1
Assistência de enfermagem a usuários de cocaína e crack1.
Nursing assistance to users of cocaine and crack
Asistencia de enfermería a los usuarios de cocaína y crack
Souza Lilian Regina da Silva, Rocha Maria Francisca Ribeiro 2, Brasileiro Marislei Espíndula3.
Assistência de enfermagem a usuários de cocaína e crack. Revista Eletrônica de Enfermagem
do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição [serial on-line] 2013 ago-dez 4(4) 1-15.
Available from: <http://www.ceen.com.br/revistaeletronica>.
Resumo
Objetivo: identificar, nas pesquisas, as alterações clínicas apresentadas por usuários de
cocaína e crack e a atuação do enfermeiro nesse processo. Materiais e Método: estudo do tipo
exploratório, bibligráfico com análise integrativa, qualitativa da literatura disponível em
bibliotecas convencionais e virtuais. Resultados: identificou-se que o uso de cocaína e crack
traz inúmeras alterações psicossociais, tais como criminalidade e conflito familiar e clínicas,
tais como cardiovasculares e neurológicas e que a atuação do enfermeiro está voltada para a
promoção,
prevenção,
reabilitação
e
a
integração
social
do
paciente.
Conclusão:
A
enfermagem é a profissão com maior campo de atuação neste âmbito, e tem, portanto, de se
capacitar para entender o fenômeno das drogas em todas as fases do problema, com
estratégias de superação e enfrentamento do uso/abuso de drogas.
Descritores: Drogas, Cocaína/Crack, Enfermagem, Assistência.
Summary
Objective: To identify the research nurses' actions, difficulties and barriers in assisting users of
cocaine and crack. Materials and Methods: This exploratory, integrative literature review with
qualitative literature available in conventional libraries and virtual. Results: identified that the
use of cocaine and crack brings numerous psychosocial changes, such as crime and family
conflict and clinics, such as cardiovascular, neurological and the nurse´s role is focused on the
promotion, prevention, rehabilitation and social integration of the patient. Conclusion: Nursing
1
Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem em Urgência e Emergência, turma nº 15, do Centro
de Estudos de Enfermagem e Nutrição/Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
2
Enfermeiras, especialistas em Urgência e Emergência, e-mail: [email protected], [email protected]
3
Doutora em Ciências da Saúde – FM-UFG, Doutora – PUC-Go, Mestre em Enfermagem - UFMG, Enfermeira, Docente
do CEEN, e-mail: [email protected]
2
is a profession with a higher playing field in this area, and therefore has to be trained to
understand the phenomenon of drugs in all phases of the problem, and coping
strategies to overcome the use/abuse of drugs.
Descriptors: Drugs, Cocaine / Crack, Nursing Assistance.
Resumen
Objetivo: Identificar las acciones de los enfermeiros de investigación, las dificultades y
obstáculos en la asistencia a los usuários de cocaína y crack. Materiales y métodos: estudio
exploratorio, com bibliográfico análisis integrador, la literatura cualitativa disponible em las
bibliotecas convencionales y virtuales. Resultados: identifico que el uso de la cocaína y el crack
trae numerosos câmbios psicosociales, como la delincuencia y el conflito familiar y las clínicas,
com el cardiovascular, neurológica y la función de la enfermeira se centra em la promoción, la
prevención, la rehabilitación y la integración social del paciente. Conclusión: La enfermería es
uma profesión com um campo de juego más alto em esta área, y por lo tanto tiene que ser
entrenado para entender el fenómeno de las drogas en todas las fases del problema, y las
estratégias de afrontamiento para superar el uso/abuso de drogas.
Palabras clave: Drogas, Cocaína/Crack, Asistencia de Enfermería.
1 Introdução
O interesse ou motivação do presente estudo surgiu com a preocupação de identificar
as dificuldades da enfermagem em abordar e prestar a assistência aos usuários de drogas
cocaína/crack, uma vez que o enfermeiro apresenta-se como autor estratégico nas ações
voltadas para o tema, no sentido de buscar abordagens que ampliem o olhar e as
possibilidades de intervenção.
