UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Luis Felipe Baumotte Osorio PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA DE NOVOS DERIVADOS NITROIMIDAZOLIL ÉTERES DE OXIMA SUBSTITUÍDOS COMO POTENCIAIS AGENTES ANTICHAGÁSICOS Rio de Janeiro 2013 Luis Felipe Baumotte Osorio PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA DE NOVOS DERIVADOS NITROIMIDAZOLIL ÉTERES DE OXIMA SUBSTITUÍDOS COMO POTENCIAIS AGENTES ANTICHAGÁSICOS Dissertação de Mestrado realizada no Laboratório de Síntese (Farmanguinhos/Fiocruz) Orgânica e apresentada ao Programa de PósGraduação em Química, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências (Química). Orientador: Carlos Alberto Manssour Fraga (LASSBio/FF/UFRJ) Coorientador: Edson Ferreira da Silva (Farmanguinhos/Fiocruz) Rio de Janeiro 2013 ii PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA DE NOVOS DERIVADOS NITROIMIDAZOLIL ÉTERES DE OXIMA SUBSTITUÍDOS COMO POTENCIAIS AGENTES ANTICHAGÁSICOS Luis Felipe Baumotte Osorio Dissertação de Mestrado realizada no Laboratório de Síntese Orgânica (Farmanguinhos/Fiocruz) e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências (Química). Aprovada por: ______________________________________ Carlos Alberto Manssour Fraga (LASSBio-FF-UFRJ) ______________________________________ Edson Ferreira da Silva (Farmanguinhos-Fiocruz) ______________________________________ Márcia Paranho Veloso (FCF-UNIFAL) ______________________________________ Bárbara Vasconcellos da Silva (IQ-UFRJ) ______________________________________ Kelly Salomão (IOC-Fiocruz) iii O83 Osorio, Luis Felipe Baumotte. Planejamento, síntese e avaliação da atividade tripanocida de novos derivados nitroimidazolil éteres de oxima substituídos como potenciais agentes antichagásicos / Luis Felipe Baumotte Osorio. – Rio deJaneiro: UFRJ/IQ, 2013. 121 f.: il. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de PósGraduação em Química, 2013. Orientador: Carlos Alberto Manssour Fraga. Coorientador: Edson Ferreira da Silva. 1. Química medicinal. 2. Doença de Chagas. 3. Imidazol. 4. Oxima. 5. Tripanocida. I. Fraga, Carlos Alberto Manssour. (Orient.). II Silva, Edson Ferreira. (Coorient.).III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Pós Graduação em Química. IV. Título. CDD: 615.19 iv Esta dissertação é dedicada à minha família, amigos e especialmente à minha namorada Andressa pelo amor, cumplicidade e paciência mesmo à distância. v AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores Dr. Carlos Alberto Manssour Fraga e Dr. Edson Ferreira da Silva pela orientação e oportunidade de aprender mais sobre esta ciência. Ao professor Alex Fabiano pela inspiração e pelo incentivo de cursar Química. Aos professores Dra. Maria José Araújo Sales e Dr. Rafael Oliveira Rocha por despertar o interesse pela pesquisa em Química Orgânica. À Central Analítica de Farmanguinhos pela realização das análises de RMN, EM, CG-MS, LC-MS e IV, especialmente à Eliane. À Dra. Solange Lisboa de Castro e à Dra. Kelly Salomão por realizar os testes farmacológicos. Ao meu pai, Luis Carlos, à Mônica e sua família, por todo apoio e convivência agradável ao longo desses dois anos, e ao meu irmão, Luis Henrique, pela companhia e amizade. Aos integrantes dos Laboratórios de Síntese 1 e 2, e da Planta Piloto: Giulianna, Camila, Mayara, Raiane, Mônica Gomes, Débora, Liviane, Sandra, Mônica Peralta, Shaiane, Maria, Jéssica, Felipe Azeredo, Luis, João Mafra, Evanoel, D. Bruna, Elaine, Lúcia, Alcione, Fred, Rodolfo, Rita, Antônio, Claudinha, Cristiane, Walcimar, Vitor, Wilson, Ivson, Alessandra, Sílvio, Renato Carvalho, Daniele, e em especial ao Dr. Samir D’Aquino Carvalho e sua aluna Natália por toda ajuda e convivência agradável no dia-a-dia do laboratório. vi À Farmanguinhos por fornecer suporte técnico e financeiro para execução deste trabalho. Ao IQ/UFRJ e à CAPES pela bolsa de estudos. E desde já, à banca examinadora por aceitar o convite. vii “Nada é tão perigoso para o progresso da mente humana do que assumir que nossos pontos de vista da ciência são definitivos, que não há mistérios na natureza, que nossos triunfus são completos e que não há novos mundos para conquistar.” (Sir Humprhy Davy) viii RESUMO OSORIO, Luis Felipe Baumotte. PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA DE NOVOS DERIVADOS NITROIMIDAZOLIL ÉTERES DE OXIMA SUBSTITUÍDOS COMO POTENCIAIS AGENTES ANTICHAGÁSICOS. Rio de Janeiro 2013. Dissertação (Mestrado em Química). Instituto de Química Universidade Federal do Rio de Janeiro. A partir de uma linha de pesquisa que busca novos protótipos úteis no combate a doenças tropicais negligenciadas, estão entre os objetivos deste trabalho: o planejamento, a síntese e a avaliação da atividade tripanocida de um novo grupo de derivados de éteres de oxima nitroimidazólicos substituídos. Buscou-se, no planejamento estrutural destes derivados, explorar o conceito de hibridação molecular entre dois potentes agentes tripanocidas, um nitrotiofeno éter de oxima e um O-benzil éter de oxima, visando, dessa maneira, potencializar o perfil de inibição dos compostos alvo e obter estes compostos com uma maior alcance de atividade. Neste trabalho, a metodologia sintética empregada para a obtenção da nova família de derivados de éteres de oxima nitroimidazólicos substituídos mostrou-se adequada, permitindo a obtenção dos compostos-alvos em rendimentos que variaram de 55-89 %. A atividade tripanocida foi investigada na forma infectiva tripomastigota e comparada à atividade tripanocida do benzonidazol, que foi usado como substância de referência, permitindo a identificação do (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30) como sendo o derivado mais ativo da série. Palavras-chave: Imidazol, Tripanocida, Oxima ix ABSTRACT OSORIO, Luis Felipe Baumotte. PLANEJAMENTO, SÍNTESE E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TRIPANOCIDA DE NOVOS DERIVADOS NITROIMIDAZOLIL ÉTERES DE OXIMA SUBSTITUÍDOS COMO POTENCIAIS AGENTES ANTICHAGÁSICOS. Rio de Janeiro 2013. Dissertação (Mestrado em Química). Instituto de Química Universidade Federal do Rio de Janeiro. Based on a research program that seeks new usefull prototypes in the treatment of negleted tropical diseases, this study aims to: plan, synthesize and avaluate the trypanocidal activity of a novel group of substituted nitroimidazole oxime ehter derivatives. During the derivatives structural planning it was attempted to explore the concept of molecular hybridization of two potent trypanocidal agentes, a nitrothiofene oxime ether and a O-benzyl oxime ether, to thereby enhance the inhibition profile of the target compounds and to obtain compounds with a greater range of activity. The results of this study allowed us to conclude that the synthetic approach used to obtain the novel group of substituted nitroimidazole oxime ether derivatives proved to be adequate, taking into consideration the determination of target compounds in yields ranging between 55-89 %. The target compounds trypanocidal activity was investigated in the trypomastigote infective form and compared to benzonidazol trypanocidal activity, which was used as a benchmark substance, allowing the identification of (E)-1methyl-5-nitro-1H-imidazole-2-carbaldehyde O-(4-nitrobenzyl) oxime (30) as the most active derivative. Keywords: Imidazole, Trypanocidal, Oxime x Este trabalho foi realizado no Laboratório de Síntese de Farmanguinhos -Fiocruz- sob a orientação dos Professores Dr. Carlos Alberto Manssour Fraga e Dr. Edson Ferreira da Silva. xi SUMÁRIO Pág. RESUMO ix ABSTRACT x Lista de figuras xv Lista de esquemas xviii Lista de tabelas xix Lista de abreviaturas e siglas xx Anexo de espectros xxii 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 Doença de Chagas 1 1.2 Quimioterapia da doença de Chagas 9 1.2.1 Compostos nitro-heteroaromáticos 10 1.2.1.1 Nifurtimox e Benzonidazol 10 1.2.1.2 Megazol 16 1.3 Novas estratégias farmacoterapêuticas para o tratamento da Doença de Chagas 17 1.3.1 Tripanotiona Redutase (TR) 17 1.3.2 Cruzaína ou Cruzipaína 20 1.3.3 Biossíntese de Esteróis 23 1.3.3.1 Inibidores da Biossíntese de Esteróis (IBEs) 25 1.4 Éteres de Oxima 28 xii 2. OBJETIVOS 33 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 36 3.1 Planejamento estrutural da nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos 36 3.2 Análise Retrossintética 36 3.3 Obtenção do Aldeído nitroimidazólico (37) 37 3.4 Síntese de Oxima nitroimidazólica (36) 39 3.5 Síntese dos novos derivados O-benzil éteres de oxima Nitroimidazólicos (30 – 35) 42 3.6 Avaliação do perfil tripanocida 55 4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 58 5. PARTE EXPERIMENTAL 59 5.1 Informações gerais 59 5.2 Metodologia Sintética 60 5.2.1 Síntese do derivado aldeído 1,2-dimetil-5-nitroimidazol (37) 60 5.2.2 Síntese de 1,2-dimetil-5-nitroimidazolil oxima (36) 61 5.2.3 Procedimento geral para síntese dos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) 62 5.2.3.1 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30) 63 5.2.3.2 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31) 64 xiii 5.2.3.3 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32) 65 5.2.3.4 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33) 66 5.2.3.5 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34) 67 5.2.3.6 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35) 68 5.3 Protocolo Biológico 69 5.3.1 Avaliação da atividade tripanocida in vitro sobre a forma tripomastigota de T. cruzi. 69 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70 7. ANEXOS: ESPECTROS 79 xiv LISTA DE FIGURAS Figura 1 Pág. Imagem do Triatoma infestans, o barbeiro, principal vetor da doença 2 de Chagas. Figura 2 Ilustração do sinal de Romaña. 2 Figura 3 Coração com cardiopatia chagásica (A) e radiografia do tórax de um 3 paciente com esofagopatia chagásica (B). Figura 4 Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi. 4 Figura 5 Distribuição geográfica de indivíduos infectados com a DCH pelo 7 mundo. Figura 6 Distribuição geográfica da DCH no Brasil. A linha pontilhada 8 demarca a região endêmica em cinza escuro e em cinza claro estão as áreas de transmissão via oral da doença. Figura 7 Estrutura química da Nitrofurazona (1). Figura 8 Estrutura química dos derivados nitro-heterocíclicos NFX (2) e BZN 9 10 (3). Figura 9 Prováveis rotas de redução metabólica do grupo nitro nos derivados 14 nitro-heteroaromáticos (2) e (3). Figura 10 Esquema geral de redução de nitrofuranos por nitroredutases do tipo 15 1 (WILKINSON, 2011). Figura 11 Estrutura química do megazol (4) 16 Figura 12 Série de reações dependentes da TR e responsáveis pela 18 neutralização de EROs. Figura 13 Estruturas químicas da T[S]2 (5) e da GSSG (6). 19 Figura 14 Estruturas químicas da tioridazina (7) e da clomepramina (8). 20 Figura 15 Representação esquemática dos principais subsítios do sítio 21 xv catalítico da cruzaína. Figura 16 Estrutura química de dois inibidores de cruzipaína: K-777 (9) e aril- 23 tiosemicarbazona (10). Figura 17 Biossíntese de esteróis de parasitos na fase epimastigota de T. cruzi 24 (Adaptado de BUCKNER & URBINA, 2012). Figura 18 Estrutura químicas do posaconazol (13) e do ravuconazol (14) 27 Figura 19 Estrutura química do Oxiconazol (17) 28 Figura 20 Estruturas químicas do 5-nitro-2-furaldoxima (18) e do metronidazol 29 (19). Figura 21 Estrutura química do éter de oxima tricomonicida (20). 29 Figura 22 Estrutura química dos O-benzil éteres de oxima (21) e (22). 30 Figura 23 Estrutura da benzidril tropinona oxima (23). 30 Figura 24 Representação estrutural dos novos derivados éteres de oxima 33 nitroimidazólicos Figura 25 Planejamento estrutural dos novos derivados éteres de oxima 34 nitroimidazólicos (30 - 35) Figura 26 Novos derivados éter de oxima nitroimidazólicos planejados 35 estruturalmente (30 - 35). Figura 27 Análise retrossintética dos novos derivados éteres de oxima 36 nitroimidazólicos (30 – 35). IGF= Interconversão de Grupos Funcionais. Figura 28 Espectro de IV da oxima nitroimidazólica (36) apresentando a banda 40 em 1400 cm-1 referente à deformação axial da ligação C=N . Figura 29 RMN 1H da oxima nitroimidazólica (36) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). 41 Figura 30 RMN 13C da oxima nitroimidazólica (36) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). 42 xvi Figura 31 Derivado O-benzil éter pirazólico obtido com 61% de rendimento por 44 Reis et al. (1999). Figura 32 Imagem do espectro de IV do derivado éter de oxima 48 Imagem do espectro de RMN 1H do novo derivado éter de oxima 51 nitroimidazólico (35). Figura 33 nitroimidazólico (33) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). Figura 34 Ilustração do espectro de RMN 13 C do novo derivado éter de oxima 52 nitroimidazólico (33) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). Figura 35 Estrutura molecular do composto para bromado (34) obtida por 54 difração de raios X. Figura 36 Diminuição do perfil de atividade em função da introdução de 56 diferentes substituintes no anel fenila dos derivados O-benzil éteres de oxima imidazólicos (30 - 35). Figura 37 Diagrama de Craig (intercorrelação σ x π) em para-substituição aromática (Adaptado de TAVARES, 2004). xvii 57 LISTA DE ESQUEMAS Pág. Esquema 1 Esquema de síntese do aldeído nitroimidazólico 37 Esquema 2 Proposta mecanística para a síntese do aldeído nitroimidazólico. 