NOVOS ALVOS NA QUIMIOTERAPIA CONTRA DOENÇA DE CHAGAS Thamires Torres Ferreira Rio de Janeiro 2012 THAMIRES TORRES FERREIRA Aluna do Curso de Farmácia Matrícula 0823800157 NOVOS ALVOS NA QUIMIOTERAPIA CONTRA DOENÇA DE CHAGAS Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, apresentado ao Curso de Graduação em Farmácia, da UEZO como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Graduação em Farmácia, sob a orientação do Professor André Luiz Fonseca de Souza. Rio de Janeiro Julho de 2012 ii NOVOS ALVOS NA QUIMIOTERAPIA CONTRA DOENÇA DE CHAGAS Elaborado por Thamires Torres Ferreira Aluna do Curso de Farmácia da UEZO Este trabalho de Graduação foi analisado e aprovado com Grau: 10 (DEZ) Rio de Janeiro, 04 de Julho de 2012 _____________________________________ Prof. André Luiz Fonseca de Souza, da UEZO - Presidente _____________________________________ Prof. Sérgio Henrique Seabra, da UEZO. _____________________________________ Prof. Francisco José Rocha de Sousa, da UEZO RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL Julho 2012 iii Dedico este trabalho a meus familiares, amigos e a todos os professores e colaboradores que me apoiaram na jornada da graduação. Em especial, minha avó Suelli Guerra Torres que foi a minha grande inspiração. iv AGRADECIMENTOS A Deus, fonte de luz e sabedoria. Meu grande protetor. Aos meus pais, Solange Torres e Miguel da Costa e à minha irmã Larissa Torres, por toda força, amor, paciência e incentivo, que juntamente ao meu namorado, Jacson Machado, me proporcionaram momentos de grandes alegrias. Aos meus avós paterno (in memorian) e materno, em especial, Vovó Sueli Guerra (in memorian), a grande responsável por este trabalho. Motivo da minha inspiração e total admiração. Guerreira sofreu por muitos anos vítima da doença de Chagas. Este trabalho é dedicado a ela! Aos meus colegas de classe, pelos momentos de alegria, companheirismo e dedicação. Estar com vocês me ensinou muito. Levarei pra sempre lições que cada um me ensinou. Um abraço especial para os amigos Bruno Pinheiro, Débora Rocha, Rodrigo Cavalheiro e Rosana Vale, muito obrigada pela grande amizade. Aos amigos que fiz na faculdade durante essa intensa jornada. Aos meus tios por toda a força e carinho que sempre tiveram por mim. À minha grande amiga, Marcela Teso, pela oportunidade de estágio. A todos da Naturativa, pelo incentivo e carinho. Às minhas amigas, de sempre para sempre, Flávia e Luciane. Ao meu professor orientador, André Luiz Fonseca de Souza. Obrigada pela paciência de sempre. Ter que ler meus milhões de emails, recheados de dúvidas, não é tarefa fácil. A todos meus professores que contribuíram para o meu sucesso. Ao professor Sérgio Henrique Seabra pelos conselhos e pela oportunidade que me deu na área da pesquisa. O Plasmodium chabaudi vai ficar para sempre na minha memória. v Poucas coisas no mundo são mais poderosas que um impulso positivo - um sorriso. Um mundo de otimismo e esperança, um “você consegue” quando as coisas estão difíceis. Richard de Vos vi Resumo A doença de Chagas é uma infecção causada por um protozoário chamado Typanosoma cruzi. É transmitida através das fezes de um inseto conhecido como barbeiro. A doença de Chagas vem sendo discutida, pois até a presente data não há sequer um medicamento ou tratamento eficaz para as fases aguda e crônica da doença e para pacientes pediátricos e geriátricos, e vem vitimando milhões de pessoas no mundo. Ano após ano aumentam os riscos de contágio e de mortes. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi o de realizar um estudo baseado na literatura a fim de buscar os novos alvos que vem sendo pesquisados para o tratamento seguro e eficaz da doença de Chagas. De posse deste estudo é possível verificar que vem sendo bastante estudados caminhos para a cura da doença. Contudo, infelizmente, verifica-se também que a indústria e o governo não estão interessados no assunto, dando pouco suporte financeiro aos pesquisadores e com isso, o tratamento e a cura podem estar num futuro bem distante. Palavras-chave: Doença de Chagas, Trypanosoma cruzi, novos alvos, tratamento, medicamentos. vii ABSTRACT The Chagas disease is an infection caused by a protozoan called Trypanosoma cruzi. It is transmitted through the feces of an insect known as a barber. The Chagas disease has been discussed, because to date there is not a medicine or effective treatment for acute and chronic phases of the disease and pediatric and geriatric patients, and is victimizing millions of people worldwide. The risk of infection and death increases rapidly each year. In this context, the objective of this study was to conduct a study based on literature in order to seek new targets that has been investigated for the safe and effective treatment of Chagas disease. Based on this study it was observed that many researchers have been extensively studied ways to cure Chagas disease. However, unfortunately, it can be noted that the industry and the government are not interested in the subject, giving some financial support to researchers and thus, treatment and cure can be a very distant future. Keywords: Chagas disease, Trypanosoma cruzi, new targets, treatment, medications. viii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Parasito Trypanosoma cruzi .................................................................................. 6 Figura 2. Estádios evolutivos do triatomíneo, de ovo a adulto ............................................ 7 Figura 3. Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi no inseto e no homem ................................ 8 Figura 4. Taxa de mortalidade anual de Doença de Chagas/100.000 habitantes, Brasil, 1980/1996.............................................................................................................................10 Figura 5. Número de hospitalizações anuais por Doença de Chagas, brasil, 1990/1997 ... 11 Figura 6. Formas tripomastigotas sanguineas do Trypanosoma cruzi .............................. 15 Figura 7: Fluxograma para a realização de testes laboratoriais para a doença de Chagas na fase crônica .......................................................................................................................... 16 Figura 8. Fluxograma para avaliação da transmissão vertical do T. cruzi ......................... 17 Figura 9. Mecanismo de ação proposto dos fármacos nifurtimox e benzonidazol ............ 18 Figura 10. Estrtutura química do Benzonidazol ................................................................. 