VALIDAÇÃO DE UMA LISTA DE CHECAGEM PARA ANÁLISE QUALITATIVA DO PADRÃO DE MOVIMENTO DO GOLPE DE JUDÔ TAI OTOSHI Fábio Rodrigo Ferreira Gomes 2 Cássio de Miranda Meira Jr. 3 Wagner Kenji Shimoda 2 Go Tani 1 RESUMO: Os especialistas em Judô conseguem analisar golpes de projeção bem executados e mal executados, porém não existe um critério bem definido para quantificar essa diferença. Para realizar pesquisas sobre esses golpes é necessário atribuir valores para a execução dos mesmos. Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar e validar dois testes qualitativos do padrão de movimento do golpe de Judô tai otoshi, denominados ”Configuração global do golpe” e “Kuzushi”. Especialistas em Judô analisaram nove golpes editados e, dez avaliadores analisaram a clareza, pertinência e o entendimento da lista de checagem. Os resultados permitem afirmar que a lista de checagem proposta é reprodutível e confiável para avaliações do referido golpe. Palavras-Chave: Judô - Teste - Tai Otoshi ABSTRACT: Specialists in Judô are able to analyze a throwing technique in terms of performance, however it is unkown a well-defined criteria to quantify the differences. If throwing technique is to be studied, it is necessary to assign values to perform them. Thus, the aim of this study was to elaborate and validate two qualitative tests of movement pattern of the Judô’s throwing technique tai otoshi, named "Global configuration" and "Kuzushi." The judo specialists analyzed nine edited blows and ten surveyors analyzed the clarity, pertinence and the understanding of checking list. The results showed that the checking list proposed is reproductive and reliable to Tai Otoshi’s movement pattern evaluation. Keywords: Judô – Test - Tai Otoshi A luta de Judô é caracterizada por técnicas de projeção e de domínio do oponente. O foco deste trabalho está nas técnicas de projeção ou golpes. Numa luta o competidor que aplica o golpe (tori) tem por objetivo projetar seu adversário (uke) de costas no solo. O golpe que atinge esse objetivo integralmente é considerado perfeito (ippon) e 1 Professor no Curso de Educação Física da UNIVOVE, Professor do Colégio CIAM e membro do Laboratório de Comportamento Motor (LACOM) - Escola de Educação Física e Esporte da USP. Mestre em Educação Física. 2 Professores da Escola de Educação Física da USP, membros do Laboratório de Comportamento Motor (LACOM). Doutores em Educação Física. 3 Membro do Laboratório de Comportamento Motor (LACOM). determina a vitória e o fim da luta. Existem também outras pontuações que não determinam o fim do combate, mas que são acumuladas até que isso ocorra; por exemplo, quando o uke é derrubado somente com parte das costas, ou até mesmo sentado. Especialistas em Judô conseguem diferenciar um golpe bem executado de um mal, e até mesmo o que seja mais importante para que o golpe tenha sucesso. No entanto, não existe um critério definido para avaliar a execução dos golpes nessa modalidade. Numa situação de luta, o golpe é avaliado com base no efeito que provoca no uke (por meio das pontuações koka, yuko, wazari, ippon). Assim, apenas o resultado do golpe é considerado, e não o padrão do movimento. Em outras palavras, avalia-se o produto, mas não o processo do golpe. Uma maneira de avaliar o processo pelo qual o golpe foi executado é analisar o padrão de movimento utilizado. A elaboração de uma lista de checagem (checklist) cumpre esse propósito. Listas de checagem de habilidades motoras são conjuntos de itens relativos a partes do padrão de movimento a ser avaliado. Isto é, a qualidade de cada componente é avaliada em forma de valores quantitativos, e o somatório de notas parciais compõe a nota final do movimento. Para cumprir funções de pesquisa científica, as listas de checagem devem ser objetivas, confiáveis e válidas. Existem várias listas de checagem no âmbito do