UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇAO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS ANTONIO DE CALAIS JÚNIOR CARACTERIZAÇÃO HISTOMORFOLÓGICA E HISTOQUÍMICA DE ESÔFAGOS DE TARTARUGAS VERDES (Chelonia mydas) COM E SEM ALTERAÇÕES NO LITORAL DO ESPÍRITO SANTO ALEGRE – ES 2015 ANTONIO DE CALAIS JÚNIOR CARACTERIZAÇÃO HISTOMORFOLÓGICA E HISTOQUÍMICA DE ESÔFAGOS DE TARTARUGAS VERDES (Chelonia mydas) COM E SEM ALTERAÇÕES NO LITORAL DO ESPÍRITO SANTO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Veterinárias do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Ciências Veterinárias, linha de pesquisa em Diagnóstico e Terapêutica das Enfermidades Clínico cirúrgicas. Orientadora: Profª Dra.: Louisiane de Carvalho Nunes ALEGRE – ES 2015 Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) C141a Calais Júnior, Antonio de, 1982Caracterização histomorfológica e histoquímica de esôfagos de tartarugas verdes (Chelonia mydas) com e sem alterações no litoral do Espírito Santo / Antonio de Calais Júnior. – 2014. 72 f. : il. Orientadora: Louisiane de Carvalho Nunes. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. 1. Tartaruga verde. 2. Chelonia mydas. 3. Esôfago. 4. Trato gastrintestinal. 5. Cáseo. 6. Morfologia. I. Nunes, Lousiane de Carvalho. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Agrárias. III. Título. CDU: 619 Dedico este trabalho à minha mãe, Alcéa Rodrigues de Calais e ao meu pai, Antonio de Calais (in memoriam) AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo dom da vida e pela conclusão de mais uma etapa. A minha mãe por acreditar e apoiar todo esforço de minhas andanças., meus irmãos por todo apoio em diversas situações, e minha irmã pela confiança e carinho que lhe são natos. A minha sobrinha Ana Luiza por toda energia e admiração. A minhas tias e tios, primas e primos por cada momento fantástico que passamos. A Thainá que com seu sorriso fácil me deu a paz que precisava pra continuar. Magnólia, quanto amor. A minha orientadora Professora Doutora Louisiane de Carvalho Nunes pela orientação e paciência na execução desse trabalho, pelo apoio, estímulo e todo conhecimento transmitido e por mais uma vez ter aceitado o desafio. A equipe tartaruga, Moara que nos mostrou o caminho, Erika pelo apoio nas coletas e laboratório, Adriano que perdeu parte de suas férias, Giuliano pelas necropsias, Letícia que sempre esteve ali pra organizar as coisas e Vanessa pelas traduções. Sem vocês seria difícil. A todos que passaram pela República Verdurão por toda descontração proporcionada e principalmente ao Cupim pela paciência e amizade. Aos amigos por todo apoio e que mesmo à distância se fazem presentes. Ao CTA-Meio Ambiente pela oportunidade e estrutura disponibilizadas, aos amigos da base de Anchieta e IPCMAR. Ao projeto TAMAR, a Cecília Batistotte por todo ensinamento. A Professora Doutora Ana Paula Madureira pelo apoio com a estatística. Ao laboratório do Serviço de Patologia Veterinária da Universidade Estadual Paulista, campu de Botucatu, SP. A UFES e ao programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias por ter me proporcionado essa experiência. A CAPES pelo apoio financeiro. “Largue-se e você será muito mais do que jamais sonhou ser.” Janis Joplin. RESUMO CALAIS JÚNIOR, ANTONIO. Avaliação histomorfológica e histoquímica de esôfagos de tartarugas verdes (Chelonia mydas) com e sem alterações no litoral do Espírito Santo. 2015. 74p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, 2015. A tartaruga verde, Chelonia mydas, é amplamente distribuída pela costa brasileira sendo escassos estudos sobre morfologia ou enfermidades do trato gastrintestinal. Objetivou-se caracterizar morfologicamente o esôfago, bem como reconhecer alterações deste órgão, para determinar possíveis agentes e estabelecer a patogênese. Utilizaram-se 45 espécimes, sendo 37 animais com e oito sem lesões macroscópicas no esôfago. O órgão foi retirado inteiro, avaliado macroscopicamente, fixado em formalina a 10% e submetido ao processamento histológico e histoquímico. O esôfago foi caracterizado como órgão tubular muscular composto de papilas cônicas que variam de quantidade e tamanho, revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e ricas em tecido mixoide. Há variação nas camadas mucosa, submucosa, muscular externa e serosa entre as quatro regiões analisadas e glândulas produtoras de muco na mucosa da junção gastroesofágica. Dos 37 animais com alteração 67,57% (25/37) revelaram lesões multifocais brancacentas contendo material caseoso, enquanto que 32,43% (12/37) revelaram lesões focais, localizadas predominantemente na junção gastroesofágica. Infiltrado inflamatório foi observado em 92% e 62,5% dos animais com e sem lesão, respectivamente. Observaram-se grumos bacterianos em 56,75% das amostras com lesão e fragmentos de parasitos adultos em 75,7% com lesão e 37,5% sem lesão. Em 83,78% e 62,5% dos indivíduos com e sem lesão, respectivamente, foram identificados parasitos à macroscopia. Houve associação significativa do cáseo à inflamação, bactérias ou parasitos, porém o parasitismo não influenciou no grau de obstrução. Conclui-se que as características histomorfológicas do esôfago de C. mydas são importantes para exercer a função mecânica e proteção deste órgão e estes animais são acometidos por lesão esofágica com material caseoso que pode causar obstrução grave. Palavras-chave: morfologia. tartaruga marinha. trato gastrintestinal ABSTRACT CALAIS JÚNIOR, ANTONIO. Histomorphological and histochemical characterization of esophagus of green turtles (Chelonia mydas) with and whitout changes in the coast of Espírito Santo. 2015. 73p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, 2015. The green turtle, Chelonia mydas, is widely distributed along the Brazilian coast and there are few studies on morphology, and diseases of the gastrointestinal tract. Therefore, the aim was to characterize morphologically the esophagus and to recognize changes of this organ to determine possible agents and establish pathogenesis. We used 45 specimens of which 37 animals had macroscopic lesions in the esophagus and eight animals did not exhibit them. The organ was entirely removed, evaluated macroscopically, then fixed in 10% formalin and subject for histological and histochemical processing. The esophagus was characterized by a tubular muscular organ which presents conical papillae that vary on quantity and size, lined by stratified squamous keratinized epithelium and rich in myxoid tissue. There is variation in the mucosa, submucosa, external muscle and serous layers among the four regions analysed and there are mucus-producing glands in the submucosa of the gastroesophageal junction. Among animals that presented changes, 67.57% showed multifocal lesions containing caseous material and 32.43% showed focal lesions. The location predominated in the gastroesophageal junction. The distribution of the lesion diffuse in 27.02% of the cases, focal in 54.06% and focally extensive in 18.92%. Inflammatory infiltrate was observed in 92% and 62.5% of the animals with and without lesions, respectively. Bacterial clumps were observed in 56.75% of samples having lesion. There were adult parasites fragments in 75.7% of samples with lesions and 37.5% in samples without lesions. In 83.78% and 62.5% of samples with or without lesions, respectively, were identified parasites macroscopically. It is concluded that the histomorphometric characteristics of C. mydas esophagus are important to engage the mechanical function and protection of this organ and are affected by esophageal lesions with caseous formation which can cause severe obstruction. Key words: morphology. sea turtlle. gastrointestinal tract LISTA DE FIGURAS Figura 1. Fotomacrografia do esôfago normal de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando mucosa constituída de papilas cônicas, pontiagudas, orientadas caudalmente para o estômago sendo as papilas delgadas na região proximal (P), aumentadas de diâmetro e altura na região medial (M), e de número reduzido na região distal (D). Estreitamento da musculatura caracterizando o esfíncter gástrico (JGE)......................................................................................................... 31 Figura 2. Fotomicrografia do esôfago normal de Chelonia mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) mucosa constituída de papilas cônicas revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado (seta) e compostas por tecido mixoide na porção proximal (HE). B) camada muscular circular evidenciada pelo método de Tricrômico de Masson região proximal. C) lâmina própria aglandular na região distal e espessa camada muscular longitudinal (seta tracejada) (HE). D) lâmina própria glandular na junção gastroesofágica com glândulas mucosas positivas ao PAS. (Barra=500μm).......................................................................................... 34 Figura 3. Fotomacrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) fricção da mucosa esofágica embebida em solução salina; B) desprendimento da mucosa; C) lavagem do material sem a mucosa e D) conteúdo líquido obtido da lavagem do esôfago, ambos utilizados para a identificação de parasitos em lupa estereoscópica.......................................................................................... Figura 4. Fotomacrografia do esôfago com e sem lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) esôfago normal. B) lesão brancacenta de distribuição multifocal, sem obstrução de esôfago. C) lesão caseosa de distribuição focal na região distal e 47 junção gastroesofágica. D) obstrução total do lúmen esofágico em corte transversal....................................................................................... 52 Figura 5. Fotomicrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) cáseo (seta) em intensidade discreta aderido à mucosa (HE) (Barra=500m). B) grumos bacterianos (seta) evidenciados pelo método de Gram (Barra=500m). C) infiltrado inflamatório mononuclear moderado (seta) na lâmina própria (PAS) (Barra=100m). D) metaplasia com substituição do epitélio estratificado pavimentoso queratinizado por epitélio colunar produtor de muco (seta) (PAS) (Barra=100m).......................................... 56 Figura 6. Fotomicrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) fragmento de parasito adulto no interior da glândula esofágica (HE). B) corte sagital de parasito adulto no lúmen esofágico (HE). Barra=100m.............................................................................................. 58 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Valores absolutos do comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), largura curvilínea da carapaça (LCC) e do comprimento total do esôfago de C. mydas do litoral do Espírito Santo, 2014......................................................................................................... 28 Tabela 2. Valores médios e desvio padrão do comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), largura curvilínea da carapaça (LCC) e do comprimento total do esôfago com e sem alterações de C. mydas do litoral do Espírito Santo, entre 2013 e 2014......................................................................................................... 48 Tabela 3. Macroscopia, localização, profundidade, extensão e status de obstrução em C. mydas com lesões esofágicas do litoral do Espírito Santo, entre 2013 e 2014......................................................................................................... 51 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 15 2.1 Chelonia mydas ............................................................................................................... 15 2.2 Principais doenças e agentes etiológicos em tartarugas marinhas ........................ 17 2.3 Anatomia e histologia do esôfago de Chelonia mydas ............................................. 20 2.4 Lesões esofágicas de Chelonia mydas ....................................................................... 21 CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 22 RESUMO................................................................................................................... 23 ABSTRACT............................................................................................................... 