38 Esquema 3 Esquema de síntese da oxima nitroimidazólica. 39 Esquema 4 Proposta mecanística para a síntese da oxima nitroimidazólica 39 Esquema 5 Esquema da síntese dos novos éteres de oxima nitroimidazólicos 43 (30 - 35). Esquema 6 Proposta mecanística para a síntese dos éteres de oxima via SN2 (30 - 35). xviii 43 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Pág. Características epidemiológicas da DCH nas Américas e outros 6 países do mundo Tabela 2 Atividade antiparasitária seletiva da benzidril tropinona oxima 31 (23). Tabela 3 Estudo de relação estrutura-atividade de análogos da benzidril- 32 tropinona oxima (23). Tabela 4 Propriedades físico-químicas e rendimentos dos novos derivados 46 O-benzila éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35). Tabela 5 Principais dados de EM-ESI e IV para os novos derivados éteres 47 de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) Tabela 6 Deslocamentos químicos em ppm dos hidrogênios da nova série 50 de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35). Tabela 7 Deslocamentos químicos em ppm dos carbonos da nova série de 53 O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35). Tabela 8 Atividade tripanocida in vitro sobre a forma tripomastigota dos novos O-benzil éteres de oxima imidazólicos (30 - 35). xix 55 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS μM Micromolar ADME Absorção, distribuíção, metabolismo e eliminação Ar Anel aromático BZN Benzonidazol CCF Cromatografia em camada fina DMSO-d6 Dimetil Sulfóxido deuterado DNA Ácido desoxirribonucléico e.g. Por exemplo EM Espectrometria de massas EROs Espécies Reativas de Oxigênio ERS Espectroscopia de Ressonância de Spin ESI Ionização por eletrospray g Grama CLAE Cromatografia Liquída de Alta Eficiência Hz Hertz i.e. Isto é IC50 Crescimento inibitório de 50 % IGF Interconversão de Grupos Funcionais IV Infravermelho J Constante de acoplamento LAFEPE Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco mg Miligrama NADPH nicotinamida adenina dinucleótido fosfato reduzida NFX Nifurtimox xx NTR Nitrorredutase OMS Organização Mundial de Saúde OPAS Organização Pan americana de Saúde P.F. Ponto de Fusão P.M Peso molecular ppm Partes por milhão RMN 13C Ressonância magnética nuclear de carbono treze RMN 1H Ressonância magnética nuclear de hidrogênio SOD Superóxido dismutase T. cruzi Trypanosoma cruzi T.brucei Trypanosoma brucei T[S]2 Tripanotiona disulfeto T[SH]2 Tripanotiona ditiol TbNTR Nitrorredutases de Trypanosoma brucei TcNTR Nitrorredutases de Trypanosoma cruzi UV Ultra violeta WHO World Health Organization (Organização mundial da saúde) Obs.: As abreviaturas e símbolos utilizados neste trabalho que não constam nesta relação, encontram-se descritos no texto ou são convenções conhecidas. xxi ANEXO DE ESPECTROS Pág. E1 Espectro de massas da oxima nitroimidazólica (36). 1 E2 Espectro de IV da oxima nitroimidazólica (36). 1 E3 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) da oxima nitroimidazólica 2 (36). E4 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) da oxima 2 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- 3 nitroimidazólica (36). E5 Espectro de massas de carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). E6 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 3 (4-nitrobenzil) oxima (30). E7 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 4 imidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). E8 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 4 1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). E9 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 5 (4-nitrobenzil) oxima (30). E10 Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- 6 carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31). E11 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 6 (4-clorobenzil) oxima (31). E12 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 7 imidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31). E13 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31). xxii 7 E14 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 8 (4-clorobenzil) oxima (31). E15 Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- 9 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 9 carbaldeído O-benzil oxima (32). E16 benzil oxima (32). E17 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 10 imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). E18 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 10 1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). E19 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 11 benzil oxima (32). E20 E20: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- 12 carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33). E21 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 12 (4-fluorobenzil) oxima (33). E22 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 13 imidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33). E23 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 13 1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33). E24 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 14 (4-fluorobenzil) oxima (33). E25 Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34). xxiii 15 E26 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 15 (4-bromobenzil) oxima (34). E27 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 16 imidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34). E28 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 16 1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34). E29 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 17 (4-bromobenzil) oxima (34). E30 Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2- 18 carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35). E31 Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O- 18 (4-metilbenzil) oxima (35). E32 Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro-1H- 19 imidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35). E33 Espectro de RMN 13 C (400 MHz, DMSO-d6) de (E)-1-metil-5-nitro- 19 1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35). E 34 Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O(4-metilbenzil) oxima (35). xxiv 20 1. INTRODUÇÃO 1.1 Doença de Chagas Descoberta em 1909 pelo pesquisador brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, a tripanossomíase americana, conhecida também como doença de Chagas (DCH), é uma enfermidade causada pelo parasito protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi (T. cruzi) (WHO, 2013). A DCH é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (WHO) como uma das 17 Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN), dentre as quais estão a dengue e leishmaniose (KOWALSKA et al., 2011). Apesar de ser encontrada principalmente em áreas endêmicas de 21 países da América Latina, dados da WHO indicam que de 8 a 10 milhões de pessoas do mundo inteiro sejam vítimas da DCH (WHO, 2013). A DCH pode ser transmitida a mais de 150 espécies de animais domésticos e mamíferos silvestres, além de seres humanos. A transmissão da DCH em humanos pode se dar por diferentes formas, como por exposição da pele ou mucosas às dejeções do inseto infectado com o parasito, transfusão de sangue (1020% dos casos), via congênita (1-5% dos casos dependendo do país) e via oral, que ultimamente tem se tornado comum em regiões onde a parasitose não é endêmica (RASSI et al., 2010). Vale comentar que a transmissão por transfusão de sangue ocorre apenas em países onde o controle e fiscalização de bancos de sangue é deficiente. Devido a alguns surtos de doença de Chagas por via oral (DCHO) em alguns países da América do Sul pela ingestão de alimentos contaminados, alguns autores também consideram os alimentos como forma de transmissão (ROQUE et al., 2013; PEREIRA et al., 2009). Considerada a forma mais comum em humanos, a transmissão vetorial é responsável pela contaminação em 80-90% das infecções de DCH. Nesse tipo de transmissão, o vetor é um inseto triatomíneo hematófago. Apesar de existirem mais de 130 espécies dessa subfamília, apenas alguns poucos podem ser vetores do T. cruzi, entre eles estão Triatoma infestans (Figura 1), Rhodnius proxlixus e Triatoma dimidiata (RASSI et al., 2010). 1 Figura 1: Imagem do Triatoma infestans, o barbeiro, principal vetor da doença de Chagas. Fonte: http://www.saudicas.com.br/doenca-de-chagas. A infecção ocorre quando o inseto deposita suas fezes ou urina, contendo o T. cruzi, sobre a pele do indivíduo, que por sua vez coça a pele devido à irritação e, assim, insere o parasito em seu organismo através do ferimento promovido pela picada. Esse ferimento é chamado de chagoma. Quando a infecção ocorre na conjuntiva ocular, o ferimento é conhecido como sinal de Romaña (MORTARA, 2005; LENT, 1962) (Figura 2). Figura 2: Ilustração do sinal de Romaña. Fonte: http://anotacoesdalua.blogspot.com.br/2010/12/doenca-de-chagas.html. A doença de Chagas apresenta duas principais fases: uma aguda e uma crônica. Na fase aguda há um período de incubação de 4 a 10 dias, que é o suficiente para que ocorra o desenvolvimento de até duas gerações do parasito 2 (BRENER & ANDRADE, 1979). Cerca de 1-2% dos casos nesta fase apresentaram sintomas como febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, aumento do baço e do fígado e possuem duração de até 8 semanas. Como a febre e o mal-estar desaparecem depois de algum tempo, o indivíduo, apesar de infectado, não apresenta sintomas da doença. Já a fase crônica é marcada por febres prolongadas, dores de cabeça, edema de face ou membros, manchas na pele, aumento do fígado ou baço, cardiopatia aguda e outros sintomas. Durante essa fase é possível que ocorram lesões na musculatura do coração, intestino e esôfago. Devido a essas lesões ocorrem doenças como a cardite chagásica, que leva ao aumento do coração e anormalidade no ritmo cardíaco, o megacólon, que devido ao aumento do órgão podem resultar em retenção das fezes, e o megaesôfago, que tem por principal sintoma a regurgitação dos alimentos ingeridos (Figura 3) (COURA & BORGESPEREIRA, 2010). A) B) Figura 3: Coração com cardiopatia chagásica (A) e radiografia do tórax de um paciente com esofagopatia chagásica (B). Fontes: (A) http://www.relampa.org.br/detalhe_artigo.asp?id=666. (B) http://www.spenzieri.com.br/2012/04/29/megaesofago. 3 O T. cruzi apresenta diferentes estágios de desenvolvimento com alterações morfológicas bastante evidenciadas entre si: epimastigota, amastigota e tripomastigota. A primeira forma é encontrada apenas no inseto, já as outras duas formas são encontradas em humanos e são as responsáveis pela disseminação e aumento da infecção nesse hospedeiro. Na forma mais comum de transmissão um inseto vetor do parasito suga o sangue de uma pessoa já infectada, se contaminando com a forma tripomastigota. Em seguida, no tubo digestivo do inseto, o parasito atinge a forma epimastigota e finalmente a forma tripomastigota metacíclica. O inseto contaminado, ao sugar o sangue de outra pessoa, elimina suas dejeções infectadas com o parasito na forma tripomastigota metacíclica. O indivíduo, por sua vez, coça o local da picada e insere o parasito em seu organismo. No local de infecção, o parasito se transforma na forma amastigota e inicia uma série de reproduções assexuadas, e que logo após se transformam em tripomastigotas. O elevado número de parasitos e seu movimento flagelar, promovem a lise da célula. As formas tripomastigotas liberadas podem invadir novas células ainda no local da infecção ou cair no sistema circulatório, podendo assim alcançar outros tecidos do hospedeiro. Dessa forma fecha-se o ciclo de vida do parasito (Figura 4) (Revisto em MORTARA et al., 2005). Figura 4: Ciclo de vida do Trypanosoma cruzi (Revisto em MORTARA et al., 2005). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Chagas_ciclo_de_doen%C3%A7a.JPG. 4 A transmissão oral da DCH é uma forma incomum de transmissão do T. cruzi e negligenciada por muitos agentes sanitários (BENCHIMOL-BARBOSA, 2009). No entanto, desde um dos primeiro surtos regionais no interior do Paraná em 1996, é um tipo de transmissão que vem se tornando cada vez mais frequente. É possível agrupar a DCH em 5 séries de países, de acordo com suas características epidemiológicas, ou seja, tipo de transmissão, vetores e programas de controle de transfusão (Tabela 1). A distribuição geográfica da doença de Chagas pode ser vista na Figura 5. 