocupam e, compreender e assimilar os diferentes conceitos relacionados com a posição espacial, tais como: atrás, à frente; esquerdo, direito; em cima, embaixo, etc. As crianças que iniciam o processo de alfabetização sem possuírem as noções de posição e orientação espacial, confundem letras que diferem quanto à orientação espacial e têm dificuldades em respeitar a ordem de sucessão das letras nas palavras e das palavras nas frases. Outras dificuldades que podem ocorrer à ausência desses prérequisitos são: dificuldade em locomover os olhos durante a leitura, obedecendo ao sentido esquerdo-direito e salto de uma ou mais linhas. Com relação ao meio ambiente, a criança pode apresentar sérias dificuldades para se organizar, espalhando os seus utensílios escolares ou roupas, de forma desordenada, esbarrando nos objetos ou nas pessoas quando se locomove e, indecisões quando tem de se desviar de um obstáculo não sabendo para que lado ir, etc. ORIENTAÇÃO TEMPORAL: Enquanto a orientação espacial está sempre relacionada às atividades visuais, a orientação temporal relaciona-se à audição. Segundo Condemarín e Blomquist (l970), quando se fala em tempo, sempre se engloba dois conceitos fundamentais: duração e sucessão. Todos os fatos que ocorrem no tempo, apresentam uma certa duração (curta-longa 50 média) e uma determinada sucessão, ou seja, uns acontecem antes e outros depois. Além da criança precisar captar e discriminar a duração e a sucessão dos sons, ela precisa, também, dominar determinados conceitos temporais, tais como: ontem, hoje, amanhã, dias da semana, meses, anos, horas, estações do ano, etc. A consciência destes conceitos vai permitir que a criança se oriente no tempo durante a realização das atividades. A ausência do pré-requisito orientação temporal, pode causar dificuldades na pronúncia e na escrita de palavras, trocando a ordem das letras ou invertendo-as (incapacidade de respeitar a duração e a sucessão das letras dentro da palavra falada); dificuldade na retenção de uma série de palavras dentro da sentença e, de uma série de idéias dentro de uma estória; má utilização nos tempos verbais; e problemas na correspondência dos sons com as respectivas letras que os representam, especialmente quando se trata de realizar ditado. RITMO: Esta habilidade está muito relacionada com o fator tempo, pois o ritmo consiste numa sucessão de elementos sonoros no tempo e que obedecem a uma determinada duração. A importância de se trabalhar o ritmo durante o período pré-escolar é de fornecer à criança, a percepção da ocorrência dos sons e das pausas (duração e sucessão). A falta de habilidade rítmica, pode ser a causa de uma leitura lenta e silabada, já que a leitura é 51 constituída por uma sucessão de elementos gráficos que são traduzidos em elementos sonoros.A pontuação e a entonação que a criança dá durante a leitura de um texto, também são conseqüências da habilidade rítmica. Em relação à escrita, as dificuldades de ritmo, podem contribuir para o fato da criança não respeitar os espaços em branco entre as palavras, escrevendo duas ou mais palavras unidas; dificuldades no ordenamento das letras dentro das palavras, ocasionando omissões, ou adições de sílabas; e falhas na acentuação das palavras, especialmente durante a leitura. ANÁLISE-SÍNTESE VISUAL E AUDITIVA: Este é um dos prérequisitos mais importantes para a aprendizagem da língua escrita. A língua portuguesa é uma língua alfabética, ou seja, cada letra representa um determinado som. Desta forma, a leitura inicial ou decodificação das palavras impressas em um livro, geralmente ocorre através de um processo analíticosintético. A criança, ao ver uma palavra, deve decompô-la em suas partes constituintes (análise) e recompô-la, unindo as partes ao todo (síntese). Exemplo: palavra visualizada: CAMISA Análise: CA-MI-SA Síntese: CAMISA As crianças que apresentam dificuldades no processo analíticosintético, poderão ter problemas em conseguir dominar o arranjo das letras ou 52 sílabas para formar outras palavras, ou seja, reconhecer as sílabas que se repetem em várias palavras diferentes e consequentemente, formar novas palavras. Além disso, as crianças dificilmente conseguirão fazer a correspondência entre cada som e seu respectivo grafema (letra) que o representa. HABILIDADES VISUAIS ESPECÍFICAS: O perfeito funcionamento dos olhos, já é, por si só, um pré-requisito muito importante para o aprendizado da leitura e da escrita. Além do sistema visual intacto, é de suma relevância que a criança em idade pré-escolar, seja submetida a um treinamento específico em: percepção e discriminação de semelhanças e diferenças; constância de percepção de formas e tamanhos; percepção de figura-fundo e memória visual. -PERCEPÇÃO E DISCRIMINAÇÃO DE SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS: Ao aprender a ler, a criança tem de prestar atenção e assimilar tanto os detalhes internos das palavras (letras), como a configuração geral da palavra, bem como a relação das partes com o todo – relação das letras e sílabas com as palavras. As crianças que tendem a confundir símbolos gráficos que parecem semelhantes, têm dificuldades em perceber os detalhes das letras e a configuração geral das palavras, podendo apresentar trocas durante a leitura, entre: o – e;a – o; c – e; f – t; h – b; n – u etc, pois não conseguem ver no quê essas letras são diferentes. Desta forma, as crianças podem ler “feme” 53 em vez de “fome”, pois o que distingue a letra “o” da “e”, é que a primeira não tem a segmentação central e é totalmente fechada. -CONSTÂNCIA DE PERCEPÇÃO DE FORMA E TAMANHO: É a capacidade de se perceber que um determinado objeto permanece inalterado apesar da posição que ocupa no espaço, se está perto, longe ou independente do ângulo que é percebido. Crianças com dificuldades em perceber a constância de tamanho e de forma, poderão apresentar dificuldades no reconhecimento de palavras ou letras aprendidas, mas inseridas em contextos diferentes e desconhecidos, ou quando escritas em tipos diferentes de grafia, manuscrita / impressa. -PERCEPÇÃO DE FIGURA-FUNDO: Na interação com o meio ambiente somos “bombardeados” por uma grande quantidade de estímulos tanto a nível visual, como a nível auditivo, ou tátil. Mas nem todos esses estímulos são percebidos significativamente, pois nosso cérebro faz uma seleção do que deverá ser percebido e assimilado e aquilo que deve ser descartado. Esta seleção, é feita de acordo com o nosso interesse do momento. Em relação a escrita, a criança poderá ter dificuldade em dirigir sua atenção para uma palavra ou grupo de palavras dentro de um texto ou para letras dentro das palavras. Neste caso, as palavras ou letras serão 54 percebidas de forma confusa o que dificultará bastante a compreensão do que é lido ou escrito. Num caso mais específico, as crianças poderão ter problemas em perceber com exatidão as letras e palavras impressas numa folha, pois a sua atenção perceptiva pode alterar-se entre as palavras impressas e o branco da folha. -MEMÓRIA VISUAL: É a capacidade do indivíduo reter com exatidão,a longo ou a curto prazo, uma série de estímulos apresentados visualmente. A memória visual está em íntima relação com a atenção e com a figura-fundo. Se existem falhas na discriminação de figura-fundo e a atenção é dispersa, pouco ou nada se conseguirá memorizar. Em termos de aprendizagem, a memória visual desempenha um papel muito importante, pois permite que a criança forme uma imagem visual das palavras o que facilita o reconhecimento rápido e instantâneo dos símbolos impressos durante a leitura. Na escrita, permite a utilização correta da grafia ao escrever palavras formadas por letras, cujos sons podem ser representados por duas ou mais letras diferentes, exemplo: o som – sa – pode ser representado tanto pela grafia “ça” como pela grafia “sa”. A escolha correta de uma ou outra grafia depende do fato da palavra a ser escrita, estar ou não retida em nossa memória visual. 