Raízes do Bolão Esmeraldina dos Santos, José Antônio, Mestre Pedro Bolão, Carmem Andréia, Manoel dos Santos, Diego Santos, Siula da Fonseca e Davina dos Santos. 58 Música e dança típicas do Amapá, o marabaixo é muito valorizado pela população do estado e reconhecido em sua identidade local. Está associado a festividades da igreja católica em louvor a diversos santos como Santo Expedito, São Tiago e São José e remete a tradições seculares que tiveram origem nos quilombos da região. O grupo Raízes do Bolão vive no quilombo do Curiaú, área rural da cidade de Macapá, onde mantém a tradição de cantar os ladrões18 (cânticos) que falam de situações diversas do cotidiano e de temas religiosos. Tia Chiquinha, matriarca do quilombo, aos 92 anos participa ativamente das festas e é referência para todos, detentora de conhecimentos que ajudaram o grupo a recuperar histórias e cânticos do passado. Utiliza os tambores de marabaixo fabricados pelo Mestre Pedro Bolão, e também apresenta os batuques (bandaias19) tocados em tambores cavados em tronco de árvore e em pandeirões que remetem a influências da cultura moura. Integram o grupo os tocadores e cantadeiras Mestre Pedro Bolão, Diego Santos, Manoel dos Santos, José Antônio, Esmeraldina dos Santos, Davina dos Santos, Carmem Andreia e Siula da Fonseca. 18 As letras de marabaixo são chamadas de “ladrão”. 19 As letras dos batuques são chamadas de “bandaias”. 59 Repertório* Marabaixos Aonde tu vai, rapaz 20 Raimundo Ladislau Lago das flores 21 Joaquim Laurindo Patavina 22 Francisca Ramos dos Santos (Tia Chiquinha) Aiai, aiai oh aiai, aiaiai 23 Olha a saia dela, Inderê * As músicas em que não constam nomes de autores específicos são obras de compositores desconhecidos ou criações coletivas que, ao longo de gerações, foram somando contribuições trazidas por integrantes da comunidade. 20 O ladrão Aonde tu vai, rapaz faz referência à chegada do governador Janary Coaracy Nunes, que retirou os negros da frente da cidade para que lá pudesse morar a elite. Eles foram morar no laguinho. Assim, dois irmãos, Bruno e Raimundo Ladislau, encontraram-se no caminho, e um perguntou para o outro: Aonde tu vai, rapaz. 21 O ladrão Lago das flores faz referência ao acontecimento de um roubo de porco. João de Paula roubou o porco do seu Guardenso, que criava um casal de porcos. Certa vez soltou os porcos. João de Paulo foi caçar deu com os porcos e os matou, dizendo que eram porcos do mato. Aí Joaquim Laurindo fez o ladrão. 60 22 O ladrão surgiu quando Raimundo Ladislau deu parte dos moradores da comunidade do Curiaú. Ele fez uma cerca para os gados não invadirem a roça, e a cerca foi derrubada. Com esse acontecimento foram parar na delegacia. 23 O ladrão conta que o boi fugiu do curral. O vaqueiro chamou pelo outro, que se deitou e foi dormir. Quando acordou foi com o pássaro cantando no galho do murici. Bandaias Trevelê 24 Mestre Eufrásio Belém 25 Baturité São Joaquim 26 24 A bandaia conta a briga de Josefa Borboleta e Maria Tacacá. As duas iam encher água no poço do mato e começaram a discutir por causa do Zé Belém. Uma queria ele e a outra também. Aí começou a confusão. 25 A bandaia faz referência à história de Benedita Viada e Belém. Belém mexia com Benedita Viada, ela aborreceu-se e deu uma surra nele. 26 Esta bandaia foi feita em louvor ao padroeiro da comunidade do Curiaú. 61