VARIABILIDADE ANUAL DA TEMPERATURA MÉDIA EM SÃO LUIS Carlos Márcio de Aquino Eloi1, Barbaro Moya2, Sandra Oliveira Sá3,7, Ewaldo Eder Carvalho Santana4, Jucivan Ribeiro Lopes5, Gunter de Azevedo Reschke6 1,3,5,6 UEMA/CCA/NUGEO-Brasil - São Luis – [email protected] 2 Centro Meteorológico Provincial – Cuba - Matanzas 4 UEMA/CECEN/DEMATI-Brasil - São Luis RESUMO: Para minimizar o grau de incerteza sobre o futuro cenário climático do Maranhão, faz-se necessário estudar a variabilidade natural do clima visando o aperfeiçoamento da modelagem climática. Este trabalho avalia o comportamento da temperatura média do ar em São Luis entre 1901 e 1975 utilizando uma série histórica de 1970-1995 (ICEA/COMAER) e dados obtidos com modelo IPCC. O conjunto de dados observados apresenta média de 27.95 °C e desvio padrão de 0.486. Os resultados da análise de regressão linear simples confirmam que existe adequada correlação entre os valores medidos e os preditos pelo modelo do IPCC, sendo possível completar a serie para período 1901-1995. Observou-se pequena variabilidade anual da temperatura média do ar e tendência de aquecimento. ABSTRACT: To minimize the uncertainty about future climates scenario in Maranhão, it is essential to study the natural variability of climate aiming at the improvement of climate modeling. This work analyses the behavior of the average air temperature in São Luis from 1901 to 1995 through a historical series 1970-1995, which was obtained from the Institute of Air Space Control of Brazil (ICEA/COMAER), and data obtained from IPCC. Discriminate analyze showed that the observed data set has an average temperature of 27.95 °C and standard deviation of 0.486. The result of simple linear correlation analysis confirms that there is proper correlation between the measured values and those predicted by the IPCC model. With this result, it was possible to complete the series for the period 1901-1995. There was a small average annual temperature variability and tendency to increase. INTRODUÇÃO Hansen et al. (2006) informaram que a temperatura superficial do globo terrestre tem aumentado cerca de 0,2 °C por década nos últimos trinta anos. Essa tendência de aquecimento foi confirmada pelo IPCC-AR4 (IPCC, 2007), que indica um aumento da temperatura média global da Terra entre 1,8 e 4,0 ºC até 2100. Esse aumento pode ser ainda maior (6,4 ºC) se a população e a economia continuarem crescendo rapidamente e se for mantido o consumo intenso dos combustíveis fósseis. Pesquisas indicam que este aumento de temperatura não é homogêneo, algumas regiões tendem a aquecer mais do que outras. Em particular, na Amazônia a temperatura poderá sofrer um aumento médio de 1,8 a 7,5 °C até 2080 (Magrin et. al., 2007; Pinto et al., 2010). Ambrizzi et al. (2007), utilizando três modelos regionais que foram integrados numericamente para a América do Sul, a partir de dados iniciais obtidos do modelo climático global do Hadley Centre, concluíram que para o período 2071-2100, em relação ao período 1961-1990, o maior aquecimento ocorrerá na Amazônia com aquecimento entre 4-8 ºC para o cenário A2 de emissões de gases de efeito estufa e, de 3-5 ºC para o cenário B2. Marengo & Camargo (2008) investigaram a tendência das temperaturas mínima e máxima, amplitude térmica diurna, e os índices derivados da temperatura extrema do período de 19602002 para a região sul do Brasil. Os resultados indicam um aumento na temperatura mínima e máxima, e constataram valores negativos da amplitude térmica anual e sazonal nos últimos 40 anos. Os autores identificaram que a frequência de dias quentes aumentou durante o inverno e verão, especialmente nas duas últimas décadas e, verificaram também que a ocorrência de eventos extremos de frios e condições de resfriamento ocorridas em 1975, 1994 e 2000 aumentou a frequência de dias mais quentes. Apesar da alta vulnerabilidade climática do Estado do Maranhão, comparável a do semiárido do Brasil, não há estudos consistentes que indiquem tendências ou cenários climáticos. Um dos maiores entraves é a falta de dados confiáveis de longo prazo e/ou o acesso restrito a estas informações que permita fazer diagnósticos e prognósticos do clima da região. Portanto, este trabalho visa avaliar o comportamento da temperatura média do ar em São Luis entre 1901 e 1995 utilizando uma série histórica de 1970-1995 (ICEA/COMAER) e dados obtidos com modelo IPCC. METODOLOGIA A área de estudo compreende a cidade de São Luis, localizada na Ilha do Maranhão, que compõe a Mesorregião Norte Maranhense. De acordo com IBGE (2010), São Luis possui área de 831,7 km², população de 1.027,098 de hab. e densidade demográfica de 1.223,63 hab/km². Apresenta duas estações bem definidas, chuvosa e seca. Foram utilizados neste trabalho: (i) série histórica de temperaturas máximas e mínimas registradas entre 1970 e 1995 na Estação Meteorológica de Superfície (Lat. 02º 35'S, Long. 044º 14'W, Alt. 53m) do Aeroporto Marechal Cunha Machado (SBSL), obtida junto ao Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA/CTA/COMAER); (ii) série histórica 1901-1995 estimada por modelo do IPCC; e (iii) pacote estatístico Minitab®. Os dados de temperatura média do ar da série 1970-1995 foram calculados por meio da equação Tmed=(Tmax+Tmin)/2. A metodologia