Quinta-feira 20 de fevereiro de 2014 Jornal do Comércio - Porto Alegre Política Editora: Paula Coutinho [email protected] Edgar Lisboa CONGRESSO NACIONAL Ministro rebate Luis Carlos Heinze e Alceu Moreira Deputados disseram que quilombolas, índios e gays ‘não prestam’ Seguiu o script [email protected] O deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), um dos acusados do mensalão mineiro, renunciou ao mandato. “Não vou me sujeitar à execração pública nesta Casa, que está sujeita a pressões políticas. Minhas forças já se exaurem com sérios riscos a minha saúde. Não aceito que meu nome continue sendo enxovalhado”, afirmou em sua carta de renúncia. De acordo com o cientista político da Universidade de Brasília, Paulo Kramer, o ato do parlamentar mineiro “seguiu o script” do gerenciamento de crise. “Ele saiu de foco. Assim, o julgamento não contamina a campanha de Aécio Neves (PSDB) e o dano à imagem dos dois é menor”. cultores, Heinze ressaltou: “Agora eu quero dizer para vocês: o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho também é ministro da presidenta Dilma, e é ali que estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo o que não presta, ali está aninhado e eles têm a direção e têm o comando do governo.” Alceu Moreira também criticou Carvalho na época. “Por que será que, de uma hora para outra, tem que marcar terra de índios e quilombolas? O chefe desta vigarice orquestrada está na ante-sala da presidência da República e o nome dele é Gilberto Carvalho, é ministro. Ele e seu Paulo Maldos (secretário nacional de Articulação Social). Por trás desta baderna, desta vigarice, está o Cimi (Conselho Nacional Indigenista), que é uma organização cristã, que de cristã não tem nada: está a serviço da inteligência norte-americana e europeia para não permitir a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil”, disse Moreira, acrescentando: “Nós, os parlamentares, não vamos incitar guerra, mas lhes digo: se façam de guerreiros e não deixa um vigarista deste dar um passo na sua propriedade. Nenhum! Usem todo tipo de rede, todo mundo tem telefone, liguem um para o outro imediatamente, reúnam verdadeiras multidões e expulsem do jeito que for necessário”. Ontem, Carvalho também reconheceu que há problemas dentro do Executivo para lidar com a questão. Porém a autocrítica do ministro foi no sentido oposto à dos parlamentares. “No aparelho do Estado brasileiro, evidente que você não tem posição neutra. É evidente que você tem uma posição favorável também a esta mentalidade de que tudo que fere a ordem estabelecida é um problema, está fora da ordem. E portanto que cabe muitas vezes ao Executivo a tarefa ingrata e inglória de fazer cumprir uma ordem, uma lei que sabidamente não podemos estar de acordo com ela. Mas mais do que isso, há uma mentalidade dentro do aparelho do Estado que se posiciona claramente contra tudo aquilo que é insurgência, contra tudo aquilo que é uma reivindicação de direitos que ousa ir um pouco além dos questionamentos”, afirmou o ministro. O deputado será questionado pela Frente Parlamentar na Corregedoria da Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar e na Procuradoria-Geral da República por incitação ao crime e à violência. “Não podemos nos deixar ficar omissos a uma situação tão grave quanto essa”, disse a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), membro da Frente Parlamentar. Além da Frente, o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT anunciou que tam- bém entrará com uma ação junto ao Ministério Público Federal contra o deputado. Heinze voltou a pedir desculpas aos gays e disse que se defenderá nas instâncias cabíveis. “Se quiserem entrar, podem entrar”, afirmou. O deputado da frente ruralista destacou que também os produtores rurais sofrem violações: “Acho que não estou incitando a violência. Não estou dizendo para armarem gente e darem tiro”, acrescentou. O ato foi bem visto pelos tucanos. “Vai ser bastante oportuno para todo mundo. Sempre é um constrangimento para o partido ter um parlamentar processado por corrupção”, disse o deputado federal tucano Nelson Marchezan Jr. (foto). Segundo o parlamentar gaúcho, o presidenciável tucano, Aécio Neves, que é mineiro, não