ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA ALFREDO JOSÉ FERREIRA DIAS A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO HAITI PÓSTERREMOTO 2010 Rio de Janeiro 2011 ALFREDO JOSÉ FERREIRA DIAS A PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO HAITI PÓSTERREMOTO 2010 Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientadora: Juíza Heloisa Corrêa Da Costa e Paula Rio de Janeiro 2011 C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencionálos, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Dias, Alfredo José Ferreira A Participação das Forças Armadas no Haiti, pós-Terremoto 2010 / Alfredo José Ferreira Dias. Rio de Janeiro: ESG, 2011. 59f.:il Orientadora: Juíza Heloisa Correa da Costa e Paula Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia, apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011. 1.MINUSTAH. 2. Ajuda Humanitária. 3. Política Externa. I. Título. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, Inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. Agradeço aos meus pais que me legaram os princípios éticos e morais que sempre nortearam minha vida pessoal e profissional. Agradeço a minha eterna e amada, mais do que esposa, companheira e amiga Margarete, conhecedora das minhas virtudes e defeitos, por ter proporcionado as condições para que até aqui eu chegasse. Agradeço aos meus filhos, Amanda e João Felipe, pela compreensão das minhas ausências, não só para realizar este trabalho, como também pelas inúmeras vezes que me afastei nos últimos anos, por motivos profissionais. À Juíza Heloisa Corrêa da Costa e Paula, minha orientadora, por toda a orientação e compreensão. Aos companheiros estagiários do CAEPE/2011, Desenvolvimento", pelo convívio harmonioso e fraterno. Enfim, a todos meu muito obrigado! Turma "Segurança e Uma Nação que confia em seus direitos em vez de confiar em seus soldados, engana-se a si mesma e prepara a sua própria queda". Rui Barbosa RESUMO Em 1804, liderados por Toussaint L´Ouverture, os haitianos romperam mais de dois séculos de opressão e expulsaram os franceses, constituindo-se no primeiro país independente da América Latina. A história do Haiti é marcada pelo descaso internacional, pela corrupção e pela falta de compromisso das autoridades locais para com o seu povo. Após uma rebelião armada, em fevereiro de 2004, na cidade de Gonaives, o Presidente Jean Bertrand Aristide partiu para o exílio em aeronave norte-americana. Com isso, o Conselho de Segurança da ONU autorizou a constituição da Força Interina Multinacional (MIF, em inglês) liderada pelos Estados Unidos da América, que em abril do mesmo ano, foi substituída pela Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), comandada por um General brasileiro. Atualmente o Contingente Militar da Missão é integrado por militares de 12 (doze) países, totalizando um efetivo de 6700 (seis mil e setecentos) homens, sendo 2100 (dois mil e cem) dos Batalhões Brasileiros de Força de Paz, que têm por objetivo permitir a retomada do processo democrático no país. Em 12 de janeiro de 2010, ocorreu um terremoto de magnitude sete na escala Richter, trazendo caos ao país caribenho que já enfrentava dificuldades na busca da paz social. Neste contexto, houve uma rápida resposta brasileira a solicitação da ONU, aumentando o contingente brasileiro e contribuindo no esforço da comunidade internacional na assistência humanitária ao povo haitiano. O presente trabalho se propõe a identificar a participação das Forças Armadas (FA) brasileiras no Haiti, pósterremoto 2010. Para tal, pretendeu-se no primeiro capitulo identificar os aspectos legais relativos à participação das FA brasileiras na MINUSTAH e o processo decisório para o aumento do efetivo de tropa; em outro capitulo será identificada a atuação das FA, abordando-se a participação no apoio a ajuda humanitária internacional e os aspectos operacionais da Missão. Finalmente, serão identificadas as perspectivas para política externa brasileira. Dessa forma, o trabalho poderá servir de parâmetro de avaliação para as FA brasileiras definirem procedimentos ou corrigirem rumos, referentes ao preparo e emprego de tropas em ações de assistência humanitária internacional, em função das experiências adquiridas no Haiti. Palavras-chave: Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Forças Armadas. Ajuda Humanitária. Política Externa Brasileira. RESUMEN En 1804, guiados por Toussaint L´Ouverture, los haitianos rompieron dos siglos de opresión y expulsaron a los franceses, constituyéndose en el primer País independiente de América Latina. La historia de Haití es marcada por la indiferencia internacional, por la corrupción y por la falta de compromiso de las autoridades locales con su pueblo. Después de una rebelión armada, en febrero de 2004, en la ciudad de Gonaïves, el Presidente Jean Bertrand Arístides salió con exilio en una aeronave norte-americana. Con esta situación, el Consejo de Seguridad de la ONU, autorizo la constitución de una Fuerza Interina Multinacional (MF, en ingles) comandada por los Estados Unidos de América, que en abril del mismo año, fue substituida por la Misión de Naciones Unidas para la Estabilización de Haití (MINUSTAH), comandada por un General brasileño que tiene como objetivo retornar el proceso democrático en el país. El 12 de enero de 2010, hubo un terremoto, ocasionando caos en el país caribeño. En este contexto, hubo una rápida respuesta brasileña a la solicitud de la ONU, aumentando el contingente brasileño y contribuyendo con el esfuerzo de la comunidad internacional con asistencia humanitaria al pueblo haitiano. El presente trabajo tiene como propósito identificar la participación de las Fuerzas Armadas (FA) brasileñas en Haití pos-terremoto 2010. Para tal situación, se pretendió en el primer capítulo, identificar los aspectos legales relativos a la participación de las FA brasileñas en MINUSTAH así como el proceso de la toma de decisiones para aumentar el efectivo de tropa; en otro capitulo será identificada la actuación de las FA, enfocando la participación en el apoyo de ayuda humanitaria internacional y los aspectos operacionales de la Misión. Finalmente, serán identificadas las perspectivas para la política externa brasileña. De esta manera, el trabajo podrá servir de parámetro de evaluación para que las FA brasileñas definan los procedimientos o corrijan los rumbos en relación a la preparación y entrenamiento de las tropas en acciones de asistencia humanitaria internacional, en función de las experiencias adquiridas en Haití. Palabras llave: Misión de las Naciones Unidas para la Estabilización de Haití (MINUSTAH). Fuerzas Armadas. Ayuda Humanitaria. Política Externa Brasileña. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Casa Azul antes do Terremoto 30 Figura 2 - Casa Azul pós-terremoto ........................................................................30 Figura 3 - Hospital improvisado no BRABATT ........................................................30 Figura 4 - Consequências do terremoto ..................................................................31 Figura 5 - NDCC “Almirante Sabóia” .......................................................................33 Figura 6 - NDCC “Garcia D`Ávila” ...........................................................................33 Figura 7 - Porta-Aviões “Conte di Cavour” ..............................................................34 Figura 8 - Fase do preparo da Tropa ......................................................................36 Figura 9 - Emprego da tropa com a participação da UNPOL/FPU/PNH .................39 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AGNU Assembléia-Geral das Nações Unidas CEMD Chefe do Etado-Maior de Defesa COE Manual de Equipamento de Propriedade dos Contingentes – Contingent-Owned Equipment Manual CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas DAI Departamento de Assuntos Internacionais DPKO Departamento de Operações de Manutenção da Paz EMD Estado-Maior de Defesa END Estratégia Nacional de Defesa GSI Gabinete de Segurança Institucional MD Ministério da Defesa MF Ministérios da Fazenda MINUSTAH Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti MOU Memorando de Entendimento – Memorandum of understanding MP Militar da Missão Permanente do Brasil junto a ONU MPOG Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão MRE Ministério das Relações Exteriores OMP Operação de Manutenção da Paz ONU Organização das Nações Unidas SPEAI Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais TCC Países Contribuintes com Tropa – Troop Contributing Countries 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................11 2 ASPECTOS LEGAIS RELATIVOS À PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NA MINUSTAH E O PROCESSO DECISÓRIO PARA O AUMENTO DO EFETIVO DE TROPA PÓS - TERREMOTO ........16 2.1 AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ (OMP) SOB A ÉGIDE DA ONU .............................................................................................................. 16 LEGISLAÇÃO BRASILEIRAS PARA AS OPERAÇOES DE PAZ .................. 17 LEGISLAÇAO INTERNACIONAL AOS CONTINGENTES MILITARES BRASILEIROS NO HAITI .............................................................................. 19 Memorando de Entendimento (Memorandum of Understanding–MOU) 21 Acordo sobre o Status da Força (Status of Force Agreement – SOFA) e Acordo sobre o Status da Missão (Status of Mission Agreement – SOMA) .......................................................................................................... 21 Regras de Engajamento (Rules of Engagement – ROE) ......................... 22 Orientações para os Países que Contribuem com Tropas para uma Operação de Manutenção da Paz (Guidelines for Troop Contributing Countries) .................................................................................................... 23 Procedimentos Operativos Padronizados (Standard Operating Procedures-SOP) ........................................................................................ 23 PROCESSOS DECISÓRIOS ..................................................................... 24 Descrição do processo .............................................................................. 24 Fase informal .............................................................................................. 24 Fase formal.................................................................................................. 26 Fatos que possibilitaram o reforço de tropa na MINUSTAH ................... 26 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 2.3.5 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.4.4 3 ATUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NO HAITI, PÓSTERREMOTO ...............................................................................................29 3.1 PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NA ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA ............................................................................................. 29 ASPECTOS OPERACIONAIS ...................................................................... 35 3.2 4 PERSPECTIVAS PARA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DECORRENTE DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NO HAITI ............................................................................................................41 4.1 4.2 SÍNTESE HISTÓRICA .................................................................................. 41 VALORIZAÇÃO DO MULTILATERALISMO E RESPEITO AO DIREITO INTERNACIONAL. ........................................................................................ 44 13 4.3 4.4 4.5 5 CONTRIBUIÇÃO PARA A ELEVAÇÃO DO BRASIL A CATEGORIA DE MEMBRO PERMANENTE DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU. .... 45 POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DA LIDERANÇA REGIONAL .................. 46 AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA EM MISSÕES DE PAZ OU DE AJUDA HUMANITÁRIA INTERNACIONAL ............................................. 47 CONCLUSÃO ..............................................................................................48 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 52 ANEXO A - EVENTOS DO REFORÇO DA TROPA NA FORÇA DE PAZ DA MINUSTAH ............................................................................................. 57 ANEXO B - QUESTIONÁRIO AO EMBAIXADOR BRASILEIRO NO HAITI, IGOR KIPMAN ............................................................................................. 58 11 1 INTRODUÇÃO No inicio do século XIX (1804), os haitianos, liderados por Toussaint L´Ouverture, expulsaram os franceses que exploravam suas terras e dominavam toda a população negra nativa, rompendo mais de dois séculos de opressão. Assim, tornaram o Haiti no primeiro país independente da América Latina. O Haiti é um país caribenho e ocupa o terço ocidental da Ilha Hispaniola (ou Ilha de São Domingos), fazendo fronteira terrestre com a República Dominicana, a leste. Possui uma área de 27.750 km² e uma população estimada em 10.000.000 habitantes, no ano de 2010. Cerca de 90% dos haitianos são de ascendência africana. A história do Haiti é marcada pelo descaso internacional, pela corrupção e pela falta de compromisso das autoridades locais para com o seu povo. Iniciou a década de 1990 elegendo o ex-padre Jean Bertrand Aristide para ocupar a Presidência da República nele depositando todas as suas esperanças para superar seus graves problemas políticos, econômicos, psicossociais e militares. O pais já era o mais pobre das Américas, com uma devastação ambiental descontrolada, desemprego atingindo 70% de sua população economicamente ativa, expectativa de vida na faixa dos 51 anos, com 80 % da população sobrevivendo abaixo da linha da pobreza e com doenças endêmicas avassaladoras. Aristide assumiu o poder em 1991 e um ano depois foi derrubado por um golpe de Estado, liderado por militares. A Anistia Internacional estima em 5.000 os mortos pela junta militar entre 1991 e 1994. O boicote da comunidade internacional ao regime imposto agravou ainda mais as condições socioeconômicas da população. Em outubro de 1994, em decorrência do contínuo fluxo de imigrantes haitianos que tentavam chegar às costas dos Estados Unidos, tropas norteamericanas, com autorização do Conselho de Segurança (CS) da ONU, desembarcaram no país e reinstalaram Aristide no poder. Em 1995, Aristide aboliu as Forcas Armadas, com o apoio dos Estados Unidos. A falta de planejamento desta ação jogaria milhares de ex-militares no abandono, criando um grave foco de tensão. Aristide concluiu seu período de governo e foi substituído por René Préval, que governou a país de 1995 a 2001. 