ORALIDADE EM SALA DE AULA Andréia Jovane Braga 1 Rosiele Ferreira ¹ Sandra Rejane Silva Vargas ¹ Ângela da Rocha Rolla 2 RESUMO O presente trabalho tem como principal objetivo resgatar o interesse dos professores de Língua Portuguesa em trabalhar a oralidade em sala de aula. Ao demonstrar para o educando a diversidade lingüística existente no país, o educador vivenciaria inúmeras situações cotidianas, demonstrando ao aluno que não existe o certo e o errado na fala, mas sim a linguagem formal e informal. Entretanto, é relevante destacar a existência do dialeto e das gírias, variações tão comuns nos dias de hoje. A metodologia utilizada corresponde às pesquisas bibliográficas, realizadas em aula com o auxílio da orientadora deste e leituras individuais dos componentes do grupo. A partir deste estudo, foram elaboradas as aulas do Estágio I ,disciplina que contribui para reconhecer a importância de se demonstrar ao discente como saber se expressar é importante, bem como respeitar a diversidade lingüística existente na atualidade. Palavras-chave: Oralidade, variação lingüística, sala de aula. INTRODUÇÃO Este estudo tem como tema principal a oralidade, bem como as variações lingüísticas. Geralmente, os educadores da área de Letras não têm aproveitado suas aulas para o aprimoramento da fala de seus alunos. Mostrar ao educando as variações lingüísticas de maneira que ele compreenda que há situações em que é importante se expressar melhor, mas que o indivíduo que não fala de acordo com a língua padrão não deve ser discriminado. A oralidade deve ser um exercício contínuo em sala de aula, a fim de aprimorar a fala do aluno. Este artigo apresenta um trabalho relacionado às variações lingüísticas existentes, envolvendo o professor de Língua Portuguesa como principal mediador que deverá inserir a oralidade no cotidiano de seu aluno. Compreender a variação existente em nossa língua materna é contribuir para o aprimoramento da própria linguagem, pois o educando vai passar a entender que não há certo nem errado, e sim diferentes situações em que a fala deve se adequar. 1 Acadêmicas do Curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaiba-RS 2 Professora da Disciplina de Estágio I e orientadora deste trabalho – ULBRA/GUAIBA-RS ORALIDADE A oralidade tem sido bastante questionada por profissionais da área, pois não se observam nas escolas a importância da linguagem, suas diferenças e relações. A escola enfatiza a escrita, a gramática, esquecendo que a linguagem oral é o elemento de comunicação mais utilizado pelos indivíduos, pois a fala se adquire muito antes de se ingressar na vida escolar. Como se vê na obra Língua e Liberdade de Pedro Luft (1997), que ressalta seu descontentamento com as escolas tradicionais, “onde é tão raro que se estude a língua como meio de comunicação-atual, vivo, eficiente”. A questão da oralidade muitas vezes não ser trabalhada em sala de aula, envolve o conhecimento e a visão de mundo do educador, pois trabalhar o oral do discente vai além de conversas, é apresentar situações reais que ele poderá enfrentar, e mostrar o tipo de linguagem que aquela situação exigirá, porque a linguagem não é homogênea. Assim, é comum nos depararmos com diversas pessoas que não conseguem adequar a sua linguagem ao local onde estão e também as que não adequam sua fala de acordo com a fala do ouvinte, não conseguindo se fazer entender. Provavelmente isso ocorra porque, na escola, esse indivíduo não teve a oportunidade de refletir sobre as variações lingüísticas, bem como também não teve acesso a esse conhecimento. As autoras Onici Flôres e Angela Rolla (2001, p.29) afirmam que “é necessário criar contextos que permitam vivências realísticas. A aprendizagem de procedimentos da fala e de escuta eficazes deve ser vivenciada na escola, caso contrário os alunos não poderão tornar-se usuários competentes da língua