O fenômeno do uso abusivo de substâncias psicoativas na sociedade atual tem se
constituído problemática acentuadamente complexa e, embora as transformações históricoculturais e as inovações científico-tecnológicas tenham sido marcantes nos últimos anos, as
concepções
e
modelos
de
abordagem
prática
de
tal
fenômeno
não
têm
avançado
significativamente e requerem estudos e reflexões relacionados às intervenções, bem como às
políticas e saberes teóricos que têm subsidiados as mesmas¹.
Drogas
são
definidas
como
substâncias
consumidas
por
qualquer
forma
de
administração, que alteram o humor, o nível de percepção ou o funcionamento do sistema
3
nervoso central. Estas drogas podem ser lícitas ou ilícitas, desde medicamentos, álcool, até
maconha, crack, solventes e outras. Sabe-se que a cocaína é uma substância com
propriedades estimulantes, extraída das folhas do arbustro da coca (Erythroxylon coca)
originado de regiões dos Andes, sendo Bolívia, o Peru e a Colômbia seus principais produtores.
Pode ser encontrada em duas formas distintas: alcalóide purificado, base livre, e o sal de
hidrocloreto. A primeira pode ser usada por via oral, venosa ou intranasal; a base livre é a
mistura da cocaína com amônia e o bicarbonato de sódio, usada para fumar e mais conhecida
como crack, considerada a forma mais potente da droga2-3.
Nas salas de emergência, a cocaína é responsável por 30% a 40% das admissões
relacionadas a drogas ilícitas, 10% entre todos os tipos de drogas e 0,5% das admissões
totais. As complicações relacionadas ao consumo de cocaína capazes de levar o indivíduo à
atenção médica (e de enfermagem) são habitualmente agudas e individuais. Os usuários de
cocaína e crack têm muita dificuldade na busca de tratamento especializado, pois não
reconhecem o problema, enfrentam preconceitos pela ilegalidade da droga ligada à
criminalidade, o acesso ao tratamento é difícil e os serviços especializados não oferecem a
intervenção ajustada às suas necessidades4.
De acordo com o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no
Brasil realizado em 2005 nas 108 maiores cidades do país, 0,7% da população adulto relatava
já ter feito uso de crack pelo menos uma vez na vida, o que significa um contingente de mais
de 380 mil pessoas. A maior porcentagem de uso de crack na vida foi encontrada entre
homens, na faixa etária de 25 a 34 anos, constituindo 3,2% da população adulta ou cerca de
193 mil pessoas. Embora usuários de crack se encontrem em todas as regiões, as regiões sul e
sudeste concentram a maioria dos usuários5.
Considerando esse um problema complexo e reconhecendo a necessidade de superar o
atraso histórico relacionado às políticas públicas de enfrentamento dos problemas de saúde
decorrentes do uso de drogas e álcool, o Ministério da saúde definiu uma política para atenção
integral a usuários de álcool e outras drogas. Atualmente esta política é o marco no campo das
ações que garantem a oferta de serviços tanto aos portadores de transtornos mentais quanto
aos indivíduos com problemas que envolvem o álcool e outras drogas. A política em questão
possui como diretrizes: a atenção integral à saúde de consumidores de álcool e outras drogas
(prevenção, promoção e proteção); modelos de atenção psicossocial, como o Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) e redes assistenciais; controle de entorpecentes e substâncias que
produzem dependência física ou psíquica; e padronização de serviços de atenção à
dependência química6.
4
Dentre os profissionais de saúde, os enfermeiros são os que mantém contato maior com
os usuários dos serviços de saúde e têm grande potencial para reconhecer os problemas
relacionados ao uso de drogas e desenvolver ações assistenciais7.
Apesar disso, muitos profissionais de enfermagem ainda enfrentam dificuldades nesse
tipo de cuidado.