12 A instabilidade política acentuou-se a partir de 2001 quando Aristides regressou à presidência do país, com mandato até 2006. Após duas tentativas de golpes de estado, a repressão à oposição aumentou, com o uso, pelo governo, de “chiméres”, grupos armados apoiados pelo governo e por setores pró-Aristide da Polícia Nacional do Haiti (PNH). O governo passou a se apoiar em grupos armados que, muitas vezes com a conivência das autoridades, voltavam-se também para o banditismo e o tráfico de drogas. Durante seu novo mandato, Aristide revelou-se um Iíder populista, despreparado para a função, vulnerável à corrupção e à tentação do uso arbitrário do poder. Temeroso de um novo golpe militar, armou sua base eleitoral nas comunidades pobres da capital, Porto Príncipe, especialmente nos bairros de Bel Air e Cite Soleil. A despeito de várias iniciativas diplomáticas do Mercado Comum e Comunidade do Caribe (CARICOM) e da OEA, uma rebelião armada eclodiu em fevereiro de 2004 na cidade de Gonaives, espalhando-se rapidamente pelo país. Na iminência das forças rebeldes entrarem na capital, Porto Príncipe, na manhã de 29 de fevereiro de 2004, o Presidente Aristide partiu para o exílio na República CentroAfricana em aeronave norte-americana. Sua renúncia se deu em meio a amplas denúncias de corrupção. O então Primeiro-Ministro Yvon Neptune tomou a iniciativa de implementar uma variante de um pIano proposto pela CARICOM para a instalação de um Governo Transitório. Assumiu o cargo de Presidente o então Presidente da Corte Suprema de Justiça, Boniface Alexandre. Na noite de 29 de fevereiro, o Representante Permanente do Haiti junto às Nações Unidas submeteu ao Conselho de Segurança cópia da carta de renúncia de Aristide e um pedido de assistência ao país. Na mesma noite foi aprovada, pelo CS da ONU, a Resolução 1529 (2004), que autorizou tropas estrangeiras a entrarem em território haitiano, amparadas no Capitulo VII da Carta das Nações Unidas, por um período máximo de 3 (três) meses. Foi então organizada a Força Interina Multinacional (MIF), liderada pelos Estados Unidos da América (EUA) e integrada também por militares de Canadá, França e Chile. A MIF era composta por cerca de 3.400 (três mil e quatrocentos) militares, dos quais 1.800 (mil e oitocentos) norte-americanos, 800 (oitocentos) franceses, 460 (quatrocentos e sessenta) canadenses e 340 (trezentos e quarenta) chilenos. A MIF se deslocou prontamente para o Haiti e, em lá chegando, restabeleceu a ordem e 13 permitiu a posse do Governo Provisório, com o apoio do empresariado local e dos governos dos países interventores. Sentindo a necessidade de prosseguir com sua presença no país, a ONU por meio de seu CS, criou em 30 de abril de 2004, pela Resolução 1542, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) para, atuando sob o escopo do Capitulo VII da Carta das Nações Unidas, substituir a MIF e permitir a retomada do processo democrático, assegurando um ambiente seguro e estável no país. O Brasil, por sua importância estratégica na America Latina, foi convidado a liderar o contingente militar da MINUSTAH. Após estudar o pedido, o Governo brasileiro decidiu optar pela participação e, em junho de 2004, despachou seu primeiro contingente para o país caribenho, integrado por 1200 (mil e duzentos) homens, para um período inicial de 6 (seis) meses. lndicou também o comandante militar da missão, General-de-Divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que passou a comandar o Contingente Militar, integrado por militares de 12 (doze) países, totalizando um efetivo de 6700 (seis mil e setecentos) homens. Eleito em 7 de fevereiro de 2006, René Préval só foi declarado vitorioso após intervenção do Governo brasileiro, que sugeriu a anulação da contagem de votos brancos e nulos, sob suspeita de fraude, para evitar um recrudescimento da violência. O Brasil encontra-se, atualmente, com seu 15° contingente operando no Haiti e a missão tem significado uma oportunidade de emprego real da tropa em assistência humanitária internacional e operações urbanas, com a utilização de material moderno e com o desenvolvimento de doutrina própria para combate nesse tipo de ambiente. Tudo isso tem motivado e renovado o ânimo dos militares que participam da missão, inclusive com oportunidades de colocar em prática os ensinamentos no Brasil, nas Operações de Garantia da Lei e da Ordem, em vigor atualmente no conjunto de favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro - RJ. O Haiti tem sofrido sérios revezes em relação à crise interna, com dificuldades no fornecimento de alimentos, falta de saneamento básico, desemprego e grande devastação provocada pelo furação de 2008, que deixou milhares de haitianos desabrigados. Aliado a estes fatos, em 12 de janeiro de 2010, ocorreu um terremoto de magnitude 7 na escala Richter. 14 Um grande terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o Haiti, o país mais pobre da América, por volta das 19h50 (horário de Brasília) desta terça-feira (12). [...] Ainda não há números oficiais de vítimas e prejuízos, mas os relatos que chegam pelas agências de notícias informam que diversos edifícios desabaram no país, inclusive o palácio presidencial da capital Porto Príncipe. (UOL NOTÍCIAS, 2010) O terremoto de proporções catastróficas trouxe caos ao país caribenho que já enfrentava dificuldades na busca da paz social. Foi um grande desafio para as tropas de Operações de Paz, principalmente para o Brasil, líder da MINUSTAH e representado por um Batalhão de Infantaria de Força de Paz. As Forças Armadas norte-americanas, com sua grande capacidade logística, assumiram, temporariamente, o protagonismo das ações de ajuda, viabilizando uma rápida resposta. Conforme comentou o General-de-Divisão P. K. Keen, em texto publicado na revista Military Review: Para salvar vidas, na ocorrência de qualquer desastre natural, é fundamental que se reaja com rapidez e eficácia. No Haiti, essa necessidade ficou ainda mais clara, devido à devastação do terremoto e à incapacidade de resposta do governo haitiano. (KEEN , 2011, p. 68) Neste contexto, houve uma rápida resposta brasileira à solicitação da ONU, aumentando o contingente brasileiro e contribuindo no esforço da comunidade internacional na assistência humanitária ao povo haitiano. Essa política trouxe diversos questionamentos e a possibilidade de formular o problema deste trabalho1: em que medida a participação das Forças Armadas brasileiras foi importante nas ações de assistência humanitária no Haiti pós- terremoto 2010 e qual o impacto na política externa brasileira. Em face ao problema levantado acima, formularam-se as seguintes hipóteses para comprovação (ou não): H1. A participação das Forças Armadas brasileiras no Haiti, pós - terremoto 2010, foi significativa para a consecução dos objetivos da assistência humanitária internacional naquele país. H2. No contexto das ações de assistência humanitária, a participação das Forças Armadas brasileiras no Haiti, pós - terremoto 2010, possibilitaram uma maior projeção internacional do Brasil. 1 Problema proposto no Projeto de Pesquisa apresentado pelo autor, em 18 Abr. 2011, como prérequisito para a matrícula em programa de pós-graduação lato sensu em Altos Estudos de Política e Estratégia. 15 H3. As estruturas atuais das Forças Armadas brasileiras, de pessoal e material, não são suficientes para o emprego efetivo em ações de assistência humanitária internacional. Para tal, pretendeu-se no primeiro capítulo identificar os aspectos legais relativos à participação das Forças Armadas brasileiras na MINUSTAH e o processo decisório para o aumento do efetivo de tropa pós – terremoto. Em outro capitulo, será identificada a atuação das Forças Armadas brasileiras no Haiti, pós- terremoto, abordando-se a participação no apoio à ajuda humanitária internacional e os aspectos operacionais da Missão. No terceiro e último capítulo, serão identificadas as perspectivas para política externa brasileira, decorrentes da participação das F A brasileiras no Haiti. A metodologia utilizada foi a de pesquisa qualitativa, bibliográfica e exploratória. Para isso, a coleta dos dados ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica em consulta a obras literárias, em relatórios dos contingentes brasileiros no Haiti, pós-terremoto de 2010, pesquisa de campo, utilizando como instrumento questionários com perguntas abertas e fechadas acerca do tema, informações disponíveis na internet e palestras proferidas na Escola Superior de Guerra. Dessa forma, o título escolhido poderá servir de parâmetro de avaliação para as Forças Armadas brasileiras definirem procedimentos ou corrigirem rumos, referentes ao preparo e emprego de tropas em ações de assistência humanitária internacional, em função das experiências adquiridas no Haiti. 16 2 ASPECTOS LEGAIS RELATIVOS À PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NA MINUSTAH E O PROCESSO DECISÓRIO PARA O AUMENTO DO EFETIVO DE TROPA PÓS - TERREMOTO O propósito deste capítulo é discutir os aspectos legais relativos à participação das Forças Armadas brasileiras na MINUSTAH. Inicialmente, serão abordadas algumas peculiaridades das operações de manutenção da paz e as especificidades jurídicas da missão brasileira no Haiti. Posteriormente, serão descritas as fases do processo decisório de alto nível que culminou com o aumento de tropas no Haiti, pós - terremoto. 2.1 AS OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ (OMP) SOB A ÉGIDE DA ONU De acordo com a classificação proposta por Boutros -Ghali, em seu documento “Uma Agenda para a Paz”, a ONU considera Peace -Keeping (Manutenção da Paz) um dos instrumentos apropriados para a prevenção ou solução dos conflitos internacionais. Portanto, trata -se da presença da ONU na área de conflito, normalmente envolvendo pessoal civil e militar, com o consentimento das partes em litígio, a fim de implementar ou monitorar a implementação de acordos relacionados ao conflito e sua solução, ou para assegurar o provimento de ajuda humanitária. O que tipifica inequivocamente uma operação de manutenção de paz é o consentimento, das principais partes em conflito para a sua realização. Atualmente as operações de manutenção da paz apresentam as seguintes características: - normalmente ocorrem como resposta a conflitos intra -estatais, ao invés de interestatais; - contemplam variadas tarefas, de cunho militar, civil e humanitário; - têm composição variada, com elementos organizacionais militares e civis; - seu mandato é reajustado ao longo do tempo; e - desenvolvem-se em ambiente multipolar, não somente em relação às organizações participantes da missão, como também pela presença de beligerantes não-estatais (milícias, bandos, tribos e outros). 17 Desse modo, as “tarefas básicas de uma OMP são: criar um ambiente seguro e estável, facilitar o processo político e assegurar as atividades das Nações Unidas e outros atores. Não existe uma organização padrão para as missões de manutenção da paz. O chefe de toda a missão será o Representante Especial do Secretário-Geral da ONU (Special Representative of the Secretary-General – SRSG), que se reporta diretamente ao Secretário-Geral. Normalmente, serão criados componentes em correspondência às diversas vertentes que a missão possuir (militar, de observação militar, humanitário, eleitoral, político e outros). Além daqueles, a missão também deverá contar com um componente administrativo dirigido por um Chief Administrative Officer (CAO), que proporcionará todo o apoio logístico, financeiro e administrativo aos demais componentes. O componente militar, normalmente multinacional, será comandado por um Force Commander (FC). Se houver um componente de observadores militares, ele será comandado por um Chief Military Observer (CMO), podendo estar o CMO subordinado ao FC ou ao SRSG. Também é muito comum a constituição de um componente de polícia , conhecido como CIVPOL. Atualmente, a ONU está muito bem estruturada para organizar e controlar as operações de manutenção da paz, tanto em termos institucionais quanto organizacionais. Ela conta com o Departamento de Opera ções de Manutenção da Paz (Department of Peacekeeping Operations – DPKO), que exerce efetivo controle sobre o transcurso da missão, em todas as suas vertentes. Este controle se estende desde o acompanhamento do cumprimento das tarefas atribuídas aos diversos componentes até os mínimos detalhes logísticos e administrativos. 2.