24 4 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 25 5 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 26 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................. 28 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 36 8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 36 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 40 RESUMO................................................................................................................... 41 ABSTRACT............................................................................................................... 42 10 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 43 11 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 44 12 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 48 13 CONCLUSÕES .................................................................................................... 60 14 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 60 15 CONCLUSÕES GERAIS ..................................................................................... 63 16 REFERENCIAS GERAIS ..................................................................................... 64 13 1 INTRODUÇÃO As tartarugas verdes (Chelonia mydas) pertencem à família Cheloniidae e habitam os oceanos tropicais e subtropicais sendo encontradas nos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico (ERNST; BARBOUR, 1989). Apresentam carapaça com coloração enegrecida nos filhotes, café nos indivíduos jovens e uma ampla variedade de cores em indivíduos com maturidade completa, sendo geralmente café ou amarelo creme (PRITCHARD; MORTIMER, 2000), ou ainda apresentam-se em tons que variam do oliva ao marrom; com formato oval e margem ocasionalmente ondulada e possuem quatro pares de escudos costais (ERNST; BARBOUR, 1989). A tartaruga verde é a espécie que apresenta hábitos mais costeiros, utilizando inclusive estuários de rios e lagos (HIRTH, 1997). Fazem uso do litoral brasileiro para alimentação e desova, sendo as áreas prioritárias, as ilhas oceânicas de Trindade no estado do Espírito Santo (MOREIRA et al., 1995), Atol das Rocas no Estado do Rio Grande do Norte (GROSSMAN et al., 2003), e Fernando de Noronha no estado de Pernambuco (BELLINI; SANCHES 1996). Além das ilhas, áreas secundárias de desova ocorrem no litoral norte do estado da Bahia, e, esporadicamente, são encontrados ninhos na costa do Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte (ALMEIDA et al., 2011). Devido à ação antrópica, populações de tartarugas verdes se encontram no status de globalmente em perigo levando à preocupação com o futuro da espécie (SEMINOFF, 2004). Fatores de mortalidade natural incluem a destruição de ovos na praia por inundação ou erosão, predação em todas as fases da vida, temperaturas extremas, e doenças (LUTZ; MUSICK; WYNEKEN, 2003). Os principais fatores antrópicos que causam impacto negativo nas populações de tartarugas marinhas são: movimentação da areia da praia (extração de areia e aterros); foto poluição; tráfego de veículos; uso da praia por banhistas; portos, ancoradouros; processo de edificação na orla (hotéis e condomínios); e a extração (produção e distribuição) de petróleo e gás (ALMEIDA et al., 2011). Associados a pesca comercial, a captura incidental em redes de pesca industrial e artesanal, destruição de habitat de alimentação e reprodução, além do impacto nas áreas de desova e roubo de ovos (LÓPEZ-MENDILAHARSU et al., 2007). 14 As enfermidades que acometem as tartarugas marinhas não estão totalmente elucidadas, sendo, dessa forma, necessários estudos que visem conhecer o padrão das doenças e o estado de saúde de suas populações que, assim como outros grupos de vertebrados, são susceptíveis a agentes patogênicos bacterianos, fúngicos, virais e parasitários que podem causar moléstias e até levar a óbito (ECKERT et al., 2000), além do fato de que esta espécie apresenta o maior número de indivíduos juvenis mortos encalhados ao longo da costa brasileira em decorrência do aumento da pesca costeira de emalhe (ALMEIDA et al., 2011). Também é importante destacar que o uso de artefatos de pesca como anzóis resulta em lesões traumáticas principalmente no esôfago que evoluem para infecção bacteriana secundária (ÓROS et al., 2005). Por outro lado, outras lesões esofágicas associadas a infecção bacteriana tem sido relatadas em tartarugas marinhas (GLAZEBROOK; CAMPBELL, 1990; TORRENT et al., 2002). Segundo Santoro et al. (2007) as esofagites nesta espécie são associadas ao parasitismo por Rameshwarotrema uterocrescens. Sabe-se que a região costeira e de ilhas no estado do Espírito Santo, está entre as principais áreas de vivência das tartarugas marinhas principalmente as da espécie C. mydas (ALMEIDA et al., 2011) e existem poucos relatos sobre as características normais e alterações do esôfago nesta espécie. Assim, este estudo teve por objetivo caracterizar morfologicamente o esôfago normal bem como reconhecer as alterações deste órgão em tartarugas verdes (C. mydas). Desta forma, espera-se contribuir com a identificação de possíveis agentes etiológicos, bem como o estabelecimento de mecanismos de formação das lesões e, assim, contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos desta espécie. 15 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Chelonia mydas Conhecidas popularmente como tartaruga verde ou aruanã, a espécie Chelonia mydas, é amplamente distribuída pelos mares desde os trópicos até as zonas temperadas, sendo a espécie de tartaruga marinha que apresenta hábitos mais costeiros, com relatos de ocorrência em estuários de rios e lagos. Os principais sítios de desova são as ilhas oceânicas, Ilha da Trindade (ES), Atol das Rocas (RN) e Fernando de Noronha (PE). No Brasil, áreas secundárias de desova ocorrem no litoral norte do estado da Bahia, nos estados do Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte (ALMEIDA et al., 2011). O nome tartaruga verde advém da coloração esverdeada de sua gordura e não está relacionado à aparência exterior, o que revela uma circunstância de conhecimento da espécie através da caça para consumo humano (PRITCHARD; TREBBAU, 1984; HIRTH, 1997). Essas tartarugas podem ultrapassar os 360 kg de peso (HICKMAN et al., 2010). Pertencem à família Cheloniidae e habitam os oceanos tropicais e subtropicais, encontradas nos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico (ERNST; BARBOUR, 1989). Apesar da diminuição das populações, a espécie mantém muitos traços de sua distribuição histórica o que inclui áreas de alimentação, corredores de migração e praias de nidificação que são intercaladas ao longo dos oceanos (HIRTH, 1997). Adaptações nos membros para a natação (PRITCHARD, 1997), a disposição hidrodinâmica da carapaça (WYNEKEN, 2001) e a especialização das glândulas lacrimais na excreção do excesso de sal ingerido (LUTZ e MUSICK, 1997), os torna uma classe de répteis essencialmente marinhos (WYNEKEN, 2001). As tartarugas verdes se distinguem de outras espécies de tartarugas marinhas devido a presença de um único par de escamas pré-frontais entre os olhos, carapaça com coloração enegrecida nos filhotes, café nos indivíduos jovens e uma ampla variedade em indivíduos com maturidade completa, sendo geralmente café, amarelo creme (PRITCHARD; MORTIMER, 2000) ou tons que variam do oliva 16 ao marrom; com formato oval e margem ocasionalmente ondulada, possui quatro pares de escudos costais (ERNST; BARBOUR, 1989). O plastrão evidencia coloração brancacenta nos filhotes e amarelada em indivíduos adultos. A cabeça, com até 15 cm de largura, possui formato arredondado, quatro pares de escamas pós-orbitais um par de escamas pré-frontais e uma mandíbula serrilhada (PRITCHARD; TREBBAU, 1984; ERNST; BARBOUR, 1989; PRITCHARD; MORTIMER, 2000). O acasalamento ocorre no mar durante a estação reprodutiva em que a corte pode ser realizada por vários machos simultaneamente (até cinco). O macho se posiciona sobre a fêmea utilizando as unhas presentes nas nadadeiras anteriores para manter-se fixo à carapaça da fêmea (ERNST; BARBOUR, 1989). As tartarugas marinhas, em geral, apresentam maturação tardia e ciclo de vida longo, havendo assim um aumento do risco de morte antes da reprodução (HEPPEL et al., 2003). Este ciclo de vida complexo contribui para tornar esses indivíduos ainda mais suscetíveis às ameaças oferecidas, que ocorrem tanto nas praias de nidificação como no ambiente marinho (BOLTEN, 2003). Especulações sobre as taxas de crescimento durante a fase oceânica sugerem que um animal com 30 centímetros de comprimento total de carapaça, com hábitos costeiros recentes, passou entre 3 a 5 anos no ambiente oceânico (ZUG; GLOR, 1998). O período de três gerações ultrapassa facilmente os 100 anos (SEMINOFF, 2004) e, durante todo o seu ciclo de vida, ocupa vários nichos ecológicos, a saber. A fase juvenil oceânica, na qual se acredita que as jovens tartarugas derivam seguindo as principais correntes oceânicas superficiais, uma fase nerítica subsequente, quando os animais atingem certo tamanho e se movimentam para zonas de alimentação em regiões costeiras, e a fase de migrações em larga escala entre áreas de alimentação e reprodução quando atingem a maturidade sexual (BOLTEN, 2003). O ciclo de vida complexo, as grandes distâncias e barreiras geográficas e/ou temporais exigem uma investigação indireta e detalhada (como análises moleculares), a fim de auxiliar na elucidação de muitos aspectos da história de vida destes indivíduos para que dessa forma seja possível estabelecer parâmetros da estrutura populacional, filogeografia, sistemática e origem (AVISE, 2007). Pelo fato das áreas prioritárias de reprodução se localizarem em ilhas 17 oceânicas isoladas, os indivíduos da espécie C. mydas sofreram menor impacto de predação sobre ovos e fêmeas que outras espécies que desovam prioritariamente em regiões costeiras. Estas ilhas utilizadas para desova não estão sujeitas à ocupação desordenada observada nas zonas costeiras. (ALMEIDA et al., 2011). A ideia de que tartarugas verdes retornam para postura no mesmo trecho da praia onde nasceram tem sido apoiada por comparações de DNA mitocondrial de herança materna (MEYLAN; BOWEN; AVISE, 1990). As tartarugas verdes permanecem em corais, esponjas e superfícies rochosas quando não estão à deriva e, este tipo de habitat é importante quando adjacente às áreas de alimentação. A existência de corredores de migração entre os habitats de alimentação e as praias de nidificação também são importantes para as tartarugas uma vez que a reprodução pode acontecer nesses locais (WITHERINGTON; HERREN; BRESETTE, 2006). Devido suas funções ecológicas, as tartarugas são extremamente importantes no equilíbrio do ecossistema marinho contribuindo para a saúde e manutenção dos recifes de corais, estuários e praias arenosas (ECKERT et al., 2000). Ocorrências não reprodutivas desta espécie são registradas em praticamente toda a costa e também nas ilhas do Brasil (ALMEIDA et al., 2011). 