55 ACOMPANHAMENTO VISUAL: Esta habilidade refere-se ao deslocamento Para que a leitura e a escrita se produzam com exatidão, é necessário, que os dois olhos convirjam para o mesmo ponto, ou seja, a criança deve possuir uma boa visão binocular. Se por qualquer motivo, houver um desvio ocular – os dois olhos não conseguem convergir para o mesmo ponto – então, a criança enfrentará sérios problemas para ler e escrever, pois as palavras serão vistas de forma confusa e tremida. No início da aprendizagem, a criança move os olhos de forma desordenada e em qualquer direção. Neste sentido, os olhos precisam ser exercitados a seguir determinados traçados e direções. No nosso sistema de leitura e de escrita, os olhos devem deslocar-se no sentido da esquerda para a direita. Nesse movimento, ocorrem saltos mais ou menos longos, dependendo da habilidade de ler de cada leitor. Entre um salto e outro, os olhos dão uma parada de curta duração. Estas paradas são chamadas de ponto de fixação e é neste momento que realmente se faz a leitura. No início da alfabetização, os pontos de fixação ao longo da linha ocorrem em número bastante elevado, mas à medida que o leitor vai dominando o processo de ler, o número de pontos de fixação vai diminuindo 56 consideravelmente. O leitor adulto, pode englobar de uma só vez, várias palavras ou mesmo várias frases. Além do grande número de pontos de fixação, que são observados nos leitores principiantes, também se pode perceber com certa freqüência várias regressões. As regressões, implicam no retrocesso dos olhos ao longo da linha e estão relacionados com as dificuldades em identificar palavras ou com a não familiarização com o texto escrito. Nas crianças com dificuldades para ler, encontram-se dados idênticos aos descritos para os leitores iniciantes. Tanto o número de fixação como o número de regressões, é bastante elevado. Estas dificuldades relacionadas ao movimento ocular, são as causadoras de uma leitura lenta e silabada caracterizada por inversões, omissões e adições de letras, sílabas ou palavras. Ao mesmo tempo, é comum que as crianças que não conseguem manter o movimento dos olhos ao longo das linhas, se percam no meio do texto, leiam várias vezes a mesma linha ou palavra, ou apresentem saltos de uma ou duas linhas quando têm que mudar de frase. Na escrita, os problemas de movimento ocular incidem diretamente na realização motora de letras, palavras ou figuras, devido à falta de coordenação entre os movimentos dos olhos e os movimentos da mão. 57 COORDENAÇÃO VISO-MOTORA: Este pré-requisito implica na completa integração entre a visão e os movimentos do corpo. Nas atividades motoras de correr, chutar,pular, são os olhos que dirigem os movimentos dos pés (Frostig e outros, 1980). Já nas atividades de arremessar uma bola com a mão, de escrever, de recortar, de desenhar, são os olhos que dirigem os movimentos das mãos. As crianças que não conseguem coordenar os movimentos dos olhos com os movimentos dos membros inferiores, apresentam muitas dificuldades nas atividades de correr, chutar e saltar. Já as crianças não conseguem coordenar os movimentos da mão com o movimento ocular, terão dificuldades em todas as atividades que envolvem a coordenação viso-motora, olho-mão. Na escrita, a reprodução ou a elaboração de letras, palavras ou figuras, torna-se algo impossível de ser realizado, pois os movimentos motores da mão, não são guiados pela visão.As crianças que apresentam estas dificuldades, quando têm que realizar qualquer tipo de traçado, ficam sem saber por onde iniciar a execução gráfica para obterem o símbolo gráfico visualizado. MEMÓRIA CINESTÉSICA: É a capacidade da criança reter os movimentos motores necessários à realização gráfica, medida que a criança entra em contato com o universo simbólico (leitura e escrita), vão ficando retidos em sua memória, os diferentes movimentos necessários para o traçado 58 gráfico das letras. A memorização desses movimentos motores, permite a acumulação das experiências motoras e impede o constante reaprender. No início da aprendizagem da escrita, a criança esquece constantemente o traçado que deve ser realizado para executar uma letra. Neste período, é comum o uso de apoios visuais que indicam por onde iniciar o traçado do grafema e que movimentos devem ser feitos .Aos poucos, estes apoios vão sendo esvanecidos e, o movimento gráfico para realizar as letras, vai ficando registrado na memória cinestésica. LINGUAGEM ORAL: Se, partimos do princípio de que, a leitura e a escrita são os últimos estágios de desenvolvimento da linguagem e que, a linguagem oral é uma etapa anterior à linguagem escrita, então a linguagem oral,constitui um pré-requisito que serve de alicerce à aprendizagem gráfica. Quando se fala em linguagem oral, é preciso distinguir: a pronúncia; o vocabulário; e a habilidade de formular frases (sintaxe oral). Estas três modalidades, dentro da linguagem falada, merecem uma atenção especial. -PROLAÇÃO OU PRONÚNCIA: A prolação correta de palavras ou frases, é um pré-requisito muito importante para a aprendizagem da linguagem escrita e, deve ser avaliada de acordo com a idade cronológica da criança e de seu estágio de desenvolvimento. 59 Tomando por base o que foi afirmado quando se definiu a leitura e a escrita, ou seja,que a leitura é antes de tudo, a correspondência entre o símbolo impresso e o respectivo som, e a escrita é a codificação dos elementos sonoros para os gráficos, a criança que apresenta dificuldades em pronunciar corretamente as palavras, poderá vir a encontrar sérios obstáculos no aprendizado da leitura e da escrita. Por outro lado,se a criança apresenta problemas em associar os sons que ouve, com os movimentos articulatórios necessários à sua reprodução oral, pode-se esperar, que também apresente dificuldades em associar os sons falados e ouvidos aos movimentos gráficos que os representam na linguagem escrita. -VOCABULÁRIO: È a capacidade de falar palavras conhecendo seu significado com base na própria experiência. Havia-se afirmado que a leitura não é apenas, o relacionamento da palavra impressa ao respectivo som, mas a compreensão do que está sendo decodificado. È neste sentido, que o vocabulário desempenha um papel relevante na percepção do significado do que é lido. Crianças que apresentam um reduzido vocabulário oral, poderão apresentar problemas na compreensão dos materiais lidos, porque nem tudo o que a criança vai conseguir decodificar terá correspondência com a sua experiência vivida. Desta forma, a leitura torna-se uma atividade cansativa, pois o vocabulário da criança não é suficiente para permitir que haja uma compreensão e uma assimilação do conteúdo gráfico que é “lido”. De acordo com Quirós e Della Cella (l965), ao ingressar na etapa de alfabetização, uma criança deve ter um vocabulário compreensivo – 60 palavras que a criança fala e compreende o seu significado – de 2.500 palavras, o que lhe permite um bom desempenho a nível de aprendizagem. 