Personagens da Bíblia JOÃO BATISTA COMPROMETIMENTO DE VIDA João Batista parece um profeta do Velho Testamento plantado no Novo. Seu comportamento independente andando pelo deserto, suas roupas de pele de camelo, sua coragem de implacavelmente denunciar os erros, quer sejam do homem comum, quer seja do rei. Tudo em João Batista tem um ar de profeta. E foi exatamente isso que ele foi. O Elias anunciado, aquele que voltaria antes do grande e terrível dia do Senhor, aquele que viria para fazer com que os corações dos pais se voltem para os filhos, e os corações dos filhos para os pais. Um homem e seu lugar No relato dos Evangelhos, a vida de João aparece entrelaçada com a de Jesus, naturalmente ofuscada pelo ministério maior do Mestre. João sabia disso. João sabia qual era o seu papel e nunca tentou ser mais do que devia ser. Essa é uma das lições da vida dele. Não deixou que seus muitos seguidores - quase seita formada - o empolgassem para voos independentes e mais altos. A sua seriedade com relação ao propósito de sua vida era absoluta. Sabia que só preparava o caminho daquele de quem não era digno sequer de desamarrar as correias das sandálias. Nunca se esqueceu de que “é necessário que ele cresça e eu diminua”. Um homem e seu legado Morre o homem, permanece sua obra. No caso de João Batista a obra da sua vida é difícil de ser avaliada. O testemunho de Jesus Cristo a seu respeito lança luz sobre isso: O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Ou, o que foram ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. Afinal, o que é que foram ver? Um profeta? Sim, eu lhes digo, e mais que um profeta. Este é aquele a respeito de quem está escrito: Enviarei o meu mensageiro a tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti. Digo-lhes a verdade: entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior que João Batista; todavia, o menor do reino dos céus é maior do que ele. (Mateus 11. 7-11) Será que de alguma maneira o que fazemos na nossa vida - e com a nossa vida - definem nosso legado? Aliás, a questão deveria ser: importa deixar legado? Ou importa termos uma vida 1 Personagens da Bíblia JOÃO BATISTA comprometida com a causa certa, sem se preocupar com o que ficará de lembrança de nossa passagem por aqui? Um homem e seu comprometimento O que chama a atenção nesse personagem da Bíblia é o seu comprometimento com a causa que abraçou. João Batista sublimou todas as outras áreas de sua vida para realçar apenas a espiritual. Não há vida familiar. Não há cuidado pessoal. Não há atenção à própria dignidade. Há apenas a figura de um homem vagando para cima e para baixo, se dedicando ao que aceitou como sua missão de vida. Comprometimento de vida; sem alternativa; sem rota de escape. João Batista se encaixa bem na fábula desses tempos consumistas em que a galinha e o porco se acertaram para produzir ovos com bacon, com cada um fornecendo o ingrediente que ele mesmo produzia. A missão de vida para o último dos profetas significou a sua própria vida. Nesses tempos de tantos objetivos a alcançar, de tantas possibilidades de realização, de tantas áreas em que é possível se destacar e contribuir, João Batista é o homem do comprometimento focado, do objetivo único. O que aprender disso tudo? Penso em duas atitudes: Agradecer a Deus – e interceder - pelas mulheres e homens que ainda hoje aceitam reproduzir o exemplo de João Batista. Comprometem-se por inteiro com uma causa única. Eles existem em tantas áreas, mas ficamos nas que nos dizem respeito: em missões, em cuidado de carentes, em estudo, em ensino e tanto mais. Dão a sua vida pela sua causa. Não tem plano B não tem ocupação paralela. Em uma igreja na Europa uma missionária aposentada nos procura ao saber de brasileiros e desabafa: Minha vida são os índios do Mato Grosso. Eu queria continuar lá, não me deixam mais. E tem o nosso próprio comprometimento. O exemplo da voz que clama no deserto choca com as tendências de multiplicidade de opções do mundo moderno. Atiramos para todos os lados para ver se acertamos algumas. Dividimos nossos esforços em frentes variadas, para que? Para dar a impressão que contribuímos muito? Para sermos reconhecidos benemerentes em mais lugares? Para podermos pular daqui para lá quando as coisas por aqui começarem a perigar? Pensemos mais João Batista. 2