MEDIANDO A LEITURA: RUMO À AUTONOMIA DO LEITOR MÁRCIA REGINA MACEDO (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANDRADINA), MARISA ARAÚJO DA SILVA OLIVEIRA, MÁRCIA MARIA DE ALBUQUERQUE (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANDRADINA), SIMONE DA SILVA RAMOS (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANDRADINA), SONIA ANGÉLICA SANCHES SILVA (PREFEITURA MUNICIPAL DE ANDRADINA). Resumo O artigo propõe relatar experiências de um grupo de educadoras da Rede Municipal de Andradina que, após a participação em um Projeto de Extensão Universitária, em 2007, desenvolvido pelas FIRB “Faculdades Integradas Rui Barbosa” intitulado “Rodas de leitura: uma proposta de leiturização social” cuja proposta foi a de formação de mediadores de rodas de leitura, apresentou um projeto de formação de educadores. O Projeto Mediando a leitura: rumo a autonomia do leitor objetivou a formação de mediadores de rodas de leitura que atuam como professores nos Centros de Educação Infantil (CEI); Educação Infantil (EMEI); Ensino Fundamental I (EMEF). Ao todo foram 80 educadores dos 7 Pólos de Ensino, com o compromisso de implementar ações inovadoras que ampliem o repertório dos leitores por meio de estratégias de leitura. O referido Projeto, desenvolvido em 2008, teve como pressuposto a leitura como uma prática social e suas relações com o ensinar e aprender na escola, que tem um papel fundamental e a ela cabe a função de formar leitores e produtores de textos para o exercício da cidadania. Porém, é necessário buscar, por meio de formação continuada, atualizar seus atores, sobretudo os professores, a fim de que se apropriem de condições teórico–metodológicas sem as quais não será possível uma escola de qualidade que atenda às emergências da sociedade contemporânea que exige, cada vez mais, leitores autônomos. Enfim, o desafio da escola pública é grande, porém este projeto mostrou a todos os envolvidos que existem caminhos que possibilitam o cumprimento de sua tarefa. Palavras-chave: letramento , formação continuada, cidadania . MEDIANDO A LEITURA: RUMO À AUTONOMIA DO LEITOR MÁRCIA REGINA MACEDO ¹ SIMONE DA SILVA RAMOS ² MARISA ARAÚJO DA SILVA OLIVEIRA ³ SONIA ANGÉLICA SANCHES SILVA4 MÁRCIA MARIA DE ALBUQUERQUE5 Introdução O artigo propõe relatar experiências de um grupo de educadoras da Rede Municipal de Andradina que aplicou um projeto de formação de educadores, após a participação em um Projeto de Extensão Universitária, em 2007, desenvolvido pelas FIRB "Faculdades Integradas Rui Barbosa" intitulado "Rodas de leitura: uma proposta de leiturização social" cuja proposta foi a formação de mediadores de rodas de leitura. Buscou-se junto a DE (Diretoria de Ensino de Andradina) o acompanhamento da Profª Msc. Célia Firmino, para que os estudos tivessem continuidade num grupo especialmente constituído para essa finalidade. Desta criase o curso Mediando a leitura: rumo a autonomia do leitor que objetivou a formação de mediadores de rodas de leitura que atuam como professores nos Centros de Educação Infantil (CEI); Educação Infantil (EMEI); Ensino Fundamental I (EMEF). Ao todo foram 80 educadores dos 7 Polos de Ensino, com o compromisso de implementar ações inovadoras que ampliem o repertório dos leitores por meio de estratégias de leitura. O referido Curso, desenvolvido em 2008, teve como pressuposto a leitura como uma prática social e suas relações com o ensinar e aprender na escola, que tem um papel fundamental e a ela cabe a função de formar leitores e produtores de textos para o exercício da cidadania. Porém, é necessário buscar, por meio de formação continuada, atualizar seus atores, sobretudo os professores, a fim de que se apropriem de condições teórico-metodológicas sem as quais não será possível uma escola de qualidade que atenda às emergências da sociedade contemporânea que exige, cada vez mais, leitores autônomos. Fundamentação Teórica Leitura é um processo de interação entre leitor e texto (SOLÉ, 1998, p.22). É construída pelo ato de ler que envolve o leitor, o texto e o autor. O significado que se atribui ao texto é o resultado de um diálogo entre texto e leitor no qual entra em jogo um conjunto de estratégias, mediado por conhecimentos prévios de quem lê. É um processo complexo que vai além da decodificação de signos, requer compreensão e inferência do leitor com o texto. Nesse sentido, a leitura é um conteúdo de ensino que, por sua complexidade, requer situações didáticas organizadas visando aprendizagens significativas. Segundo Isabel Solé (1998), a leitura é um processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita. Precisamos saber decodificar e aportar ao texto nossos objetivos, idéias e experiências prévias; precisamos nos envolver em um processo de previsão e inferência contínua, que se apóia na informação proporcionada pelo texto, num processo que confirme ou rejeite nossas impressões, ou seja, todo texto é interativo e dinâmico, à medida que requer do leitor um posicionamento que traz à tona todo seu conhecimento prévio, lingüístico e científico, formador da construção de suas idéias. Todo texto é provocativo porque induz o leitor a reorganizar seu pensamento, buscando apoio no que já existe, em seus conhecimentos e fazendo