Comportamento Motor. Por exemplo: Meira Jr. (2003) criou uma lista para o padrão de movimento no saque de voleibol; Freudenheim et al. (2005) criaram uma lista de checagem para avaliar o padrão de movimento no nado crawl; Iwamizu e Freudenheim (2006) elaboraram também uma lista para o padrão de movimento no mergulho lançado. O objetivo do presente trabalho foi desenvolver um instrumento para análise qualitativa do golpe de Judô tai otoshi. Duas listas de checagem foram criadas e avaliadas: uma para execução da configuração global do golpe, e outra específica para o kuzushi (desequilíbrio) do golpe. Elaboração da Lista de Checagem A execução dos golpes de Judô divide-se em três fases, cuja seqüência deve ser respeitada: 1) kuzushi (desequilíbrio), que é o ato de desestabilizar a posição defensiva do oponente; 2) tsukuri (preparação), em que se aproveita a posição anterior para se colocar na melhor posição a fim de projetar ou dominar o adversário; 3) kake (execução), na qual, aproveitando o resultado da posição anterior, projeta-se ou domina-se o adversário (YAMASHITA et al., 1994). Partindo do pressuposto que o kake é resultado das fases anteriores, não foi atribuída nota para essa fase do golpe. Dessa forma, no que tange a configuração global do golpe duas partes foram avaliadas: o kuzushi e o tsukuri. Considerações teóricas acerca do golpe de Judô TAI OTOSHI Pode-se traduzir tai otoshi em: tai = corpo e otoshi = queda; esse golpe é classificado como te waza (técnica de braço) (ADNET,1993) e, envolve um giro que ocorre em muitos golpes de Judô. A técnica descrita abaixo está baseada no kihon (movimento básico) do golpe. Na aplicação do tai otoshi, como o tori não carrega o uke nas costas, há uma melhor visualização dos componentes para avaliação do kuzushi mediante filmagem. O tai otoshi é caracterizado por uma pegada de direita (migui-kumi), em que a mão direita segura a gola esquerda do oponente, e a outra mão (esquerda) fica posicionada próximo ao cotovelo direito da manga do Judo-gi (roupa de Judô) de seu oponente. O kuzushi do tai otoshi ocorre à frente e para a direita do uke; o tori provoca o desequilíbrio do uke recuando a perna esquerda e puxando-o para frente com a mão do mesmo lado; o uke, opondo-se ao movimento, avança a perna direita apoiando o corpo sobre ela. No tsukuri e no kake, o tori vira imediatamente de costas, porém se coloca de forma que seu pé esquerdo fique na lateral da perna esquerda do uke e avança sua perna direita colocando-a à frente da perna direita do uke de tal forma que seu pé direito fique posicionado na lateral por fora e à direita do pé do uke, a panturrilha sob a canela, o joelho virado diretamente à frente e o peso do corpo distribuído nas duas pernas. Nessa posição, o tori empurra o uke com a mão direita na direção da projeção desejada e puxa a mão esquerda para cima e para a frente, projetando o uke (ADNET, 1993). Requisitos básicos de uma avaliação Segundo Sánchez (1997), a avaliação é a atribuição de um valor ou juízo sobre algo ou alguém com a finalidade de: 1) conhecer o rendimento do sujeito; 2) diagnosticar e valorizar a eficácia de um tratamento; 3) prognosticar as possibilidades do sujeito; 4) orientar, motivar e incentivar; 5) agrupar ou classificar; 6) determinar qualificações ao sujeito; 7) obter dados para investigação, detecção e seleção de talentos; e 8) controlar a individualização do treinamento. Avaliar qualitativamente significa basear-se subjetivamente numa escala de medida mental, pois é necessária a observação. No entanto, é possível tornar objetiva uma técnica de medida qualitativa (MEIRA JR., 2003). Para cada lista de checagem, atribuiu-se um tipo de medida qualitativa. Para quantificar a proficiência do padrão de movimento na lista de checagem de “configuração global do golpe” foi utilizada uma escala ordinal qualitativa (o intervalo entre