2.2 Principais doenças e agentes etiológicos em tartarugas marinhas Geralmente, as doenças observadas em tartarugas são causadas por parasitas e microrganismos, incluindo fungos, vírus e bactérias (CHUEN-IM et al., 2010) e, algumas dessas enfermidades, ocorrem naturalmente e são observadas em tartarugas de vida livre e cativas. Outras condições, como certas deficiências nutricionais, são essencialmente resultado da prolongada manutenção em cativeiro para reabilitação (GEORGE, 1997). A combinação de um tegumento resistente e competente sistema imune minimiza as oportunidades para microrganismos patológicos penetrarem e colonizarem tecidos de tartarugas marinhas (GEORGE, 1997). Estudos sugerem que a infecção bacteriana está associada com doenças secundárias, tanto em vida livre 18 quanto em animais de cativeiro (AGUIRRE et al., 1994; RAIDAL et al., 1998; WORK et al., 2003). Lesões traumáticas e aspiração da água do mar são as principais rotas pelas quais microrganismos entram no corpo de uma tartaruga (GEORGE, 1997). As bactérias parecem desempenhar um papel muito importante em doenças de tartarugas marinhas, tanto como patógenos primários quanto secundário (COOPER; JACKSON, 1983). Bactérias gram-negativas são mais comumente implicadas como patogênicas a despeito das bactérias gram-positivas que geralmente não apresentam patogenicidade habitando o organismo sem causar danos. No entanto, algumas bactérias gram-positivas podem causar doença (MADER e DIVERS, 2013). Em estudo realizando o cultivo a partir de lesões em diferentes órgãos de tartarugas, constatou-se a presença de Staphylococcus spp., Citrobacter freundii, Micrococcus spp., Edwardsiella spp., Aeromonas hydrophila, Aureobacterium spp., Vibrio parahaemolyticus, Streptococcus do grupo C, e Corynebacterium spp., implicados como sendo as mais comumente encontradas em lesões de tartarugas marinhas (CHUEN-IM et al., 2010) Infecção em tartarugas marinhas por fungos tem sido considerada como oportunista, causada normalmente por organismos saprófitas que invadem o tecido vivo estritamente sob circunstâncias favoráveis (MADER e DIVERS, 2013). Acreditase que as infecções fúngicas em tartarugas ocorram mais comumente em indivíduos cativos do que em exemplares de vida livre (RAND; WILES, 1987). Enquanto que em mamíferos existem vários tipos de fungos identificados como patogênicos, em répteis, nenhum foi claramente identificado como substancialmente patogênico e esse grupo de agentes tem sido considerado como oportunista (MADER e DIVERS, 2013). O gênero Fusarium até então tem sido considerado o principal agente patogênico nas infecções em tartarugas marinhas (ALFARO et al., 2010). Entre todas as famílias de vírus descritas em animais, apenas 6 ocorrem em quelônios (MADER e DIVERS, 2013). Duas delas são bem documentadas em tartarugas marinhas, Herpesviridae e Papillomaviridae e, novos estudos estão sendo realizados com quatro outras famílias: Iridoviridae, Reoviridae, Retroviridae e Togaviridae que também infectam quelônios (ALFARO et al., 2010). Em tecido neoplásico de tartarugas marinhas foram isolados alguns tipos de retrovírus, adenovírus, herpesvírus, poliomavírus e papilomavírus (ENE et al., 2005). Todavia, a ação ou reação a fatores ambientais e a predisposição genética também 19 tem sido consideradas como possíveis causas para o desenvolvimento neoplásico (AGUIRRE; LUTZ, 2004). Fibropapilomatose é uma doença neoplásica debilitante que é conhecida por causar morbidade e mortalidade em tartarugas marinhas em vários locais ao redor do mundo. É caracterizada pela presença de massas tumorais cutâneas e/ou viscerais, sendo que a maioria dos casos registrados é em tartarugas da espécie C. mydas (AGUIRRE; LUTZ, 2004). Sabe se, no entanto, que esta doença não é necessariamente fatal, pois pode ocorrer regressão espontânea dos tumores (LIMPUS et al., 2005). Por outro lado, é apontada como uma das causas mais importantes de redução populacional de C. mydas juntamente com a captura incidental e deve-se considerar que as tartarugas jovens acometidas muitas vezes não sobrevivem à fase adulta e, consequentemente, deixam de contribuir para a perpetuação da espécie (ROSSI, 2007). Em tartarugas marinhas a infecção por vírus pode causar danos celulares que permite a infecção secundária e/ou oportunista por outros agentes patogênicos, especialmente bactérias e fungos (ALFARO et al., 2010). Poucos dados estão disponíveis sobre o ciclo de vida do parasito; a forma como a infestação afeta a saúde do hospedeiro, o crescimento e o desempenho reprodutivo; ou efeitos sobre a estrutura e dinâmica da população (ZUG et al., 2001), embora o parasitismo esteja extremamente difundido e comum entre tartarugas marinhas e novas espécies são continuamente descritas (WERNECK, 2011). Entre os répteis, as tartarugas são os que possuem a mais rica e maior comunidade de helmintos (AHO, 1990). Dentre os helmintos parasitos de tartarugas marinhas na Costa brasileira, apenas nematóides e trematódeos foram relatados. Entre os nematóides, três espécies foram encontradas em C. mydas: Kathlania leptura, Sulcascaris sulcata e Tonaudia freitasi Vicente e Santos, 1968 (Vicente et al., 1993). Werneck et al. (2008) relataram a ocorrência de S. sulcata e K. leptura em indivíduos juvenis de C. caretta e discorrem sobre a grade diversidade de trematódeos mais comumente estudados em C. mydas. Estudo realizado por Thatcher (1997) relata alguns trematódeos neotropicais parasitando indivíduos da espécie Chelonia mydas: Orchidasma amphiorchis, Metacetabulum invaginatum, Pronocephalus. crassum, Pronocephalus. Pronocephalus. obliquus, longiusculus, Cricocephalus albus, Polyangium linguatula e Neoctangium travassosi. 20 2.3 Anatomia e histologia do esôfago de Chelonia mydas O sistema digestivo dos vertebrados apresenta adaptações estruturais e funcionais de acordo com os hábitos alimentares (SECOR, 2005). As tartarugas verdes apresentam indícios de onivoria em sua fase pelágica, com tendências carnívoras, tornando-se substancialmente herbívoras na fase juvenil e permanecendo na fase adulta (CHEVALIER; LARTIGES, 2001; FIDELIS; BALLABIO; GUEBERT, 2005). Dessa forma, Chelonia mydas é a única espécie de quelônios marinhos com hábitos herbívoros (BRAND-GARDNER et al., 1999). O esôfago consiste de um órgão tubular musculomembranoso, localizado medialmente na região cervical, pende lateralmente para a esquerda na região celomática, onde se encontra a região cardíaca (MAGALHÃES et al., 2012). A mucosa esofágica é caracterizada por papilas pontiagudas em toda sua extensão (papilas esofágicas) e estas são orientadas no sentido do estômago e presumidamente desempenham a função de manter o alimento, enquanto o excesso de água é expelido antes de engolir (WYNEKEN, 2001). Essas papilas tornam-se progressivamente maiores em direção à região caudal do esôfago. Um estreitamento da musculatura é observado no limite de transição entre o esôfago e o estômago, esta transição é marcada internamente pela ausência de papilas e pelo esfíncter gastroesofágico (MAGALHÃES et al., 2012). O esôfago é revestido por epitélio estratificado escamoso queratinizado que recobre e possui a função de proteção contra o atrito gerado pela passagem dos alimentos (MAGALHÃES et al., 2010). A lâmina própria é aglandular e formada por tecido conjuntivo frouxo. Não são evidenciadas muscular da mucosa e submucosa e a camada muscular é formada por musculatura estriada organizada em feixes em uma única camada, dispostos longitudinalmente contendo abundante tecido conjuntivo frouxo entre os feixes. A camada externa apresenta-se como adventícia na porção cranial, e serosa na porção caudal (MAGALHÃES et al., 2012). 21 2.4 Lesões esofágicas de Chelonia mydas Segundo Pont e Alegre (2000) e Di Bello, Valastro e Staffieri (2006) a ingestão do anzol pode ocasionar lesões traumáticas no trato gastrointestinal, e inclusive levar ao óbito em alguns casos. Assim, Orós et al. (2005) avaliaram os achados de necropsia em indivíduos com lesão devido a ingestão de linhas de pesca e anzol e verificaram processo inflamatório agudo associado a esofagite fibrinosa ulcerativa e esofagite traumática com perfuração. Estas lesões foram caracterizadas pela ulceração da mucosa esofágica contendo um revestimento eosinofílico de aspecto fibrilar, infiltração de granulócitos degenerados, presença de bactérias na lâmina própria e/ ou submucosa e uma camada subjacente de células gigantes multinucleadas. Por outro lado, Tomas et al. (2001) e Alegre et al. (2006) afirmaram que tartarugas marinhas são aparentemente capazes de viver com lesões consideráveis no trato gastrointestinal, causadas pela ingestão de anzóis. Santoro et al. (2007) associaram a esofagite em tartarugas ao parasito Rameshwarotrema uterocrescens, um trematódeo da classe Digenea, ordem Pronocephalidae. Estes mesmos autores caracterizaram as lesões do esôfago como placas multifocais amareladas variando de 0,5 cm a 1 cm revelando ao corte espaços císticos contendo material caseoso amarelado revestido por tecido conjuntivo tecido. Histologicamente, os espaços císticos observados macroscopicamente correspondiam a glândulas esofágicas ectásicas e inflamadas com a presença dos trematódeos. Bindaco et al. (2014) afirmaram que no litoral do Espírito Santo tem sido frequente a ocorrência de encalhes de animais apresentando lesões esofágicas associadas ou não à presença de conteúdo caseoso que, em alguns casos, levam à obstrução total do tubo digestório (dados ainda não publicados)1. Nota-se escassez de estudos a respeito da morfologia normal do esôfago desses animais bem como dos processos patológicos envolvidos, sendo importante pesquisas que elucidem as causas e mecanismos de formação desses processos uma vez que pode comprometer o desenvolvimento e sobrevivência dos indivíduos. 1 Trabalho de pesquisa sendo desenvolvido por Adriano Stelzer Bindaco et al., no Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo, a partir de 2014. 22 CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DO ESÔFAGO DE TARTARUGAS VERDES (Chelonia mydas) Artigo a ser submetido à publicação no periódico Pesquisa Veterinária Brasileira 23 3 Cap. 1 – CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DO ESÔFAGO DE TARTARUGAS VERDES (Chelonia mydas) MORPHOLOGIC CHARACTERIZATION OF ESOPHAGUS OF GREEN TURTLE (Chelonia mydas) Antonio de Calais Júnior1, Louisiane de Carvalho Nunes2* 1 Mestrando em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, Espírito Santo, Brasil. 2 Professora PhD em Patologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, Espírito Santo, Brasil. * Autor para contato: [email protected] RESUMO A tartaruga verde, Chelonia mydas (Linnaeus, 1758), é a mais comum na região costeira do Brasil e a compreensão da morfologia e de processos fisiológicos básicos nestes organismos é importante podendo fornecer subsídios para estudos evolutivos sobre a espécie. O objetivo deste trabalho foi descrever a morfologia do esôfago de C. mydas com a finalidade de produzir informações que possibilitem análises comparativas com outros quelônios. Utilizaram-se oito animais, provenientes do litoral do Espírito Santo, no período de setembro a novembro de 2014. Obtiveram-se dados de comprimento curvilíneo da carapaça (CCC) e largura curvilínea da carapaça (LCC). O esôfago foi retirado desde a inserção da orofaringe até a porção inicial do estômago para avaliação histomorfológica e medida do comprimento. Foram avaliadas quatro regiões do esôfago. O órgão inteiro foi fixado em formalina a 10% e, posteriormente, foi colhido um fragmento de cada região para processamento histológico e coloração pelas técnicas Hematoxilina e Eosina (HE), Tricrômico de Masson e Ácido Periódico-Schiff (PAS). Os animais juvenis possuíam CCC médio de 38,8±6,43 cm e LCC média de 35,6±6,59 cm; o animal adulto mediu 102,3 cm de CCC e 96,9 cm de LCC. O comprimento médio do esôfago foi de 20,47±1,56 nos juvenis, e total de 55,6 cm no adulto. Observou-se que o esôfago de C. mydas é um órgão tubular muscular constituído de papilas cônicas que variam de quantidade e tamanho, à medida que se aproximam do estômago, revestidas por 24 epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e ricas em tecido mixoide. Há variação nas camadas mucosa, muscular externa e serosa entre as regiões do esôfago e há presença de glândulas produtoras de muco na mucosa da região da junção gastroesofágica. As características histomorfológicas do esôfago de C. mydas são importantes para exercer a função mecânica e de proteção da mucosa deste órgão. Palavras chave: morfologia. quelônios. tubo digestório ABSTRACT The green turtle, Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) is the most common in the coastal region of the Brazilian continental sea and understanding the morphology and basic physiological processes in these organisms is extremely important and can provide support for evolutionary studies on the species. The objective of this study was to describe the morphology of C. mydas' esophagus in order to produce data that allows comparative analyses with other turtles. It was used eight specimens of C. mydas from the coast of Espírito Santo during the period from September to November 2014. We obtained the curved carapace length (CCL) and curved carapace width (CCW) in centimeters. The esophagus was completely removed from the insertion region of the oropharynx to the initial portion of stomach for macroscopic and microscopic evaluation. Measurement on the length and description of the structures in four regions of the esophagus were performed. The entire organ was fixed in 10% formalin and then it was collected a fragment of one centimeter in diameter for histological processing and staining by hematoxylin and eosin (HE), Masson and periodic acid-Schiff (PAS) techniques. Juvenile animals had average CCL of 38.8 ± 6.43 cm and average CCW of 35.6 ± 6.59 cm; the adult animal measured CCL of 102.3 cm