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRAS PARA AS OPERAÇOES DE PAZ No seu preâmbulo, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 identifica como fundamento da sociedade brasileira “a harmonia social comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias” e cita, no seu Art. 4º, os princípios que regem suas relações internacionais, dentre eles: “II - prevalência dos direitos 18 humanos; III - autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; Vigualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; [...] IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”. A Política de Defesa Nacional, aprovada pelo Decreto nº 5.484, de 30 junho de 2005, busca interpretar a Constituição prevendo que o Brasil atuará na comunidade internacional sob a égide de organismos multilaterais, respeitando os princípios constitucionais e participará de operações de paz, visando a contribuir para a paz e a segurança internacionais. Traça como objetivo a contribuição para a manutenção da paz e da segurança internacionais (BRASIL, 2005, p. 14), orientando intensificar a participação em ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos multilaterais, visando ampliar a projeção do país e reafirmar seu compromisso com a defesa da paz e com a cooperação entre os povos (BRASIL, 2005, p. 17). Indica, também, diretriz estratégica de participar de missões de paz e ações humanitárias, de acordo com os interesses nacionais (BRASIL, 2005, p. 21). A Estratégia Nacional de Defesa, aprovada pelo Decreto nº 6.703, de 18 dez 2008, prevê como diretriz “preparar as Forças Armadas para desempenharem responsabilidades crescentes em operações de manutenção da paz”. A atuação das Forças Armadas Brasileiras em OMP encontra amparo legal nos documentos já citados e sua forma é dada na Lei Complementar nº 97, de 9 jun1999 (BRASIL, 1999), que dispõe sobre a organização, preparo e emprego das Forças. Atribui ao Estado-Maior de Defesa (Art. 11) competência para elaborar o planejamento do emprego combinado das Forças Armadas e assessorar o Ministro de Estado da Defesa na atuação de forças brasileiras em operações de paz. A lei nº 2.953, de 17 nov 1956 (BRASIL, 1956), fixa normas para remessa de tropas brasileiras para o exterior. Esta Lei determina, por exemplo, que o envio de tropas brasileiras ao exterior depende de aprovação do Congresso Nacional, mesmo quando se refere a obrigações assumidas pelo Brasil como membro de organizações internacionais. 19 O MD, criado pela Emenda Constitucional nº 23, de 02 set 1999, passou, nesta data, exercer o controle do envio de tropas e militares para missões de paz. No anexo III do Regimento interno do Estado-Maior de Defesa (EMD) da Portaria Normativa nº 1.672/MD, ficou estabelecido no Art. 1º as seguintes competências para o EMD: I – formular a doutrina e o planejamento do emprego combinado das Forças Armadas; [...] VII – propor diretrizes para a atuação das Forças Armadas em operações de manutenção da paz, bem como acompanhá-las no nível político-estratégico. O emprego de tropa das Forças Armadas em OMP é tratado pelo EMD. O emprego de observadores, oficiais de ligação, oficiais de estado maior e até comandantes da Força de Paz, como os Force Commander, em OMP, conhecidas na ONU como missões individuais, é tratado pelo Departamento de Assuntos Internacionais/ Secretaria de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais (DAI/SPEAI). Quanto à designação e ao preparo de todos os elementos, sejam missões individuais ou coletivas, a seleção é feita em regime de voluntariado e o adestramento corre por conta de cada Força Armada, conforme preconiza o Art. 13 da Lei Complementar nº 97, de 9 jun 1999 (BRASIL, 1999). 2.3 LEGISLAÇAO INTERNACIONAL BRASILEIROS NO HAITI AOS CONTINGENTES MILITARES A Carta, assinada em São Francisco (EUA) no dia 26 de junho de 1945, é o documento base para todos os trabalhos das Nações Unidas, que foram fundadas para “salvar sucessivas gerações do flagelo da guerra” (UNITED NATIONS, 2008, p. 13). As atividades da ONU relacionadas à manutenção da paz, embora não explicitamente previsto na Carta, evoluíram para uma das principais ferramentas utilizadas pela Organização para alcançar este objetivo. A Carta confere ao Conselho de Segurança da ONU (CSNU) a responsabilidade principal pela manutenção da paz e da segurança internacionais. Para cumprir o seu papel, o CS pode tomar uma série de 20 medidas, que incluem o estabelecimento de uma OMP, com base legal nos capítulos VI, VII e VIII. Enquanto o capítulo VI trata da “Solução Pacífica de Controvérsias”, o capítulo VII dispõe sobre as “Ações com respeito à Ameaça à Paz, Ruptura da Paz e Atos de Agressão”. O capítulo VIII prevê o envolvimento de organizações regionais na manutenção da paz e da segurança internacionais, desde que as atividades desenvolvidas sejam coerentes com os propósitos e princípios delineados na Carta (UNITED NATIONS, 2008, p. 13). As OMP não estão previstas na Carta. Contudo, o CS considera o assunto como sendo um capítulo seis e meio, sintomaticamente colocado entre o capítulo VI e o VII, que prevê a utilização de meios mais coercitivos, tais como o recurso, em extremo, de forças militares. As OMP são referendadas pelo CSNU, que decide o mandato, a composição da força que será enviada para o terreno e o orçamento da operação. As Nações Unidas não possuem um exército próprio, sendo os Estados que fornecem os contingentes necessários à operação. A direção política e executiva da operação no terreno cabe ao DPKO, subor dinado ao Secretário Geral. O tempo necessário para constituir uma missão pode variar, sobretudo, consoante a vontade política dos Estados em contribuírem com tropas. É importante ressaltar que uma resolução do CSNU que dê início a uma operação de paz com respaldo no Capítulo VII da Carta das Nações Unidas não a transforma automaticamente em uma imposição da paz. É certo que todas as operações de imposição da paz são amparadas pelo referido capítulo, porém tem sido observada uma tendência, por parte do CSNU , de amparar as operações de manutenção da paz também nesse mesmo capítulo, particularmente nas missões em que exista um risco mais elevado para a força de paz. Assim procedendo, o CSNU garantiu ao contingente militar br asileiro no Haiti, pertencente à MINUSTAH, por intermédio da Resolução nº 1542 (2004), o pleno exercício do direito de autodefesa e, também, um poder coercitivo ampliado, de forma a favorecer o cumprimento do mandato contido na resolução. 21 Além da referida Resolução, o componente militar br asileiro está amparado por um arcabouço legal, sem o qual o Brasil e a própria ONU poderiam ser alvo de processos judiciais das mais diversas naturezas. Este arcabouço é constituído por um conjunto de documentos, dentre os quais se destacam os que serão descritos a seguir. 2.3.1 Memorando de Entendimento (Memorandum of Understanding – MOU) O MOU é um documento que expressa um acordo entre um Estado membro e a ONU, sendo utilizado nas inúmeras atividades da organização. No caso das operações de manutenção da paz, é empregado para regular o entendimento bilateral entre a ONU e cada um dos países que enviarão tropas ou outros meios militares para a missão. O documento deixa claro o que a ONU espera do país contribuinte e vice-versa, em termos de efetivos e capacidades. Os aspectos admistrativos e financeiros são contemplados. As capacidades requeridas e os reembolsos a serem recebidos pelo país participante, constantes do MOU, são baseados em um conjunto de normas da ONU hoje consolidadas sob a forma de um manual d enominado Manual on Policies and Procedures Concerning Reimbursement and Control of Contingent-Owned Equipment of Troop-Contributors Participating in Peacekeeping Missions, mais conhecido como Manual COE. 2.3.2 Acordo sobre o Status da Força (Status of Force Agreement – SOFA) e Acordo sobre o Status da Missão (Status of Mission Agreement – SOMA) Tão logo a operação seja autorizada pelo CSNU, a ONU tentará estabelecer um SOFA ou SOMA com o país-anfitrião, o primeiro abrangendo somente a presença dos contingentes da operação e o último abarcando todos os componentes civis e militares da missão, cobrindo, dentre outros, os seguintes aspectos: - o status da operação e de seus membros; - a responsabilidade pela jurisdição civil e criminal sobre os membros da operação; - taxas, impostos e regulações fiscais aplicáveis aos membros da operação; 22 - liberdade de movimento, incluindo o uso de rodovias, aquavias, instalações portuárias e aeroportos; - fornecimento de água, eletricidade e outros serviços públicos; - pessoal localmente recrutado (conhecido como Local Staff); - solução de disputas e reclamos; - proteção do pessoal da ONU; e - aspectos de ligação (ONU – governo local). A importância do SOFA/SOMA reside na capacidade de regular o relacionamento entre a força de paz e o país-anfitrião. A existência de um SOFA/SOMA não eximirá a ONU de proceder às investigações, porém facultará à organização a prerrogativa de, uma vez comprovada a culpabilidade de alguns de seus membros em episódios como os acima descritos, promover a repatriação dos cu lpados a seus países de origem, para julgamento e punição em conformidade com o direito interno desses países. Caso contrário, teriam que ser entregues à justiça do país anfitrião. 2.3.3 Regras de Engajamento (Rules of Engagement – ROE) As ROE definem os parâmetros que orientarão o modo como a força de paz operará, particularmente quando se encontrar, como o próprio nome já prenuncia, em situação de engajamento contra forças hostis. Relembra -se que, mesmo em uma operação de manutenção da paz, poderá haver indivíduos ou grupos minoritários que sejam contrários à missão, ou situações específicas nas quais as condições de segurança da força se deteriorem inesperadamente, exigindo o uso da força por parte dos contingentes integrantes da missão, em nome de sua autodef esa ou defesa das pessoas e bens sob responsabilidade da ONU. As ROE são elaboradas pelo Comandante da Força, após consulta aos contingentes nacionais componentes, cabendo ao DPKO sua aprovação final. São formuladas com base nos seguintes princípios: - uso da força somente quando necessário; - uso da força mínima requerida; - resposta proporcional; - interrupção do uso da força quando cessar a hostilidade; 23 - identificação positiva do alvo; e - minimização do dano colateral. 2.3.4 Orientações para os Países que Contribuem com Tropas para uma Operação de Manutenção da Paz (Guidelines for Troop Contributing Countries) Este documento, informalmente conhecido como Guidelines, é preparado para cada missão de paz, embora normalmente apresente estrutura e conteúdo relativamente padronizados. Nele estão regulados todos os procedimentos aplicáveis às tropas participantes de uma operação de manutenção da paz. Seu conteúdo geralmente abrange as informações gerais a respeito do país-anfitrião, o mandato recebido do CSNU, os objetivos gerai s da operação e os aspectos operativos, organizacionais, logísticos e financeiros da missão. Avultam de importância os aspectos administrativos e financeiros, pois neles serão abordados os direitos, deveres e procedimentos dos contingentes militares perante a ONU, aprofundando o contido no MOU. 2.3.5 Procedimentos Operativos Procedures-SOP) Os chamados SOP, como Padronizados seu nome (Standard indica, Operating padronizam os procedimentos individuais e coletivos das tropas quando inseridas em operações de manutenção da paz. Esses procedimentos estão fartamente documentados nas publicações e no material de instrução e adestramento produzidos pelo DPKO. Seu descumprimento deixa o militar ou o contingente “a descoberto”, sem o respaldo da ONU. Supondo-se, por exemplo, que ocorra a morte de civis em um episódio em que um ou mais SOP tenham sido negligenciados, os militares participantes da ação poderão ser responsabilizados pela fatalidade. Da mesma forma, as indenizações previstas no caso de falecimento ou ferimento grave de um militar, em situação similar, provavelmente não serão pagas ou no mínimo exigirão um esforço processual por parte do governo do militar vitimado. 24 2.4 PROCESSOS DECISÓRIOS O objetivo específico deste subtítulo é identificar o processo decisório de alto nível que culminou no aumento de tropas no Haiti. Para isto, será descrito o processo decisório e identificado os fatos ocorridos nas diferentes instâncias do Governo. 2.4.1 Descrição do processo O processo decisório modelado no Brasil para a participação em uma operação de manutenção da paz pode se iniciar antes ou depois da decisão de se estabelecer uma missão desse tipo, tomada na ONU. Didaticamente, o processo decisório pode ser fracionado em duas fases 2, uma fase informal e uma fase formal, cuja divisão pode não ser tão nítida. A primeira fase caracteriza a consulta da ONU ao Governo Brasileiro sobre a possibilidade, ou não, de atender a solicitação do Secretariado da ONU na participação em uma operação de paz. O objetivo da fase é evitar o desgaste diplomático de uma resposta negativa formal. A fase formal, só se inicia após uma sinalização positiva quanto ao atendimento do pleito formulado, caracteriza a formalização dos contatos e por oficializar e documentar o processo. Percorre -se, nesta fase, o rito processual do relacionamento Brasil-ONU, assim como os processos normativos internos do Governo Brasileiro e da ONU. 2.4.2 Fase informal Inicia-se a fase quando a ONU estabelece contato com o Governo Brasileiro, através da Missão Permanente do Brasil junto a ONU, mediante uma consulta informal do Secretariado da ONU, normalmente algum setor do DPKO, sobre uma determinada demanda. Essa consulta pode ser feita em diferentes níveis de acesso e de interlocutores. Pode haver contato: – do Chefe do DPKO com o Representante Permanente do Brasil junto à ONU 2 3 (opção menos utilizada); Apresentação do MD – EMD na Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica, aos estagiários do Curso de Política e Estratégia Aeroespacial, realizada em 15 abr. 2009. 3 Título pelo qual é conhecido o Embaixador do Brasil junto à ONU e Chefe da Missão Permanente do Brasil junto à ONU (MP). 