20 Figura 11. Estrutura química do Nifurtimox ...................................................................... 21 Figura 12. Estratégias para a descoberta de compostos bioativos candidatos a novos fármacos contra as doenças negligenciadas......................................................................... 23 ix LISTA DE QUADROS Quadro 1. Principais reações colaterais no tratamento da Doença de Chagas....................22 x SIGLAS E ABREVIATURAS IOC Instituto Oswaldo Cruz DNA Ácido desoxirribonucléico kDNA Ácido desoxirribonucléico com presença de cinetoplastos RNA Ácido ribonucleico T.Cruzi Trypanosoma cruzi CCC Cardiopatia chagássica crônica OMS Organização Mundial de Saúde WHO World Health Organization DCH Doença de Chagas ELISA Ensaio imunoenzimático DCA Doença de chagas aguda PCR Reação em cadeia polimerase IFI Imunofluorescência direta IGM Imunoglobulinas tipo M ATP Adenosina Tri-fosfato IGG Imunoglobulinas tipo G xi BHC Hexaclorobenzeno LAFEPE Laboratório Farmacêutico de Pernambuco NF Nifurtimox BZ Benznidazol HGPRT Hipoxantina-guanina-fosforibosil transferase SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................................................. vi ABSTRACT ........................................................................................................................ vii LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ viii LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ ix LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................... x 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................1 2. OBJETIVOS................................................................................................................2 2.1. OBJETIVO GERAL...........................................................................................2 2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO..................................................................................2 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................3 3.1 HISTÓRICO...........................................................................................................3 3.2 O PARASITO.........................................................................................................5 3.2.1 O VETOR..................................................................................................6 3.3 CICLO DE VIDA...................................................................................................7 3.4 DOENÇA DE CHAGAS........................................................................................8 3.4.1 DIAGNÓSTICO......................................................................................12 3.4.1.1 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ......................................12 3.4.1.1.a MÉTODO PARASITOLÓGICO....................................12 3.4.1.1.b MÉTODOS IMUNOLÓGICOS......................................13 3.4.2 PROFILAXIA..........................................................................................17 3.5 QUIMIOTERAPIA EXISTENTE........................................................................18 3.6 NOVOS ALVOS..................................................................................................22 4. CONCLUSÃO...........................................................................................................28 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................29 1 1. INTRODUÇÃO A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, foi descoberta por Carlos Chagas em 1909. O agente etiológico é um protozoário flagelado que tem como principal forma de transmissão um inseto comumente chamado de barbeiro. O barbeiro pica e defeca ao mesmo tempo, contaminando assim o homem. Ao entrar na célula humana, ele passa da forma infectante tripomastigota para amastigota onde são multiplicadas e passadas célula a célula, até chegar à corrente sanguínea [1]. Há outras formas de infecção como: transfusão de sangue, ingestão de alimentos contaminados, acidente de laboratório, manejo de animais contaminados, entre outros. Uma das mais graves manifestações clinicas da Doença de Chagas é a miocardite (aumento do tamanho do coração). A doença de Chagas também causa em seus infectados: febre, mal estar, inflamação e aumento dos gânglios linfáticos, entre outros sintomas [2-3]. A quimioterapia utilizada para o tratamento da doença está longe de ser ideal. Com altos efeitos colaterais e baixa efetividade, além de não serem eficazes na fase crônica da doença e não serem administrados em crianças, o Nifurtimox e Benzonidazol tem sido os únicos fármacos utilizados para o tratamento. O medicamento ideal seria aquele com:baixos efeitos colaterais, pouca toxicidade ao paciente, alta atividade contra o parasita; eficiente nas infecções agudas e crônicas; administração oral e em poucas doses; longo prazo de meia vida [4]. O principal motivo do baixo número de medicamentos disponíveis é a indústria considerar o mercado econômico limitado, e, assim, não investir em pesquisas [5], tornando-se assim uma doença negligenciada pois não é de interesse das indústrias farmacêuticas e de pouca importância para o governo, em certas ocasiões. 2 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Este trabalho tem como objetivo revisar os fármacos antichagásicos já existentes no mercado, buscando novos alvos para o tratamento da patologia. 2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO A partir deste tema central, abordar o ciclo da doença, modo de infecção, sinais, sintomas, diagnósticos e tratamentos; revisar os fármacos Nifurtimox e benzonidazol, mostrando seu modo de ação; buscar em estudos novos alvos e terapia para a doença e trazer noticias atuais quanto à evolução da doença e da terapia envolvida. 