and CCW of 96.9 cm. The average length of the esophagus was 20.47 ± 1.56 in youth, and total 55.6 cm in the adult. It was observed that C. mydas' esophagus is a tubular muscular organ which consists of conical papillae that vary on quantity and size as they approach the stomach, lined by stratified squamous keratinized epithelium and rich in myxoid tissue. There is variation in the mucosal, submucosal, external muscle and serous layers among the four regions of the esophagus and there are mucus-producing glands in the submucosa of the gastroesophageal junction region. The histomorphometric characteristics of C. mydas' esophagus are important to engage the mechanical 25 function and mucosal protection of this organ. Key words: alimentary canal. chelonian. morphology 4 INTRODUÇÃO As tartarugas marinhas são classificadas em duas famílias taxonômicas, Cheloniidae com seis espécies e Dermochelyiidae com uma única espécie (PRITCHARD, 1997). Destas, cinco são encontradas ao longo da costa brasileira e a tartaruga verde, Chelonia mydas (Linnaeus, 1758); é a mais comum na região costeira do mar continental do Brasil (ALMEIDA et al., 2011). A espécie apresenta distribuição cosmopolita e é encontrada em águas tropicais e temperadas (MÀRQUEZ, 1990), e no Brasil, a espécie desova principalmente nas ilhas oceânicas, como Fernando de Noronha (PE), Trindade (ES) e Atol das Rocas (RN) (SPOTILA, 2004), e possui como áreas secundárias o litoral norte do estado da Bahia, nos estados do Espírito Santo, Sergipe e Rio Grande do Norte (ALMEIDA et al., 2011). Vítimas de capturas acidentais, as tartarugas apresentam taxas consideráveis de mortalidade de espécies não alvo (LEWISON et al., 2004). Dessa forma, observase um declínio global nas populações, em que seis das sete espécies são categorizadas como vulneráveis, em perigo ou criticamente ameaçadas na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais - IUCN (IUCN, 2015). Segundo Wallace et al. (2010) capturas por pesca acidental são as maiores ameaças para a conservação desses indivíduos com relatos de aproximadamente 85000 animais capturados incidentalmente em todo o mundo no período de 1990 a 2008. Entretanto essas estimativas são limitadas devido à baixa confiabilidade das informações globais e a inexistência de relatos sobre as capturas em pescas de pequena escala (WALLACE et al., 2010; CASALE, 2011), associados a falta de dados sobre a taxa de sobrevivência de animais liberados (MANGEL et al., 2011). Desta forma, a compreensão de processos fisiológicos básicos nos organismos é de extrema importância na aquisição de conhecimentos ecológicos e evolutivos para aplicação de correto manejo e atividades conservacionistas (SOUZA, 2004). O sistema digestivo dos répteis contém todas as estruturas presentes em 26 outros vertebrados superiores (PUTTERILL; SOLEY, 2003), entretanto, estudo realizado por Silva (2004) evidenciou que a morfologia é diretamente relacionada aos hábitos alimentares específicos. Em quelônios o trato gastrointestinal é anatomicamente diversificado e a grande variedade de répteis exige mais estudos para compreensão de particularidades anatômicas (COSTA et al., 2009). O esôfago é um tubo muscular cuja função é transportar o alimento da boca ao estômago e, de um modo geral, contém as mesmas camadas que o restante do trato digestório (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2013), entretanto, em tartarugas marinhas, apresenta papilas fortemente queratinizadas que protegem a mucosa da dieta abrasiva, e também pode atuar como dispositivos de filtragem (ELLIOTT, 2007). Estudos morfológicos sobre o trato digestivo das tartarugas marinhas podem produzir informações que permitirão análises comparativas com outros quelônios, e também fornecer subsídios para futuros estudos evolutivos sobre o grupo, especialmente as que dizem respeito a adaptações relacionadas com os hábitos alimentares (MAGALHÃES et al., 2012). O objetivo deste trabalho foi descrever a morfologia do esôfago de Chelonia mydas com a finalidade de produzir informações que possibilitem análises comparativas com outros quelônios. 5 MATERIAL E MÉTODOS No presente estudo foram utilizados oito espécimes de C. mydas (sete juvenis e um adulto), provenientes da base veterinária da empresa CTA Meio Ambiente, localizada no município de Anchieta, ES. Todos os animais recebidos pela empresa foram provenientes do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia do Espírito Santo (como requisito do IBAMA para o processo de licenciamento ambiental). Todo protocolo experimental adotado possui autorização número 39329-1, do Sistema e Informação em Biodiversidade (SisBio), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Com o intuito de minimizar a avaliação de animais com alterações cadavéricas significativas, utilizaram-se somente os animais mortos há menos de seis horas que não apresentaram, ao exame macroscópico, lesão esofágica. Assim, 27 coletou-se material apenas dos cadáveres que morreram durante o transporte do local de encalhe até a base ou dos animais que foram recebidos vivos na base para tratamento e vieram a óbito no período de setembro a novembro de 2014. Os cadáveres foram submetidos à avaliação biométrica utilizando-se fita métrica e obtidos os dados de comprimento curvilíneo da carapaça (CCC) e largura curvilínea da carapaça (LCC) em centímetro. Em seguida foram necropsiados no Setor de Necroscopia da empresa CTA seguindo a técnica de Wyneken (2001). O esôfago foi retirado completo desde a região de inserção da orofaringe até a porção inicial do estômago para avaliação macro e microscópica. Para a avaliação macroscópica o esôfago foi aberto na porção dorsal e obteve-se o comprimento total do órgão. Também foram avaliadas a presença, distribuição e formato das papilas esofágicas, bem como do esfincter gastroesofágico. Foi feita a descrição morfológica das estruturas observadas, de acordo com a divisão de Junqueira e Carneiro (2013), sendo definidas quatro regiões, a saber: 1) junção gastroesofágica; 2) porção distal do esôfago; 3) porção medial e 4) porção proximal. Todo material foi fotodocumentado e, em seguida, fixado em formalina a 10%. O material fixado foi encaminhado ao Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo e identificado com a letra “P”, referente à material de pesquisa, seguido da sequencia numérica de registro do setor e ano. De cada porção do esôfago foi colhido um fragmento de 1cmx1cm para processamento histológico de rotina: desidratação (em uma série de concentração crescente de etanol de 70° GL a 100° GL), diafanização em xilol, impregnação e inclusão em parafina para obtenção de cortes histológicos de 3 μm de espessura em micrótomo manual. As lâminas com os fragmentos foram coradas pelas técnicas Hematoxilina e Eosina (HE), Tricrômico de Masson e Ácido Periódico-Schiff (PAS). A avaliação microscópica foi feita levando-se em consideração as quatro camadas do tubo digestório, a saber: mucosa, submucosa, muscular externa e serosa ou adventícia. Todas as lâminas foram observadas e fotomicrografadas respectivamente com câmera digital Sony SteaddyShot DSC-W610 acoplada em microscópio óptico Bel A17.1026. A análise estatística foi feita pelo método descritivo com os dados expressos em porcentagem. 28 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os animais avaliados observou-se que os animais juvenis possuíam CCC médio de 38,8±6,43 cm e LCC média de 35,6±6,59 cm enquanto que o animal adulto mediu 102,3 cm de CCC e 96,9 cm de LCC. Observou-se que o comprimento médio do esôfago foi de 20,47±1,56 nos animais juvenis e total de 55,6 cm no animal adulto (Tabela 1). Tabela 1. Valores absolutos do comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), largura curvilínea da carapaça (LCC) e do comprimento total do esôfago de C. mydas do litoral do Espírito Santo, 2014. Número da amostra CCC (cm) LCC (cm) Comprimento total do esôfago (cm) P95/14 47,6 43,5 22,2 P97/14 42,2 36,6 21,9 P118/14 36,5 36,1 20,6 P123/14 39,6 36,9 21,3 P124/14 33,9 32,4 18,8 P125/14 43,6 41,0 20,5 P128/14 102,3 96,9 55,6 P129/14 28,5 23,1 *CCC: comprimento curvilíneo da carapaça; LCC: largura curvilínea da carapaça 18,0 O comprimento médio do esôfago de C. mydas citado por Magalhães et al. (2010; 2012) foi de 19,32 ± 4,09 cm. Esses dados são semelhantes aos valores de comprimento médio de esôfago obtidos neste estudo se forem considerados apenas os animais juvenis. No entanto, o comprimento do esôfago encontrado em um animal adulto por Magalhães et al. (2010) foi de 24,70 sendo o CCC e LCC deste animal de 108,20 cm e 106,50 cm, respectivamente. Este dado apresenta-se muito discrepante quando comparado com o tamanho do esôfago do animal adulto avaliado no presente estudo. Segundo Eckert (1993) uma tartaruga verde considerada adulta apresenta comprimento curvilíneo de carparaça de 85 cm e hábitos alimentares essencialmente herbívoros, porém, não existem dados na literatura que justifiquem esta diferença no comprimento do órgão em animais adultos, dessa forma, é de extrema necessidade a realização de novos estudos a fim de se obter mais parâmetros com o intuito de esclarecer essas divergências. 29 Em estudo realizado por Nakashima (2008), os exemplares analisados apresentaram medidas de comprimento curvilíneo da carapaça variando entre 26 e 67 cm sendo considerados todos juvenis e apresentaram uma dieta onívora, ainda que composta principalmente por matéria vegetal, consistindo basicamente de algas e matéria animal, indicando que as tartarugas-verdes analisadas estavam no período de mudança de hábitos alimentares, carnívoro para herbívoro. De acordo com Lahanas et al., (1998) ainda é pouco o conhecimento sobre os hábitos alimentares das tartarugas verdes durante a fase de vida oceânica, em que os indivíduos são considerados filhotes, entretanto, juvenis desenvolvem uma estratégia de alimentação oportunista, predando organismos planctônicos muitas vezes agregada em zonas frontais (BOLTEN, 2003). Estudo realizado por Pupo, Soto e Hanasaki (2006), confirmaram que, com exceção da tartaruga-oliva e da tartaruga-de-couro, todas as outras que ocorrem na costa brasileira preferem águas rasas para alimentação isto torna muito comum a presença de tartarugas próximas à costa, e as consequentes capturas incidentais. Acredita-se que a ausência de dados em tartarugas verdes adultas seja devido ao baixo índice de encalhe destes animais e, segundo Guebert (2008), os indivíduos juvenis aparecem em maior frequência e, por isto, estão sujeitos a taxas de mortalidade diferenciadas em relação aos adultos. Além disto, em estudo anterior, Guebert et al. (2007) afirmaram que os animais adultos estão presentes na área, contudo os registros de mortalidade são pouco frequentes o que nos indica que talvez os adultos não sofram os mesmos impactos que os juvenis. Pupo, Soto e Hanasaki (2006), observaram que as tartarugas capturadas incidentalmente pela pesca artesanal na Ilha de Santa Catarina apresentavam um CCC entre 52 cm e 58 cm o que indicou a ocorrência de tartarugas juvenis, sendo a maioria delas C. mydas e Caretta caretta. Dados semelhantes foram encontrados por Rosa (2005) no Paraná; Bahia e Bondioli (2010) em São Paulo e Awabid; Siciliano e Di Beneditto (2013) no Rio de Janeiro. Em relação à anatomia do esôfago de C. mydas verificou-se em todos os casos (100%) que se trata de um órgão tubular muscular localizado medialmente na região cervical com desvio lateral para a esquerda na cavidade celomática próximo ao coração. Estes dados já foram descritos em C. mydas por Magalhães et al. (2012) e por Magalhães (2010) em Podocnemis sextuberculata e Podocnemis dumerilianus. 30 Pinheiro et al. (2010) descreveram as características do esôfago de Mesoclemmys vanderhaegei que é contínuo caudalmente à cavidade oral. Apresenta-se como uma estrutura tubular, inicialmente localizada dorsalmente à traqueia (segmento cervical), desviando-se levemente para a direita à medida que se direciona caudalmente e por fim, posicionando-se à esquerda da traqueia e dorsalmente ao coração, ao entrar na cavidade celomática, imediatamente antes de desembocar no estômago formando o segmento celomático. Embora em tartarugas verdes não existam relatos de utilização dos termos esôfago cervical e esôfago celomático, anatomicamente também é possível identificar essas duas porções. Observou-se que nas porções proximal, medial e distal, a mucosa esofágica é caracterizada por papilas em formato de cone, pontiagudas, orientadas caudalmente para o estômago. Notou-se que estas papilas são delgadas e numerosas na porção proximal e aumentam de comprimento e diâmetro à medida que chegam à região medial, entretanto, há variação quanto à sua distribuição e quantidade na região distal do esôfago, tornando-se menos numerosas. Na junção gastroesofágica observou-se ausência das papilas cônicas pontiagudas, presença de pregas reticulares longitudinais e um estreitamento da musculatura caracterizando o esfincter gástrico (Figura 1). 