3.2 REALISMO NOMINAL LÓGICO A língua portuguesa caracteriza-se por ter um sistema de escrita alfabética – cada som emitido é representado por uma determinada letra. Desta forma, a palavra falada, que é uma seqüência de sons, é representada graficamente por uma seqüência de letras, na qual, cada forma gráfica corresponde a uma forma sonora. Mas, para que se compreenda esta relação, entre palavra falada e palavra escrita, é necessário que a criança tenha ultrapassado uma certa fase do desenvolvimento cognitivo, que é chamada de realismo nominal lógico. Para melhor se compreender o que é a fase do realismo nominal, tome-se como exemplo duas palavras: “formiga e boi”. A primeira palavra, enquanto seqüência sonora, é considerada grande. Já a palavra “boi”, por ter apenas três letras em sua constituição, é considerada pequena. Ao mesmo tempo,ambas as palavras tem um significado, representam dois animais diferentes. No que tange à palavra “formiga”, esta representa um pequeno inseto. A palavra boi”, por outro lado, representa um animal de grande porte. Vemos portanto, que não existe qualquer relação entre o tamanho das palavras e os animais que elas representam. No entanto, em determinada fase do desenvolvimento cognitivo, a criança elabora a hipótese de que se a palavra é 61 grande, enquanto seqüência de sons, devendo representar uma “ coisa “ grande. Se a palavra é pequena, deverá representar uma “ coisa “ pequena. Neste caso , afirma-se que existe uma confusão entre a palavra falada e o objeto ou significado que ela representa. Dentro desta elaboração mental, a criança também acredita que objetos semelhantes devem ter nomes semelhantes e que, objetos diferentes devem ter nomes distintos. Esta fase de desenvolvimento cognitivo é chamada fase do realismo nominal lógico. Muitos estudos foram realizados acerca da relação entre palavra falada e escrita, mas coube a Piaget em 1967, o estudo detalhado do realismo nominal e, foi com base neste estudo que Carraher e Rego apoiaram suas investigações sobre a possibilidade do realismo nominal lógico, ser um obstáculo na aprendizagem da leitura e da escrita (Carraher e Rego, 1981; Rego 1983). De acordo com as investigações das referidas autoras, o realismo nominal lógico foi analisado através de um questionário o qual, avaliava o nível de distinção entre palavra falada e significado, tanto em relação ao tamanho das palavras como em relação às semelhanças entre palavras. Os resultados obtidos, permitiram que se diferenciassem três estágios do desenvolvimento cognitivo. 62 No primeiro estágio, encontram-se as crianças que ainda não superam a fase do realismo nominal. Para elas, palavras grandes representam coisas grandes e, palavras pequenas representam coisas pequenas.Da mesma forma, acham que objetos semelhantes têm nomes parecidos e, objetos diferentes, nomes distintos. Como exemplo desta fase de desenvolvimento, observem-se as respostas dadas por uma criança de 7 anos de idade, cursando a Fase I do Ciclo Inicial de Alfabetização, e que não sabe ler nem escrever. Professora: Diga palavras grandes. Criança: Pa-pa-i; Ma-ma-i; Ti-ti-o; Me-sa P.: Diga palavras pequenas. C.: Ca-ne-ta; Sa-la; Lu-va. P.: Porque - Papai e Mamãe -são palavras grandes? C.: Porque têm acento./ O acento ao qual a criança se refere é o alongamento que é feito no final das palavras./ P.: Qual é a palavra maior - Boi ou Aranha ? C.: É Boi. P.: Por que a palavra - Boi - é maior que a palavra – Aranha? C.: Porque o Boi é grande. O segundo estágio, que é considerado uma fase intermediária entre a primeira e a terceira fase, engloba o grupo de crianças que já percebem a palavra como seqüência sonora e independente . 63 P.: Diga palavras pequenas. C.: Gato, Dedo. P.: Por que – Gato e Dedo – são palavras pequenas? C.: Porque têm poucas palavras. Ga-to (têm só duas palavras). De-do (também tem duas). P.: Qual a palavra maior – Trem ou Telefone? C.: Telefone. Te-le-fo-ne (tem quatro palavras), Bo-i (tem duas palavras). P.: Diga uma palavra parecida com –Bola. C.: Bota. Porque tem –bo e bo. Os resultados finais da pesquisa realizada por Carraher e Rego, foram muito significativas, pois permitiram estabelecer uma relação positiva entre a superação da fase do realismo nominal lógico e o desempenho em leitura. De acordo com esses resultados as crianças que se encontravam no terceiro estágio de desenvolvimento apresentaram, no final do ano, uma leitura correta, inclusive lendo sons que ainda não haviam aprendido. No entanto, as crianças que se situavam na fase do realismo nominal, apresentaram grandes dificuldades para decodificar as palavras escritas – mesmo aquelas que já haviam sido ensinadas. A leitura dessas crianças era hesitante e não conseguiam realizar o processo de análise-síntese. Verificou-se, também, neste grupo, quando havia o reconhecimento das palavras, este ocorria baseado na memória e, portanto, o reconhecimento não era generalizado para outras situações. Apesar da criança se mostrar capaz de ler – dado – e – faca, não conseguia ler – fada –(Rego 1983). 64 Estas pesquisas relatadas, vieram a comprovar que as crianças elaboram hipóteses acerca da escrita e, essas hipóteses, estão de acordo com a fase de desenvolvimento cognitivo na qual elas se encontram. Neste sentido, o sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita, não é, apenas fruto de um treinamento de habilidades, mas implica também, na superação de um determinado obstáculo cognitivo: o reslismo nominal lógico. Só quando a criança compreende a relação entre palavra falada e escrita e, percebe a palavra falada independente das características do objeto que representa, conseguirá acompanhar com facilidade o processo de alfabetização. 3.3 FATORES EMOCIONAIS È rara a pesquisa sobre Distúrbios de Aprendizagem que não cita a relação existente entre dificuldades para aprender a ler e escrever e fatores emocionais. As pesquisas divergem, no entanto, na forma como enfocam a área emocional. Algumas linhas teóricas defendem a idéia de que, determinados transtornos emocionais que as crianças com distúrbios de aprendizagem apresentam, são a causa do fracasso escolar, enquanto que outras linhas defendem que, a problemática emocional é conseqüência do fracasso escolar. 65 Entre os autores que admitem a hipótese de que os transtornos emocionais precedem e causam as dificuldades para aprender encontramos Albert Harris e Monrõe. Albert Harris, (in Condemarín e Blomquist, 1970), descreve dez diferentes classes de problemas emocionais como causas que contribuem para as deficiências de aprendizagem. Nesta classificação, faz-se notória a agressividade da criança dirigida à figura paterna e ao professor enquanto autoridades; os condicionamentos negativos para a leitura – quando esta é apresentada de forma desagradável e pouco motivadora; desatenção e inquietude frente à situação escolar geradora de tensão. Monroe em 1935 (in Downing e Thackray, l974) elaborou também uma lista das possíveis causas dos transtornos emocionais que podem preceder às dificuldades para aprender. Nessa lista destacam-se: 1-Os pais que super-protegem a criança criando uma relação de dependência dela com os adultos, o que transforma a aprendizagem numa tarefa impossível de ser realizada sozinha. 2-O processo de aprendizagem exige padrões fixos e sistemáticas de comportamento para que as tarefas escolares sejam cumpridas. Crianças com dificuldades em aceitar limites poderão ter problemas para se adaptarem ao sistema eduacacional que exige determinadas regras. 66 3-Exigências sociais (escolares e de pais) para que a criança realize as funções simbólicas de ler e escrever antes que tenha condições físicas, emocionais e cognitivas para fazê-lo. Estas exigências podem desenvolver sentimentos de fracasso e ressentimento que impedem o progresso normal de aprendizagem. Está demonstrado também, que tanto a angústia como a depressão, diminuem a eficiência da aprendizagem (Condemarín e Blomquist, l970). A perda de um ente-querido ou mesmo de um animal de estimação, podem ocasionar estados depressivos que impedem a criança de se envolver no sistema eduacional.Da mesma forma, crianças com um nível muito alto de ansiedade em relação ao processo de ensino, podem apresentar dificuldades para aprender, pois seu estado permanente de tensão não lhes permitem prestar atenção e participar das aulas. A oposição entre escola e atividade lúdica, em nosso sistema educacional, pode ser outro fator que impede que a criança se desenvolva educacionalmente. A diminuição da liberdade e da atividade lúdica, no momento em que a criança ingressa na escola , pode ser sentida como uma forma de repressão e, ter como conseqüência a oposição da criança para se integrar ao ambiente escolar. Entre os autores que defendem a idéia de que os transtornos emocionais são a conseqüência do fracasso escolar, destaca-se Schonell. 