Argumentação Adaptado de Platão & Fiorin (2001) IFSP – Câmpus Avaré Prof. Me. Gerson Rossi dos Santos Eventos Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu? pelo esperma e pelo sangue! (Pausa) Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu ta na tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de aids. Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! ( Pausa) Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta, na congesta! Pára com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda para casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só com camisinha.(Pausa) Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros. ( Pausa) sexo só com camisinha! Num tem escolha, transá, só com camisinha. Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu to sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às vezes, ela aparece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode agüentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (Pausa) E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. Agente dá valor pra ela quando já era! Analisando o texto... 1) O que pretende o autor? 2) Qual(is) argumento(s) o autor usa a favor de sua intenção? 3) Que tipo de linguagem o autor utiliza? Trata-se de uma escolha adequada? 1 – O texto pretende persuadir seu público a evitar formas de contágio da Aids. 2 – argumento principal: “Aids pega pelo esperma e pelo sangue, entendeu?”; argumentos secundários: “transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha!”; “Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda para casa o Aids!”; “Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros”; “às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às vezes, ela aparece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança”; “E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids!” Analisando o texto... 3 – O texto se vale de linguagem oral informal, incluindo redundância e repetição de informações (efeito de reforço de compreensão), construções sintáticas típicas da oralidade e vocabulário comum ao grupo a que o texto se dirige (presidiários). A escolha desse registro corresponde a uma estratégia de aproximação entre o falante e os ouvintes, para facilitar o processo de identificação entre as partes e conferir credibilidade ao texto. Trata-se, portanto, de uma escolha consciente sobre o público a que é direcionado e que é útil à intenção do autor, tornando o registro de linguagem adequado. A comunicação humana EMISSOR CANAL REFERENTE MENSAGEM CÓDIGO RECEPTOR Recursos de argumentação 1- Argumento de autoridade 2- Argumento baseado em consenso 3- Argumentos baseados em provas concretas 4- Argumentos com base no raciocínio lógico 5- Argumentos da competência linguística 1- Argumento de autoridade “É a citação de autores renomados, O fio do bigode autoridades certoempenhada. domínio do Para nossos avós, o fio do bigode garantianum a palavra Não sabere [...]. O uso de citações, de um precisava de tabelião, firma reconhecida testemunhas. Depilou, negócio fechado. lado, cria uma imagem de que o Os bigodes rarearam, a palavra não. falante conhece bem o assunto A Terra é filha da palavra, reza o Gênesis. O Evangelho segundo que São estáediscutindo, porque já leu o que João recorda: “No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. sobre ele pensaram outros autores; Para Vieira tem na agulha bala certeira: “Palavras sem obras são tiro de outro, os autores citados sem bala: atroam mas não ferem. A funda de Davitorna derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com afiadores pedra.” da veracidade de um dado Para os súditos confiantes “palavra dede rei vista.” não volta atrás”. O adágio ponto (PLATÃO & prevalece para os presidentes da república, que são os reis de plantão durante os respectivos mandatos. O fraco rei faz fraca a FIORIN, forte gente.2001)” Secularmente adverte Camões. [...] Presidente Collor: esse negócio de palavra é fogo. Com fogo não se brinca, principalmente chefe de governo. 2- Argumento baseado em consenso A educação é a base do desenvolvimento. Os investimentos em pesquisa são indispensáveis, para que um país supere sua condição de dependência. “As matemáticas trabalham com axiomas, que são proposições evidentes por si mesmas e, portanto, indemonstráveis: o todo é maior do que a parte; duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si, etc.” (PLATÃO & FIORIN, 2001)” 3- Argumentos baseados em provas concretas A administração Fleury foi ruinosa para o Estado de São Paulo a utilização fatos demonstráveis A administração Fleury foi ruinosa para“É o Estado de Sãode Paulo, porque deixou dívidas, junto ao Banespa, de 8,5 bilhões de(números, dólares, porque inchou a folha de cifras, estatísticas, pagamento do Estado com nomeações de afilhados políticos, porque fatos resultados de pesquisas, desestruturou a administração pública, etc. comprovados e tornados públicos) para dar suporte à sua tese.” 4- Argumentos com base no raciocínio lógico Além de ser mais chique, do ponto de vista ideológico, o seminário é mais cômodo para ambos os lados: nem o professor prepara a aula, nem o aluno estuda, e ambos entram em sua cota de “participação crítica”. É argumentar com base fatos que O mais grave é que onde esse processo se instalou nãoem há com se relacionam por causa e revertê-lo, pois as facilidades se transformam em direito adquirido.(...) Já que o mundo passa por uma histeria de voltaPossui ao passado, ao menos consequência. estrutura em relação ao que parecia “futuro” nos anos 60, talvez fizéssemos bem em rever semelhante a “considerando X e Y, grande parte das mudanças do ensino nestes 30 anos. a combinação dos fatores Porque os resultados, mesmos nas boas escolas, nãodois parecem encorajadores. A ideologia do ensino crítico estáimplica produzindoem gerações Z” de tontos. A lassidão, o vale-tudo, a falta de autoridade professoral desestimulam a própria rebeldia do estudante. Folha de São Paulo, 17 nov. 1994, p. 1-2 5- Argumentos da competência linguística “É a escolha adequada de variante Não sou biólogo e tenho que puxar pela memória dos tempos de colegial para recordar a linguísticaAinda e vocabulário para diferença entre uma mitocôndria e uma espermatogônia. lembro bastante paraa qualificar a canetada de FHC de “defecatiosituação maxima” (este espaço é nobre demais para que e para o público receptor. nele se escrevam palavras de baixo calão,Em comoalgumas em latim tudo é elevado...). ocasiões, deve-se usar a FOLHAoutras, DE SÃO PAULO, é 1994 variante culta da língua. Em desejável empregar uma variante coloquial (informal). Em outras, ainda, é preciso saber usar a mesma variante linguística do receptor. Mais que isso, é preciso saber quando e para quê fazer essas escolhas.