Diante disso surge o questionamento: quais as manifestações psicossociais, clínicas e a
assistência de enfermagem aos usuários de cocaína e crack?
2 Objetivos
Identificar as alterações psicossociais e clínicas apresentadas pelos usuários de cocaína
e crack e a atuação do enfermeiro nesse processo.
3 Materiais e Método
Trata-se de um estudo do tipo bibliográfico, exploratório, descritivo com análise
integrativa.
O estudo bibliográfico se baseia para explicar um problema a partir de referências
teóricas publicadas em artigos, livros, dissertações e teses, buscando conhecer e analisar as
contribuições científicas sobre determinado assunto, tema ou problema. O estudo descritivoexploratório trata-se do estudo e descrição das características, propriedades ou relações
existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada, favorece uma pesquisa mais ampla
e completa, as tarefas da formulação clara do problema e da hipótese como tentativa de
solução8.
A revisão integrativa inclui a análise de pesquisas relevantes que dão suporte para a
tomada de decisão e a melhoria da prática clínica, possibilitando a síntese do estado do
conhecimento de um determinado assunto, além de apontar lacunas do conhecimento que
precisam ser preenchidas com a realização de novos estudos. Este método de pesquisa
permite a síntese de múltiplos estudos publicados e possibilita conclusões gerais a respeito de
uma particular área de estudo9.
Após a definição do tema foi feita uma busca em bases de dados virtuais em saúde,
especificamente na Biblioteca Virtual de Saúde - Bireme. Foram utilizados os descritores:
drogas, cocaína/crack, enfermagem, assistência . O passo seguinte foi uma leitura exploratória
das publicações apresentadas no Sistema Latino-Americano e do Caribe de informação em
Ciências da Saúde - LILACS, National Library of Medicine – MEDLINE e Bancos de Dados em
Enfermagem – BDENF, Scientific Electronic Library online – Scielo, banco de teses USP. Os
5
critérios de inclusão foram: serem publicados nos últimos dez anos e responderem aos
objetivos do estudo. Foram excluídos os anteriores a 2002 ou que não respondiam aos
objetivos.
Realizada a leitura exploratória e seleção do material, principiou a leitura reflexiva, por
meio da leitura das obras selecionadas, o que envolve um esforço reflexivo que se manifesta
por meio das operações de análise, comparação, diferenciação, síntese e julgamento,
apropriação dos dados referentes ao assunto ou problema da pesquisa8.
Após a leitura reflexiva, iniciou-se a leitura interpretativa que oferece as informações
que transmite, qual o seu problema, suas hipóteses, suas teses, suas provas e suas
conclusões. O julgamento das ideias é aplicado na solução dos problemas formulados na
pesquisa. Na leitura interpretativa houve uma busca mais ampla de resultados, pois ajustaram
o problema da pesquisa a possíveis soluções. Feita a leitura interpretativa se iniciou a tomada
de apontamentos que se referiram a anotações que consideravam o problema da pesquisa,
ressalvando as ideias principais e dados mais importantes8.
A partir das anotações da tomada de apontamentos, foram confeccionados fichamentos,
em fichas estruturadas em um documento do Microsoft word, que objetivaram a identificação
das obras consultadas, o registro do conteúdo das obras, o registro dos comentários acerca
das obras e ordenação dos registros. Os fichamentos propiciaram a construção lógica do
trabalho, que consistiram na coordenação das ideias que acataram os objetivos da pesquisa.
Todo o processo de leitura e análise possibilitou a criação de duas categorias.
A
seguir,
os
dados
apresentados
foram
submetidos
à
análise
de
conteúdo.
Posteriormente, os resultados foram discutidos com o suporte de outros estudos provenientes
de revistas científicas e livros, para a construção do relatório final e publicação do trabalho no
formato Vancouver.