25 – do Chefe do OMA 4 (Assessor Militar da ONU) com o Conselheiro Militar da Missão Permanente; e – dos Chefes dos Serviços subordinados ao OMA, ou de integrantes dos mesmos, com diplomatas ou com os assessores do Conselheiro Militar. É usual emitir nota verbal 5 para a Missão Militar Permanente do Brasil junto a ONU, endereçada ao Embaixador, ou ao Conselheiro. O Embaixador encaminha a consulta ao Ministério das Relações Exteriores, normalmente via telegrama, com o máximo de informações possíveis e, também, com algum assessoramento pertinente que, por sua vez, repassa a consulta ao Ministério da Defesa. Usualmente, devido à urgência, há, também, comunicação do Conselheiro Militar diretamente com o Secretário de Política Estratégia e Assuntos Internacionais do MD (SPEAI) e com o Chefe do Estado-Maior de Defesa (CEMD), por meio de fax, visando adiantar as tratativas. Tais consultas são levadas às Forças para avaliação da disponibilidade de meios, ou seja, pessoal, equipamentos e capacidade de manter o apoio logístico. Por sua vez, o MRE faz gestões junto aos Ministérios da Fazenda (MF) e Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) para verificar a disponibilidade de recursos financeiros a serem inte grados ao orçamento de modo a sustentar a nova missão. Com uma visão completa a respeito do tema e ciente de todas as implicações, o Presidente da República é consultado e poderá emprestar seu peso político à decisão de empregar tropas. Tal consulta virá do Ministro de Estado das Relações Exteriores acompanhado, ou não , do Ministro de Estado da Defesa. Pode haver reavaliações de disponibilidade de recursos, tanto financeiros quanto de pessoal e material após esta consulta. Com a resposta afirmativa do mandatário da nação, o MRE faz contato informal com a ONU, através da MP. Caso negativo, o processo se 4 Escritório de Assuntos Militares (Office of Military Affaires – OMA), um dos quatro escritórios subordinados ao DPKO. Seu Chefe é contratado pela ONU, indicado pelos estados membros e escolhido pelo DPKO. O cargo deve ser ocupado por um Tenente-General (três estrelas). Trata-se do cargo de maior nível a ser ocupado por um militar na Organização, é também conhecido como Assessor Militar da ONU. 5 Documento usado na ONU para comunicação com setores das Missões Permanentes dos diversos países. 26 encerra. Cabe ressaltar, aqui, a relevância da consideração política nesse momento. A resposta de retorno deve ser consistente e racional, sob pena de comprometer a credibilidade não só dos interlocutores, mas do Estado Brasileiro junto à ONU. 2.4.3 Fase formal A fase formal do processo decisório tem início após o MRE ter comunicado à ONU que concorda com a participação militar do Brasil na missão em pauta. A ONU formaliza a consulta enviando documentação à MP. É comum que alguns aspectos sejam mais detalhados em razão do aprofundamento das análises. O documento recebido na MP é encaminhado ao MRE, acompanhado de novas observações e assessoramentos. Da mesma forma que na consulta informal, o MD e as Forças podem receber o acionamento em canal paralelo. O MRE, por sua vez, retransmite ao MD. Os dois ministros elaboram uma Exposição de Motivos Interministerial ao Presidente da República expondo a intenção de enviar as tropas. Na Presidência da República, particularmente na Casa Civil, é elaborada uma Mensagem ao Congresso Nacional que encaminha a Exposição de Motivos para cumprir o previsto na lei nº 2.953, de 17 nov. 1956, para que o Congresso possa autorizar o envio de tropa brasileira armada ao exterior. Após tramitação interna, o Congresso Nacional autoriza o Presidente a enviar tropas ao exterior, mediante um Decreto Legislativo, por sua vez, o Presidente emite um Decreto Presidencial, determinando as providências pertinentes por parte do Poder Executivo. O Ministro da Defesa, então, elabora a Diretriz Ministerial contendo todos os dados necessários à missão. 2.4.4 Fatos que possibilitaram o reforço de tropa na MINUSTAH Conforme podemos extrair do Apêndice A – Eventos do reforço da tropa na MINUSTAH – o processo decisório foi cumprido de forma bastante acelerada, sobrepondo-se as fases informal e formal. Logo após o terremoto no Haiti, o Conselho de Segurança da ONU adotou a Resolução n° 1908, ampliando os componentes milit ar e policial 27 para fazer face às novas demandas de segurança e humanitárias. A fase informal já havia começado. O Fax n° 017, do Conselheiro Militar, mostra que autoridades governamentais já tratavam dos requisitos operacionais para a tropa a ser desdobrada, denotando certo avanço nas conversações. No dia 20 de janeiro, oito dias após o sinistro, o Conselheiro Militar da MP solicitava a formalização do oferecimento da tropa, fato concretizado no Fax nº 017, do CEMD, onde está acertado o oferecimento de um b atalhão constituído por 900 militares, o BRABATT 2 6. O Alte Zuccaro (apud EDSON, 2010, p 43) esclarece, em sua entrevista, que “o Brasil foi consultado pelo DPKO que o Ministro da Defesa entendeu ser possível esta participação, indo despachar com o Presid ente da República”, passo nítido da fase informal. No dia seguinte, 21 Jan 2010, fora enviado ao Congresso Nacional a Mensagem Presidencial submetendo à apreciação da casa a Exposição de Motivos dos Ministros de Estado da Defesa e das Relações Exteriores, relativa ao aumento do contingente brasileiro para a MINUSTAH, caracterizando a fase formal do processo. Logicamente, pode -se inferir que os demais passos da fase já haviam sido adotados, quais sejam, a consulta formal da ONU à MP e a própria Exposição de Motivos Interministerial. Em 25 Jan 2010, cinco dias após o envio da Mensagem Presidencial, o Congresso autorizou o envio da tropa, emitindo Decreto Legislativo nº 75. No dia seguinte, o Presidente da República assina a Medida Provisória nº 480, abrindo crédito extraordinário, caracterizando, também, as conversações informais com o setor orçamentário do governo. Pode-se depreender da entrevista com o Alte Zuccaro (apud EDSON, 2010, p 43) que as Forças foram consultadas efetivamente. O Exército se prontificou a oferecer os 900 militares e a Marinha ofereceu, inicialmente, 90 homens, mais tarde, ofereceu até 400 homens. O Chefe do Estado -Maior de Defesa chegou à conclusão que o Brasil poderia oferecer mais do que a ONU havia solicitado, então levou para o Ministro um contingente de 1300 homens. Por sua vez, o Ministro decidiu oferecer só 900 para a ONU, mas decidiu, 6 Nome pelo qual ficou conhecido, na ONU, o 2º Batalhão Brasileiro da Força de Paz do Haiti é, na realidade uma abreviatura de Brazilian Battalion 2. 28 também, manter o adicional de 400 em condições de pronto oferecimento, o que está configurado no efetivo (1300) aprovado pelo Congresso Nacional. A composição do reforço de tropa ficou sendo: 809 militares do Exército; um militar da FAB; e 90 fuzileiros navais. Outro fato interessante foi o estabelecimento de um Gabinete de Crise no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Apesar da decisão de enviar o BRABATT 2 pouco ter a haver com suas decisões, é licito supor que ajudou a manter na pauta governamental o problema do Haiti, sem o qual outros problemas poderiam tê-lo ofuscado. No Gabinete de Crise foram discutidas e decididas várias ações de caráter humanitárias, em benefício do povo haitiano. 29 3 ATUAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NO HAITI, PÓSTERREMOTO 2010 Este capítulo tem como propósito a analise da atuação das FA no Haiti, pós- terremoto, abordando-se a participação no apoio a ajuda humanitária internacional e os aspectos operacionais da Missão. Como foi visto no capítulo anterior, processo decisório, o Brasil atendeu a solicitação da ONU, em aumentar o efetivo do 12º Contingente brasileiro no Haiti para atender as necessidades de ajuda humanitária, enviando outro Batalhão, composto por 900 homens e todos os materiais de emprego militar necessários (viaturas, armamentos, munições e equipamentos diversos). 3.1 PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS NA ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA Logo após a hecatombe, visitaram o Haiti o Ministro da Defesa Nelson Jobim, em companhia dos Comandantes do Exército, General Enzo Martins Peri, da Marinha, Almirante Júlio Soares de Moura Neto, equipes dos Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores para avaliar a situação. Frente ao evento e à demanda de apoio imediato, o governo brasileiro iniciou um plano emergencial, elaborado e coordenado pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, o qual estabeleceu um Gabinete de Crise para enfrentar os problemas mais graves então identificados. Tal plano focava o sepultamento dos mortos, socorro médico aos feridos, remoção de destroços, reforço da segurança nessas operações, apoio às tropas brasileiras em missão naquele país e distribuição de suprimentos de todos os tipos. Sobre a estratégia traçada pela comitiva brasileira no Haiti, após reuniões com comandantes militares do Haiti, a imprensa publicou o seguinte: “[...]. De acordo com o Ministério da Defesa, 15 engenheiros serão enviados ao Haiti para reforçar o Batalhão de Engenharia do Exército, que também vai receber equipamentos pesados da construtora OAS, que realiza obras no país, para auxiliar na retirada dos escombros e desobstrução das ruas, principalmente para garantir o acesso da ajuda humanitária e serviços de resgate. Os engenheiros brasileiros também ajudarão no sepultamento dos corpos. A grande quantidade de mortos espalhados pelas ruas preocupa as autoridades pelo risco de epidemias e contaminação. O governo brasileiro vai sugerir às autoridades haitianas a indicação de um local para construção de um cemitério. [...]Um total de 46 militares - entre médicos e enfermeiros - deve integrar o hospital de campanha montado pelo governo brasileiro. Também serão 30 enviados equipamentos para centro cirúrgico, unidade de terapia intensiva (UTI), aparelho para raio-X, laboratório e módulos para atendimento ambulatorial[...] Disponível em: <http://www.informes.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id =2335:governo-brasileiro-detalha-plano-de-ajuda-ao-haiti&catid=1:latestnews&Itemid=108>- Acesso em 01ago.2011. A primeira providência tomada pela tropa brasileira no Haiti, após o terremoto, foi a tentativa de salvar os militares que haviam ficado presos nos escombros do Hotel Cristopher (sede da MINUSTAH) e na Casa Azul (prédio que abrigava um grupo de combate do EB), além de recolher os corpos dos militares mortos. Figura 1 - Casa Azul antes do Terremoto Figura 2 - Casa Azul pós-terremoto Imediatamente após o terremoto, começaram chegar inúmeros feridos, alguns mutilados, procurando atendimento médico na Base do BRABATT, sendo necessário montar um hospital improvisado para atendimento dos casos mais graves.O efetivo de médicos e enfermeiros foi considerado insuficiente para o atendimento à grande quantidade de vítimas. Figura 3 - Hospital improvisado no BRABATT 31 Para atender o plano de emergência traçado pelo Gabinete de Crise, a partir do dia 14 de janeiro de 2010, foi estabelecida uma ponte-aérea de suprimentos entre o Brasil e o Haiti, visando ao transporte de víveres, remédios e os mais diversos materiais de apoio, para atender à população local. Ainda, foram enviadas equipes de resgate e o Hospital de Campanha da FAB (HCAMP), juntamente com o suporte necessário à sua manutenção, para um período inicial de 45 dias. Paralelamente, foram repatriados civis sobreviventes e os corpos dos militares brasileiros falecidos em decorrência desta catástrofe. De acordo com Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR), por ocasião do terremoto, estima-se que morreram cerca de 217.000 pessoas, além de mais de três milhões de pessoas (1/3 da população) que foram diretamente afetadas pela catástrofe, e da destruição de cerca de 1,3 milhões de casas. Estimou-se ainda que cerca de 500.000 pessoas foram obrigadas a se refugiar fora da capital Port-au-Principe. Figura 4 - Consequências do terremoto As Forças Armadas brasileiras desenvolveram esforços para apoiar a população desabrigada em relação às necessidades básicas. A distribuição de barracas, material de higiene, alimentos e outros, provenientes do Brasil, foi 32 realizada na área de responsabilidade do contingente brasileiro em Port-au-Principe. Contudo, por determinação da MINUSTAH, foram realizadas atividades de segurança em outras áreas e nos comboios que transportavam itens de ajuda humanitária. Segundo relatório da FAB, foram transportadas, 2.759,88 toneladas de ajuda humanitária (alimentos, remédios, itens de primeira necessidade) e apoio ao contingente do MINUSTAH, no ano de 2010, com aeronaves C-130 (Hércules), KC137, C-105 (Amazonas) e C-99. Foram voadas, em 2010, 3.769 horas no apoio ao terremoto do Haiti e ao contingente da MINUSTAH. Ressalta-se que cerca de 2.000 horas foram efetivadas no apoio ao terremoto. Comparativamente, foram transportadas cerca de 370 toneladas de equipamentos e materiais no apoio aos contingentes do MINUSTAH, em 2009. No primeiro semestre de 2010, o volume de carga transportada ampliou-se em quase sete vezes em relação a 2009, totalizando 2759 toneladas de apoio logístico. Nota-se que a média de transporte de carga aérea, no período de 2004 a 2009, ampliou-se com a disponibilização de horas de vôo na faixa de 800 horas anuais, para um grande incremento que totalizou cerca de 3.700 horas, só no primeiro semestre de 2010. Além do transporte logístico, foram utilizadas aeronaves de transporte de pessoal (C-99, C-130 e KC-137), para o translado de pessoal especializado, autoridades brasileiras e corpos de militares e civis brasileiros. Entre janeiro e maio de 2010, foram efetuados mais de 50.000 procedimentos de enfermagem, cerca de 20.000 atendimentos pelo Hospital de Campanha da FAB, além de ultrassonografias, exames de RX, laboratoriais e atendimentos odontológicos. De acordo com o relatório da MB, o Grupamento Operativo dos Fuzileiros Navais, integrante do BRABATT1, foi aumentado em 90 homens (3 oficiais e 87 praças), 4 Vtr ½ Ton TNE Land Rover, 1 Vtr 5 Ton UNIMOG e 2 VBTP Piranha IIIC. E no período de 29 de janeiro a 8 de junho, os Navio de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) “Almirante Sabóia” e o NDCC “Garcia D´Ávila, realizaram cada um duas