14 Quarta-feira 17 de junho de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre Economia Agronegócios Operação Oryza desarticula sonegação fiscal com arroz Fraude possibilitou o desvio de R$ 125 milhões dos cofres do Estado MARCELO G. RIBEIRO/JC Adriana Lampert [email protected] Um esquema criminoso que vinha sendo aplicado no Estado há 20 anos por dois empresários intermediários (entre produtores e compradores) da cadeia do arroz foi desarticulado ontem pela manhã por agentes da Receita Estadual e do Ministério Público (MP-RS). A Operação Oryza (arroz, em latim) cumpriu oito mandados de busca e apreensão em empresas e residências de envolvidos na fraude fiscal, que sonegou pelo menos R$ 125 milhões em impostos estaduais. Conforme o subsecretário adjunto da Receita Estadual, Paulo Amando Cestari, o golpe envolve R$ 85 milhões em dívidas fiscais já constituídas e outros R$ 40 milhões estimados em sonegação fiscal. As investigações, que tiveram início no final de 2013, identificaram que pai e filho – Hélio Nazari (61 anos) e Pedro Henrique Nazari (27) – criaram pelo menos 40 pequenas empresas de fachada (com sócios-fantasmas) inscritas no Simples Nacional ou Geral para não pagar impostos nas vendas de arroz para fora do Rio Grande do Sul. Os mandados da manhã de ontem Cestari detalhou esquema que culminou em oito mandados de busca foram cumpridos em Porto Alegre, Arroio dos Ratos, Viamão e Camaquã. Entre os nomes “laranjas” da lista de PJs utilizada pela rede criminosa estão flanelinhas, ex-condenados, moradores de outros estados e RGs falsificados. De acordo com Cestari, os intermediadores compravam arroz de produtores gaúchos, industrializavam e depois vendiam para fora do Estado, operando as várias empresas fantasmas ao mesmo tempo, todas enquadradas com faturamento de até R$ 360 mil. “Des- ta forma, a quadrilha – que ainda conta com a participação de ao menos um advogado e um contabilista – tinha como distribuir a receita bruta sem ultrapassar este limite do Simples Nacional, que isenta do pagamento do imposto”, explica o promotor de Justiça, Luís Antônio Portela. No caso das empresas cadastradas na categoria Geral, a quadrilha ainda aproveitava a PJ para a obtenção de financiamentos bancários de forma fraudulenta. A estimativa é de que, somente nos últimos cinco anos, os criminosos comercializaram mais de 4 milhões de toneladas de arroz (pelo menos R$ 320 milhões em mercadorias), sem precisar recolher ICMS. A operação envolveu mais de 30 auditores fiscais da Receita Estadual, promotores de Justiça, volantes da Receita e policiais do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP). O grupo agiu sob a coordenação da Divisão de Fiscalização e Cobrança da RE e da Promotoria de Justiça Especializada no Combate aos Crimes Tributários do MP-RS. Se condenados, os acusados podem responder por sonegação fiscal, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Os monitoramentos ocorreram no período da última safra do grão e contaram com uma série de medidas cautelares, como interceptações telefônicas e rastreamentos por parte da Promotoria do MP-RS. O subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do órgão, Fabiano Dallazen, acredita que este pode ser apenas um caso entre outros de sonegação do setor no Estado, mas pontua que esta já é considerada a maior quadrilha operando no ramo do arroz. Olacyr de Moraes, o ‘rei da soja’, morre aos 84 anos em São Paulo O empresário paulista Olacyr de Moraes, conhecido como “rei da soja”, morreu na manhã de ontem, em São Paulo, vítima de um câncer de pâncreas descoberto no início de 2014. Filho de um vendedor de máquinas de costura, Olacyr já esteve à frente de um patrimônio de US$ 2 bilhões e tinha trânsito livre em Brasília. O título de “rei da soja” veio nos anos 1980, com sua atuação no agronegócio, em cultivos de cana-de-açúcar, algodão e, claro, soja. Algumas apostas frustradas, como a ferrovia com que sonhava integrar o Centro-Oeste com o litoral, a Ferronorte, e calotes de governos fizeram seu império ruir. As dívidas chegaram a US$ 1 bilhão. O marco da derrocada foi em 1996, quando deu um calote em investidores internacionais que haviam comprados papéis da empreiteira Constran. O executivo passou a vender o que tinha. O banco Itamarati foi vendido ao BCN, a fazenda do Mato Grosso do Sul foi vendida ao Incra, e a que mantém até hoje no Mato Grosso foi arrendada a Blairo Maggi, que o substituiu no reinado da soja. A Ferronorte hoje pertence à ALL, a Constran foi vendida à UTC, e a usina de cana-de-açúcar Itamarati foi passada a sua filha, Ana Cláudia. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, divulgou nota na qual diz que o empresário “deixa uma lição de empreendedoris- mo”. “Construiu um império que lhe valeu um epíteto, até mesmo além de nossas fronteiras. Foi o maior produtor mundial e não se limitou à agricultura, investindo também em outras áreas, como a construção civil”, disse a ministra. A Sociedade Rural Brasileira (SRB) também se manifestou por nota, na qual lamentou a morte do empresário, que era sócio da entidade. “Foi corajoso e visionário. Acreditou na potencialidade e na grandeza do agronegócio em grande escala e em longo prazo”, diz a nota, assinada pelo presidente da SRB, Gustavo Diniz Junqueira. JOSÉ PATRÍCIO/AE/JC Empresário foi dono de império Preço de referência do leite padrão para junho é de R$ 0,8588 A projeção do preço de referência do leite padrão em junho é de R$ 0,8588, uma elevação de 3,23% em relação ao mês passado. O valor foi divulgado na reunião mensal do Conseleite-RS (Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do RS), realizada ontem. Em maio, o preço de referência ficou em R$ 0,8319, contra a projeção que fora feita anteriormente, de R$ 0,8305, o que representou diferença final de R$ 0,0015. Nos últimos três meses (abril, maio e junho), os preços de referência do leite padrão apresentaram uma elevação de 2,65%, levando em conta que o valor de ju- nho é projetado. O presidente do Conseleite, Jorge Rodrigues, destacou o momento atual de visibilidade dado pelo Ministério da Agricultura em relação ao setor leiteiro, além da importância de políticas para a melhoria da sua competitividade. Rodrigues observou ainda que a projeção feita pela Universidade de Passo Fundo (UPF) sinaliza uma recuperação dos preços. Já Darlan Palharini, representante do Sindilat-RS, enfatizou a necessidade de políticas para impulsionar a exportação do leite nacional. “O setor precisa estar presente em negociações internacionais”, relata.