XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2013
Fábrica de Negócios - Fortaleza - CE - Brasil
04 a 08 de agosto de 2013
AVALIAÇÃO DO ESFORÇO FÍSICO NA SAÚDE DO TRABALHADOR EM OPERAÇÕES
MECANIZADAS
RICARDO B. CARVALHO DE SOUSA¹, LEONARDO DE ALMEIDA MONTEIRO², JOSÉ A.
BARBOSA FILHO³, FÁBIO H. DE SOUZA4, JOSÉ MARTINS DA SILVA JÚNIOR5
1
Engº Agrícola e ambiental, Mestrando em engenharia agrícola, UFC, Fortaleza-CE, (85) 9955-3318,
[email protected]
2
Licenciado em Ciências Agrícolas, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engª Agrícola, UFC, Fortaleza-CE
3
Engº Agrícola, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engª Agrícola, UFC, Fortaleza-CE
4
Agrônomo, Mestrando em engenharia agrícola, UFC, Fortaleza-CE
5
Graduando em agronomia, UFC, Fortaleza -CE
Apresentado no
XLII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2013
04 a 08 de Agosto de 2013 - Fortaleza - CE, Brasil
RESUMO: As atividades agrícolas mecanizadas expõem os trabalhadores a esforços físicos, estando
estes susceptíveis a doenças cardiovasculares, lesões corporais, prostrações, fadiga, perturbações
psicológicas, desidratação, problemas respiratórios, entre outros. O objetivo deste estudo foi avaliar a
frequência cardíaca e a carga cardiovascular no trabalho agrícola mecanizado. O experimento foi
realizado na Universidade Federal do Ceará na cidade de Fortaleza, o trator utilizado para o
experimento foi um 4x2 TDA, modelo BM com potência nominal do motor de 88 Kw. As atividades
foram realizadas no mês de julho de 2012, em 4 tratamentos: trator com capota na operação de aração;
trator sem capota na operação de aração; trator com capota na operação de gradagem; trator sem
capota na operação de gradagem, nos horários de trabalho dentro dos intervalos de: 8:00 às 10:00, das
11:30 às 13:30 e das 15:00 às 17:00 horas. Os resultados mostraram que a frequência cardíaca média
do operador nos dias trabalhados foi de 85,25, 81,20, 77,68 e 75,95 bpm, sendo este trabalho
considerado como “leve” para todos os dias. A carga cardiovascular foi de 10,81, 6,17, 3,91 e 2,84%
nos dias trabalhados. Concluiu-se que as atividades exercidas não foram consideradas prejudiciais para
a saúde cardiovascular do operador.
PALAVRAS-CHAVE: Operações agrícolas mecanizadas, esforço físico, carga cardiovascular
EVALUATION OF PHYSICAL EFFORT IN RURAL HEALTH WORKER IN
MECHANIZED OPERATIONS
ABSTRACT: The mechanized agricultural activities expose workers to physical efforts, and these are
susceptible to cardiovascular diseases, injury, prostrations, fatigue, psychological disorders,
dehydration, respiratory problems, among others. The goal of this work was evaluate heart rate and
cardiovascular load , mechanized agricultural work. The experiment was performed at the Federal
University of Ceará in Fortaleza city, the tractor used for the experiment was a 4x2 TDA, model BM
with a nominal engine power of 88 Kw. The activities were held in July 2012, four treatments: tractor
with cowl in plowing operation, tractor without cowl the in plowing operation, tractor cowl in
harrowing operation; tractor without cowl in harrowing operation in work schedules within the
intervals: 8:00 to 10:00, from 11:30 to 13:30 and 15:00 to 17:00. The results showed that the of the
operator’s average heart rate in days worked were 85.25, 81.20, 77.68 and 75.95 bpm, and this work is
considered "light" for every day. The cardiovascular load was 10.81, 6.17, 3.91 and 2.84% in days
worked. It was concluded that the activities carried out weren’t considered harmful to the operator’s
health cardiovascular.