67 Segundo este autor, “... dos efeitos mentais do fracasso surgem a maioria das perturbações emocionais. Para os alunos a sensação do fracasso frente aos companheiros, professores e pais, é uma pesada carga e, com o tempo, não só destroem a confiança em si mesmos, mas criam uma apatia e uma insatisfação que fazem com que a criança repudie a leitura e busque o êxito em outro ponto”, Downing e thackray,( l974). É importante ressaltar a relação íntima entre qualquer tipo de aprendizagem e as emoções positivas ou negativas que daí surgem, dependendo do sucesso ou do fracasso na tarefa de aprender. Na verdade, torna-se muito difícil estabalecer rapidamente e com precisão, salvo em determinados casos clínicos bem delimitados, quando os transtornos emocionais precedem ou causam distúrbios de aprendizagem. Para se chegar a essa conclusão, é necessário um estudo detalhado da personalidade da criança e de seu comportamento, assim como da dinâmica familiar e social, na qual ela se encontra inserida. 3.4 DISLEXIA A partir do século XIX, passou-se a dar mais atenção às crianças com problemas de leitura e que não apresentavam fracassos nas demais disciplinas escolares, nem possuíam quaisquer deficiências que pudessem explicar as dificuldades para ler. Desse período até aos nossos dias, muitas descrições de crianças com problemas de leitura e muitas definições foram 68 formuladas. De acordo com as experiências e bases teóricas de cada autor, foram propostas várias designações que pudessem identificar e descrever as crianças portadoras de distúrbios de leitura e explicar o seu fracasso. Mas a cada teoria desenvolvida não faltaram as críticas e a oposição de uma outra linha teórica. 3.4.1 DESIGNAÇÕES MAIS COMUNS DADAS À DISLEXIA _ CEGUEIRA VERBAL CONGÊNITA: Este termo foi usado em l896 por Pring Morgan para caracterizar um rapaz de 14 anos de idade que não conseguia aprender a ler e a escrever, apesar de sua visão normal. Segundo este autor, o caso representava um exemplo típico de cegueira verbal congênita, pois as dificuldades para ler e escrever que o adolescente apresentava eram decorrentes de um desenvolvimento defeituoso do “girus angularis” – giro cerebral localizado no lóbulo temporal e responsável pela leitura. Contrária a esta designação, encontramos as opiniões de Downing e Thackray(l974) que afirmam que é improvável que exista uma área cortical ou um determinado centro específico no cérebro que seja o responsável pelo ato de ler. _DISLEXIA GENÉTICA: Foi realizada uma pesquisa com 276 crianças consideradas disléxicas, comparando-as com um grupo de crianças normais.Chegou à conclusão de que a dislexia se devia a um fator herediário, 69 pois em 80% dos casos encontrou-se pais, avós, tios, ou alguns irmãos das crianças disléxicas, que também apresentavam ou apresentaram alguma dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita. Baseado nesta teoria, Condemarín e Blomquist,( l974), elaborou um conjunto de premissas para diferenciar a dislexia das demais causas das dificuldades de leitura. a) As dificuldades para ler e escrever, persistem até à idade adulta. b) Observam-se dificuldades para ler e escrever em demais membros da família, o que leva a supor o caráter hereditário do distúrbio. c) As trocas que a criança apresenta na leitura e na escrita são típicas da dislexia (trocas visuais, auditivas, omissões, inversões etc.) Pesquisadores afirmam que o estudo feito com crianças disléxicas e suas famílias, encerra um erro, já que as famílias e as crianças disléxicas compartilhavam do mesmo ambiente social. Neste sentido, fica difícil de estabelecer o que é herdado geneticamente e o que é aprendido socialmente. Por outro lado, pais que não lêem bem, não poderão organizar um ambiente de leitura adequado para seus filhos e, por este motivo, pode-se esperar que essas crianças também encontrem dificuldades para aprender e desenvolver os atos de ler e de escrever. 70 _DISTÚRBIOS PSICONEUROLÓGICOS: Termo usado por Johnson e Myklebust (1983) e outros, para caracterizar as dificuldades para aprender decorrentes de uma disfunção cerebral a nível de sistema nervoso central. É importante ressaltar, no entanto, que independente do tipo de aprendizagem, os distúrbios para aprender ocasionados por uma disfunção neurológica, equivalem apenas a uma dificuldade para ler, passível de reeducação e, nunca a uma incapacidade para aprender. (Johnson e Myklebust, l983). De acordo com Quirós e Della Cella (l965), quando existem distúbios neurológicos na criança disléxica, estes referem-se à Disfunção Cerebral Mínima (DCM), a qual se caracteriza por: 1 – HIPERATIVIDADE: Este sintoma manifesta-se pela incapacidade da criança frear os impulsos frente aos estímulos ambientais. Desta incapacidade resulta o fato da criança estar sempre em constante movimento e não conseguir se concentrar por muito tempo numa mesma atividade. No entanto, é importante salientar que Disfunção Cerebral Mínima não é sinônimo de hiperatividade. Podem existir crianças DCM e que apresentam um comportamento hipoativo, ou seja, não reagem à estimulação ambiental caracterizando-se por seus comportamentos apáticos. 71 2 – PERTURBAÇÕES PERCEPTUAIS: Dificuldades perceptivas a nível de análise-síntese e figura-fundo. 3 _ PERSERVERAÇÕES: Grandes dificuldades de passar de uma atividade para outra 4 _ PERTURBAÇÕES DE IMAGEM CORPORAL: Manifestam-se pelas dificuldades de fazer representações corporais e de orientar o corpo no espaço. 5_ SINAIS NEUROLÓGICOS: Existência de certos reflexos primitivos que não deveriam mais existir e perturbações no eletroencefalograma. No entanto, a ausência de perturbações no EEG, não nega a DCM. Em relação ao eletroencefalograma, Quirós afirma que as crianças disléxicas não apresentam modificações de EEG que possam ser classificadas como típicas da dislexia. 6_ MOTRICIDADE: As dificuldades apresentadas nesta área, podem ser encontradas nos atos motores de correr, ficar parado num pé só, e defeitos a nível fonoarticulatório. 72 No entanto, nos exames neurológicos tradicionais, não se têm encontrado anormalidades significativas que possam explicar as dificuldades para aprender. Já nos exames neurológicos evolutivos, pode-se perceber distúrbios relacionados com a imagem corporal, noções espaciais, sentido de direção, ritmo, mas não se pode afirmar que esses distúrbios sejam peculiares à criança disléxica, pois podem ser encontrados também em crianças sem dificuldades para ler ou não estarem presentes em adolescentes disléxicos (Santos, 1979). _DISLEXIA ESPECÍFICA DE EVOLUÇÃO: Designação utilizada por vários autores para caracterizar crianças com sérias dificuldades para ler e escrever. Chama-se de “evolução”, pois os sintomas que a criança apresenta tendem a desaparecer com o tempo; e “específica” visto as dificuldades da criança delimitarem-se ao campo da leitura e da escrita. Segundo Quirós (l975), quando se fala em dislexia específica de evolução, supõe-se um quadro com “perturbações perceptivos cognitivas que dificultam a aquisição da leitura e da escrita”. De acordo com o autor, a dislexia específica da evolução, pode ser facilmente confundida com outros quadros que apresentam dificuldades de aprendizagem associadas à fala e à postura. Por esta razão, Quirós, elaborou 73 17 itens diferentes com o objetivo de facilitar o diagnóstico da criança disléxica. Entre esses itens, ressaltam-se, além das sérias dificuldades para ler e escrever, a presença do fator hereditariedade, perturbações da imagem corporal, de noções espaciais, de lateralidade, de coordenação visomotora, transtornos emocionais etc. Apesar das dificuldades de diagnóstico, o termo “dislexia específica de evolução” tem a vantagem de definir e delimitar consideravelmente as crianças e adolescentes considerados “disléxicos”. 