viagens ao Haiti e transportaram juntos 1087,893 Ton de carga para a 33 tropa (viaturas, geradores, alimentos, etc) e 1021,623 Ton de carga para ajuda humanitária (colchões, material de higiene, gêneros alimentícios etc), sendo 6,2 Ton de água doada pelo Suriname, perfazendo um total de 2109,516 Ton de carga. Figura 5 - NDCC “Almirante Sabóia” Figura 6 - NDCC “Garcia D`Ávila” Cabe ressaltar, também, o emprego conjunto da Marinha Brasileira com a Marinha Italiana, contribuindo para projetar o Brasil no cenário internacional: [...] A Itália – retomando as palavras do Ministro italiano das Relações Exteriores Franco Frattini – está profundamente próxima ao povo do Haiti tão duramente atingido por esta terrível catástrofe e não poupará esforços para estar concretamente perto ao povo do Haiti. Desde as primeiras horas o Governo italiano ativou-se para adquirir informações e organizar as primeiras operações de socorro, mantendo uma estreita coordenação com as Nações Unidas e com os principais parceiros, entre os quais em especial o Brasil. Neste quadro de forte empenho, o Governo italiano resolveu enviar para o Haiti o Porta-Aviões “Conte di Cavour” da Marinha Militar Italiana, com a finalidade de fornecer uma base de apoio para as esquadras de operadores italianos e de outros Países parceiros presente. A embarcação partiu na última terça-feira 19 de janeiro. A decisão do Governo italiano relativa ao envio do Porta-Aviões “Conte di Cavour”, no âmbito de uma operação humanitária conjunta entre a Itália e o Brasil... Esta colaboração constitui um reconhecimento por parte da Itália do forte empenho do Governo brasileiro na assistência humanitária em favor da população da ilha caribenha. A mesma, outrossim, integra-se plenamente com os esforços italianos em favor do Haiti e insere-se no quadro de uma geral retomada da cooperação entre Itália e o Brasil em todos os setores... A contribuição brasileira será constituída por: 1 Helicóptero AS 332 F1 “Super Puma” + tripulação e suporte (6 oficiais, 26 suboficiais, graduados de tropa e comuns); 1 Helicóptero AS 350/355 “Ecureuil” + tripulação e suporte (3 oficiais, 10 suboficiais, graduados de tropa e comuns); Esquadra para evacuação de área: 1 oficial médico, 2 suboficiais; Pessoal médico e para-médico militar. Os equipamentos sanitários serão empregados conjuntamente pelo pessoal italiano e brasileiro no hospital do Porta-Aviões “Conte di Cavour”.Grifo nosso. 34 Figura 7 : Porta-Aviões “Conte di Cavour” Segundo o relatório da Marinha do Brasil: [...] O MMI “CAVOUR”, além de porta-aviões, é um navio de múltiplo emprego logístico, tendo sido considerado, em sua concepção, seu uso em operações humanitárias e de suporte às operações militares. A área médica do MMI “CAVOUR” é composta, principalmente, por uma secretaria; uma sala de Suporte Avançado de Vida - SAV; um consultório médico anexo, com medicamentos de pronto uso e rede de frios; três enfermarias com 4 beliches (8 leitos) cada; tomógrafo digital (fig. 2) e Raios-X (fig. 3); complexo cirúrgico composto de chefia de enfermagem, UTI com 8 leitos, sala de banho para queimados e com fraturas expostas, sala de parada (SAV); e duas salas cirúrgicas radioprotegidas. Nas cobertas abaixo conta, ainda, com consultório odontológico, laboratório de análises clínicas - LAC e paióis de medicamentos. Com exceção das duas aeronaves brasileiras, Super Puma e Esquilo, empregadas na operação, todo material empregado foi italiano. Na tripulação italiana havia uma equipe de mergulhadores, com um Capitão-de-Fragata Médico com o Curso Especial de Medicina de Submarino e Escafandria para Oficiais (MEDSEK), e uma câmara hiperbárica móvel. A presença desta unidade hiperbárica facilitou o referenciamento de pacientes, para revitalização de tecidos comprometidos. O navio permaneceu fundeado durante toda comissão. Foram realizados 1.400 atendimentos, sendo 739 na localidade de Saint Marc e 661 na localidade de Jéremie. A média foi de 36 atendimentos/dia, tendo sido realizadas 35 tomografias, 44 ultrassonografias e 81 raios-X.[...] Com isso, pode-se afirmar que a situação de pronto emprego das tropas do EB , as aeronaves da FAB e seu H Camp, os Navios de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) “Almirante Sabóia” e NDCC “Garcia D´Ávila” e do Corpo de Fuzileiro Navais permitiram ao Brasil participar da assistência humanitária internacional realizada no Haiti, contribuindo para a projeção do Poder Nacional ( soft power projection). A Escola Superior de Guerra define Poder Nacional como sendo: 35 [...] o processo pelo qual a Nação aumenta, de forma pacífica, sua influência no cenário internacional, por intermédio da manifestação produzida com recursos de todas as Expressões de seu Poder Nacional. (ESG, 2009) 3.2 ASPECTOS OPERACIONAIS Os Batalhões de Infantaria de Força de Paz, paralelamente às atividades de assistência humanitária, continuaram garantindo um ambiente seguro e estável no país vitimado, não havendo portanto solução de continuidade no cumprimento da missão. As atividades foram facilitadas devido o aumento do efetivo das tropas brasileiras no Haiti representada pelo BRABATT2. Sobre a atuação das Forças Armadas brasileiras, o Embaixador Igor Kipman afirma em sua entrevista: “[...] As Forças Armadas brasileiras, em sua participação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti – MINUSTAH – têm desempenhado papel central na manutenção de um ambiente estável e seguro no Haiti, em especial em sua Capital, Porto Príncipe, onde se encontram suas áreas de operação. Não fora por esta garantia, os grandes avanços alcançados após o terremoto no campo da democracia e do Estado de Direito não teriam sido possíveis, como a realização de eleições livres e democráticas, que conduziram ao Governo do Haiti um candidato da oposição. Não podem ser tampouco esquecidas as Ações Cívico Sociais – ACISOs – levadas frequentemente a cabo por todas as unidades brasileiras que integram a MINUSTAH e que aliviam as precárias condições em que vive grande parte da população da capital do país. Em relação à resposta específica aos danos provocados pelo terremoto não posso deixar de destacar o trabalho realizado pelo Companhia de Engenharia do Exército brasileiro – BRAENGCOY – desde a remoção de escombros, pavimentação de vias públicas (em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores), perfuração de poços artesianos, recuperação de pontes etc.(Kipman, 2011) Vale ressaltar que o sucesso do emprego da tropa no Haiti se deve em grande parte aos treinamentos realizados na Fase de Preparação da Tropa, ainda no Brasil, nos seis meses que antecedem o início da Missão. A preparação da tropa militar brasileira para as Operações de Paz obedece a critérios consolidados, adquiridos ao longo das missões anteriores, que são repassados a cada novo contingente, resultando excelentes resultados na fase do emprego. 36 A ONU considera os países participantes como responsáveis direto pela instrução individual e pelo adestramento das unidades na Missão, os quais devem obedecer às orientações contidas no UN Standardized Training Module7 - STM. Cada Força Armada é a responsável pela preparação8 técnico profissional de seu contingente, abrangendo instruções gerais9, que envolve os procedimentos, leis, regras da ONU; e particulares10, que aborda informações sobre a missão, clima do país, costumes da população etc. Figura 8 : Fase do preparo da Tropa Como já mencionado, ao término do processo decisório o Ministério da Defesa emitiu uma Diretriz Ministerial estabelecendo orientações gerais para os Comandos das Forças relativas ao emprego da tropa. Iniciada a operação militar, o EMD coordenará os sistemas operacionais de Comando e Controle, Inteligência e, principalmente, Logística. Este último, por meio do Centro de Coordenação Logístico (CCL), com sede no Rio de Janeiro, e com a participação das três Forças, realiza as atividades de integração de modais de transporte com a priorização de embarque, ouvido o Contingente, para que seja feito o suprimento e o ressuprimento do contingente empregado, incluídas as atividades aduaneiras referentes aos materiais e equipamentos destinados às tropas. (BRASIL, 2009, p.20) 7 Módulos de Treinamentos Padronizados [tradução nossa]. Conforme do Manual do Ministério da Defesa MD33_M_01(Brasil, 2006, p.31). 9 Também conhecida como preparação completa. 10 Também conhecido como preparação específica. 8 37 No âmbito das Forças Armadas, o Comando de Operações Terrestre (COTER11) do EB e a Força de Fuzileiros da Esquadra, subordinada ao Comando de Operações Navais, são os órgãos responsáveis por orientar o preparo e coordenar o emprego, assim como, conduzir as avaliações da tropa em missão de paz. Para a realização das atividades listadas acima, o COTER conta com uma Divisão de Missões de Paz que é encarregada de planejar e coordenar a mobilização, o preparo, o acompanhamento e o apoio às missões em andamento. Na busca de melhor atender a demanda daqueles que estão no exterior, foi criado o Grupo de Acompanhamento e Apoio às Missões de Paz no Âmbito da Força Terrestre (GAAPAZ)12. Atualmente, o preparo do contingente tem duração, em média, de 14 semanas de instrução, que inclui, além da instrução militar para a tropa, estágios de comandante e estado-maior, estágios de comandantes de fração, estágios específicos e exercícios de avaliação. A instrução militar é executada nas Organizações de Origem dos militares, com concentrações periódicas para padronização. (BRASIL, 2009, Anexo I) O Centro de Instrução de Operações de Paz (CI Op Paz)13 é responsável pelos estágios de comandantes e estado-maior e pelos exercícios de avaliação, que caracteriza o término da Fase do Preparo. O Cel Lourenço, oficial de Logística do BRABATT2, descreve em seu TCC (em fase de elaboração)14: “[...] Devido a exigüidade de tempo e por necessidade de emprego imediato, o BRABATT2, não realizou a preparação preconizada. Além disso, as atividades administrativo-logísticas demandariam emprego de parcela significativa do batalhão. Deve-se somar que não havia espaço de tempo útil para reunir o material, necessário para a preparação, como munição, equipamentos e outros. Assim, o COTER adotou como estratégia 11 De acordo com a Portaria nº 020-EME, de 10 Mar. 2006, o COTER é o grande planejar e coordenador do emprego da tropa em missão de paz, sendo responsável pela preparação, emprego e desmobilização. 12 O GAAPAZ foi criado pela Portaria n 481 do Comandante do Exército, de 11 Ago.2004. Em 15 de junho de 2010, o Centro de Instrução de Operações de Paz teve alterada a sua denominação para Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), com a finalidade de preparar militares e civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em missões de paz . 13 14 A participação do Brasil em Operações de Paz: o impacto estratégico do maior envolvimento do Exército Brasileiro no período pós-terremoto do Haiti, de autoria de Fernando Lourenço da , a ser editado pela ECEME, Nov. 2011. 38 determinar a seleção de voluntários que já tivessem experiência em Missão de Paz, preferencialmente no Haiti. Porém, não foi possível reunir 100% de efetivo com experiência. Cerca de 50% dos Cabos e Soldados e 30% dos Subtenentes e Sargentos, das mais diversas regiões do País, não tinham participado de Missão de Paz. A tropa foi para o Haiti com uma semana de treinamento básico. Contudo, não houve perda da eficiência e eficácia no emprego. Os militares rapidamente adaptaram-se a missão, desdobrando-se para realizar as tarefas com igual resultado do BRABATT1. Houve uma grande superação, força de vontade, motivação e determinação de ultrapassar as dificuldades. Deve-se citar que não havia tempos mortos no BRABATT2, pois nos intervalos do combate, a tropa era empregada nas atividades de montar a infra-estrutura do acampamento. Barracas eram erguidas, fundações cimentadas, linhas de transmissão montadas, tubulações enterradas e outras tantas tarefas necessárias. Mas, mesmo com toda essa gama de serviço, não houve uma missão operacional que deixou de ser executada. Conclui-se, então, que houve impacto positivo na estratégia adotada pelo COTER para o desdobramento do BRABATT2, pois mesmo sem a preparação preconizada do contingente, não houve perda na operacionalidade. A tropa brasileira soube representar o País, superando as adversidades de um Haiti destruído e a grande demanda de atividades operacionais, com elevada eficiência e eficácia, permitindo inferir que o nível de instrução militar brasileiro é elevado, com seus quadros de elevada capacidade. A Fase de Emprego das Forças brasileiras, pós-terremoto, caracterizou-se por inúmeros desafios a serem vencidos. De acordo com o Cel Ajax Porto Pinheiro, ex-comandante do BRABATT1, em entrevista a revista Dialogo, Vol 20 Nr 2 de 2010): [...] Há quatro fatores clássicos de decisão: missão, inimigo,terreno e meios. Aqui não tem inimigo, tem força adversa, que são o crime organizado,as gangues e as quadrilhas. Antes do terremoto, os criminosos mais perigosos estavam presos e os que estavam soltos eram um efetivo pequeno e desmantelado. Com a queda dos presídios durante o terremoto, cerca de 4500 fugiram, ou seja, o quesito forças adversas mudou. O terreno também mudou. O exemplo clássico é Bel Air, onde havia ruas onde fazíamos patrulhas e hoje já não fazemos mais porque não podemos passar devido aos destroços ou não interessa mais passar porque não mora mais ninguém lá. Com os novos militares que chegaram de outros países, especialmente EUA e Canadá, tivemos que rever nossas estratégias e fazer novos planejamentos. Com isso tudo, mudou nossa missão também. Nós cuidávamos principalmente da segurança. Hoje em dia metade da tropa faz ajuda humanitária – que sempre existiu- e metade trabalha na segurança[...] Após a chegada do BRABATT2 e um criterioso estudo de situação, o comando da MINUSTAH dividiu a área de operações brasileira no Haiti, entre os dois Batalhões, facilitando as ações de ajuda humanitária e de segurança. A liberação de aproximadamente 4500 presidiários, em decorrência da destruição dos presídios ou mesmo pela liberação voluntária por parte da Polícia Nacional do Haiti (PNH), devido as notícias da possibilidade da ocorrência de um 39 “tsunami”, logo após o terremoto e a possibilidade da ocorrência de saques em estabelecimentos comerciais ou no depósito da WFP15, motivaram o BRABATT a adotar medidas de intensificação de patrulhamentos a pé, motorizados e mecanizados, na sua área de responsabilidade, aplicando o princípio da massa 16. Muitas operações de patrulhamento foram e ainda são realizadas, nos dias atuais, com a participação da Força Policial da ONU e da PNH, possibilitando maior integração, troca de conhecimentos na área de segurança e estreitamento dos laços de amizade entre as forças policiais com o contingente brasileiro, com resultados bastante positivos na diminuição de ações criminosas por parte das Forças Adversas. Figura 9 : Emprego da tropa com a participação de policiais da ONU da PNH Ademais, houve a necessidade da realização de inúmeras operações de Reconhecimento Especializado, aéreo e terrestre, para levantamento e atualização do Banco de Dados Operacionais, relativos a infra-estrutura (energia, transporte, comunicações, saúde), possíveis locais de abrigos temporários, para montagem dos chamados IDP Camps17, sendo os mais conhecidos o de Camp de Boulos no bairro de Cite Militaire; Tabarre Issa em Tabarre; Boliman Brant e Jean Marrie Vicent em 15 Fundada em 1963 a World Food Programme (WFP) O PAM (Programa Alimentar Mundial), é a agência das Nações Unidas responsável pela ajuda alimentar - é considerada a maior organização humanitária do mundo. 