5 Tabela 1: Características epidemiológicas da DCH nas Américas e outros países do mundoa. PAÍSES Argentina, Bolívia, GRUPO I Brasil, Chile, Equador, Honduras, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS - Presença de ciclos domésticos e peridomésticos; - Predominância de doença de Chagas crônica; - Forma digestiva do T. cruzi praticamente ausente acima da linha do Equador; - Ciclo de vida selvagem presente em ambientes naturais; - Existência de programas de controle de vetores e de transfusão; Colômbia, Costa Rica e GRUPO II México - Presença de ciclos domésticos e peridomésticos com predominância de doença de Chagas crônica; - Doadores infectados; - Existência de ciclos de vida selvagem; - Falta de programas de controle; El Salvador, Nicarágua, GRUPO III Guatemala e Panamá - Ciclos de vida doméstico, peridoméstico e selvagem presentes; - Pouca informação sobre casos da doença em humanos; - Programas de controle ainda em estágio inicial; Antilhas, Bahamas, GRUPO IV Belize, Cuba, Guiana, Guiana Francesa, Haiti, Jamaica e Suriname EUA, Canadá, Espanha, GRUPO V França, Suíça, Japão, - Apresenta ciclo de vida selvagem - Raros casos humanos; - Pouca informação clínica; - Ausência de programas de controle; - São alvos de um novo problema epidemiológico, econômico, social e político Austrália e Países devido à internacionalização da DCH Asiáticos Emergentes através da imigração legal ou ilegal; a Adaptado de COURA & DIAS, 2009 6 Figura 5: Distribuição geográfica de indivíduos infectados com a DCH pelo mundo. Fonte: RASSI et al., 2010. No dia 9 de junho de 2006, o Brasil recebeu o certificado de área livre da DCH transmitida pelo principal vetor, o Triatoma infestans, pela Organização PanAmericana de Saúde (OPAS) em conjunto com a WHO (COURA & CASTRO, 2002). Apesar disso, no mesmo ano, mais 94 casos de DCH transmitida via oral surgiram. No ano seguinte, foram reportados oficialmente cerca de 10 casos de DCH via oral por mês, ou seja, um aumento médio anual de 2,2 casos por mês. Devido às dificuldades de acesso às regiões onde a maioria dos casos ocorre, muitos são subestimados. Diferentemente de outros surtos regionais, a regularidade de casos de DCH via oral na região amazônica, por exemplo, se mostra como um relevante indicador regional. Foi liberado pelo Ministério da Saúde uma cartilha dando instruções ao departamentos regionais responsáveis a tomar as medidas preventivas necessárias. A distribuição geográfica da DCH via oral também deve ser levada em conta (Figura 6). Percebe-se que as áreas nas quais a DCH relacionada ao triatomíneo era predominante, não se superpõem às áreas da DCH via oral. Isso mostra que o ciclo de vida selvagem do parasito ainda está ativo onde a doença não havia sido erradicada. A medida que o homem avança em direção à Amazônia, é possível que se torne parte do ciclo selvagem da DCH (BENCHIMOL-BARBOSA, 2009). 7 Figura 6: Distribuição geográfica da DCH no Brasil. A linha pontilhada demarca a região endêmica em cinza e em laranja estão as áreas de transmissão via oral da doença. Fonte: BENCHIMOL-BARBOSA, 2009. Benchimol-Barbosa (2009) defende que um estudo de sobrevivência do T. cruzi pode auxiliar no combate e na prevenção da DCH via oral. Descobriu-se que o parasito sobrevive até 9 horas após a contaminação na fruta de Açaí. A utilização de hipoclorito não leva à morte imediata do parasito. No entanto, em temperaturas de até 5° C, o T. cruzi sobrevive até 12 horas, e em temperaturas a partir de -20° C o parasito não resiste 2 horas. Logo, o uso de técnicas de pasteurização podem ser eficazes para inativar o parasito. De maneira geral no Brasil, os resultados epidemiológicos dos últimos anos têm se mostrado bastante satisfatórios. Programas de controle da transmissão transfusional e da transmissão vetorial foram implementados, e como dito anteriormente, o país recebeu o certificado OPAS/WHO de eliminação da DCH pelo Triatoma infestans, representando um alto impacto na redução dos casos de morbidade e mortalidade relacionados à doença. Apesar da considerável melhoria no controle da transmissão e da infecção, muitas pessoas ainda estão infectadas e outras expostas à uma possível contaminação. Por isso, ainda se torna necessário não só a extensão e a melhoria de estratégias de controle, como também a busca de novos quimioterápicos alternativos para o tratamento da DCH, uma vez que os fármacos hoje disponíveis no mercado são pouco eficazes ou seguros (COURA & CASTRO, 2002). Devido ao alto custo e complexidade na pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos, as grandes indústrias farmacêuticas vem mudando seu foco, a 8 favor do desenvolvimento de fármacos para o tratamento prolongado de doenças crônicas (PROJAN, 2003). Neste contexto, se incluem as doenças tropicais negligenciadas. De acordo com Pedrique et al. (2013), de 850 novos fármacos desenvolvidos entre 2000 e 2011, apenas 4% foram destinados ao tratamento de doenças tropicais. Este panorama indica a importância de investimentos Governamentais para que instituições de pesquisa de locais acometidos com estas doenças, possam desenvolver novos candidatos a fármacos potentes e seguros para o controle destas doenças (CARVALHO, 2011). 1.2 Quimioterapia da Doença de Chagas Historicamente, a quimioterapia da doença de Chagas pode ser dividida em três partes, sendo que a primeira vai desde a sua descoberta em 1909 por Carlos Chagas até 1935, ano da publicação do “Manual de Doenças Tropicais e Infectuosas”. Esse período não foi marcado por grandes descobertas e avanços no que diz respeito à quimioterapia da doença. Na segunda fase, que se estende de 1936 a 1960, muitos resultados controversos foram gerados devido à experimentação empírica de diversos compostos no combate à doença. Apesar destes esforços empíricos, a DCH permaneceu sem algum tratamento eficaz por muitas décadas desde a sua descoberta (COURA & CASTRO, 2002). Somente a partir de 1961, inicia-se a terceira fase da quimioterapia da doença de Chagas, na qual foi possível observar estudos que comprovavam claramente a eficácia de substâncias como a nitrofurazona (1) (5-nitro-furaldeido-semicarbazona), que foi utilizada em modelos experimentais (URBINA & DOCAMPO, 2003) de infecção com T. cruzi em camundongos. No entanto, a alta atividade antiparasitária da Nitrofurazona (1) (Figura 7) estava fortemente relacionada a uma alta citotoxicidade, de forma que os pacientes não suportavam os efeitos colaterais nas doses e tempos necessários para a cura. (SILVA, 2011). Figura 7: Estrutura química da Nitrofurazona (1). Fonte: Elaborada pelo autor. 9 1.2.1 Compostos Nitro-heteroaromáticos Apesar dos resultados negativos obtidos com a nitrofurazona (1), essa substância abriu as portas para um novo campo na pesquisa de fármacos com melhor perfil de atividade anti-T. cruzi e menor toxicidade, para serem utilizados no tratamento da doença de Chagas. Desde então, compostos contendo um grupo nitro ligado a um anel heteroaromático, uma herança da nitrofurazona (1), têm sido utilizados no tratamento da DCH devido à sua notável contribuição na atividade antiparasitária, tanto in vitro quanto in vivo. 1.2.1.1 Nifurtimox e Benzonidazol Esforços dos pesquisadores, no final da década de 60 e início da década de 70, levaram à descoberta dos dois compostos que já foram um dos mais utilizados até hoje: nifurtimox (NFX) (2) e o benzonidazol (BZN) (3) (Figura 8). O primeiro (3metil-4-(5’-nitrofurfurilidenoamina)tetraidro-4H-1,4-tiazina-1,1-dióxido), comercializado sob o nome de Lampit®(Bayer), apresentou a maior atividade dentre os derivados da mesma classe testados. Já o segundo (N-benzil-2-nitroimidazol-1acetamida), é um derivado 2-nitroimidazólico com destacada atividade in vitro e in vivo . No início, as duas substâncias tinham como objetivo o tratamento da DCH na fase aguda, porém apenas o benzonidazol (3) permanece até hoje como sendo o único fármaco disponível para o tratamento específico da infecção por T. cruzi (URBINA, 2010). Atualmente o benzonidazol (3) está sendo comercializado pelo Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (LAFEPE). Figura 8: Estrutura química dos derivados nitro-heterocíclicos NFX (2) e BZN (3). Fonte: Elaborada pelo autor. Com cerca de 80% de cura, ambas substâncias apresentaram alta atividade antiparasitária na fase aguda da doença. Apesar dessa alta porcentagem de cura, 10 Kirchhoff (1999) mostrou que uma variação na eficácia do tratamento ocorre devido à localização geográfica. Isso acontece, pois diferentes cepas do parasito, que estão em diferentes regiões, possuem diferentes suscetibilidades aos fármacos (CANÇADO, 1999). Ainda não é claro se algum desses fármacos apresenta atividade antiparasitária no início da fase crônica. Um estudo com adolescentes de 14 anos infectados, e já no estágio crônica da doença, foi realizado por diversos pesquisadores, que obtiveram resultados díspares. Alguns apresentaram resultados positivos com 60-70% de cura parasitológica (ANDRADE et al. 2004). Já outros não conseguiram repetir a taxa de eficácia obtida anteriormente (YUN et al., 2009). Sendo mais de 80% dos casos de DCH caracterizados na fase crônica, a descoberta de terapias eficazes nesta fase ainda representa o maior desafio para os pesquisadores da área. Tanto o NFX (2) quanto o BZN (3) apresentam pouca ou nenhuma atividade anti-T. cruzi nessa fase (CANÇADO, 1999, 2002). Apesar de ainda não estar claro o porquê da diferença de atividade destes fármacos nas fases aguda e crônica, Urbina & Docampo (2003) defendem que isso tenha relação com propriedades farmacocinéticas desfavoráveis, como a penetração limitada em tecidos, a qual é essencial na fase crônica, já que, nesse estágio, o parasito adentra muito mais o tecidos do hospedeiro e se multiplica de maneira mais lenta. Apesar destes resultados, recentemente, no ano de 2011, foi implementado o projeto de uso pediátrico do BZN (3), pelo DNDi juntamente com o LAFEPE. Até então não se tinha um tratamento eficaz, com medicamentos nas doses corretas, sobre o parasito da doença em crianças. A formulação pediátrica foi liberada pela ANVISA em dezembro de 2011. Os resultados do uso do medicamento na formulação pediátrica devem ser disponibilizados neste ano (HOTEZ, P.J. et al., 2013). De acordo com alguns estudos, pacientes acometidos com a DCH crônica e tratados com BZN (3), apesar de não terem sido curados por completo, apresentaram uma diminuição de disfunções cardíacas e uma melhoria em seu quadro clínico geral (VIOTTI & VIGLIANO, 2007). Tais resultados poderiam ser explicados pelo efeito que o fármaco tem sobre a redução do número de parasitos, 11 que resulta em uma diminuição do processo inflamatório dos tecidos atingidos (TARLETON et al., 2007). Em contrapartida, outras publicações não confirmaram essa melhoria nas condições clínicas destes pacientes (SOSA-ESTANI & SEGURA, 2006). A incerteza da eficácia nestes estudos se deve a falta de marcadores biológicos confiáveis, que possam indicar com mais precisão se o paciente foi ou não curado, uma vez que na fase crônica da doença os níveis de parasito no sangue são tão pequenos que nem o método de detecção mais sensível, PCR (Polymerase Chain Reaction que quer dizer Reação em Cadeia da Polimerase em português), pode ser capaz de identifica-los (MARTINS et al., 2008). A sorologia convencional, além de pouco sensível ao parasito, é muito demorada na apuração da infecção em hospedeiros crônicos. É isso que faz com que a fase crônica da doença se torne um dos maiores obstáculos na pesquisa por novos candidatos a fármacos no combate ao parasito (TARLETON et al., 2007). Muitas vezes, a descontinuação do tratamento com estes fármacos está ligada aos efeitos adversos. No caso do NFX (2) estes efeitos são a perda de peso devido à náuseas e vômito, insônia, irritabilidade e polineuropatia periférica. Já para o BZN (3), os efeitos colaterais indesejados são síndromes gastrointestinais, dermopatia alérgica, depressão da medula óssa, agranulocitose, púrpura trombocitopênica, parestesia, e polineurite de nervos periféricos (RASSI et al., 2009). A região em que o paciente vive, sua idade e a qualidade do tratamento são variáveis associadas à ocorrência dos efeitos adversos acima citados. Apesar de terem sido registrados e usados em tratamentos clínicos de pacientes acometidos com a DCH, os mecanismos de ação de ambos NFX (2) e BZN (3) não estavam totalmente elucidados, uma vez que seus desenvolvimento e descoberta foram feitos de maneira empírica. Estudos realizados nos anos 80 proporcionaram o entendimento básico de sua atividade farmacológica e toxicidade (URBINA, 2010). Demonstrou-se, com base na diferença dos mecanismos de detoxificação de parasitos e humanos, que o mecanismo de ação antiparasitária do NFX (2) estava relacionado ao estresse oxidativo, ou seja, com a formação de espécies reativas de oxigênio (EROs), resultantes da reação do oxigênio com metabólitos reduzidos do grupo 5-nitrofuranila. A maior parte dos tripanosomatídeos apresenta baixa ou 12 nenhuma atividade de enzimas como a superóxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPx) e catalase (CAT), usualmentete envolvidas na detoxificação de EROs em seres humanos. Sendo assim, as estratégias de detoxificação do parasito tem como base as reações metabólicas da enzima tripanotiona redutase (TR) (KRAUTH-SIEGEL, COMINI, & SCHLECKER, 2007). Atualmente, um dos mecanismos de ação mais aceito é aquele no qual derivados nitro-heterocíclicos, com estrutura básica R-NO2 (III, Figura 9), são inicialmente reduzidos por uma nitroredutase (NTR) do tipo I, a NADPH-citocromo P450 redutase. Considerando condições aeróbias, o nitro-ânion radical R-NO2•- (IV, Figura 9) formado, reage com o oxigênio molecular (O2), regenerando R-NO2 (III, Figura 9) e formando o