História do Brasil Império Aula VII Objetivo: estudar as revoltas do período regencial. A) A Cabanagem no Pará. A situação do Pará estava conturbada desde a independência, quando a elite tradicional de origem portuguesa se declarou fiel ao projeto das Cortes, de supressão da autonomia do Brasil. A resistência contou com a participação dos liberais radicais, liderados pelo Cônego Batista Campos. Após a independência, em função da aproximação de D. Pedro I com as lideranças portuguesas que apoiavam o seu projeto centralizador, foi instituída uma forte repressão aos liberais e aos segmentos populares que haviam fornecido apoio a causa da independência. Entre 1823 e 1833 o clima de enfrentamento entre os portugueses, na verdade os grandes proprietários de terras, e os liberais, médios e pequenos proprietários, se manteve, gerando uma grande instabilidade na região. Além desses conflitos políticos, havia a insatisfação dos populares, em sua maioria mestiços e índios, que sofriam profunda exploração, vivenciando relações de semiescravidão, sobrevivendo em extrema pobreza em casebres na beira dos rios, e um pequeno contingente de escravos de origem africana. A instabilidade política do início da regência agravou ainda mais este quadro. A partir de 1833 a luta entre as elites se agravaria, abrindo espaço para uma aliança entre os fazendeiros, de inclinação liberal, os pequenos proprietários e os populares. Esta era liderada por Félix Clemente Malcher, pelos irmãos Manuel, Francisco e Antônio Vinagre e Eduardo Angelim. Após o assassinato de Manuel Vinagre, por tropas do governo, a rebelião começou com o ataque a cidade de Belém, em seis de novembro de 1834. O poder foi entregue a Malcher, nomeado presidente da província. No poder Malcher tentou uma aproximação com a regência se afastando dos irmãos Vinagre e de Angelim, chegando a ordenar a prisão destes. A “traição” de Malcher foi o estopim de uma violenta revolta popular, que culminou na execução de Malcher, e na entrega do poder a Francisco Vinagre, após tomada de Belém pelos populares. De forma surpreendente, Francisco Vinagre optou pelo mesmo caminho de Malcher, tentando uma conciliação com o governo regencial. Após negociações e pressões militares, Francisco Vinagre entregou o poder ao Marechal Rodrigues em 26 de julho de 1835. A insatisfação dos cabanos, liderados por Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, se manifestou novamente a partir do interior da província, com o ataque a fazendas de proprietários de origem lusitana. Em 14 de agosto de 1835 os cabanos atacaram, e reconquistaram Belém. O poder foi entregue a Eduardo Angelim. Os conflitos, no entanto, se intensificaram com a organização de milícias de fazendeiros para o combate aos cabanos, tornando os combates ainda mais sangrentos. Os enfrentamentos com a elite proprietária, aliados a indefinição política do movimento, expressa na fragilidade das suas lideranças facilitou a derrota do movimento. Em 1836 as tropas legalistas conseguiriam as suas principais vitórias, lideradas pelo marechal Soares de Andrea, nomeado presidente da província. Belém foi retomada e Eduardo Angelim preso. As lutas no interior entre cabanos, fazendeiros e as tropas legalistas se estenderiam até 1839, quando o marechal Andrea entregou o poder à oligarquia local. A Revolta dos Cabanos no Pará não possuía uma definição ideológica clara, seus líderes não se envolveram abertamente no o debate político dá época entre federalistas e centralistas. Possuía sim a característica de levante de uma população profundamente explorada, canalizado por um profundo antilusitanismo, uma vez que o elemento português simbolizava claramente o explorador. Esta característica popular da revolta, por si só, explica a forte repressão direcionada a ela, principalmente após 1836. Os números finais da revolta variam entre 30 a 40 mil mortos, em sua maioria cabanos. B) A Balaiada no Maranhão. As eleições de 1836 acentuaram a divisão entre as facções liberais dos “bem-tevis” (nome do jornal editado por esta grupo) e dos “cabanos” (conservadores), com a chegada dos últimos ao poder. As ações dos “cabanos” se direcionaram para uma política centralizadora dentro da província. Essa situação seria agravada pela repressão que os “cabanos” levaram a efeito contra os “bem-te-vis”, evidenciando o reordenamento político levado a efeito na Corte, conhecido como o “regresso”. Paralela a toda essa situação de conflito entre as elites, havia a situação dos negros escravizados. O Maranhão havia sido a província do extremo norte onde a escravidão africana predominou, resultando em um contingente populacional (de negros e mulatos) superior ao de brancos. A forte desigualdade social, aliada a instabilidade política da região, proporcionou o surgimento de muitos quilombos, que viriam a fornecer um importante contingente para a luta. Além dos quilombolas havia ainda os negros e mulatos que trabalhavam nas fazendas, e na criação de gado, acostumados a servir de força militar nas disputas entre as elites, possuindo assim, uma experiência de combate armado. O movimento popular conhecido como balaiada iniciou-se a partir da ação do mestiço Raimundo Gomes