4 Resultados e Discussão
Nos últimos dez anos ao se buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde, tais como a
LILACS, MEDLINE, SCIELO e revistas tais como FEN e REBEn utilizando-se as palavras-chave:
Drogas, Cocaína/Crack, Enfermagem, Assistência encontrou-se 26 artigos publicados entre
2004 e 2012. Foram excluídos 9, por não se encaixarem ao tema, sendo, portanto, incluídos
neste estudo 17 publicações. Após a leitura exploratória dos mesmos, foi possível identificar a
visão de diversos autores a respeito da assistência de enfermagem aos usuários de cocaína e
crack.
6
4.1 Alterações psicossociais e clínicas decorrentes do uso e/ou abuso de substância
psicoativas cocaína e crack.
Dos onze artigos encontrados, sete abordam as questões que envolvem o contato com
a cocaína e crack, e as alterações clínicas causadas pelo uso e/ou abuso das mesmas,
conforme é possível verificar nas falas dos autores abaixo:
Apesar do uso da droga ter sempre existido, a toxicomania (primeiro termo empregado
para se referir à dependência de drogas) corresponde a um fenômeno da modernidade. “O
crescimento do interesse público e governamental com relação ao uso e abuso de substâncias
psicoativas se dá devido à relação entre o consumo dessas substâncias e a criminalidade,
violência, morbimortalidade e, consequentemente, os elevados custos para o serviço público
de saúde e previdência social”10.
Geralmente, existe um conjunto de fatores que acabam predispondo à utilização de
drogas. “O uso do crack se alastrou em decorrência da tolerância e/ou efeitos agradáveis, fácil
administração, custo baixo, alto potencial de dependência, via segura em relação à infecção
pelo HIV”11.
A identificação de uma sequência de uso de drogas tem sido a preocupação de muitos
pesquisadores. “Quando se procura refletir sobre os motivos que podem levar uma pessoa a
consumir drogas, torna-se importante ressaltar que não são pequenos motivos, ou uma única
causa isolada, que levam o indivíduo a utilizar algum tipo de substância psicoativa.
Geralmente, existe um conjunto de fatores que, ao atuarem no contexto no qual está inserida
uma determinada pessoa, acaba predispondo-a a utilização de drogas. O abuso de drogas e a
dependência química são sintomas da crise familiar, social e individual, decorrente do modo de
organização das sociedades industrializadas que, centradas no consumo, concebem o uso de
drogas como oportunidade para obter prazer, permitir a evasão imediata do sofrimento ou,
ainda, como forma de contestação/transgressão às normas vigentes”10-12.
De acordo com algumas literaturas a cocaína, a heroína e a maconha são as drogas
mais utilizadas de modo abusivo e não aprovado. “A Cocaína é a droga que mais motiva o
atendimento de emergência é a principal causa de óbito. Quando a cocaína é fumada na forma
de crack, o vapor aspirado é rapidamente absorvido pelos pulmões, alcançando o cérebro em 6
a 8 segundos. Quando a droga é injetada nas veias demora de 16 a 20 segundo e quando
cheirada demora de 3 a 5 minutos para atingir o mesmo efeito. Fumar o crack é a via mais
rápida de fazer com que a droga chegue ao cérebro e provavelmente esta é a razão para a
rápida progressão para a dependência. Comparando o uso de crack com outras formas de uso
da cocaína, há uma proporção maior de uso intenso e de aumento da fissura entre os que
usam crack” 3-13.
7
As complicações agudas relacionadas ao consumo de cocaína capazes de levar o
indivíduo à atenção médica são individuais. “Dentre essas complicações, a overdose é a mais
conhecida e considerada emergência médica. São sinais clínicos de overdose de cocaína:
palpitações, sudorese, cefaleia, tremores, ansiedade, hiperventilação, espamos musculares e
sinais de superestimulação adrenérgica como midríase, taquicardia, hipertensão, arritmia e
hipertermia. Pode evoluir para crises convulsivas, angina do peito com ou sem infarto,
hemorragias intracraniana e rabdomiólise, levando à morte frequentemente por insuficiência
cardíaca e/ou insuficiência respiratória”4.