3 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 HISTÓRICO A história da doença de Chagas se inicia com uma tripla descoberta, no interior de Minas Gerais. Em abril de 1909, Carlos Chagas (1878-1934), pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença humana. Seu agente causal (o protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao mestre Oswaldo Cruz) e o inseto que o transmitia (triatomíneo conhecido como “barbeiro”) também haviam sido por ele identificados, ao final de 1908. O “feito” de Chagas, considerado único na história da medicina, constitui um marco decisivo na história da ciência e da saúde brasileiras. [6] Trazendo uma contribuição inovadora ao campo emergente da medicina tropical e dos estudos sobre as doenças parasitárias transmitidas por insetos-vetores, Chagas traria a público não apenas uma nova entidade nosológica, mas a realidade sanitária e social do interior do país, assolado pelas endemias rurais. Enaltecida por Oswaldo Cruz como a maior das “glórias de Manguinhos”, a descoberta trouxe imediato prestígio e projeção ao jovem cientista, que receberia várias distinções acadêmicas no Brasil e no exterior, tendo sido indicado ao Prêmio Nobel por duas vezes. [6] A partir de 1911, Chagas e seus companheiros do Instituto Oswaldo Cruz se puseram em campo para melhorar o diagnóstico e tentar estabelecer um tratamento específico da doença, que vitimava geralmente crianças em sua etapa aguda e desencadeava uma terrível e mortal cardiopatia em muitos casos da fase crônica. [7] Muitos medicamentos foram experimentados contra o Trypanosoma cruzi (T. cruzi), agente da moléstia, ao longo de décadas, sem sucesso: arsenicais, antimoniais, derivados do quinino, aminas, sulfas e antibióticos, que se mostravam ativos em outras infecções e doenças tropicais como a sífilis, a malária, a doença do sono, as leishmanioses, a tuberculose, a amebíase, etc., mostravam-se inócuos contra o tripanossoma de Chagas. Este protozoário, ao infectar o homem, se abriga na intimidade de várias células e mostra capacidade de defender-se 4 contra uma série enorme de compostos químicos e de agentes biológicos, mediante estratégias e artifícios como neutralização, inativação, capeamento, variação antigênica, etc.. Na realidade, somente nos anos 40 alguns compostos mostraram alguma ação contra o T. cruzi em modelos experimentais e casos agudos humanos. O principal deles foi o quinoleínico "Bayer 7.602", com discreta atividade parasiticida, seguindo-se um arsenical composto de enxofre, denominado "Spirotrypan", muito usado nos anos 50. [7] Muito tóxico, remédios como estes reduziam efetivamente o número de parasitas circulantes na doença aguda, mas eram praticamente ineficazes na crônica, nunca logrando a extinção total do parasitismo, como seria necessário para a cura. A doença de Chagas, cada vez mais diagnosticada, ganhou o estigma de incurável. [7] Os anos 60 trouxeram fatos animadores, como o trabalho de Zigman Brener, indicando a necessidade de que o tratamento fosse prolongado (até 60 dias) e o surgimento de drogas mais ativas, os nitrofuranos. Dentre estes, o mais efetivo foi o "nifurtimox" (Lampit ), que realmente levou à cura vários casos agudos e mesmo de alguns crônicos, trazendo esperanças aos doentes e à comunidade científica.[7] Mais adiante surgiu outro fármaco, um derivado imidazólico denominado "benznidazol" (Rochagan ), um pouco mais efetivo. A partir daí, multiplicaram-se os ensaios terapêuticos que levariam pelo menos 20 anos para alcançar consenso e resultados comparáveis entre os pesquisadores. Apesar de apresentarem moderada toxicidade, estes medicamentos conseguiam eliminar o parasita no sangue e nos tecidos, se administrados na dose certa e durante o período de 2 meses, efeito este mais palpável na fase aguda.[7] Sempre indicado para ser feito por médico, o tratamento exige cuidadosa atenção para adequação da dose do fármaco e para o manejo de reações colaterais que ocorrem em cerca de 30 a 40% dos pacientes, em gravidade variável. Para o Lampit as reações principais referem-se à perda de apetite, emagrecimento, irritabilidade e alterações temporárias de comportamento.[7] Para o Rochagan, ocorrem principalmente reações na pele (semelhantes à urticária), alterações digestivas, neurite e diminuição de glóbulos brancos no sangue. Em alguns pacientes, tais reações adversas são intensas e obrigam a suspender o medicamento. Com muitos estudos experimentais e em humanos, já nos anos 80 a comunidade científica brasileira indicava o tratamento específico para todos os casos agudos e congênitos da doença de Chagas, ampliando-se aos poucos esta indicação para casos crônicos de baixa idade e de infecção 5 recente, assim como na qualidade de preventivo para situações de acidentes de laboratório e de transplantes de órgãos de doador chagásico para receptor não-chagásico. [7] 3.2 O PARASITO O Trypanosoma cruzi é um protozoário pertencente à ordem Cinetoplastida (caracterizada pela presença do cinetoplasto, que corresponde a uma condensação de DNA localizado no interior de uma mitocôndria única e ramificada por todo o corpo do protozoário) e à família Trypanosomatidae.[8] Os membros dessa família apresentam de um a quatro flagelos e podem ser encontrados em diferentes insetos hemípteros, animais silvestres e domésticos. O T. cruzi é um organismo diplóide que se multiplica predominantemente por divisão binária. Desta forma, o genoma de cada isolado evolui independentemente. [8] A mitocôndria do T. cruzi tem o cinetoplasto que retêm material genético denominado kDNA, localizado abaixo do corpúsculo basal. O kDNA é formado por maxicírculos e minicírculos, que formam uma rede de kDNA que se divide automaticamente e inicia o processo de replicação celular. [9] Como formas replicativas estão incluídas os epimastigotas, presentes no tubo digestivo do inseto vetor e amastigotas observados no interior das células de mamíferos. As formas não replicativas e infectantes, os tripomastigotas metacíclicos, são encontrados nas fezes e urina do inseto vetor e os tripomastigotas circulantes no sangue de mamíferos. [8] Os tripomastigotas podem entrar em qualquer célula, com exceção de neurônios, iniciando seu ciclo de replicação. [10] 6 Figura 1: Parasito Trypanosoma cruzi Fonte: Portal Chagas 3.2.1 O VETOR A maioria das espécies de triatomíneos deposita seus ovos livremente no ambiente, entretanto, algumas espécies possuem substâncias adesivas que fazem com que os ovos fiquem aderidos ao substrato. Essa é uma característica muito importante, uma vez que ovos aderidos às penas de aves e outros substratos podem ser transportados passivamente por longas distâncias, promovendo a dispersão da espécie. [11] A oviposição ocorre entre 10 e 30 dias após a cópula e o número de ovos varia de acordo com a espécie e principalmente em função do estado nutricional da fêmea. Uma fêmea fecundada e alimentada pode realizar posturas por todo o seu período de vida adulta. Um triatomíneo (seja ninfa ou adulto) que tenha se alimentado em um mamífero (incluindo