oral.” Há diferenças e igualdades entre oralidade e escrita, porém ao distanciarmos a fala da escrita ou darmos maior importância a uma do que à outra, estamos pecando, pois os dois eixos devem ser valorizados. Tanto a escrita quanto a oralidade têm essencial importância na vida de todos. A escrita e a fala interligam-se tendo como objetivo a melhor comunicação do indivíduo sendo no “papel ”ou oralmente. Como citam Mozara Silva e Onici Flôres (2005): O que observamos no uso corrente é que fala e escrita relacionam-se, sobrepõemse, misturam-se e por vezes, distanciam-se, sendo as duas modalidades, no entanto, essenciais para suprir as necessidades de comunicação humana nas situações sociais específicas em que são utilizadas. Por outro lado, também é facilmente constatável que, quanto mais lemos e usamos a escrita no nosso dia-a- dia, mais nos especializamos na produção de determinados tipos de textos orais e escritos, atingindo ambos uma incrível similaridade.(SILVA, FLÔRES, 2005; DA ORALIDADE A ESCRITA, p.17) Há outra autora que ressalta a questão da relação entre oralidade e escrita: A escola deve ser um lugar privilegiado de vivência de língua materna: língua falada e língua escrita, língua-padrão e língua-não-padrão, nunca como pares opositivos, ou como atividades em competição; enfim, uma vivência da língua em uso em sua plenitude: falar, ler, escrever. (NEVES, 2004) O tema oralidade envolve a questão das variações lingüísticas, pois como há uma barreira entre a escrita correta e a fala, o indivíduo não consegue entender as diversas formas de expressões e por vezes acaba analisando como “errada” a fala de alguém. Na obra Preconceito Lingüístico, de Marcos Bagno (2006), é retratada a realidade do “certo” ou “errado”, de maneira que o leitor consegue perceber que há um preconceito na sociedade em relação à fala e à escrita, e que existem diferenças a serem respeitadas. Segundo Bagno (2006, p.52) “infelizmente existe uma tendência (mais um preconceito!) muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar ‘do jeito que se escreve’, como se essa fosse a única maneira ‘certa’ de falar português”. Diversos trabalhos podem ser feitos em sala de aula para desmistificarmos a fala como “errada” e a escrita como “certa”, mostrando ao aluno as riquezas que as diferenças proporcionam para os falantes, por se tratarem de culturas, povos, localidades diferentes. Na revista Nova Escola (2005), há uma reportagem que trouxe para o leitor um exemplo de como é prazeroso desvendar as diferenças juntamente com os alunos, e que ensinar e aprender pode ser gostoso. Em três meses e meio, o projeto Minha língua é diferente, não errada mudou a comunicação em toda a escola. Uma palestra sobre diferenças fez a turma perceber que as pessoas não têm a mesma altura e cor de pele nem cabelos do mesmo tipo. Por que essa situação seria diferente com relação à língua? Após a atividade, Luciana (a professora) levou para a sala revistas em quadrinhos do Chico Bento e pediu que os adolescentes transformassem as falas do caipira criado por Mauricio de Sousa do modo que acreditavam ser o mais adequado. Em vez de "paster", por exemplo, Chico passou a falar pastel. Terminado o exercício, a turma foi unânime: "O gibi ficou mais bonito". Nas aulas seguintes, porém, todos leram e discutiram textos sobre variação lingüística e diferenças de sotaque, vocabulário e construções gramaticais que marcam o nosso idioma. Luciana logo constatou que o trabalho estava sendo produtivo. Quando ela devolveu as adaptações de Chico Bento para os jovens e pediu que relessem as histórias, eles acharam que o personagem tinha perdido a graça e sua principal característica: o jeito de falar do lugar onde vive, a zona rural. Ao elaborar uma aula para trabalhar a oralidade em sala de aula, na disciplina de Estágio I, ficamos muito entusiasmadas com as inúmeras