AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE SANTO ANTÓNIO Língua Portuguesa Coloca as palavras que se seguem por ordem alfabética e depois faz a correspondência ao seu significado, de acordo com o contexto onde surgem na história: alvacento seareiros mentrasto adobe definhava churrião sarar matacão coscorões medronho silvado fastio Ordem alfabética 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 montado descrente tenaz fulgor tição furtadela Significado que não acredita pedregulho esbranquiçado lavradores brilho filhó tijolo de barro terreno com sobreiros e azinheiras curar pinça falta de apetite roubo fruto do medronheiro carrão brasa mata de silvas enfraquecia planta AMIZADE COM A Esta é a história autêntica, sem milagre, de uma rapariga alentejana que tem uma estrela na palma da mão. Chama-se Rita. Ia nos doze anos quando houve enfim abastecimento de água na aldeia onde ela vivia, que não tinha então uma única rua alcatroada, nem 5 praticamente tinha ruas, pois era tão-só um amontoado alvacento de casas de adobe nascidas à mão do arquiteto acaso. Numa dessas Projecto «Sementes de Leitura» -1- casas, muito caiadas, que se orgulhava do seu cheiro a mentrasto e malva-rosa, da renda da sua chaminé e do seu pezinho sempre azul – verdadeiro azul alentejano -, morava uma família, de seareiros, que tinha um menino doente. Rita era uma das vizinhas 10 pobres que brincavam com esse menino ao ferrinho queimado e ao eixo rebaldeixo. Mas havia bem três meses que ele não se erguia da cama. Tinham os trigos enrijado, fizerase a matança do porco e o menino definhava. Haviam-no levado ao médico, de churrião, abafado em três mantas, quase sem ver o sol; e o médico tirara-lhe a febre, apalpara-o todo, auscultara-o, torcera o nariz, e mandara fazer umas análises. Mas onde? Bem, 15 então receitara. E o menino, pelo visto, em vez de sarar piorava de dia para dia. Com um fastio tal que nem os coscorões nem as fatias paridas lhe faziam descerrar os dentes. Os pais já não sabiam o que inventar para conseguir que ele comesse. Rita tentava tudo para que lhe desse, ao menos, um risinho. Eram da mesma criação. Tinham andado juntos no posto de ensino até à terceira classe. E ele era dos dois o que mandava, ele é 20 que conhecia os sítios dos ninhos e trepava às azinheiras e descobria os medronhos e os silvados onde as amoras eram mais doces. Agora não lhe arrancava um botão do bibe, não lhe arrepelava os cabelos, nem sequer lhe pedia um berlinde, um matacão dos de chupar. Nada. Estava para ali muito quieto, os grandes olhos azuis como vazios, na sua cama pintada de flores. Durante horas, Rita, sempre calada, para os pais dele não a 25 porem na rua, espiava-lhe o sinal do menor desejo: um golo de água, uma toalha para limpar o suor que lhe orvalhava as fontes. Mas ele quase não se mexia, parecia não dar fé das pessoas nem das coisas. Por isso Rita ficou num grande alvoroço quando ele inesperadamente disse (caía a noite sobre o povo muito branco e sobre o montado que ao longe deixara de bracejar): 30 - O que eu queria era uma estrela como aquela, tão pequenina e tão brilhante. - Uma estrela? – disse a Rita, ao mesmo tempo maravilhada e aflita, porque uma estrela não se deixa colher do céu como as nêsperas da nespereira. 