A cocaína afeta o cérebro de diversas maneiras. “As Complicações psiquiátricas são o
principal motivo de busca por atenção médica entre usuários de cocaína destacando-se, entre
elas, episódios de pânico, depressão e psicose. Os sintomas psicóticos delírios paranoides e
alucinações podem desaparecer espontaneamente após algumas horas, mas agitações
extremas podem necessitar de sedação. Sintomas agressivos estão mais relacionados ao uso
de crack que a outras vias de uso da cocaína. Dentre as complicações neurológicas do uso do
crack as principais são acidente vascular cerebral, dor de cabeça, tonteira, inflamações dos
vasos cerebrais, atrofia cerebral e convulsões”13.
Dentre alguns estudos, “as complicações cardiovasculares decorrentes do uso de
cocaína são as mais frequentes entre as não-psiquiátricas, sendo a angina do peito a que
atinge maior taxa, presente em 10% dos usuários. O infarto agudo do miocárdio não é tão
frequente. Cerca de um terço dos acidentes vasculares cerebrais em adultos jovens está
associado ao consumo de drogas, sendo que, entre os indivíduos de 20 a 30 anos, esse índice
chega a 90%. A convulsão, a complicação neurológica mais comum, atinge uma pequena parte
dos usuários de cocaína que procuram as salas de emergência”4.
A descrição de um quadro bem definido de abstinência, assim como sua duração ainda
não é consenso. “Em geral o quadro de abstinência da cocaína é descrito como trifásico. A
primeira fase, denominada “crash”, tem duração de horas a cinco dias e se caracteriza por
fissura intensa no início, irritabilidade e agitação, evoluindo para hipersonolência, depressão,
anedonia e exaustão, acompanhados de uma redução na fissura. Abstinência é a segunda fase,
que se inicia com a reemergência da fissura e sintomas depressivos e ansiosos, podendo durar
até dez semanas. Após este período, há a terceira fase, quando há uma redução gradativa da
fissura e tendência a normalização do humor, sono e ansiedade” 14.
O pulmão é o principal órgão exposto aos produtos da queima do crack. “Quanto às
complicações pulmonares decorrentes do uso agudo de crack, os sintomas mais comuns, que
se desenvolvem horas após o uso, são: dor torácica, dispneia, tosse seca ou com eliminação
de sangue e/ou material escuro (resíduo da combustão) e febre. A agressão térmica, a
inalação de impurezas, o efeito anestésico local e a vasoconstricção, que causam inflamação e
8
necrose, são os principais responsáveis pelas lesões das vias aéreas. Hemoptiase ocorre em
6% a 26% dos usuários. Derrames pleurais também podem estar presentes” 4.
Os autores citados concordam que a avaliação inicial é muito importante e o
atendimento aos pacientes usuários de drogas deve-se privilegiar a avaliação de risco, visando
à resolução dos problemas emergenciais, que favoreçam o equilíbrio mental do paciente, por
meio de uma postura ativa, antecipando situações de risco ou resolvendo-as prontamente, a
fim de evitar a reinstalação do consumo. Diante do grau de desestruturação social, econômica,
familiar e psicológico do usuário dessas drogas faz-se necessário uma equipe multiprofissional
estruturada, capacitada e especializada para intervir de forma eficaz sendo capaz de identificar
os casos precocemente.
As substâncias psicoativas causam inúmeras alterações psicossociais e clínicas. Dentre
as psicossociais estão a criminalidade, violência, morbimortalidade, crise familiar, social e
individual, prazer, evasão do sofrimento e como forma de transgressão às normas vigente. As
alterações clínicas apresentadas são a modificação no funcionamento do cérebro e alteração no
comportamento, e cada droga provoca quadros clínicos diferentes, possuem características
farmacológicas específicas e, portanto, exige terapêutica própria. No entanto, existe um plano
de tratamento que pode ser comum para as dependências químicas em geral: mudança do
estilo de vida. Tal tratamento deve visar à promoção de abstinência, o tratamento de quadros
clínicos e a prevenção de recaídas, deve ter seu foco na motivação do indivíduo e contar com a
participação da família.