o homem) infectado com o T.cruzi pode adquirir a infecção, assim permanecendo por toda a sua vida. Não há transmissão transovariana do T. cruzi, portanto, os ovos não são infectados e os insetos que dele eclodirem permanecerão livres de infecção até a primeira ingestão de sangue contaminado. [11] 7 Figura 2. Estádios evolutivos do triatomíneo, de ovo a adulto. Fonte: Livro Iconografia O T. cruzi é encontrado nos mais diversos nichos ecológicos, contribuindo cada tipo de ecótopo para formar modalidades distintas de focos naturais da parasitose. Apresenta uma enorme competência em infectar espécies de hospedeiros. Esse flagelado está amplamente distribuído em todas as regiões do país, sendo reportado em infecções naturais em cerca de uma centena de espécies de mamíferos silvestres e domésticos pertencentes a oito diferentes ordens. Desse modo, como parasita de animais silvestres, podemos encontrar diferentes espécies de mamíferos sustentando diferentes ciclos de transmissão os quais podem estar isolados ou conectados. Esse caráter é particular e único para cada localidade. [12] 3.3 CICLO DE VIDA Ao picar e defecar, o mosquito elimina através das fezes a forma tripomastigota metacíclica do protozoário e este invade a célula humana onde se transformam em amastigotas. Assexuadamente, as amastigotas se multiplicam dentro das células, transformam-se novamente em tripomastigotas, onde destroem as células e são liberadas à corrente sanguínea. Nesta fase começa o estágio diagnóstico, pois é possível, através de exames específicos de sangue, encontrar infecção. Após atingir a corrente sanguínea, os tripomastigotas invadem células e proliferam dentro de cada uma, na forma de amastigota, liberando mais e mais parasitas no sangue. 8 Já o ciclo do protozoário no inseto conhecido como barbeiro, se dá quando o inseto pica um individuo contaminado. O parasita encontra-se na forma tripomastigota (forma circulante na corrente sanguinea) e, no intestino do inseto, transforma-se na forma epimastigota onde proliferam e, novamente, transformam-se na forma tripomastigota, que é a forma infectante. Figura 3. Ciclo de vida do Trypanosoma Cruzi no inseto e no homem Fonte: Adaptado de SBPZ 3.4 DOENÇA DE CHAGAS A patologia da Doença de Chagas se manifesta em duas fases: aguda e crônica. A aguda é a forma logo após infecção, dura aproximadamente 2 meses, onde são encontrados parasitos no sangue. É normalmente assintomática, dificultando o tratamento. Quando há manifestação de sintomas, apresenta um quadro febril seguidas de miocardites. Em crianças, pode levar à morte devido a complicações de insuficiência cardíaca e processos inflamatórios [13-14] 9 A forma crônica da doença se manifesta de maneira mais grave, e em 60% dos casos, ainda assintomática. Sendo que 30% desenvolvem complicações cardíacas ou digestivas severas. [13] A causa principal de morbidade e mortalidade na doença de Chagas é o acometimento cardíaco, que ocorre de 5 a 30 anos após a infecção primária em cerca de 30% dos indivíduos infectados pelo T. cruzi. Na cardiopatia chagásica crônica (CCC), ocorre uma inflamação e destruição progressiva do tecido cardíaco, levando a alterações da condução dos impulsos elétricos no coração e arritmias. Paralelamente, ocorre um progressivo afinamento do músculo cardíaco, levando à dilatação das cavidades do coração, tendo como conseqüência a incapacidade de bombear adequadamente o sangue para o organismo, um quadro chamado de insuficiência cardíaca congestiva. Dessa forma, a CCC freqüentemente tem um curso fatal, uma vez que o tratamento é apenas sintomático e a possibilidade de realização de transplantes cardíacos é bem menor que a demanda. Existem cerca de 2 milhões de pacientes acometidos de CCC em nosso país. A CCC é responsável por, aproximadamente, 15% dos casos de pacientes atendidos por insuficiência cardíaca congestiva, em hospitais do Estado de São Paulo. Um grupo menor dos pacientes infectados por T. cruzi (cerca de 5% a 8%) desenvolve alterações no tubo digestivo (os chamados megaesôfago e megacólon), aparentemente por destruição dos neurônios que controlam sua motilidade; esses problemas digestivos dificilmente levam ao óbito. Já no acometimento cardíaco, que é tratado apenas sintomaticamente com sucesso variável, o paciente em geral vem a falecer em decorrência de complicações irreversíveis da doença. A CCC é a indicação mais comum para o implante de marcapassos cardíacos artificiais em nosso país. [15] Nos pacientes com insuficiência cardíaca refratária, o único caminho é o transplante cardíaco, um procedimento dispendioso e inacessível para a grande maioria dos pacientes. Estudos com animais experimentalmente infectados indicaram que o tratamento com drogas anti-T. cruzi não parece evitar a progressão da cardiopatia. [15] Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) há cerca de 10 milhões de infectados no mundo (sendo aproximadamente cinco a sete milhões apenas no Brasil, e, entre esses, 15.000 morrem por ano vitimas das complicações da doença. Mais de 25 10 milhões de pessoas estão em risco, onde destes, há 200.000 novos casos anuais). A doença já foi restrita à América Latina, mas já alcançou regiões da Europa e América do Norte.[16] No Brasil, onde se concentra a maioria dos casos sul-americanos, as áreas de maior endemicidade correspondem aos Estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. [17] A Amazônia foi por muitos anos considerada indene de doença de Chagas, a despeito da bem conhecida existência de um ciclo enzoótico natural envolvendo uma variedade de espécies de mamíferos e triatomíneos silvestres da região [18] Figura 4. Taxa de mortalidade anual de Doença de Chagas/100.000 habitantes, Brasil, 1980/1996 Fonte: CENEPI/FNS-MS Mesmo após detectados os primeiros casos humanos autóctones, a doença era tida como de ocorrência ainda rara na região, e o risco de endemização visto como possibilidade de certo modo remota, ou a médio prazo, quer pela introdução de espécies domiciliares tidas como boas vetoras ao homem, vindas de áreas endêmicas, quer pela domiciliação de espécies nativas da própria região, por força de pressão ecológica exercida pelos desmatamentos. [19] 11 Cem anos após sua descoberta, a Doença de Chagas ainda é um problema gravíssimo de saúde pública. Para que haja um possível tratamento, a doença de Chagas deverá ser tratada bem no começo, até 2 anos após a infecção, ainda na fase aguda. De acordo com a Organização Mundial de Saúde e