Mais médicos ou melhores políticos?
Escrito por Mateus D. Severo
Qui, 24 de Outubro de 2013 10:13
O objetivo deste texto não é criticar o polêmico programa Mais Médicos do governo federal,
nem dizer que não faltam médicos, muito menos criticar os colegas cubanos. Minha intenção é
colocar um prisma diferente sobre a questão da saúde pública. Será que nossos
representantes estão ajudando você a viver mais e melhor? Como um bom político pode ser
tão eficiente quanto um médico na redução da morbidade e mortalidade?
Em 2011, uma das revistas médicas mais importantes do mundo, The Lancet, publicou uma
série de estudos sobre o panorama de saúde dos brasileiros. Em um desses artigos, a doutora
Maria Inês Schmidt, pesquisadora da UFRGS, mostra que, nas últimas décadas, a maior
prioridade em saúde no Brasil são as doenças crônicas não transmissíveis, das quais se
destacam o diabetes, o câncer, as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias. A
pesquisadora enumera os principais fatores de risco: fumo, alimentação inapropriada e
sedentarismo, principalmente. Ora, nós sabemos que o impacto sobre esses fatores através de
políticas públicas é bem maior do que o impacto do aconselhamento médico-paciente.
No caso da pressão alta, por exemplo, que é um reconhecido fator de risco para derrames e
enfartes, qual estratégia teria mais impacto sobre a saúde da população? Importar 6 mil
médicos de Cuba e fornecer medicamentos de forma gratuita ou criar uma legislação que faça
com que a indústria alimentícia restrinja o teor de sódio nos alimentos, incentivar uma
alimentação saudável e criar condições de mobilidade para que o cidadão use bicicleta em vez
de automóvel particular, com consequente redução dos índices de obesidade dos brasileiros?
Com certeza, a segunda, já que “trataria”, inclusive, pessoas que não chegam ao sistema de
saúde, e melhor, de forma passiva.
As duas estratégias agem em diferentes pontos do processo saúde-doença, isto é, não se
excluem. Contudo, lançar “programas emergenciais” rende bem mais votos que as estratégias
socioambientais que mudam a vida das pessoas sem que elas percebam. É por isso que se
investe mais em asfalto do que em saneamento. O asfalto (Mais Médicos) aparece mais que o
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encanamento (políticas públicas), além de o eleitor lembrar mais fácil. Vivemos uma grande
inversão de prioridades, em que a medicina curativa vem antes da preventiva, por opção dos
nossos representantes.
Acredito que, no âmbito da saúde pública brasileira, o principal fator de risco a ser combatido
ainda seja a ignorância. A educação precária que forma cidadãos alienados, perpetua o ciclo
da politicagem em véspera de eleição em detrimento do bem maior, a saúde do Brasil.
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
CREMERS 30.576
[email protected]
www.facebook.com/drmateusendocrino
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