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II Congresso Nacional de Formação de Professores
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Trabalho Completo
AS DIFICULDADES DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DOS ALUNOS DE
PEDAGOGIA NOS PRIMEIROS SEMESTRES DO CURSO EM DUAS UNIVERSIDADES
DO SETOR PRIVADO DE ENSINO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Simone Aparecida Silva Angelo Bassotto
Eixo 1 - Formação inicial de professores para a educação básica
- Relato de Pesquisa - Apresentação Pôster
O presente artigo tem como objetivo mostrar as dificuldades de leitura e interpretação de
textos apresentadas pelos alunos de pedagogia nos primeiros semestres do curso em duas
Universidades do setor privado de ensino do Estado de São Paulo. Tais dificuldades foram
encontradas em uma pesquisa realizada em 2012, que teve como tema: Os desafios
enfrentados pelos alunos do curso de Pedagogia para inserção no Ensino Superior. Essa
investigação pautou-se na abordagem qualitativa (BOGDAN E BIKLEN, 1994). Os sujeitos
de pesquisa foram alunos do último semestre do curso de Pedagogia de 2 (duas)
Universidades do setor privado de ensino do Estado de São Paulo. O procedimento de
coleta de dados se realizou através do grupo focal (GATTI, 2005), e a análise dos dados foi
elaborada com base na análise do conteúdo (FRANCO, 2003). Os resultados mostram que
nos primeiros semestres do curso de Pedagogia emergem muitos desafios, que se
explicitam em forma de dificuldades em diversas dimensões, destacando-se a dificuldade de
leitura e interpretação de textos. Os relatos dos sujeitos mencionam a não familiarização
com os textos acadêmicos, demonstram estar assustados com a quantidade de textos para
ler e expressam a dificuldade de estabelecer relação entre os textos lidos e a prática
cotidiana. Considera-se que a leitura e a interpretação de textos são habilidades
fundamentais para a apropriação dos conteúdos acadêmicos e para o trabalho cotidiano do
professor, sendo assim, os resultados desse estudo ressaltam a importância de se pensar
nos cursos de Pedagogia, em estratégias que possibilitem ao aluno a superação das
dificuldades apresentadas. Palavras-chave: Curso de Pedagogia; Dificuldades; Leitura.
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Ficha Catalográfica
AS DIFICULDADES DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS DOS
ALUNOS DE PEDAGOGIA NOS PRIMEIROS SEMESTRES DO CURSO EM
DUAS UNIVERSIDADES DO SETOR PRIVADO DE ENSINO DO ESTADO
DE SÃO PAULO.
Simone Aparecida Silva Angelo Bassotto i. Universidade Cidade de São Paulo
INTRODUÇÃO
Este estudo objetiva mostrar as dificuldades de leitura e interpretação
de textos apresentadas pelos alunos de Pedagogia nos primeiros semestres
do curso em duas Universidades do setor privado de ensino do Estado de
São Paulo. Trata-se de um recorte dos resultados de pesquisa realizada em
2012, que teve como tema: Os desafios enfrentados pelos alunos do curso de
Pedagogia para inserção no Ensino Superior. Tal investigação ocorreu sob a
abordagem qualitativa (BOGDAN E BIKLEN, 1994). Os sujeitos de pesquisa
foram alunos que cursavam o último semestre do curso de Pedagogia.
Acreditou-se que por já terem passado pelos primeiros semestres,
contribuiriam com este estudo através dos relatos de suas vivências
relacionadas ao curso.
Para o procedimento de coleta de dados, optou-se pela técnica do
grupo focal (GATTI, 2005), que teve como questão norteadora: Quais as
dificuldades enfrentadas pelos alunos do curso de Pedagogia, nos primeiros
semestres?. O trabalho foi realizado com 2 (dois) grupos focais em duas
Universidades do setor privado de ensino do Estado de São Paulo (cada
Universidade contou com um grupo de sujeitos). A análise de dados teve
como base a análise do conteúdo (FRANCO, 2003).
