UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS Curso de Mestrado em Fenomenologia e Filosofia da Religião UNIDADE CURRICULAR: Filosofia e Religião no Pensamento Português 6 ECTS DOCENTE RESPONSÁVEL: Carlos H. do C. Silva 2009/2010 2.º Semestre CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS Título: DAS VALÊNCIAS GNÓSICAS DA MÍSTICA À DIMENSÃO ENCARNACIONAL DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL 1. INTRODUÇÃO: Delimitação crítica do âmbito de abordagem da reflexão filosófica e da tradição espiritual ibérica na sua vertente mística. Religião e Espiritualidade. Preliminares conceptuais: Caracterização histórica e genética da mística, como fenómeno helenístico típico, por contraste com a tradição profética semita e bíblica. As exigências de uma teorização da perfeição, quer na Teologia espiritual, quer na reflexão ético-filosófica sobre a ‘santidade’ e sua diferença em relação ao sentido estrito de mística. 2. – O ITINERÁRIO OU ‘CAMINHO’ ESPIRITUAL: O âmbito da vida espiritual na tradição do pensamento peninsular; referência à ‘cartografia’ das escolas e influências ocorrentes, em particular da herança agostiniana (Fr. Heitor Pinto. Fr. Tomé de Jesus…) e franciscana (Francisco de Osuna, Bernardino Laredo… Frei Agostinho da Cruz), também comparativa com a carmelitana (Stª. Teresa de Ávila e S. João da Cruz…Fr. Amador Arrais…) e jesuíta (Stº. Inácio de Loyola, Alfonso Rodriguez, A. Vieira, José Anchieta…). Importância destes diversos ‘timbres espirituais’ a partir de exemplificação com Autores e tendo em conta as etapas, os graus ou os níveis de consciência e de realização interior desta transformação espiritual. 3. – A FENOMENOLOGIA DA INTELIGIBILIDADE DA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL: As perspectivas críticas e hodiernas da reflexão filosófica (e também psicológica de perspectivação dos “estados modificados de consciência”) e o valor gnósico da experiência mística. (Referência a Sampaio Bruno e Pascoaes; L. Coimbra e José Marinho; Fernando Pessoa e Eudoro de Souza…; ainda comparação com Xavier Zubiri e a Joaquín Xirau; José Gaos e Manuel García Morente…) Linguagem e pensamento da mística. Referência histórica à autonomização do fenómeno místico após a devotio moderna e seu equacionamento gnósico posterior; comparação ainda com a fenomenologia da mística noutras tradições religiosas. 5. – TIPOLOGIA FILOSÓFICA DA UNIÃO MÍSTICA: Tipologia da fusão mística (dionisiana e da Wesenmystik, de matriz “oriental”) em contraste com a experiência unitiva de diálogo (na espiritualidade bíblica e cristã). Exemplificação com vários Autores e textos documentais. OBJECTIVOS DA UNIDADE CURRICULAR E COMPETÊNCIAS A ADQUIRIR Objectivos: Dado que a exposição e levantamento teórico da relação de Filosofia e Mística no Pensamento Português (aliás em abertura universalista da sua problematização), não é de natureza enciclopédica, mas se pretende orientada por um tipo de reflexão aprofundante, porém também aplicada ou segundo um exemplo inspirador (em larga medida do pensar e da espiritualidade ibérica, desde o siglo d’oro), segue-se ao longo da exposição particular referência ao desenvolvimento desta espiritualidade até às leituras hodiernas assim suscitadas no âmbito filosófico e da fenomenologia da experiência mística. Competências: Capacitar para uma reflexão desenvolta, prosseguindo linhas de investigação personalizadas em temas adentro do temário programático, investigações essas que deverão ser acompanhadas e sujeitas a uma análise crítica. BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL Nota prévia: Os Autores referidos nos diversos tópicos da exposição são meramente exemplificativos e destinam-se a apontar para várias linhas de possível investigação a ser aprofundada monograficamente em trabalho final dos mestrandos relativo a este módulo. Angel AMOR RUIBAL, Los Problemas Fundamentales de la Filosofia y del Dogma, Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, 1995, 3 vols. Carlos A. BALIÑAS, El Pensamiento de Amor Ruibal, Madrid, Ed. Nacional, 1968. José Luís L. ARANGUREN, Catolicismo y Protestantismo como formas de existencia, Madrid, Rev. de Occidente, 1952 e reed. Sampaio BRUNO, A Ideia de Deus, Porto, Lello, 1987. Luís CENCILLO RAMÍREZ, Mito. Semántica y realidad, Madrid, BAC, 1971. Leonardo COIMBRA, Obras Completas, Lisboa, IN-CM, 2004 e segs. Dalila L. Pereira da COSTA, Místicos Portugueses do Século XVI, Porto, Lello & Irmão ed., 1986. José FERRATER MORA, Variaciones sobre el espíritu, Buenos Aires, Ed. Sudamericana, 1945. Manuel GARCÍA MORENTE, El «hecho extraordinário» y otros escritos, Madrid, Rialp, 1986 e reed. Id. Ejercicios espirituales, Madrid, Espasa-Calpe, 1961 José MARINHO, Teoria do Ser e da Verdade, Lisboa, Guimarães, 1961. Antonio MILLÁN PUELLES, La estructura de la subjectividad, Madrid, Rialp, 1967. Teixeira de PASCOAES, O Homem Universal e outros escritos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1993. Fernando PESSOA, Obras em Prosa, ed. Cleonice Berardinelli, Rio de Janeiro, ed. Nova Aguilar, 1982. Eudoro de SOUZA, Mitologia, Lisboa, Ed. Guimarães, 1984. Miguel de UNAMUNO, “Del sentimiento trágico de la vida en la vida en los hombres y en los pueblos”, (in: Ensayos), Madrid, Aguilar, 1945. Joaquín XIRAU, La filosofia de Husserl. Una introducción a la fenomenologia, Buenos Aires, 1941. Maria ZAMBRANO, El hombre y lo divino, México, F.C.E., 1955. Xavier ZUBIRI, Naturaleza, Historia, Dios, Madrid, Ed. Nacional, 1942 e reed. METODOLOGIA DE ENSINO (AVALIAÇÃO INCLUÍDA) Ensino presencial - Como seria desejável numa unidade lectiva do nível de Mestrado, chama-se a atenção para a exigência de conhecimento básico suposto e uma atitude de investigação para elaboração de um estudo no âmbito sugerido pela temática elencada no Programa. Avaliação: A avaliação terá como base a elaboração de uma pequena monografia (c. 15-20 pp) de um trabalho de pesquisa e de debate de problema, posição de Autor ou de tema à escolha do aluno dentro da temática em questão. Além disso será tida em conta a assiduidade, a participação e a orientação de cada aluno, como condições regulamentares para acesso nesta unidade lectiva. O trabalho final será objecto de crítica e discussão e representará a base indispensável para o acesso nesta disciplina. O prazo para entrega do trabalho, tendo embora em conta o calendário legal, deverá ser o mais próximo possível do termo da leccionação.