16 Os meios devem ser concentrados para que se possa obter superioridade decisive sobre o inimigo, no momento e loca mais favoráveis as ações que se têm em vista. 17 IDP Camps – Campo de Civis Deslocados – tradução nossa. 40 Delmas, este último, com 50 mil famílias cadastradas. Os reconhecimentos também tinham por objetivos: encontrar possíveis locais de homizios das forças adversas; a escolhas de locais de apoio para as Operações Militares; a verificação da situação dos locais de votação, visando a atualização do Plano da Eleições de 2010, já previstas antes do terremoto. Por outro lado, as experiências das Forças Armadas no Haiti, particularmente dos Batalhões de Infantaria de Força de Paz estão sendo muito úteis para a sociedade brasileira. O Comandante do Exército, Gen Enzo Peri em entrevista ao Jornal O Globo, em 13 de maio de 2011 respondeu ao seguinte questionamento: [...] É possível ver no Alemão e no Haiti laboratórios para um novo modelo de segurança pública? General Enzo: Naturalmente. No Alemão, criou-se uma situação totalmente diferente, inédita. No Haiti, costumamos dizer que é parecido, mas não é igual. Lá é pobreza absoluta, país estrangeiro, e temos o comando da ONU. No início, demos certo no Haiti porque a preparação normal dos nossos homens de infantaria inclui combates em localidades e eventualmente operações de polícia. Depois, claro, passamos a dar treinamento específico às tropas destinadas ao Haiti. Um treinamento que dura seis meses. No Alemão, entramos inicialmente com os paraquedistas, tropa altamente preparada para situações como aquela. Depois, nos valemos de soldados que tinham atuado no Haiti. E, como no Haiti, resolvemos dar treinamento específico a quem vai trabalhar no Alemão. Essa tropa da Brigada de Infantaria Leve, de Campinas, foi devidamente preparada para o serviço. O básico um soldado já tem, que é a instrução militar. É preciso, no entanto, que ele treine a ação de polícia. Numa comunidade como o Alemão, ele não estará lidando com o inimigo. Eventualmente, terá um criminoso pela frente. Ou não. Disponível em <http://noticia-online2.blogspot.com/2011/05/15-demaio-de-2011-o-globo.html>Acesso em 13 ago. 2011. Desse modo, as iniciativas desenvolvidas pelo Brasil, por intermédio de suas Forças Armadas para atender as necessidades iniciais advindas da catástrofe no Haiti e a manutenção de um ambiente seguro e estável, assegurando o restabelecimento do ordenamento institucional, o controle de abusos aos Direitos Humanos e o desarmamento de bandos armados, permitiram a eleição de Michel Martelly, que no dia 14 de maio de 2011 recebeu a faixa presidencial de René Preval. Este ato ficou marcado na história do país, pois é a primeira vez que um presidente democraticamente eleito passou o poder a um líder escolhido da mesma forma e vindo da oposição. 41 4 PERSPECTIVAS PARA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA DECORRENTE DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS NO HAITI Este capítulo tem por objetivo apresentar algumas idéias relacionadas aos possíveis efeitos da participação das Forças Armadas no Haiti sobre a política externa brasileira, em especial as oportunidades advindas de emprego do Poder Militar naquele país. Para tanto, inicialmente apresentar-se-á uma breve síntese histórica da política externa brasileira, sob o víeis de assistência humanitária internacional, seguida de algumas perspectivas para a política externa brasileira, a saber: possibilidade de obtenção da liderança regional; valorização do multilateralismo e respeito ao Direito Internacional; contribuição para a Elevação do Brasil a Categoria de Membro Permanente do Conselho de Segurança da ONU; e aumento da participação brasileira em missões de Paz ou de ajuda humanitária internacional. 4.1 SÍNTESE HISTÓRICA A política externa brasileira, ao longo do tempo, tem passado por distintas fases, devido a alternância de seus Objetivos Nacionais a serem alcançados ou preservados em decorrência da interação com outros Estados. No período do Império e nos primeiros anos da República, a prioridade foi à fixação das fronteiras, mediante o uso intensivo do princípio de uti possidetis. A conclusão deste processo, com solução pel a via pacífica das controvérsias, na primeira década do século XX, é atribuída a José Maria da Silva Paranhos, o Barão de Rio de Branco, considerado o patrono da diplomacia brasileira. Vencida essa etapa, o caminho trilhado foi o da paulatina integração regional, com principalmente, vistas ao ao abrandamento desenvolvimento de potenciais econômico do rivalida des espaço e, nacional consolidado. A América do Sul passou, pois, a constituir um espaço pacificado e a via natural para a inserção do país no meio internacional. A partir da década de 1990, em decorrência do fim da Guerra Fria, o sistema internacional sofreu mudanças em sua dinâmica de funcionamento 42 que podem ser percebidas através do fortalecimento do multilateralismo e das organizações internacionais, principalmente das Nações Unidas. No final do século XX, as constantes violações dos Direitos Humanos passaram a se relacionar com os conceitos de ameaça à paz e à segurança internacionais. Neste momento, quando a proteção destes direitos passa a não ser de domínio exclusivo dos Estados, as resoluções do Conse lho de Segurança e da Assembléia Geral contribuíram para a formação de um Direito Internacional consuetudinário: o direito de assistência humanitária, que consiste em Governamentais, “um direito Organizações subjetivo que internacionais as e Organizações Estados Não - Estrangeiros possuem de prestar assistência humanitária às vítimas de violações de conflitos internos, catástrofes humanitárias e naturais” (SANTOS, 2009, p.13). Diante desse contexto, como explica Santos (2009), os princípios de soberania, autodeterminação dos povos e territorialidade foram relativizados e deixando, aos poucos, de ser um entrave para a proteção da dignidade humana. De acordo com o Ministério de Relações Exteriores. [...] a prestação de assistência humanitária pelo Brasil a outr os países se baseia tanto na não-indiferença quanto na não-ingerência. Por respeito à soberania dos Estados e em consonância com os princípios humanitários identificados nas Resoluções 46/182 e 58/114 da Assembléia-Geral das Nações Unidas – a saber, humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência – o Governo brasileiro presta assistência humanitária mediante solicitação expressa do país recipiendário, que pode tanto ser recebida bilateralmente quanto por intermédio de apelos humanitários elaborados em conjunto com o sistema das Nações Unidas. O Direito Humanitário Internacional (DHI) prevê clara e especificamente a assistência a populações civis durante situações de conflito, obrigando os governos e outras partes envolvidas a aceitar a prestação de Assistência Humanitária. Embora não tenham sido palcos de guerras convencionais, a América Latina, especialmente a América Central, e a África o foram de muitas guerras civis nas décadas de 80 e 90 do século passado. As previsíveis conseqüências para a população civil demandaram inúmeras operações de 43 assistência humanitária. Estas operações ocorriam, simultaneamente, ou após operações de manutenção de paz. Com menor freqüência e intensidade, a América do Sul, também, foi palco de crises que geraram a concentração de tropas e escaramuças fronteiriças, como foi o caso Peru versus Equador, na década de noventa. Atualmente, a atuação da guerrilha na Colômbia tem causado sérios danos à população civil. Apesar de haver poucas operações promovidas pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em comparação com as Operações de Manutenção de Paz da ONU, o Brasil, como assinante da Carta da OEA, tem sido um parceiro muito ativo nas operações promovidas por aquele Organismo Internacional Regional, particularmente em assistência humanitária. A participação do Exército Brasileiro, junto a OEA, ocorreu na Missão de Auxílio à Remoção de Minas na América Central - (MARMINCA), no inicio da década de 1990, na Missão de Auxílio à Remoção de Minas na América do Sul - (MARMINAS), iniciada em 1 de maio 2003 e no Plano Nacional de Desminagem na Colômbia, criada em 2006, com merecido destaque para Arma de Engenharia a qual está altamente capacitada para as atividades de limpeza de campos de minas e, sobretudo, de obras de emergênc ia em socorro a calamidades públicas. Existe um potencial considerável, também, nas áreas de saúde, de transporte e de evacuação, por meio aéreo e marítimo, com utilização dos meios da Força Aérea Brasileira e da Marinha do Brasil, respectivamente. Portanto, no Continente Americano, o Brasil, de acordo com os seus preceitos constitucionais, esteve sempre presente e protagonista nas ações da OEA e tem potencial para ampliar essas participações. É importante observar que a assistência humanitária está diretamente relacionada com a política externa dos países, visto que faz parte das relações bilaterais ou multilaterais entre países. Para o MRE, assistência humanitária é: [...] toda e qualquer ação que contribua, de forma imediata e eficaz, para prevenir, proteger, preparar, evitar, reduzir, mitigar sofrimento e auxiliar outros países ou regiões que se encontrem, momentaneamente ou não, em situações de emergência, de 44 calamidade pública, de risco iminente ou grave ameaça à vida, à saúde, à garantia dos direitos humanos ou humanitários de sua população. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/temas/acao contra-a-fome-e-assistencia-humanitaria/assistenciahumanitaria/view> Acesso em 18 jul. 2011 É nesse contexto que, após o terremoto do Haiti em 2010, por solicitação da ONU, o Brasil aumentou o efetivo das tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) em mais 900 homens e, por iniciativa do governo brasileiro, enviou um Hospital de Campanha da Força Aérea, visando incrementar o esforço humanitário internacional para reduzir o sofrimento do povo haitiano. O Embaixador Igor Kipman esclarece, em sua entrevista que: [...]o Haiti é hoje – e desde 2004 – palco de intensa ação tanto do Governo brasileiro quanto da sociedade civ il, com amplo reflexo na imagem do Brasil como ator de primeira grandeza no cenário internacional. A reação tempestiva em resposta à emergência causada pelo terremoto de 12 de janeiro de 2010 foi mais um capítulo nesse esforço de apoiar o Haiti para que p ossa vencer seus imensos desafios. A rapidez com que o segundo batalhão brasileiro foi desdobrado no terreno e a implantação do Hospital de Campanha da FAB em apenas quatro dias não passaram desapercebidas pela comunidade internacional e reforçaram a já amplamente reconhecida atuação do Brasil no Haiti. A atuação brasileira seja em operações de paz seja em ações de ajuda humanitária em diversos pontos do globo são testemunho de uma política externa proativa e cada vez mais participativa em todo o mundo. 4.2 VALORIZAÇÃO DO MULTILATERALISMO E RESPEITO AO DIREITO INTERNACIONAL. Uma característica marcante na política externa brasileira é o apreço pelo multilateralismo, como um meio de atingir os interesses nacionais para assim influenciar na elaboração das normas internacionais, podendo ser demonstrado pela participação brasileira nos diversos organismos intergovernamentais, particularmente da ONU. No sistema internacional prevalece a assimetria de poder, o que significa a prevalência das grandes potências na es trutura de poder internacional. Este ambiente competitivo não é favorável às potências menores nas quais se inclui o Brasil. Por não termos alcançado a condição de potência de primeira ordem, “os foros multilaterais constituem o melhor tabuleiro para o Bra sil exercitar, 45 em nível global, sua competência na defesa dos interesses nacionais”, nas palavras de Celso Lafer, Ministro das Relações Exteriores de Fernando Henrique Cardoso. É, assim como o respeito ao Direito Internacional, uma forma de contrabalançar parcialmente o excedente de poder econômico e militar dos países mais desenvolvidos. Recentemente em palestra na ESG, o Subsecretario de Defesa norteamericano para assuntos político-militares Andrew Shapiro, em julho de 2011, afirmou que a participação brasileira no Haiti, pós-terremoto, foi muito importante para na diminuição do sofrimento dos haitianos e qu e a presença das Forças Armadas tem garantido o retorno da democracia e a implementação de projetos para a recuperação do país. Assim, a postura brasileira em apoio ao Haiti demonstra a valorização do multilateralismo e o respeito ao Direito Internacional , pois constituem imperativos de primeira ordem e trata-se de uma alternativa inexeqüível, devido a debilidade do nosso poder militar face a países mais desenvolvidos. 