31 Figura 1. Fotomacrografia do esôfago normal de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando mucosa constituída de papilas cônicas, pontiagudas, orientadas caudalmente para o estômago sendo as papilas delgadas na região proximal (P), aumentadas de diâmetro e altura na região medial (M), e de número reduzido na região distal (D). Estreitamento da musculatura caracterizando o esfíncter gástrico (JGE). Magalhães et al. (2012) obtiveram dados semelhantes ao estudar a morfologia do tubo digestório de C. mydas. Entretanto estes autores observaram uma região em forma de bolsa em dois animais, caracterizando um divertículo esofágico, o que não foi verificado neste estudo. Porém, não se sabe, se o divertículo aparece normalmente em alguns indivíduos ou se está relacionado a algum processo patológico prévio. Em estudo realizado em Caretta caretta e Orlitia borneensis por meio de endoscopia observaram-se papilas ao longo do esôfago que tornavam-se ausentes na região de transição para o esfíncter gastroesofágico evidenciando uma mucosa pregueada (PRESSLER et al., 2003). Aspectos anatômicos distintos foram 32 verificados no esôfago de Mesoclemmys vanderhaegei em que a mucosa do segmento cervical é lisa e à medida que se direciona caudalmente, próximo ao estômago, apresenta pregas orientadas longitudinalmente (PINHEIRO et al., 2010). Valente et al., (2006) associou as papilas esofágicas macroscopicamente às papilas encontradas na mucosa bucal de bovinos e ovinos e, segundo Lutz e Musick (1997), a contração do esôfago tem função de expelir o excesso de água pela cavidade oral e narinas tendo essas papilas a função de reter o alimento sólido ingerido e que durante esse processo o esfíncter gastroesofágico se contrai evitando a passagem de conteúdo para o estômago. Entretanto, Macedo et al., (2011) afirmaram que a presença das papilas queratinizadas e voltadas para a parte interna do aparelho digestório, é um agravante anatômico em relação à ingestão de resíduos sólidos pelas tartarugas marinhas, uma vez que, como adaptação à alimentação no ambiente aquático, impedem o refluxo fazendo com que resíduo seja mantido. Esta característica as torna diferente de outras espécies de tetrápodes marinhos como os pinguins-demagalhães (Spheniscus magelanicus) que têm a possibilidade de regurgitar os dejetos anteriormente ingeridos (TOURINHO; SUL; FILLMANN, 2010). Histologicamente, as quatro regiões do esôfago avaliadas neste estudo apresentaram três camadas distintas: mucosa, muscular externa e serosa. Não se observaram as camadas muscular da mucosa e submucosa distintas. Magalhães et al. (2010) também verificaram ausência de muscular da mucosa e submucosa no esôfago de C. mydas e, de acordo com Elliott (2007), há ausência da muscular da mucosa do esôfago em muitas espécies de répteis, mas pode ser encontrada em algumas espécies de tartarugas. Entretanto, Sikiwat et al., (2013) o esôfago de C. mydas juvenil é recoberto por epitélio estratificado escamoso que protege o lúmen esofágico e é sustentado por submucosa de tecido conjuntivo frouxo circundado por musculatura lisa disposta circularmente para permitir a passagem do alimento. Na porção junção gastroesofágica observou-se mucosa pregueada constituída por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo contendo vasos sanguíneos, nódulos linfoides e glândulas produtoras de muco, positivas ao PAS (Figura 2D). A camada muscular externa é composta por músculo estriado esquelético sendo a camada mais interna de disposição longitudinal e a mais externa circular. A camada de musculatura 33 longitudinal é bastante espessa e a circular bem delgada nesta porção. A serosa é composta por tecido conjuntivo frouxo revestida por mesotélio. A porção distal revelou mucosa constituída por papilas cônicas pontiagudas em quantidade moderada revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. A lâmina própria é semelhante à porção da junção gastroesofágica mas não possui glândulas mucosas (Figura 2C). A camada muscular externa é composta por músculo estriado esquelético sendo a camada mais interna de disposição longitudinal e a mais externa circular com distribuição semelhante à região anterior. As porções proximal e medial revelaram mucosa constituída por papilas cônicas pontiagudas revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. Na lâmina própria há abundante tecido conjuntivo mixoide sustentando as papilas. Também não se verificaram estruturas glandulares. A camada muscular externa é composta por músculo estriado esquelético sendo a camada mais interna de disposição circular e a mais externa longitudinal, diferindo-se das demais porções (Figura 2A e 2B). A serosa é composta por tecido conjuntivo denso. Observou-se ainda que na porção proximal as papilas cônicas pontiagudas cornificadas apresentaram-se mais delgadas e mais baixas em relação às da região medial e no início da porção proximal há adventícia em vez de serosa. Em relação à disposição das camadas musculares observou-se uma variação entre as regiões do esôfago. Sabe-se que a camada muscular circular tem por função auxiliar na constrição do órgão enquanto que a longitudinal auxilia na dilatação do lúmen. Desta forma, acredita-se que nas regiões proximal e medial haja maior capacidade constritora e, na região distal, maior dilatação para propulsão do alimento. A existência de tecido mixomatoso no interior das papilas cônicas chamadas de “espinhos esofágicos” foi feita por Dunlap (1955) citado por Vogt, Sever, e Moreira (1998) em estudo com tartarugas gigantes (Dermochelys coriacea). Em C. mydas não existem citações deste componente. Vale ressaltar que o tecido mixoide é rico em ácido hialurônico e, portanto, seria melhor evidenciado por técnicas histoquímicas como o Alcian Blue que cora mucinas ácidas. Entretanto, neste estudo utilizou-se apenas o PAS que cora positivamente mucinas neutras, mesmo assim, foi possível identificar o tecido mixoide no interior das papilas. Acredita-se que este tecido facilite a movimentação 34 destas na porção anterior do esôfago. Figura 2. Fotomicrografia do esôfago normal de Chelonia mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) mucosa constituída de papilas cônicas revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado (seta) e compostas por tecido mixoide na porção proximal (HE). B) camada muscular circular evidenciada pelo método de Tricrômico de Masson região proximal. C) lâmina própria aglandular na região distal e espessa camada muscular longitudinal (seta tracejada) (HE). D) lâmina própria glandular na junção gastroesofágica com glândulas mucosas positivas ao PAS. (Barra=500μm). Alguns aspectos diferentes dos encontrados neste estudo foram descritos por Magalhães et al. (2010) em C. mydas que afirmaram que histologicamente o esôfago apresenta mucosa pregueada, com lâmina própria aglandular, formada por tecido conjuntivo frouxo e afirmaram que a ausência de glândulas, indica que esse órgão apresenta apenas função mecânica. Descreveram também que a camada muscular é formada por musculatura estriada organizadas em feixes em uma única 35 camada, dispostos longitudinalmente contendo abundante tecido conjuntivo frouxo entre os feixes. Acredita-se que a ausência da descrição do exato local de coleta das amostras, esteja diretamente relacionada às diferenças histológicas observadas. É possível afirmar com os dados do presente estudo que o esôfago de C. mydas possui função mecânica devido à queratinização do epitélio e do tecido mixoide existente na lâmina própria que sustenta as papilas cônicas. Além da produção de muco pelas glândulas esofágicas da lâmina própria da mucosa na junção gastroesofágica, confirmadas pela reação positiva ao PAS, que certamente auxiliam na propagação do alimento para o estômago. Estes achados foram confirmados por Junqueira e Carneiro (2013) que citaram que a secreção produzida pelas glândulas esofágicas, tem por função facilitar o transporte do alimento e proteger a mucosa. Entretanto, estes autores observaram as glândulas mucosas do esôfago na submucosa de outras espécies. A presença das glândulas esofágicas em C. mydas também foi descrita por Santoro et al. (2007) que verificaram um parasito trematoda no interior das glândulas causando esofagite e adenite. Entretanto, afirmaram que as lesões são frequentes na região distal do esôfago e demonstraram a presença de placas brancacentas em uma porção do órgão contendo pregas longitudinais sem papilas cônicas. É possível que a região citada pelos autores como distal seja a mesma que, neste estudo, denominou-se junção gastroesofágica, uma vez que não há papilas cônicas e sim pregas reticulares longitudinais. Estes achados também permitiram confirmar que estes animais possuem estruturas glandulares no esôfago. Em estudo com esôfago de Kinosternon scorpioides Pereira et al. (2005) encontraram que as glândulas secretam glicosaminoglicanas e sugeriram que estas seriam funcionais na proteção da mucosa contra abrasão. Em outro estudo com as características do esôfago de Phrynops geoffroanus verificou-se também algumas diferenças histológicas sendo as principais: a presença de glândulas bem definidas no epitélio e lâmina própria bem vascularizada na base do epitélio (VIEIRA-LOPES et al., 2014). Acredita-se que os hábitos alimentares dos cágados possam estar diretamente relacionados às características histológicas do esôfago como o hábito de ingerir organismos vivos, pois, de uma maneira geral, segundo Souza (2004), as espécies de cágados podem ser consideradas onicarnívoras. Nesse mesmo contexto, Magalhães (2010) também evidenciou muitos 36 aspectos distintos em cágados como a mucosa revestida por dois tipos distintos de epitélio, epitélio estratificado pavimentoso e epitélio estratificado cilíndrico. Também verificou que no epitélio estratificado cilíndrico há presença de células superficiais mucosas com reação positiva ao PAS e não foi evidenciada a muscular da mucosa. A submucosa é aglandular e a camada muscular externa é disposta em feixes de músculo intercalados com feixes de conjuntivo frouxo, composta de músculo liso. Desta forma é possível sugerir que as diferenças histológicas neste órgão são decorrentes dos hábitos alimentares dos animais. 7 CONCLUSÃO O esôfago de C. mydas é um órgão tubular muscular constituído de papilas cônicas que variam de quantidade e tamanho, à medida em que se aproximam do estômago, revestidas por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado e ricas em tecido mixoide. Há variação nas camadas mucosa, muscular externa e serosa e há presença de glândulas produtoras de muco na mucosa da região da junção gastroesofágica. As características histomorfológicas do esôfago de C. mydas são importantes para exercer as funções mecânica e de proteção da mucosa deste órgão. 8 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.P.; SANTOS, A.J.B.; THOMÉ, J.C.A.; BELINI, C.; BAPTISTOTTE, C.; MARCOVALDI, M.A.; SANTOS, A.S.; LOPEZ, M. Avaliação do estado de conservação da tartaruga marinha Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, v.1, n.1, p.18-25, 2011. 