tentativas árduas de previsões sobre o que ainda não conhece. Assim, podemos afirmar que leitura é uma atividade complexa, visto que exige do leitor múltiplas habilidades, que devem funcionar em sincronia, tendo como pressuposto a árdua tarefa de construir sentidos para o que lê, estabelecendo relação com o texto, compreendido como uma unidade complexa de relações constituída por fatores de textualidade. Somando-se a isso, a tarefa do professor ou mediador, deve compreender essas habilidades com muita propriedade, para saber quais objetivos pretendem atingir numa sala de aula; identificar interesses; aproveitar experiências; permitindo-se a troca de experiências e conhecimentos. Também de acordo com os Parâmetros, "leitura e escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento" (BRASIL, 1997, p. 52), necessitando, a escola, formar leitores que escrevam bem e escritores que leiam de forma competente. Tal leitor "só pode constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve se organizar em torno da diversidade de textos que circulam socialmente" (BRASIL, 1997, p. 54). Como leitura é um ato que se pratica socialmente, a idéia de de escolarização da leitura é para Foucambert (1994), a de formação permanente do leitor a ser assumida por todas as instâncias educativas, já que a leitura não é um processo que se conclui na escola. Para ele, (...).Aprende-se a ler em qualquer idade e continua-se sempre aprendendo. A escola é um momento da formação do leitor. Mas se essa formação for abandonada mais tarde, ou seja, se as instâncias educativas não se dedicarem sempre a ela, teremos pessoas que, por motivos sociais e culturais, continuarão sendo leitores e progredirão em suas leitura, e outras que retrocederão e abandonarão qualquer processo de leitura. (p.17) Portanto, torna-se imprescindível uma nova reflexão acerca da complexa atividade de leitura, buscando caminhos que levem a formação de leitores autônomos. O trabalho com rodas de leitura é um importante instrumento na ação educativa, uma vez que desperta no aluno o gosto pela leitura, permite o acesso a diferentes gêneros textuais e possibilita o desenvolvimento das habilidades de leitura, ampliando o seu conhecimento de mundo. Entretanto, é necessário que o professor seja um mediador propriamente dito, tenha embasamento teórico, use recursos internos e externos ( MACHADO, 2004, p. 72-76 Acordais cap III Aplicações e equipamentos de viagem) para tornar-se um bom contador de história. Desta forma tornam-se mais exigentes quanto ao livro que levam para os alunos, exploram sistematicamente o antes da leitura, privilegia a participação voluntária de seus alunos com suas hipóteses e posteriores checagens, também oportunizam espaços para que seja feita uma renarração tanto oral quanto escrita. A leitura passa a ser vista de forma prazerosa deixando de ser um obrigação. Desenvolvimento O curso teve como atividade central a formação de mediadores de Rodas de Leitura. Este se desenvolveu em dois momentos: no programa de formação continuada, tendo como principal foco o mediador de Rodas de Leitura, vivenciando oficinas de leitura; e o outro foco com o aluno que, mediado pelo professor, também vivenciou rodas de leitura. Foram realizados, de acordo com dias e horários pré-estabelecidos: encontros, rodas de leitura, dinâmicas, palestras abordando a importância do ato de ler, vídeo, biblioteca, exposição de relatos de prática em sala de aula pelos professores, desenvolvimento de trabalhos individuais e em grupos, com a abordagem de temas sobre a importância da leitura na construção da autonomia do leitor, produção de portfólio a partir das práticas realizadas em sala de aula. O curso contou com a participação de 80 educadores (divididos em dois grupos) e teve a duração de oitenta horas que foram distribuídos da seguinte forma: quarenta horas presenciais, oito horas na elaboração de um memorial, oito horas para elaboração e aplicação de rodas de leitura em sala de aula, quatro horas de elaboração do relato de experiência e vinte horas para elaboração do projeto de leitura. O curso foi desenvolvido com duas turmas (uma de professores da educação infantil e outra do ensino fundamental) ambas tiveram o período de três meses, com nove encontros de 4 horas, distribuídos com a abertura do curso e oito encontros aos sábados. A fundamentação teórica foi dividida em módulos onde abordamos os seguintes conteúdos: Módulo I - O que é leitura? (O que é leitura? Concepções de leitura: decodificação, interação texto e leitor e réplica ao discurso do autor); Módulo II: Estratégias de leitura e saberes do leitor (Conhecimentos prévios e estratégias de leitura); Módulo III: A compreensão leitora e a intervenção docente (A compreensão como conteúdo de ensino, saber sobre ler e o ensino das estratégias de leitura); Módulo IV: Referenciais teóricos para o desenvolvimento da competência leitora e escritora - parte I; Módulo V: Referenciais teóricos para o desenvolvimento da competência leitora e escritora - parte II; Módulo VI: A compreensão das narrativas literárias (A estrutura narrativa como ferramenta para a compreensão de narrações, a narração como discurso: quem escreve, quem conta, quem vê, como se conta, para quem