3.4.2 CONCEITO DE DISLEXIA Se encontramos opiniões diferentes e discordantes , num tópico todos os estudiosos concordam, ou seja, que a dislexia é um termo que se refere às crianças que apresentam sérias dificuldades de leitura e, consequentemente de escrita, apesar de seu nível de inteligência ser normal ou estar acima da média. Por outro lado, a criança disléxica não apresenta distúrbios a nível sensorial ou físico, a nível emocional, ou desvantagens sócioeconômicas, culturais ou instrucionais, que possam ser consideradas causas das dificuladades para ler, é alguma das variáveis citadas acima, então não podemos falar em dislexia. Partindo deste princípio, fica claro que, o diagnóstico da criança disléxia é muito complexo, envolve várias áreas e, na maioria das vezes, é necessária a opinião de diferentes profissionais para se conseguir um diagnóstico perfeito. 74 Segundo Johnson e Myklebust (l983), a dislexia raramente é encontrada de forma isolada. As dificuldades severas para ler e escrever corretamente a língua falada, encontram-se associadas a outros distúrbios, tais como: _ DISTÚRBIOS DE MEMÓRIA: Os distúrbios de memória, podem ocorrer tanto a longo como a curto prazo. A criança pode ter dificuldade para recordar o que aconteceu num momento anterior (curto prazo), como o que aconteceu a vários dias (longo prazo). Quando se fala em memória, principalmente relacionada à leitura e à escrita, temos que diferenciar a memória visual e a memória auditiva. Geralmente, a criança disléxica apresenta deficiências apenas em um nível de memória, mas pode-se encontrar crianças disléxicas com dificuldades tanto a nível de memória auditiva como em memória visual. Crianças com problemas de memória auditiva caracterizam-se pela incapacidade de recordar os sons das letras ou relacionar os diferentes sons para formar palavras. Já as dificuldades a nível visual, caracterizam-se pelos problemas em relacionar os sons que se ouvem ou as palavras que se elaboram mentalmente, como os correspondentes gráficos que os representam. _DISTÚRBIOS DE MEMÓRIA PARA SEQUÊNCIAS: Como se afirmou anteriormente, é indispensável que as letras ou os sons obedeçam a uma determinada seqüência, espacial e temporal respectivamente, para que se construam as palavras e as frases com sentido e significado. Geralmente, a 75 criança disléxica tem dificuldades para recordar estas seqüências, assim como de lembrar séries, como por exemplo, os dias da semana, os meses do ano etc. _ORIENTAÇÃO ESQUERDA-DIREITA: As dificuldades surgem na identificação do lado esquerdo e direito tanto a nível da própria criança como a nível de outras pessoas e de objetos. O desconhecimento destas noções traria problemas no cumprimento de ordens que envolvem estes termos e, nas atividades de ler e de escrever como já foi mencionado. _ORIENTAÇÃO TEMPORAL: Estes distúrbios são caracterizados pela incapacidade da criança se situar no tempo. As dificuldades para dizer horas, identificar os dias da semana, os meses, ou utilizar conceitos temporais, fazem com que a criança se sinta perdida quer na realização as atividades, como no fluir do tempo. _IMAGEM CORPORAL: As dificuldades de imagem corporal, na criança disléxica, podem ser observadas na precária organização do desenho de uma figura humana. _ESCRITA E SOLETRAÇÃO: A criança disléxica, com problemas severos em leitura, é incapaz de escrever. Como foi afirmado no capítulo anterior, o processo de escrita é posterior ao processo de leitura e, é esperado, que a criança que não consegue fazer a transposição dos símbolos impressos 76 (letras) para os respectivos estímulos sonoros (sons) tampouco será capaz de realizar a atividade inversa (escrita). Em relação a soletração, a criança disléxica, apresenta grandes dificuldades para realizar a análise-síntese de palavras ou frases o que, por si só, já dificulta enormemente o processo de ler e escrever. _DISTÚRBIOS TOPOGRÁFICOS: Esta dificuldade se caracteriza pela dificuldade da criança “ler” e se situar em mapas, globos, gráficos . Como conseqüência desta dificuldade, é difícil para a criança disléxica, calcular distâncias e utilizar-se do material geográfico. _DISTÚRBIOS NO PADRÃO MOTOR: As dificuldades motoras encontradas em crianças disléxicas são aquelas já mencionadas por Quirós: correr, saltar e manter o equilíbrio apoiada em um pé só. Não se espera encontrar todas essas dificuldades numa única criança disléxica, mas a presença de pelo menos uma delas, associadas às dificuldades de ler, pode fazer supor a existência de um quadro de dislexia. 3.4.3 CLASSIFICAÇÕES DADAS À DISLEXIA Se, as terminologias dadas à dislexia variam de acordo com os estudos e pressupostos teóricos de cada autor, o mesmo fato se observa com as classificações. 77 Johnson e Myklebust (1983) diferenciam dois tipos de dislexia: a dislexia auditiva e a dislexia visual. Segundo esses autores, a dislexia auditiva caracteriza-se pela dificuldade em “distinguir semelhanças e diferenças entre sons acusticamente próximos; em perceber sons no meio de palavras; em análise-síntese, memória e seqüências auditivas” .Estas crianças, apesar de possuírem uma acuidade auditiva normal, não conseguem discriminar e relacionar os sons que constituem as palavras.Desta forma, cada palavra visualizada pela criança dificilmente é decodificada, pois os sons que representam as letras ou palavras, não são recordados. A dislexia visual, caracteriza-se pela dificuldade em diferenciar, interpretar e recordar palavras vistas visualmente. Assim, as crianças disléxicas visuais, têm severas dificuldades em memória e análise-síntese visual, em discriminação visual de detalhes, em perceber rapidamente as palavras escritas, em respeitar as seqüências viso-espaciais etc. Neste caso, os distúrbios de leitura manifestam-se pelas trocas entre palavras escritas, em respeitar as seqüências viso-espaciais etc. Neste caso, os distúrbios de leitura manifestam-se pelas trocas entre palavras com detalhes ou configurações gerais semelhantes, pela dificuldade em representar graficamente as palavras ouvidas ou elaboradas mentalmente, e pelas inversões de letras que diferem quanto à orientação espacial. Uma classificação mais abrangente de dislexia é proposta por Nietro (1975). De acordo com esta autora, esta classificação baseia-se nos 78 diferentes níveis do processo de ler e de escrever e, tem como vantagem, “localizar imediatamente a etapa da leitura e da escrita que deve ser reforçada”. O processo de ler e de escrever é dividido em três níveis: 1) O nível do” processo mecânico”, que engloba as associações entre sons e letras. Neste nível, a autora, apresenta duas sub-divisões: a) O primeiro sub-nível é o dos automatismos unitários que se referem a cada letra. Neste sub-nível encontram-se os erros do tipo: disfonéticos: são as mesmas trocas que foram mencionadas pelo Dr. Boder (trocas do tipo auditiva). - disortográficos: trocas visuais entre letras que diferem quanto à orientação espacial; omissões do “h”; trocas entre “ç” e “ss” (caça – cassa ); entre “g” e “j” (gelo – jelo) etc. – mistos: ocorrem trocas, tanto disfonéticas quanto disortográficas. b) O sub-nível dos automatismos seqüenciais: referem-se à ordem de sucessão dos sons e das letras nas palavras (seqüência auditiva e visual). 