as escalas tem as mesmas dimensões) a qual variou numericamente de 1 a 4, com o valor 1 representando uma execução insatisfatória (ruim) da ação, e o valor 4 representando uma execução perfeita da ação (ótimo). Já na lista de checagem do “kuzushi”, foi utilizada uma escala dicotômica (sim ou não): ocorrência = escore 1 (um) e não-ocorrência = escore 0 (zero). Validade (de conteúdo) No que se refere à validade de conteúdo, Sánchez (1997) formula a seguinte pergunta: o conjunto de itens do teste constitui-se de uma amostra representativa do aspecto de conduta a ser medido? Neste trabalho, o aspecto de conduta a ser medido foi a proficiência da execução do padrão de movimento. Assim, se fez necessário verificar itens vinculados ao grau de pertinência relacionado ao critério. O conteúdo dos itens foi elaborado, levando em consideração a experiência obtida durante a carreira de judoca, a bibliografia básica que descreve o golpe e a consulta prévia a outros especialistas que elaboraram considerações escritas relacionadas à adequação dos itens. Levando em conta essas considerações, foram realizados alguns ajustes para a melhora do conteúdo, isto é, nessa fase de elaboração, enfatizou-se a validade do instrumento. Pode-se definir “validade” pela capacidade de um instrumento de medida refletir realmente o que está medindo - um teste é válido, portanto, se mede o que se propõe a medir (BARTZ,1976; ATKINSON E NEVILL, 1998). Confiabilidade (ou fidedignidade) Confiabilidade ou fidedignidade é definida como o grau em que se espera que os resultados obtidos num teste sejam consistentes ou reprodutivos, quando examinados pelo mesmo avaliador, em dias distintos, normalmente próximos entre si (ATKINSON E NEVILL, 1998; BARTZ, 1976; KISS, 1987; SAFRIT & WOOD, 1989; SANCHEZ, 1997). No presente estudo, esse requisito foi testado na lista de checagem de “configuração global do golpe” pela utilização do coeficiente de correlação intraavaliador, derivado do coeficiente de correlação intraclasse (THOMAS E NELSON, 1996; VINCENT, 1994). Entretanto, em virtude da natureza da variável, para a lista de checagem do kuzushi utilizou-se a correlação de teste-reteste ou intraclasse e entre os avaliadores “interclasse” pelo teste de fidedignidade - concordância entre observadores (CEO) (THOMAS E NELSON, 1996). PROCEDIMENTOS DA LISTA DE CHECAGEM 1. Configuração global do golpe No intuito de avaliar a aprendizagem da configuração global do golpe no tai otoshi, o critério de avaliação foi subdividido em duas fases, de acordo com a divisão original do golpe: a) kuzushi - desequilíbrio; b) tsukuri - encaixe ou aproximação. Cada fase foi avaliada da seguinte forma de pontuação: (1) ruim; (2) regular; (3) bom; (4) ótimo. Validação do conteúdo O conteúdo do instrumento foi submetido à apreciação de 10 (dez) avaliadores especialistas em Judô (todos faixas pretas e seis deles professores de Educação Física). Após a análise da lista, cada avaliador respondeu a um questionário (ANEXO lII) que continha perguntas relacionadas à clareza de descrição do conteúdo, pertinência técnica e aplicabilidade da lista como instrumento de pesquisa (adaptado de ANDREOTTI & OKUMA, 1999 e MEIRA JR., 2003). Esse questionário permitiu aos avaliadores emitir comentários sobre o conteúdo da lista e sobre sua relação profissional e/ou acadêmica com o Judô. Abaixo estão apresentados os resultados referentes à opinião dos avaliadores sobre os itens da lista de checagem. TABELA 1 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores (n = 10) em relação à clareza de descrição de conteúdo da lista de checagem Configuração global do golpe. Classificação Freqüência (%) Muito fácil de entender 20 Fácil de entender 70 Difícil de entender 10 Muito difícil de entender - TABELA 2 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores (n = 10) em relação à pertinência técnica