KEY-WORDS: Mechanized operations, physical exertion, cardiovascular load
INTRODUÇÃO: O avanço da tecnologia e da mecanização ao longo do tempo vem substituindo o
trabalho manual por trabalhos mecanizados, gerando uma série de benfeitorias como redução dos
esforços físicos do operário, aumento da produção agrícola, e etc. Contudo, a crescente demanda por
alimentos tem levado o setor agrícola a fazer jus do melhor aproveitamento da janela de plantio,
levando o operador a prolongadas jornadas de trabalho, esse tempo de exposição, associado aos
esforços físicos operacionais podem causar danos à saúde do operador.O anexo IV da portaria nº 25 de
29 de dezembro de 1994 do Ministério do trabalho e do emprego classifica o esforço físico e as
jornadas de trabalho prolongadas como um risco ergonômico, podendo ocasionar lesões musculares, e
até mesmo afetar a saúde cardiovascular do operário.O esforço físico pode interferir no sistema
cardiovascular, segundo McArdle & Katch, (2003), o batimento cardíaco pode ser um sinalizador,
através do qual se pode avaliar o estresse corporal e o desgaste fisiológico do trabalho. Em estudos
ergonômicos usam-se índices fisiológicos com o objetivo de determinar o limite da atividade física
que um indivíduo pode exercer (ALVES et al, 2000). Apud (1989) sugeriu, a utilização de um índice
fisiológico denominado de “carga cardiovascular” (CCV), utilizando a frequência cardíaca nos
horários de trabalho e de repouso e a frequência cardíaca máxima do indivíduo, não podendo a CCV
ultrapassar 40%. A frequência cardíaca no trabalho segundo Apud (1997) pode ser usado para
classificar o nível de atividade fisiológica do trabalhador sendo denominada de “carga física de
trabalho”, variando de muito leve a extremamente pesada. Este estudo tem por finalidade avaliar os
riscos ao esforço físico e a jornada de trabalho submetido o trabalhador rural em seu pleno trabalho
mecanizado através de um índice fisiológico e da frequência cardíaca de trabalho.
MATERIAL E MÉTODOS: O estudo foi realizado na área experimental do Departamento de
Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, o trabalhador foi submetido a condições de
trabalho e operações diferentes, observando o comportamento da frequência cardíaca e utilizando a
carga cardiovascular (CCV), sugerido por apud (1989), onde é definido pela eq. 1:
Eq. 1
Onde:
CCV - Carga cardiovascular, %;
FCT – Frequência cardíaca trabalhando, bpm;
FCR – Frequência cardíaca em repouso, bpm e
FCM – Frequência cardíaca máxima (220 – idade), bpm;
Se a carga cardiovascular ultrapassar 40%, faz-se necessário à reorganização do trabalho, pois neste
caso, o trabalhador estará realizando a atividade com sobrecarga física, havendo a necessidade para
esse caso a reorganização dos horários de trabalho e repouso ou a redução das atividades exercidas a
fim de evitar maiores riscos ocupacionais. Segundo Apud (1997), a carga física de trabalho pode ser
classificada de acordo com a frequência cardíaca, como mostra a Tabela 1.
TABELA 1. Classificação da carga física de trabalho através da frequência cardíaca de trabalho.
Carga Física de Trabalho
Frequência Cardíaca em bpm
Muito leve
<75
Leve
75-100
Moderadamente pesada
100-125
Pesada
125-150
Pesadíssima
150-175
Extremamente pesada
>175
FONTE: APUD (1997)
As operações foram realizadas nos dias 03 e 04 de julho de 2012 (aração) e 17 e 18 de julho de 2012
(gradagem), em um trator marca VALTRA, modelo BM-120 4x2 TDA. Os tratamentos foram: T1 -
operação de aração, com trator com capota; T2 - operação de aração, com trator sem capota; T3 operação de gradagem, com trator com capota; e T4 - operação de gradagem, com trator sem capota.
Os horários de trabalho foram estabelecidos dentro dos intervalos de: 8:00 às 10:00, das 11:30 às
13:30 e das 15:00 às 17:00 horas, com uma hora e meia de descanso entre as operações para
higienização, alimentação e repouso à sombra. O operador tinha 26 anos de idade e apresentava bom
estado de saúde. As médias das frequências cardíacas foram medidas nos horários de trabalho e
descanso, em intervalos de 10 minutos, em bpm, através do medidor de frequência cardíaca marca
Polar, modelo T31-CODE, colocado na altura do peito do operador.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Observou-se que na operação de aração (T1 e T2), o valor da
frequência cardíaca média foi igual ou superior a 75 bpm e menor do que 100 bpm, que de acordo com
a Tabela 1 a carga física de trabalho foi classificada como “carga física de trabalho leve” e que, não foi
prejudicial a saúde do trabalhador, por não ultrapassar 110 bpm, pois segundo COUTO (2007),
batimentos cardíacos acima dessa frequência podem comprometer o sistema cardíaco e respiratório do
operador.Constatou-se que nos T1 e T2 , que nos horários de descanso a frequência cardíaca mantevese dentro do intervalo considerado normal por BARBIERI, 2002; BRUNNER & SUDDARTH, 2009,
ambos os autores relataram em seus estudos que a frequência cardíaca normal para um adulto ausente
de doenças cardiovasculares em repouso esta na faixa de 60 a 80 bpm, a variação da frequência
cardíaca ao longo do dia pode ser visto pela Figura 1.Ainda em relação a operação de aração, a CCV
do operador no dia utilizando a capota atingiu 10,81%, enquanto que no dia sem a utilização da capota
atingiu 6,17%, não havendo necessidade de redução dos horários de descanso tão pouco a alteração
das atividades, pois em ambos os dias, a CCV não atingiu 40%.