o banco Mundial, são gastos mais de seis bilhões de dólares por ano no tratamento dessa doença, pois, essa enfermidade faz com que o indivíduo se torne debilitado e incapaz, sendo uma das principais causas de aposentadoria antecipada. [20] Figura 5. Número de hospitalizações anuais por Doença de Chagas, brasil, 1990/1997 Fonte: GT- Programa de controle da doença de Chagas/C CD TV/DEOPE/FNS. O manejo da Doença de Chagas em situações de idade avançada e de superposição de agravos envolve novos conhecimentos e práticas, em especial com relação com enfermidades crônico-degenerativas prevalentes na terceira idade como hipertensão, diabetes, coronariopatias, etc.; [21] 12 3.4.1 DIAGNÓSTICO No estágio inicial da infecção o diagnóstico pode ser obtido através de exame microscópico direto no sangue periférico. Na fase crônica o diagnóstico se baseia, sobretudo, na detecção da resposta sorológica do hospedeiro ou na amplificação in vitro da população de parasitos, através dos métodos de xenodiagnóstico ou hemocultivo. [22] O diagnóstico pode ser obtido também através do exame "Chagas Stat-Pak" que consiste num teste rápido. Não necessita de armazenamento a frio, utiliza-se de tamanho de amostra mínima e fornece a detecção visual de anticorpos para T. cruzi.[22] Há outros métodos diagnósticos tais como: imunoflorescência, hemaglutinação, fixação de complemento, radioimunoensaio e ELISA. No entanto, estes ensaios podem ser de impraticável execução em áreas rurais, devido aos requisitos de instrumentações laboratoriais para realização ou interpretação de testes. A maioria também necessita de armazenamento a frio.[22] 3.4.1.1 Diagnóstico laboratorial 3.4.1.1.a Método parasitológico Dentre as diversas técnicas, a mais simples é a da microscopia direta sobre gota fresca de sangue, examinada entre lâmina e lamínula, com ocular 10 e objetiva 40. O exame deve ser minucioso e abarcar toda a lamínula, sendo positivo quando se encontra o parasito (geralmente em movimentação serpenteante entre as hemácias e leucócitos) com sua forma alongada, grande cinetoplasto e l flagelo muito móvel. Diante da suspeita clínica, se negativo o primeiro exame, deve-se repeti-lo por três ou quatro vezes ao dia, durante vários dias. Também se pode usar a técnica de gota espessa corada, como empregada para malária, mas que é bem menos sensível que o exame a fresco. A propósito, não muito raramente tem ocorrido o diagnóstico ocasional de doença de Chagas aguda (DCA) pelo achado do parasito em esfregaços corados para contagem diferencial de leucócitos e em hemogramas de pacientes febris. Desde os anos 1960, o diagnóstico parasitológico direto da DCA vem sendo aperfeiçoado com procedimentos de 13 enriquecimento, sendo mais empregadas as técnicas de microhematócrito (centrifugação e exame do creme leucocitário) e de Strout (centrifugação do soro após retirada do coágulo). Cabe ainda mencionar que a utilização de técnicas moleculares modernas, como a de PCR, permite detectar com grande sensibilidade e especificidade frações do DNA do parasito. Mesmo podendo ser positivas também na fase crônica, revelam-se úteis como auxílio diagnóstico de DCA – especialmente nos casos congênitos. [23] O diagnóstico molecular da doença de Chagas (Polymerase Chain Reaction - PCR acoplado à hibridização com sondas moleculares) tem apresentado resultados extremamente promissores, permitindo que esta metodologia seja utilizada como teste confirmatório. Caso haja forte suspeita de fase aguda da doença de Chagas e os exames parasitológicos diretos citados acima resultem negativos, o diagnóstico molecular pode ser associado a técnicas sorológicas (pesquisa de IgM). Os dados da literatura mostram que a sensibilidade da PCR é superior à da hemocultura e do xenodiagnóstico. A técnica de PCR deve ser realizada por centros colaboradores usando a mesma metodologia com protocolos definidos, devendo ser desenvolvidos procedimentos operacionais padronizados. [24] 3.4.1.1.b Métodos imunológicos Hemaglutinação indireta A interpretação do resultado varia de acordo com o ponto de corte determinado pelo fabricante dos kits. Imunofluorescência indireta (IFI) O resultado da imunofluorescência indireta é normalmente expresso em diluições. São consideradas como sorologia positivas reações a partir da diluição de 1:80. Ensaio imunoenzimático (ELISA) Consiste na reação de anticorpos presentes nos soros com antígenos solúveis e purificados de T. cruzi obtidos a partir de cultura in vitro (ou antígenos recombinantes de T. cruzi). Esse antígeno é adsorvido em microplacas e os soros diluídos (controle do teste e das amostras) são adicionados posteriormente. Os anticorpos específicos presentes no soro vão se fixar aos antígenos. A visualização da reação ocorre quando adicionada uma antiimunoglobulina marcada com a enzima peroxidase, que se ligará aos anticorpos específicos caso estejam presentes, gerando um produto colorido que poderá ser medido por espectrofotometria. O resultado considerado sororreagente é aquele que apresente o valor 14 da densidade ótica igual ou superior ao ponto de corte (Cut-Of ) do resultado do controle negativo.[23] As sorologias que detectam IgM (imunofluorescência e hemaglutinação), também são utilizadas para diagnóstico da fase aguda; entretanto, só se deve confirmar o diagnóstico de forma aguda com o encontro de parasito no sangue periférico. Na fase crônica, utiliza-se mais freqüentemente os métodos de detecção de anticorpos circulantes (IgG). [23] Fase aguda Na fase aguda da doença de Chagas, o diagnóstico laboratorial é baseado na observação do parasito presente no sangue dos indivíduos infectados, através de testes parasitológicos diretos como exame de sangue a fresco, esfregaço e gota espessa. [22] O teste direto a fresco é mais sensível que o esfregaço corado e deve ser o método de escolha para a fase aguda. Caso estes testes sejam negativos, devem ser usados métodos de concentração. Os testes de concentração (micro-hematócrito ou Strout) apresentam 80 a 90% de positividade e são recomendados no caso de forte suspeita de doença de Chagas aguda e negatividade do teste direto a fresco. Em casos sintomáticos por mais de 30 dias, devem ser os testes de escolha, uma vez que a parasitemia começa a declinar. [24] 15 Figura 6. Formas tripomastigotas sanguineas do Trypanosoma cruzi Fonte:Ministério da Saúde, 2005. Fase crônica Na fase crônica da doença, o diagnóstico parasitológico direto torna-se comprometido em virtude da ausência de