1 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC UNA DE HUMANIDADES, CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO CURSO DE ARTES VISUAIS O ECODESIGN COMO FATOR TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE CÍNTIA JOANA KEMZCENSKI CRICIÚMA SC JULHO DE 2010 CÍNTIA JOANA KEMZCENSKI O ECODESIGN COMO FATOR TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Área de concentração: Processos e Poéticas Orientador: Prof. MSc. João Luís Silva Rieth CRICIÚMA SC JULHO DE 2010 3 CÍNTIA JOANA KEMZCENSKI O ECODESIGN COMO FATOR TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Artes Visuais pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Criciúma, 01 de julho de 2010 BANCA EXAMINADORA João Luís Silva Rieth – Mestre em Design (Universidade do Extremo Sul Catarinense) - Orientador Teresinha Maria Gonçalves – Doutora em Ciências Ambientais (Universidade do Extremo Sul Catarinense) Aurélia Regina de Souza Honorato – Mestre em Educação (Universidade do Extremo Sul Catarinense) 4 AGRADECIMENTOS Aos meus avós, Mário e Beth, considerados na verdade, meus pais, meu chão, minha segurança. As palavras faltam para narrar a importância deles na minha vida. À minha mamãe e amiga Kátia, por iniciar meu interesse pela arte. Formada em Educação Artística me familiarizou desde criança com os nomes de alguns artistas, técnicas de desenhos e pinturas, entre outras atividades artesanais. E dessa maneira, foi estimulando habilidades para trabalhos manuais e despertando em mim um profundo interesse na área. Ao meu irmão Anniel, continência soldado! À minha irmã Bianca, que me ajudou na construção dos modelos, e é o amor da minha vida, minha parceirinha, minha amiga. Às minhas amigas mais antigas: Shennon, Daniela, Andréa, protagonistas da minha história, ilustres em tantas situações marcantes e inesquecíveis, fazendo parte tanto do meu passado quanto do meu presente. Minha vida não seria a mesma sem elas, minha felicidade não seria a mesma sem elas, e principalmente eu não seria a mesma sem elas. À Samira pelos telefonemas diários, nunca permitindo que eu me sentisse sozinha. Pelas nossas descontraídas cervejas com pagode que sempre me animavam, até as tardes de sábado escutando os sertanejos mais deprimentes, para afogar as mágoas. Contudo, as festas com ela sempre foram as mais divertidas. À Daiane e à Bel por serem minhas grandes companheiras e confidentes. Por significarem muito pra mim. Dai, amiga querida, que sempre estava disposta a me tirar das roubadas que eu me enfiava. Sinto falta dos nossos matusas e nossas idas a Dunas. Bel, doidinha, sempre esquematizando a próxima e é minha parceira ao extremo. Elas moram no meu coração, para sempre. 5 À Luana, que por tanto tempo foi muito mais do que minha melhor amiga, era uma irmã, era minha alma gêmea. Nunca na minha vida inteira encontrei alguém tão parecida comigo. Acabamos nos afastando por bobagens e, alguns anos depois, nos reconciliando por saudades. Apesar de não nos falarmos tanto quanto eu gostaria, ela foi, é, e sempre será importante. À minha segunda família que conquistei na faculdade. Ao sentimento reconfortante de todos, ao companheirismo e as descobertas. Belise, minha primeira amiga da sala. Obrigada por mostrar um mundo diferente e muito mais amplo do qual eu estava acostumada. Por abrir as portas da sua vida tão espontaneamente, iluminando a minha. À Grazi pelos melhores conselhos nas horas mais precisas. Por sempre demonstrar ajuda, quando eu mais necessitava dela. À Nathalia pela lealdade, por demonstrar uma amizade verdadeira nos momentos mais loucos, divertidos, irresponsáveis e difíceis. Enlouqueceria sem o seu apoio. Amizade insubstituível que não se apagará jamais. Ao Ricardo, vulgo Pãozinho, que por muito tempo foi o meu diário ambulante, meu apoio de todos os dias. Meu companheiro de faculdade, estágio e „loucuradas‟. O Mineirinho do meu Indiozinho. Só com ele foi possível aturar a „ogro‟ por tanto tempo. Foi pra Porto Alegre e faz muita falta. É Pãozinho, segue o conselho do tio Bezerra e “se segura malandro...”. À Camila por me apoiar desde o início do projeto. Durante um bom tempo só nós duas nos aturávamos. Nosso assunto era sempre o mesmo: TCC. E no decorrer de todo esse período, descobri uma amizade sincera, confiável e indispensável. Auxiliou-me na pesquisa e na realização do projeto, e por isso, sou muito grata a ela. Ajudou até quando eu simplesmente não agüentava mais estudar e ela sugeria que largássemos tudo na biblioteca para ir à casa dela assistir Crepúsculo mais uma vez. E agora, nós temos tantos planos e sonhos juntas e tanta vontade de realizá-los. Mas com certeza, o mundo será pequeno para nós duas. 6 Ao Guilherme, meu namorado, que foi a pessoa que mais me auxiliou em todo o trabalho. Apesar de já ter me levado à extremos de alegria e tristeza, amor e raiva, e de me fazer jurar nunca mais querer vê-lo na vida, ele anda „caprichando‟ bastante ultimamente. À ValVaral que me acolheu no GEDEST desde o início. Parceria de trabalhos em grupo, idas ao bar, eventos artísticos, discussões muito produtivas e baladas improvisadas (e engraçadíssimas). Temos até o mesmo amor platônico pelo Johnny Depp. Ao Gabriel, amigo prestativo, que me auxiliou na realização dos desenhos de construção. Ao meu orientador Rieth, por aceitar o auxílio do trabalho e conduzir a pesquisa com muita sabedoria e tranqüilidade. Os sábados à tarde sacrificados em prol as orientações sempre foram muito agradáveis e válidos, em meio a um clima de descontração. Ao pessoal de Praia Grande e as „mulheres de fibra‟ do Itaimbé Artes, especialmente Inês, Eriete, Abrisi, que me receberam com muita simpatia e disponibilidade. Dedicaram um dia inteiro para responder meus questionamentos, como também me acompanharam nas visitas, e continuaram prestativas com o decorrer do tempo e com o surgimento de algumas dúvidas. Além de providenciar a matéria prima necessária para a confecção da minha obra. Aos artesãos e artistas, Lucinda e José, por me ajudarem nos trabalhos de acabamento da minha luminária. À Patrícia, do Arte Catarina, por fornecer todos os contatos necessários para o desenvolvimento do projeto e emprestar alguns materiais da sua loja para uma melhor finalização do meu espaço para a exposição. 7 "Cada geração acredita, sem dúvida, ter vocação para mudar o mundo. Todavia, a minha sabe que não vai refazê-lo. Porém, sua tarefa pode ser maior. Consiste em impedir que o mundo se desfaça." Albert Camus 8 Resumo A pesquisa consiste em explorar e compreender o ecodesign, integrando-o como um componente essencial ao desenvolvimento sustentável. São explorados alguns conceitos que acercam meio ambiente e design. É exercido um breve retrospecto histórico que aponta o início das preocupações ambientais, as principais Conferências em prol ao meio ambiente, alguns desastres ecológicos e sociais, desenvolvendo o discurso até os dias atuais. Uma pesquisa bibliográfica foi exercida com o intuito de identificar alguns artifícios e ferramentas do design sustentável, assim como, definir as fases do ecodesign. Logo é destacada a importância da utilização de uma metodologia de projeto para a produção de um produto. A pesquisa oferece três das metologias mais utilizadas: a de Munari, a de Bomfim e a de Roosemburg. Finalizando é realizada a confecção de uma luminária ecologicamente correta, seguindo algumas indicações do ecodesign e a metodologia de projeto de Munari. Palavras Chave: Design, Ecodesign, meio ambiente, ecologia, desenvolvimento sustentável, luminária. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Abrangência do conceito de ambiente. Fonte: SÁNCHEZ, 2006. ............. 20 Figura 2. Poluição causada por resíduos sólidos, na China. Disponível em: http://ambienteasdireitas.blogsome.com/2007/05/11/. .............................................. 22 Figura 3. Motor a vapor alimentado por carvão, que impulsionou a Revolução Industrial. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial. ........................... 26 Figura 4. Cadeira Wassily Esta cadeira foi projetada em 1925 pelo arquiteto e designer húngaro Marcel Breuer (1902-1981) para decorar a casa do pintor Wassily Kandinsky. Na época, ambos eram professores da Bauhaus. Disponível em: http://bravonline.abril.com.br/conteudo/bravo/materia_410734.shtml . ..................... 27 Figura 5 Sobreviventes da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade de Hiroshima. Disponível em: http://www.jornada.unam.mx/2005/08/05/029n1mun.php. ........................................ 32 Figura 6: Sofá Sushi produzido pelos irmãos Campana. Promove uma reutilização de restos de tecido e EVA. Fonte: http://www.brazilinteriordesign.com/2010/06/cadeira-mesa-sofa-sushi-irmaoscampana.html. ........................................................................................................... 36 Figura 7: Luminárias desenvolvidas pela Fontana Arte e projetadas pelos Irmãos Campana. Sua matéria prima é o bambu. Fonte: http://odesignare.blogspot.com/2010/01/luminaria-bambu.html. ............................... 36 Figura 8. Anna Garfoth trabalham em um dos seus garfites ecologicamente corretos. Fonte: http://www.energiaeficiente.com.br/tag/artistas/ ............................................. 41 Figura 9. Obra de Frans Krajcberg. Fonte: http://pensandoverde.blogtv.uol.com.br/2008/11/03/krajcberg-arte-ecologica-nomamsp ...................................................................................................................... 42 Figura 10. Obra de Frans Krajcberg. Fonte: http://pensandoverde.blogtv.uol.com.br/2008/11/03/krajcberg-arte-ecologica-nomamsp ...................................................................................................................... 42 Figura 11 Ilustração representando o ciclo de vida de um produto. Fonte: KAZAZIAN, 2005 ....................................................................................................... 51 Figura 12. Ilustração demonstrando as etapas da Análise do Ciclo de Vida e as suas aplicações. Disponível em: http://www.ciclodevida.ufsc.br/acv/Main.php?do=adminAction&action=exibirSubMenu &idSubMenu=5 .......................................................................................................... 53 Figura 13. O primeiro selo verde, Anjo Azul, criado na Alemanha em 1977. Disponível em: http://www.earthpledge.org/images/cert_logos/Blue-Angel.jpg . ....... 57 10 Figura 14. Selo da Procel. Disponível em: http://www.casadoaquecedor.com/imagens/SELO%20PROCEL%20gravata%20300. png ............................................................................................................................ 58 Figura 15. Símbolo da reciclagem, o selo verde mais conhecido dos consumidores. Disponível em: http://www.codeca.com.br/images/layout/simbolo_reciclagem.jpg ... 58 Figura 16. O jornal on line é uma estratégia eficiente que desmaterializa o produto e possibilita uma utilização compartilhada. Disponível em: http://www.jmnet.com.br/ . 60 Figura 17 Esquema de metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Munari. Disponível em:http://clientes.netvisao.pt/alfredoa/METODOLOGIA/METODOLOGIA%20PROJE CTUAL%20com%20arroz%20verde.htm .................................................................. 68 Figura 18. Classificação de luminárias decorativas domésticas. Fonte: www.iar.unicamp.br/.../design%20de%20luminárias/Luminarias.pdf. ....................... 72 Figura 19: exemplos de classificações de iluminação. Fonte: www.iar.unicamp.br/.../design%20de%20luminárias/Luminarias.pdf. ....................... 73 Figura 20. Luminárias de design arredondado fabricadas com filtro de café usado. 79 Figura 21. Pendentes fabricadas com madeira e fibras vegetais. ............................ 79 Figura 22. Pendentes feitas a partir de madeira e fibras vegetais. ........................... 80 Figura 23. Efeito causado pela luz em uma arandela fabricada com filtro de café usado. ....................................................................................................................... 80 Figura 24. Abajur fabricado a partir da reutilização de tecidos e outros materiais.... 80 Figura 25. Luminárias de mesa fabricadas com madeiras e fibras naturais. ............ 81 Figura 26. Luminária de mesa de madeira e fibras. ................................................. 81 Figura 27. Coluna fabricada basicamente com filtros de café usados. ..................... 82 Figura 28. Lâmpada fluorescente em sua embalagem, que contêm o selo da Procel. .................................................................................................................................. 85 Figura 29. Desenho de uma luminária de mesa. ...................................................... 86 Figura 30. Desenho de uma luminária de chão. ....................................................... 86 Figura 31. Desenho de uma luminária pendente. ..................................................... 87 Figura 32. Estrutura do modelo de uma luminária de mesa feita com bambu e papelão. .................................................................................................................... 88 Figura 33. Modelo pronto de uma luminária de mesa. ............................................. 88 Figura 34. Modelo finalizado de uma coluna. ........................................................... 89 Figura 35. Modelo de uma luminária pendente. ....................................................... 90 11 Figura 36. Vista lateral do protótipo da coluna, com as respectivas medidas. ......... 91 Figura 37. Vista superior do protótipo da coluna. ..................................................... 92 Figura 38. Amostra de como será a disposição dos círculos. .................................. 92 Figura 39. Amostra da estrutura de bambu adaptada aos círculos. ......................... 93 Figura 40. Desenho com as lâmpadas fluorescentes incluídas. ............................... 93 Figura 41. Desenho com a fibra de taboa já inserida. .............................................. 94 Figura 42. Desenho finalizado, contendo o papel de fibra de taboa. ........................ 94 Figura 43. Esquema de ligação elétrica da luminária. .............................................. 96 Figura 44: Protótipo finalizado. ................................................................................. 96 Figura 45: Protótipo na exposição da Fundação Cultural de Criciúma. Para o evento procurou-se seguir uma linha sustentável de decoração. Além da coluna ecologicamente correta, o espaço obtinha uma mandala feita com jornal, um tapete de fibra de bananeira e uma almofada de fibra de taboa. ......................................... 97 Figura 46. Boneco montanhista confeccionado em madeira. ................................. 108 Figura 47. Trança utilizada pelas artesãs do Itaimbé Artes como base para a fabricação dos chinelos. .......................................................................................... 109 Figura 48. Chinelos de taboa modelo de inverno. .................................................. 109 Figura 49. Suplás e suportes de panelas confeccionados com taboa. ................... 110 Figura 50. Bolsa de taboa fabricada com o auxílio de tear e à venda na Coopervida , Praia Grande – SC. ................................................................................................. 111 Figura 51. Artesã do grupo Itaimbé Artes, dando acabamento a um chinelo de taboa. ...................................................................................................................... 111 Figura 52. Colaboradores do Grupo Itaimbé Artes. ................................................ 