Os resultados de pesquisa mostram que os sujeitos pesquisados
passaram por vários desafios durante os primeiros semestres do curso de
Pedagogia, que foram explícitos em dificuldades, destacando-se a dificuldade
de leitura e interpretação de textos.
Quando se fala em dificuldades de leitura e interpretação de textos, é
importante lembrar que a habilidade de leitura está profundamente
relacionada ao cotidiano das práticas profissionais do professor, o que
referenda a importância do desenvolvimento dessas habilidades no Curso de
Pedagogia. Essas habilidades também são fundamentais para que o aluno se
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aproprie dos conteúdos trabalhados nas diferentes disciplinas que compõe o
curso. Santuza Amorim da Silva (2009), investigadora das trajetórias de
leitura de docentes afirma: “[...] o itinerário de leitura das professoras tornouse significativo, à medida que elas são importantes mediadoras da leitura no
universo escolar [...]”. (SILVA, 2009, pg. 208).
Para o docente a leitura é instrumento para o seu trabalho, que provoca
a interação com o conhecimento e com aqueles que se propõem a conhecer.
Quando existem dificuldades no âmbito da leitura e interpretação, a
apropriação dos conhecimentos fica prejudicada. Os professores necessitam
da leitura para mediar a relação dos alunos com o conhecimento.
Silva (2009) salienta que os níveis de leitura dos alunos da escola
pública brasileira são baixos, e que se transformaram em problema não só
para a escola, mas para toda a sociedade. A leitura aparece como uma
questão social importante que necessita de ampla atenção por parte da
comunidade acadêmica, talvez ampliando os olhares para as questões
econômicas e culturais, se consiga compreender um pouco melhor os fatores
que colaboram para os problemas existentes nessa área. Para Silva:
[...] Há de se considerar que a leitura se encontra diretamente
ligada às condições de distribuição e apropriação dos bens
culturais pela população em geral”. E, no caso do Brasil, os dados
apontam com frequência para a falta do hábito de leitura do povo
brasileiro; em muitos casos, sem levar em consideração que o
acesso a determinados bens culturais não se realiza de forma
igualitária e democrática. Ainda vivenciamos problemas que
dificultam a apropriação de diferentes segmentos sociais na
herança cultural veiculada na sociedade da informação, seja
através do objeto livro ou dos meios eletrônicos. (SILVA, 2009 p.
206).
Para Silva (2009) 87% dos municípios brasileiros não possuem
livrarias e as bibliotecas públicas são insuficientes, percebe-se com esses
dados que não há um incentivo eficaz de leitura com relação à população
brasileira e que tais questões vão muito além de pensar somente no aluno
leitor, mas essa falta de incentivo provoca dificuldades que aparecem no
Ensino Superior. A autora afirma que é necessário haver um aprofundamento
na área de leitura com relação às práticas de formação de professores.
Os relatos revelam as dificuldades.
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As dificuldades de leitura e interpretação de textos foram relatadas
pelos sujeitos dos 2 (dois) grupos pesquisados, os mesmos afirmam que nos
primeiros semestres é muito difícil compreender os textos disponibilizados:
[...] A dificuldade que nós encontramos no primeiro semestre é que
eram muitas informações, muita teoria, então a gente não
conseguia assimilar [...].
[...] Eu tive dificuldade em fazer leitura e saber interpretar essa
leitura [...]
[...] Nossa! Era complicado entender os textos no começo [...]
Para Ruth Ceccon Barreiros (2010), docente e pesquisadora sobre
formação de leitores, as pesquisas sobre habilidade de leitura mostram que
os alunos apresentam dificuldades nos vários níveis de ensino, o que também
ocorre no curso de Pedagogia cujo objetivo é formar leitores capazes de
decodificar e também trabalhar com textos. A dificuldade da leitura, na
verdade, é uma das barreiras para que os alunos permaneçam na
Universidade.