parasitemia. Os métodos parasitológicos indiretos (xenodiagnóstico – ou hemocultivo), que podem ser utilizados, apresentam baixa sensibilidade (20-50%). Sendo assim, o diagnóstico na fase crônica é essencialmente sorológico e deve ser realizado utilizando-se dois testes de princípios metodológicos diferentes: um teste de elevada sensibilidade (ELISA com antígeno total ou frações semipurificadas do parasito ou a IFI) e outro de alta especificidade (ELISA, utilizando antígenos recombinantes específicos do T. cruzi), conforme descrito no fluxograma. [22] Recentemente, o Ministério da Saúde realizou um estudo multicêntrico que avaliou a sensibilidade e especificidade de doze ‘kits” de ELISA disponíveis no mercado brasileiro, envolvendo os convencionais (que utiliza antígeno total ou frações semipurificadas do parasita) e não convencionais (que utilizam antígenos recombinantes). [22] 16 Figura 7: Fluxograma para a realização de testes laboratoriais para a doença de Chagas na fase crônica Fonte: Ministério da Saúde, 2005 Transmissão vertical Em casos suspeitos de transmissão congênita, é importante confirmar o diagnóstico sorológico da mãe. Caso a infecção materna seja confirmada, deve se realizar o exame parasitológico no recém-nascido. Se for positivo, a criança deve ser submetida ao tratamento etiológico imediatamente. Os filhos de mães chagásicas com exame parasitológico negativo ou sem exame devem retornar entre seis e nove meses, a fim de realizarem testes sorológicos para pesquisa de anticorpos anti-T. cruzi da classe IgG. Se a sorologia for negativa, descarta-se a transmissão vertical. [23] 17 Figura 8. Fluxograma para avaliação da transmissão vertical do T. cruzi Fonte: Ministério da Saúde. Período de incubação • Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias. • Transmissão transfusional – de 30 a 40 dias ou mais. • Transmissão vertical – pode ser transmitida em qualquer período da gestação ou durante o parto. • Transmissão oral – de 3 a 22 dias. • Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias. [23] 3.4.2 PROFILAXIA A profilaxia baseia-se, fundamentalmente, nas seguintes medidas: -Combater os triatomíneos com aplicação de inseticidas à base de BHC (hexaclorobenzeno) nos locais freqüentados por esses insetos, tanto no domicílio como no peridomicílio. -Melhorar as condições de moradia, estimulando a construção de habitações condignas, que dificultem o alojamento de barbeiros. Estas melhorias devem atingir, também, o peridomicílio, condicionando higiene aos anexos, tais como depósitos e abrigos de animais domésticos. -Controlar a transmissão transfusional através da realização de testes sorológicos para a exclusão de doadores. 18 -Prevenir a transmissão acidental, mediante a adoção de medidas de biossegurança (precauções universais) ao lidar com materiais contaminados com sangue ou secreções. -Prevenir a transmissão congênita recomendando-se às gestantes com doença de Chagas aguda medicação específica no último mês de gestação. -Eliminar animais domésticos portadores da infecção. [17] 3.5 QUIMIOTERAPIAS EXISTENTES Os primeiros compostos desenvolvidos experimentalmente para o tratamento específico da tripanossomíase americana, após a sua descoberta em 1909, foram o atoxyl (arsênico), a tintura de fucsina, o tártaro emético (antimonial pentavalente) e o cloreto de mercúrio. Todos estes compostos se mostraram ineficazes no tratamento proposto. [25-26] Por ser uma doença negligenciada, a doença de Chagas não conta com muitos tratamentos. Como fármacos disponíveis temos apenas o Nifurtimox (5-Nitrofurano) e o Benzonidazol (2-Nitroimidazol) que além de ineficazes na fase crônica da doença e em crianças, possuem altos e intensos efeitos colaterais. [26] Figura 9. Mecanismo de ação proposto dos fármacos nifurtimox (3) e benzonidazol (4) Fonte: Quimioterapia da doença de chagas: estado da arte e perspectivas no desenvolvimento de novos fármacos. Quim. Nova, vol. 32, no. 9, 2444-2457, 2009 19 Os metabólitos (eletrofílicos) formados através do mecanismo de ação de 3 e 4 podem atuar também em outros sistemas, especialmente do hospedeiro (humano), devido a sua alta reatividade. Esta baixa especificidade de ação em vias bioquímicas definidas do parasito contribui para os efeitos citotóxicos observados no tratamento dos pacientes. [27] Benzonidazol Devido o baixo lucro que esses medicamentos trazem, não é de interesse dos laboratórios a sua produção. No ano de 2003, o Laboratório farmacêutico suíço Roche anunciou a doação ao governo brasileiro do direito de patente e de uso da tecnologia do medicamento Rochagan ®, a base do fármaco benznidazol. O governo brasileiro concedeu ao Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (LAFEPE) o direito de sua produção. Com isso, este é o único laboratório, no mundo, a produzir um medicamento destinado ao tratamento da doença de Chagas. A veiculação deste fármaco em um comprimido de liberação prolongada permite a redução da toxicidade, graças à redução dos picos plasmáticos respectivos a cada administração do medicamento. Estes sistemas, constituídos de polímeros hidrofílicos, liberam o fármaco de forma gradativa pelo mecanismo de dissolução e representam uma alternativa de baixo custo, quando comparada a outras técnicas de liberação controlada. [28-29] O benzonidazol (N-benzil-2- nitroimidazole-1-acetamida), derivado imidazolico, consiste num fármaco cuja forma farmacêutica está na forma de comprimidos de liberação imediata e sua posologia de 5 a 10 mg/kg/dia por 30 a 60 dias para adultos e para crianças com menos de 40 kg a dose é de 7,5 mg/kg/dia durante 60 dias. [24] 20 Figura 10. Estrtutura química do Benzonidazol Fonte: Quimioterapia da doença de chagas: estado da arte e perspectivas no desenvolvimento de novos fármacos. Quim. Nova, vol. 32, no. 9, 2444-2457, 2009 O mecanismo de ação do Benzonidazol ainda não está bem elucidado, portanto pode ser pelo estresse reativo, envolvendo modificação covalente das macromoléculas em intermediários nitroreduzidos, ou por outras interações de nitroredução com os componentes do parasito. [30] Nifurtimox Segundo Sobrinho et al., o nifurtimox é uma droga nitroheterocíclica, com atividade tripanossomicida, antiprotozoária e antibacteriana contra as formas amastigotas do parasito. Seu mecanismo de ação envolve a redução parcial ao ânion radical seguida por auto-oxidação para regenerar o nitrofurano original e formar o radical ânion superóxido e outras espécies reativas de