incluiu a análise discriminante dos dois conjuntos de dados estudados e a validação dos valores estimados pelo modelo do IPCC por meio de regressão linear simples e correlação. RESULTADOS Os resultados estatísticos descritivos dos dados da Estação Aeroporto de São Luis e gerados pelo modelo IPCC são apresentados na Tabela 1. Observa-se uma pequena variabilidade anual para os dois conjuntos. A Figura 1 mostra os histogramas dos dois conjuntos de dados estudados com curva normal de ajuste. Observa-se uma pequena assimetria à esquerda para ambas variáveis, o que significa uma leve tendência a temperaturas maiores que a média. Para verificar a acurácia dos dados IPCC, realizou-se uma análise de regressão linear entre as duas variáveis para 26 anos de dados, obtendo-se a equação y = -1.19 +1.08x, onde y representa os dados do Aeroporto e x representa os dados do IPCC. A Figura 2 mostra resultados da análise de regressão linear. O histograma dos resíduos mostra pequena assimetria à esquerda indicando maior frequência para desvios positivos (Figura 2a) e o gráfico dos desvios por ordem de observação confirma a maior concentração de desvios positivos (Figura 2b). Quanto à distribuição de probabilidades para os resíduos, verificou-se maior probabilidade para os resíduos em torno de 0,25ºC. A variação dos resíduos é de aproximadamente 0,6ºC. A correlação linear foi estimada como sendo 0,847, o que demonstra boa correlação entre os dados medidos e aqueles estimados pelo modelo do IPCC. A Figura 3 mostra o comportamento da temperatura média do ar entre 1901-1995. Nessa série histórica o período 1901 a 1969 foi estimado pelo modelo IPCC. Pode-se verificar uma tendência de aumento anual de temperatura média do ar e pequena variabilidade. Mesmo que pouco pronunciada, essa tendência de aquecimento em São Luis confirma os resultados obtidos por Aquino Eloi et al. (2009). Dentre as causas mais prováveis pode-se destacar o grande aumento populacional, a intensificação do uso e mudança de uso da terra e aumento da intensidade da radiação solar. Os resultados ora apresentados são preliminares e fazem parte de um amplo estudo da variabilidade climática da cidade de São Luis. 4. CONCLUSÃO Existe adequada correlação entre os dados de temperatura média do ar observados e aqueles estimados pelo modelo IPCC para São Luis no período 1970-1995, com coeficiente de correlação de 0,847. Este resultado fornece certo grau de precisão e permite que o modelo do IPCC possa ser utilizado para completar uma série de temperaturas médias do ar entre 1901 e 1995. Observou-se pequena variabilidade anual da temperatura média do ar e tendência de aquecimento. AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao ICEA/CTA/COMAER, UEMA, FAPEAD e FAPEMA. REFERENCIA Ambrizzi, T.; Rocha, R.P.; Marengo J.A.; Pisnitchenko, I.; Nunes, L.A.; Fernandez, J. P.R. 2007. Cenários regionalizados de clima no Brasil para o século XXI: projeções de clima usando três modelos regionais. Relatório 3, Ministério do Meio Ambiente , Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Diretoria de Conservação da Biodiversidade - Mudanças climáticas globais e efeitos sobre a biodiversidade – Sub projeto: Caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Brasília. Aquino Eloi, C.M., Sá, S.O., Silva, R.M., Azevedo Gunter, G. 2009. Climate change characterization in São Luis, MA, Brasil. IOP Conf. Series: Earth and Environmental Science, 6, 282028. Hansen, J., Mki. Sato, R. Ruedy, K. Lo, D.W. Lea, and Medina-Elizade, M. 2006. Global temperature change. Proc. Natl. Acad. Sci., 103, 14288-14293, doi:10.1073/pnas.0606291103. IBGE. 2010. Censo Demográfico 2010, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCC Fourth Assessment Report. (IPCC AR4). 2007. Climate Change 2007: Synthesis Report. Magrin, G., et. al. Latin America. Climate Change 2007: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change, Parry, M.L., Canziani, O.F., Palutikof, J.P., van der Linden, P.J. and Hanson, C.E., Eds. Cambridge University Press, Cambridge, UK, 581-615. Marengo, J.A. & Camargo, C. C. 2008. Surface air temperature trends in Southern Brazil for 1960–2002.Int. J. of Climat., 28, 893-904. Pinto, E. P. P., Moutinho, P., Stella, O., Mazer, S, Castro, I., Rettmann, R., e Moreira, P.F., 2010. Perguntas e respostas sobre aquecimento global. Eds. IPAM, Belém, 63p. Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis Aeroporto e IPCC. Variável N Media Erro padrão da média Desvio padrão Coeficiente de variação Variância Moda Mínima Máxima IPCC 26 27,077 0,0818 0,417 1,54 0,174 27,3 26,100 27,800 Aeroporto 26 27,952 0,0953 0,486 1,74 0,236 27,8625 26,896 28,854 Histogram: Aerop Histogram: IPCC Expected Normal 12 10 10 8 8 No. of obs. No. of obs. Expected Normal 12 6 6 4 4 2 2 0 0 26.7760 27.2812 27.7865 28.2917 28.7969 25.925 29.3021 26.350 26.775 27.200 27.625 28.050 X <= Category Boundary X <= Category Boundary Figura 1. Histogramas das variáveis Aeroporto e IPCC. Figura 2. Análise residual da regressão linear entre as variáveis Aeroporto e IPCC 28 Temperatura média do ar (ºC) 27.5 27 26.5 26 25.5 1901 1911 1921 1931 1941 1951 1961 1971 1981 1991 Anos Figura 3. Variação das temperaturas médias anuais de São Luis no período 1901 a 1995. Dados estimados por modelo IPCC.