UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LEITURA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO MÉDIO POR MARIA FILOMENA FERME SIVOLELLA Professora Orientadora: DIVA NEREIDA MARQUES MACHADO MARANHÃO Rio de Janeiro Abril/2005 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A LEITURA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO MÉDIO Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em docência do ensino superior da disciplina de Metodologia de Pesquisa. OBJETIVOS: Formular uma Base Orientadora de Ações, objetivando-se desenvolver a habilidade e técnicas de leitura para se alcançar a compreensão e interpretação de textos em língua estrangeira no ensino médio. 3 AGRADECIMENTOS Aos professores da turma 651, Projeto “A Vez do Mestre”, à orientadora Diva Nereida, aos colegas e pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para elaboração deste trabalho. 4 DEDICATÓRIA Dedico esta monografia ao meu marido Rocco e a minha Roberta que pacientemente souberam entender os momentos de isolamento para a elaboração da mesma. Também a minha irmã Ângela que tanto colaborou na busca do tema a ser trabalhado e à minha amiga Eni Braga pelos momentos de escuta durante a elaboração deste trabalho. Maria Filomena 5 RESUMO Este trabalho visa justificar a priorização do ensino da leitura em relação às outras habilidades lingüísticas (compreensão da linguagem oral, produção oral e produção escrita), analisando os conceitos de abordagem e método, ponderar sobre a metodologia a ser aplicada na utilização da leitura em língua estrangeira como uma habilidade ativa, sistematizar estratégias de leitura de alguns autores e apresentar outras estratégias vivenciadas ao longe do processo ensino-aprendizagem em língua estrangeira no ensino médio para que a leitura se torne, de alguma forma, compreensível propiciando ao leitor uma aproximação mais freqüente ao texto em busca de uma gratificação emocional ou espiritual, isto é, simplesmente para obter prazer e/ou enriquecimento pessoal. 6 METODOLOGIA Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica em livros, revistas e trabalhos realizados no curso de capacitação (Colégio Marista São José), leituras pessoais e experiência profissional em sala de aula, tomandose como base a observação, discussão e reflexão sobre o assunto. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 9 VISÃO DA APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA NO PASSADO E NO PRESENTE 9 CAPÍTULO II 13 MÉTODO E ABORDAGEM 13 CAPÍTULO III 19 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA COMO UMA HABILIDADE ATIVA 19 CONCLUSÃO 27 BIBLIOGRAFIA 29 ANEXOS 32 ÍNDICE 36 8 INTRODUÇÃO Há mais de duas décadas, as questões relativas à leitura e aos gostos de ler vêm sendo muito discutidas. É indubitável que a atividade de leitura está presente em nosso dia-adia. Contas de luz, cardápios de lanchonetes, fitas de vídeo e DVD, bulas de remédios, imagens de TV, manchetes e artigos de jornais e revistas, rótulos e embalagens de produtos. E além de textos nas mãos, o indivíduo recebe outras mensagens escritas: placas, avisos, luminosos, “outdoors”. Tudo nos faz ler o tempo inteiro. A história da vida do homem, na era moderna e contemporânea, é toda pontuada por documentos escritos, portando a leitura está indissociavelmente ligada à escrita. São muitas e diferentes as circunstâncias da vida e por isso as pessoas produzem suas leituras de modo diversificado. Todas as formas de ler são relevantes, devendo pois ser contempladas. Como estender, a todos os alunos do 2o grau, a possibilidade de desenvolver de forma satisfatória o domínio da leitura em língua estrangeira? Cabe ao professor, formalmente, estabelecer relações entre leitura e indivíduo, ou melhor, entre leitura/escrita e o aluno, aprofundando os níveis de desempenho através de técnicas de leitura apropriadas. 9 CAPÍTULO I VISÃO DA APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA NO PASSADO E NO PRESENTE. 