Percebe-se que muitas vezes, a quantidade de textos assusta os alunos
que estão no início do curso. Os sujeitos dos dois grupos pesquisados foram
unânimes em afirmar que há muita teoria nos cursos de Pedagogia:
[...] É muita informação! É só teoria, teoria, teoria e pouca prática,
é totalmente fora da nossa realidade. Você se depara na
Universidade com textos científicos, com trabalhos científicos [...].
[...] Então chegar na Universidade e se deparar com um texto de
vinte páginas, e o professor dizer assim: é um texto pequenininho,
só tem vinte páginas. É complicado, e muito difícil [...].
Barreiros (2010) salienta que seus estudos sobre o curso de Pedagogia,
mostram que muitos dos alunos que ingressam no Ensino Superior não
demonstram interesse pela leitura e não estão preparados para o volume de
leitura solicitado. A Universidade parece pensar que não é sua função
resolver as dificuldades de leitura e de interpretação de textos apresentadas
pelos estudantes, considerando que isso seria da competência dos ensinos
fundamental e médio.
As afirmações feitas pelos sujeitos participantes dessa pesquisa
explicitam suas percepções a respeito das diferenças existentes entre o
Ensino Médio e o Ensino Superior:
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[...] Quando entrei na faculdade, estava ciente de que iria ter
dificuldade por causa do ensino médio. Eu gostaria de ter
estudado numa escola particular [...].
[...] É porque no Ensino Médio a gente não tem aquela matéria
que o professor vai fundo. Não precisa pesquisar, é só ir ao
Google e achar uma figura bonita e tirar A. Na faculdade tem que
pesquisar mesmo, até pode achar alguma coisa no Google, mas
tem que ver se é verdade ou não. No ensino médio não tem essa
obrigação [...]
Percebe-se pela fala dos alunos pesquisados, que entre o Ensino Médio
e o Superior existe um fosso, a leitura e interpretação de textos é um dos
fatores que mais dificulta a inserção dos alunos na vida universitária. Isso é
explicitado pelos depoimentos dos sujeitos de pesquisa:
[...] No meu caso, as dificuldades foram com relação a alguns
textos, eu achei que era muito conteúdo, e muito complexo.O
pessoal da sala começava a ler e parava na metade do texto, não
aguentava mais ler, pegava e parava. Na hora dos debates em
sala o pessoal lia na hora, mas, a maioria não lia; principalmente
textos de Psicologia e Alfabetização são muito difíceis! [...].
[...] Eu não tinha o hábito de ler, não compreendia os textos [...]
Espera-se que os alunos ao chegarem à Universidade tenham pleno
domínio da técnica da escrita. Para Soares (2004), o letramento é a via pela
qual o indivíduo se insere no mundo da escrita: é o aprender da técnica, o
saber ler e escrever, e fazer uso dessa técnica envolvendo-se nas práticas
sociais da leitura e escrita. Para Silva:
O foco e o interesse em torno do letramento docente se dão sobre
tudo em decorrência do discurso consensual por parte de
pesquisadores de que a formação dos docentes deve ser
redimensionada nesta área, tendo em vista o fracasso no âmbito
do letramento escolar (SILVA, 2009, p. 205).
Relacionando o que Soares (2004) e Silva (2009) afirmam nas citações
acima, com as respostas dos sujeitos que participaram dessa pesquisa,
entende-se que há uma lacuna entre dominar a técnica da leitura e da escrita,
e fazer uso daquilo que se lê para desenvolver ações no cotidiano; o que
reforça a importância do letramento nos processos formativos.
Os sujeitos dos grupos pesquisados dizem que nos primeiros períodos
não estão familiarizados com os textos que lhe são exigidos na Universidade:
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[...] São poucas as pessoas que tem o hábito de ler, quando lê, é
no máximo um jornal, essa não é a nossa realidade [...].
[...] No começo, eu não conseguia interpretar os textos [...]