do conteúdo da lista de checagem Configuração global do golpe. Classificação Freqüência (%) Muito adequado 30 Adequado 60 Pouco adequado 10 Inadequado - TABELA 3 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores (n = 10) em relação à aplicabilidade como instrumento de pesquisa da lista de checagem Configuração global do golpe. Classificação Freqüência (%) Muito viável 40 Viável 60 Pouco viável - Inviável - Confiabilidade e objetividade – correlações intra e inter-avaliadores Para essa validação, três avaliadores peritos na modalidade analisaram uma fita de vídeo editada com 9 (nove) golpes. As crianças participantes tinham dez anos de idade e experiências variadas (habilidosas e não habilidosas) no golpe tai otoshi. A descrição da experiência de cada avaliador é apresentada no QUADRO 1. Cada avaliador analisou os mesmos nove golpes, por duas vezes, com intervalo de uma semana entre as avaliações, de acordo com o critério estabelecido na ficha de avaliação (ANEXO I). QUADRO 1 - Experiência dos avaliadores das listas de checagem da configuração global do golpe e do kuzushi do golpe tai otoshi.´ Avaliador Experiência 1 Graduado em Educação Física; Mestre na área de Educação, faixa coral 6º Dan; Técnico das categorias júnior e sênior masculino de um clube filiado a Federação Paulista de Judô; Professor do curso de Educação Física em duas universidades. 2 Graduado em Educação Física e Pós-graduado latosensu em Educação Física Escolar, faixa preta 1º Dan; Professor de Judô em escolas de ensino fundamental e ensino médio; Professor da categoria infantil de um clube filiado à Federação Paulista de Judô. 3 Graduado em Educação Física, faixa preta 1º Dan; Professor de Judô em escola de ensino fundamental e atleta de um clube filiado à Federação Paulista de Judô. No caso da lista de checagem “ANEXO I”, a utilização da correlação intraclasse (R) foi a técnica estatística utilizada para medir a fidedignidade intra e inter-avaliadores, porque além de considerar medidas univariadas, leva em conta várias observações e fornece uma análise detalhada das diferentes fontes de variação ao longo das tentativas (THOMAS & NELSON, 1996; VINCENT, 1994). A correlação intraclasse é obtida a partir de dados de uma análise de variância. Para obter este valor foi realizada uma análise de variância (ANOVA) com medidas repetidas, considerando as respostas dos nove sujeitos e aplicando as seguintes fórmulas matemáticas: MQerro = (MQ para tentativas + MQ para resíduo) / gl para tentativas + gl para resíduos; R = (MQ para tentativas - MQerro ) / para tentativas; onde MQ = média dos quadrados e gl = graus de liberdade. A seguir (TABELA 4) será apresentada a tabela com as notas dos avaliadores aos golpes. TABELA 4 - Notas aos golpes atribuídas pelos avaliadores para a lista de checagem Configuração global do golpe. Avaliador 1 Avaliador 2 Avaliador 3 Golpe 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1 4 5 6 5 4 5 2 2 3 4 4 4 4 3 4 7 5 6 5 5 4 4 4 4 4 3 4 5 6 6 7 7 7 7 6 8 8 8 8 8 8 7 4 4 4 4 4 4 8 3 4 4 4 4 4 9 8 8 8 8 8 8 Resultados da correlação interavaliadores: 1ª Tentativa de cada avaliador MQerro = (725,93 + 5,2693) / 1+16 = 43,01 R = (725,93 – 43,01) / 725,93 = 0,94 2ª Tentativa de cada avaliador MQerro = (811,26 + 3,2593) / 1+16 = 47,91 R = (811,26 – 47,91) / 811,26 = 0,94 TABELA 5 – Resultados da correlação intra-avaliadores para a lista de checagem Configuração global do golpe. Correlação (R) Avaliador 1 0,89 Avaliador 2 0,89 Avaliador 3 0,89 2. Kuzushi A lista de checagem “ANEXO II” contempla os dois itens do kuzushi separadamente - tarefa motora e efeito – e, em cada item, os escores possíveis foram 1 (um) para ocorrência ou 0 (zero) para não ocorrência. Pela natureza dicotômica da variável, a correlação de teste-reteste ou intraclasse e entre os avaliadores “intraclasse” foi calculada pelo teste de