Deficiências na produção do texto escrito 221 ______________________________________________________________________ AS DEFICIÊNCIAS NA PRODUÇÃO DO TEXTO ESCRITO: UM ESTUDO DE CASO REFERENTE AOS GRADUANDOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Prof. Ms. Rogerio do Amaral1 Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente Universidade do Oeste Paulista Resumo A presente pesquisa objetivou levantar os principais problemas de escrita dos graduandos de Comunicação Social, apontando possíveis soluções para tais deficiências; buscou os motivos que levam o graduando a ingressar na Faculdade com tais deficiências; analisou os erros mais frequentes e sua motivação. Para a execução dessa proposta adotou-se a entrevista como técnica de coleta de dados e o estudo de caso e a pesquisa qualitativa como método de análise dos resultados. Ao final da investigação constatou-se que os principais erros cometidos pelos discentes na produção textual referem-se ao uso da acentuação, ortografia e construção de frases. Percebeu-se também que o ensino de língua portuguesa centra-se no ensino das regras gramaticais, com pouco enfoque para a prática textual. Assim, a pesquisa conclui que essa deve ser a principal mudança no ensino da língua portuguesa, a substituição do ensino técnico das regras por aulas mais práticas, onde as regras aparecem dentro de um contexto. Palavras-chave: produção de texto; deficiência; graduação; comunicação social. Resumen La presente pesquisa objetivó levantar los principales problemas de la escrita de los graduandos de Comunicación Social, apuntando posibles soluciones para tales deficiencias; buscó los motivos que llevan el graduando a ingresar en la facultad con estas deficiencias; analizó los errores más frecuentes y su motivación. Para la ejecución de esa propuesta se ha adoptado la entrevista como técnica de colecta de datos y el estudio de caso y la pesquisa cualitativa como método de análisis de los resultados. Al final de la investigación se ha constatado que los principales errores de los alumnos en la producción textual están relacionados con el uso de la acentuación, ortografía y construcción de las frases. Se ha visto también que la enseñanza de la lengua portuguesa está centrada en las reglas gramaticales, con pocas actividades de práctica textual. Así, la pesquisa concluye que ese debe ser el principal cambio en la enseñanza de lengua portuguesa, la sustitución de la enseñanza técnica de reglas por clases prácticas, con el uso de las reglas en un contexto. Palabras-llave: producción textual; deficiencia; graduación; comunicación social. 1 Professor e Coordenador de Pesquisa da Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente, na Universidade do Oeste Paulista. Doutorando em Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp / Presidente Prudente). ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 222 ______________________________________________________________________ Introdução Nos últimos anos, cresceram assustadoramente os comentários sobre o péssimo nível da educação básica brasileira. Tanto educadores como pais de alunos mostram-se insatisfeitos com esse quadro, mas os órgãos responsáveis nada fazem para mudar essa drástica situação. Diante desse quadro negro do ensino, a falta de atitude gera um problema tão grande, que o mesmo não se refere mais somente à educação básica, mas atingiu também o ensino superior. O autor desse trabalho é professor universitário há dez anos, e a cada novo semestre percebe o aumento no número de alunos que não dominam técnicas básicas de produção e interpretação de texto. Como professor da área de Língua Portuguesa em curso de Comunicação Social, o pesquisador mostra-se preocupado com os rumos que a educação tomará se tais problemas não forem resolvidos rapidamente. Quanto à área de atuação, a Comunicação Social forma profissionais, cuja principal ferramenta de trabalho é o texto. Dessa forma, qual será o futuro dessa área se os graduandos continuarem apresentando tantos problemas de uso da língua materna. Já a problematização surge da seguinte realidade, o ensino básico brasileiro exige que o aluno frequente doze anos de escola, dividido em duas etapas, o ensino fundamental (nove séries) e o ensino médio (três séries). Durante todo esse período, as matérias mais enfatizadas são a língua portuguesa e a matemática, pois nosso sistema educacional vigente considera preponderante que os alunos desenvolvam a capacidade de produção de texto e cálculo. No entanto, experiências em sala de aula de cursos de graduação mostram que cada vez mais cresce o número de alunos com deficiências na produção textual, área de atuação do pesquisador. Dessa forma, surge a intenção de realizar tal investigação, objetivando responder os seguintes questionamentos: por que o número de alunos com dificuldades na escrita aumenta cada vez mais nos cursos de graduação? E, quais são as principais causas dessa defasagem? A partir dessa problematização, a pesquisa propõe os seguintes objetivos: levantar os principais problemas de escrita dos graduandos de Comunicação Social, apontando possíveis soluções para tais deficiências; buscar os motivos que levam o graduando a ingressar na Faculdade com tais deficiências; analisar os erros mais frequentes e sua motivação; e, verificar as principais maneiras para sanar tal deficiência. ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 223 ______________________________________________________________________ Dessa forma a presente pesquisa pretende contribuir com a sociedade e com a comunicação social, levantando as principais causas para que a cada ano os alunos repitam erros básicos no uso da língua materna. Já o pesquisador alcançará conhecimento que permitirá sanar algumas deficiências apresentadas pelos seus alunos, assim como rever sua metodologia de ensino, para que tais erros sejam eliminados do cotidiano da clientela acadêmica. Referencial teórico Na atualidade, com a globalização e os avanços tecnológicos, seria praticamente impossível para o homem se relacionar sem a existência da escrita. Assim, esse capítulo faz um pequeno recorte sobre a história da escrita e sua importância para a comunicação. A escrita como conhecemos hoje tem origem na Grécia, quando os gregos agregam as vogais ao sistema de escrita fenício dando origem ao sistema alfabético. Esse sistema foi adaptado pelos romanos originando o sistema alfabético grego-romano, do qual se tem origem o nosso alfabeto. Com a consolidação do sistema alfabético, a escrita também se consolida e transforma-se num método de registro da memória cultural, política, artística, religiosa e social de um povo. Através dela tornou-se possível instrumentalizar a reflexão, a expressão e a transmissão de informações, entre outras necessidades sociais. Segundo Neves (2008, p. 113) a escrita “é algo tão importante na história que, para alguns, só existe história quando existe escrita [...].” Atualmente, os meios de comunicação também desempenham um papel preponderante na sociedade moderna. Tal papel, de certa maneira, constrói-se a partir da escrita, pois a produção textual é essencial na prática da comunicação, e seja com a intenção de informar um fato ou vender um produto, cabe ao texto influenciar o leitor/consumidor. Dessa forma, compreendendo o texto como a principal ferramenta de trabalho do comunicólogo, torna-se necessário analisar o papel da escrita na sociedade. Sobre isso, Vanoye (1998, p. 69) afirma que a escrita trata-se de “um sistema simbólico de representação da fala”. O autor ainda afirma que a evolução da escrita está dividida em três etapas: a escrita sintética; a escrita analítica e a escrita fonética. Para Vanoye (1998), a escrita sintética refere-se a um signo que representa toda a frase. A escrita analítica reduz a frase global a elementos mais simples a palavra, ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 224 ______________________________________________________________________ enquanto a escrita fonética marca os sons, ou seja, temos a passagem do ideograma ao sistema fonético. Mas, apesar dessa evolução, o autor aponta que não existe nenhum sistema puro atualmente, isto é, que se utilize de um único tipo de escrita. Na verdade, compreende-se então que a comunicação atual está pautada na convivência harmoniosa de imagem, palavras e sons. No entanto, é exatamente nessa falta de harmonia que residem os principais erros cometidos pelos alunos ingressantes do ensino superior, e que se tornam o objeto central da presente investigação sobre as dificuldades da aquisição da linguagem, pois escrever é fundamental para o desenvolvimento de qualquer profissional, tanto que Halliday (apud LANDSMANN, 1998, p. 15), afirma que “a escrita [...] cria um novo tipo de conhecimento: o conhecimento científico; e uma nova forma de aprendizagem, chamada ensino”. Para Marques (1997, p. 41) é “o escrever que imprime significância à escrita; mas, antes necessitou o homem descobrir que os traços depositados em algum suporte material podem sinalizar para algo outro que eles mesmos, para uma ação humana reconhecível nas marcas que deixou após si [...]”, ou seja, essas marcas podem ser entendidas como o conhecimento transmitido de uma geração para outra através da escrita. A partir dessa importância adquirida pela escrita, ela tornou-se um processo indispensável na alfabetização, assim por muito tempo considerava-se