[...] Você se depara com textos científicos... não faz parte da
nossa realidade, não faz parte da realidade da maioria das
pessoas...não faz parte da nossa classe social, não estamos
acostumados à isso [...].
[...] Eu tive dificuldade na leitura e interpretação de textos. Eu
estava acostumada a ler jornal, assuntos da atualidade, quando os
textos tinham essa referência tudo ia bem, mas, quando eram
filosóficos eu não entendia [...]
Os sujeitos ao se referirem aos textos acadêmicos dizem que eles não
fazem parte da sua realidade, eles provavelmente se distanciam dos gêneros
textuais familiares aos alunos. Barreiros (2010) diz que foi possível perceber
uma grande dificuldade apresentada pelos alunos universitários que
participaram de suas pesquisas, no que se refere à leitura de textos
acadêmicos, sendo que frente aos textos do cotidiano não apresentam as
mesmas dificuldades.
Dificuldade de estabelecer relação entre os textos lidos e prática.
Nos primeiros semestres do curso de Pedagogia, os sujeitos dos grupos
pesquisados não conseguem relacionar os textos lidos com as práticas
cotidianas, mesmo aqueles que já têm algum contato com o ambiente
escolar.
Seus depoimentos levam a crer que teoria e prática estão em
oposição. Isso fica muito claro quando dizem:
[...] Eu trabalhava em escola, mas, não conseguia enxergar a
relação do que aprendia com a escola que eu trabalhava, então
ficava difícil conciliar as duas e por conta disso, o rendimento foi lá
em baixo [...].
[...] Esse curso é muito teórico, para entender tudo mesmo só na
prática, mas, a aula de hoje que é de prática pedagógica, não tem
nada, só fantasia... só fantasia... Se eu pudesse ir embora eu iria
[...].
É de se pensar quando o aluno diz: “Só Fantasia”, que as leituras ao
invés de aproximá-lo, distanciam-no de sua realidade, o fato é que isso
parece desmotivar o aluno a ponto de dizer: “Se eu pudesse eu iria embora”.
Segundo Saviani (2007):
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No dia-a-dia da sala de aula os alunos tendem a, constantemente,
reivindicar a primazia da prática: “esse curso é muito teórico”
dizem eles; “precisaria ser mais prático”. “O professor, por sua
vez, tende a defender a importância da teoria”. (SAVIANI, 2007,
p.106).
Para o autor, essa é uma situação difícil de resolver que se repete a
cada turma que chega ao Ensino Superior para cursar Pedagogia, os sujeitos
requisitam um curso mais prático, e os professores enfatizam a importância
da teoria.
Os sujeitos de pesquisa mostram por meio de suas afirmações, a
necessidade que sentem de compreender os textos, essa disponibilidade
parece não ser aproveitada pelos professores. Freire (1996) faz um
questionamento a respeito disso: “Por que não estabelecer uma “intimidade”
entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social
que eles têm como indivíduos?”. (FREIRE, 1996, p. 30). Torna-se clara a
importância de buscar diferentes maneiras de aproximar os alunos das
temáticas tratadas nos textos acadêmicos, para isso, é necessário rever os
caminhos que estão sendo percorridos nessa direção nos Cursos de
Pedagogia. Para Saviani:
Teoria e prática são aspectos distintos e fundamentais da
experiência humana. Nessa condição podem, e devem ser
consideradas na especificidade que as diferencia, uma da outra.
Mas ainda que distintos esses aspectos sejam inseparáveis,
definindo-se e caracterizando-se sempre um em relação ao outro.
Assim a prática é a razão de ser da teoria, o que significa que a
teoria só se constituiu e se desenvolveu em função da prática que
opera, ao mesmo tempo, como seu fundamento, finalidade e
critério de verdade. A teoria depende, pois, radicalmente da
prática. (SAVIANI, 2007, p.108).
Observa-se que teoria e prática precisam estar articuladas, é preciso
encontrar estratégias para minimizar a oposição entre ambas que se
expressa nas salas de aulas do curso investigado.