FIGURA 1. Frequência cardíaca média ao longo do tempo dos dias 03 e 04 de julho de 2012,
utilizando o trator com a capota e sem a capota na operação de aração.
Com relação à operação de gradagem (T3 e T4), verificou-se que em ambos os dias a frequência
cardíaca média foi igual ou superior a 75 bpm e menor do que 100 bpm sendo classificado como
“carga física de trabalho leve”, tal intervalo bem como o comportamento diário da frequência cardíaca
pode ser visualizado na Figura 2, no T3, os valores da frequência cardíaca media nos horários de
trabalho foi de 77,83 bpm e a CCV foi de 3,87%, no T2, os valores da frequência cardíaca média nos
horários de trabalho foi de 75,94 bpm e a CCV foi de 2,55%.
Verificou-se também que houve diferença entre as médias das frequências cardíacas do operador entre
as operações de aração e gradagem, tal fato pode ser justificado pelo maior numero de esforços
exigidos na operação de aração, pois o operador necessitava realizar manobra de cabeceira, com isso
havia o maior numero de acionamentos nos pedais de embreagem, alavancas de controle do sistema de
três pontos para levantar e abaixar o implemento, enquanto que na gradagem essas atividades não
eram realizadas, exigindo menores esforços do operador. Observou-se também que para a operação de
gradagem, na a maioria do tempo, a frequência cardíaca, manteve-se dentro da faixa considerada
normal para adultos saudáveis em repouso, evidenciando que a operação de gradagem não solicitava
grandes exigências físicas por parte do operador.
FIGURA 2. Frequência cardíaca média ao longo do tempo dos dias 17 e 18 de julho de 2012,
utilizando o trator com a capota e sem a capota na operação de gradagem.
Vale salientar de que, de acordo com a Figura 2, não houve diferença na frequência cardíaca média
entre os dois dias trabalhados na operação de gradagem, tão pouco em relação aos horários de trabalho
e descanso ao longo dos dois dias.
CONCLUSÕES: A operação de aração exigiu do operador maior esforço físico em relação à
gradagem, fato este, comprovado através da CCV e da frequência cardíaca nas horas de trabalho,
apesar da diferença de esforço físico entre as operações ambas foram classificadas como “carga física
de trabalho leve”, pois a frequência cardíaca média do operador manteve-se entre 75 e 100 bpm. A
CCV para todos os dias trabalhados foram menores do que 40%, não havendo necessidade de aumento
dos horários de descanso.
AGRADECIMENTOS:
REFERÊNCIAS: ALVES, J. U.; MINETTE, L. J.; SOUZA,A. P. Avaliação do perfil e condições de
trabalho de operários na atividade de propagação de Eucalyptus spp. em viveiros. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO SOBRE ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO FLORESTAL E
AGRÍCOLA, 1., 2000, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: UFV, 2000. p.135-140.
APUD, E. Guide-lines on ergonomics study in forestry. Genebra: ILO, 1989. 241 p.
APUD, E. Temas de ergonomia aplicados al aumento de la productividad de la mano de obra en
cosecha florestal. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE COLHEITA E TRANSPORTE
FLORESTAL, 3. 1997, Vitória. Anais... Vitória: SIF/DEF, 1997. p. 46-60.
BARBIERI, R. L. SOS – Cuidados Emergenciais. São Paulo: Ed. Rideel, 2002.
BRASÍLIA. Ministério do Trabalho e do Emprego. Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho.
Portaria
Nº
25,
de
29
de
dezembro
de
1994.
Disponível
em:
<http://www.ccs.ufrj.br/arquivos/biosseguranca/norma_de_riscos_ambientais_no_ambiente_de_trabal
ho_-_ministerio_do_trabalho_e_emprego.pdf.>. Acesso em: 24 de julho 2012
BRUNNER & SUDDARTH. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 11.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2009. v. 2. 1084p.
COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: conteúdo básico: guia prático. Belo Horizonte:
ERGO Editora, 2007.
McARDLE, W. D. KATCH, F. I. KATCH, V. L. Fisiologia do exercício. 5. Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara, 2003.
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