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Este estudo teve por objetivo caracterizar morfologicamente as alterações do esôfago de C. mydas a fim de determinar os possíveis agentes etiológicos envolvidos e estabelecer os mecanismos de formação das lesões. Utilizaram-se 45 espécimes, sendo 37 animais com e oito animais sem lesões macroscópicas no esôfago. Os cadáveres foram submetidos à necroscopia e o esôfago completo foi fixado em formalina a 10% e avaliado macro e microscopicamente. Utilizou-se os métodos de Hematoxilina e Eosina, Giemsa, Ácido Periódico-Schiff e Gram. Dos animais com alteração, 67,57% revelaram lesões multifocais brancacentas contendo material caseoso e 32,43% revelaram lesões focais. A localização predominou na junção gastroesofágica. Infiltrado inflamatório foi observado em 92% e 62,5% dos animais com e sem lesão, respectivamente. Grumos bacterianos foram observados em 56,75% das amostras com lesão. Observaram-se fragmentos de parasitos adultos em 75,7% das amostras 42 com lesão e 37,5% nas sem lesão. A contagem de parasitos revelou que 83,78% dos indivíduos com lesão e 62,5% dos indivíduos sem lesão possuíam parasitos. Houve associação moderada entre a presença de cáseo e inflamação ou bactérias ou parasitos. No entanto não houve diferença significativa no número de parasitos entre os diferentes graus de obstrução e a presença de parasitos não influenciou na ocorrência de obstrução. Conclui-se que C. mydas sofrem de uma lesão esofágica com formação caseosa que pode causar obstrução grave do trato gastrintestinal. Está associada à presença de inflamação ou à infecção por bactérias ou à infecção por parasitos. Embora o parasitismo não influencie no grau de obstrução e também ocorra nos animais sem lesões caseosas. Palavras chave: esôfago. obstrução. tartaruga marinha ABSTRACT The green turtle, Chelonia mydas, is widely distributed along the Brazilian coast and there are still few studies on the diseases of the gastrointestinal tract that affect these animals. This study aimed to characterize morphologically the changes of C. mydas’ esophagus to determine the possible etiologic agents involved and establish the mechanisms of formation of these lesions. We used 45 specimens of which 37 animals had macroscopic lesions in the esophagus and eight animals did not exhibit them. The corpses were submitted to necropsy and the complete esophagus was fixed in 10% formalin and evaluated macro- and microscopically. We used hematoxylin and eosin, Giemsa, periodic acid-Schiff and Gram staining methods. Among animals that presented changes, 67.57% showed multifocal lesions containing caseous material and 32.43% showed focal lesions. The location predominated in the gastroesophageal junction. Inflammatory infiltrate was observed in 92% and 62.5% of the animals with and without lesions, respectively. Bacterial clumps were observed in 56.75% of samples having injury. There were adult parasites fragments in 75.7% of samples with lesions and 37.5% in samples without lesions. The parasite count revealed that 83.78% of individuals with injury and 62.5% of non-injured individuals had parasites. There was a moderate association between the presence of caseous and inflammation or bacteria or parasites. However there was no significant difference in the number of parasites between the different degrees of obstruction and the presence of parasites did not influence the occurrence 43 of obstruction. We conclude that C. mydas suffer from esophageal injury with caseous formation which can cause severe obstruction of the gastrointestinal tract. It is associated with the presence of inflammation or bacterial infection or parasite infection. Although parasitism does not influence the degree of obstruction and also occurs in animals without caseous lesions. Key words: esophagus. obstruction. sea turtles 10 INTRODUÇÃO Conhecidas popularmente como tartaruga verde ou aruanã, a espécie Chelonia mydas, é amplamente distribuída pelos mares desde os trópicos até as zonas temperadas, sendo a espécie de tartaruga marinha que apresenta hábitos mais costeiros, com relatos de ocorrência em estuários de rios e lagos (ALMEIDA et al., 2011), sendo a Ilha de Trindade no estado do Espírito Santo a região que abriga a maior colônia reprodutiva desses animais no Brasil (MOREIRA, 2003). Por serem altamente migratórios e apresentarem um ciclo de vida complexo fazem uso de uma extensa área geográfica durante as fases de vida (MÁRQUEZ, 1990). Devido a essa alta mobilidade e complexidade do ciclo de vida, avaliações populacionais quantitativas são escassas (MEYLAN et al., 1995). Informações importantes sobre as tartarugas marinhas podem ser obtidas a partir de animais encalhados nas praias e vários fatores podem influenciar no encalhe de tartarugas marinhas, tais como a ingestão de plástico, afogamentos em redes de pesca, ingestão de anzóis e doenças sistêmicas (PINEDO et al 1996; BUGONI et al., 2001). C. mydas apresenta o maior número de indivíduos juvenis mortos encalhados ao longo da costa brasileira em decorrência do aumento da pesca costeira de emalhe (ALMEIDA et al., 2011). Assim, o conhecimento do estado de saúde das populações é considerado um imperativo para o desenvolvimento de programas conservação (DEEM et al., 2001) e as enfermidades que acometem as tartarugas marinhas não estão totalmente elucidadas, sendo, dessa forma, necessários estudos que visem conhecer o padrão das doenças e o estado de saúde de suas populações que, assim como outros grupos de vertebrados, são susceptíveis a agentes patogênicos bacterianos, fúngicos, virais e parasitários que podem causar moléstias e até levar a 44 óbito (ECKERT et al., 2000). Neste contexto, Orós et al. (2005) avaliaram os achados de necropsia em indivíduos com lesão no trato gastrintestinal devido a ingestão de linhas de pesca e anzol e verificaram processo inflamatório agudo associado a esofagite fibrinosa ulcerativa e esofagite traumática com perfuração. Sabe-se que a inflamação crônica surge quando a resposta inflamatória aguda falha em eliminar o estímulo desencadeador; após episódios repetidos de inflamação aguda ou em resposta a características bioquímicas ou fatores de virulência particulares do estímulo desencadeador (MCGAVIN; ZACHARY, 2012). Entretanto, Tomas et al. (2001) e Alegre et al. (2006) afirmaram que tartarugas marinhas são aparentemente capazes de viver com lesões consideráveis no trato gastrointestinal, causadas pela ingestão de anzóis. Por outro lado, a esofagite descrita em C. mydas foi associada ao parasito Rameshwarotrema uterocrescens (Santoro et al., 2007). Diante do exposto, nota-se que muitas enfermidades que ocorrem em C. mydas ainda não estão totalmente esclarecidas e tem sido grande o número de animais encalhados desta espécie no litoral do Espírito Santo, o que os torna cada vez mais vulneráveis à extinção. Assim, este estudo teve por objetivo caracterizar morfologicamente as alterações do esôfago de C. mydas a fim de determinar os possíveis agentes etiológicos envolvidos, bem como, estabelecer os mecanismos de formação das lesões. Desta forma, espera-se contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos desta espécie com implantação de programas mais adequados de tratamento e profilaxia. 11 MATERIAL E MÉTODOS No presente estudo foram utilizados 45 espécimes de C. mydas, sendo 37 animais com lesões macroscópicas no esôfago e oito animais sem lesões, provenientes da base veterinária da empresa CTA Meio Ambiente, localizada no município de Anchieta, ES, entre novembro de 2013 e novembro de 2014. Todos os animais recebidos pela empresa foram provenientes do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia do Espírito Santo (como requisito do IBAMA para o processo de licenciamento ambiental). 45 Todo protocolo experimental adotado possui autorização número 39329-1, do Sistema e Informação em Biodiversidade (SisBio), vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Com o intuito de minimizar a avaliação de animais com alterações cadavéricas significativas, utilizou-se somente os animais mortos há menos de seis horas. Assim, coletou-se material apenas dos cadáveres que morreram durante o transporte do local de encalhe até a base ou dos animais que foram recebidos vivos na base para tratamento e vieram a óbito no período. Os cadáveres foram submetidos à avaliação biométrica utilizando-se fita métrica e obtidos os dados de comprimento curvilíneo da carapaça (CCC) e largura curvilínea da carapaça (LCC) em centímetro. Em seguida foram necropsiados no Setor de Necroscopia da empresa CTA seguindo a técnica de Wyneken (2001). O esôfago foi retirado completo desde a região de inserção da orofaringe até a porção inicial do estômago para avaliação macro e microscópica. Para a avaliação macroscópica o esôfago foi aberto na porção dorsal e obteve-se o comprimento total do órgão com auxílio de paquímetro. De cada animal que apresentou alteração esofágica foi verificado o local (porção de acometimento no esôfago) e forma de distribuição (multifocal ou focal) e mensuradas, com auxílio de paquímetro, a extensão e profundidade das lesões. Além disto, foi definido o status de obstrução esofágica: sem obstrução, com obstrução parcial e com obstrução total. Em seguida, todos os esôfagos foram fixados em formalina a 10% e fotodocumentados. O material fixado foi encaminhado ao Laboratório de Patologia Animal da Universidade Federal do Espírito Santo e identificado com a letra “P”, referente à material de pesquisa, seguido da sequencia numérica de registro do setor e ano. Foram coletados quatro fragmentos por esôfago correspondendo às regiões da junção gastroesofágica, porção distal, porção medial e porção proximal do esôfago. Nos esôfagos com alteração, coletou-se a lesão existente em cada região e, nos esôfagos sem alterações, coletou-se um fragmento aleatório de cada porção. A divisão por regiões anatômicas foi utilizada apenas para demonstrar o local de distribuição das lesões no esôfago e os esôfagos normais foram utilizados para comparação. Cada fragmento foi colocado em cassete plástico e submetido ao 46 processamento histológico de rotina: desidratação (em uma série de concentração crescente de etanol de 70° GL a 100° GL), diafanização em xilol, impregnação e inclusão em parafina para obtenção de cortes histológicos de 3 μm de espessura em micrótomo manual. As lâminas com os fragmentos foram coradas pelas técnicas de Hematoxilina e Eosina (HE), Giemsa, Ácido Periódico-Schiff (PAS) e Gram. As técnicas histoquímicas foram coradas no Laboratório do Serviço de Patologia Veterinária da Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu, SP. A avaliação microscópica envolveu a descrição das lesões observadas utilizando como variáveis: presença de material caseoso, infiltrado inflamatório, presença de grumos bacterianos e presença de parasitos. Todas as variáveis foram analisadas quanto à intensidade utilizando critério semiquantitativo baseado em escores (+) discreta, (++) moderada, (+++) intensa e (-) ausente. Todas as lâminas foram observadas e fotomicrografadas respectivamente com câmera digital câmera digital Sony SteaddyShot DSC-W610 acoplada em microscópio óptico Bel A17.1026. Após a coleta de material histológico o restante do esôfago foi utilizado para identificação de parasitos. Para isto, a mucosa foi friccionada, embebida em solução salina (Figura 3A), em seguida, realizou-se o desprendimento da mucosa e a lavagem novamente com solução salina (Figura 3B). Tanto o material sem a mucosa (Figura 3C) quanto o conteúdo líquido (Figura 3D) obtido nos dois processos de lavagem foi avaliado em lupa estereoscópica para a identificação e contagem de parasitos. A identificação dos parasitos foi realizada no Laboratório de Parasitologia da Universidade Federal do Espírito Santo. 47 Figura 3. Fotomacrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) fricção da mucosa esofágica embebida em solução salina; B) desprendimento da mucosa; C) lavagem do material sem a mucosa e D) conteúdo líquido obtido da lavagem do esôfago, ambos utilizados para a identificação de parasitos em lupa estereoscópica. Todas as variáveis avaliadas no estudo foram analisadas estatisticamente pelo método descritivo com os dados expressos em porcentagem. Para a comparação presença de material caseoso, infiltrado inflamatório, presença de grumos bacterianos e presença de parasitos utilizou-se o teste exato de Fisher e o coeficiente de V de Cramer. Para avaliação entre o status de obstrução esofágica e a quantidade de parasitos utilizou-se o teste de correlação de Spearman e a análise de variância de Kruskall Wallis. Todas as análises foram verificadas em nível de significância de 5%. 