113 Figura 53. Papel de fibra de bananeira fabricado pelas artesãs da ACEVAM, Praia Grande – SC. .......................................................................................................... 114 Figura 54. Papel de fibra de taboa fabricado pelas artesãs da ACEVAM, Praia Grande – SC. .......................................................................................................... 114 Figura 55. Caderno e agendas confeccionadas a partir dos papéis de fibra de bananeira e taboa. .................................................................................................. 115 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ICSID - International Council of Societies of Industrial Design Pnuma - Programa Das Nações Unidas para o Meio Ambiente DfE – Design para o meio ambiente DfM - Design para Manufatura DfA - Design para Montagem DfD - Design para Desmontagem DfR - Design para Reciclabilidade DfS - Design para Manutenção DfQ - Design para qualidade DfLC - Design para ciclo de vida P2 - Prevenção da poluição P+L - Produção Mais Limpa ACV - Análise do Ciclo de Vida Repa - Environmental Profile Analysis Setac - Society of Environmental Toxicology and Chemistry AICV - Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida Cetea - Centro de Tecnologia de Embalagem Ital - Instituto de Tecnologia de Alimentos ABCV - Associação Brasileira do Ciclo de Vida Procel - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina ACEVAM - Associação dos Colonos Ecologistas do Vale Mampituba PDA – Subprograma Projetos Demonstrativos 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15 2. Problema ...................................................................................................... 16 3. Objetivos ...................................................................................................... 16 3.1 Objetivo Geral .................................................................................... 16 3.2 Objetivos Específicos ......................................................................... 16 4. METODOLOGIA........................................................................................... 17 5. DEFINIÇÕES, CONCEITOS E LEVANTAMENTO HISTÓRICO .................. 19 5.1 Ambiente ............................................................................................ 19 5.2 Poluição ............................................................................................. 21 5.3 Degradação Ambiental ...................................................................... 22 5.4 Impacto Ambiental ............................................................................. 23 5.5 Desenvolvimento Sustentável ............................................................ 24 5.6 Design ................................................................................................ 25 5.7 Design de interiores ........................................................................... 29 5.8 Ecodesign .......................................................................................... 30 6. ARTE ECOLÓGICA ..................................................................................... 37 6.1 Arte .................................................................................................... 37 6.2 Ecologia ............................................................................................. 38 6.3 Arte Ecológica .................................................................................... 40 7. ARTIFÍCIOS DO ECODESIGN .................................................................... 43 7.1 Matérias primas e energia.................................................................. 43 7.2 Design para o desenvolvimento sustentável (DfX) ............................ 45 7.3 Controle da Poluição .......................................................................... 46 7.4 Prevenção da Poluição (P2) .............................................................. 48 7.5 Produção Mais Limpa (P+L) .............................................................. 50 7.6 Análise do Ciclo de Vida (ACV) ......................................................... 50 7.7 Selos Verdes...................................................................................... 56 8. FASES DO ECODESIGN ............................................................................. 59 8.1 Pré-produção ..................................................................................... 59 8.2 Produção............................................................................................ 62 8.3 Distribuição ........................................................................................ 63 14 8.4 Utilização ........................................................................................... 64 8.5 Descarte e Reutilização ..................................................................... 64 9. METODOLOGIA DE PROJETO DE PRODUTO .......................................... 66 9.1 Metodologia Munari ........................................................................... 66 9.2 Metodologia Bomfim .......................................................................... 68 9.3 Metodologia Roosemburg .................................................................. 69 10. OBRA ......................................................................................................... 70 10.1 Definição do Problema ..................................................................... 70 10.2 Componentes do Problema ............................................................. 74 10.3 Coleta e Análise de dados ............................................................... 75 10.4 Criatividade ...................................................................................... 82 10.5 Materiais, Tecnologias e Experimentação ....................................... 83 10.6 Modelos e Verificação .................................................................. 85 10.7 Desenhos de Construção................................................................. 91 10.8 Protótipo e solução .......................................................................... 95 11. CONCLUSÃO............................................................................................. 99 12. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 101 Questionário........................................................................................... 105 14. ANEXOS .................................................................................................. 107 Itaimbé Artes .......................................................................................... 107 ACEVAM ................................................................................................ 113 15 1. INTRODUÇÃO Muito se discute se o design pode ser considerado arte. Alguns entendedores afirmam que não, que arte tem uma característica ideológica ligada a uma produção individual e subjetiva, enquanto o design é funcional e direcionado a um mercado de consumidores. Porém, existe uma vertente de pensamente que propõe uma visão mais abrangente da arte moderna, entendendo-a como momento de reavaliação de si mesma em sua crise histórica, considerando aí os vários campos do design (arquitetura, o urbanismo e o design) como manifestações artísticas legítimas da modernidade. Arte ou não, é inegável o seu caráter social. Melhorar a vida da humanidade tem sido tarefa de quem projeta e desenha, pois sem dúvida a função principal do design é aumentar a qualidade de vida das pessoas. Considerando a situação do planeta, pode-se ter consciência dos inúmeros problemas ambientais por que passamos. Através da ação nefasta do ser humano e do desrespeito pela natureza as fontes não-renováveis de materiais e energia estão se esgotando. E com o atual ritmo frenético de produção e consumo, elas tendem a desaparecer o mais rápido que se possa imaginar. O modelo de desenvolvimento atual é ecologicamente predador, socialmente perverso e politicamente injusto, uma vez que se depara com crescentes desigualdades sociais e agressões ambientais. O modo de vida deve ser repensado urgentemente. Unificando design e meio ambiente, encontra-se uma alternativa para parte dos problemas: o ecodesign. Seu principal objetivo é projetar lugares e produtos, que de alguma forma reduzam o uso de recursos não-renováveis e/ou minimizem os danos causados ao ecossistema. Preocupa-se em escolher materiais de baixo impacto ambiental, produzir produtos de qualidade, durabilidade e modularidade, utilizar processos de fabricação com menos energia e, propor o reaproveitamento de outros objetos criando uma nova proposta. Desse modo, podemos dizer que o ecodesign procura não somente minimizar os males dos produtos na fase de sua elaboração, mas também durante a utilização e após, o descarte. 