ânion superóxido (O2•-), que em seguida é transformado em peróxido de hidrogênio (H2O2) pela SOD. O excesso da última espécie obtida, na presença do íon Fe2+, leva a formação, através da reação de Haber-Weiss, do radical hidroxila (OH•) (HABER & WEISS, 1932; KOPPENOL, 2002). Estas ERO’s formadas se ligam às macromoléculas do parasito provocando danos às suas estruturas moleculares (DÍAZ DE TORANZO, 1988). Quando células infectadas com o parasito foram tratadas com o NFX (2), foi observado a presença do nitro-ânion radical (III, Figura 9) por Ressonância de Spin Eletrônico, consumo de O 2, liberação de H2O2 e produção de O2•-. A administração deste fármaco gerou, em adultos, um efeito de inibição da reprodução do T. cruzi na mesma concentração sérica após dose única de 15 mg/Kg (DOCAMPO & MORENO, 1984). Além disso, MAYA et al. (1997) observou também uma diminuição nos níveis de tióis necessários ao parasito. Apesar do mecanismo apresentado acima ser bastante aceito, um estudo mostrou uma baixa detecção dos níveis de consumo de oxigênio durante a redução do fármaco utilizado no tratamento. Este mesmo estudo também mostrou que ao se tratar uma série de células que apresentavam altas taxas de peroxidases, os resultados foram similares aos encontrados em células que não possuíam estas enzimas de maneira tão expressiva (WILKINSON et al., 2000). Ocorre que as nitroredutases podem ser de diferentes tipos (Figura 9), podendo catalisar a reação de redução tanto em meio aeróbio quanto em meio anaeróbio. Neste estudo mostrou-se que houve a abertura do anel furano do NFX (2) com a formação de um 13 composto que se mostra tóxico em células parasitárias e mamíferas (WILKINSON et al., 2011). Neste contexto, um outro provável mecanismo de ação pode ser considerado para o NFX (2), no qual a redução do grupo nitro é uma reação que envolve a participação da NTR do tipo 1 e de 4 elétrons, formando primeiramente o intermediário nitroso (I, Figura 9) e em seguida o derivado hidroxilamino (II, Figura 9), ao invés do nitro-ânion radical (III, Figura 9). A formação do intermediário nitroso (I, Figura 9) também explica a redução nos níveis de tióis, uma vez que são compostos eletrofílicos (VIODÉ et al., 1999). A metabolização do derivado hidroxilamino (II, Figura 9) pode levar à formação do íon nitrênio, da amina, da nitrila insaturada, já mencionada anteriormente, e da nitrila saturada, como ilustra a Figura 10. Figura 9: Prováveis rotas de redução metabólica do grupo nitro nos derivados nitroheteroaromáticos (2) e (3). Fonte: Adaptada de SILVA, 2011. 14 Figura 10: Esquema geral de redução de nitrofuranos por nitroredutases do tipo 1. Fonte: WILKINSON, 2011. Já o mecanismo de ação do BZN (3) envolve uma séria de reações de redução que promovem a modificação covalente de macromoléculas (DOCAMPO, 1990). Desconsiderou-se o ciclo oxidativo como mecanismo para este fármaco, pois nas concentrações necessárias para inibir a forma epimastigota do parasito não foi observada a produção de O2•- e de H2O2, e apenas com concentrações superiores à 10 mM detectou-se a presença do nitro-ânion radical (IV) (DOCAMPO & MORENO, 1984; MORENO et al., 1982). Urbina (2010) relacionou esta diferença nos mecanismos de fármacos com estruturas parecidas devido à diferença de potencial redox de cada um, -260 mV para o NFX (2) e -380 mV para o BZN (3). 15 1.2.1.2 Megazol Muitos outros derivados nitrofurânicos e nitroimidazólicos foram testados no tratamento da DCH, apresentando atividades consideráveis contra as formas epimastigota e tripomastigota. No entanto, poucos fármacos sintetizados mostraram efeitos tão destacados quanto o megazol (4), [2-amino-5- (1-metil-5-nitro-2-imidazol2-il)1,3,4 tiadiazol] (Figura 11). Este derivado 1,3,4-tiadiazolil nitroimidazólico apresentou grande eficácia quando administrada em camundongos infectados com cepas de T. cruzi Y* e colombiana* quando comparada com o tratamento padrão utilizando NFX (2) e BZN (3). O megazol (4) além de apresentar atividade contra diferentes cepas do parasito, mostrou-se eficaz no tratamento da fase crônica da Doença do Sono em macacos (CHAUVIERE et al., 2003). O mecanismo de ação deste fármaco está relacionado a formação de EROs, e também à redução dos níveis de tióis no organismo do parasito. No entanto, o seu mecanismo de ação também é a causa de efeitos colaterais indesejáveis no organismo do hospedeiro. As EROs formadas interagem com o DNA do hospedeiro induzindo a mutagenicidade, que é um grave limitante do uso clínico desta substância (FERREIRA & FERREIRA, 1986; POLY et al., 2002; NESSLANY et al., 2004). Figura 11: Estrutura química do megazol (4). Fonte: Elaborada pelo autor. * O T. cruzi constitui-se de cepas ou subespécies com comportamentos e origens diferentes. A cepa Y, originária do Brasil, pertence ao grupo T. cruzi II e apresenta mediana virulência (MENEZES, 1968). Já a cepa Colombiana, que tem origem na Colômbia, pertece ao grupo de T. cruzi I e apresenta parasitemia de evolução lenta e resistência ao tratamento com Benzonidazol e Nifurtimox (ANDRADE et al., 2000). 16 1.3 Novas estratégias farmacoterapêuticas para o tratamento da Doença de Chagas O estudo de fármacos já aprovados para o tratamento de outras doenças e a elucidação de princípios ativos da plantas utilizadas na medicina popular se constituem interessantes estratégias para a identificação de novos quimioterápicos antiparasitários. Nas últimas duas décadas, novas abordagens na quimioterapia específica para a doença de Chagas tem sido feitas, uma vez que os atuais tratamentos disponíveis apresentam muitas limitações de eficácia e segurança, principalmente no caso de pacientes acometidos com a doença na fase crônica (URBINA, 2010). A identificação de alvos específicos em vias metabólicas importantes para o tripanosomatídeo foi possível na medida em que estudos dos aspectos biológicos, genéticos e evolucionários do parasito avançaram. A luz desses estudos diferentes grupos de pesquisa vem identificando compostos capazes de atuar em potenciais alvos de T. cruzi, através da modulação de diferentes enzimas que participam de importantes vias metabólicas (SOEIRO & CASTRO, 2009). 1.3.1 Tripanotiona Redutase (TR) Partindo de propostas e abordagens diferentes, muitos grupos de pesquisa identificaram como potenciais alvos quimioterapêuticos, as enzimas relacionadas à síntese e ao metabolismo redox da tripanotiona ([N1, N8-bis(glutationil)-espermidina) (SCHMIDT & KRAUTH-SIEGEL, 2002; PAULINO et al., 2005). Seu uso no lugar da glutationa e glutationa redutase como principal sistema de redução de tióis intracelulares é uma característica particular de parasitos da ordem dos Kinetoplastidos, da qual faz parte o T. cruzi, tornando essa rota bioquímica um potencial alvo na quimioterapia antiparasitária (URBINA & DOCAMPO, 2003). Os genes das enzimas presentes nesta via bioquímica foram clonados, expressados e validados, e as estruturas 3D de suas proteínas foram obtidas por cristalografia de raios X, incluindo a Tripanotiona Redutase (TR) e a Tripanotiona Sintase (TS) (SCHMIDT & KRAUTH-SIEGEL, 2002). Por isso, nos últimos 15 anos, o desenvolvimento específico de inibidores desta via metabólica tem sido um dos principais alvos dos grupos de pesquisa, resultando na identificação de 17 muitos compostos que apresentavam atividade tripanocida in vitro através da inibição da TR (CZECHOWICZ & WILHELM, 2007). O parasito usa a TR como mecanismo de defesa sobre o estresse oxidativo (Figura 13), uma vez que a enzima catalisa a redução da tripanotiona dissulfeto (T[S]2) (10) a tripanotiona ditiol (T[SH]2), numa reação NADPH-dependente, levando a uma série de reações com o objetivo de neutralizar EROs. Nos mamíferos, o ciclo redutivo da glutationa é similar ao da tripanotiona e é o principal sistema de defesa contra o estresse oxidativo. Neste caso, a Glutationa Redutase (GR), uma flavoenzima NADPH-dependente, reduz a Glutationa Dissulfeto (GSSG) (11) à Glutationa (GSH). Figura 12: Série de reações dependentes da TR e responsáveis pela neutralização de EROs. Fonte: SILVA, 2011. A principal diferença na estrutura molecular da T[S] 2 (5) e da GSSG (6) é a presença do resíduo de poliamina na primeira (Figura 13), além de diferenças no tamanho, carga e distribuição de sítios hidrofílicos e hidrofóbicos na molécula. Essas diferenças são as razões pelas quais a TR é um dos alvos de estudo quando se trata do planejamento de fármacos no combate à DCH. Quando comparada ao metabólito da GR, o sítio ativo da TR acomoda melhor grupos volumosos devido à presença de resíduos carregados negativamente e de regiões hidrofóbicas, possibilitando não apenas interações eletrostáticas, como é o caso da GR, mas também interações de van der Waals com o substrato (OLIVEIRA et al., 2008). 18 Figura 13: Estruturas químicas da GSSG (5) e da T[S]2 (6). Fonte: Elaborada pelo autor. Dois conhecidos protótipos inibidores in vitro da TR, a tioridazina (7) e a clomepramina (8) (Figura 14), quando testados em camundongos infectados na fase aguda da DCH, mostraram redução da taxa de parasitos, aumentaram a taxa de sobrevivência, além de evitarem danos ao coração e alterações eletrocardiográficas dos animais utilizados no modelo (LOPRESTI et al., 2004; RIVAROLA et al., 2005). No entanto, a seletividade de ambos os fármacos para a 19 TR não foi cofirmada pelos estudos e não houve cura completa dos animais testados. Sendo assim, apesar de ter sido amplamente demonstrado que a síntese e o metabolismo da tripanotiona são essenciais para o funcionamento do organismo do parasito, ainda não se pode dizer com clareza qual enzima desta via metabólica apresenta um verdadeiro potencial para o desenvolvimento de fármacos antiparasitários. Ainda falta comprovação da seletividade e eficácia, in vitro ou in vivo, de fármacos sintetizados com intuito de inibir a TR. Urbina (2010) considera que uma alternativa à TR seja a tripanotiona sintase (TS), já que esta apresenta uma atividade enzimática muito menor em relação à TR e suas características moleculares são mais favoráveis, por exemplo uma ampla cavidade hidrofóbica no seu sítio ativo. Figura 14: Estruturas químicas da tioridazina (7) e da clomepramina (8). Fonte: Elaborada pelo autor 1.3.2 Cruzaína ou Cruzipaína Presente em todo o ciclo metabólico do T. cruzi, a cruzaína (Cz) ou GP57/51, análoga à papaína, é uma das principais enzimas proteolíticas deste parasito. Nos diferentes estágios do ciclo de vida do parasito, a Cz é expressa de diferentes maneiras, sendo sua seletividade maior na fase epimastigota (CAMPETELLA et al., 1992). Apesar de existirem isoformas da enzima associadas à membrana plasmática e algumas excretadas no meio, a maioria delas é lisossomal. No caso da forma epimastigota do T. cruzi, a Cz se localiza em organelas pré-lisossomais chamadas reservosomos. A Cz é uma endoproteinase responsável pela nutrição do 20 T. cruzi, podendo digerir proteínas como a caseína, a hemoglobina e a albumina. Ela também está relacionada à evasão dos mecanismos de defesa do hospedeiro, à remodelação da célula hospedeira e ao bloqueio de substratos cromogênicos e fluorogênicos (CAZZULO, 2002). A análise da estrutura da Cz (Figura 15) mostra que substratos com resíduos de arginina (Arg) e lisina (Lys) são melhores aceitos na posição P1 e que resíduos mais hidrofóbicos ou carregados positivamente são preferíveis na posição P2. Peptídeos com grupos hidrofóbicos volumosos são melhores acomodados nas posições P2 e P3, como é o caso das cadeias oxidadas A e B da insulina, nas quais os resíduos de arginina não são os únicos hidrolisados. Outros estudos mostram uma alta especificidade da posição P2’ para resíduos de prolina (Pro). Já as posições P1’ e P3 reconhecem um leque maior de opções de resíduos de aminoácidos, com alguma preferência por resíduos com cargas positivas. Estudos apontaram que o uso de substratos fluorogênicos com diferentes resíduos de aminoácidos, conservando-se apenas a posição P1 com um resíduo de arginina, mostrou que, na posição P2, a enzima tinha preferência por leucina (Leu) > tirosina (Tyr) > fenilalanina (Phe) > valina (Val) (HARRIS et al., 2000). Essa especificidade de substratos encontrada em Cz tem muito a ver com a presença de um resíduo de glutamato (Glu205) na posição 205 da enzima, localizado no topo da bolsa S2 (LIMA et al., 1992), uma importante característica no auxílio ao desenvolvimento de inibidores seletivos. Figura 15: Representação esquemática dos principais subsítios do sítio catalítico da cruzaína. Fonte: SILVA, 2011. 