4.3 CONTRIBUIÇÃO PARA A ELEVAÇÃO DO BRASIL A CATEGORIA DE MEMBRO PERMANENTE DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU. Nas últimas décadas, já foram realizadas inúmeras discussões internacionais a respeito da necessidade de se fazer uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. E o Brasil, juntamente com a Alemanha, a Índia e o Japão compõe um grupo, hoje denominado G -4, que pleiteia a ampliação do CS, com a proposta de inclusão de seis novos membros permanentes – os quatro postulantes mais dois países africanos – e quatro não-permanentes. O fato de o Brasil ter participado da construção da ONU, ter sido o país que mais esteve presente no assento não-permanente do Conselho de Segurança, depois do Japão, a atual projeção internacional, como membro dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, países que se destacam no cenário mundial pelo rápido crescimento das suas economias em desenvolvimento) e seu papel de mediador internacional, caracterizam alguns argumentos que poderão ser aproveitados pela diplomacia brasileira para pleitear um assento permanente no CSNU. 46 A participação em operações de manutenção da paz ou em assistência humanitária internacional não credencia nenhum país a ascender à condição de membro permanente do CSNU, particular mente se não dispor de forte Poder Nacional com destacada Expressão Militar. Contudo, o Brasil poderá se utilizar dos resultados positivos da missão no Haiti, para impulsionar o esforço diplomático em prol daquele objetivo de governo. 4.4 POSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DA LIDERANÇA REGIONAL Dentro de uma dimensão ética da política externa brasileira, o Governo defende uma ordem estável, pacífica, democrática e de integração na América Latina. A Estratégia Nacional de Defesa estabelece como diretriz: [...]Essa integração na América Latina não somente contribuirá para a defesa do Brasil, como possibilitará fomentar a cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa. Afastará a sombra de conflitos dentro da região. Com todos os países avança-se rumo à construção da unidade sul -americana. O Conselho de Defesa Sul-Americano, em debate na região, criará mecanismo consultivo que permitirá prevenir conflitos e fomentar a cooperação militar regional e a integração das bases industriais de defesa, sem que dele participe país alheio à região. A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS), por iniciativa brasileira, aprovado em 15 de dezembro de 2008, na cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) busca fomentar o intercâmbio no campo da segurança entre os países, tais como a elaboração de políticas de defesa conjunta, intercâmbio de pessoal entre as Forças Armadas de cada país, realização de exercícios militares conjuntos, participação em operações de paz das Nações Unidas, troca de análises sobre os cenários mundiais de defesa e integração de bases industriais de material bélico e ajuda coordenada em zonas de desastres naturais. Vale ressaltar também que a posse de um brasileiro, pela primeira vez, em uma diretoria da FAO e a participação ativa na campanha de eleição do presidente do FMI, evidencia que o Brasil é visto como um agente internacional de atuação política relevante. A rejeição de participação da ALCA, como bloco econômico americano sob a liderança dos Estados Unidos, a formação do MERCOSUL, zona de livre comércio sob a liderança 47 do Brasil, e a crescente atuação do Brasil no G20 financeiro e no G20 comercial, pela inclusão da questão dos subsídios agrícolas na pauta da OMC, sinalizam uma liderança natural do Brasil na America do Sul. Portanto, a participação de países como Argentina, Uruguai e Chile, na MINUSTAH, sob a coordenação do Brasil, representa uma importante iniciativa da cooperação sub-regional, aumentando não só a cooperação militar entre os países, mas também representando um caminho para o aumento da cooperação em outras áreas, particularmente a econômica. Com isso, o Brasil estará reafirmando a liderança regional positiva e não hegemônica, no cone Sul. 4.5 AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA EM MISSÕES DE PAZ OU DE AJUDA HUMANITÁRIA INTERNACIONAL A experiência adquirida no Haiti e o sucesso das Forças Armadas brasileiras na missão poderão induzir a ONU a solicitar a participação do Brasil em outras área, afetadas por catástrofes naturais ou por um alto grau de instabilidade política, que por vezes resulta em graves conflitos intra estatais, palco preferencial das operações de manutenção da paz da atualidade, como, por exemplo, o continente africano. Outrossim, são inequívocas as ligações étnicas e culturais do Brasil, em particular com os países lusófonos. A participação em missões da ONU naquele continente constitui, portanto, poderoso instrumento de aproximação e ajuda, onde, inclusive, podemos prestar múltiplas formas de assistência , dadas as precárias condições ali vigentes, sendo mais uma oportunidade para o estreitamento dos laços de amizade com o Continente Africano , além de ser uma excelente oportunidade para a atual política externa brasileira . Essa idéia pode ser reforçada com o pronunciamento do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em palestra proferida na ESG em 08 de agosto de 2011, onde afirma que o Brasil deve fortalecer as relações econômicas e sociais com o continente africano e aumentar a participação em missões de paz, para preservar a paz mundial. 48 5 CONCLUSÃO Ao encerrar-se o presente Trabalho de Conclusão de Curso, depois de ultrapassadas todas as etapas de seu desenvolvimento, é chegado o momento de sintetizá-lo por meio de uma breve conclusão. No primeiro capítulo, ficou registrado que a presença militar brasileira no Haiti, como integrante da MINUSTAH, desde 2004, e o aumento do contingente brasileiro no Haiti, em decorrência do terremoto de 2010, estão amparados por diversos documentos e legislações, nacionais e internacionais, que dão respaldo a atuação das tropas brasileiras, particularmente o MOU, o SOFA/SOMA, as ROE, as Guidelines e os SOP. Com isso, a pronta resposta brasileira em participar da ajuda humanitária internacional e a rapidez do processo decisório realizado, em virtude do bom entrosamento demonstrado no nível político, permitiram ao Brasil expor ao mundo sua capacidade de reação diante de eventos catastróficos. O governo brasileiro para enfrentar os problemas mais graves, advindos do terremoto, montou um Gabinete de Crise, representado por diversos Ministérios, que estabeleceu um plano emergencial. E no dia 14 de janeiro de 2010, foi estabelecida uma ponte-aérea de suprimento entre o Brasil e o Haiti, visando o transporte de víveres, remédios e os mais diversos materiais de apoio, para atender a população local. Seguiram, também, equipes de resgate e o Hospital de Campanha da Força Aérea. Paralelamente, foram repatriados civis sobreviventes e os corpos dos brasileiros falecidos em decorrência da catástrofe. Entre os meses de janeiro e maio de 2010, foram efetuados mais de 50.000 procedimentos de enfermagem, cerca de 20.000 atendimentos hospitalares no Hospital de Campanha. Nos aviões da FAB e navios da MB foram transportados, aproximadamente 4.000 toneladas de carga para ajuda humanitária (barracas, colchões, material de higiene, gêneros alimentícios, dentre outros), tudo distribuído pelos dois Batalhões de Infantaria de Força de Paz brasileiros. Vale ressaltar também o emprego de dois helicópteros da Marinha Brasileira, com as respectivas tripulações, mais uma equipe médica e enfermeiros que atuaram embarcados no porta-aviões “Conte di Cavour”da Marinha Italiana e realizaram 1400 atendimentos médicos. Assim sendo, os dados apresentados permitem a afirmação de que a participação das Forças Armadas brasileiras, pós-terremoto 2010, foi significativa 49 para a consecução dos objetivos da assistência humanitária internacional, reduzindo o sofrimento de uma parcela considerável da população haitiana. Em que pese a fuga de aproximadamente 4500 presidiários, imediatamente após o terremoto, os Batalhões de Infantaria de Força de Paz continuaram garantindo um ambiente seguro e estável em suas áreas de responsabilidade, designadas pela MINUSTAH, não havendo portanto solução de continuidade no cumprimento da missão. Quanto aos aspectos operacionais e a atuação da tropa o Embaixador Igor Kipman relatou o seguinte: “[...] As Forças Armadas brasileiras, em sua participação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti – MINUSTAH – têm desempenhado papel central na manutenção de um ambiente estável e seguro no Haiti, em especial em sua Capital, Porto Príncipe, onde se encontram suas áreas de operação. Não fora por esta garantia, os grandes avanços alcançados após o terremoto no campo da democracia e do Estado de Direito não teriam sido possíveis, como a realização de eleições livres e democráticas, que conduziram ao Governo do Haiti um candidato da oposição. Não podem ser tampouco esquecidas as Ações Cívico Sociais – ACISOs – levadas frequentemente a cabo por todas as unidades brasileiras que integram a MINUSTAH e que aliviam as precárias condições em que vive grande parte da população da capital do país. Em relação à resposta específica aos danos provocados pelo terremoto não posso deixar de destacar o trabalho realizado pelo Companhia de Engenharia do Exército brasileiro – BRAENGCOY – desde a remoção de escombros, pavimentação de vias públicas (em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores), perfuração de poços artesianos, recuperação de pontes etc. Isso se deve em grande parte à excelente preparação técnico - profissional do contingente, nos seis meses que antecedem a ida para o Haiti, aliado às características pessoais do militar brasileiro que facilitam o tipo de trabalho lá desenvolvido. O soldado brasileiro é proveniente de diferentes classes sociais, dotado de caráter integrador, de fácil relacionamento, de comportamento não preconceituoso, flexível e afável, tudo isso, aliado à versatilidade no cumprimento de diferentes tarefas, sejam elas de caráter humanitário ou operacional. Os ensinamentos colhidos com a participação das Forças Armadas no Haiti, pós-terremoto, também repercutiram positivamente para a sociedade brasileira, particularmente na cidade do Rio de Janeiro. A tropa da Brigada de Infantaria Paraquedista, que atuou no país caribenho, foi a primeira a ser empregada na 50 ocupação do conjunto de favelas do Complexo do Alemão, como Força de Pacificação, juntamente com forças policiais do Estado, em dezembro de 2010. A Política de Defesa Nacional, em conformidade com a Constituição brasileira, traça como objetivo a contribuição para a manutenção da paz e da segurança internacionais. Orienta, ainda, intensificar a participação em ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos multilaterais, visando ampliar a projeção do país e reafirmar seu compromisso com a defesa da paz e com a cooperação entre os povos. Neste contexto, a liderança brasileira na MINUSTAH, desde 2004, e a resposta positiva à solicitação da ONU, num ato de solidariedade, aumentando o efetivo das Forças Armadas no Haiti com a finalidade de socorrer a população e manter um ambiente seguro e estável, fortaleceram o reconhecimento e a projeção do país no cenário internacional. Desse modo, o Brasil, ao optar por aquelas duas ações, agiu em defesa da paz regional e dos direitos humanos, pois, se nada fosse feito, poderia haver um recrudescimento da crise haitiana, aumentando consideravelmente o número de vitimas. Com isso, os possíveis reflexos para a política externa brasileira, decorrente da atuação do emprego do poder militar, a médio ou longo prazo, podem ser caracterizados pelos seguintes aspectos: - fortalecimento da liderança regional e da postura nacional diante da valorização do multilateralismo e do respeito ao Direito Internacional, proporcionando ao país posição destacada nos principais foros internacionais, particularmente na ONU; - aumento da participação brasileira em missões de paz ou de ajuda humanitária, em decorrência dos resultados positivos apresentados na atuação dos brasileiros na MINUSTAH, reconhecidos internacionalmente e; - elevação do Brasil à categoria de Membro Permanente do Conselho de Segurança da ONU, pois a participação na missão é, sem dúvida, um passo importante nessa direção, ainda que não garanta, por si só, a obtenção desse objetivo, pois dependerá, naturalmente, de muitas outras condicionantes, particularmente do fortalecimento da Expressão Militar do seu Poder Nacional. 51 Finalmente, pode-se afirmar que a atuação das Forças Armadas brasileiras permite a garantia dos Direitos Humanos e a manutenção de um ambiente seguro e estável no Haiti, abrindo oportunidades para a democratização do país. 52 REFERÊNCIAS BRAGA, Carlos Chagas Vianna. Desafios futuros para as operações de paz brasileiras. Revista da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, n. 15, p. 11-23, 2010. BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Brasília, DF: Saraiva,1988. ______. Lei Complementar n. 97 de 9 de jun de 1999. Alterada pela Lei Complementar n 136, de 25 de agosto de 2010 – Diário Oficial da União, Brasília, DF, de 26 ago 2010 ______. Ministério da Defesa. Comando do Exército. Conheça as missões de Paz. Brasília, DF. 2010. Disponível em: <http://www.exercito.gov.br/web/guest/missoesatuais>. Acesso em : 04 abr. 2011. ______. ______. ______. Centro Conjunto de Operações de Paz. Estágio de Cooperação Civil-Militar em Operações de Paz. Disponível em: <http://www.ccopab.eb.mil.br/index.php/pt/cursoseestagios/98-estagio-decooperacao-civil-militar>. Acesso em: 12 Jul. 2011. ______. ______. ______. Comando de Operações Terrestre. Diretriz Preparação Específica de Tropa para Missão de Paz. Brasília, DF, set. 2009. de ______. ______. ______. Estado-Maior.do Exército.O processo de transformação do Exército. Brasília, DF, 2010. ______. ______. ______.Manual de Campanha C 95-1: Operações de Manutenção da Paz. 2. ed. Brasília, DF, 1998. ______. ______.