48 12 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 45 animais avaliados, 44 foram classificados como juvenis e apenas um animal como adulto. Os dados do CCC, LCC e comprimento total do esôfago estão dispostos na Tabela 2. Tabela 2. Valores médios e desvio padrão do comprimento curvilíneo da carapaça (CCC), largura curvilínea da carapaça (LCC) e do comprimento total do esôfago com e sem alterações de C. mydas do litoral do Espírito Santo, entre 2013 e 2014. Indivíduo Juvenil CCC (cm) LCC (cm) Comprimento total do esôfago (cm) 37,15±5,71 34,00±5,11 18,68±2,20 Adulto 102,3 96,9 *CCC: comprimento curvilíneo da carapaça; LCC: largura curvilínea da carapaça 55,6 Estudos sobre a movimentação de C. mydas na costa brasileira mostraram que o CCC médio de animais juvenis foi de 56,00 cm e a LCC média de 49,75 cm. Para os animais subadultos foi de 90,5 cm e 82,5 cm e nos animais adultos foi de 111 cm e 102 cm, respectivamente para CCC e LCC (Godley et al., 2003). No presente estudo verificou-se que os animais juvenis foram menores e sugere-se que seja devido à movimentação nas proximidades da costa nessa fase de vida. Os animais maiores geralmente são capturados em áreas mais abrangentes. Dos 37 animais com lesões esofágicas avaliados 67,57% (25/37) revelaram lesões multifocais brancacentas contendo material caseoso, enquanto que 32,43% (12/37) revelaram lesões focais com material caseoso aderido à mucosa esofágica. As lesões multifocais mediram ≤ 0,1 cm em profundidade e extensão e apresentavam-se, na maioria das vezes, disseminadas. As lesões focais variaram de > 0,1 cm a 1,5 cm de profundidade e de 1,3 cm a 8,5 cm de extensão e em 10 casos foram observadas na região de junção gastroesofágica (Tabela 3). Em relação ao status de obstrução verificou-se que as lesões multifocais foram consideradas não obstrutivas. Os animais com lesões de 0,2 cm a 0,97 cm de profundidade foram considerados com obstrução parcial e as lesões iguais ou superiores a 0,98 cm de profundidade foram considerados com obstrução total. A variável profundidade foi mais importante para avaliar o grau de obstrução (Tabela 3). 49 Quando verificado o local de acometimento no esôfago e a distribuição da lesão pelo órgão observou-se que as lesões foram localizadas na porção medial e distal em 2,70%(1/37) dos casos, na distal em 16,22% (6/37), na distal e junção gastroesofágica em 2,70% (1/37) e na junção gastroesofágica em 51,36% (19/37). Em 27,02% (10/37) não foi possível definir o local exato de acometimento do esôfago porque as lesões foram disseminadas (Tabela3). Os esôfagos normais não apresentaram lesão macroscópica. A Figura 4 ilustra os achados macroscópicos dos esôfagos de C. mydas. A ocorrência de lesões esofágicas em tartarugas marinhas foi descrita por Orós; Calabuig; Déniz (2004) associada à perfuração do órgão e revelou esofagite fibrinosa e ulcerativa. Em alguns animais estas lesões traumáticas do esôfago foram associadas à septicemia induzida por bactérias patogênicas. Também se observaram lesões associadas à ingestão de óleo caracterizadas por necrose moderada das células epiteliais superficiais. Outras lesões observadas nestas tartarugas foram gastroenterite necrosante, hepatite necrosante e tubulonefrose. Em relação às lesões perfurantes, Casale et al., (2008) citou que estas podem ser mais graves quando ocorrem na região caudal do esôfago próximas ao coração e podem causar celomite e morte. Valente (2007) também descreveu duas mortes em tartarugas pela presença de anzóis no trato gastrintestinal. Em um dos animais, observou-se fibrose do esôfago com invaginação do epitélio delimitando o anzol e, no outro animal, houve necrose intestinal associada à presença de monofilamento de nylon no anzol. Santos et al. (2011) também verificaram lesões obstrutivas do trato digestório devido à presença de fio de nylon preso desde o esôfago até a cloaca. Por outro lado, um estudo realizado em dez animais com ganchos J3 alojados no esôfago proximal para medial, verificou-se que 50% destes expulsaram os corpos estranhos durante o período de dois anos sem intervenção médica. Também se verificou, à endoscopia, que nenhum desses animais apresentou lesão esofágica (ALEGRE et al., 2006). A ocorrência de lesões esofágicas associadas à debris antropogênicos foi feita por Hoarau et al. (2014) em Caretta caretta que citaram mortes em dois animais com debris maiores que 30 gramas. Entretanto, afirmaram que a causa primária de mortes nestes animais foi atribuída à perfuração do esôfago e estômago associado à infecção bacteriana. 50 É importante destacar que, neste estudo nenhum dos animais apresentou, durante a necropsia, qualquer tipo de material antrópico na região da lesão esofágica que pudesse ser incriminado diretamente como causador da injúria. Em C. mydas, lesões caracterizadas como placas multifocais amareladas variando de 0,5 cm a 1 cm revelando ao corte espaços císticos contendo material caseoso amarelado revestido por tecido conjuntivo que, histologicamente, correspondiam a glândulas esofágicas ectásicas e inflamadas foram associadas à presença de parasitos Rameshwarotrema uterocrescens, trematódeos da classe Digenea, família Pronocephalidae (SANTORO et al., 2007). No entanto, não existem dados na literatura da presença de material caseoso abundante com obstrução parcial ou total no esôfago em C. mydas. 51 Tabela 3. Macroscopia, localização, profundidade, extensão e status de obstrução em C. mydas com lesões esofágicas do litoral do Espírito Santo, entre 2013 e 2014. Amostra Descrição Localização Profundidade (cm) Extensão (cm) Status da obstrução P13/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P14/14 Focal Junção 1,1 1,3 Obstrução total P16/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P17/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P18/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P19/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P20/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P23/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P25/14 Focal Disseminado 0,2 0,1 Obstrução parcial P26/14 Focal Junção 0,99 3,3 Obstrução total P30/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P33/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P34/14 Focal Junção 1,0 5,1 Obstrução total P35/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P36/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P37/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P39/14 Focal Junção 0,98 3,8 Obstrução total P60/14 Focal Distal/Junção 0,4 1,3 Obstrução parcial P65/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P70/14 Focal Junção 1,1 1,2 Obstrução total P72/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P73/14 Focal Junção 1,4 1,2 Obstrução total P89/14 Multifocal Medial/Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P90/14 Multifocal Distal 0,1 0,1 Sem obstrução P94/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P96/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P98/14 Focal Junção 1,5 4,1 Obstrução total P99/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P100/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P101/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P103/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P104/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P111/14 Focal Junção 1,1 8,5 Obstrução total P113/14 Multifocal Junção 0,1 0,1 Sem obstrução P116/14 Focal Junção 0,5 3,7 Obstrução parcial P117/14 Multifocal Disseminado 0,1 0,1 Sem obstrução P130/14 Focal Junção 1,1 7,5 Obstrução total 52 Figura 4. Fotomacrografia do esôfago com e sem lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) esôfago normal. B) lesão brancacenta de distribuição multifocal, sem obstrução de esôfago. C) lesão caseosa de distribuição focal na região distal e junção gastroesofágica. D) obstrução total do lúmen esofágico em corte transversal. Em relação à avaliação histopatológica do esôfago a presença de material caseoso foi encontrada em 100% (37/37) das amostras de animais que tinham lesões macroscópicas sendo 67,6% (25/37) em intensidade discreta, 8,1% (3/37) moderadas e 24,3% (9/37) intensa. Nos animais sem lesões macroscópicas não foi observado presença de material caseoso em 100%(8/8) das amostras analisadas (Figura 5A). Segundo Montali (1988) a ação de agentes patogênicos extracelulares nos répteis induz à formação de granulomas heterofílicos, onde se acumulam heterófilos que degranulam e sofrem subsequente necrose, que, por sua vez, estimula uma forte resposta de macrófagos. Por outro lado, estes mesmos autores citaram que a resposta a um agente intracelular formará um granuloma histiocítico e que, durante 53 este processo, os macrófagos centrais também podem sofrer necrose. Assim, ao contrário dos mamíferos, os répteis não formam exsudato pus líquido, como parte da resposta inflamatória, mas sim uma massa caseosa que consiste principalmente de heterófilos degranulados e degenerados. Desta forma confirmou-se a formação de material caseoso como resposta inflamatória ao agente agressor. A despeito disso, sabe-se que a inflamação crônica pode ser prejudicial na medida em que o infiltrado, dentro das áreas de inflamação, ocupa espaço, muitas vezes deslocando, substituindo ou obstruindo o tecido original. Ao mesmo tempo novos vasos sanguíneos se formam, os fibroblastos proliferam e depositam colágeno e, se a lesão se estende, a resposta inflamatória pode afetar a função dos tecidos e/ou células adjacentes e finalmente afetar a função do órgão como um todo (MCGAVIN; ZACHARY, 2012). Nos animais que apresentaram cáseo observou-se ulceração do epitélio e formação de tecido de granulação, que, em alguns casos, comprimia toda a lâmina própria da mucosa. Infiltrado inflamatório mononuclear foi observado em 92% (34/37) das amostras. A intensidade da inflamação foi caracterizada como discreta em 56% (19/34) dos casos, moderada em 23,5% (8/34) e intensa em 20,5% (7/34). Nos animais sem lesões macroscópicas observou-se que 62,5% (5/8) apresentaram infiltrado inflamatório sendo 12,5% (1/8) em intensidade discreta, 37,5% (3/8) moderadas e 12,5% (1/8) intensa. Em 37,5% desses animais não foi evidenciado qualquer grau de inflamação (Figura 5C). Nos animais com infiltrado inflamatório mononuclear foi possível observar algumas alterações glandulares, como adenite; e do epitélio luminal, como hiperplasia e metaplasia com transformação do epitélio estratificado pavimentoso queratinizado em epitélio colunar produtor de muco (Figura 5D). Quando aplicado o teste exato de Fisher e o coeficiente de V de Cramer e comparou-se os achados histopatológicos entre os animais com lesão e normais verificou-se que a presença de cáseo em relação ao infiltrado inflamatório revelaram associação moderada (P<0,05). Estes dados indicam que a presença do cáseo poderia estar associada à inflamação. Verificou-se ainda que existe diferença significativa, em relação ao infiltrado inflamatório e a obstrução esofágica, indicando que quando não há obstrução grave não há inflamação (P<0,05). Verificou-se que a presença do material caseoso aderido à mucosa, mesmo que na forma de lesões puntiformes, é a alteração mais marcante observada nos 54 animais deste estudo. Por outro lado, a inflamação que poderia ser um fator determinante para a ocorrência do cáseo ocorreu tanto nos indivíduos que possuíam lesão caseosa quanto os macroscopicamente normais. Isto pode ser justificado pela ocorrência de infecções discretas que ainda não haviam se manifestado macroscopicamente ou mesmo clinicamente. Outro ponto que deve ser considerado é que nos animais em que o cáseo foi focalmente extenso, causando obstrução total, as lesões inflamatórias foram discretas. Isto pode ser explicado pela formação de tecido de granulação abaixo da ulceração da mucosa, causada pela presença do cáseo, com deposição de matriz extracelular para a reparação do tecido, limitando assim a resposta inflamatória. Os processos inflamatórios do esôfago descritos nestes animais incluem a esofagite fibrinosa e ulcerativa e a perfuração traumática do órgão sendo, na maioria dos casos, associadas a ingestão de anzóis de pesca (ORÓS, et al. 2005). As alterações de epitélio associadas à inflamação observadas neste estudo não foram ainda descritas em C. mydas, desta forma, uma lesão semelhante foi descrita em humanos conhecida como esôfago de Barret. Rodrigues (2004) citou que o esôfago de Barret resulta de uma complicação da doença do refluxo gastroesofágico de longa duração em humanos e é caracterizada pela substituição do epitélio estratificado pavimentoso por epitélio colunar especializado com células caliciformes expresso como metaplasia intestinal que representa uma resposta adaptativa à agressão pelo ácido tendo como principal importância biológica o risco para câncer. É importante destacar que, neste estudo, o animal que possuía as lesões epiteliais mais graves, de hiperplasia e metaplasia mucoide, apresentou obstrução esofágica total desde a porção proximal até a distal. Entretanto, não é possível afirmar se a metaplasia contribuiu para o agravamento da lesão obstrutiva. Os grumos bacterianos foram observados em 56,75% (21/37) das amostras sendo 95,24% (20/21) das amostras consideradas como infecção discreta, e 4,76% (1/21) considerada intensa. Os grumos bacterianos foram melhor evidenciados pelos métodos de Giemsa e Gram e os grupamentos foram observados fortemente basofílicos sendo considerados gram-positivos (Figura 5B). Nos animais sem lesões macroscópicas não se observou grumos bacterianos em todas as amostras analisadas (100%). 