16 2. Problema Como planejar e conceber um produto ecologicamente correto através dos princípios do ecodesign? 3. Objetivos 3.1 Objetivo Geral Compreender o conceito, história, componentes e fases do ecodesign, possibilitando a confecção de um produto de base sustentável. 3.2 Objetivos Específicos Contribuir para a conscientização da sociedade sobre a atual situação do planeta focando os problemas ambientais Aprofundar os conhecimentos sobre os diversos conceitos que cercam desenvolvimento sustentável e design; Expor soluções alternativas de materiais e energia, como também, métodos corretos de produção, distribuição, utilização e aproveitamento de um produto após seu descarte; Comprovar que o ecodesign aplicado ao design de produtos proporciona bem estar e satisfação de quem o utiliza; Desenvolver o design de uma luminária ecologicamente correta. 17 4. METODOLOGIA A pesquisa intitulada: “O ecodesign como fator transformador da sociedade” se enquadra na linha de pesquisa de Processos e Poéticas do Curso de Arte Visuais- Bacharelado da UNESC. O trabalho de pesquisa em questão é utilizado para gerar informações que auxiliem designers a fazerem escolhas durante o processo de desenvolvimento de produtos e projetos, integrando aspectos ecológicos à estes. Destacando os benefícios que os produtos trazem, não somente ao meio ambiente, como também, a quem os adquirir. Ela relaciona o ecodesign ao desenvolvimento sustentável, transformando-o num sério aliado para promover as mudanças mais que necessárias na sociedade, nos processos produtivos e nos hábitos dos consumidores. Inicialmente é feita uma coleta de dados, realizada por um levantamento bibliográfico, onde são examinados artigos, livros e dissertações. Também são consultados sites da internet. Primeiramente a pesquisa proporciona um capítulo sobre alguns conceitos que envolvem o ecodesign, como também, faz um breve retrospecto histórico. Logo traz alguns artifícios que o projeto ecológico deve ou pode agregar no seu planejamento e/ou execução. A seguir as 5 fases do ecodesign são expostas e esclarecidas, apontando alternativas sustentáveis dentro de cada uma delas. E no penúltimo capítulo o trabalho oferece três das metodologias de projeto de produto mais conhecidas e utilizadas pelos designers. Entende-se que a pesquisa bibliográfica merece tratamento destacado. Primeiro, porque estará presente em qualquer processo de pesquisa. Com efeito, a respeito de quase tudo que se deseje pesquisar, algo já foi pesquisado de forma mais básica, ou idêntica ou correlata. (SANTOS 1999, p.92). Sendo um trabalho de Bacharel em Artes foi confeccionada uma obra referente à toda pesquisa teórica. O último capítulo abrange a produção de uma luminária ecologicamente correta. Seguindo uma das metodologias de projeto de produto propostas no capítulo anterior, o estudo conta com uma pesquisa de campo, partindo de uma investigação ao mercado para conferir as luminárias de caráter sustentável que já estão disponíveis ao público. Para complementar as informações um questionário será aplicado à comerciantes de cinco lojas especializadas em 18 luminárias da cidade de Criciúma, Santa Catarina, Brasil. Este questionário conta com seis perguntas, e tem o intuito de aprofundar os conhecimento sobre o consumidor criciumense. O questionário deve ser o mais conciso possível, mas cobrindo a gama necessária do assunto requerido pelo estudo. O pesquisador deve tomar cuidado para resistir à tentação de elaborar perguntas que, apesar de interessantes, são periféricas ou alheias ao foco principal do projeto de pesquisa. (REA; PARKER 2000, p. 54). Considerando seus estudos direcionados para o ecodesign e sua preocupação em apontar alternativas ecologicamente corretas à sociedade, a pesquisa se enquadra, quanto aos seus objetivos, como exploratória. Explorar é tipicamente fazer a primeira aproximação de um tema e visa a criar maior familiaridade em relação a um fato, fenômeno ou processo. Quase sempre se busca essa familiaridade pela prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do problema, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis a respeito do assunto, e até mesmo revelar ao pesquisador novas fontes de informação. Por isso, a pesquisa exploratória é quase sempre feita na forma de levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais que estudam/atuam na área, visitas a web sites etc. (SANTOS 1999, p.26). Sua abordagem se dá de forma qualitativa, com a indicação dos conceitos e princípios dos produtos sustentáveis, da questão geral dos seus ciclos de vida, as vantagens de utilizá-los e a preocupação social envolta do tema. O processo qualitativo da pesquisa é feito através da coleta e análise desses dados e se utiliza de estratégias diversas de investigação. Quando tratamos da pesquisa qualitativa, frequentemente as atividades que compõem a fase exploratória, além de antecederem à construção do projeto, também a sucedem. Muitas vezes, por exemplo, é necessário uma aproximação maior com o campo de observação para melhor delinearmos outras questões, tais como os instrumentos de investigação e o grupo de pesquisa. Tendo uma visão mais ampla, podemos dizer que a construção do projeto é, inclusive uma etapa da fase exploratória. (MINAYO 2004, p. 31). Quanto à natureza o trabalho atual é desenvolvido a partir do conceito de pesquisa aplicada, que objetiva reunir o máximo de conhecimentos possíveis para aplicá-los de modo prático. Dessa forma procura-se contribuir para a conscientização de profissionais e consumidores sobre a delicada situação ambiental que se vive atualmente. 19 5. DEFINIÇÕES, CONCEITOS E LEVANTAMENTO HISTÓRICO Para um melhor entendimento do restante do trabalho o primeiro capítulo encarrega-se de esclarecer alguns conceitos que envolvem o ecodesign. Juntamente com as definições é feito um breve retrospecto histórico apontando o início das primeiras preocupações ambientais mundiais, são citadas algumas Conferências e a criação de determinadas leis em prol do meio ambiente, entre outras questões pertinentes ao tema. 5.1 Ambiente Para Sánchez (2006) o conceito de ambiente é considerado amplo por poder englobar tanto a natureza quanto a sociedade. O termo permite uma variedade de definições, como também uma interação de diversas áreas distintas. Ele irá além da relevância acadêmica, na medida em que o seu entendimento envolverá políticas públicas de ações empresariais e de iniciativas privadas da sociedade civil. Avaliando os impactos ambientais ele estipula até onde os estudos ambientais de planejamento e processos de produção, podem chegar. Nesse sentido a interpretação legal do conceito de ambiente é determinante na definição do alcance dos instrumentos de planejamento e gestão ambiental. Em muitas jurisdições, os estudos de impacto ambiental não são, na prática, limitados às repercussões físicas e ecológicas dos projetos de desenvolvimento, mas incluem também suas conseqüências nos planos econômico, social e