fidedignidade de concordância entre observadores (CEO), sugerido por (THOMAS e NELSON, 1996). Validação do conteúdo O conteúdo da lista de checagem do kuzushi (ANEXO III) foi submetido à apreciação dos mesmos 10 (dez) avaliadores especialistas em Judô que analisaram a lista de checagem anterior. Os resultados encontram-se nas tabelas abaixo. TABELA 6 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores em relação à clareza de descrição do conteúdo do teste (n = 10) para a lista de checagem Kuzushi. Classificação Freqüência (%) Muito fácil de entender 80 Fácil de entender 20 Difícil de entender - Muito difícil de entender - TABELA 7 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores em relação à pertinência técnica do conteúdo do teste (n = 10) para a lista de checagem Kuzushi. Classificação Freqüência (%) Muito adequado 80 Adequado 20 Pouco adequado - Inadequado - TABELA 8 - Freqüência relativa à opinião dos avaliadores em relação à aplicabilidade do teste como instrumento de pesquisa (n = 10) para a lista de checagem Kuzushi. Classificação Freqüência (%) Muito viável 60 Viável 40 Pouco viável - Inviável - Nas tabelas seguintes são apresentados os resultados referentes às notas dos avaliadores para os itens tarefa motora (TABELA 9) e efeito (TABELA 10) do kuzushi. TABELA 9 - Notas dos avaliadores ao item tarefa motora do kuzushi do golpe tai otoshi e os resultados do CEO. 2 1 1 1 2 2 1 1 2 2 1 2 1 2 2 1 1 2 Total Interclasse C C C C C C C C C 1 Concordância Intraclasse 2 1 2 1 2 2 1 1 2 2ª Semana 2 1 2 1 2 2 1 1 2 1ª Semana C C C C C C C D C 0,89 Avaliador 3 Concordância Intraclasse 2 1 2 1 2 2 2 1 2 2ª Semana 2ª Semana 2 1 2 1 2 2 1 2 2 1ª Semana 1ª Semana 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Avaliador 2 Concordância Intraclasse Golpe Avaliador 1 C C D C C C C C C 0,89 C C D C C C C D C 0,78 TABELA 10 - Notas dos avaliadores ao item efeito do kuzushi do golpe tai otoshi e os resultados do CEO. 1 1 1 1 2 2 1 1 2 1 1 1 1 2 2 1 1 2 Total Interclasse C C C C C C C C C 1 Concordância Intraclasse 1 1 2 1 2 2 1 1 2 2ª Semana 1 1 2 1 2 2 1 1 2 1ª Semana D C C C C C C D C 0,78 Avaliador 3 Concordância Intraclasse 2 1 2 1 2 2 1 1 2 2ª Semana 2ª Semana 1 1 2 1 2 2 1 2 2 Avaliador 2 1ª Semana 1ª Semana 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordância Intraclasse Golpe Avaliador 1 C C C C C C C C C 1 D C D C C C C D C 0,67 DISCUSSÃO Em pesquisa, cujo objetivo é inferir mudanças ao longo do tempo, é necessário quantificar as variáveis de interesse. Na avaliação do comportamento motor, a qualidade dos padrões de movimento é comumente avaliada por intermédio de listas de checagem, que visam quantificar itens específicos do movimento. O presente trabalho teve o intuito de elaborar uma lista de checagem, obedecendo aos requisitos de confiabilidade, para análise qualitativa de dois aspectos do golpe de Judô tai otoshi - configuração global do golpe e kuzushi/desequilíbrio. Em estatística, os valores atribuídos a correlações depois de calculados podem variar de 0 a 1, o menor valor significa ausência de relação entre as variáveis calculadas e o maior valor significa máxima correspondência (THOMAS E NELSON, 1996; ANASTASI & URBINA, 2000). Alguns autores sugerem a adoção de faixas de correlação (GIANICHI, 1984; VINCENT, 1994; GROSSER E STARISCMKA, 1988) em que as correlações abaixo de 0,60 são consideradas fracas, as de 0,60 a 0,70 de baixa a razoável e a partir de 0,80 de boa fidedignidade. Kiss (1987) considera a correlação acima de 0,70 como satisfatória. Já Anastasi e Urbina (2000) apontam alguns detalhes para auxiliar na avaliação do grau de correlação, ao atribuir uma variância de erro para alguns itens: amostragem de conteúdo, que no caso é representado pela própria lista de checagem e os modelos selecionados para serem avaliados, os quais podem variar até 20%; amostragem de