se conta, a literatura em busca da formação do leitor sensível); Módulo VII: A escola e os contos (narração como discurso: quem escreve, quem conta, quem vê, como se conta, para quem se conta, análise de rodas de leituras, enfatizando as habilidades a serem desenvolvidas); Módulo VIII: Experiência docente: construindo (Socialização e aplicação das rodas de leitura). rodas de leitura Concluímos o trabalho com a socialização das rodas de leitura que foram momentos em que as pessoas se reuniram para comentar a aplicação das rodas de leitura em sala de aula e os resultados obtidos. As rodas foram realizadas no ambiente escolar e, mediados por um orientador de leitura (professor), foram desenvolvidas atividade de escuta e leitura de narrativas, poemas, notícias, textos teatrais e outros, seguidas de observações e comentários dos participantes sobre o autor, o material lido, as relações deste com outras obras e com a realidade, etc. Os participantes organizaram rodas de leitura de forma a desenvolver habilidades de leitura antes, durante e depois da leitura (SOLÉ, 1998), orientadas pela concepção de leitura, não apenas como decodificação, mas como compreensão, interação entre texto e leitor e como réplica ao discurso do autor. Assim, pela natureza da proposta, a relação dialógica, a problematização, a tematização da prática foram concepções metodológicas norteadoras desse curso. Considerações finais A formação de leitores requer investimentos envolvendo os professores responsáveis pelo ensino que, por sua vez, investirão na ação docente visando à formação dos alunos. É um processo que requer espaços de reflexão, ação e reflexão, problematização, estudos de caso e, sobretudo, a tematização da prática à luz de referenciais teóricos atuais. O foco da formação foi a leitura: concepções, estratégias e gêneros, aplicadas à situações didáticas do ensino e da aprendizagem, buscando sempre o desenvolvimento das capacidades de leitura e letramento para o exercício da cidadania. Reconhecendo que ler sempre representou uma das relações mais significativas do ser humano com o mundo, procuramos através da realização de Rodas de Leitura levar o leitor a desenvolver o seu potencial criador vivenciando a leitura como ato prazeroso. Sendo assim, objetivos estabelecidos quanto à formação de professores foram plenamente atingidos, atendendo as necessidades dos docentes de aprofundar as discussões e proporcionar aos mesmos um espaço de estudo, auxiliando os discentes em suas habilidades de leitura. Através de depoimentos e avaliações dos cursistas, percebemos que a idéia de alunos passivos quanto à leitura e "frases feitas" como: "meus alunos não: compreendem, interpretam, e outras", ficaram no passado. Foi nítida a mudança de postura quanto a rodas de leitura, antes vista de forma simplista, muitas vezes realizada sem nenhuma participação dos alunos e pouca exploração do livro. Foi notório também, a influência deste trabalho não só no avanço da competência leitora, como no da competência escritora. Durante o curso tivemos diferentes momentos de estudo e oficinas em que a mediação(anexos 1,2,3) ( professor- texto/ professor-aluno/ aluno-texto) constituiu fator determinante para a interpretação e compreensão de texto. Acreditamos que para que a escola cumpra seu papel de formadora de leitores a presença de mediadores de leitura é inevitável e indispensável, pois podemos concluir que o leitor constrói o significado a partir dos de seus próprios olhos, de suas experiências, mas também a partir dos olhos do mediador. Dessa forma, distribuir livros a alunos e professores e fazer propagandas ressaltando a leitura não basta. É necessário reestruturar as bibliotecas escolares com qualidade e quantidade de acervo, além disso colocar profissionais capacitados para nelas atuarem, como oferecer alternativas teóricas aos professores, que se contraponham àquelas já sedimentadas em seu discurso e em sua prática. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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Atualmente exerce a função de Coordenadora Pedagógica na EMEF "Profª Ondina Hofig de Castilho". •· Simone da Silva Ramos² Graduada em História (UFMS) e Pedagogia (FIRB), Pósgraduada em Educação Especial e Psicopedagogia (FIU). Professora da Rede Municipal de Ensino de Andradina, desde 1.998, atuando na área de Ensino Fundamental e Educação Infantil. •· Marisa Araújo da Silva Oliveira³ Professora da Rede Municipal de Andradina, desde 1990, Graduada em Pedagogia (FIRB), Pósgraduada em Psicopedagogia (FIU) ,atuando na área de Educação Infantil, atualmente exercendo a função de Vicediretora na EMEF "Humberto Passarelli", desde junho de 2006. •· Sonia Angélica Sanches Silva4 Graduada em Pedagogia Plena (FIRB) e Pósgraduada em Educação Infantil (FIRB), Professora da Rede Municipal de Andradina, desde 1.988, atuando na área da Educação Infantil, exerceu a função de Professora Coordenadora Pedagogia na EMEF "Professora Maria Vera Quental Tamai", junho de 2006 a junho 2008. •· Márcia Maria de Albuquerque5 Graduada em Pedagogia (FIRB), pós-graduada em Psicopedagogia Institucional (FIRB).Professora da Rede Municipal de Ensino de Andradina, desde 2001, atuando na área de Ensino Fundamental.