______.Manual de Campanha C 20-1: Glossário de Termos e expressões para uso no Exército. 4. ed. Brasília, DF, 2009. ______. ______. ______. Manual de Campanha C 100-5 – Operações. 3. ed. Brasília, DF, 2007. 53 ______. ______. ______. Portaria nº 141-EME, de 3 de novembro de 2010. Aprova a diretriz para a modernização do preparo operacional da Força Terrestre. Boletim do Exército, Brasília, DF, n. 4, p. 20-24, 5 nov. 2010. ______. Ministério da Defesa. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2008. ______. ______. MD33-M-01: Manual de Operações da Paz. 2. ed. Brasília, DF, 2006. ______. ______. MD42-M-02: Doutrina Logística Militar. 2. ed. Brasília, DF, 2002. BRASIL. Presidência da República. Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. A experiência do Gabinete de Crises da Presidência da República em ajuda humanitária; Brasília, DF, 2010. 20 slides: color. ______.______.______. O Processo Decisório e o Gerenciamento de Crises no Nível da Presidência da República: o papel e atuação da SAEI. Brasília, DF, 2010. 47 slides: color. ______.______.______.Gabinete de Segurança Institucional. Atas das 20 Reuniões do Gabinete de Crise. Principais informações e decisões relativas a ações brasileiras para fazer face aos efeitos do terremoto no Haiti. Ata Gab Crise.doc. Brasília, 6 de maio de 2010. 1 arquivo (356 Kbytes). Disco removível. Documento do Microsoft Office Word 97-2003. BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Declaração de Princípios sobre a cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá para a Manutenção da Paz e da Segurança Internacionais. Brasília, DF, 15 jan. 1998. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/daí/b_cana_101_4524.htm>. Acesso em: 4 abr. 2011. COSTA, Marco Antônio Nepomuceno. et al. O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Haiti: o pouso dos Albatroz. O Anfíbio, Rio de Janeiro, ano 24, n. 23, p. 9-18, 2004. DINIZ, Eugênio. O Brasil e a MINUSTAH. Security and Defense Studies Review, Washington, v. 5, n.1, p.91-108, spring 2005. ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO (Brasil). ME 320-5: Vocabulário da ECEME, Rio de Janeiro: ECEME, 2002. 54 ______ SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual Básico: elementos fundamentais. Rio de Janeiro, 2009. v.1. FONTOURA, Paulo Roberto Campos Tarrisse da. O Brasil e as Operações de Manutenção da Paz das Nações Unidas. Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1999. 448 p., 225 cm. GOMES, Henrique de Souza. A conferência de São Francisco e a atuação de Leão Velloso. Revista Brasileira de Política Internacional, Rio de Janeiro, ano 13, n. 4950, p. 24-36, 1970. GOURLAY, Catriona. Managing Civil-Military Co-operation in Humanitarian Interventions. Civil-Military Relations 2000. Disponível em: <http://www.unidir.org/pdf/articles/pdf-art131.pdf>. Acesso em: 2 jul. 2011. GOVERNO BRASILEIRO DETALHA PLANO DE AJUDA AO HAITI. Site oficial. O PT na Câmara. 14 jan. 2011. Disponível em: <http://www.informes.org.br/ index.php?option=com_content&view=article&id=2335:governo-brasileiro-detalhaplano-de-ajuda-ao-haiti&catid=1:latest-news&Itemid=108>- Acesso em: 01 ago. 2011. GOVERNO espera autorização do Congresso para o envio de mais tropa ao Haiti. Jornal de Gramado, Gramado, 21 Jan. 2010. Disponível em: <http://www.jornaldegramado.com.br/mundo/239660/governo-espera-autorizacaodo-congresso-para-envio-de-mais-tropas-ao-haiti.html>. Acesso em: 2 maio. 2011. KEEN, P. K. et al. Resposta a Desastre no Exterior: Observações da Força-Tarefa Conjunta-Haiti. Military Review. Forte Leavenworth, no. 2, p. 68-78, Mar. 2011. LEONEL FILHO, João Batista Bezerra. Operações de Manutenção da Paz da ONU: a eficácia do emprego dos Contingentes de tropa no Timor Leste, na República Democrática do Congo e no Haiti. Revista da Escola de Guerra Naval, Rio de Janeiro, n.15, p.59-77, 2010. MATIJASCIS, Vanessa Braga. Um estudo de caso sobre a evolução da decisão pelo uso da força durante a Primeira Operação de Manutenção de Paz das nações Unidas no Haiti (1993-1996). Rio de Janeiro: ECEME, 2010. (Coleção Meira Mattos, nº 22). 55 NACIONES UNIDAS. Resolución 1542 (2004). Consejo de Seguridad. S/Res/1542 (2004). Nueva York, 2004. ______. Resolución 1908 (2010). Consejo de Seguridad. S/Res/1908 (2010). Nueva York, 2010. ______. Informe Brahimi em espanhol. A/55/305-S/200/809. 70f. Nueva York, 2000. NAVES, Guido Amim. O processo decisório brasileiro para participação em Operações de Manutenção de Paz: o caso Haiti. 2010. 82f. Trabalho de Conclusão de Curso (Política, Estratégia e Alta-Administração do Exército) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2010. OLIVEIRA, Edson de. A ampliação da participação brasileira em operações de paz da Organização das Nações Unidas (ONU): o caso Haiti. 2010. 97f. Trabalho de Conclusão de Curso (Política, Estratégia e Alta-Administração do Exército) – Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2010. UNITED NATIONS peacekeeping operations: principles and guidelines. New York: United Nations, 2008. Disponível em: <http://www.peacekeepingbestpractices.unlb.org/Pbps/Library/Capstone_Doctrine_E NG.pdf>. Acesso em: 10 Abr. 2011. PEREIRA, Paulo Emanuel Maia; FARINHA, Nuno Manuel Mendes. Ações desenvolvidas pelas Forças Armadas em missões de Paz no quadro da Organização das Nações Unidas (ONU). Revista Militar 2009. Disponível em: <http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/print.phd>. Acesso em: 11 abr. 2011. PERIN, Orivaldo. Exército admite prorrogar ação no Alemão. O Globo, Rio de Janeiro 15 mai. 2011. Disponível em: <http://noticiaonline2.blogspot.com/2011/05/15-de-maio-de-2011-o-globo.html>Acesso em: 13 ago. 2011 Ritto, Célia. Exército no Alemão mostra que segurança não é incompatível com direitos humanos diz Jobim. Veja, Rio de Janeiro, RJ, 23 dez. 2010. Disponível em: <http://www.veja.abril.com.br/noticia/brasil/exercito-no-alemao-mostra-queseguranca-nao-e-incompativel-com-direitos-humanos-diz-jobim>. Acesso em: 09 abr. 2011. 56 SEITENFUS, Ricardo. De Suez ao Haiti: a participação brasileira nas operações de paz. Disponível em: <http://www.seitenfus.com.br/artigos/seitenfus_ De_Suez_ao_Haiti.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2011. THEODORO JUNIOR. Missões de Paz Internacionais: The Blue Berets: Os Boinas Azuis da ONU. Disponível em: <http://www.batalhaosuez.com.br/introducaomissaodepazintl.htm>. Acesso em: 20 Mar. 2011. UM FORTE TERREMOTO ATINGE O HAITI: instalações do exército brasileiro são afetadas, diz a defesa. UOL NOTÍCIAS: São Paulo, jan. 2010. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2010/01/12/ult1859u2185.jhtm>. Acesso em: 14 abr. 2011. VERENHITACH, Gabriela Daou. A MINUSTAH e a Política Externa Brasileira: motivações e conseqüências. 2008. Dissertação (Mestrado em Direito da Integração) - Universidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2008. WALTER, Bruna Maestri. Ajuda para o recomeço vem de fora. Gazeta do Povo, Curitiba, PR, 21 jan. 2011. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1091599 &tit=Ajuda-para-recomeco-vem-de-fora>. Acesso em: 09 abr. 2011. 57 ANEXO A - EVENTOS DO REFORÇO DA TROPA NA FORÇA DE PAZ DA MINUSTAH 12. Jan. 2010 Terremoto no Haiti. 19. Jan. 2010 Resolução nº 1908, do CSNU, decide ampliar,temporariamente, os componentes militar e policial da MINUSTAH – S/RES/1908 (2010). 19. Jan. 2010 Fax nº 017, do Conselheiro Militar da MP junto à ONU, para SPEAI, copia para CEMD, informando a decisão do CSNU e informa requisitos necessários para tropa para integrar a MINUSTAH. 20. Jan. 2010 Fax nº 019 do Conselheiro Militar da MP junto à ONU, para SPEAI, copia para CEMD, solicitando formalização do oferecimento de tropa brasileira e informa FGS solicitou o desdobramento da tropa em no máximo três semanas. 21. Jan. 2010 Mensagem ao Congresso Nacional, do Presidente da República, submetendo a Exposição de Motivos dos Ministros de Estado da Defesa e das Relações Exteriores, relativa ao aumento do contingente brasileiro para a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH). 22. Jan. 2010 Fax nº 017, do CEMD, para Conselheiro Militar da MP junto à ONU, formalizando oferta de tropa com composição e prazos de desdobramento. 25. Jan. 2010 Decreto Legislativo nº 75, autoriza o aumento do efetivo do Contingente Brasileiro para a MINUSTAH. 26. Jan. 2010 Medida Provisória nº 480, abre crédito extraordinário, em favor da Presidência da República, dos Ministérios […] da Defesa […] para os fins que especifica. 29. Jan. 2010 Fax nº 021, do Conselheiro Militar da MP junto à ONU, para SPEAI, copia para CEMD, informa a aceitação da oferta de tropa brasileira. 29. Jan. 2010 Fax nº 022, do Conselheiro Militar da MP junto à ONU, para CEMD, copia para SPEAI, solicita encaminhar o planejamento do desdobramento do BRABATT2. 5. Fev. 2010 do MD. Orientação Complementar nº 11 à Diretriz Ministerial nº 07/2004 30. Mar. 2010 Medida Provisória nº 486, Abre crédito extraordinário, em favor de diversos órgãos do Poder Executivo. 58 ANEXO B - QUESTIONÁRIO ENVIADO AO EMBAIXADOR BRASILEIRO NO HAITI, IGOR KIPMAN. Após o terremoto do Haiti em 2010, por solicitação da ONU, o Brasil aumentou o efetivo das tropas da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH) em mais 900 homens, e por iniciativa do governo brasileiro foi enviado um Hospital de Campanha da Força Aérea, visando incrementar o esforço humanitário internacional. 1) Na sua opinião, aquelas ações impactaram de alguma forma a política externa brasileira? Sem dúvida. O Haiti é hoje – e desde 2004 – palco de intensa ação tanto do Governo brasileiro quanto da sociedade civil, com amplo reflexo na imagem do Brasil como ator de primeira grandeza no cenário internacional. A reação tempestiva em resposta à emergência causada pelo terremoto de 12 de janeiro de 2010 foi mais um capítulo nesse esforço de apoiar o Haiti para que possa vencer seus imensos desafios. A rapidez com que o segundo batalhão brasileiro foi desdobrado no terreno e a implantação do Hospital de Campanha da FAB em apenas quatro dias não passaram desapercebidas pela comunidade internacional e reforçaram a já amplamente reconhecida atuação do Brasil no Haiti. A atuação brasileira seja em operações de paz seja em ações de ajuda humanitária em diversos pontos do globo são testemunho de uma política externa proativa e cada vez mais participativa em todo o mundo. 2) De que forma V. Exa visualiza a atuação das Forças Armadas brasileiras na resposta à crise vivida pelo Haiti pós-terremoto 2010 até os dias atuais? As Forças Armadas brasileiras, em sua participação na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti – MINUSTAH – têm desempenhado papel central na manutenção de um ambiente estável e seguro no Haiti, em especial em sua Capital, Porto Príncipe, onde se encontram suas áreas de operação. Não fora por esta garantia, os grandes avanços alcançados após o terremoto no campo da democracia e do Estado de Direito não teriam sido possíveis, como a realização de eleições livres e democráticas, que conduziram ao Governo do Haiti um candidato da oposição. Não podem ser tampouco esquecidas as Ações Cívico Sociais – ACISOs – levadas frequentemente a cabo por todas as unidades brasileiras que integram a MINUSTAH e que aliviam as precárias condições em que vive grande parte da população da capital do país. Em relação à resposta específica aos danos provocados pelo terremoto não posso deixar de destacar o trabalho realizado pelo Companhia de Engenharia do Exército brasileiro – BRAENGCOY – desde a remoção de escombros, pavimentação de vias públicas (em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores), perfuração de poços artesianos, recuperação de pontes etc. 59 3) Para atender aos objetivos da política externa brasileira, o Sr considera importante que as Forças Armadas tenham uma estrutura de pessoal e material, em condições de pronto emprego, para atender a situações de crise humanitária internacional? É extremamente importante, como já foi demonstrado, além do Haiti, no episódio do terremoto no Chile, também em 2010. 4) O Sr considera que uma possível ampliação da participação das Forças Armadas em assistência humanitária internacional, enquadrada ou não em missão de paz, poderá contribuir para a política externa brasileira? Princípio consagrado durante o Governo do Presidente Lula, a não-indiferença diante das dificuldades enfrentadas por países que enfrentam calamidades, naturais ou criadas pelo próprio homem, tem norteado nossa atuação tanto no continente quanto fora dele. A assistência humanitária internacional é, portanto, elemento central na atuação do Brasil em política externa e a participação das Forças Armadas nesse trabalho é, e será sempre, fundamental. 5) V. Exa teria outras considerações julgadas úteis? A atuação do Brasil, Forças Armadas, Governo em geral e sociedade civil, no Haiti, a partir de 2004, foi altamente enriquecedora e propiciou a todos os atores envolvidos extenso aprendizado e crescimento pessoal para todos os indivíduos envolvidos, que hoje já se aproximam de 20.000. Apesar de ser parte indiscutível de nossa política externa, não se limita a ela, pois o retorno, intangível desde logo, de nossa atuação neste país extrapola os objetivos da política externa brasileira.