alfabetizado somente aquela pessoa que tinha domínio pleno da escrita e da leitura. Para Cagliari (1998, p. 12) “quem inventou a escrita inventou ao mesmo tempo as regras de alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está escrito, entender como o sistema da escrita funciona é saber como usá-lo apropriadamente.” Assim, observada a importância da escrita para a formação pessoal e porque não dizer profissional, passa-se para a exposição dos procedimentos metodológicos adotadas no presente trabalho. Materiais e métodos O universo investigado refere-se ao Tronco Comum, ou seja, os quatro termos iniciais de um curso de Comunicação Social, local em que o pesquisador trabalha como professor de disciplinas da área de língua portuguesa. Os discentes investigados foram abordados a partir das disciplinas ministradas pelo pesquisador, a partir dos trabalhos desenvolvidos em sala e em cujo conteúdo verificou-se a recorrência de erros que ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 225 ______________________________________________________________________ prejudicam a produção escrita. Os textos foram selecionados de forma aleatória ao longo de dezoito meses nas aulas de língua portuguesa e interpretação de textos. Para nortear tal investigação optou-se pelo método do estudo de caso, pois segundo Goldenberg (1997, p. 34), “o estudo de caso reúne o maior número de informações [...] por meio de diferentes técnicas [...], com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto”, que nesse trabalho refere-se ao levantamento do porquê os alunos ingressam na faculdade com tamanha deficiência no quesito da produção textual, mesmo depois de frequentar os bancos escolares por doze anos e tendo a língua portuguesa como o conteúdo mais estudado. Ainda segundo Goldenberg (1997, p. 35), “o pesquisador precisa estar preparado para lidar com uma grande variedade de problemas teóricos e com descobertas inesperadas, e, também, para reorientar seu estudo”. Mas, essa possibilidade de trabalhar com fatos inesperados é o que move a pesquisa, pois dessa forma podem-se levantar os motivos de tais deficiências textuais. Além do estudo de caso, opta-se também pela pesquisa qualitativa, isso porque os dados qualitativos “consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos” (GOLDENBERG, 1997, p. 53). Tais descrições serão aferidas a partir da identificação dos erros dentro das salas onde o professor ministra aula semanalmente. A escolha da pesquisa qualitativa também se justifica pela possibilidade oferecida ao pesquisador de colocar em prática a sua capacidade de analisar e refletir sobre os dados elencados, uma vez que os dados qualitativos obrigam o pesquisador “[...] a ter flexibilidade no momento de coletá-los e analisá-los. [...] o bom resultado da pesquisa depende da sensibilidade, intuição e experiência do pesquisador” (GOLDENBERG, 1997, p. 53). Quanto às técnicas de pesquisa, em primeiro lugar, empregou-se a pesquisa bibliográfica que segundo Marconi e Lakatos (2005, p. 183), “abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo.”, sendo nesse caso as teorias acerca da escrita e dos mecanismos corretos de produção do texto. Para Manzo (apud MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 183), a bibliografia pertinente “oferece meios para definir, resolver não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente”. ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 226 ______________________________________________________________________ Outra fonte de coleta de dados empregada foi a entrevista, cujo escolha recaiu sobre o tipo padronizada ou estruturada, definida por Marconi e Lakatos (2005, p. 197), como: “aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, as perguntas feitas ao indivíduo são pré-determinadas. [...] é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano”. Quanto à análise dos resultados, está foi pautada na análise qualitativa, pois a presente pesquisa teve a pretensão de compreender as motivações para a ocorrência de tais erros, buscando também soluções capazes de sanar essa deficiência, pois o autor compreende que quando alunos chegam ao ensino superior com deficiências básicas, tais deficiências são também de responsabilidade de todos os docentes, já que é papel desses profissionais capacitar o aluno. Resultados Os resultados levantados e analisados por esta pesquisa foram coletados de duas formas. Num primeiro momento realizou-se uma entrevista com sessenta e cinco alunos escolhidos de maneira aleatória nas disciplinas ministradas pelo pesquisador. O objetivo dessa entrevista era observar como os discentes avaliavam o ensino básico frequentado por eles. Na sequência, o segundo passo