Por outro lado, nem sempre o enfermeiro da emergência dispõe de equipe suficiente
para atender esses pacientes com alterações clínicas e comportamentais. Assim, as
manifestações orgânicas ou fisiológicas são atendidas, mas as comportamentais são
negligenciadas. O atendimento de enfermagem ao usuário de crack e cocaína, na emergência
é, portanto incompleto.
4.2 A importância da Assistência de Enfermagem aos usuários de cocaína e crack.
Dos doze artigos encontrados, cinco estão em consenso quanto à importância da
assistência dos enfermeiros no atendimento aos usuários de drogas, conforme é possível
verificar nas falas dos autores abaixo:
O uso abusivo de drogas é um dos principais problemas de saúde pública em todo
mundo. O problema com uso de drogas é fruto de um contexto socioeconômico, político e
cultural que vem interferindo na escolha do sujeito, portanto deve ser compreendido como um
problema multidimensional e global, não se restringindo à relação entre o indivíduo e o
consumo de substâncias psicoativas. “Destaca-se que os profissionais de enfermagem são
9
agente-chave no processo da transformação social dos países, participando no desenho e na
implantação de programas e projetos de promoção de saúde, prevenção do uso e abuso de
álcool e outras drogas e integração social” 6.
Nesta linha de pensamento, “o enfermeiro apresenta – se como ator estratégico nas
ações voltadas para este tema, no sentido de buscar abordagens que ampliem o olhar e as
possibilidades de intervenção, sobretudo no nível de prevenção e promoção á saúde. Deste
modo, envolve uma sensibilização para as causas e consequências do problema num
entendimento biopsicossocial, oferece informações sobre as substâncias psicoativas e os
problemas relacionados ao uso, e proporciona oportunidades para explorar as perdas e ganhos
em nível pessoal e social quando se escolhe ou se abdica do uso de drogas”15.
Sabe-se que o tratamento aos usuários de drogas é um processo longo e doloroso tanto
ao usuário quanto a família que acompanha. “A enfermagem tem um papel importante e
fundamental e pode encorajar o paciente nos momentos de maior angústia e solidão. Tem
como papel, trabalhar o psicológico do paciente e dos familiares, com as orientações sobre a
doença em si e seu tratamento, com a retomada de suas atividades sociais”16.
Dentre os segmentos da sociedade, o uso dessas substâncias entre os adolescentes se
faz de forma preocupante uma vez que o primeiro contato com as drogas ocorre muitas vezes
na adolescência. “Para a enfermagem, o estudo das drogas na adolescência é de fundamental
importância já que a ela possui significante papel tanto na prevenção quanto na promoção da
saúde através de atividades educativas e conscientização com os adolescentes e familiares a
fim de esclarecer dúvidas, mas sem deixar de considerar o raciocínio crítico do adolescente e
desenvolver nele uma cultura prevencionista com relação ao uso e abuso de drogas quer
sejam elas lícitas ou ilícitas”2.
Diante do fenômeno das drogas, “os enfermeiros são profissionais com amplas
possibilidades de acesso aos indivíduos envolvidos com drogas em todas as fases do problema,
o que caracteriza a importância de inclusão destes nas estratégias de enfrentamento do
uso/abuso de drogas”16.
De acordo com a política do ministério da saúde para atenção integral a usuários de
álcool e outras drogas. “Nos serviços de saúde, o enfermeiro deverá estar atento às
possibilidades de detectar precocemente o uso de álcool e outras drogas, a fim de reduzir os
possíveis danos, devendo sensibilizar os usuário a buscar alternativas de tratamento, conforme
preconiza a política de saúde definida para o campo em questão”17.