cultural. (SÁNCHEZ 2006, p.19). Nas legislações ambientais de muitos países existem diferentes interpretações do conceito de meio ambiente, que se assemelham ou diferem em alguns pontos. Na Legislação brasileira, meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 3º, I.) O ambiente é também o recurso usado pela sociedade para extrair componentes indispensáveis para a sua sobrevivência e necessários para o desenvolvimento sócio-econômico. Sem dúvida, o ambiente é um meio de vida, cuja integridade é um fator essencial para o funcionamento do planeta. No entanto, vem ocorrendo uma exploração exacerbada de seus recursos naturais, causando 20 diferentes processos de degradação ambiental e ameaçando todo o tipo de vida. Segundo Godard (1980 apud SÁNCHEZ, 2006 p. 21) o ambiente não se conceitua “somente como um meio a defender, a proteger, ou mesmo conservar intacto, mas também como potencial de recursos que permite renovar as formas materiais e sociais de desenvolvimento”. Figura 1. Abrangência do conceito de ambiente. Fonte: SÁNCHEZ, 2006. De um modo objetivo, Sánchez (2006) afirma que o ambiente pode ser estudado de acordo com as relações de todos os objetos naturais e seus níveis de organização. Nesta concepção, nenhuma espécie é única ou mais importante que outra. Com uma definição mais subjetiva o meio ambiente pode ser encarado como a interação de indivíduos, grupos ou sociedades com a fauna, flora, água e ar. Sendo que cada organismo seleciona os elementos e o tipo de relação que lhe convêm. 21 Deve-se entender o ambiente como um todo, a fim de construir uma interação benéfica tanto para o indivíduo quanto para o meio. É necessário conhecer suas condições e limitações propiciando uma evolução da sociedade aliada a práticas ambientalmente corretas. 5.2 Poluição Poluição pode ser entendida como: uma conseqüência de atos humanos que corrompem o meio ambiente, podendo atingir a biota, o ar, o solo e a água. Pesquisadores trabalham há mais de quarenta anos com um breve e sintético conceito de poluição, que segundo Sánchez (2006, p.26) é “a introdução no meio ambiente de qualquer forma de matéria ou energia que possa afetar negativamente o homem ou outros organismos”. Poluir é basicamente sujar a natureza e, portanto esta prática deve ser rechaçada ou, pelo menos, reduzida. Na Conferência de Estocolmo em 1972, uma das primeiras realizadas em favorecimento do meio ambiente, muito se discutiu „o preço da poluição‟, considerando os fatos e desastres ecológicos que ocorreram até a década de 70. A Declaração de Estocolmo, assinada durante o evento, aconselhava que os governos se mobilizassem para conter as fontes de poluição. Só a partir dos anos 70, surgiram leis de vigor ambiental e entidades governamentais de fiscalização que regulamentasse atividades poluentes. No Brasil, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo estipularam leis próprias com este objetivo. Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou indiretamente: I – seja nociva ou ofensiva à saúde, à segurança e ao bem-estar das populações; II – crie condições inadequadas de uso do meio ambiente, para fins domésticos, agropecuários, industriais, públicos, comerciais, recreativos e estéticos; III – ocasione danos à fauna, à flora, ao equilíbrio ecológico e às propriedades; IV – não esteja em harmonia com os arredores naturais. (Decreto - lei Estadual do Rio de Janeiro nº 134/75, art.1º apud SÁNCHEZ 2006, p. 25) A presença, o lançamento ou a liberação, nas águas, no ar ou no solo, de toda e qualquer forma de energia ou matéria com intensidade, em quantidade, de concentração ou com características em desacordo com as 22 que foram estabelecidas em decorrência desta lei, ou que tornem ou possam tornar as águas, o ar ou o solo: I – impróprios nocivos ou ofensivos à saúde; II – inconvenientes ao bem estar público; III – danosos aos materiais, à fauna e à flora; IV – prejudiciais à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade. (Lei Estadual da São Paulo nº997/76 apud SÁNCHEZ 2006, P.25) Os elementos que causam poluição podem ser químicos e/ou físicos. Como exemplos têm-se o descarte inadequado de resíduos sólidos, emissão de gases e compostos químicos; e até ruídos, vibrações e radiações. Alguns padrões ambientais, que relacionam grandezas físico-químicas, permitem medir a poluição ambiental. Desse modo, permitiu-se estipular limites e responsabilidades do órgão poluidor, da vigilância e do próprio cidadão. Este método facilitou também estudos científicos que definem o que o ambiente pode suportar. Porém essas investigações não são conclusivas e estão à mercê de mudanças e atualizações. Figura 2. Poluição causada por resíduos sólidos, na China. Disponível em: http://ambienteasdireitas.blogsome.com/2007/05/11/. 5.3 Degradação Ambiental Sánchez (2006) descreve que assim como poluição, degradação ambiental é outro fenômeno de entendimento claramente negativo. Semelhante inclusive no seu 23 agente causador: o ser humano. Esclarecendo que desastres naturais não são capazes de degradar um ambiente, eles apenas o modificam. Degradação ambiental é entendida como a destruição da natureza. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente conceitua degradação ambiental como “alteração adversa das características de meio ambiente” (art. 3º inciso II). Essa definição é muito abrangente, incluindo saúde, segurança e bem estar da população, as atividades econômicas, religiosas e sociais, o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, os sólidos, gases e águas. De modo conciso, degradação ambiental é um impacto ambiental negativo. Existem diferentes graus para classificar a degradação ambiental, conforme Sánchez (2006). Pode ocorrer em ambientes que se recuperem rapidamente ou naqueles onde a perturbação é irreversível ou necessita de muitos anos para a recuperação, desde que a degradação seja interrompida. Se o ambiente pode ser degradado de diversas maneiras, a expressão área degradada sintetiza os resultados da degradação do solo, da vegetação e muita vezes das águas. (SÁNCHEZ 2006, p.27). A habilidade de um ambiente se restaurar de um desequilíbrio, causado tanto pelo homem como por uma calamidade natural, chama-se resiliência. Porém o termo causa controvérsia e alguns autores empregam definições distintas à ele. 5.4 Impacto Ambiental Nos estudos de Sánchez (2006) impacto ambiental é uma mudança no meio ambiente causada pela ação humana. A definição de impacto ambiental é mais ampla do que a de poluição e de degradação. Enquanto poluir e degradar nos remete a uma conotação de destruição, impactar o ambiente pode ser benéfico ou maléfico. Na verdade, a poluição e a degradação são formas negativas de impacto ambiental. Compreender que impactos ambientais podem ser positivos é necessário. A criação de um projeto encarregado do tratamento de esgoto de uma cidade pode ser um exemplo de impacto benéfico. Com isso, a emissão de águas poluídas nos sistemas aquáticos é eliminada ou reduzida, a renovação da qualidade da água promove a reabilitação do ambiente e ocorre uma melhoria sobre a saúde pública. 24 Assim como uma fábrica que opte utilizar matéria-prima renovável para confeccionar seus produtos, estará causando menos danos. A inserção de elementos exóticos em um hábitat também é considerada uma forma de impacto. Um exemplo disso é a introdução de espécies de Eucalyptus, um gênero de árvores originário do continente Australiano, utilizado principalmente na construção civil e indústria da celulose. Árvores deste gênero estão muito espalhadas por todo o país constituindo grandes áreas de monocultura ,inclusive em Santa Catarina, onde invade áreas de vegetação nativa da Mata Atlântica. Entretanto deve-se tomar cuidado na classificação do que seria o impacto ambiental. Os estudiosos regularmente o confundem através de um erro básico. O impacto é ocasionado por atividades humanas, que por sua vez são a sua causa. Não se deve equivocar causa com conseqüência. Por exemplo, a construção de uma ferrovia (causa) não é um impacto ambiental, porém ela irá causar impactos ambientais negativos (conseqüências). 