consistiu em recolher alguns textos produzidos por esses discentes e observar a existência de erros, e nesse caso, identificar os erros cometidos com mais frequência. Foram analisados cento e oitenta e sete textos escolhidos também de maneira aleatória a partir das produções discentes realizadas num período de doze meses entre maio de 2010 e abril de 2011. Tais informações geraram os dados que serão fornecidos no próximo tópico, cuja apresentação se dará da seguinte forma, primeiro serão apresentados os dados colhidos na entrevista com os alunos e posteriormente apresentam-se os dados obtidos a partir da análise de textos produzidos pelos discentes em sala de aula. Visão discente sobre o ensino de língua portuguesa O primeiro questionamento feito aos discentes tinha a intenção de saber o tipo de escola frequentada por eles, assim quanto ao local onde os entrevistados estudaram durante o ensino fundamental e médio, a realidade levantada é a seguinte: ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 227 ______________________________________________________________________ FIGURA 1 - Onde cursou ensino fundamental e médio Escola pública e particular 23% Colunas1 Escola pública 57% Escola particular 20% A partir da identificação da situação de ensino vivenciada pelos discentes foi possível também averiguar a quantidade de escolas frequentadas pelos discentes em cada uma das situações apresentadas acima, conforme se observa nas figuras 2, 3 e 4. FIGURA 2 – Número de escolas públicas frequentadas Mais de duas escolas 20% Duas escolas 40% Uma escola 40% FIGURA 3 – Número de escolas particulares frequentadas Mais de duas escolas 16% Uma escola 31% Duas escolas 42% ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 228 ______________________________________________________________________ FIGURA 4 - Número de escolas públicas e particulares frequentadas Duas escolas 40% Mais de duas escolas 60% Na sequência, os discentes foram questionados sobre como eram as aulas ministradas durante o ensino fundamental e médio. As respostas obtidas foram as seguintes: FIGURA 5 - Como eram as aulas de língua portuguesa na visão dos discentes Não responderam 0% 8% Outras respostas 29% Aulas boas no Fundamental e básicas no Médio… 0% Aulas boas 29% Aulas ótimas ou excelentes 8% Aulas com muita gramática 8% Aulas razoáveis ou regulares 14% O questionamento seguinte objetivou perceber como os alunos avaliavam a si mesmos como produtores de textos. Para essa pergunta os resultados foram estes: FIGURA 6 - Os discentes se consideram bons produtores de texto 5% 21% Sim 40% Não Razoável 34% Outras respostas ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 229 ______________________________________________________________________ A partir dessa avaliação dos alunos sobre o trabalho com textos, os questionamentos seguintes pretendiam identificar os principais erros cometidos na produção textual, os motivos para tal ocorrência e quais as formas mais adequadas na visão deles para sanar essas deficiências, conforme se observa nas figuras 7, 8 e 9. FIGURA 7 - Maior dificuldade para produzir um texto Organização Introdução Gramática Criatividade Repertório Desenvolvimento Não responderam Outras Respostas 19% 38% 15% 5% 8% 3% 6% 6% FIGURA 8 – O discente identifica os motivos dos erros cometidos Não 31% 32% Falta de leitura 11% 17% Ensino ruim na base 5% 4% FIGURA 9 - Visão discente para sanar as dificuldades textuais Leitura 12% 25% 17% Treinar mais 5% 5% Produzir mais textos 21% 6% 9% Ensino mais interativo Melhorar o ensino na base ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 230 ______________________________________________________________________ A entrevista com os discentes foi encerrada com os questionamentos sobre o conteúdo predominante durante o ensino básico, e se com esse ensino recebido eles se sentem preparado para exercer a profissão de comunicólogo, que tem a produção textual como a base profissional. As respostas são apresentadas nas figuras 10 e 11. FIGURA 10 - Conteúdo enfatizado no ensino básico 8% Gramática 40% Organização de ideias Não responderam 41% Outras respostas 11% FIGURA 11 - O conhecimento adquirido no ensino básico permite exercer a profissão de comunicólogo 3% 6% Não 46% 45% Sim Não responderam Outras respostas Dados coletados em exercícios produzidos pelos discentes Quanto aos dados coletados em sala de aula, eles foram extraídos de cento e oitenta e sete textos, escolhidos em atividades aleatórias e produzidas nas disciplinas ministradas pelo autor desse trabalho. Essa coleta permitiu o levantamento do número de textos que apresentam erros, assim como, quais são os tipos de erros cometidos e em que quantidade isso ocorre durante a produção textual do universo investigado, conforme se observa nas figuras 12 e 13. ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 231 ______________________________________________________________________ FIGURA 12 - Situação dos 187 textos analisados 16% Corretos Errados 84% FIGURA 13 - Quantidade e tipos de erros cometidos 3 Locução… Marcas… 1 1 1 Coloquialis… 4 Neologismo 6 Conceito 7 Troca de… 8 Crase Gerundismo Redundância Substantiv… Pontuação Ortografia… 16 15 12 10 10 9 Ausência… 32 Concordân… Construçã… Ortografia Acentuação 55 55 Concordân… 96 187 textos analisados Discussão O objetivo desse estudo não é julgar a qualidade do ensino oferecido na base e muito menos afirmar que escolas particulares são melhores que as públicas e vice-versa. Assim, o que deve ser observado nas figuras de 1 a 4 (ver item 4.1) é que a realidade dos discentes investigados mostra pouca mobilidade entre escolas, ou seja, os alunos permanecem todo o ciclo de ensino numa única escola, frequentando no máximo duas escolas durante o período de ensino fundamental e médio, e esse fato é fruto da nova política educacional paulista que tem concentrado os ciclos educacionais em escolas distintas, por isso muitas vezes os alunos são obrigados a trocar de escola ao término do ensino fundamental. Dessa forma, a possibilidade das deficiências dos discentes estarem relacionadas ao trânsito escolar fica descartada, pois a pesquisa mostra que a realidade vigente aqui é outra. Assim, o próximo passo seria julgar o trabalho desenvolvido nas ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 232 ______________________________________________________________________ salas de aula, mas esse também, segundo os alunos não é causa para os erros, pois na figura 5 (ver item 4.1) tem-se a visão dos alunos sobre as aulas no ensino básico, e pelo menos metade considerou as aulas como excelentes, boas ou razoáveis. Já a partir da figura 6 (ver item 4.1), a discussão torna-se mais acentuada, pois na visão da maioria dos alunos eles são bons redatores de texto, no entanto, a análise dos materiais produzidos por eles mostram uma realidade um pouco diferente, onde na visão do pesquisador a porcentagem atribuída para bons produtores deveriam ser invertida com a porcentagem de produtores razoáveis de texto. Quanto ao assunto abordado nas figuras 7 e 8 (ver item 4.1) referentes às dificuldades para produzir um texto e os motivos dessas dificuldades, as respostas refletem a realidade dos trabalhos, pois os discentes apresentam problemas de organização de ideias, dificuldades para introduzir um assunto, assim como ainda cometem muitos erros gramaticais básicos, como acentuação, ortografia e concordância verbal e nominal, principalmente. E, tais deficiências estão atreladas ao fato dos alunos lerem pouco, como eles mesmos relataram na pesquisa. Quem lê pouco, tem conhecimento restrito e dessa forma apresenta muito mais dificuldade para escrever sobre um assunto externo ao seu cotidiano. Diante de tais dificuldades, os argumentos apresentados pelos alunos para sanar essas questões, onde predomina uma prática maior de leitura e de produção textual, conforme figura 9 (ver item 4.1), realmente parece ser a maneira mais efetiva para ajudá-los a escrever melhor. Já quanto ao fato do ensino básico enfatizar o ensino da gramática, como mostra a figura 10 (ver item 4.1), esse parece ser um ponto para reflexão, pois se as maiores deficiências estão atreladas a organização de ideias, me parece que o mais indicado seria uma revisão do conteúdo de língua portuguesa, onde o excesso no ensino de regras gramaticais fosse substituído pelo ensino da prática de produzir textos, e a partir desses exercícios os professores poderiam trabalhar as regras gramaticais, mostrando para o aluno qual a forma correta dentro de um determinado contexto escolhido por ele e não a partir dos exemplos soltos oferecidos pelos livros didáticos. Já na figura 11 (ver item 4.1) reitero a consideração feita para a figura 6, os textos produzidos e analisados apresentam uma realidade distinta, pois os discentes investigados, até o momento apresentam uma porcentagem menor de pessoas capacitadas para o mercado de trabalho com comunicação, área que exige uma redação textual eficiente e com o menor número de erros possível. ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 233 ______________________________________________________________________ Quanto aos trabalhos analisados, o objetivo da investigação consistiu em identificar a ocorrência de erros básicos da língua portuguesa. Nesse âmbito percebeu-se que a grande maioria dos textos apresenta pelo menos um desses erros, conforme mostra a figura 12 (ver item 4.2). Já na figura 13 (ver item 4.2) temos a distribuição desses erros, onde predominam os erros de acentuação, que nesse caso referem-se tanto à falta de acento, como a colocação de acento em palavras que não o levam, conforme os exemplos “democrácia" e “econômia". Tal erro pode ser compreendido a partir de dois motivos, o primeiro existe uma desatenção dos discentes durante a produção do exercício, mas com certeza esse erro de acentuação aumenta a partir do momento que os discentes têm um contato maior com os computadores, pois como essas máquinas têm programas que corrigem automaticamente o erro, o aluno não tem mais a preocupação de corrigir o texto, transferindo a responsabilidade para o programa de computador, mas ao produzir um texto manuscrito os erros aparecem, uma vez que não existe programa para ajudá-lo. Na sequência nos deparamos com a mesma quantidade de erros de ortografia e construção de frases, tais erros estão atrelados à questão da falta de leitura por parte dos alunos, assim como ao excesso do ensino de gramática na base e à falta de exercícios práticos. No tocante à ortografia, os erros mais comuns são “opniões”, “relegendo”, “apartir”, “nessecita”, entre outros. Já a construção de frases apresenta os seguintes erros, “estão deixando de ser ditadura para um país democracia onde o cidadão possa tomar partido, relegendo novos governos.” Ou “nada do que é feito é na pura democracia, é cobrado e é mostrado isso para a sociedade mais se olharmos com o olhar democrático teremos a visão de...”, ou seja, a construção empresa é totalmente desprovida de sentido, e configura-se como um amontoado de palavras apenas. Além desses erros apresentados aqui, os trabalhos confirmaram a existência de outros erros relatados pela maioria dos professores de língua portuguesa, são eles a concordância verbal e nominal, pontuação, redundância, uso da crase, entre outros como mostra a figura 13 (ver item 4.2). Mas, a discussão a respeito desse erro deve estar atrelada a uma mudança de postura no ensino de língua portuguesa, onde a gramática deve se transformar numa parte do conteúdo e não no seu guia, pois o guia do ensino de língua portuguesa deve ser a organização de ideias, isto é, o ensino deve cobrar mais a prática textual e inserir dentro dessa prática o ensino das regras gramaticais, para que os discentes as aprendam a partir do uso e não de forma solta, como é a prática dos livros didáticos de hoje. ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 Deficiências na produção do texto escrito 234 ______________________________________________________________________ Considerações finais Ao final dessa investigação pode-se afirmar que os objetivos propostos foram contemplados, pois foi possível identificar quais são as maiores deficiências cometidas pelos discentes de um curso de comunicação social durante a produção textual, com predominância para os erros de acentuação, ortografia, construção de frases e concordância verbal. No entanto, identificou-se também mais catorze tipos de erros num grau menor de ocorrência, fato que mostra a necessidade dos professores da área de língua portuguesa terem uma atenção maior com esses desvios de norma apresentados pelos discentes. Quanto às motivações para a ocorrência dessas deficiências textuais, elas estão atreladas ao tipo de proposta de ensino colocada em prática no Brasil e que prioriza um ensino fragmentado, pautado em modelos sem contextualização e voltados mais para a chamada “decoreba” do que o aprendizado real e prático, ou seja, falta uma abordagem mais prática, cujas regras gramaticais sejam ensinadas num contexto específico, de acordo com a realidade de cada discente. Assim, ao concluir esse estudo a consideração final sugere aos professores de língua portuguesa uma mudança de paradigma. Deve-se ocorrer a substituição tradicionalista da gramática por um ensino que vise à atividade prática, o uso corrente da língua. Dessa forma, a produção textual se transformará em algo mais natural para o aluno, pois fará parte do seu cotidiano e cobrará seu conhecimento, sua capacidade de resolver problemas, sem a necessidade de decorar regras, mas aprendendo a usá-las de maneira efetiva. REFERÊNCIAS CAGLIARI, Luis Carlos. Alfabetizando sem o Bá-Bé-Bi-Bó-Bu. São Paulo: Scipione, 1998. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Rio de Janeiro: Record, 1997. LANDSMANN, Liliana Tolchinsky. Aprendizagem da linguagem escrita – processos evolutivos e implicações didáticas. Tradução de Cláudia Schilling. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998. MARQUES, Mário Osório. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 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