É importante ressaltar que, “a falta de capacitação e a inexistência de protocolos
específicos para a assistência ao usuário de drogas faz com que haja heterogeneidade e falta
10
de continuidade das ações implantadas pela enfermagem. Tal fato prejudica o planejamento,
execução e avaliação das ações de enfermagem desenvolvidas junto a estes usuários”6.
Os estudos estão em acordo que a qualidade da assistência de enfermagem se
concretiza quando o profissional exerce suas funções com conhecimento, habilidade,
humanidade e competência para atender as necessidades de saúde e expectativas do ser
humano. O papel do enfermeiro é ampliado, e o mesmo insere nas diversas modalidades de
atendimento ali existentes. Pode desempenhar importante papel na promoção da saúde diante
de vários aspectos, trabalhando na prevenção, na reabilitação e na integração social do
paciente.
Percebe-se, nos estudos acima, que o enfermeiro tem um papel importante na
assistência aos usuários de drogas, e para que possa desenvolver um trabalho satisfatório e
eficaz torna-se necessário sua qualificação e preparo para lidar com essa clientela que vem
aumentando a procura de atendimento nas unidades de saúde.
Uma das formas de melhor a atenção a esses usuários seria a ligação direta entre o
enfermeiro da emergência e o enfermeiro da saúde da família para que possam agir de forma
integrada.
5 Considerações Finais
O objetivo deste trabalho foi identificar as alterações psicossociais e clínicas
apresentadas pelos usuários de cocaína e crack e a atuação do enfermeiro nesse processo.
Após a análise dos estudos foi possível identificar que as causas da iniciação às drogas
e a manutenção deste uso tem sido objetivo de muitas controvérsias que por si só
demonstram a complexidade deste fenômeno. A experiência com a atenção a usuários de
drogas coloca o enfermeiro face a face com inúmeros desafios. Em primeiro lugar, trabalhar
numa perspectiva diferente daquela aprendida na formação acadêmica, altamente prescritiva e
centrada na doença. Em segundo lugar, enfrentar a sua própria ansiedade, insegurança,
preconceito e até incapacidade para lidar com o usuário de drogas. Em terceiro lugar,
programar atividades com base em políticas ministeriais que ainda não estão consolidadas na
região e nem valorizadas pelos gestores locais. Em quarto lugar, criar protocolos de
atendimento que permitam o monitoramento e avaliação de ações de enfermagem
desenvolvidas junto ao usuário de drogas na região. Em quinto lugar, trabalhar em equipe e
em rede, de forma a assegurar a integralidade da assistência.
Este estudo possibilitou o conhecimento fundamental sobre assistência prestada a
pessoas usuárias de drogas com atitudes não julgadoras. Pois, cuidar em enfermagem é, antes
11
de tudo, encontrar-se com. Encontrar-se com uma pessoa, muitas vezes percebida somente
como paciente portador de um determinado diagnóstico. Nessa forma de perceber, o outro é
reduzido a sintomas ou síndrome, pouco restando da pessoa. Encontrar-se com o outro é
encontrar-se com uma história, com uma trajetória, com sonhos, desejos, crenças e
descrenças, valores, saberes e expectativas. Reconhecer o outro como sujeito é uma
imposição àqueles que desejam exercer sua profissão na assistência ao usuário de drogas.
Percebe-se, portanto, a necessidade de preparo dos profissionais de enfermagem para
atuarem junto a esta clientela. Esta capacitação deve ocorrer em toda rede de saúde e
privilegiar uma abordagem transversal e interdisciplinar dos problemas vivenciados em cada
ambiente de trabalho, pois, quando ocorre um aprendizagem significativa, o enfermeiro atua
de forma mais criativa e engajada.
Os estudos não evidenciam se os problemas psicossociais levam ao uso da droga ou se
o uso da droga potencializa os problemas psicossociais. Há que se pesquisar mais.
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Assistência de enfermagem a usuários de cocaína e crack