Saviani (2007) se utiliza de dois termos para falar da oposição entre
teoria e prática: verbalismo e ativismo o verbalismo seria o falar por falar
(teoria sem prática), e o ativismo a ação pela ação (a prática sem teoria).
Segundo o autor, os alunos querem a prática e os professores defendem a
teoria, dessa forma se distanciam nos espaços de formação.
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Superação
A superação da dificuldade de leitura e interpretação de textos ocorreu
de forma contínua e gradativa, os sujeitos relatam que na medida em que
liam os textos, e se dedicavam à leitura, o entendimento ia se aprimorando.
Além das leituras constantes, iam surgindo alternativas que colaboravam para
a aproximação de entendimento dos textos. Koch e Elias (2011, p. 07)
destacam:
[...] Postula-se que a leitura de um texto exige muito mais que o
simples
conhecimento
linguístico
compartilhado
pelos
interlocutores: o leitor é necessariamente, levado a mobilizar uma
série de estratégias tanto de ordem linguística como de ordem
cognitivo-discursiva, com o fim de levantar hipóteses, validar ou
não as hipóteses formuladas, preencher as lacunas que o texto
apresenta, enfim, participar, de forma ativa, da construção do
sentido. Nesse processo, autor e leitor devem ser vistos como
‘estrategistas’ na interação pela linguagem. (KOCH E ELIAS,
2011, p.07).
Os sujeitos participantes dessa pesquisa mobilizaram-se de várias
formas para compreender os textos acadêmicos. Contando com seus
recursos, desenvolveram ações que se traduziram em buscar caminhos para
prosseguir com o curso e ultrapassar os obstáculos que dificultavam o
entendimento do texto escrito.
Os sujeitos pesquisados relatam que a superação da dificuldade de
leitura e interpretação dos textos, ocorreu aos poucos; a atenção em sala de
aula, o uso do Google e do dicionário, são estratégias que facilitaram esse
processo, eles dizem:
[...] Para entender eu tive que prestar atenção, porque pegar um
texto e não acompanhar a aula, não adianta. Achei que
acompanhar a aula é fundamental [...].
[...] Eu achava que ia dar conta, eu procurava muito no Google
alguma palavra que não conhecia [...].
[...] Dicionário para mim, anda lado a lado comigo, quando eu não
estou com ele, eu jogo no Google, pergunto e ele fala [...].
Alguns sujeitos que recorreram ao dicionário, disseram que para
superar as dificuldades de leitura, o dicionário ajudava, mas não bastava:
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[...] A gente até entende o que está no dicionário, mas pergunta
por que esta palavra está aqui?[...].
Diante dessas afirmações, é possível identificar uma busca pela
compreensão dos textos acadêmicos, que não se completava, havia sempre,
questionamentos e necessidade de desenvolver novos recursos para o seu
entendimento. Segundo Koch e Elias: “A leitura é, pois, uma atividade
interativa altamente complexa de produção de sentidos” (KOCH E ELIAS,
2011, p. 11).
Outra questão destacada pelos sujeitos, diz respeito às trocas de
informações existentes nos grupos de estudos dos quais os alunos
participavam, isso auxiliava na compreensão e interpretação dos textos.
Severino (2000) descreve a organização necessária para leitura, análise
e interpretação de textos, uma de suas orientações, é delimitar unidades de
leitura, considerando que a leitura do texto deve ser feita por etapas, de forma
disciplinada e coerente, conforme a natureza e familiaridade do leitor em
relação ao texto. Nota-se com base nas afirmações dos sujeitos que ao
enfrentarem as dificuldades, mesmo sem saber inicialmente como fazer,
acabavam descobrindo um caminho que facilitava a compreensão:
[...] O que me ajudou a compreender melhor os textos, foi o
trabalho que a gente dividia: uma fazia uma parte e outra pessoa
outra parte, nos reuníamos e comentávamos: a minha parte está
falando assim... assim... e assim..., a outra parte fala outra coisa,
então consegui conciliar; a parte que não entendi, a colega
entendeu, ela me ajuda naquilo que não entendi, e eu ajudo
naquilo que entendi. Esse foi o ponto que mais ajudou a
compreender os textos[...].