2) O nível dos processos de integração: caracterizando-se pela existência de trocas entre palavras com o mesmo significado, problemas de separação de palavras ao escrever,; dificuldades em compreender o que se leu e ausência de vocabulário. 79 3) O terceiro nível é o da desintegração total fonêmico-gráfica, ou seja, a impossibilidade de ler e de escrever. Neste nível encontramos a alexia e a agrafia. A alexia é a incapacidade total para ler devido a uma lesão cerebral. Agrafia é a incapacidade total para escrever devido a uma lesão cerebral. 3.4.4 PROGNÓSTICO DA DISLEXIA Na maioria das vezes, através de uma reeducação psicopedagógica, o disléxico consegue dominar as habilidades e destrezas para ler e escrever. Mas, sem uma atenção especializada, raramente a criança disléxica consegue por si só, superar suas dificuldades e, quase sempre, acaba se excluindo das atividades escolares ou de profissões que exijam a realização de processos gráficos. Já nos casos de dislexia mais severa, os resultados são pouco animadores e mesmo tendo a ajuda de um ótimo especialista, dificilmente o disléxico, conseguirá superar totalmente, as dificuldades escolares (Santos, 1979).Em termos de reeducação da criança disléxica, uma questão frequentemente é colocada: qual o tratamento mais adequado para que as dificuldades escolares sejam superadas? Num estudo realizado em Baltimore Contry, 1961, (in Condemarín e Blomquist, 1970), investigou-se o valor da reeducação psicopedagógica comparada com a intervenção psicoterápica, escolas. em diversas 80 Foram selecionados 40 estudantes e distribuídos em 4 grupos. O primeiro grupo, sofria a intervenção dos processos de reeducação psicopedagógica e psicoterápica; o segundo grupo era submetido à reeducação psicopedagógica; o terceiro grupo passava pela intervenção psicoterápica e o quarto grupo não sofria qualquer tipo de intervenção, funcionando como grupo controle. O critério usado para se comparar os resultados obtidos foi o de rendimento em “graus” de leitura. No final da intervenção, os resultados obtidos penderam positivamente, para o grupo que havia sofrido o processo de reeducação psicopedagógica. A seguir posicionou-se o grupo que havia passado pelas intervenções de reeducação psicopedagógica e psicoterápica e, com os resultados praticamente iguais, situaram-se os dois grupos restantes: o grupo que sofreu apenas a intervenção da psicoterapia e o grupo que não foi submetido a qualquer tipo de intervenção. Estes resultados, apenas vêm a comprovar o que foi afirmado acerca dos problemas emocionais quando se abordou a definição de dislexia. É consenso de todos os estudiosos que, os problemas emocionais que geralmente a criança disléxica apresenta, não são a causa das dificuldades para ler, mas sua conseqüência. Geralmente, incompreendida em seu fracasso, e não sendo valorizada em suas vãs tentativas para superar suas 81 dificuldades escolares, a criança disléxica acaba desenvolvendo uma autoimagem negativa e uma total desmotivação para empreender a difícil tarefa de ler e de escrever. Comumente, a escola, torna-se um ambiente aversivo e gerador de ansiedade, pois é nesse local que a criança se depara frente a frente com seus problemas e com as exigências de ter uma boa produção para poder passar de ano. As dificuldades acumuladas a cada etapa de aprendizagem, as cobranças dos pais e professores e os risos dos colegas, contribuem para o desenvolvimento de comportamentos agressivos, frente ao ambiente escolar, inibições e timidez e ansiedades que podem culminar com a evasão escolar. É decorrente desta situação que, tanto a dislexia como as demais dificuldades escolares (independentes da causa), devem ser motivo de preocupação de professores e pais na tentativa de se fazer um diagnóstico precoce com a finalidade de se desenvolver uma estratégia de ajuda, que auxilia a criança a superar os obstáculos que vão tornando impossível o ato de aprender a ler e escrever. 82 CONCLUSÃO A escola pública poderia rever seus princípios e metas ligadas à formação da criança e sua integração na sociedade. A formação de leitores competentes faz parte dessa integração. As crianças precisam ser levadas a se interessar pelos estudos para que não aumentem os índices de evasão escolar, e consequentemente o número de crianças nas ruas. Com relação ao ambiente escolar, salientamos a necessidade de que essas crianças e jovens tenham oportunidades apropriadas de aprendizagem, a metodologia deve proporcionar atividades mais estruturadas em suas instruções, é importante que o ambiente escolar ofereça recursos didáticos variados para o desenvolvimento das tarefas (gravador, computador, giz colorido, revistas, aparelho de som, vídeo, etc.), que o professor favoreça situações de trabalho em pequenos grupos ou individualmente, que leve em conta outras estratégias instrutivas, além da tradicional. É importante que o professor focalize mais o processo (compreensão de um conceito) do que o produto (conclusão de vários exercícios), que utilize estratégias de ensino ativo, enfatizando as informações significativas para a execução das atividades. Com relação ao ambiente familiar, é de extrema importância que a criança possa se sentir acolhido entre os seus familiares, que tenha espaço para falar sobre suas dificuldades, que lhe seja dado o direito de responder no 83 seu tempo e que a cada conquista lhe seja dado o reconhecimento. Cabe aos pais possibilitarem um local tranqüilo para os estudos e realização das atividades , assim como é importante que seja estipulado um horário para que essas atividades sejam feitas com acompanhamento, de forma que possa solicitar ajuda, quando necessário. Sabemos que as crianças que são pouco encorajadas ou que vivem em ambiente com baixas expectativas, têm suas chances de superação das dificuldades reduzidas. Com relação à avaliação, é importante avaliar o processo ensino aprendizagem, as provas devem possibilitar a verificação da evolução do aluno diante dos objetivos determinados, ao invés de basear-se em critérios de comparação do aluno com os demais. Todas essas orientações são importantes para que cada criança, seja atendida em suas necessidades, tenha acesso a recursos que facilitem a superação dos obstáculos, porém queremos destacar a importância, a responsabilidade do professor e da equipe pedagógica nesse processo. Quanto ao professor é indispensável que ele ofereça apoio, incentivo, ajuda pessoal, não enfatize o fracasso, discuta as situações difíceis individualmente, estimule o interesse e a motivação para aprender, busque informações com professores anteriores, quando houver necessidade de chamar à atenção do aluno, que ele seja claro, breve e que possa fazê-lo sem aumentar o nível de stress. 