conteúdo e tempo, referente ao teste-reteste, ou seja, o mesmo avaliador após uma semana, que pode variar em até 10%; e a diferença entre os avaliadores que é de 8%. Assim, a lista de checagem que obtiver valores maiores que 0,62 ou 62% pode ser considerada válida. A considerar o exposto nos dois parágrafos anteriores, os valores de correlação para ambas as listas de checagem do tai otoshi podem ser considerados aceitáveis porque estão acima dos valores de referência (0,89 e 0,67). Os instrumentos de avaliação, portanto, podem ser considerados fidedignos, uma vez que se apresentaram consistentes e reprodutíveis. As listas de checagem apresentadas neste estudo foram elaboradas para proporcionar observações detalhadas do padrão de movimento de modo a manter o foco de atenção nos pontos importantes da ação motora. No entanto, é necessário ressaltar que as listas de checagem não são adequadas para avaliação do golpe em situações imediatas, pois exigem a captação de imagens para posterior análise (observação indireta) (Eom & Schutz, 1992). Para aplicação das listas de checagem propostas no presente estudo devem ser seguidos os seguintes procedimentos: primeiramente deve-se filmar o padrão de movimento e a análise deve ser realizada somente pela reprodução do filme em um monitor de vídeo, é importante utilizar os recursos do aparelho de reprodução de vídeo para análise, no entanto, sugere-se que todo o padrão movimento seja assistido em velocidade real, e depois fase a fase, com auxílio dos recursos “pausa”, “quadro a quadro” ou “câmera lenta”; posteriormente assistir o movimento quantas vezes o avaliador julgar necessário para sanar alguma dúvida e finalmente atribuir nota a cada item. REFERÊNCIAS ADNET, J. Judô: luta dos fortes. Brasília: Editora FTD, 1993. ANASTASI, A.; URBINA, S. Testagem psicológica. 7.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. ANDREOTTI, R.A .; OKUMA, S.S. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. 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Efeito de diferentes estratégias de instrução na aprendizagem do mergulho lançado em crianças. Rio Claro. 3º Congresso Brasileiro de Comportamento Motor. Rio Claro. (CD-ROM), 2006. KISS, M.A.P.D. Avaliação em educação física: aspectos biológicos e educacionais. São Paulo, Manole, 1987. MEIRA JR., C. M. . Validação de uma lista de checagem para análise qualitativa do saque do voleibol. Motriz (UNESP), São Paulo, v. 9, n. set/dez, p. 153-160, 2003. SAFRIT, M.J.; WOOD, T.M. Measurement concepts in physical education and exercise. Champaign, Human Kinetics, 1989. SÁNCHEZ, D.B. Evaluar en educación física. Barcelona, Inde, 1997. SANTOS, S.G. A influência da prática do judô na postura de atletas do sexo masculino do estado do Paraná. Kinesis, Santa Maria, v.10, p.123-141, 1992. THOMAS,J.R. ;NELSON,J.K. Research Methods in physical Activity. Champaing: Human Kinetcs, 1996. VINCENT, J. Statistics in kinesiology. Champaign, Human Kinetics, 1994. YAMASHITA, Y.; ISOGAI, H.; NAGAOKA, S.; MIFUME, K.; SAMURA, K.; KOTANI, S.; MATSUMOTO, Y.; KAWAMURA, T.; DAIGO, T.; OSAWA, Y.; MATSUSHITA, S.; YAMAMOTO, S.; SATO, T.; KAWABE, K.; MIURA, J.; ONOZAWA, H.; NIBOSHI, H.; MIYAJIMA, N.; UMEZU, K.; ISHIBASHI, K.; AKIYAMA, S. Judô Kodokan. Kodansha International, 1994. ANEXO I PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DA “CONFIGURAÇÃO GLOBAL DO GOLPE” TAI OTOSHI A lista de checagem foi elaborada com o kumi-kata (pegada) de direita, assim se o golpe à ser avaliado for com a pegada de esquerda deve-se inverter as citações direita e esquerda da lista. A) KUZUSHI 1. RUIM: não existe o giro que caracteriza o kuzushi do tai otoshi, ou o tori se deslocou até o uke, de forma que a distância entre uke e tori ficou pequena, assim o corpo do uke não inclina para frente. Não existe movimento de puxada da manga pelo tori. 2. REGULAR: o tori executa o giro para deslocar o uke, a mão que o tori segura a manga está localizada abaixo de uma linha horizontal imaginária abaixo do peito durante todo o tempo do giro. O uke está com o tronco reto e os dois pés apoiados no solo, e para compensar o estado de equilíbrio do uke pode ocorrer o golpe harai goshi. 