21 Derivados peptídicos e os peptideomiméticos funcionalizados, apresentando grupamentos eletrofílicos vinil sulfona, fluorometilcetona e vinilcetona, foram os primeiros a serem utilizados nos estudos de inibição da cruzaína. A N-metil-piperazina-ureia-F-hF-vinil-sulfona-fenil, também conhecida como CRA-3316 ou K-777 (9) (Figura 16), é um potente inibidor da Cz. Em ensaios in vitro, o K-777 (9) impediu não só a proliferação das formas epimastigotas e amastigotas como também a ocorrência da metaciclogênese i.e. a transformação de epimastigotas em tripomastigotas metacíclicas. Quando testou-se o o K-777 (9) em cobaias infectadas com ambas fases aguda e crônica, percebeu-se uma diminuição considerável nos níveis de parasitos e um aumento do tempo de vida dos animais (ENGEL et al., 1998). Barr et al. (2005) apresentou um estudo no qual, apesar de não terem sido completamente curados quando tratados com K-777 (9), cães infectados com o parasito tiveram significativas reduções nos danos cardíacos causados pelo parasito. Este composto foi anunciado no ano de 2002 como uma nova terapia para a DCH pelo Instituto para Uma Saúde Mundial (IOWH-Institute for One World Health) e o Instituto Nacional de Saúde (National Institute of Health). No entanto, 3 anos depois o projeto foi desativado devido à hepatoxicidade e dificuldades na produção da substância. Os custos das próximas etapas de implementação do K-777 no mercado estão estimados em $ 2,5 milhões de dólares (Disponível em http://oneworldhealth.org/diseases/chagas.php acessado em 04/07/2013). Nos últimos anos, novos potenciais inibidores da Cz, com atividade in vitro contra T. cruzi tiosemicarbazonas tem e sido identificados. semicarbazonas, Baseados inibidores em esqueletos não-peptídicos tem de sido identificados, como o derivado (10) (Figura 16) (URBINA, 2010). Outros pesquisadores descreveram estudos de síntese e caracterização de macrociclos apresentando o grupo vinil-sulfona, os quais se mostraram bastante ativos contra Cz e rodesaína, uma cisteinil protease semelhante à Cz (CHEN et al., 2008). Acil e alquil-oximetil cetonas foram identificadas por Brak et al. (2008) como sendo inibidores de Cz, sendo capazes de eliminar, sem efeitos indesejados para as células hospedeiras, o parasita intracelular. O desenvolvimento estrutural, a síntese e a atividade tripanocida de quinoxalina-N-acilidrazonas foi feita por Romeiro et al. 22 (2009) e apresentada como sendo inibidoras da cruzipaína. No entanto, os testes foram feitos usando formas epimastigotas, que são extracelulares, e tem menor relevância no tratamento da DCH. Figura 16: Estrutura química de dois inibidores de cruzipaína: K-777 (9) e ariltiosemicarbazona (10). Fonte: Elaborada pelo autor. De maneira geral, a cruzipaína pode ser indicada como um alvo para a quimioterapia sobre o T. cruzi, uma vez que, tanto os trabalhos citados anteriormente quanto patentes descrevendo inibidores desta enzima já registradas, suportam essa hipótese. No entanto, ainda há incertezas referentes à atividade de inibidores peptídicos, enquanto que inibidores não-peptídicos ainda estão nos primeiros estágios de pesquisa (URBINA, 2010). 1.3.3 Biossíntese de Esteróis Os esteróis são substâncias de natureza lipídica com importante papel estrutural na membrana plasmática de células eucarióticas. Além disso, são essenciais na regulação de propriedades físico-químicas da membrana, como por exemplo permeabilidade e fluidez. Também se fazem presentes na regulação do ciclo celular e no metabolismo aeróbico da célula (DAUM et al., 1998). Em células eucarióticas de mamíferos, o produto final da biossíntese de esteróis é o colesterol, enquanto que fungos, plantas e protozoários produzem, com pequenas diferenças entre eles, 24-alquil esteróis. A Figura 17 mostra a via biossintética de esteróis na fase epimastigota de T. cruzi, tendo como 23 produtos finais o ergosterol e seu análogo apresentando o grupo etila em C24. Já no estágio amastigota de T. cruzi, os esteróis mais produzidos são o fungisterol (11) e seu análogo etilado em C-24 (12) (LIENDO et al., 1998, 1999). Figura 17: Biossíntese de esteróis de parasitos na fase epimastigota de T. cruzi (Adaptado de BUCKNER & URBINA, 2012). *Esta etapa da biossíntese de esteróis ocorre mediante uma sequência de 3 oxidações , iniciando-se com o eburicol, e tendo como catalisadores a CYP51 e NADPH, que promovem a retirada do grupamento 14α-metila. 24 O parasito no estágio amastigota, ou seja, dentro das células do hospedeiro mamífero, se aproveita da biossíntese de esteróis do mamífero, incorporando alguns destes esteróis à sua membrana. Apesar disso, seu metabolismo tem necessidade de síntese de novo de esteróis para sua sobrevivência em todos os estágios de seu ciclo de vida (URBINA et al., 1998). Na biossíntese de esteróis tanto em animais (colesterol) quanto em fungos, plantas e protozoários (24-alquil-esteróis), é necessário que ocorra a remoção do grupo 14α-metila dos esteróis precursores. A enzima esterol C14-demetilase (CYP51), pertencente à família das citocromos P450, é quem catalisa esta reação (BUCKNER & URBINA, 2012). Ela pode ter uma alteração no seu nome quando se trata de mamíferos e fungos, podendo ser chamada de lanosterol 14α-demetilase, uma vez que seu substrato é o lanosterol. No entanto, de acordo com estudos recentes (LEPESHEVA et al., 2006) no caso do T. cruzi, o substrato mais adequado é o eburicol (Figura 17). A remoção da metila C14 do esqueleto do esterol se dá através de uma sequência de 3 oxidações, levando à descarboxilação e à liberação de ácido fórmico (FISCHER et al., 1989). A redução (Fe3+ inativo para Fe2+ ativo) do ferro presente no sítio ativo heme é feita por uma enzima P-450 redutase, que utiliza NADPH no processo. A cada ciclo, por meio da transferência de elétrons do oxigênio e sua inclusão no substituinte C14 do substrato do esterol, o estado de oxidação do átomo de ferro é regenerado (LEPESHEVA et al., 2011). 1.3.3.1 Inibidores da Biossíntese de Esteróis (IBEs) Um potencial alvo farmacoterapêutico que tem sido estudado contra parasitos tripanosomatídeos são as vias biosintéticas de lipídeos. O efeito de inibidores da biossíntese do ergosterol (IBEs), tem sido investigados no combate à doença de Chagas, uma vez que para sua sobrevivência e crescimento, o T. cruzi necessita de esteróis endógenos (SILVA et al., 2006). 25 Desde os anos 70, derivados azólicos, que apresentavam atividade seletiva para inibição da CYP51, tem sido utilizados como fármacos antifúngicos. A partir dos anos 80, com o trabalho de Docampo et al. (1981) relatando que estes fármacos eram capazes de inibir o T. cruzi, muitos outros trabalhos surgiram abordando o uso da mesma estratégia terapêutica(BUCKNER & URBINA, 2012). O primeiro grupo de substâncias, que possuíam os grupos farmacofóricos imidazola (e.g. cetoconazol (15)) e triazola (e.g. itraconazol (16)), apresentaram significativa atividade in vitro. Contudo estas moléculas não foram bem sucedidas quando testadas in vivo (BUCKNER, 2008). O mecanismo de ação destes azóis em T. cruzi está diretamente relacionado à interrupção da biossíntese de esteróis, provavelmente pela ligação destas moléculas à CYP51 do parasito (URBINA et al., 1996, 1998; LIENDO et al., 1999). A medida que novos fármacos fungicidas eram lançados no mercado farmacêutico, vários eram também testados sobre o T. cruzi. Desses estudos resultou a identificação do posaconazol (15) (Noxafil®, Merck) (MOLINA et al., 2000) e do ravuconazol (16) (Eisai Co., Tóquio, Japão), os quais apresentam potência e seletividade adequadas sobre o T. cruzi (DINIZ et al., 2010). 26 Figura 18: Estruturas químicas do posaconazol (15) e do ravuconazol (16). Apresentando um amplo perfil de ação antifúngica e adequado perfil de segurança, o posaconazol (15) foi clinicamente aprovado para venda em 2006. Sendo assim, com o objetivo de evitar os custos e riscos de se desenvolver uma nova substância, testou-se o posaconazol (15) contra T. cruzi (BUCKNER & URBINA, 2012). O posaconazol (15) apresenta uma alta porcentagem de cura em animais infectados com o parasito e também uma potente atividade contra cepas de T. cruzi resistentes ao nifurtimox (2) e ao benzonidazol (3). Além de estabilizar a estrutura terciária da proteína, as interações com os aminoácidos de cadeia lateral do sítio ativo da CYP51 e com a parte hidrofóbica do canal de acesso ao substrato, são provavelmente os motivos pelos quais o posaconazol (15) apresenta uma potente atividade contra T. cruzi (CHEN et al., 2010). Apesar disso, considerando as condições financeiras dos pacientes infectados, existe uma preocupação quanto a disponibilização deste fármaco no mercado, uma vez que o posaconazol (15) apresenta um alto custo de produção (URBINA, 2011). 27 Com uma alta atividade in vitro contra cepas de T. cruzi (MIC= 1 nM contra a forma amastigota intracelular), o ravuconazol (16) apresenta mais um efeito supressor da doença que curativo, quando utilizado no tratamento de camundongos e cães. Isso se deve provavelmente ao seu tempo de meia vida no organismo destes animais, i.e. 4,5 e 8,8 horas, respectivamente. Já em humanos esse tempo de meia vida aumenta consideravelmente, podendo ser de até 8 dias. Combinando o dado anterior a um maior volume de distribuição, é possível atingir a cura em humanos pela alta taxa exposição dos tecidos ao fármaco (BUCKNER & URBINA, 2012). Como se trata de uma molécula de menor tamanho e mais simples que o posaconazol (15), o ravuconazol (16) se torna um candidato mais acessível no combate à doença de Chagas, de maneira que testes de fase II com um pró-farmaco desta substância já estão sendo realizados (CLAYTON, 2010). 1.4 Éteres de Oxima Ao longo dos anos, muitos estudos mostraram que éteres de oxima são eficazes no combate a infecções causadas por microrganismos. Dentre elas se destacam doenças causadas por fungos e bactérias (PARTHIBAN et al., 2005). Um dos fármacos mais conhecidos no tratamento de doenças causadas por fungos é o oxiconazol (17) (Figura 19), que possui uma subunidade O-benzil ligada a grupos azola e arila. Partindo-se deste fármaco, outros trabalhos mostraram que análogos do oxiconazol (17), contendo uma variedade de anéis heterociclos, também se apresentaram eficazes antifúngicos e antibactericidas (BHANDARI et al., 2009; PARTHIBAN et al., 2009). Figura 19: Estrutura química do Oxiconazol (17) 28 Sabe-se que compostos contendo preferencialmente nitroimidazóis e nitrofuranos apresentam atividade antiparasitária (DORÉ et al., 1987). Dentro deste grupo de compostos, o composto 5-nitro-2-furaldoxima (18) exibiu importante atividade anti-tricomonal e muitos derivados 5-nitroimidazol aldoximas apresentaram maior atividade tricomonicida que o metronidazol (19) (Figura 20), além de resultados positivos in vivo contra Entamoeba histolytica (WINKELMANN et al., 1977). Figura 20: Estruturas químicas do 5-nitro-2-furaldoxima (18) e do metronidazol (19). Em 1993, Delmas e colaboradores demonstraram que éteres de oxima ligados a um anel tiofeno, como o derivado (20) (Figura 21), apresentaram boa atividade contra E. histolytica, sendo até 5 vezes mais potentes que o metronidazol (18), usado como substância de referência (Figura 20). Figura 21: Estrutura química do éter de oxima tricomonicida (20). Com o objetivo de encontrar novos compostos ativos contra doenças parasitárias, um estudo realizado por Goebel e colaboradores (2008) no qual foram sintetizados derivados de piperidinas, mostrou que um dos produtos obtidos, um éter de oxima, era ativo contra plasmódios e tripanossomas. O interessante nesse estudo é que dois derivados O-benzil éteres de oxima (21 e 22) foram testados, sendo que apenas um deles apresentou atividade, i.e. o composto 22. A diferença entre eles 29 consiste em apenas um carbono espaçador (Figura 22) e a maior natureza eletrofílica de 22 que é uma aldoxima. Apesar de ter apresentado atividade significativa sobre os parasitos testados, o composto também apresentou uma alta citotoxicidade, que, de acordo com os autores, pode ser reduzida modificando-se o padrão de substituição (GOEBEL et al., 2008). Figura 22: Estrutura química dos O-benzil éteres de oxima (21) e (22). Em 2010, Holloway e colaboradores demonstram a alta seletividade de alguns éteres de oxima contra cepas de T. cruzi. Neste estudo, os autores mostram que os inibidores da TR, por eles sintetizados, são tóxicos aos tripanosomatídeos, como por exemplo a benzidril-tropinona oxima 23 (Figura 23) (HOLLOWAY et al, 2007; HOLLOWAY et al., 2009). Apesar dessa alta toxicidade, os autores perceberam que esse composto era altamente seletivo para T. cruzi, quando comparado com outros tripanosomatídeos (Tabela 2). Figura 23: Estrutura da benzidril-tropinona oxima (23). 30 Tabela 2: Atividade antiparasitária seletiva da benzidril-tropinona oxima (23)a. a Ensaio EC50 (μM) TR (T. cruzi) 35 P. falciparum 7,5 L. donovani >30 T. cruzi 0,11 T. brucei 3 Citotoxicidade 36 Adaptado de HOLLOWAY et al., 2010 Após um estudo da relação estrutura-atividade de diversos compostos derivados da benzidril-tropinona oxima (23), os autores chegaram a conclusão de que os grupos arila e o anel tropano são importantes na atividade deste composto. Também demonstraram que a introdução de uma cadeia carbônica entre o grupo aril e o grupo oxima levava à uma diminuição da atividade tripanocida e que a restrição dos anéis levava à total perda desta atividade (HOLLOWAY et al., 2010). Sendo assim os autores decidiram substituir o átomo cloro ligado ao anel aromático por outros átomos de halogênio, como o bromo, flúor e o iodo, e o resultado foi positivo, com um aumento na atividade desses compostos quando comparados a benzidril tropinona oxima (23) (Tabela 3) (HOLLOWAY et al., 2010). 