84 A relação professor-aluno pode ajudar a desenvolver essa criança que sofre, a crença nas suas possibilidades de superação dos obstáculos, o desenvolvimento de suas competências e potencialidades e acima de tudo o resgate da sua auto-estima. Quanto à equipe pedagógica, é absolutamente necessário que ela possa favorecer discussões a respeito das situações vividas na escola, possa promover o acesso a recursos didáticos variados, possa estar sempre pesquisando a respeito de cursos, palestras que possam informar, orientar e enriquecer o professor no seu dia-a-dia, principalmente com relação aos obstáculos para a aprendizagem e recursos, métodos e técnicas disponíveis. Para finalizar, vale enfatizar, que as respostas podem ser bastante favoráveis, encorajadoras e surpreendentes, quando àquele que sofre a angústia de ser diferente, de ser situado abaixo dos parâmetros esperados, estabelecidos e uniformes se depara com pessoas capazes de lhe perceber para além de suas dificuldades, pessoas capazes de apostar na superação das dificuldades, dispostas a descobrir caminhos, atalhos, saídas para os impasses, pessoas capazes de lidar com a diferença, capazes de perceber potencialidades, habilidades e competências, onde outros só vêem fracasso. Essas crianças quando encontram apoio, acolhimento, carinho e reconhecimento no ambiente familiar e escolar, conseguem resgatar o que se têm de mais precioso, a segurança, a confiança em si mesmo, tão necessária 85 para que elas possam travar a luta diária contra suas dificuldades, sem desistir, sem ter medo de tentar. Quanto aos pais, é preciso que eles sempre priorizem entender o que pode facilitar à aprendizagem para seus filhos, para que eles possam buscar recursos, brincadeiras, passeios, jogos que estimulem, desenvolvam potencialidades, assim como, possa cautelosamente escolher uma escola que venha atender, suprir as necessidades, uma escola que possa respeitar, buscar se adequar ao estilo de aprendizagem de cada um, a partir dos seus objetivos e formas diferenciadas, diversas de transmissão do conteúdo. A parceria entre pais, escola e aluno deve ser priorizada, para que juntos se torne possível construir caminhos para a superação dos impasses vividos por todo aquele que se depara com uma dificuldade de aprendizagem. 86 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BACHIEGA, M. L. Leitura livre e desempenho escolar. Disponível em http://www.moderna.com.br/artigos/pedagogia/0012. Acesso em 25 maio 2005. BARBOSA. José Juvêncio. Alfabetização e leitura. 2ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 1992. 159p. (Coleção Magistério. 2º grau. Série Formação do Professor) BENCINI, Roberta. Compreender: eis a questão. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/160_mar03/html/hora_leitura.htm. Acesso em 20 mai 2005. BOFARULL, M. Tereza. Avaliação da compreensão da leitura: proposta de um roteiro de observação. In:TEBEROSKY, Ana et al. Compreensão de leitura: a língua como procedimento. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003. 165p. BRASIL: Parâmetros Curriculares Nacionais: Lingua Portuguesa. Secretaria da Educação Fundamental: Brasília. 1997. 144p. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. São Paulo: Scipione, 1994. 189p. p.16-41. (Série Pensamento e Ação no Magistério) CARRAHER, T. e Rego, LLB. _ O realismo nominal como obstáculo na aprendizagem da leitura. São Paulo. 3-10, nov.1981. CARREHER, T. _ Aprender pensando. Recife, Secretaria de Educação do Estado de Pernanbuco, 1983. CONDEMARIN, M ; Blomquist, M.; HARRIS, A. _ La dislexia: manual de leitura corretiva. Chile, Editorial Universitário, 1970. 87 DOWNING, J. e Thackray, D.v. _ Madurez para la Lectura. Buenos Aires, Kapeluz, 1974. ESCOTT, Clarice Monteiro. A formação psicopedagógica nas abordagens clínica e institucional, uma construção teórico-prática. Porto Alegre: Feevale.2001. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 4ª ed. São Paulo:Autores Associados e Cortez , 1983. 96 p. 1134. (Coleção Polêmicas do nosso Tempo). FROSTIG, M.; HORNE, D. e MILLER, A.M. _ Figuras e Formas: Guia para o Professor. São Paulo: Panamericana, 1980. GARCIA, Jesus Nicasio e KIRK .Manual de dificuldades de aprendizagemLinguagem, leitura, escrita e Matemática. Porto Alegre: Artes médicas, 1998. GIL, Rosa e SOLIVA, M. Cantos para aprender a ler. In:TEBEROSKY, Ana et al. Compreensão de leitura: a língua como procedimento. Trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003. 165p. JOHNSON, D. e MYKLEBUST, H.R. _ Distúrbios de Aprendizagem, Princípios e Linhas Práticas Educacionais. 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Os significados do letramento: a nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 1995. 294 p., p. 91-117. 90 ANEXOS QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS – FASE III DO CICLO COMPLEMENTAR 1. Na sua opinião, a leitura é importante? Por quê? Responderam afirmativamente e justificaram que, sem saber ler, não poderiam receber uma carta, saber seu conteúdo e respondê-la. Explicaram, também, que ficariam sem condições de obter informações impressas sobre “coisas” de seus interesses. 2. Ao escolherem um livro para ler, vocês se interessam pela leitura? Um deles respondeu que se interessa. Os outros disseram que nem sempre se interessavam por livros, mas que gostava de ler revistas. 3. Quando estão fazendo leitura de algum texto dado pela professora, vocês sentem alguma dificuldade em entendê-lo? Um dos alunos afirmou não ter dificuldades de entender os textos fornecidos pela professora, o mesmo não ocorrendo com os outros dois, que esbarram nos significados das palavras e no sentido geral do tema trabalhado. 4. Que tipo de leitura é mais divertido e faz vocês entenderem melhor? Foi com entusiasmo que os três alunos responderam ser as histórias em quadrinhos uma leitura divertida. 91 5. Quando a professora está dando aula de Matemática, trabalhando com problemas, vocês tem facilidade em entendê-los? Sabem aplicar com facilidade a operação correta, ou precisam ler várias vezes até perceberem qual operação aplicar? Respondeu positivamente apenas um dos entrevistados. Este aluno tem muita facilidade em entender os problemas matemáticos e suas contas estão sempre corretas. .Se um aluno não sabe ler e interpretar satisfatoriamente, pode-se concluir que terá dificuldades em compreender e resolver os problemas matemáticos, e poderá ter dificuldades em outras disciplinas também. 6. Quando vocês estão em casa, procuram boas leituras para fazer, ou só lêem quando estão na escola? Essa questão foi respondida por todos da mesma forma, só lêem quando estão na escola. Essa resposta indica a falta de interesse desses alunos e a ausência do suporte familiar . Provavelmente seus pais não possuem o hábito de ler. 7. Na sua opinião, quando a professora dá uma aula de leitura, vocês gostam, acham interessante ou acham a aula de leitura meio chata? Por quê? 92 Um dos alunos respondeu que achava a aula de leitura boa, pois acredita não ter dificuldades para ler. Já os outros entrevistados responderam não gostar da aula. 8. Vocês preferem escolher seus próprios textos para ler ou deixam que escolham para você? Os alunos responderam que gostam de escolher os seus próprios textos, porém muitas vezes eles têm que ler o que a professora manda. Quando vão à biblioteca da escola levados pela professora, uma vez por semana, podem escolher os livros de sua preferência e acham bem mais interessante. Um dos alunos entrevistados acima , é considerado um dos melhores de sua turma, tem boa caligrafia, gosta de ler e gosta muito da escola. Percebe-se porém, que apesar de ser considerado um bom aluno, precisou de ajuda para compreender as questões que lhe foram feitas, se comparado com seus colegas é um bom aluno, mas ainda não é um leitor competente. QUESTIONÁRIO – FASE IV DO CICLO COMPLEMENTAR 1) Você gosta de ler? Por quê? Respondeu que não gosta , porque tem dificuldade para ler . 93 2) Quando você lê, entende o que leu? Respondeu que só entende quando pega livros fáceis e ilustrados. 3) Quando a professora passa um problema de matemática, você entende o problema, aplicando a operação correta? O aluno respondeu que quando é um problema com duas operações, ou seja,que exige um maior raciocínio, ele tem muita dificuldade em entender e resolver. Tem que ter ajuda da professora. 4) Que tipo de leitura você mais gosta? Respondeu, que gosta mais de ler histórias em quadrinhos. 5) Você lê em casa ou só na escola? Respondeu, que lê só na escola, pois não tem livros e nem revistinhas em casa. 6) Você prefere escolher suas leituras ou prefere que sua professora escolha para você? Respondeu que prefere escolher os livros , pois procura textos com mais gravuras e menores. 