oxigênio, como o peróxido de hidrogênio e radical hidroxila. [29-31] De acordo com Brener, o nifurtimox (3-metil-4 {(5-nitrofurfurilidene) amino} tiomorfoline-1-,1-dioxide), produzido pelo Laboratório Bayer e lançado em 1967 com o nome comercial de Lampit ®, na forma de comprimidos com 120 mg de princípio ativo, foi a primeira droga usada no tratamento da fase aguda da doença de Chagas. [32] 21 Figura 11. Estrutura química do Nifurtimox Fonte: Quimioterapia da doença de chagas: estado da arte e perspectivas no desenvolvimento de novos fármacos. Quim. Nova, vol. 32, no. 9, 2444-2457, 2009 O nifurtimox (Nf) é bem absorvido após administração oral e seus níveis no plasma são da ordem de 10 a 20 μM, concentrações menores podem ser detectadas nos tecidos e na urina. O esquema terapêutico do Nf varia com a idade do paciente. [33-34-35-36]. Em pacientes na fase aguda, na faixa etária entre 5 e 14 anos, a dose indicada é de 15mg/kg/dia durante 120 dias; para adultos na fase crônica, a dose é de 8 a 10 mg/kg/dia por um período de 30 a 120 dias, para tratamento da doença de Chagas agudo. A eficácia da droga em pacientes crônicos adultos é baixa. [37-38] O principal mecanismo de ação de Nifurtimox é a produção do radical livre hidroxila (OH•) por meio da redução do radical nitro, o que leva a uma intoxicação do parasita. Como consequência, os tecidos do hospedeiro também pode ser lesado, onde ocorrem as reações adversas. [39] As principais reações colaterais causadas pelos fármacos Nifurtimox e Benzonidadol são representados no quadro 1, abaixo: 22 Quadro 1. Principais reações colaterais no tratamento da doença de Chagas Fonte: Ministério da Saúde 3.6 NOVOS ALVOS A OMS definiu exigências que devem ser atendidas por um fármaco ideal para o tratamento da Doença de Chagas. São elas: Cura parasitológica tanto nos casos agudos quanto nos casos crônicos; Ação eficaz em medicamentos de dose única ou em pequenas doses, para que não haja abandono de tratamento; Custo reduzido, para que haja uma grande acessibilidade; Baixos efeitos colaterais e ausência de efeitos teratogênicos; Nenhuma necessidade de hospitalização para o tratamento; Nenhuma indução da resistência. [40] 23 Figura 12. Estratégias para a descoberta de compostos bioativos candidatos a novos fármacos contra as doenças negligenciadas. Fonte: Quimioterapia da doença de chagas: estado da arte e perspectivas no desenvolvimento de novos fármacos. Quim. Nova, vol. 32, no. 9, 2444-2457, 2009 Para que seja possível o desenvolvimento de um fármaco ideal, é necessário que se conheça profundamente o ciclo de vida do parasito, assim como seu metabolismo. [40] O processo de descoberta e desenvolvimento de novos fármacos engloba várias estratégias e uma combinação de métodos tradicionais e modernos, de natureza intrinsecamente multi e interdisciplinar, integrando especialidades como a química, biologia, medicina, farmácia, bioquímica, farmacologia, bioinformática, entre outras. A ação dos fármacos pressupõe a interação de uma molécula pequena (ligante) com uma macromolécula (receptor biológico), tipicamente uma proteína de alguma via bioquímica associada a uma condição de doença ou disfunção em humanos.32-34. [41-42] A tripanotiona redutase do T. cruzi tem sido considerada uma enzima chave no metabolismo oxidativo do parasito. Os derivados nitrofuranos têm demonstrado que são 24 capazes de produzir a inativação irreversível desta enzima. Chung et al. (2003) obtiveram um derivado a partir do nitrofural, o hidroximetilnitrofurazona, o qual se apresentou muito eficaz como tripanossomicida nos testes realizados in vitro. [43] O T. cruzi requer esteróis específicos para a proliferação e a viabilidade de células em todos os estágios de seu ciclo e é extremamente susceptível a inibidores da biossíntese de esteróis. [44] Os estudos realizados na Venezuela e no Brasil mostraram que possuem potencial ação triponossomicida in vitro fármacos inibidores da biossíntese de esteróis, comercialmente disponíveis, aplicados com sucesso no tratamento de fungos, como o cetoconazol, o fluconazol e o itraconazol. Entretanto, estudos demonstraram que estes compostos não são capazes de eliminar o parasito in vivo durante a infecção aguda ou crônica ou ainda de interromper o progresso da doença. [39] Passou-se, então, a sintetizar novos compostos com similaridade estrutural com estes compostos estudados. Dentre eles, foram desenvolvidos derivados do triazol, o D0870 (Zeneca Farmacêutica) e o posaconazol (SCH 56592, Schering- Plough), capazes de induzir a cura parasitológica radical em modelos murinos das fases aguda e crônica da doença de Chagas. Estes foram os primeiros compostos relatados como capazes de curar a doença nessas fases. Foram também capazes de erradicar cepas de T. cruzi resistentes aos nitrofuranos e aos nitroimidazóis em ratos infectados, mesmo que estivessem imunosuprimidos. A notável atividade tripanossoomicida destes derivados é atribuída à combinação de potência e atividade intrínseca seletiva anti-Trypanosoma cruzi e especiais propriedades farmacocinéticas. [30] O posaconazol, um análogo estrutural do itraconazol, foi registrado em 2005 na União Européia, na Austrália e nos Estados Unidos, para a profilaxia e terapêutica de micoses sistêmicas refratárias e agentes convencionais, sendo também o candidato principal para pacientes com doença de Chagas. Mais recentemente, outros triazóis, tais como o ravuconazol (BMS 207 147; Bristol-Myers Squibb), o TAK-187 (Takeda Companhia Química) e o UR-9825 (Grupo Uriach), também demonstraram atividade tripanossomicida in vitro e in vivo. [30] O T. cruzi contém uma protease responsável pela maior parte da atividade proteolítica do parasito em todos os seus estágios de vida, conhecida como cruzipaina ou 25 GP57/51. Os inibidores seletivos desta protease obstruem a proliferação dos epimastigotas extracelulares e dos amastigotas intracelulares e interrompem a metaciclogênese, indicando que a enzima executa funções essenciais para a sobrevivência e o crescimento do parasito. Os inibidores da protease, como o N-metil-piperazina-r-ureia-F-hF-vinil-sulfonapentil ou o CRA-3316 (Celera Genomics), podem prolongar a sobrevida e induzir a cura parasitológica em modelos murinos das fases aguda e crônica da doença de Chagas, com toxicidade mínima. [45] Os tripanossomatídeos e os parasitos apicomplexos contêm organelas específicas, denominadas acidocalcissomos, organelas acídicas que contêm considerável fração do cálcio