31 Tabela 3: Estudo de relação estrutura-atividade de análogos da benzidril-tropinona oxima (23)a Composto EC50 (μM) R T. Citotoxicidadeb cruzi 23 Cl 0,07 15 24 F 0,8 50 25 Br 0,04 40 26 I 0,04 39 27 Me 0,3 51 28 CN 0,4 53 29 CF3 0,03 35 a Adaptado de HOLLOWAY et al., 2010 b Cepas L-6 de células do mioblasto esquelético de ratos; podofilotoxina foi usada como controle. EC50 14nM 32 2 . OBJETIVOS No âmbito de uma linha de pesquisa que visa obter novos padrões moleculares úteis no tratamento de doenças tropicais, em especial a Doença de Chagas, este trabalho teve os seguintes objetivos: - Planejar uma nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos aplicando os conceitos de hibridação molecular e isosterismo de anéis; - Sintetizar 6 novos derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) (Figura 24), utilizando rotas sintéticas viáveis, seguras e reprodutivas; - Avaliar sua atividade tripanocida, in vitro, em uma das formas de relevância clínica, tripomastigota, utilizando metodologias consolidadas na literatura; Figura 24: Representação estrutural dos novos O-benzil éteres de oxima (30 - 35). 33 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Planejamento estrutural da nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos Os novos derivados derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos foram planejados estruturalmente, explorando o conceito de hibridação molecular (BARREIRO & FRAGA, 2008; VIEGAS-Jr et al., 2007) de dois potentes antiprotozoários, o 5-nitrotiofenil éter de oxima tricomonicida 20 (DELMAS et al., 1993) e o derivado O-benzil éter de oxima tripanocida 22 (GOEBEL et al., 2008) (Figura 25). Figura 25: Planejamento estrutural dos novos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) 34 Os novos derivados éteres de oxima (30 – 35) foram planejados como híbridos moleculares de dois éteres de oxima (20) e (22), com a intenção de atingir dois possíveis alvos moleculares distintos do T. cruzi. (BARREIRO & FRAGA, 2008) Na Figura 25 podemos observar que a subunidade contendo o anel 5nitrotiofeno (A) sofreu uma troca bioisostérica pelo anel nitroimidazólico. Já os grupamentos nitro e oxima foram mantidos, visto que são de fundamental importância para o perfil de atividade sobre o T. cruzi. A partir deste planejamento foram sintetizados diferentes derivados éteres de oxima nitroimidazólicos com variação dos substituintes fenila, buscando avaliar como o efeito estereoeletrônico dos diferentes substituintes poderia influenciar o perfil antiparasitário desta nova série de compostos nitroimidazólicos (30 - 35) (Figura 26). Figura 26: Novos derivados de éter de oxima nitroimidazólicos planejados estruturalmente (30 - 35). 35 3.2 Análise Retrossintética A metodologia sintética proposta para a preparação da nova série de Obenzil éteres de oximas nitroimidazólicos foi baseada na análise retrossintética descrita na figura 27 abaixo. Figura 27: Análise retrossintética dos novos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35). IGF= Interconversão de Grupos Funcionais. Pela desconexão da ligação O‒C (etapa a, Figura 27) foi possível evidenciar a oxima nitroimidazólica (36) como composto chave na preparação dos derivados nitro-imidazólicos alvos (30 - 35), explorando a reação de substituição nucleofílica com os correspondentes cloretos de benzila substituídos. O aldeído nitroimidazólico foi identificado como precursor da oxima nitroimidazólica, por meio da interconversão de grupos funcionais (IGF) (etapa b, Figura 27), explorando a reação de adição nucleofílica à carbonila seguida de eliminação. Por fim, através da desconexão da ligação C=O do aldeído nitroimidazólico (etapa c, Figura 27), pudemos identificar o composto de partida 1,2-dimetil-5-nitro- 36 imidazol (38) como precursor, explorando a oxidação quimiosseletiva da metila “pseudo-benzílica”. 3.3 Obtenção do aldeído nitroimidazólico (37) O aldeído nitroimidazólico (37) foi obtido através da reação de oxidação quimiosseletiva do derivado 1,2-dimetil-5-nitro-imidazol (38), via reação de fusão com SeO2 (Esquema 1) (VANELLE & MALDONADO et al., 1990). Essa reação é peculiar ao selênio e se assemelha bastante às reações pericíclicas. Ela se inicia com a formação de um ácido selênico pseudo-alílico (I) (Esquema 2). Devido à fraca ligação N‒Se neste intermediário, ocorre a decomposição ao álcool pseudo-alílico correspondente (II). A oxidação deste derivado continua até a formação do aldeído correspondente (37) (Revisto em CLAYDEN et al., 2007). Esquema 1: Esquema de síntese do aldeído nitroimidazólico 37 Esquema 2: Proposta mecanística para a síntese do aldeído nitroimidazólico (37). (CLAYDEN et al., 2007) No entanto, o rendimento observado para esta reação foi baixo (ca 40%), as condições operacionais descritas na referência são imprecisas e o produto obtido apresenta muitos subprodutos complexados ao Se(II). A reação é efetuada sem solvente à 140° C, temperatura de fusão de 1,2-dimetil-5-nitro-imidazol com quantidades estequiométricas de SeO2. A obtenção do aldeído nitroimidazólico utilizando este método tem como vantagem a rapidez de execução, que após a fusão dos reagentes, mantendo à temperatura constante à 140° C, dura apenas 5 minutos. Uma temperatura mais alta e um tempo de reação mais prolongado podem acarretar na descarbonilação do aldeído (VANELLE & MALDONADO et al., 1990). O aldeído intermediário foi isolado, no entanto suas propriedades físicoquímicas e suas análises por RMN, espectrometria de massas e IV não foram 38 realizadas devido as condições de reação, ou seja, formação de muitos subprodutos indesejáveis, e à instabilidade do composto, que sob atmosfera oxidativa, rapidamente se transforma em ácido carboxílico. 3.4 Síntese da Oxima Nitroimidazólica (36) A síntese da oxima nitroimidazólica (36) (Esquema 3) foi realizada a partir da adição nucleofílica da hidroxilamina à carbonila do aldeído, formando um intermediário tetraédrico instável, que após etapas de protonação do oxigênio, transferência de próton e desprotonação do nitrogênio da alquilhidroxilamina, resulta na formação do produto insaturado desejado (LIU et al., 2007)(Esquema 4). Esquema 3: Esquema de síntese da oxima nitroimidazólica. Esquema 4: Proposta mecanística para a síntese da oxima nitroimidazólica (36). A formação da oxima (36) pode ser observada pela absorção na região do Infravermelho (IV), uma vez que o aldeído imidazólico apresenta uma frequência de 39 vibração de aproximadamente 1710 cm-1, relativa à deformação axial da ligação C=O. Já o produto não apresenta mais essa banda no espectro de IV, mas sim uma frequência de vibração de aproximadamente 1400 cm-1, relativo à deformação axial da ligação C=N (Figura 28). Figura 28: Espectro de IV da oxima nitroimidazólica (36) apresentando a banda em ~1400 cm-1 referente à deformação axial da ligação C=N. É importante perceber que é o átomo nitrogênio, o mais nucleofílico da hidroxilamina, e não o átomo de oxigênio, que realiza o ataque inicial à carbonila do aldeído. Isso pode ser explicado pela diferença de eletronegatividade desses átomos, na qual o nitrogênio é menos eletronegativo que o oxigênio, e portanto, seus pares de elétrons não-ligantes estão mais disponíveis para o ataque à carbonila que os pares de elétrons não-ligantes do oxigênio. A oxima (36) apresentou em seu espectro de RMN de hidrogênio (Figura 29) assinalamentos referentes ao hidrogênio do grupo OH da oxima em 12,29 ppm e referentes ao hidrogênio ligado ao carbono imínico em 8,16 ppm (Figura 29). A presença de um único sinal referente ao hidrogênio imínico de 36 é um indicativo da formação diastereosseletiva do isômero geométrico, apresentando configuração 40 relativa (E), em função de sua menor energia de repulsão estereoeletrônica. Este perfil é suportado por resultados previamente publicados, que relatam a formação diastereosseletiva de (E)-aldoximas. (CHEN et al., 2012) Figura 29: RMN 1H da oxima nitroimidazólica (36), (400 MHz, DMSO-d6/TMS). O espectro de RMN de carbono da oxima (36) (Figura 30) apresentou deslocamentos do átomo de carbono imínico da oxima em 159,92 ppm (Figura 30), um valor menor que o do deslocamento do átomo de carbono de uma carbonila nitroimidazólica, ca 185 ppm. Aliados à análise por espectrometria de massas (EM/ESI (m/z) = 170,13), esses resultados confirmam que a oxima nitroimidazólica (36), composto chave na preparação dos compostos alvo deste trabalho, foi obtida. 41 Figura 30: RMN 13C da oxima nitroimidazólica (36), (400 MHz, DMSO-d6/TMS). 3.5 Síntese dos Novos Derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35) Os O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35), compostos alvo deste trabalho, foram obtidos pelo ataque nucleofílico do ânion da oxima (36) ao carbono sp3 dos cloretos de benzila correspondentes (Esquema 5). Inicialmente ocorre a desprotonação da OH da oxima nitroimidazólica pela base utilizada na reação, formando o ânion (I), que é o nucleófilo que irá atacar o cloreto de benzila, para formar o estado de transição (II). Em seguida ocorre com a liberação do grupo de saída, o cloreto, é obtida o éter de oxima nitroimidazólico, composto alvo da reação (Esquema 6). 42 Esquema 5: Esquema da síntese dos novos éteres de oxima nitroimidazólicos (30 35). Esquema 6: Proposta mecanística para a síntese dos éteres de oxima via SN2 (30 35). Apesar do mecanismo representador ser do tipo SN 2, o mecanismo desta reação vai depender do substituinte ligado na posição para do anel fenila, podendo ser mais SN1 ou mais SN2. Por exemplo, se o substituinte for o grupo nitro (-NO2), o mecanismo da reação será via SN2, uma vez que o grupo nitro, por ser retirador de elétron, não deixará o intermediário carbocátion (I) ser estabilizado por ressonância. Por outro lado, se o substituinte for o grupo CH3, o a reação ocorrerá principalmente via SN1. Outro fator que irá influenciar o mecanismo da reação é a escolha do solvente para a reação. O uso de um solvente polar prótico irá favorecer a reação via SN1, uma vez que a etapa rápida nesta reação envolve a formação de íons, ou seja, o estado de transição é mais polar que os reagentes no início da reação e é, 43 portanto, estabilizado pelo solvente polar. Já um solvente menos polar irá favorecer a ocorrência da reação via SN2, onde o estado de transição é menos polar que o nucleófilo usado, uma vez que a carga está deslocalizada entre dois átomos. Inicialmente a metodologia proposta por Reis et al. (1999) para a alquilação da oxima nitroimidazólica (36) foi explorada e consistiu no uso de THF anidro. Entretanto, a despeito da metodologia resultar na obtenção dos O-benzil éteres pirazólicos, objeto daquele estudo, em bons rendimentos (Figura 31), sua aplicação não logrou êxito na obtenção dos compostos-alvo de nosso estudo. Além disso, esta metodologia exigia o uso de solvente anidro e atmosfera inerte.(*) Figura 31: Derivado 1,3-benzodioxólico obtido com 61% de rendimento por Reis et al. (1999). Um grande obstáculo evidenciado nestas condições, diz respeito à dificuldade de solubilização do material de partida, a oxima nitroimidazólica (36), no solvente selecionado para a reação, o THF. A oxima não se solubilizava por completo e durante a reação, acompanhada por CCF, não foi possível observar a formação de produto algum. Sendo assim, após um estudo de solubilidade da oxima nitroimidazólica (36) em diversos solventes, optou-se pelo uso de outra metodologia, que consistia na utilização de uma mistura de DMSO/H (8:2) como solvente e de KOH como base (LI et al., 2002). Usando DMSO, ocorria a solubilização completa do material de partida, e a água atuava apenas para melhorar e aumentar a velocidade de solubilização da base. A despeito de se observar a formação de produto com o uso desta metodologia alternativa, através da análise por CCF, após o isolamento da reação, evidenciamos que esta não se completava, permanecendo resquícios do * Alternativamente, empregamos KOH como base em THF (LI et al., 2002) sob condições não anidras, sem entretanto ter sucesso na obtenção dos éteres de oxima (30 – 35) 44 material de partida, do cloreto de benzila correspondente e aparecimento de subprodutos da reação. Uma provável explicação para este perfil reside no fato da base utilizada estar competindo com o nucleófilo formado no meio reacional, impedindo que este alcançasse o sítio eletrofílico do cloreto de benzila, e fazendo com que quantidades expressivas do álcool benzílico correspondente se formassem. A solução encontrada foi a troca da base, KOH, por uma base menos nucleofílica, o t-BuOK, usando apenas DMSO como solvente, uma vez que o uso da mistura DMSO/H2O poderia levar à formação de t-BuOH e –OH pela reação da nova base com a água. Com a nova metodologia foi possível obter os novos compostos (30 – 35. A Tabela 4 ilustra as propriedades físico-químicas e os rendimentos dos novos derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) obtidos por meio da metodologia acima citada. 45 Tabela 4: Propriedades físico-químicas e rendimentos dos novos derivados Obenzila éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35). Composto R Fórmula Peso Rendimento Ponto de Tempo de Molecular Molecular (%) Fusão (º C) Reação (horas) 30 NO2 C12H11N5O5 305,25 89 ND 28 31 Cl C12H11ClN4O3 294,69 55 127,8 ± 1,6- 20 134,8 ± 0,8 32 H C12H12N4O3 260,25 89 101,8 ± 0,5- 24 106,8 ± 0,6 33 F C12H11FN4O3 278,24 74 100,3 ± 0,3- 24 103,1 ± 0,3 34 Br C12H11BrN4O3 339,14 65 141,3 ± 0,5- 22 144,1 ± 0,8 35 CH3 C13H14N4O3 274,28 80 116,4 ± 0,3- 24 117,5 ± 0,4 Os novos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) foram analisados por espectrometria de massas (EM), utilizando a técnica de eletrospray (ESI), e por espectroscopia na região do infravermelho (IV), como ilustrado na Tabela 5. 46 Tabela 5: Principais dados de EM-ESI e IV para os novos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) -1 IV – Pastilha de KBr – ν (cm ) Composto EM-ESI (m/z) 30 328,1 (M [Na ], 100%) + + 1602 (ν C=N); 1514 e 1343 (ν NO2); 1130 (ν CH2‒O) 31 + + 317,1 (M [Na ], 100%) 1614 (ν C=N); 1524 e 1346 (ν (NO2); 1136 (ν CH2‒O) + + 1607 (ν C=N); 1523 e 1370 (ν NO2) + + 1598 (ν C=N); 1537 e 1367 (ν NO2); 32 282,8 (M [Na ], 100%) 33 301,1 (M [Na ], 100%) 1131 (ν CH2‒O) 34 + + 361,1 (M [Na ], 100%) 1612 (ν C=N); 1524 e 1369 (ν NO2); 1137 (ν CH2‒O) 35 + + 296,9 (M [Na ], 100%) 1615 (ν C=N); 1525 e 1371 (ν NO2); 1134 (ν CH2‒O) No espectro na região do IV (Figura 32) para a nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35) sintetizados notou-se a presença da banda em ~1615 cm-1, correspondente ao estiramento da ligação C=N da oxima. Vale destacar ainda a banda em ~1130 cm-1, referente ao estiramento da ligação O‒CH2 do grupo funcional éter presente na molécula, e as banda em ~1520 e 1350 cm-1 referentes ao estiramento assimétrico e simétrico, respectivamente, das ligações N-O do grupamento nitro ligado ao anel imidazólico presente nos compostos alvo deste estudo. 47 Figura 32: Imagem do espectro de IV do derivado éter de oxima nitroimidazólico (35) (Pastilha de KBr). Os derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35) também foram caracterizados por RMN 1H e seus respectivos espectros mostraram que os hidrogênios N-CH3, H-C=N, H4, O-CH2- apresentaram deslocamentos químicos praticamente iguais, com exceção do derivado 30, que apresentou deslocamento dos hidrogênios H4 e O-CH2- em campo mais baixo que o encontrado para os outros derivados. Esse resultado pode ser explicado pela presença do grupamento nitro no anel aromático do composto 30, que acaba promovendo a desblindagem destes hidrogênios por efeito indutivo, o que acaba resultando no aumento do valor de deslocamento químico destes hidrogênios neste composto. No composto 35, os três hidrogênios da metila ligada na posição para do anel benzênico, aparecem em campo alto, i.e. 2,30 ppm. Todos estes hidrogênios aparecem como singletos em seus respectivos espectros. Os hidrogênios do anel fenila dos compostos 30, 34 e 35 apresentaram o tipo padrão de deslocamento de anéis aromáticos para substituídos, aparecendo como um par de dubletos com constantes de acoplamento iguais a 8,72 , 8,32 e 7,92 48 Hz, respectivamente. Esses valores estão dentro do valor esperado para este tipo de acoplamento entre hidrogênios com relação orto em anéis aromáticos, que é de 8 Hz, podendo variar entre 6 – 10 Hz (PAVIA, D. L.; LAPMAN, G.M & KRIZ, G. S., 2010). O espectro de RMN 1H do derivado 31, apresentou um singleto em 7,45 ppm, relativo aos quatro hidrogênios do anel fenila, o que significa que estes hidrogênios são magneticamente equivalentes, ou seja, o efeito do substituinte cloro na posição para se iguala ao efeito do restante da estrutura ligada ao anel. O composto 32, não substituído no anel fenila, apresentou um multipleto entre 7,44 e 7,34 ppm, relativo aos 5 hidrogênios ligados ao anel fenila. Uma vez que o átomo de flúor tem um número de spin igual a ½, o acoplamento entre hidrogênio e flúor segue a mesma regra de multiplicidade que o acoplamento entre hidrogênios, ou seja, o átomo de flúor é visto como se fosse um átomo de hidrogênio. Tendo em vista o acoplamento H-F, o composto 33 apresentou dois tripletos com J = 8,8 Hz, devido ao acoplamento entre os hidrogênios e o átomo flúor na posição para do anel fenila. Os valores dos deslocamentos químicos do hidrogênios da nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35), podem ser encontrados na Tabela 6 descrita a seguir. 49 Tabela 6: Deslocamentos químicos em ppm dos hidrogênios da nova série de Obenzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) nos espectros de RMN 1H*. Compostos -R para-CH3 N-CH3 O-CH2- N=C-H H4 H-Fenila 30 NO2 - 4,03 5,43 8,16 8,50 8,26-8,24 (d) e 7,70-7,68 (d) 31 Cl - 4,04 5,26 8,16 8,41 7,45 (s) 32 H - 4,04 5,27 8,16 8,41 7,44 – 7,34 (m) 33 F - 4,04 5,25 8,16 8,40 7,50-7,47(t) e 7,24 e 7,19 (t) 34 Br - 4,03 5,25 8,16 8,41 7,60-7,58 e 7,40-7,38 (d) 35 CH3 3,20 4,04 5,21 8,15 8,37 7,32-7,30(t) e 7,20-7,18 (d) *Determinado à 400 MHz, usando DMSO-d6/TMS como solvente 50 Figura 33: Imagem do espectro de RMN 1H do novo derivado éter de oxima nitroimidazólico (33) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). Os derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) também foram caracterizados por espectroscopia de RMN 13 C (Figura 34), técnica pela qual foi possível verificar que os deslocamentos químicos dos carbonos N-CH3, C5, C4 e O-CH2- de todos os derivados permaneceu praticamente constante. Já os outros carbonos tiveram variações em seus deslocamentos de acordo com o efeito eletrônico do substituinte R ligado à fenila (Tabela 7). Merece destaque a análise do espectro de RMN 13 C do derivado 33 (Figura 33), que devido à presença do flúor como substituinte, ocorre o acoplamento deste halogênio com os carbonos da fenila, desdobrando seus sinais na forma de dois dubletos (J2 = 86,4 e J3 = 14,2). Além disso, percebe-se que quando comparado aos 51 outros compostos da série, os carbonos C2 e C=N do composto 33 (Figura 34) sofrem um aumento em seus valores de deslocamentos químicos, devido à desblindagem destes átomos em razão do efeito indutivo do átomo de flúor ligado à fenila. Figura 34: Ilustração do espectro de RMN nitroimidazólico (33) (400 MHz, DMSO-d6/TMS). 52 13 C do derivado éter de oxima Tabela 7: Deslocamentos químicos em ppm dos carbonos da nova série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35), nos espectros de RMN 13C*. Composto -R N- C5 C4 C2 C=N CH3 O- C1’ C2’ e C6’ C3’ e C5’ C4’ CH2- CH3Fenila 30 NO2 34,4 140,1 133,0 144,8 147,1 75,0 142,7 129,0 123,5 141,4 - 31 Cl 34,4 140,1 132,7 141,1 142,8 75,5 135,9 130,3 128,3 133,0 - 32 H 34,3 140,0 128,1 140,9 142,9 76,5 136,7 128,3 128,4 133,0 - 33 F 34,4 142,9 133,0 160,7 163,1 75,7 141,0 130,88- 115,32- 140,1 - 130,80(d) 115,10(d) 34 Br 34,4 136,3 133,0 141,2 142,8 75,5 131,5 130,6 131,3 129,5 - 35 CH3 34,4 140,0 133,0 140,7 143,0 76,4 133,0 128,6 128,9 137,4 20,7 *Determinado à 400 MHz, usando DMSO-d6 como solvente. A partir dos resultados de RMN 1H e 13 C anteriormente apresentados, os compostos da série 30 - 35 foram obtidos na forma de um único isômero geométrico ao nível da dupla ligação imínica do grupo oxima. A conclusão a respeito de qual isômero havia sido formado foi obtida após a confirmação da estrutura por estudos de difração de raios X, como ilustrado na Figura 35. O derivado para-bromado (34) foi eleito para o estudo em tela como modelo para os demais derivados da série de O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35). 53 Este estudo confirmou inambiguamente que os derivados 30 – 35 foram obtidos como um único diastereoisômero, apresentando a configuração relativa (E), como antecipado anteriormente para a oxima precursora (36). Figura 35: Estrutura molecular do composto para bromado (34) obtida por difração de raios X. (Realizado por Dr. James Wardell e Dra. Solange Wardell) 54 3.6 Avaliação do perfil tripanocida A avaliação do perfil de atividade tripanocida dos novos derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) sobre formas tripomasigota de T. cruzi, está descrita na Tabela 8. A análise do perfil anti-T. cruzi demonstrou que o mais ativo foi o para-NO2 (30), seguido dos derivados para-Br (34), para-F (33) e nãosubstituído (32), os quais apresentaram atividades equivalentes. Tabela 8: Atividade tripanocida in vitro sobre a forma tripomastigota dos novos Obenzil éteres de oxima imidazólicos, usando benzonidazol como substância de referência (30 - 35). R IC50* πx logP médio** (μM) (Teórico) (Teórico) *** σp**** 30 NO2 12,7 ± 1,6 2,24 -0,28 +0,78 31 Cl >500 2,96 0,71 +0,23 32 H 31,4 ± 7,1 2,34 0 0 33 F 31,4 ± 5,9 2,50 0,14 +0,06 34 Br 30,7 ± 2,3 3,10 0,86 +0,26 35 CH3 43,4 ± 7,0 2,74 0,56 -0,17 3 (BZN) - 0,122 - - - *Ensaio realizado sobre as formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi (Realizado pela Dra. Kelly Salomão) **Calculado usando o programa ACDLABS. ***Constante de hidrofobicidade de Hansch (πx = logPx – logPH) ****Coeficiente de Hammett, obtido de COSTA, FERREIRA, VASCONCELLOS & ESTEVES, 2005 55 A utilização de um substituinte polar, retirador de elétrons como o 4-NO2, foi de grande importância na atividade tripanocida, provavelmente devido à sua capacidade de ser reconhecido pelo biorreceptor alvo, através de interações dipolares ou como aceptor de ligações de hidrogênio. Por outro lado, a presença de substituintes halogenados (F e Br) na posição para do anel fenila dos derivados Obenzil éteres de oxima nitroimidazólicos resultou na diminuição da atividade tripanocida, com valores estatisticamente equivalentes ao derivado não substituído (32). A introdução de um grupo menos polar e doador de elétrons, como é o caso do para-CH3, resultou numa maior diminuição do potencial tripanocida desta nova série de compostos (Figura 36). Figura 36: Diminuição do perfil de atividade em função da introdução de diferentes substituintes no anel fenila dos derivados O-benzil éteres de oxima imidazólicos (30 35). Provavelmente, o perfil de atividade tripanocida evidenciado para os derivados halogenados (33 e 34), pode estar relacionado ao melhor perfil de lipofilicidade que o derivados apresentam, como ilustra o Log P teórico descrito na Tabela 7. No entanto, o derivado 35 apresentou um Log P teórico próximo a 3 e mesmo assim não obteve um perfil de atividade tripanocida considerável quando comparado aos compostos da série. Isso indica que a atividade destes compostos não está relacionada apenas com seu coeficiente de partição. O derivado 30, que apresentou o melhor perfil de atividade devido ao fato do grupamento nitro apresentar menor constante de hidrofobicidade de Hansch (πNO2= - 0,128) e maior 56 valor da constante de Hammet (σNO2 = +0,78) indicou que um maior efeito mesomérico do substituinte contribuiu para aumentar a atividade tripanocida do composto em questão. Curiosamente, o derivado substituído com um átomo de cloro (31) apresentou um resultado errático com relação ao seu perfil tripanocida (IC50 > 500 μM), que foi confirmado após ensaios de diferentes lotes do composto. O perfil de correlação dos parâmetros de lipofilicidade (πx) e eletrônico (σp) dos substituintes dos derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35) com a atividade tripanocida permite inferir que o melhor padrão de substituição segue o perfil π- e σ+, segundo o diagrama de Craig (Figura 37) (TAVARES, 2004). Este perfil pode auxiliar a decisão de escolha de novos substituintes, visando a otimização estrutural de protótipos anti-T. cruzi descobertos neste estudo. Figura 37: Diagrama de Craig (intercorrelação σ x π) em para-substituição aromática (Adaptado de TAVARES, 2004). 57 4. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Os resultados obtidos neste trabalho nos permitiram concluir que a metodologia sintética empregada para a obtenção da nova família de derivados éteres de oxima nitroimidazólicos mostrou-se adequada, permitindo a preparação dos compostos alvo em rendimentos que variam entre 55-89%. O planejamento estrutural empregado na construção da série de compostos éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) foi bem sucedido, dado os resultados obtidos nos ensaios farmacológicos realizados, permitindo a identificação do derivado 30, que se mostrou mais ativo sobre a forma tripomastigota do T. cruzi com IC50= 12,7 μM. A análise do diagrama de Craig nos aponta como perpectivas a síntese de derivados exibindo diferentes substituintes que apresentem correlação de propriedades de lipofilicidade e eletrônicas como o grupo nitro (π-, σ+), como por exemplo os grupos CN, NH2, CONH2, COOH. Como perspectivas, serão feitos ensaios específicos para avaliar se o mecanismo de ação envolvido na atividade antiprotozário apresentada pelos derivados mais ativos desta série de compostos está relacionada com a inibição da biosíntese de esteróis. Serão realizados também ensaios ADME (absorção, distribuição, metabolismo e excreção) e testes de mutagenicidade comparativos com outros fármacos nitroheterocíclicos, e será avaliado o perfil de citotoxicidade dos derivados mais ativos da série obtida. 58 5. PARTE EXPERIMENTAL 5.1 Informações Gerais As reações foram monitoradas por cromatografias de camada fina (CCF) e foram utilizadas cromatofolhas de alumínio recobertas com gel de sílica 60 F254 com espessura de 0,25 mm (MERCK). A visualização das substâncias em CCF foi feita em lâmpada de UV (254 e 366 nm). Os reagentes e solventes empregados foram de grau analítico, obtidos do laboratório de Farmanguinhos/Fiocruz, das marcas Merck e Sigma-Aldrich. Os espectros de ressonância magnética nuclear (RMN) de 1H e 13 C foram obtidos em espectrômetro AC-200A (Farmanguinhos), operando de 400 a 500 MHz. Os deslocamentos químicos (δ) foram expressos em parte por milhão (ppm) a partir do padrão interno tetrametil-silano (TMS). As áreas dos picos foram obtidas por integração eletrônica e suas multiplicidades foram descritas do seguinte modo: ssingleto; d- dubleto; dd- duplo dubleto; t- tripleto; m-multipleto. Os espectros no infravermelho (IV) foram obtidos em um espectrômetro por transformada de Fourrier, modelo Magna IR 760. As amostras foram examinadas sob a forma de pastilhas de brometo de potássio (KBr). Os valores de absorção foram pulsados em número de onda, utilizando como unidade o centímetro recíproco (cm-1). Os espectros de massas de baixa resolução (E.M.) foram obtidos por elétronspray negativo/positivo com inserção direta LC/MS utilizando metanol (100%) como diluente e injetando diretamente no probe a um fluxo de 64 ~10 μM/min em um aparelho LC/MS micromass ZQ 4000, com representação automática por computador (programa Masslynx). Os fragmentos descritos com relação entre unidade de massa atômica e a carga do mesmo (m/z) e a abundância relativa, expressa em cada fragmento, em percentagem (%). Os pontos de fusão (P.F.) foram determinados em um aparelho BÜCHI (B545). 59 5.2. Metodologia Sintética 5.2.1 Síntese do derivado aldeído 1,2-dimetil-5-nitroimidazol (37) Em um balão de 250 mL foram adicionados 8,46 g (0,06 mol; 1 equiv.) de 1,2dimetil-5-nitroimidazol (38) e 13,32 g (0,12 mol; 2 equiv.) de dióxido de selênio sob agitação. Colocou-se o balão em um banho de óleo e elevou-se a temperatura até 140 °C. Após a fusão de ambos os reagentes, deixou-se a reação sob refluxo por cerca de 5 minutos. Em seguida, ainda sob agitação, o meio reacional foi levado à temperatura ambiente. Adicionou-se 200 mL de CH2Cl2 e filtrou-se a mistura. Evaporou-se o solvente e o derivado aldeído (37) obtido foi deixado sob vácuo. 60 5.2.2 Síntese de 1,2-dimetil-5-nitroimidazolil oxima (36) Ao derivado aldeído (37) obtido na etapa anterior ( 6,07 g, 39 mmol, 1,0 eqiv.) foram adicionados 3,61 g (52 mmol; 1,32 eq.) de cloridrato de hidroxilamina em 6 mL de água e em seguida, gota a gota, 2,63 g (24 mmol; 0,63 eq.) de carbonato de sódio em 9 mL de água. O meio reacional foi aquecido a 100 °C por um tempo adicional de 1 hora. Após este período, a reação foi levada à temperatura ambiente. Adicionou-se água ao balão, o precipitado formado foi filtrado em funil de Büchner, e lavado com água. Em seguida, o produto bruto obtido foi recristalizado em etanol. O precipitado obtido foi então filtrado em um funil de Büchner e colocado para secar a vácuo, fornecendo 5,6 g de oxima nitroimidazólica (36) (85 % de rendimento) na forma de um sólido amarelo. EM-ESI (m/z): 169,6 (M+ -H, 100%) (anexo de espectros p. 1) IV (KBr) νmáx cm-1: 1400,46 (ν C=N); 1533 e 1372 (ν NO2) (anexo de espectros p. 1) RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,09 (3H; s; H4, H5, H6); 8,16 (1H; s; H2); 8,22 (1H; s; H1); 12,29 (1H; s; H3) (anexo de espectros p. 2). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,5 (C1); 133,1 (C3); 140,3 (C2); 144,2 (C4); 159,9 (C5); (anexo de espectros p. 2). 61 5.2.3 Procedimento geral para síntese dos derivados éteres de oxima nitroimidazólicos (30 - 35) Em um balão de 50 mL adicionou-se 0,3 g (1,76 mmol; 1 equiv.) de oxima nitroimidazólica (36), 0,22 g (1,93 mmol; 1,1 equiv.) de t-BuOK e 10 mL de DMSO. Esperou-se que toda base fosse dissolvida e em seguida adicionou-se, gota a gota, 2,11 mmol (1,2 equiv.) do cloreto de benzila correspondente (39 – 44). O acompanhamento do meio reacional por CCF indicou o término da reação. Então, verteu-se o meio reacional sobre água e gelo. Finalmente, o precipitado foi filtrado em funil de Büchner, lavado com água e colocado para secar sob vácuo, resultando na obtenção dos compostos 30 – 35 como descrito a seguir. 62 5.2.3.1 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30) Este derivado foi obtido em 89 % de rendimento, como um sólido amarelo pálido. EM-ESI (m/z): 328,1 (M+ [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 3) IV (KBr) νmax cm-1: 1602 (ν C=N); 1514 e 1343 (ν NO2); 1130 (ν CH2‒O); (anexo de espectros p. 3). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,03 (3H; s; N-CH3); 5,43 (2H; s; OCH2); 8,26-8,24 (2H; d; H3’ e H5’) e 7,70-7,68 (2H; d; H2’ e H6’); 8,16 (1H; s; HC=N); 8,50 (1H; s; H4) (anexo de espectros p. 4). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,40 (N-CH3); 75,00 (O-CH2); 133,08 (C4); 129,02(C2’ e C6’); 123,53 (C3’ e C5’); 141,43 (C4’); 142,73 (C1’); 140,16 (C5); 144,89 (C2); 147,14 (C=N); (anexo de espectros p. 4). 63 5.2.3.2 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31) Este derivado foi obtido em 55 % de rendimento, como um sólido amarelo com ponto de fusão 127,8 – 134,8 °C. EM-ESI (m/z): 317,1 (M+ [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 6) IV (KBr) νmax cm-1: 1614 (ν C=N); 1524 e 1346 (ν NO2); 1136 (ν CH2‒O); (anexo de espectros p. 6). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,04 (3H; s; N-CH3); 5,26 (2H; s; OCH2); 7,45 (4H; s; H2’; H3’; H5’; H6’); 8,16 (1H; s; H-C=N); 8,41 (1H; s; H4) (anexo de espectros p. 7). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,4 (N-CH3); 75,5 (O-CH2); 132,77 (C4); 130,3 (C2’ e C6’); 128,3 (C3’ e C5’); 133,0 (C4’); 135,9 (C1’); 140,1 (C5); 141,1 (C2); 142,8 (C=N); (anexo de espectros p. 7). 64 5.2.3.3 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32) Este derivado foi obtido em 89 % de rendimento, como um sólido amarelo pálido, com ponto de fusão 101,8 – 106,8 °C. EM-ESI (m/z): 282,8 (M+ [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 9) IV (KBr) νmax cm-1: 1607 (ν C=N); 1523 e 1370 (ν NO2); (anexo de espectros p. 9). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,05 (3H; s; N-CH3); 5,27 (2H; s; OCH2); 7,35 – 7,45 (5H; m; H2’; H3’; H4’; H5’; H6’); 8,16 (1H; s; H-C=N); 8,41 (1H; s; H4) (anexo de espectros 10). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,38 (N-CH3); 76,54 (O-CH2); 128,11 (C4); 128,37(C2’ e C6’); 128,49 (C3’ e C5’); 133,07 (C4’); 136,77 (C1’); 140,09 (C5); 140,91 (C2); 142,97 (C=N); (anexo de espectros p. 10). 65 5.2.3.4 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33) Este derivado foi obtido em 74 % de rendimento, como um sólido amarelo com ponto de fusão 100,3 – 103,1 °C. EM-ESI (m/z): 301,1 (M+ [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 12) IV (KBr) νmax cm-1: 1598 (ν C=N); 1537 e 1369 (ν NO2); 1131 (ν CH2‒O); (anexo de espectros p. 12). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,04 (3H; s; N-CH3); 5,25 (2H; s; OCH2); 7,50-7,47 (2H; t; H2’ e H6’); 7,24-7,19 (2H; t; H3’ e H5’); 8,16 (1H; s; H-C=N); 8,40 (1H; s; H4) (anexo de espectros p. 13). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,42 (N-CH3); 75,70 (O-CH2); 133,09 (C4); 130,86-130,80 (d; C2’ e C6’); 115,32-115,10 (d; C3’ e C5’); 140,13 (C4’); 141,04 (C1’); 142,96 (C5); 160,76 (C2); 163,19 (C=N); (anexo de espectros p. 13). 66 5.2.3.5 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34) Este derivado foi obtido em 65 % de rendimento, como um sólido amarelo com ponto de fusão 141,3 – 144,1 °C. EM-ESI (m/z): 361,1 e 362,1 (M+ e M+1 [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 15) IV (KBr) νmax cm-1: 1612 (ν C=N); 1525 e 1367 (ν NO2); 1137 (ν CH2‒O); (anexo de espectros p. 15). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 4,03 (3H; s; N-CH3); 5,25 (2H; s; OCH2); 7,60 - 7,58 (2H; d; H2’ e H6’) e 7,40 - 7,38 (2H; d; H3’ e H5’); 8,16 (1H; s; HC=N); 8,41 (1H; s; H4) (anexo de espectros p.16). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 34,41 (N-CH3); 75,57 (O-CH2); 133,08 (C4); 130,63 (C2’ e C6’); 131,33 (C3’ e C5’); 129,59 (C4’); 131,55 (C1’); 136,33 (C5); 141,21 (C2); 142,88 (C=N); (anexo de espectros p. 16). 67 5.2.3.6 (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35) Este derivado foi obtido em 80 % de rendimento, como um sólido amarelo com ponto de fusão 116,4 – 117,5 °C. EM-ESI (m/z): 296,9 (M+ [Na+], 100%) (anexo de espectros p. 18) IV (KBr) νmax cm-1: 1615 (ν C=N); 1525 e 1371 (ν NO2); 1134 (ν CH2‒O); (anexo de espectros p. 18). RMN 1H (400 MHz, DMSO d6 / TMS (δ-ppm): 2,30 (3H; s; Ph-CH3) 4,04 (3H; s; NCH3); 5,21 (2H; s; O-CH2); 7,32 - 7,30 (2H; d; H2’ e H6’); 7,20 - 7,18 (2H; d; H3’ e H5’); 8,15 (1H; s; H-C=N); 8,37 (1H; s; H4) (anexo de espectros p. 19). RMN 13 C (100 MHz, DMSO d6/ TMS (δ-ppm): 20,73 (Ph-CH3); 34,40 (N-CH3); 76,46 (O-CH2); 133,08 (C4); 128,64 (C2’ e C6’); 128,92 (C3’ e C5’); 137,46 (C4’); 133,01 (C1’); 140,09 (C5); 140,79 (C2); 143,02 (C=N); (anexo de espectros p. 19). 68 5.3 Protocolo Biológico 5.3.1 Avaliação da atividade tripanocida in vitro sobre a forma tripomastigota de T. cruzi. (SALOMÃO et al., 2004) As soluções estoque dos derivados O-benzil éteres de oxima nitroimidazólicos (30 – 35) foram preparadas em dimetilsulfóxido (DMSO) na concentração de 100 mM/mL. Formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi (cepa Y) foram isoladas de camundongos infectados e ressuspendidas em meio Eagle modificado por Dulbecco (DME) suplementado com 10 % de soro fetal bovino. Os ensaios com tripomastigotas foram realizados em placa de 96 poços e em cada poço foram adicionados 0,1 mL de cada derivado imidazólico 2,4,5-trissubstituido, previamente preparadas no dobro das concentrações desejadas, para uma diluição seriada 1:2. O tratamento foi analisado na faixa que variou de 2 a 500 μg/mL, com concentração final do solvente nunca superior a 0,5 %. A seguir, foram acrescentados 100 μL de suspensão de tripomastigotas numa concentração final de 5 x 106 parasitos/mL, na ausência de sangue. Após incubação por 24 h, a 37 °C, os parasitos foram quantificados em câmara de Neubauer e o valor de IC50 calculado. 69 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A. L.; MARTELLI, C. M., et al. Short report: benznidazole efficacy among Trypanosoma cruzi-infected adolescents after a six-year follow-up. Am. J. Trop. Med. Hyg. v. 71, n. 5, p. 594-597, 2004. BARR, S. C.; WARNER, K. L. et al. A cysteine protease inhibitor protects dogs from cardiac damage during infection by Trypanosoma cruzi. Antimicrob. Agents Chemother., v. 49, n. 12, p. 5160-5161, 2005. BARREIRO, E.; FRAGA, C. A. M. Química Medicinal: As bases moleculares da ação dos fármacos. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. 536 p. BHANDARI, K.; SRINIVAS, N.; KESHAVA, G. B. 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E4: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) da oxima nitroimidazólica (36). 2 E5: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4nitrobenzil) oxima (30). E6: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). 3 E7: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). E8: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-nitrobenzil) oxima (30). 4 E9: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4nitrobenzil) oxima (30). 5 E10: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4clorobenzil) oxima (31). E11: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4clorobenzil) oxima (31). 6 E12: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31). E13: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-clorobenzil) oxima (31). 7 E14: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4clorobenzil) oxima (31). 8 E15: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). E16: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). 9 E17: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). E18: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). 10 E19: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-benzil oxima (32). 11 E20: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4fluorobenzil) oxima (33). E21: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4fluorobenzil) oxima (33). 12 E22: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33). E23: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-fluorobenzil) oxima (33). 13 E24: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4fluorobenzil) oxima (33). 14 E25: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4bromobenzil) oxima (34). E26: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4bromobenzil) oxima (34). 15 E27: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34). E28: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-bromobenzil) oxima (34). 16 E29: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4bromobenzil) oxima (34). 17 E30: Espectro de massas de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4metilbenzil) oxima (35). E31: Espectro de IV de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4metilbenzil) oxima (35). 18 E32: Espectro de RMN 1H (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35). E33: Espectro de RMN 13C (400 MHz, DMSO-d6/TMS) de (E)-1-metil-5-nitro-1Himidazol-2-carbaldeído O-(4-metilbenzil) oxima (35). 19 E34: Espectro de CG de (E)-1-metil-5-nitro-1H-imidazol-2-carbaldeído O-(4metilbenzil) oxima (35). 20