35 - Sim… aquela estrelinha. - E curavas-te, se eu ta trouxesse? - Estou cá em mim que me punha bom. - Pois eu vou ver, amiguinho… - Vais buscá-la? (Dir-se-ia que o menino sorria, talvez descrente, talvez enfeitiçado pelo fulgor do astro.) - Vou mesmo, que é que tu cuidas? Projecto «Sementes de Leitura» -2- 40 E saiu, sem a menor noção do que fazer para cumprir tal promessa, mas disposta a revolver céu e terra, no seu mundo de cinco metros, para lhe dar aquele gosto. Mas as estrelas ficam tão altas!... Horas depois, às furtadelas, iludindo a atenção dos pais dele, que aqueciam os pés à lareira, na cozinha, entrou (muito trémula e envergonhada da mentira piedosa) 45 pelo quarto dele, já escurecido, com um tição ardente nas presas de uma tenaz. - Que é isso, Rita? - Então não vês?, é a estrela – disse ela, sem pinga de sangue. - Mostra cá! Mais perto. Aqui ao pé de mim. Quero vê-la na palma da tua mão. 50 O menino não deixou de morrer por causa dessa alegria, mas Rita ficou com uma estrela vermelha a aquecer-lhe para sempre a mão. Urbano Tavares Rodrigues, Estórias Alentejanas EXERCÍCIOS DE COMPREENSÃO DE TEXTO Assinala a opção correta, colocando um círculo à volta da alínea: 1- Na linha 3, a partir de «Ia nos doze anos», o tempo verbal muda porque a. passa do Pretérito Imperfeito para o Presente do Indicativo. b. a história não é verdadeira. c. se vai contar uma história que aconteceu num passado recente. 2- As casas de adobe a. são obra do arquiteto de nome «acaso». b. são obra de construção das pessoas, sem projeto de arquitetura. c. foram construídas por um arquiteto. 3- Uma das casas orgulhava-se das suas características verdadeiramente alentejanas. Nesta frase, está presente uma a. adjetivação. b. personificação. c. metáfora. Projecto «Sementes de Leitura» -3- 4- A pergunta «Mas onde?», na linha 15, significa que a. é fácil fazer análises. b. o menino não tem dinheiro para fazer análises. c. a aldeia ficava longe da cidade. 5- A frase «Eram da mesma criação.», linha 19, quer dizer que a. nasceram no mesmo dia. b. eram irmãos gémeos. c. cresceram juntos. 6- «os grandes olhos azuis como vazios», linha 24 Nesta expressão, está presente uma a. metáfora. b. onomatopeia. c. comparação. 7- O menino era a. sossegado. b. autoritário. c. obediente. 8- A frase «(caía a noite sobre o povo muito branco e sobre o montado que ao longe deixara de bracejar)», linhas 29-30, significa que a. as pessoas do povo já não estão a trabalhar. b. as pessoas do povo eram padeiras. c. as pessoas do povo já estão a dormir. 9- A frase «(muito trémula e envergonhada da mentira piedosa)», linha 45, quer dizer que a. Rita treme porque mentiu. b. Rita treme porque está com dores. c. Rita treme porque está envergonhada. 10- O último parágrafo do texto conclui que: a. o menino morreu de felicidade. b. apesar do sacrifício de Rita, o menino morreu na mesma. c. Rita ficou para sempre com uma brasa na mão. Projecto «Sementes de Leitura» -4- AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE SANTO ANTÓNIO Língua Portuguesa CORREÇÃO Objetivos da questão: Ordenar palavras por ordem alfabética; refletir sobre o conteúdo do texto, descobrindo o significado das mesmas palavras. adobe alvacento churrião coscorões definhava descrente fastio fulgor furtadela matacão medronho mentrasto montado sarar seareiros silvado tenaz tição Significado 6 10 2 15 8 4 1 13 14 17 7 9 11 3 18 16 5 12 que não acredita pedregulho esbranquiçado lavradores brilho filhó tijolo de barro terreno com sobreiros e azinheiras curar pinça falta de apetite roubo fruto do medronheiro carrão brasa mata de silvas enfraquecia planta EXERCÍCIOS DE COMPREENSÃO DE TEXTO Objetivo das questões: Compreender o texto globalmente: inferir sentidos. 1c. se vai contar uma história que aconteceu num passado recente. 2b. são obra de construção das pessoas, sem projeto de arquitetura. Projecto «Sementes de Leitura» -5- 3b. personificação. 4c. a aldeia ficava longe da cidade. 5c. cresceram juntos. c. comparação. b. autoritário. a. as pessoas do povo já não estão a trabalhar. a. Rita treme porque mentiu. b. apesar do sacrifício de Rita, o menino morreu na mesma. 6- 7- 8- 9- 10- Projecto «Sementes de Leitura» -6-