possibilidades que surgiram em torno deste eixo. Resolvemos planejar uma atividade em que os alunos pudessem reconhecer as variações lingüísticas, identificar as diferentes formas de expressão de acordo com a situação e utilizá-las, inserindo-as na realidade. A técnica utilizada foi de dramatização dos textos trazidos e de questionamento do grupo e professoras a respeito do assunto. Os alunos foram divididos em duplas, sendo que cada uma recebeu um texto contendo algumas variações lingüísticas: gírias, dialetos, linguagem formal e informal. Eles leram silenciosamente o seu diálogo para dramatizá-lo em seguida. Foi feito um círculo para que todos pudessem acompanhar as apresentações. No início da leitura, alguns apresentaram dificuldades, tom de voz baixo, mas aos poucos se soltaram e foi uma experiência muito positiva. Os alunos participaram com disposição, se engajaram no trabalho, divertiram-se e, o mais importante, reconheceram as diferenças existentes na fala e quando se utiliza cada uma delas. Houve questionamentos não só feitos pelos professores, mas entre os alunos. Eles expuseram as suas opiniões, foram criativos. Eles sentiram prazer em trabalhar esse assunto, estavam dispostos a aprender e esses fatores também contribuíram para o sucesso obtido. Os discentes afirmaram que nunca tiveram uma aula nesses moldes. Em seqüência, os discentes responderam a algumas perguntas, identificando o tipo de texto e exemplificando outras situações em que se utiliza determinada linguagem. Também foi feita a brincadeira das “tirinhas”, onde foi passado um papel contendo uma frase, cada uma com uma variação lingüística, as quais eles responderam oral e individualmente a que tipo de linguagem pertencia. Todos os objetivos propostos nessa aula foram plenamente alcançados. Portanto, trabalhar a oralidade é observar a importância de cada indivíduo, apresentar ao aluno o mundo que esse deverá adequar-se lingüisticamente para sua sobrevivência, é aceitarmos as diferenças para as quais muitas vezes cobrimos os ouvidos ou julgamos antes de conhecer. CONCLUSÃO Concluímos que trabalhar a comunicação oral em sala de aula é fundamental para o aluno desenvolver melhor a capacidade de se expressar. Entretanto, uma aula de oralidade pode ser muito agradável se bem aproveitada, pois o educando sente essa necessidade. O estudante deve saber que existem variações lingüísticas e aprender a respeitá-las como tal. Discriminar alguém por causa da fala é, infelizmente, muito comum e ao compreender essa diversidade, o aluno provavelmente terá menos medo de se expressar em aula. Enfim, esse trabalho foi muito prazeroso e produtivo, pois através das pesquisas bibliográficas realizadas, pudemos desenvolver uma aula de oralidade com nossos alunos do Estágio I de maneira que eles também aproveitaram. Eles puderam observar através de textos algumas variações da linguagem, bem como puderam interagir através dos diálogos propostos. Os discentes passaram a compreender melhor o que é a linguagem formal e informal e a importância de como utilizá-las melhor no seu dia-a-dia. Logo, os objetivos foram plenamente satisfatórios. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. 46ª ed. São Paulo, Loyola: 2006. FLÔRES, Onici; SILVA, Mozara. Da oralidade à escrita: Uma busca da mediação multicultural e plurilingüística. 1ºed. Canoas, Editora da ULBRA, 2005. LUFT. Pedro. Língua e Liberdade.6º ed. São Paulo, Ática,1998. NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramática estudar na escola? Norma e uso da língua Portuguesa. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2004. ROLLA, Ângela da Rocha; SOUZA, Luana; RODRIGUES, Odiombar; FLÔRES, Onici. Ensino de Língua e Literatura: Alternativas Metodológicas. Canoas, Editora da ULBRA, 2001. REVISTA NOVA ESCOLA. Língua Portuguesa: Minha Pátria é meu sotaque. São Paulo, Edição 191 – Abril de 2006