10 No passado, ao se pensar na importância da aprendizagem de uma língua estrangeira, de imediato vinha à mente a idéia única de que essa língua era um instrumento, uma ferramenta útil de ascensão social e de melhores oportunidades na vida acadêmica e profissional. Os dias atuais presenciam uma mudança de ponto de vista que direciona o ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira para a informação e a comunicação global, levando-se em conta que comunicação global, levando-se em conta que o conteúdo, o método e as razões do ensino constituem variáveis que dependerão das motivações do aluno e dos aspectos históricos, sociais e de cada situação de aprendizagem. 1.1 –Por Que a Ênfase na Leitura? A habilidade de ler em inglês é muito importante. O inglês é um veículo de comunicação e de informação acerca do mundo: é a língua de muitas publicações periódicas especializadas e de livros disponíveis no mercado apenas em sua forma original, sem terem passado por uma tradução; e, portanto, a língua que levará o aluno brasileiro à fonte de informações. Embora o aluno brasileiro tenha necessidade de ler textos em língua inglesa, o conhecimento desse idioma não costuma ser muito sólido. Por isso, o enfoque básico dessa língua-alvo no currículo do núcleo comum deve ser o desenvolvimento das habilidades de leitura, que permitirá ao educando aproveitar ao máximo o conhecimento mínimo consolidado no 1o grau. No 2o grau, quando a clientela escolar tem como objetivo lançar-se no mercado de trabalho ou preparar-se para estudos mais avançados, saber ler em inglês ajuda a aprofundar conhecimentos anteriores e permite a aquisição de informações novas que, na maioria das vezes, não são veiculadas em português. 11 Nesse aspecto, não se pode deixar de incluir alguns fatores que facilitam a tarefa do professor de inglês em promover o desenvolvimento das habilidades de leitura e de estratégias em particular: tanto o português como o inglês compartilham do mesmo alfabeto, do mesmo sistema sintático e de muitas palavras com raízes latinas, os cognatos, que facilitam a compreensão de textos nessa língua-alvo. Embora referindo-se ao ensino da leitura em língua materna, Gomes de Matos (1983:54-55) salienta que não se pode, contudo, separar a leitura das outras habilidades lingüísticas, pois o ato de ler está intimamente ligado à compreensão da linguagem oral, à conversação; ao processamento visual de informações transmitidas por ilustrações, pela imagem; à prática do escrever e do redigir. Isto também é válido para o ensino de uma língua estrangeira e não significa, portanto, que se deve priorizar a leitura no seu processo de ensino em detrimento tanto da produção oral e escrita como da compreensão da linguagem oral, habilidades fundamentais para se vivenciar mais plenamente a língua estrangeira. No entanto, considerando-se a necessidade do aluno de aprender a ler em inglês e o tempo e espaço reservados no 2o grau ao ensino de uma língua estrangeira, uma hierarquia da leitura sobre as demais habilidades lingüísticas deva ser estabelecida, evitando-se dessa forma, o fracasso em se atingir resultados palpáveis. Além da necessidade de delimitação de objetivos, há que se selecionar atividades e metodologia adequadas ao aproveitamento máximo do tempo disponível. Devem-se variar, portanto, a intensidade e a profundidade com que se trabalham as habilidades lingüísticas, mas sem nunca perder de vista o objetivo principal – o desenvolvimento prioritário da leitura. Somente assim é possível definir objetivos reais, passíveis de atingir e definidos a partir das condições sociais que situam o aluno enquanto indivíduo concreto. Um erro que se deve evitar é a tendência a se colocar os objetivos mais como uma formalidade do que como metas a serem cumpridas. Na maioria 12 dos casos, definir objetivos transformou-se numa preocupação mecânica e burocrática, na qual usar as “palavras certas” é mais importante do que encontrar a melhor abordagem de ensino num dado momento. É fundamental que qualquer objetivo específico para o ensino de uma língua estrangeira seja coerente com finalidades mais amplas, além de levar em conta o aspecto comunicativo da língua e, por conseguinte, o idioma enquanto discurso ou processo. Igualmente importantes para a definição de objetivos são os procedimentos prévios de análise das necessidades e interesses nas várias regiões e situações socioeconômicas do Brasil. 