7) Por que ler é importante, para você? 94 O aluno respondeu que ler é muito importante para continuar os estudos e ser alguém quando crescer. A entrevista com o aluno da Fase 4 do Ciclo Complementar foi um pouco diferente daquela aplicada aos alunos da Fase 3 do Ciclo Complementar.Esse é um dos alunos mais fracos da turma e estará indo em 2008 para a 5ª série, respeitando as exigências do ciclo. É um aluno que tem muita dificuldade na leitura e em interpretar o que lê, consequentemente é desinteressado e não participa das aulas. Seu questionário foi diferente, pois tentamos entender o porquê desse problema. Descobrimos que tem problemas graves relacionados com a família, é órfão de pai e mãe e é criado com a avó.Deveria ser encaminhado a um psicólogo, pois, é uma criança carente e desequilibrada emocionalmente, que precisa da ajuda de um profissional competente para superar estas dificuldades. QUESTIONÁRIO / PROFESSOR 1) Você gosta de ler? Sente prazer quando está fazendo uma boa leitura? A professora não foi muita clara na sua resposta, fugiu um pouco do assunto e a sua resposta não foi muito objetiva. Disse acreditar que todas as pessoas gostam de ler, na verdade não é bem assim. , 2) Que tipo de estratégias você utiliza, para que a aula de leitura seja prazerosa? 95 A entrevistada limitou-se a explicar que cada texto requer estratégias diferentes. Deixou claro que alguns textos aguçam mais a curiosidade dos alunos, seja pela ilustração, seja pelo título ou pelo assunto. 3) Você se preocupa em formar leitores competentes? O que faz para isso? A resposta à primeira parte da questão foi positiva. Para a segunda parte, a professora diz mostrar para os alunos a importância de ler para a vida estudantil e profissional deles. A professora demonstra preocupação em incentivar os alunos, trabalhando vários tipos de textos e interpretandoos. 4) A leitura é algo importante na sua vida? Por quê? A resposta foi positiva e justificada com a necessidade atual da busca de informações em todas as fontes possíveis: jornais, revistas, livros e internet. 5) Ao iniciar uma aula de leitura, você trabalha com os alunos o conhecimento prévio? A professora respondeu que trabalhar o conhecimento prévio de um determinado assunto é muito importante, pois lhe dá uma noção melhor sobre o que os alunos já conhecem a respeito do texto trabalhado. 6) Com que freqüência você trabalha leitura e interpretação de texto em sala de aula? 96 A entrevistada respondeu que trabalha com interpretação diariamente , em todas as disciplinas. 7) Qual é a principal dificuldade do aluno, quando está lendo um texto: falta de atenção, falta de conhecimento prévio, dificuldade em estabelecer relações do novo texto com o que eles já sabem. A professora respondeu que os alunos tem pouca concentração, se dispersam com muita facilidade, tem dificuldade em interpretar o que lêem e geralmente quando respondem questionários, copiam as respostas idênticas ao texto. 8) A escola dá oportunidade para que seu trabalho de leitura seja rico, interessante? A entrevistada informou que a escola dispõe de uma biblioteca com um bom acervo de exemplares ,onde uma vez por semana os alunos tem acesso, tendo oportunidade de pegar o livro de sua preferência para ler em casa. Além da biblioteca, na sala de aula tem o “cantinho da leitura” e uma caixa com revistas em quadrinhos, onde diariamente o aluno pode ler, de acordo com o combinado na sala. 9) O que você acha de deixar seus alunos escolherem seus próprios textos para leitura? A professora acredita na importância de deixar o aluno escolher o que quer ler,seja na biblioteca da escola ou no cantinho da leitura, pois acha 97 que quando é dada liberdade de escolha, o aluno lê com mais interesse e prazer. A entrevistada, bem como um bom número de professores enfrentam dificuldades em tornar os alunos bons leitores, devido a falta de apoio da família, cujos pais não possuem o hábito da leitura e não tem condições de proporcionar a seus filhos um ambiente estimulante para tal. Podemos sentir através dessas entrevistas, a dura realidade das escolas públicas, onde os alunos passam para quinta série com graves dificuldades em todas as matérias porque não aprenderam a ler e interpretar, demonstrando um total desinteresse pela escola. Observando uma sala de aula, constatamos que os alunos dilicilmente ficam quietos ou concentrados e o professor, a todo momento precisa pedir silêncio. É necessário que a escola repense suas ações, para levar seus alunos a tomarem gosto pela leitura e entenderem a importância dela.É necessário uma parceria da escola e família, para o sucesso escolar. 98 ÍNDICE INTRODUÇÃO ................................................................................................11 CAPÍTULO I – CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEITURA ...............................16 1.1 Ler: o conceito e suas implicações...................................................17 1.2 As condições para a produção da leitura..........................................18 1.3 O que é o texto..................................................................................20 1.4 Estratégias de leitura ........................................................................21 1.4.1Níveis de leitura e a estratégia metacognitiva........................23 CAPÍTULO II – DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM................................... 31 2.1 Os tipos mais freqüentes de dificuldades de aprendizagem........... 31 2.1.1 Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade.............. 32 2.1.2 Deficiência da Percepção Visual ........................................ 33 2.1.3 Deficiências de Processamento da Linguagem.................. 34 2.2 Transtornos Específicos do Aprendizado...................................... 37 2.2.1 Os transtornos da Expressão Escrita................................. 37 2.2.2 Transtorno de Leitura......................................................... 37 2.2.3 Transtorno da Comunicação.............................................. 38 99 CAPÍTULO III _ CAUSAS DOS DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM.............40 3.1 Ausência de estimulação das habilidades básicas necessárias à alfabetização........................................................................................42 3.2 Realismo Nominal Lógico................................................................ 60 3.3 Fatores Emocionais......................................................................... 64 3.4 Dislexia............................................................................................ 67 3.4.1 Designações mais comuns dadas à dislexia...................... 68 3.4.2 Conceito de Dislexia........................................................... 73 3.4.3 Classificações dadas à Dislexia......................................... 76 3.4.4 Prognóstico da Dislexia...................................................... 79 CONCLUSÃO................................................................................................82 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA....................................................................86 ANEXOS....................................................................................................... 90 INDÍCE.......................................................................................................... 98 FOLHA DE AVALIAÇÃO...............................................................................100 100 FOLHA DE AVALIAÇÃO NOME DA INSTITUIÇÃO: Universidade Candido Mendes- Instituto “A Vez do Mestre”. TÍTULO DA MONOGRAFIA: A Competência do Ato de Ler AUTORA: Maria Elizabeth de Castro Rehwagen DATA DA ENTREGA: 20 de julho de 2007 AVALIADO POR: Maria da Conceição Maggioni Poppe CONCEITO: