PROPRIEDADES DO SOLO NO SULCO DE SEMEADURA EM
PLANOSSOLOS SOB MOBILIZAÇÃO MECÂNICA PARA CULTURAS
EM ROTAÇÃO COM ARROZ IRRIGADO
Robson Giacomeli1; Enio Marchesan2; Gabriel Donatto3; Maurício Limberger de Oliveira3;
Bruno Behenck Aramburu3; Guilherme Foletto Possobon3; Lucas Lopes Coelho4
Palavras-chave: Escarificação do solo, descompactação, plantio direto.
INTRODUÇÃO
Na metade sul do estado do Rio Grande do Sul (RS) predominam áreas que
apresentam características de drenagem natural deficiente. Na maioria delas, cultiva-se
somente o arroz irrigado, onde a monocultura vem promovendo a infestação das áreas com
plantas daninhas. Nesse sentido, o número e a quantidade de espécies de plantas daninhas
resistentes aos herbicidas do grupo químico dos ALS, estão aumentando, destacando-se
dentre elas o arroz-vermelho e arroz-preto (Oryza sativa), capim arroz (Echinochloa crusgalli) e ciperáceas (Cyperus sp.), (SCHAEDLER, 2013; MATZENBACHER, 2013). Nesse
contexto, a rotação de culturas torna-se uma das principais alternativas para manejo de
plantas daninhas nessa cultura. Algumas culturas ditas de sequeiro, estão sendo
pesquisadas, nessas áreas, anteriormente cultivadas somente com arroz irrigado. No
entanto, estas espécies possuem dificuldade de adaptação às condições físicas desses
solos, onde, os principais problemas referem-se a elevada densidade, a baixa condutividade
hidráulica e reduzida declividade das áreas. Somando-se a isso, os preparos consecutivos
do solo para cultivo do arroz, em condições de elevada umidade do solo favorecem o
processo de compactação dos mesmos.
Alguns manejos antecedendo e/ou no momento da semeadura, podem auxiliar a
descompactação e drenagem desses solos. Mecanismos de deposição do fertilizante na
semeadora-adubadora influenciam diretamente no desenvolvimento da cultura que é
semeada, podendo-se citar o disco duplo, o disco ondulado e haste sulcadora (DRESCHER
et al., 2011). A escarificação do solo anteriormente à semeadura, também pode ser uma
alternativa visando minimizar o efeito da compactação, diminuindo a densidade e a
resistência mecânica do solo à penetração das raízes (ORTIGARA et al., 2014).
Mecanismos como estes, podem contribuir para descompactação, e assim melhorar
aeração e a infiltração de água nestes solos naturalmente mal drenados. Outra alternativa é
realizar a semeadura sobre microcamalhão, visando assim auxiliar a drenagem superficial
da água. Desse modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar propriedades físicas do solo no
sulco de semeadura em Planossolos sob mobilização mecânica para culturas em rotação
com arroz irrigado.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos dois experimentos com a cultura do milho, na safra agrícola 2013/14,
localizados na região central do estado do Rio Grande do Sul. Experimento 1: Foi
conduzido na área didático experimental de várzea do Grupo de Pesquisa em Arroz e Uso
Alternativo de Várzea do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), com as coordenadas geográficas 29º 43’ S, 53º 43’ O e 90 m acima do nível
do mar. O solo é classificado como Planossolo Háplico eutrófico arênico, pertencente à
1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Agronomia, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria,
RS, Brasil, [email protected].
2
Professor titular, UFSM, UFSM.
3
Acadêmicos de agronomia, UFSM.
4
Engenheiro agrônomo, UFSM.
unidade de mapeamento Vacacaí (EMBRAPA, 2013). A área onde foi alocado o
experimento encontrava-se sistematizada em cota zero, com cultivo de soja na safra
anterior. Realizou-se no dia 7 de novembro de 2013 a instalação do experimento, e devido à
baixa emergência de plantas causado pelo excesso de precipitação pluvial, realizou-se nova
semeadura no dia 30 de novembro. Os tratamentos utilizados foram: escarificação do solo
45 dias antes da semeadura a profundidade de 0,25 m com hastes espaçadas a 0,35 m e
semeadura com disco duplo (ESC); haste sulcadora com profundidade de trabalho de 0,18
m (HS); haste sulcadora a 0,15 m de profundidade com mecanismo de acomodação do
sulco (HAS); disco duplo desencontrado com profundidade de 0,10 m (DD); disco ondulado
de 12 ondas a profundidade de 0,08 m (DO); e semeadura em microcamalhão com haste
sulcadora a 0,13 m (MI), onde, simultaneamente foi construído o microcamalhão com a
semeadura. Experimento 2: Foi conduzido no município de Formigueiro, com as
coordenadas geográficas 30º 04’ S, 53º 37’ O e 77 m acima do nível do mar, sendo o solo
classificado como Planossolo Haplico eutrofico típico pertencente a unidade de
mapeamento São Gabriel (EMBRAPA, 2013). Nos últimos seis anos agrícolas antecedentes
foram cultivadas gramíneas e leguminosas sendo mantido bovinos em pastejo durante a
maior parte do tempo. A instalação do experimento realizou-se no dia 5 de novembro de
2013, compondo os tratamentos ESC, HS, HAS, DD com profundidade de 0,08 m e DO a
0,06 m.
Nos tratamentos ESC, HS, HAS, DD e DO utilizou-se semeadora-adubadora,
pantográfica com seis linhas no espaçamento de 0,50 m, com rodas limitadoras de
profundidade e uma massa aproximada de 2335 kg, marca Massey Ferguson®, modelo MF
407, sendo utilizado o disco de corte liso para o corte da palha, com exceção do DO, que
tanto no corte da palha quanto na deposição do fertilizante foi utilizado disco ondulado de 8
ondas. Para o tratamento com microcamalhão foi utilizada uma semeadora camalhoneira,
com seis linhas no espaçamento de 0,50 m, massa aproximada de 3750 kg, marca
Industrial KF®, modelo Hyper Plus, composta por três aivecas responsáveis pela formação
dos microcamalhões, sendo cada microcamalhão composto por duas linhas de cultivo
posicionadas na borda de cada elevação.
Determinou-se, na linha de semeadura, 60 dias após a instalação do experimento, a
densidade do solo, porosidade total, macroporosidade e microporosidade, através da coleta
de amostras indeformadas de solo, com anéis de 0,04 m de altura e 0,04 de diâmetro,
seguindo método descrito por Embrapa (2011). O delineamento experimental utilizado foi o
de blocos ao acaso no esquema monofatorial, com quatro repetições. Os dados obtidos
foram submetidos ao teste das pressuposições do modelo matemático (normalidade e
homogeneidade das variáveis). A análise da variância foi realizada através do teste F, e as
médias comparadas pelo teste de Tukey em nível de 5 % de probabilidade de erro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No experimento no munícipio de Formigueiro, houve redução na densidade do solo, e
consequentemente, um aumento na porosidade total, principalmente decorrente do
incremento de macroporosidade, nas profundidades de 0,05 - 0,10 e 0,10 - 0,20 m, nos
tratamentos com a escarificação do solo (ESC), haste sulcadora (HS) e haste sulcadora
com mecanismo de acomodação do sulco (HAS). Os tratamentos com disco duplo
desencontrado (DD) e o tratamento disco ondulado de 12 ondas (DO), apresentaram
valores superiores a 1,50 de densidade, enquanto os demais ficaram abaixo de 1,38.
0,00
ns
ns
0,05
ns
ns
0,10
0,15
ns
ns
0,20
0,25
ns
ns
(a)
(c)
0,30
0,00
ns
ns
0,05
bc
c
bc
0,10
0,15
b
ab
ab
ab
a
a
ab
a
ab
b
b
a1
ab
a
b
b
a
0,20
Profundidade (m)
0,25
ns
ns
(b)
0,30
1,2
1,3
1,4
1,5
Densidade do solo (Mg m-³)
1,6
(d)
0,35
0,40
0,45
0,50
Porosidade total (m³ m-³)
0,55
0,00
ns
ns
0,05
ns
ns
0,10
ns
0,15
ns
0,20
ns
ns
0,25
(e)
0,30
0,00
(g)
ns
ns
0,05
ab
0,10
ab
ab
b
0,15
ns
a
ns
ns
0,20
0,30
0,05
ns
ns
0,25
(f)
0,10
0,15
0,20
Macroporosidade (m³ m-³)
ESC
HAS
0,25
HS
(h)
0,25
0,30
0,35
Microporosidade (m³ m-³)
DO
DD
0,40
MI
Figura 1: Densidade do solo, porosidade total, macroporosidade e microporosidade, no sulco de
semeadura nas profundidades de 0,0-0,05, 0,05-0,10, 0,10-0,20 e 0,20-0,30 m, em dois experimentos de
mobilização mecânica do solo e no sulco de semeadura. ns Não significativo para nível de 5%
probabilidade. (1) Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si (Tukey: p< 0,05).
Escarificação do solo 45 dias antes da semeadura em profundidade de 0,25 m com hastes espaçadas a
0,35 m e semeadura com disco duplo (ESC); haste sulcadora com profundidade de trabalho de 0,18 m
(HS); haste sulcadora a 0,15 m com mecanismo de acomodação do sulco (HAS); disco duplo
desencontrado com profundidade a 0,10 m em Santa Maria e 0,08 em Formigueiro (DD); disco ondulado
de 12 ondas a 0,08 m em Santa Maria e 0,06 em Formigueiro (DO); e semeadura em microcamalhão
com haste sulcadora a 0,13 m (MI). Santa Maria (a, c, e, g) e Formigueiro (b, d, f, h), RS, 2014.
Em números médios, na camada de 0,05 - 0,20 m, a densidade foi reduzida em 5% nos
tratamentos ESC, HS e HAS, e aumento da porosidade total e macroporosidade, em 7 e
17% em Santa Maria. Em Formigueiro a redução da densidade nos tratamentos ESC, HS,
HAS e MI, foi de 12%, e aumento de 18% da porosidade total e 58% da macroporosidade
nessa camada. A maior densidade e a menor macroporosidade, no solo de Formigueiro,
nessas profundidades nos tratamentos DD e DO, demonstra uma elevação na densidade
devido ao pisoteio dos bovinos nessa área durante os 6 anos antecedentes, corroborando
com os resultados de Vizzotto et al., 2000, que encontraram aumento de densidade e
redução de macroporosidade em 6 meses de produção de bovinos em um Planossolo. O
pisoteio animal intensivo em área de pastagem causa alterações na estrutura do solo,
elevados níveis de compactação e macroporosidade restritivos às plantas (ORTIGARA et
al., 2014). As menores diferenças em Santa Maria também podem ser provenientes da nova
semeadura, necessária após precipitações de 200 mm na segunda semana de novembro.
Nas duas localidades o DO e DD atingiram profundidade entre 0,06 e 0,10 m, a
semeadora utilizada de seis linhas é de pequeno porte, desta forma, o peso da máquina foi
insuficiente para atingir maiores profundidades. Silva et al., 2012, estudando diferentes
discos de corte, verificou que o disco de corte ondulado possibilita maiores valores de área
de solo mobilizado, mas exige maiores valores de força vertical por profundidade de corte
dos discos, resultante massa da máquina por linha. A haste sulcadora necessita menor
força vertical quando comparada com os discos liso e ondulado, e maior força horizontal,
demandado força para tração, pouco dependente da força vertical (MION & BENEZ, 2008).
Em ambos os experimentos a profundidade de 0,00 - 0,05 m, os tratamentos atingiram
essa profundidade, e foram semelhantes numericamente. Além disso, esta camada é
influenciada pelas ações biológicas, desenvolvimento radicular e maiores ciclos de
umedecimento e secagem, onde favorecem a agregação do solo, que reduz a densidade do
mesmo (SIX et al., 2004). Na camada mais profunda, nos 0,20 - 0,30 m, os resultados são
semelhantes, pois os mecanismos não chegaram a mobilizar o solo nessa profundidade.
CONCLUSÃO
Nas condições dos ensaios, a escarificação e a semeadura com haste sulcadora,
reduzem a densidade, aumentam a porosidade total e a macroporosidade do solo no sulco
de semeadura nas profundidades de 0,05 – 0,10 e 0,10 – 0,20 m.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DRESCHER, M.S. et al. Persistência do efeito de intervenções mecânicas para a
descompactação de solos sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
Campinas, v. 35, n. 5, p. 1713-722, 2011.
EMBRAPA. Manual de métodos de análise de Solos. Embrapa Solos. Rio de Janeiro: p.
230, 2011.
ORTIGARA, C. et al. Uso do solo e propriedades físico-mecânicas de latossolo vermelho.
Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 38, n. 2, p. 619-626. 2014.
SCHAEDLER, C.E. et al. Globe fringerush (Fimbristylis miliacea) cross resistance to alsinhibitor herbicides under field conditions in irrigated rice in the south of Brazil. Planta
daninha. Viçosa, vol. 31, n.4, p. 893-902. 2013.
SILVA, P. R. A. et al. Semeadora-adubadora: mecanismos de corte de palha e cargas
verticais aplicadas. Revista brasileira de engenharia agrícola ambiental. Campina
Grande, vol. 16, n. 12, p. 1367-1373. 2012.
SIX, J., et al. A history of research on the link between (micro) aggregates, soil biota, and
soil organic matter dynamics. Soil and Tillage Research, v. 79, p. 7-31, 2004.
VIZZOTTO, V. R., et al. Efeito do pisoteio bovino em algumas propriedades físicas do solo
de várzea. Ciência Rural, v. 30, n. 6, p. 965-969. 2000.
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