13 CAPÍTULO II MÉTODO E ABORDAGEM 14 Embora sejam muitas as incertezas, o fato é que a teoria do ensino de uma língua desde o final do século passado vem sempre se referindo ao ensino de línguas principalmente em temos de métodos de ensino. Apesar de existirem divergências, uma das definições da palavra método que mais mereceu a atenção dos professores de língua estrangeira foi aquela apresentada por Carroll (1972:146-157), para quem o método é o resultado de um processo de seleção, gradação, apresentação e prática de uma experiência idiomática a ser oferecida ao aluno. Um método é, portanto, um conjunto de procedimentos de ensino e aprendizagem sintonizados com um determinado currículo e, ao mesmo tempo, direcionados por uma abordagem ou modelo teórico. Um método deriva implícita ou explicitamente de um certo número de crenças ou princípios (ou seja, de uma abordagem) e é caracterizado por certas técnicas pedagógicas. Quando usamos a palavra abordagem, portanto, pensamos numa hierarquia, em que ela vem em primeiro lugar e domina o conceito de método. Técnica é um termo mais restrito, significando um simples procedimento sistemático em sala de aula, visando uma determinada prática e cumprindo um objetivo específico. Por exemplo, jogos, trabalho em duplas, exercícios orais ou escritos são técnicas destinadas a colocar em prática um método que, por sua vez, deriva de uma abordagem adotada. 2.1 –Tipos de Métodos A longa história do ensino de línguas estrangeiras passou por constantes alterações metodológicas. Um professor que tenha começado sua carreira antes da II Guerra Mundial pode ter experimentado o método da Tradução e Gramática, o Método Natural ou Direto, o Método Audiolingual / Audiovisual, o Método Situacional e, mais recentemente, o Método Nocional / Funcional. O que se nota é que, a intervalos relativamente breves, métodos e abordagens completamente, diferentes uns dos outros, mas todos, tendo como característica comum o fato de cada um deles procurar negar a validade daquele que o antecedeu. 15 Apesar de haver uma certa seqüência histórica com datas aproximadas, não se deve supor que cada método, por sua vez, foi completado e abandonado em favor de seu sucessor. Na verdade, alguns antigos métodos até mesmo sobreviveram intactos e podem estar sendo usados por professores em alguma parte do mundo nos dias atuais. Ao se tomar a decisão de ensinar uma língua estrangeira, é inevitável que se assuma uma determinada postura diante dessa tarefa. Existem muitas maneiras de se encarar uma língua e seu ensino-aprendizagem. No que diz respeito ao ensino de uma língua estrangeira, as abordagens podem estar situadas ao longo de uma linha contínua, cujos pontos extremos estão representados por duas abordagens com visões totalmente distintas. De um lado, temos o behaviorismo, que parte do princípio de uma aprendizagem mecânica, com repetições sistemáticas do tipo estímulo-resposta automáticos (S – R), onde o reforço é essencial (SàRàR) e as regras explícitas são evitadas; é predominantemente indutiva. No extremo oposto, está a abordagem cognitivista, que acredita que a aprendizagem é dedutiva e se processa por meio da ênfase dada a regras explícitas, onde o significado (compreensão) é muito importante, básico para o progresso do aluno. 2.2 – A Abordagem Comunicativa A abordagem comunicativa surgida nos últimos anos da década de 70 e ganhando força total nos anos 80, procurou, com seu enfoque, não atravessar de um extremo ao outro do pêndulo. A maior preocupação com o uso da língua como comunicação surgiu a partir de pesquisas mais recentes nas áreas de psico e sociolingüística, filosofia da linguagem e teoria da informação. O equilíbrio visado apóia-se no conceito da competência comunicativa, que encara a realização lingüística como algo formalmente 16 possível, viável, adequado ao contexto e realmente factível (Practor, 1979:19). O conceito de competência lingüística, dessa forma, não encontrou um oponente radical na competência comunicativa. Ao contrário, ambas se complementam em termos de uso da língua. A competência lingüística passou a ser vista como um setor da competência comunicativa, que não exclui a gramática, mas a coloca lado a lado com o objetivo da comunicação. Partindo-se das necessidades do aluno, cria-se toda uma série de recursos extras destinados a tornar satisfatório o desempenho de um papel específico – ocupacional ou acadêmico. Isso significa que em cada curso são consideradas diferentes seleções de habilidades, tópicos, situações e funções do uso da língua, segundo análise das exigências dos alunos. Segundo Celce Murcia (1979:3-5), é necessário fazer uma distinção entre programas nocionais / funcionais e abordagem comunicativa, já que a simples adoção de um curso nocional / funcional não garante estar-se promovendo um ensino comunicativo. Um curso funcional baseia-se, em última instância, em formas lingüísticas, exatamente como um curso estrutural / gramatical, ou seja, estruturas e noções / funções são componentes de um programa, residindo a diferença entre ambas as abordagens apenas na maneira como são organizadas (Murison-Bowie, 1983:8). Comunicação envolve muito mais do que simplesmente um conhecimento de formas. Na verdade, depende crucialmente da habilidade em usar formas de maneira adequada. A palavra-chave para uma abordagem comunicativa segundo Widdowson (1979:248) é estratégia, ou, dito de outra forma, a busca da competência comunicativa depende do desenvolvimento de um conjunto de estratégias ou procedimentos criativos para realizar o valor de elementos lingüísticos em contextos de uso, uma habilidade de fazer sentido como participante do discurso, seja ele oral ou escrito. 17 Embora esta abordagem seja muito atraente, apresenta também suas desvantagens. O fato de seus proponentes visarem a competência comunicativa como único alvo a ser atingido pelo aluno, sem se preocuparem em definir quaisquer linhas metodológicas mais precisas, tornou essa proposta altamente vulnerável a críticas de especialistas. Todavia, não se pode negar o fato de que a abordagem comunicativa chamou a atenção dos professores para a importância de outros aspectos da língua que não o significado proposicional, auxiliando-os a analisar e ensinar uma língua estrangeira de modo integrado. Ao mesmo tempo, encorajou uma metodologia que se apóia menos na prática mecânica centrada no professor e mais na simulação de situações naturais do dia-adia. 2.3 – Mas que Método Adotar? Provavelmente indagações poderiam surgir: “Qual é a metodologia ou abordagem atual? Será que é preciso abandonar tudo quanto aprendemos e começar de novo? Teremos que voltar ao antigo Método Audiolingual? ou, pior ainda, ficaremos sem qualquer rumo, debatendo-nos nas correntes das diversas metodologias?” Uma reação dessa seria não só normal, mas também animadora, pois provavelmente demonstraria, por parte do professor, uma maturidade metodológica capaz de deixá-lo colocar os problemas do ensinoaprendizagem em línguas estrangeiras mais em termos de como se aprende do que em termos de o quê se aprende. A idéia, portanto, é fazer os educadores se afastarem de métodos essencialmente estruturalistas, cujos objetivos, conteúdos e metodologia são inteiramente, ou quase inteiramente, centrados no funcionamento interno do código lingüístico. No entanto, ao proceder dessa forma o professor deve estar prevenido para não cair no extremo, adotando somente a abordagem comunicativa. O fundamental mesmo é definir como os padrões de interação comunicativa 18 devem ser ensinados, isto é, como se pode ensinar o processo pelo qual a forma efetivamente cumpra seu uso no contexto de uma interação social. Em resumo: a aprendizagem de uma língua precisa traduzir-se pela aquisição da habilidade para participar no processo dinâmico e criativo da comunicação, o que não ocorre quando o ensino é feito em unidades separadas, rotuladas e isoladas da língua como um todo – tenham elas o nome de estruturais ou funcionais. Independente da decisão do professor quanto à metodologia escolhida, é preciso que o processo de ensinoaprendizagem da língua forneça ao aluno um propósito, uma intenção comunicativa e uma necessidade de transmitir informação. O essencial é que o aluno sinta a aula de inglês como uma experiência significativa, próxima à sua vida diária. 