Uso de textos autênticos na aula de Língua Estrangeira Andréa Geroldo dos Santos Mestre em Estudos Linguísticos e Literários pela FFLCH-USP e Revisora Pedagógica de Inglês do Sistema Mackenzie de Ensino. O Sistema Mackenzie de Ensino (doravante SME) privilegia o uso de textos autênticos no material didático de língua estrangeira. Há várias definições para “texto autêntico” na literatura sobre o tema, porém, adotamos a definição dada por Tomlinson: “Um texto que não foi escrito ou falado com o objetivo de ensinar línguas. Um artigo de jornal, um rock, um livro, uma entrevista de rádio, instruções de como jogar determinado jogo e um tradicional conto de fadas são exemplos de textos autênticos. Uma história escrita para exemplificar o uso de reported speech, um diálogo roteirizado para exemplificar os modos de convidar e uma versão linguisticamente simplificada de um livro não constituiriam textos autênticos.” (TOMLINSON, 2011, p.ix) Como podemos notar, a definição de “texto autêntico” se opõe à de “texto pedagógico”, ou author/teacher-made, criado para fins de exemplificar determinado tópico linguístico, ainda muito em voga nos livros didáticos disponíveis no mercado. Ainda, pela definição de Tomlinson, é possível perceber que “texto autêntico” não significa apenas “texto escrito”, mas inclui modalidades do texto oral também, tais como programas de rádio e entrevistas em programas de televisão. A utilização de textos autênticos para o ensino de línguas não é novidade: Mishan (2005) demonstra que abordagens diferentes, desde o ensino de Latim na Inglaterra do século XVI ao ensino comunicativo no século XX, já se valeram dessa estratégia. Contudo, o que tem se alterado é o modo como esses textos têm sido utilizados, de acordo com a abordagem predominantes nas diferentes épocas . Sabemos que muito já se discutiu (e ainda se discute) sobre os possíveis aspectos positivos do uso de tais textos (por exemplo, contato com a língua “real”) e negativos (como, talvez, a dificuldade de um aluno iniciante em compreendê-los). Todavia, Mishan, com base em suas pesquisas na área de aquisição de segunda língua (Second Language Acquisition – SLA), afirma que os textos autênticos 1 “oferecem a melhor fonte de informações ricas e variadas para os aprendizes de língua estrangeira. [...] têm efeito sobre fatores afetivos essenciais à aprendizagem, como a motivação, a empatia e o envolvimento emocional. [...] se prestam a uma abordagem naturalista e de conscientização em relação à aprendizagem da gramática da língua--alvo. [...] estimulam o processamento do cérebro como um todo o que pode resultar em uma aprendizagem duradoura.” (MISHAN, 2005, p.41-42) No que se refere aos argumentos pedagógicos para o uso de textos autênticos, Mishan defende que eles podem ser expressos por 3 C’s, em inglês: Culture, Currency e Challenge – Cultura, Circulação e Desafio. Assim, para a pesquisadora, o uso desses textos em material didático seria fundamental porque: a) Eles contêm e representam a(s) cultura(s) dos países da língua-alvo (Cultura). b) Oferecem temas e a língua correntes (Circulação). c) São mais complexos, mas podem ser usados em todos os níveis (Desafio). Pelas razões expostas é que o SME propõe o trabalho com textos autênticos em seu material de língua estrangeira, pois acredita que essa estratégia, além de propiciar o contato com o uso da língua-alvo em situações reais, pode servir tanto para ativar os conhecimentos prévios dos alunos quanto para apresentar novos conceitos, adequando-se, portanto, aos princípios da Aprendizagem Significativa (Ausubel, 2000) – fundamentos da metodologia do SME como um todo. Referências Bibliográficas AUSUBEL, D.P. The Acquisition and Retention of Knowledge: A Cognitive View. Dordrecht: Springer Science+Business Media. 2000. MISHAN, Freda. Designing Authenticity into Language Learning Materials. Bristol: Intellect Books, 2005. TOMLINSON, Brian. Developing Materials for Language Teaching. Londres: Continuum, 2003. ________________ . English Language Learning Materials. A Critical Review. Londres: Continuum, 2008. ______________ . Materials Development in Language Teaching. 2nd edition. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. 2