5.5 Desenvolvimento Sustentável Para Scotto, Carvalho e Guimarães (2007) o termo desenvolvimento sustentável foi o sucessor do conceito de ecodesenvolvimento. Segundo os autores, nos anos 70, Maurice Strong e Ignacy Sachs apresentaram a idéia a fim de solucionar os debates da época. De um lado defendia-se o desenvolvimento ilimitável e, de outro lado, soavam alarmes preocupantes sobres os limites do planeta. O ecodesenvolvimento buscava uma alternativa que pudesse satisfazer essas duas correntes de pensamento, seguindo o princípio de igualdade social aliada à harmonia com a natureza. Segundo Sachs (1986 apud SCOTTO; CARVALHO E GUIMARÃES, 2007, p.25) o conceito de ecodesenvolvimento foi definido como: [...] um processo criativo de transformação do meio com a ajuda de técnicas ecologicamente prudentes, concebidas em função das potencialidades deste meio, impedindo o desperdício inconsiderado dos recursos, e cuidando para que estes sejam empregados na satisfação das necessidades de todos os membros da sociedade, dada a diversidade dos meios nturais e contextos culturais. 25 O ecodesenvolvimento para Sachs consistia em um desenvolvimento durável que promovesse questões ambientais, econômicas e sociais. Alguns anos mais tarde o termo ecodesenvolvimento foi compensado por desenvolvimento sustentável. Com o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente foi inserido nos problemas sociais e reconheceram-se as desigualdades entres países e o aumento da pobreza. Foi nos anos 80 que o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu oficialmente, através de um documento intitulado „Nosso futuro comum (Our common future)‟. Segundo Scotto, Carvalho e Guimarães (2007, p.8), este documento “foi resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), formada por representantes de governos, ONGs e da comunidade científica de vários países.” Esta comissão foi criada pela ONU em resolução aos pedidos da Conferência de Estocolmo, de 1972. E o significado decidido de desenvolvimento sustentável que o documento apresenta tornou-se popular nos anos 90. Para Kazazian (2005, p.26) o conceito consistia basicamente em “um crescimento para todos, assegurando ao mesmo tempo a preservação dos recursos para as futuras gerações.” Segundo Scotto, Carvalho e Guimarães, em 1992 aconteceu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), popularmente conhecida como a Rio-92. Nessa conferência foi promovido um debate conciliando movimentos sociais e ambientais, resultando na compreensão de que os problemas abordados deveriam ser pensados e solucionados juntos. Os anos passaram, as discussões continuaram e a aceitação dos inúmeros problemas socioambientais no planeta é unânime. Apesar de muito se falar em desenvolvimento sustentável, admite-se que o atual desenvolvimento é, na verdade insustentável. Porém as movimentações dos mais diversos gêneros de atores sociais trabalham para legitimar as propostas do desenvolvimento sustentável e, assim intervir na realidade para modificá-la. 5.6 Design 26 Denis (2000) afirma que estudos históricos envolvendo o design são relativamente muito recentes. Os primeiros registros datam em torno de 1920, mas diz-se que só atingiu veracidade acadêmica a partir dos anos 80. A origem da palavra design é incerta, sendo que de imediato diz-se que surgiu na língua inglesa significando simultaneamente plano, arranjo, estrutura, entre outros. Já no latim, é considerado um verbo que abrange os termos „designar e desenhar‟. Percebe-se que, do ponto de vista etimológico, o termo já contêm nas suas origens uma ambigüidade, uma tensão dinâmica, entre um aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir e outro concreto de registrar/configurar/formar. (DENIS 2000, p.16). Foi entre os séculos 18 e 19, na Europa, mais precisamente na Inglaterra, que se deu um dos acontecimentos mais marcantes da história mundial, mudando todo o modo de vida e hábitos dos seres humanos. Com a Revolução Industrial surgiram as fábricas, as máquinas, as locomotivas e os operários. Houve uma grande migração rural, pois a revolução gerou uma enorme necessidade de mão de obra nas manufaturas. A promessa de progresso e prosperidade se instala nos fervores das cidades e juntamente com a fumaça negra que saía das chaminés das indústrias, caracterizaram a época. Figura 3. Motor a vapor alimentado por carvão, que impulsionou a Revolução Industrial. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial. Segundo Denis (2000), os meios de produção foram enormemente aperfeiçoados e com esta nova ordem social, foi introduzida a técnica da divisão do trabalho, onde a fabricação do objeto, que antes era feita inteiramente pelo artesão, foi dividida entre vários indivíduos. A criação e execução dos artigos necessitava de 27 uma otimização de seus processos. Era preciso um rigor de projeto, fazendo com que surgissem novos profissionais especializados em projetar os produtos. Surgem então os primeiros designers. Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas. (DENIS 2000, p.28). Após a Primeira Guerra, na era modernista, Walter Gropius fundou umas das primeiras escolas de Design do mundo: a Bauhaus. A proposta era a reformulação do ensino artístico público e uma nova união entre design, arte e artesanato, onde foram criados produtos altamente funcionais. Uma das contribuições mais marcantes da escola, para Denis (2000, p.120) foi a idéia de “[...] que o design devesse ser pensado como uma atividade unificada e global, desdobrando-se em muitas facetas, mas atravessando ao mesmo tempo múltiplos aspectos da atividade humana.” Figura 4. Cadeira Wassily Esta cadeira foi projetada em 1925 pelo arquiteto e designer húngaro Marcel Breuer (1902-1981) para decorar a casa do pintor Wassily Kandinsky. Na época, ambos eram professores da Bauhaus. http://bravonline.abril.com.br/conteudo/bravo/materia_410734.shtml . Disponível em: 28 O mundo pós moderno fez nascer a sociedade na era do marketing, gerando um acelerado crescimento no setor de serviços. O rápido aumento da tecnologia de informação torna o conhecimento e a criatividade, matérias cruciais das economias mundiais. Estamos diante de uma manifestação da dimensão simbólica da arte contemporânea, quando as obras de arte se transformam em objeto de um discurso cultural. Esse discurso pode ir de uma exclamação qualquer de algum observador até uma tese das mais elaboradas. A distinção e semelhanças entre design, arte e artesanato é realmente uma grande preocupação para os criadores de conceitos. Na verdade eles têm muito em comum e, hoje em dia, quando o design já atingiu uma maturidade comercial e industrial, os profissionais estão reassumindo os valores do fazer manualmente. Para Burdek (2006) é nessa realidade que o design assume o caráter de uma arte volátil, vítima de constantes mudanças e sendo produzido com grande rapidez. Analisando a partir de uma distância histórica de alguns projetos de design, fica mais claro perceber suas identidades únicas, que marcaram uma época. Diz-se atualmente que o design tomou um aspecto cultural fundamental, agindo de maneira mundial, influenciando a arte mais do que ela o influencia. Está próximo o momento de se ter uma luz sobre a passagem da arte para o design e vice e versa. A separação entre a arte e o artesanato, assim como entre o design e a arte e artesanato, esteve definida claramente por mais de um século. Assim como o designer nos anos 80 se dirigiu à arte, muitos artistas há muito se dedicaram a retrabalhar objetos de uso. Especialmente móveis e objetos domésticos foram assunto preferido de reflexão e de produção artística. (BÜRDEK 2006, p.67). O design atualmente abrange muitas