19 CAPÍTULO III A IMPORTÂNCIA DA LEITURA COMO UMA HABILIDADE ATIVA 20 Hoje em dia, os especialistas já não restringem os conhecimentos lingüísticos às quatro habilidades básicas – compreensão da linguagem oral, produção oral, leitura e produção escrita. Atualmente, a tendência é considerar os vários tipos específicos de comportamentos que ocorrem quando as pessoas estão procurando falar, ler, escrever ou entender uma determinada língua tendo em vista um determinado propósito, numa determinada situação, ou seja, as várias habilidades e estratégias ocorridas durante a aprendizagem da língua estrangeira. No 2º grau a ênfase da aprendizagem está voltada para o desenvolvimento da leitura, reservando-se uma parcela do tempo dedicado ao ensino do inglês à compreensão da linguagem oral, à produção oral e à redação. Um leitor competente e que aprecie a leitura são metas-chave de muitos professores e escolas. Se o objetivo final é fazer com que o aluno adquira independência, sem buscar o apoio do professor, deve-se encorajar uma participação maior desse aluno em determinar as estratégias apropriadas a cada tipo de leitura (técnica, científica, literária, acadêmica, etc.) se abordada de forma adequada, a tarefa da leitura deixa de ser uma reação, na maioria das vezes negativa, contra um texto para se transformar em uma interação autor-leitor, tendo o texto como intermediário num processo ativo. 3.1 –A Leitura como um Processo Psicolingüístico A leitura é um processo de comunicação complexo no qual a mente do leitor interage com o texto numa dada situação ou contexto. Durante o processo de leitura, o leitor constrói uma representação significativa do texto através da interação de seu conhecimento conceptual e lingüístico com pistas existentes no texto. De acordo com Brown (1991:260), a leitura é um “jogo lingüístico de adivinhação”, é um processo seletivo que envolve o uso 21 mínimo de informações disponíveis, selecionadas do insumo (input) perceptivo de acordo com as expectativas do leitor. Ao processar essa informação, o leitor efetua as predições mais confiáveis por meio de processos cíclicos de estratégias de colheita de amostragem, predição, testagem e confirmação. O leitor usa pistas mínimas de linguagem dentro dos próprios componentes da linguagem. Essas pistas (grafofônicas, sintáticas ou semânticas) ajudam o leitor a colher amostras, confirmar, corrigir e rejeitar as predições feitas em relação à mensagem. Ou, em outras palavras, o leitor realiza a tarefa de ler através da colheita de amostras, apoiando-se na redundância da língua e no seu conhecimento das restrições lingüísticas. Ele prediz estruturas, testa-as de acordo com o conteúdo semântico construído a partir da situação e do discurso em progresso e, por fim, confirma-as ou não ao continuar a leitura. Nesse processo, um leitor proficiente na língua apóia-se em estratégias que o levam às mais confiáveis predições com o uso mínimo de informações disponíveis. Portanto, o leitor proficiente não usa toda informação contida na página, mas seleciona aquelas pistas mais produtivas para se determinar a mensagem do autor; em outras palavras, ele aprende a organizar sua percepção de acordo com o que é ou não lingüisticamente significativo. Isto quer dizer que, de forma natural, ele faz uso tanto do conteúdo formal como do redundante encontrados na língua. Outros pesquisadores também vêem a leitura como um processo lingüístico. Stern (1983:7) afirma que a leitura envolve uma comparação, um balanço entre a informação visual e a não-visual. Diz ele que, quanto mais conhecimento prévio se possui do assunto, menos informação visual é necessária para se identificar uma letra, uma palavra ou um significado do texto. Em outras palavras, se o leitor concentrar-se mais na estrutura visual das palavras impressa, menor significado será processado. A leitura, portanto, envolve mais especificamente formular perguntas apropriadas e encontrar respostas relevantes. É a interação das pistas visuais com o conhecimento armazenado na memória do leitor que lhe possibilitará predizer o que irá encontrar no texto. 