intracelular e possuem uma H+-ATPase vacuolar e/ou uma H+-pirofosfatase vacuolar para captação de H+, uma Ca2+/H+-ATPase, para captação de Ca2+ e uma Ca2+/nH+-ATPase para liberação de Ca2+. Bisfosfonados, análogos metabólicos do pirofosfato, são acumulados seletivamente no parasito e podem inibir as enzimas envolvidas nas reações inorgânicas e orgânicas do pirofosfato, tais como a síntese do farnesil-pirofosfato. Tais compostos têm potente e seletiva atividade anti-Trypanossoma cruzi in vitro e in vivo. [30] Parasitos tripanossomatídeos são absolutamente deficientes na biossíntese de purinas. A enzima-chave deste alvo é a hipoxantina-guanina-fosforibosil transferase (HGPRT), um alvo bioquímico válido nestes organismos. O interesse pela utilização do alopurinol no tratamento da doença de Chagas surgiu em virtude de seu mecanismo de ação e após a sua experimentação em animais, porém não demonstrou ação tripanossomicida na fase crônica da doença. [46] Este composto é um análogo da hipoxantina e age como um substrato alternativo da hipoxantina guanina-fosforibosil transferase, sendo incorporado ao RNA. Esta incorporação resulta em um nucleotídeo não fisiológico que bloqueia a síntese de um novo nucleotídeo. Diversos estudos já demonstraram sua potente ação tripanossomicida, porém estudos mais criteriosos devem ser realizados para avaliar a eficácia dos fármacos. [26] A seleção de compostos com potencial ação tripanocida, presentes em extratos de plantas e produtos naturais, levou à investigação de diversas classes de compostos responsáveis pela atividade antiparasitária, como naftoquinonas, terpenóides, isoflavonas e 26 alcalóides. [31] Um grande número de alcalóides tem sido testado para o T. cruzi. A atividade deles ante as formas epimastigotas foi associada à inibição da respiração celular. Dentre os compostos estudados, o que apresentou maior atividade antichagásica in vitro foi a apomorfina. [47-48] As plantas brasileiras Virola surinamensis e Piper solmsianum, oriundas da floresta amazônica e da mata atlântica, respectivamente, demonstraram ser ricas fontes de tetrahidrofurano, apresentando uma potente atividade in vitro contra as formas tripomastigotas do parasito. [31] Lirussi et al. (2004) realizaram estudos in vitro sobre as formas epimastigotas do T. cruzi com 17 extratos de plantas utilizadas na medicina chinesa. Sete extratos de plantas apresentaram uma atividade inibitória em relação aos parasitos, com percentual inferior a 25%; seis apresentaram resultados entre 25% e 60% e quatro plantas apresentaram uma atividade excelente, com a inativação de 100% dos parasitos, sendo estas a Lithospermum erythrorhizon, a Saussurea lappa, a Melia toosendan e a Cinnamomum cassia. [48] Estudos com os naftoimidazóis, derivados das naftoquinonas, substâncias encontradas nos ipês, árvores do gênero Tabebuia, demonstraram que estes compostos são capazes de eliminar as três formas evolutivas do T. cruzi em células de camundongo, em cultura in vitro. Outros compostos derivados das naftoquinonas também têm demonstrado ação anti-Trypanossoma cruzi. Barreto (2006) sintetizou 60 derivados de naftoquinonas pertencentes aos grupos dos imidazóis, oxazóis, fenoxazóis e das fenazinas e com eles fez ensaios com formas tripomastigotas sangüíneas de T. cruzi. Os compostos mais ativos foram três naftoimidazóis derivados de ß-lapachona com grupamento fenila (N1), 3indolila (N2) ou p-metil fenila (N3) ligado ao anel imidazólico. Estudos com N1, N2 e N3 demonstraram uma potente atividade sobre tripomastigotas, com potencial de toxicidade nas células mamíferas. [49] A própolis tem sido extensamente utilizada na medicina atual por apresentar uma potente atividade antimicrobiana. Um extrato etanólico de própolis apresentou atividade in vitro ante as formas epimastigotas, tripomastigotas e intracelular amastigotas do T. cruzi. Atribui-se esta atividade à presença de flavonóides no extrato (Higashi & De Castro, 1994). Contudo os experimentos in vivo apresentam resultados controversos. Marcucci et 27 al. (2001) realizaram um estudo com a própolis brasileira, oriunda do estado do Paraná, no qual quatro derivados do ácido hidroxicinâmico foram isolados e testados com tripomastigotas do T. cruzi, apresentando um resultado abaixo da substância-controle, o cristal de violeta. [50-51]. A análise dos dados acima mostra claramente que ainda são necessários mais uma série de estudos para que se alcance a substância ou as substâncias anti-chagásicas ideais. Além disso, também para Doença de Chagas, cada vez mais os pesquisadores estão buscando a exploração da flora brasileira, o que é de grande valia, permitindo baixo custo, alta disponibilidade e produção imediata das futuras drogas anti-chagásicas. 28 4. CONCLUSÃO A doença de Chagas, como uma doença negligenciada, sofre com o descaso das grandes indústrias e do governo, pela falta de incentivo. Assim, restringindo a pesquisa em busca do medicamento, dito ideal, para a doença. O que há de pesquisa até então, está longe de ser satisfatório. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. Contudo, ainda pode-se contar com fármacos como benzonidazol e o Nifurtimox. O futuro dos novos alvos é promissor e há muito a ser estudado. A partir das pesquisas para realização deste trabalho, foi possível constatar as dificuldades encontradas para a obtenção de novos alvos para a Doença de Chagas. Na verdade, a execução do trabalho permitiu mostrar novas linhas de pesquisa que podem surgir a partir de uma linha central, que é a da quimioterapia anti-chagásica. Vale ainda ressaltar que, além de todos os alvos citados no trabalho, ainda há muito o que se descobrir do mundo dos parasitos, que nos permita avaliar diferencialmente o efeito seletivo de fármacos, sem efeitos adversos ao hospedeiro humano. 29 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. DIAS, J.C.P. Elimination of Chagas disease transmission: perspectives. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 2009, v 104 (Suppl. I), p 41-5. 2. RASSI A, Jr., Rassi A, Marin-Neto JA (2009) Chagas heart disease: pathophysiologic mechanisms, prognostic factors and risk stratification. Mem Inst Oswaldo Cruz 104: p 152–158. 3. BILATE AM, Cunha-Neto E (2008) Chagas disease cardiomyopathy: current concepts of an old disease. Rev Inst Med Trop São Paulo 50: p 67– 74. 4. SOEIRO MNC; De Castro SL. Trypanosoma cruzi targets for new chemotherapeutic approaches. 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