especialidades e de acordo com Charlotte e Peter Fiell (2000, apud FILHO, 2006, p.6), o termo pode ser compreendido como: “[...] a concepção e planejamento de todos os produtos, feitos pelo homem.” São realmente inúmeras suas áreas de atuação, que por sua vez se desdobram em mais especialidades. Porém a condição pós-moderna tem aproximado essas áreas, fazendo com que tenham significados muito próximos e, diante das profundas transformações adotadas pelas tecnologias computacionais, tornando a diferença menos relevante. Sendo parte de uma área projetual, a função do design refere-se não somente ao visual de um produto. O profissional deve agregar ao objeto caráter funcional, fazendo que possua um bom desempenho e maior durabilidade. Para 29 Filho (2006) as funções básicas podem então, serem divididas em três: prática, estética e simbólica. A função prática está ligada ao produto que vai atender às necessidades fisiológicas do usuário, como a facilidade de uso, conforto, segurança e eficácia. Possui estreita ligação com a base conceitual do produto. Sendo um fator psicológico a função estética tem como principal atributo a fruição da beleza e do design bem planejado do produto. Como afirma Gomes (2004, apud FILHO, 2006, p. 43) ela “[...] é subordinada a diversos aspectos socioculturais no que diz respeito, principalmente, ao repertório de conhecimento do usuário, de sua vivência e de sua experimentação estética.” A simbólica é umas das mais complexas, pois lida com o lado espiritual e psíquico do uso do objeto. Envolve valores da sociedade, como política e cultura, ligando-se a valores pessoais, como os sentimentos. Revela-se acima de tudo interligada aos elementos de estilo, tornando o produto desejável. Inevitavelmente, atinge o modo de ser e ver do usuário, como também o grupo social no qual ele está inserido. Existe variação, também, no parâmetro cultural de determinada época, pois conforme o período, as tendências efêmeras são substituídas e ultrapassadas. O designer enfrenta alguns desafios perante o mercado global, existe a ameaça do desemprego e o destino imprevisível da profissão. Porém o seu principal compromisso é com o ecodesign. Para Kazazian (2005) produzir com consciência ecológica os mais variados tipos de produtos, tornando-os duráveis e reutilizáveis após o uso, deve ser um dos objetivos cruciais de uma mobilização mundial. 5.7 Design de interiores Para Filho (2006) o design de interiores é a construção de um projeto em algum espaço interno habitável, podendo ser um local de trabalho, cultural, de lazer, entre outros. Deve-se sempre considerar o planejamento, a organização, a decoração e a composição do layout espacial de mobiliário, equipamentos, acessórios, objetos de arte etc. Durante a elaboração e execução de um projeto deve-se respeitar o gosto do cliente, cabendo ao designer conduzí-lo a boas escolhas dentro de suas preferências. Para atuar nessa área precisa-se de um apronfudamento em assuntos que vão desde a história da arte, ergonomia, psicologia ambiental, entre outros. 30 É um campo em constante crescimento, encontrando hoje várias revistas específicas sobre o assunto. Elas podem ser de alguma valia para pequenas dicas, porém é imprescendível ter amplos conhecimentos de cores, texturas, materiais, etc., para que o projeto seja executado dentro do temo escolhido, seja ela casual, contemporâneo, clean, futurista, ou até mesmo medieval. Na verdade, o design de ambientes, como já conceituado, enquadra-se predominantemente no conceito de design compositivo. O que significa que, qualquer que seja o tipo de planejamento, projeto ou de tratamento para a organização do interior de um ambiente, o designer vai trabalhar predominantemente com a escolha e a especificação de produtos – sejam eles funcionais, informacionais, de arte ou decorativos. (FILHO, 2006, p.33). Segundo Kazazian (2005), Willian Morris, poeta, romancista e editor inglês, avesso à Revolução Industrial e ao capitalismo, cria em 1861 o ateliê Morris. Foi como uma resposta à produção industrial, que ele considerava de caraterística impessoal, gerando uma perda de controle do criador sobre sua obra. Ele remetia isso principalmente aos produtos cotidianos, por isso focou-se na fabricação de decorações que iam desde pinturas até os „mínimos objetos suscetíveis de beleza artística‟. Promoveu um retorno à métodos artesanais que consistiam em reviver estampas, tecidos, papéis de parede, entre outros, com motivos florais. Por um momento a natureza volta a enfeitar os espaços. Embora no fim de sua vida William presencia a falência de seu ateliê, seu esforço de transformar o ambiente no qual estava inserido, unindo sem distinções artes menores e maiores, tratou-se do primeiro nascimento do design de interiores. 5.8 Ecodesign O conceito de ecodesign aparece definitivamente na década de 90, onde foram apresentadas questões sobre a compatibilidade ambiental e a gestão do design. O ecodesign é a aplicação dos conceitos do pensamento ecológico ao design de produtos, dentro da filosofia de preservação do meio ambiente e dos paradigmas de sustentabilidade e de atitudes politicamente corretas. Adota como filosofia básica projetual o conceito dos 3 Rs: Reduzir/Reutilizar/Reciclar.(FILHO 2006, p.24). 31 A preocupação com a depredação da natureza consolidou-se na Revolução Industrial, quando iniciou uma grande exploração inadequada dos recursos naturais e poluição desenfreada, resultado desse desenvolvimento. Estranhamente a ornamentação floral então muito utilizada na produção industrial pode ser vista como um símbolo da perda da relação física que até aí o homem mantivera com a natureza: das fachadas das casas aos objetos domésticos, tudo parece carregar o luto desse vínculo íntimo num horizonte invadido pelo carvão. (KAZAZIAN 2005, p.13). Conforme o retrospecto histórico de Kazazian (2005) após a Primeira Guerra Mundial a produção industrial ganha enormes proporções. O período de reconstrução, o surgimento de novos produtos, cria um quadro de oferta nunca visto antes. Essa superprodução desenfreada gerou mais produtos do que usuários. Como consequência, os preços caíram, a produção diminuiu drasticamente, fábricas fecharam e o desemprego aumentou. A queda dos lucros e a retração geral da produção industrial resultou na famosa Crise da Bolsa de 1929. Essa situação estendeu-se até o início da Segunda Guerra Mundial, onde as indústrias se redefinem visando as expectativas do mercado. A economia mundial se orienta para o consumo. O marketing é muito utilizado nessa época, como também o design, que desenvolveu-se nos Estados Unidos. Nessa época surge um questionamento influenciado pela bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, sobre as consequências do progresso. Ele perde sua inocência, revelando seu lado destruidor. Nesse período surge a Guerra Fria, e o mundo vive com medo de algum desentendimento entre nações que poderiam gerar novas repercussões para a humanidade. 32 Figura 5 Sobreviventes da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos sobre a cidade de Hiroshima. Disponível em: http://www.jornada.unam.mx/2005/08/05/029n1mun.php. Em 1949, Truman cria uma política de desenvolvimento social e econômico , tanto para barrar o comunismo quanto para estimular os países arrasados pela guerra. Assim intensifica-se ainda mais a industrialização. Ao longo de uns 30 anos após a Grande Guerra, o mundo ocidental presencia um progresso estrondoso. Surge então uma massa consumidora cada vez mais voraz e insaciável. Desejo de produtos, compras infindáveis, o consumidor tornou-se impaciente a espera da próxima novidade. Denis (2000) afirma que designers adotaram a política da obsolescência, ou seja, projetam produtos visando um tempo limite de funcionamento. Paralelo aos artigos que se tornam inutilizados, outros devem ser produzidos para substituí-los, criando assim uma taxa de crescimento de consumo. Essa alternativa foi adotada impulsionando a prosperidade das indústrias e empresas, apesar de os avanços tecnológicos da época permitirem a produção de produtos mais duráveis. Em meados de 1968, conforme Kazazian, surgem as primeiras reinvindicações de populações sensibilizadas com a crescente degradação ecológica em função do desenvolvimento. É nesse contexto que surgem publicações sobre o impacto da industrialização desenfreada e são criadas duas importantes ONGs ambientais: a Friends of the Earth e a Greenpeace. Também foi lançado um livro chamado, Limits of the Growth, que alertava sobre as consequências do estilo de vida dos países do Norte e a explosão demográfica que aconteceria nos países do Sul nos anos seguintes. 