22 Taylor e Taylor (1983:233) apresentam a leitura em termos de um modelo cooperativo bilateral. Para eles, a leitura consiste em marcas ou fios de pensamento (tracks) de processos de interação. Das marcas da esquerda constam os relacionamentos funcionais, o material ordenado numa seqüência, a codificação fonética, sintaxe e outras funções lingüísticas. As marcas da direita comportam as funções globais, tais como padrões, buscando semelhanças entre padrões de insumo (input) e os padrões já vistos anteriormente, buscando associações e relacionando o significado de palavras e frases com condições do mundo real. Os dois tipos de marcas cooperam na construção do significado do texto. As marcas da direita fazem previsões, as da esquerda corrigem-nas, unindo os resultados e formando frases, orações, períodos e texto mais amplo. De acordo com a pesquisa relatada em Spiro, Bruce e Brewer (1980), existem pelo menos três elementos essenciais de um modelo adequado de leitura. O primeiro elemento é que a leitura é plurinivelada, ou seja, o leitor nativo usa vários níveis de linguagem, simultaneamente, para chegar ao significado. Isto quer dizer que o leitor faz uso de seu conhecimento do mundo, de seu conhecimento pragmático, discursivo, sintático, morfológico e fonológico na construção e reconstrução do significado. O segundo elemento é que a leitura é interativa. Nela, a compreensão do leitor é orientada pelas estruturas do conhecimento, ou esquemas (schemata) do leitor, e o conteúdo específico e estruturas lingüísticas existentes no texto. Todos os níveis de conhecimento básico (social, lingüístico, conceitual etc.) interagem simultaneamente enquanto o leitor constrói um significado para o texto. Em terceiro lugar, a leitura implica a geração de hipóteses à medida que o leitor faz predições a respeito do significado de um texto. Essas predições serão confirmadas ou rejeitadas à medida que prosseguir a leitura (Brown, 1991). Além do mais, a leitura também pode ser vista como um processo transacional (Rosenblatt, 1978; Woodward, Harste e Burke, 1984) em que tanto o texto como o leitor sofrem uma mudança no processo, ou seja, o leitor adquire novos conhecimentos ao reconstruir o texto. A leitura implica também 23 um relacionamento entre autor e leitor, um pragmatismo que facilita a comunicação. Todos os pontos de vista mencionados desafiam a visão tradicional que ainda influencia muitos professores em sala de aula. 3.2 – Estratégias de Leitura no Âmbito do Ensino Médio O leitor competente não lê de forma linear, mas sim em busca do significado global daquilo que lê. Assim, de certo modo ele cria o significado com base no seu conhecimento da língua e do mundo. Ao ler um texto, o leitor pode conhecer todas as palavras e compreender todas as estruturas nele contidas, sem, contudo, chegar a perceber o sentido integral do que lê. De modo inverso, pode ser capaz de apreender o significado do texto como um todo sem, necessariamente, dominar todas as suas palavras e estruturas, utilizando-se para tanto de certas “estratégias”. Não é verdade, portanto, que havendo um bom conhecimento de vocabulário, estrutura etc., o problema de como ler se resolve automaticamente. Por isso, um professor de leitura deve procurar desenvolver estratégias que facilitem a leitura e usálas de modo sistemático. As estratégias para facilitar a aprendizagem não costumam fazer parte dos cursos de línguas estrangeiras modernas: ensina-se a língua inglesa, mas não as maneiras de o aluno lidar com suas deficiências no domínio dessa matéria. Muitos procedimentos de ensino (como a ênfase na aprendizagem do significado preciso das palavras e de seus sinônimos) têm, ao contrário, prejudicado o desenvolvimento de estratégias adequadas para a aprendizagem de uma língua estrangeira (por exemplo, desencorajando o uso da inferência para descobrir o significado de um termo a partir do contexto em que está inserido). 