Aqueles que não tinham o hábito de ler começaram a ler muito mais na
tentativa de compreender o que estavam lendo:
[...] Eu não tinha hábito de ler, eu passei a fazer leitura constante,
ler livros, até mesmo textos científicos, passei a estudar mais, e
também em grupo a gente se reunia e conversava um pouco
sobre essa dificuldade. Principalmente, minhas colegas que têm
mais conhecimento do que eu, eu perguntava e elas iam me
ajudando. Eu não superei 100%, eu tenho muito a aprender ainda
[...].
Os sujeitos disseram que faziam demarcações nos textos para melhorar
seu entendimento:
[...] Marcava, fazia marcação nos textos. Lia várias vezes, duas ou
três vezes, quantas vezes fossem necessárias para que eu
pudesse entender o texto [...].
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[...]Para resolver essa dificuldade eu li muito, peguei textos difíceis
da internet, tentei fazer resumo, foi sozinha mesmo, não tive ajuda
de nenhum professor. Enfrentei sozinha[...].
[...] Sozinha mesmo, com muita força de vontade, pegando textos
mais difíceis... Entre o segundo e o terceiro semestre, eu fui
percebendo que eu escrevia melhor, entendia melhor[...].
Os sujeitos dizem que a aproximação dos textos com a realidade ajuda
no entendimento:
[...] Se você trouxer esse texto científico para a sua vivência, você
relaciona o texto àquilo que você já viu em algum lugar, isso
melhora, facilita a compreensão e você passa a perceber que ele
não é tão chato assim [...]
Koch e Elias afirmam: “A leitura é uma atividade na qual se leva em
conta as experiências e os conhecimentos do leitor”. (KOCH E ELIAS, 2011,
p. 11). Isso denota que quando os sujeitos dos grupos pesquisados fizeram
alguma relação do texto escrito, com suas experiências de vida, ou com o que
já viram em algum lugar, ou ouviram em algum momento, o texto teve mais
aceitação por parte dos alunos e o entendimento passou a ganhar mais
espaço.
Considerações finais
Os resultados dessa pesquisa mostram que as dificuldades de leitura e
interpretação de textos, apresentadas pelos alunos nos primeiros semestres
do curso de Pedagogia de 2 (duas) Universidades do setor privado de ensino
do Estado de São Paulo, provocou uma série de desconfortos no seguimento
do curso.
A superação ocorreu através de recursos encontrados pelos próprios
alunos. Esse fato revela a necessidade de se realizar reflexões por parte das
Universidades e, em específico os cursos de Pedagogia, no sentido de
conhecer as dificuldades do aluno ingressante, objetivando criar estratégias
que ofereçam ao aluno possibilidades de superação.
REFERÊNCIAS
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leitores.
Cascavel],[2010]
Disponível
em:
<http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/slp39/13.pdf>. Acesso em: 08/03/2012.
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BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação.
Tradução: Maria João Alvarez, Sara Bahia dos Santos, Telmo Mourinho
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ELIAS, V. M.; KOCH, I. V. Ler e compreender: os sentidos do texto – 3.
Ed., 5ª reimpressão. - São Paulo: Contexto, 2011.
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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
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SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico – 21. ed. Rev. e ampl.
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SOARES, M. Letramento um tema em três gêneros. Belo horizonte:
Autêntica, 2004.
i
Mestre em Educação (UNICID), Especialista em Docência na Educação Superior
(Pós-Bagozzi), Especialista em MBA- Gestão de Pessoas (Pós-Bagozzi), Graduada
em Pedagogia (Faculdade Bagozzi), Graduada em Serviço Social (UNICID).
Participante do grupo de pesquisa: Formação e Aprendizagem de Profissionais da
Educação- UNICID.
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