deve ser atingido pelas denúncias contra Azeredo. “Dos 15 beneficiários, só Azeredo era do PSDB. Não existe articulação de partido. Então, não acredito que isso vá afetar diretamente a candidatura.” MARCO QUINTANA/JC Gilberto Carvalho não citou o nome dos parlamentares gaúchos Parlamentar pede desculpas a homossexuais por fala Foco de duas representações da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, o deputado federal gaúcho Luis Carlos Heinze (PP) disse que manterá suas críticas contra a política agrária do governo federal, mas pediu desculpas aos homossexuais. Em uma audiência da Comissão de Agricultura sobre demarcação de terras, em novembro passado, no Rio Grande do Sul, Heinze classificou índios, gays e quilombolas como “tudo o que não presta”. Repórter Brasília Constrangimento ao partido SAMUEL MACIEL/JC O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho (PT), criticou ontem, sem citar nomes, as declarações dadas pelos deputados federais gaúchos Luis Carlos Heinze (PP) e Alceu Moreira (PMDB), em novembro do ano passado, durante encontro com produtores rurais no município de Vicente Dutra, no Rio Grande do Sul. Na ocasião, eles criticaram a atuação do Palácio do Planalto na questão fundiária, em especial o papel desempenhado pelo ministro, que é o interlocutor do governo com os movimentos sociais. No vídeo, disponível no Youtube desde 12 de fevereiro deste ano, Heinze chegou a dizer que quilombolas, índios, gays, lésbicas, “tudo o que não presta”, está “aninhado” no gabinete de Carvalho, na antessala da presidente Dilma Rousseff (PT). “Infelizmente, um desses dias, dois parlamentares nossos se referiram aos que não prestam. Essa palavra, essa declaração não temos que analisá-la apenas pelo lado da grosseria que ela significou. Mas ela, eu diria, é uma confissão sincera de um pensamento que está no sub-texto, na consciência, infelizmente, de grande parte da sociedade. O que presta é o que está dado, é o status quo, é o intocável, é o que domina. Tudo aquilo que incomoda, agita, que antes estava quietinho na senzala, ou aldeia, ou vivendo sua discriminação no silêncio, tudo isso passa a incomodar”, disse Carvalho durante divulgação de pesquisas do Centro de Estudos sobre o Sistema de Justiça (Cejus), da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça (SRJ/MJ) sobre conflitos fundiários. Em novembro, depois de lembrar que o governo forneceu R$ 150 bilhões em financiamento ao agri- 23 Ganhar tempo Os petistas interpretaram o movimento como uma estratégia para acabar com o julgamento do mensalão mineiro. “Ele deve ter sofrido uma grande pressão para renunciar e assim preservar a candidatura de Aécio Neves”, comentou o deputado federal Bohn Gass (PT-RS). “Agora, o julgamento volta à primeira instância e eles ganham tempo até o caso prescrever”, completou. Manifestação sincera Principal alvo das declarações dos deputados federais Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS) em Vicente Dutra, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho (PT), resolveu responder. “Não temos que analisar essas palavras apenas pela grosseria que representaram. Elas são uma manifestação sincera de um pensamento que, infelizmente, está na inconsciência de grande parte da nossa sociedade, para quem o que presta é o que está dado, o intocável, e a quem incomoda todos os que antes estavam quietinhos na senzala, na aldeia ou sendo discriminados silenciosamente e que, agora, passaram a se agitar.” A Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos estuda apresentar uma representação na Corregedoria da Câmara dos Deputados contra Heinze. Comissão em Santa Maria A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado irá a Santa Maria, amanhã, avaliar a atuação do poder público em relação ��������������������������������������������������������� à�������������������������������������������������������� tragédia da boate Kiss, em janeiro do ano passado. “Vamos visitar as autoridades locais, Corpo de Bombeiros, Judiciário e delegados que estão à frente do processo para dialogar sobre esse tema que machucou a todos”, disse Paulo Paim (PT) autor do requerimento. [email protected] (51) 3378-8000 I www.pcmsocarloschagas.com.br