24 Uma das primeiras tarefas do professor é fazer com que o aluno se aproxime do texto em língua estrangeira da mesma forma como faria com um texto em língua materna. A predição (prediction, em inglês) é o primeiro componente desse processo de percepção. A partir de seu conhecimento do mundo e de suas restrições lingüísticas, o leitor é convidado a formar expectativas sobre o material ainda não lido. O objetivo da predição é preparar mentalmente o aluno para leitura, estimulando-o a pensar sobre o provável assunto do texto antes do início da leitura. Depois desta, ele compara o conteúdo do material com a idéia que havia formado antecipadamente sobre ele. Gardner (1979) e Pugh (1978) concordam com os estilos de leitura propostos por Clarke e Silberstein (1977), que desenvolveram quatro esquemas de leitura hierarquicamente organizados, baseados nos diferentes objetivos que os leitores têm ao se confrontarem com um texto. Sugere-se que os alunos não apenas “abram o livro e leiam as páginas tais e tais”, mas que, ao ler, tenham um propósito específico em mente. Os quatro tipos de estratégias explicitados por Clarke e Silberstein podem ser resumidos como: § Skimming – leitura rápida para a obtenção do sentido global do texto; § Scanning – leitura na qual o leitor busca uma informação bastante específica (por exemplo, uma data, um nome, um número); § Compreensão total do texto – leitura visando a compreensão da mensagem do texto, tanto em seus aspectos essenciais quanto nos detalhes; § Crítica – leitura na qual o aluno é solicitado a apresentar sua opinião e julgamento sobre 25 aquilo que leu e é estimulado a reagir ao texto em língua estrangeira do mesmo modo como reagiria a um texto apresentado em língua materna. 3.3 –Propostas de Técnicas Baseadas em Experiências Pessoais A proporção que a prática de leitura foi utilizada com mais freqüência nas aulas de inglês, percebia-se que apenas esses quatro tipos de estratégias não eram suficientes para que o aluno pudesse extrapolar em suas críticas. Partindo desta necessidade, motivar os alunos a uma leitura seletiva (selectivity), isto é, selecionar os trechos onde se quer encontrar uma determinada informação (parágrafos por exemplo), passou a ser mais que uma necessidade, e sim uma necessidade urgente. O objetivo enquanto professora seria ajudar o aluno a lidar com partes do texto, ou seja, a concentrar-se em técnicas como skimming, scanning e predição do conteúdo a partir do título ou de ilustrações e incentivar o reconhecimento de cognatos ou de palavras transparentes (de origem latina ou grega), a predição da seqüência de uma sentença ou parágrafo a partir de certos vocábulos e o reconhecimento de relações lógicas no texto por intermédio de conectivos (discourse makers) e de elementos (lexicais e gramaticais) que aparecem repetidamente no texto. O aluno precisa ainda ser alertado para levar em consideração tanto a organização como a apresentação do texto, sem descartar gravuras, números, tabelas e ilustrações que fazem parte da leitura e a auxiliam. Finalmente é preciso ressaltar que o português não deve ser deixado de lado. Na verdade, é muitas vezes por meio da língua materna que se 26 pode verificar com certeza se o aluno chegou realmente a compreender uma mensagem. Não se deve, contudo, incorrer no abuso, exigindo traduções minuciosas de textos longos, que não levam a nenhum tipo de aprendizagem. O professor precisa usar o bom senso e dosar o uso do português, traduzindo palavras-chave e pequenas frases embutidas no contexto, toda vez que a comunicação fique comprometida ou emperrada pelo uso exclusivo do inglês. 27 CONCLUSÃO O mundo da leitura tem muitas facetas. Lê-se para ampliar os limites do próprio conhecimento, para obter informações simples e complexas; lê-se para saber mais sobre o universo factual; lê-se em busca de diversão e descontração e, por meio da literatura de ficção e da poesia, lê-se para chegar ao “prazer do texto”. Prazer que resulta de um trabalho intelectual intenso, de um corpo-a-corpo, em diferentes níveis, que se instaura entre o leitor – e sua experiência prévia de mundo – e ao autor e seu texto. São muitos os gestos de leitura e diferentes os textos que circulam nas instituições e grupos sociais. Obras teóricas, menos e mais complexas, juntam-se, em estantes de residências e até em bibliotecas escolares, a manuais didáticos. Textos literários refinados acabam convivendo com escritas voltadas ao puro entretenimento. Versões simplificadas de obras clássicas dividem o mesmo espaço com os originais que lhe deram vida. Além de revistas, quadrinhos e jornais, os textos que aparecem na mídia eletrônica estreitam mais e mais seus laços com os