2b. REGULAR: O tori executa o movimento de braço após o momento da alavanca, trocando a ordem dos componentes. 3. BOM: O tori realiza o giro, e a mão do mesmo continua abaixo de uma linha horizontal imaginária. A mão pode estar localizada no abdome do próprio tori, porém o tronco do uke está inclinado para frente, podendo até estar apoiado na ponta do pé direito. O momento correto para acontecer a inclinação do uke é quando o tori está aproximando a perna direita durante o giro. 4. ÓTIMO: O tori realiza o giro, e a mão do mesmo que segura a manga do uke está descolada do corpo na linha do peito. O uke deve estar apoiado somente na ponta do pé direito. A manga do tori abaixa somente quando o uke estiver atravessando sobre a perna direita do tori. B) TSUKURI 1. RUIM: O tori não realiza o giro de 180º. Possivelmente não ocorrerá a não ser que o uke se projete. 2. REGULAR: O tori realiza o giro muito próximo do uke, de forma que a perna e o quadril do uke atrapalharão a projeção, e como o uke está muito próximo o tori ocasionalmente pode realizar o golpe harai goshi. 3. BOM: O uke está posicionado atrás das costas do tori, projetando o uke por cima do quadril. No tai otoshi o uke é projetado por cima da perna. 4. ÓTIMO: O uke é projetado por cima da perna direita do tori, e existe distância entre as pernas direitas do uke e do tori. ANEXO II PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DO KUZUSHI DO GOLPE TAI OTOSHI A) TAREFA MOTORA REALIZOU: Puxada da manga na altura do peito pelo menos até o toque do pé esquerdo no chão após o giro. Quadril e ombros alinhados. NÃO REALIZOU: Puxada da manga abaixo da altura do peito. Quadril e ombros estão desalinhados. B) EFEITO REALIZOU: O tronco do uke está inclinado para frente, com o corpo apoiado na ponta dos pés ou na ponta do pé direito. NÃO REALIZOU: O tronco do uke não inclina para frente quando o tori termina de realizar o giro para ficar de costas para o uke. ANEXO lll Questionário que os especialistas na modalidade esportiva Judô responderam para a determinação da validade de conteúdo da lista de checagem da configuração completa do golpe TAI OTOSHI. Este questionário tem por objetivo estabelecer a validade de conteúdo de um teste qualitativo do golpe tai otoshi no Judô. Por favor, leia e analise o teste para, em seguida, responder as cinco questões. O teste foi elaborado por peritos na modalidade esportiva Judô. As fases foram definidas com base na literatura de Judô e na experiência acadêmica e profissional dos peritos. À cada fase, atribuíram-se notas de um a quatro sendo: 1) ruim; 2) regular; 3) bom; 4) ótimo, de acordo com a importância para a execução perfeita do movimento e de acordo com os testes de fidedignidade. A nota final do golpe tai otoshi é composta pela soma das notas em cada fase. Portanto, a nota mínima é 2 e a máxima é 8. 1 – Em relação à clareza de descrição do conteúdo do teste, você o considera: ( ) muito fácil de entender; ( ) fácil de entender; ( ) difícil de entender; ( ) muito difícil de entender. 2 – Em relação à pertinência técnica do conteúdo do teste, você o considera: ( ) muito adequado; ( ) adequado; ( ) pouco adequado; ( ) inadequado. 3 – Em relação à aplicabilidade do teste como instrumento de pesquisa, você o considera: ( ) muito viável; ( ) viável; ( ) pouco viável;( ) inviável. 4 – Se quiser, faça qualquer comentário que julgue necessário a respeito do conteúdo do teste. 5 – Qual a sua graduação no Judô, e qual sua relação profissional e/ou acadêmica com o Judô? (p.e. técnico, professor, pesquisador, etc.)