55 Quando se comparou os achados histopatológicos entre os animais com lesão e normais verificou-se que a presença de cáseo em relação à presença de bactérias também revelou associação moderada (P<0,05), ou seja, a presença de cáseo poderia estar associada à presença de bactérias. Comparou-se também a presença de obstrução esofágica com os achados histopatológicos e, em relação à presença de bactérias, verificou-se que quando existe lesão macroscópica não há diferença significativa na presença de bactérias nos diferentes níveis de obstrução (P>0,05). Entretanto verificou-se que quando não há obstrução também não há presença de bactérias de maneira significativa (P<0,05). Isto permite inferir que as bactérias são importantes para a formação do cáseo e da lesão obstrutiva. Diversas espéceis de bactérias tem sido citados como causadores de infeção em tartarugas marinhas como Staphylococcus spp., Citrobacter freundii, Micrococcus spp., Edwardsiella spp., Aeromonas hydrophila, Aureobacterium spp., Vibrio parahaemolyticus, Streptococcus do grupo C, e Corynebacterium spp. (CHUEM-IM et al., 2010). Segundo Cooper e Jackson (1983) as bactérias parecem desempenhar um papel muito importante em doenças nestes animais, tanto como patógenos primários quanto secundário. Neste estudo verificou-se que os grumos bacterianos presentes nas lesões esofágicas foram gram-positivos, entretanto, as bactérias não foram identificadas. Segundo Mader e Divers (2013) as bactérias gram-negativas são as mais comumente implicadas como patogênicas a despeito das bactérias gram-positivas que geralmente não apresentam patogenicidade habitando o organismo sem causar danos. No entanto, estes mesmos autores citaram que algumas bactérias grampositivas pode causar doença. Um divertículo esofágico associado a infecção por Aerococcus viridans foi descrito em Caretta caretta. O divertículo apresentou esofagite fibrinonecrótica severa difusa com infiltrado de linfócitos, heterofilos e macrófagos na lâmina própria. Grande número de bactérias Gram positivas foi associado a esta lesão sendo encontradas no citoplasma de macrófagos na lâmina própria. A camada serosa revelou serosite granulomatosa multifocal contendo células gigantes multinucleadas (TORRENT et al., 2002). 56 Figura 5. Fotomicrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) cáseo (seta) em intensidade discreta aderido à mucosa (HE) (Barra=500m). B) grumos bacterianos (seta) evidenciados pelo método de Gram (Barra=500m). C) infiltrado inflamatório mononuclear moderado (seta) na lâmina própria (PAS) (Barra=100m). D) metaplasia com substituição do epitélio estratificado pavimentoso queratinizado por epitélio colunar produtor de muco (seta) (PAS) (Barra=100m). A presença de fragmentos de parasitos adultos foi observada em 75,7% (28/37) das amostras sendo 64,3% (18/28) das amostras consideradas como com intensidade discreta, 28,6% (8/28) como moderada e 7,1% (2/28) intensa (Figura 6). Em 100% das amostras com lesões macroscópicas foram verificados fragmentos de ovos de parasitos. Nos animais sem lesões macroscópicas observou-se que 37,5% (3/8) apresentavam fragmentos de parasitos adultos assim como fragmentos de ovos. Em 62,5% (5/8) desses animais não se observaram presença de parasitos. A análise estatística revelou que quando se comparou a presença de cáseo e a presença de parasitos também houve associação moderada (P<0,05). Estes 57 dados indicam que a presença do cáseo poderia estar associada à presença de parasitos. Entretanto, também se verificou que quando existe lesão não há diferença significativa na presença de parasitos nos diferentes graus de obstrução, ou seja, a presença de parasitos no tecido não influencia o grau de obstrução. Estes dados confirmam que embora o cáseo possa estar associado à presença de parasitos, este não seria o fator determinante, uma vez que não influencia no grau de obstrução. Também é importante frisar que alguns animais normais também apresentaram parasitos no tecido, mesmo sem nenhuma lesão macroscópica. Isto aponta para o fato de que os animais podem ter os parasitos sem ter lesão esofágica macroscópica ou mesmo nenhum sinal clínico de infecção. Em relação aos fragmentos de ovos de parasitos observados nas amostras, Johnson et al. (1998) encontraram ovos de trematódeos no fígado, cérebro, baço, rim, miocárdio, pulmão, pâncreas, testículo e bexiga e associaram à reação granulomatosa e afirmaram que o tamanho e distribuição dos ovos seria consistente com Spirorchis sp. Entretanto, Cordeiro-Tapia et al. (2004) relataram que a presença de ovos nos tecidos, principalmente na ausência de parasitos adultos, dificulta a sua identificação devendo ser utilizadas técnicas moleculares para a classificação. Desta forma, os ovos observados nos tecidos neste estudo só podem ser relatados como fragmentos de ovos de parasitos não sendo possível estabelecer uma classificação apenas pelo corte histológico. Lesões de inflamação e ectasia em glândulas esofágicas foram descritas em C. mydas apenas por Santoro et al. (2007) associadas à presença de parasitos trematódeos. Wernerck et al., (2011) descreveu vários parasitos trematódeos no trato gastrintestinal destes animais. 58 Figura 6. Fotomicrografia do esôfago com lesão de C. mydas proveniente do litoral do Espírito Santo evidenciando em A) fragmento de parasito adulto no interior da glândula esofágica (HE). B) corte sagital de parasito adulto no lúmen esofágico (HE). Barra=100m. INNIS et al. (2009) verificaram em Lepidochelys kempii cistos parasitários brancos, amarelos ou castanhos de 2 mm a 4 mm de diâmetro nas serosas de vários órgãos sendo que em 71% dos animais as lesões apareceram no trato gastrintestinal. As lesões histologicamente corresponderam a granulomas frequentemente parasitários envolvendo componentes da parede do esôfago, estômago e intestino em intensidade discreta ou moderada. Em dois espécimes houveram lesões severas no intestino que consistiram de abscessos e granulomas heterofílicos contendo bactérias e, nestes mesmos animais, foram encontrados helmintos. Em relação à contagem de parasitos nos esôfagos revelou-se que 83,78% (31/37) dos indivíduos com lesão e 62,5% (5/8) dos indivíduos normais possuíam parasitos no esôfago. Verificou-se que 2,22% (1/45) dos animais apresentaram 1404 espécimes de parasitos no esôfago, 2,22% (1/45) com 771, 2,22% (1/45) com 377, 2,22% (1/45) com 76, 22,23% (10/45) variando de 28 a 61 parasitos, 48,89% (22/45) com um a 20 exemplares e em 20,00% (9/45) não foram encontrados parasitos. Vale ressaltar que apenas em três animais sem lesões de esôfago não se verificaram parasitos. A identificação dos parasitos revelou indivíduos de quatro famílias distintas: Pronocephalidae, Microscaphididae, Cladorchiidae e Rhytidodidae. Os parasitos do gênero Rameshwarotrema, da família Pronocephalidae foram os mais frequentes. 59 A análise estatística revelou que quando há lesão esofágica não existe diferença no número de parasitos entre os diferentes graus de obstrução (P>0,05). A infecção por trematódeos tem sido descrita em tartarugas associada a várias doenças e suspeita de causa de morte nesses animais (GORDON et al., 1998). A família Spirorchiidae tem sido amplamente estudada e Chen et al. (2012) verificaram prevalência de 70% em C. mydas e nenhuma em C. caretta. Os parasitos foram encontrados em 100% dos animais adultos, 80% dos subadultos e 65% dos animais juvenis. Foram identificados parasitos de três gêneros e quatro espécies, a saber: Learedius learedi, Hapalotrema postorchis, H. mehrai e Carettacola hawaiiensis. Os parasitos adultos foram mais observados no coração, vasos de grande calibre, fígado e intestino. Observou-se ainda resposta inflamatória ao parasitismo no pulmão, baço, fígado, trato gastrintestinal e rim. Werneck et al. (2011) encontrou 30 espécies de trematódeos pertencentes a oito famílias e larvas não identificadas de nematoides em C. mydas. O parasita mais prevalente foi Learedius learedi com 27,8%, seguida por Cricocephalus albus com 24,0%, Metacetabulum invaginatum e Neoctangium travassosi, ambos com 22,5%, e Neospirorchis schistosomatoides com 18,3%. A espécie mais abundante foi C. albus com 23,06 ± 5,64, seguida de N. travasosi 22,86 ± 6,79 e M. invaginatum 14,67± 3,67. Neste estudo foram identificadas quatro famílias de parasitos, não sendo verificado nenhum espécime da família Spirorchiidae, considerada a família mais comum em C. mydas. Também é importante considerar que neste estudo os parasitos encontrados no esôfago não são visíveis macroscopicamente e foram localizados bastante aderidos à mucosa ou na lamina própria do órgão, havendo a necessidade de fricção do tecido para a observação dos mesmos, assim como, do despredimento da mucosa. Embora a quantidade de parasitos encontrada em alguns indivíduos tenha sido elevada, alguns animais normais também revelaram parasitos. Quanto às diferentes famílias identificadas ainda são poucos os estudos sobre o ciclo de vida e forma de infecção necessitando de maiores estudos sobre a patogênese. Diante do exposto nota-se que a resposta inflamatória surge após a agressão, com o objetivo de eliminar o agente agressor, podendo variar em intensidade e duração. Portanto, independentemente da causa, em répteis, ocorrerá a formação de material caseoso porque é uma resposta normal frente a um estímulo. 60 13 CONCLUSÕES Os dados obtidos permitem concluir que C. mydas sofrem de uma lesão esofágica caracterizada pela formação de material caseoso aderido à mucosa que pode ser puntiforme, focal ou focalmente extenso e que causa obstrução grave do trato gastrintestinal. Esta lesão está associada à presença de inflamação ou à infecção por bactérias ou à infecção por parasitos. Embora o parasitismo não influencie no grau de obstrução e também ocorra nos animais sem lesões caseosas. 14 REFERÊNCIAS ALEGRE, F.; PARGA M.; CASTILLO C.; PONT, S. Study on the long-term effect of hooks lodged in the mid-esophagus of sea turtles. Twenty-sixth Annual Symposium on Sea Turtle Biology and Conservation, 2006, 234p. ALMEIDA A.P.; SANTOS A.J.B.; THOMÉ J.C.A.; BELINI C.; BAPTISTOTTE C.; MARCOVALDI M.A.; SANTOS A.S.; LOPEZ M. Avaliação do estado de conservação da tartaruga marinha Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) no Brasil. Biodiversidade Brasileira, v.1, n.1, p.18-25, 2011. BUGONI, L.; KRAUSE, L.; VIRGÍNIA PETRY, M. Marine debris and human impacts on sea turtles in southern Brazil. Marine Pollution Bulletin. v.42, p.1330-1334, 2001. CASALE, P.; FREGGI, D.; ROCCO, M. Mortality induced by drifting longline hooks and branchlines in loggerhead sea turtles, estimated through observation in captivity. 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Embora o parasitismo não influencie no grau de obstrução e também ocorra nos animais sem lesões caseosas. 64 16 REFERENCIAS GERAIS AGUIRRE, A.; LUTZ, P.L. Marine turtles as sentinels of ecosystem health: is fibropapillomatosis an indicator? EcoHealth, v.1, p.275-283, 2004. AGUIRRE, A.A.; BALAZS, G.H.; ZIMMERMAN, B.; GALEY, F.D. Organic contaminants and trace metals in the tissues of green turtles (Chelonia mydas) afflicted with fibropapillomas in the Hawaiian Islands. Marine Pollution Bulletin, v.28, p.109-114, 1994. AHO, J.M. Helminth communities of amphibians and reptiles: comparative approaches to understanding patterns and processes. In: ESCH, G.W.; BUSH, A.O.; AHO, J.M. Parasite Communities: Patterns and Processes. New York: Chapman & Hall, 1990, p. 157–195. ALEGRE, F.; PARGA M.; CASTILLO C.; PONT, S. Study on the long-term effect of hooks lodged in the mid-esophagus of sea turtles. Twenty-sixth Annual Symposium on Sea Turtle Biology and Conservation, 2006, 234p. 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