produtos “tradicionais”. Diante da tal visão caleidoscópica, é preciso administrar diferenças e proceder a escolhas cuidadosas para orientar as múltiplas leituras possíveis. Embora hoje em dia pesquisadores e professores reconheçam na leitura seu papel de instrumento fundamental de aprendizagem, sabe-se que é raro que desse aprendizado os alunos venham a descobrir o prazer de ler. No entanto, num enfoque do ensino da leitura, o ensinar a ler para aprender deve vir acompanhado do ensinar a ler para ler. 28 É importante que os alunos aprendam que a leitura também é um instrumento para o ócio e a diversão, uma ferramenta lúdica que nos permite explorar mundos diferentes dos nossos, reais ou imaginários, que nos aproxima de outras pessoas e de suas idéias, que nos converte em exploradores de um universo que construímos com nossa imaginação. Em todos os níveis de escolaridade deve haver tempo e espaço programados para ler por ler, ler para si mesmo, sem outra finalidade que a de sentir o prazer de ler. Fomentar o prazer da leitura não é algo independente de ensinar a ler. Saber ler não é suficiente para transformar uma nação. É preciso muito mais. É preciso formar, e bem, os leitores, e eles são formados basicamente com literatura, que é a palavra expressa em arte, alimento essencial do imaginário. A mágica da transformação é deles – dos leitores e dos artistas. A curiosidade, a disponibilidade e a imensa capacidade intelectual dos alunos perceberem e sentirem que o livro é precioso e tem valor, sem mesmo saber dizer ainda o porquê, confirma a tese de que gostar de ler depende das oportunidades oferecidas. É necessário conviver com bons livros e comprometer os educadores com essa tarefa, pois os livros, sozinhos, nada fazem. Mas, nas mãos de professores – leitores, provocam dúvidas e perguntas que podem levar a produzir grandes transformações na cultura escolar, formando bons leitores e grandes pensadores. 29 BIBLIOGRAFIA ALLEN, V. F. In: A Reading Sampler – Progressive Reading Series. Washington D.C.: English Teaching Division, United States Information Agency, 1974. BROCK, Cynthia A. The Effects of Referencial Questions on ESL Classroom Discourse. Tesol Quarterly, 1986.BRUMFIT, C. J. et al. (orgs). The Communicative Approach to Language Teaching. Oxford: Oxford University Press, 1979. BROWN, H. Douglas. Tesol at Twenty-five: What are the Issues? Tesol Quarterly: 1991. CARROLL, J. B. Language Comprehension and the Acquisition of Knowledge. CARROLL, J. B. & REEDLE, R. O. (orgs.). Washington D.C.: V. H. Winston & Sons, 1972. ______________. A Psycholinguistic Analysis of Reading Behavior. In: English Teaching Forum. v. IV, nº 1, p. 2-7. CELCE-MURCIA. An Outline of Language Teaching Approaches. 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Oxford: Oxford University Press, 1987. 32 ANEXOS 33 34 35 36 ÍNDICE INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 9 VISÃO DA APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA NO PASSADO E NO PRESENTE. 9 1.1 – POR QUE A ÊNFASE NA LEITURA? ................................................................ 10 CAPÍTULO II 13 MÉTODO E ABORDAGEM 13 2.1 – TIPOS DE MÉTODOS ...................................................................................... 14 2.2 – A ABORDAGEM COMUNICATIVA................................................................... 15 2.3 – MAS QUE M ÉTODO ADOTAR? ....................................................................... 17 CAPÍTULO III 19 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA COMO UMA HABILIDADE ATIVA 19 3.1 – A LEITURA COMO UM PROCESSO PSICOLINGÜÍSTICO .................................... 20 3.2 – ESTRATÉGIAS DE LEITURA NO ÂMBITO DO ENSINO M ÉDIO .......................... 23 3.3 – PROPOSTAS DE TÉCNICAS BASEADAS EM EXPERIÊNCIAS PESSOAIS .............. 25 CONCLUSÃO 27 BIBLIOGRAFIA 29 ANEXOS 32 ÍNDICE 36 37 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Título da Monografia: A Leitura no Processo de Aprendizagem em Língua Estrangeira no Ensino Médio. Data da Entrega: ____________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ Avaliado por: ___________________________ Grau: _________________ RJ, ______ de _______________ de 2005.