que, em dezembro de 1838, atacou uma prisão municipal para libertar o seu irmão, e companheiros, que haviam sido presos em função de disputas locais entre “bem-te-vis” e “cabanos”. A partir daí, este organizou uma coluna de jagunços que passou a percorrer o interior, recebendo combate de forças legalistas e obtendo várias vitórias. Aliaram-se ao movimento o mestiço Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, pequeno agricultor e fabricante de balaios, que liderava os trabalhadores pobres, e o preto Cosme, negro liberto, que agregou, em 1840, ao movimento algo em torno de 3.000 escravos insurretos. Sobre Manuel Francisco dos Anjos afirmava-se possuir motivos pessoais, pois queria vingar uma filha violentada por um militar membro da elite. Existe também a hipótese de que a adesão de Francisco dos Anjos esteja ligada ao recrutamento forçado de seus filhos para as lutas das elites proprietárias. Este rancor, oriundo da situação de exploração e desigualdade social, seria uma das características do movimento, que se mostrou bastante violento. Após dominarem a maior parte da província, inclusive a cidade de Caxias, segunda maior da província, os balaios tentam se organizar de forma política, criando um conselho militar e uma junta provisória de governo. Aliando-se aos políticos “bem-te-vis”, tentaram, então, negociar com o governo central, fazendo exigências para a pacificação. Exigiram o fim da centralização e da guarda nacional na província, uma anistia para os rebeldes, a confirmação dos postos militares que se haviam atribuído, a expulsão dos portugueses natos, e restrição dos direitos dos naturalizados e, por fim, 80 contos de réis para o pagamento do exército rebelde. A regência ciente da incapacidade das elites locais e, alarmada pelas características da revolta, nomeou o coronel Luís Alves de Lima e Silva como presidente da província, em 1840, com um efetivo de 8.000 homens. A luta se estenderia até janeiro de 1841, quando ocorreu a vitória sobre os balaios. Após a morte de Manuel Francisco dos Anjos e a rendição de Raimundo Gomes a resistência coube ao preto Cosme e aos quilombolas. Contudo, a derrota viria, e Cosme seria preso, condenado e enforcado em 1842. Lima e Silva utilizou como estratégia a oferta de anistia para aqueles que combatessem as tropas do preto Cosme, evidenciando uma reação senhorial. O desempenho de Luís Alves de Lima e Silva rendeu-lhe o seu primeiro título de nobreza: Barão de Caxias. C) A Revolta Farroupilha no extremo sul do país. A situação de tensão entre o governo central e as províncias do sul havia sido herdada do período colonial. O império interessado nos produtos do sul (charque para os escravos, couros para as manufaturas, gado muar como meio de transporte) manteve a política de controle de preços e bloqueio das exportações. A política centralizadora do governo no Rio de Janeiro prejudicava a aristocracia sulista, ao nomear presidentes para a província descompromissados com os seus interesses. Além da motivação econômica havia a cisão ideológica entre caramurus e farroupilhas, grupos que dominavam a política regional. A proximidade com as repúblicas no Prata, também, fomentavam a proliferação das ideias liberais e republicanas. Ao contrario do que esperavam os estancieiros da província do Rio Grande de São Pedro a regência não traria nenhuma mudança na relação econômica do governo central com a região. Quando em 1834, Antônio Rodrigues Ferreira Braga, presidente da província, nomeado pelo governo central, criou um imposto a ser pago pelos estancieiros, com vistas à formação de uma milícia subordinada a ele, o caminho da revolta se tornou irreversível, pois os estancieiros não aceitaram a diminuição do seu poderio militar. Em 1835, Bento Gonçalves, rico estancieiro, liderou as tropas que avançaram sobre a capital da província, depondo o presidente. As tropas do governo retomariam Porto Alegre, dominando a costa e impedindo o acesso dos revoltosos ao mar. Contudo, a revolta dominaria o interior, e em de setembro de 1836 proclamaria a República RioGrandense, com sede em Piratini. Em 1836 Bento Gonçalves cairia prisioneiro, sendo enviado ao Rio de Janeiro e depois a Bahia, de onde fugiria em 1837. Mesmo com essa prisão o movimento prosseguiu, e os farrapos vieram a controlar a maior parte do território gaúcho. Após a fuga da prisão, Bento Gonçalves retornou ao comando da insurreição, e em 1839, liderados por Davi Canabarro e Giuseppe Garibaldi os farrapos tomariam a região da Laguna, fundando a República Juliana. A reação da regência se tornaria então mais forte, obrigando os revoltosos a retrocederem, poucos meses depois. Em 1842, o barão de Caxias foi nomeado presidente da província, para pacificar a região. Após conseguir isolar os revoltosos, cortando o escoamento da produção e o abastecimento da região, Caxias consegue uma série de vitórias que desbarataram as tropas farroupilhas, principalmente, a partir de 1843. Abertas negociações com os revoltosos, um acordo é selado, e em 1845, após ampla anistia e incorporação dos militares do exército sulista ao exército imperial, a revolta farroupilha seria encerrada, sem grandes perdas para os seus líderes.