33 Segundo Denis neste mesmo momento o ICSID, (International Council of Societies of Industrial Design), aconselhou os profissionais de design a priorizar a qualidade de vida ao invés da quantidade de produção de artigos. O movimento ambientalista dos anos 60 esteve basicamente ligado à contracultura da década. Os alvitres de soluções giravam em torno de um modo de vida alternativo, que se isentava dos sistemas sociais e econômicos atuantes. Uma ideologia de design surgiu impulsionada por Victor Papanek, que pregava a fabricação caseira de produtos através de projetos com baixo custo, que iam desde cadeiras e mesas até rádios. Papanek e seus colaboradores conseguiram gerar várias propostas interessantes, incluindo projetos de televisores custando menos de US$10 por unidade na época, cujo propósito era a distribuição gratuita com fins educacionais em países do leste da África. Na sua visão, a solução de problemas ecológicos passava necessariamente pelo redimensionamento das relações de consumo, especialmente no sentido de uma opção individual por consumir menos e de modo mais consciente. (DENIS 2000, p. 218). Esse movimento contra as grandes fábricas, que nasceu em meio a tais aspirações ideológicas, teve pouca repercussão e não alcançou o objetivo esperado sobre a população. Embora esporadicamente um item de design alternativo alterasse os padrões de consumo, essas experiências causaram pouco impacto sobre a maioria dos consumidores. Segundo Kazazian, o esforço teve apenas como principal mérito implantar a dúvida na consciência do resto da sociedade. Os fartos anos que sucederam a Segunda Guerra, acabam com a primeira crise do petróleo, em 1973. Foi quando realmente se teve uma prova concreta de que os recursos naturais poderiam se esgotar. Isso então, só existia na teoria. Instala-se um certo sentimento de pânico e os movimentos ambientalistas encontram uma oportunidade para transmitir sua mensagem de alerta. Mas passado o susto inicial, os consumidores voltam ao consumismo tradicional, apenas com uma diferença com o preço de algumas matérias primas. É durante os anos 70 que o consumo humano de recursos naturais começa a ultrapassar as capacidades biológicas da Terra. E, se constatarmos que há uma precarização das condições de sobrevivência do mundo e uma fragilização dos meios naturais, entenderemos também que se trata de uma séria ameaça ao futuro da espécie humana. (KAZAZIAN 2005, p.23). 34 Em 1972, em Estocolmo, após algum tempo de estudos e busca de alternativas, se reúnem pela primeira vez políticos e cientistas para discutir sobre o meio ambiente humano. A Conferência de Estocolmo concluiu que aspectos sociais, políticos e econômicos eram as principais causas dos problemas ambientais do mundo. Após essa conferência nasce o Programa Das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Kazazian prossegue afirmando que aos poucos as indústrias se globalizaram, fragilizando ainda mais a situação ambiental, tornando-se uma problemática mundial nos anos 80. Acontecem uma sucessão de desastres ecológicos; descobre-se um buraco na camada de ozônio, o planeta entra num processo de aquecimento por causa do efeito estufa, chuvas ácidas degradam florestas, acumula-se gradativamente diversos resíduos, entre outros. Em 86 ocorreu o desastre de Chernobil, na Ucrânia, que chocou o mundo. Houve uma explosão de um reator em uma central nuclear. Matérias radioativas foram espalhadas pelo meio ambiente, provocando o falecimento de 31 pessoas. Cerca de 220 mil pessoas são evacuadas das áreas de contaminação. O número de mortes por câncer atribuído a esse acidente é avaliado em várias dezenas de milhares. A radiação se espalhava em uma nuvem invisível causando medo e terror na população. Os impactos sociais e políticos após o episódio foram imensos. Aliado aos efeitos de perestroika ocorre a queda da União Soviética. Após tantos acontecimentos é tomada verdadeiramente uma consciência ecológica. Nos países industrializados surgem uma demanda de produtos, embalagens, propagandas e estratégias de marketing que promovam a redução do impacto ambiental. Nasce um novo tipo de consumidor, o ecologicamente correto. Dos anos 80 até o iníco dos anos 90 o mercado verde evoluiu aceleradamente, criando novas oportunidades para designers. Criaram-se mecanismos de fiscalização e certificação para comprovar os produtos e empresas que estavam em conformidade com os padrões ambientais. Apesar desses produtos ecológicos apresentarem um desempenho ainda insuficiente, eles passavam a mensagem de que era preciso „limpar o planeta‟. A Organização das Nações Unidas publicou em 1987 um documento, fruto de uma reunião sobre meio ambiente ocorrida cinco anos antes, que se intitulava Nosso Futuro Comum. Como já citado, foi neste relatório que surgiu o conceito de 35 desenvolvimento sustentável. Pela primeira vez surge uma idéia realista e possível, que conciliava progresso humano e preservação ambiental. Várias escolas de pensamentos constatam que, para criar uma sociedade durável deveríamos nos aproximar de um ponto em que utilizássemos apenas 10% dos recursos que as sociedades industriais hoje consomem. Para realizar essa transformação, mudanças radicais são necessárias. (KAZAZIAN 2002, p.58). Conforme Denis é importante que o profissional preocupado com o ecodesign tenha um grande conhecimento relacionado à matérias primas e sistemas de produção. Uma das maiores causas dos problemas ambientais é consequência da retirada descontrolada de matéria prima da natureza, como também o acúmulo de resíduos não degradáveis descartados no meio ambiente. Para isso, pode-se apresentar soluções como reciclagem e reaproveitamento. Logo na fase inicial do projeto de um produto todo o seu ciclo de vida deve ser analisado. Nessa etapa algumas considerações são essenciais, tais como a escolha correta de materiais, os métodos de economia de energia durante o processo de fabricação, a eficiência e durabilidade do produto, além da possibilidade de uso após o seu descarte. Existem diversos bons exemplos de reaproveitamento de produtos duráveis e de embalagens para cumprir funções posteriores ao seu uso inicial, além das já tradicionais tecnologias de reciclagem de matérias primas como plásticos, metais, vidros e papel. (DENIS 2000, p. 219). O designer, então, precisa se esforçar em elaborar a melhor relação possível entre homem e o objeto, estendendo esse processo a um convívio harmônico entre ambos com o meio ambiente. Para acontecer uma mudança considerável na sociedade, deve-se criar produzindo o melhor resultado e degradando o mínimo possível. Assim, estaríamos perto de um sistema social ideal. No campo de objetos para casa os irmãos Campana, designers brasileiros, com reconhecimento internacional, produzem uma série de projetos de ecodesign. A originalidade de Humberto e Fernando é a característica principal de suas obras, que aliam design, arte e artesanato. Buscaram em materiais desvalorizados, pobres e partes oriundas de produtos a matéria prima para um trabalho criativo e engajado ecologicamente, marcado pela intensa experimentação. 36 Figura 6: Sofá Sushi produzido pelos irmãos Campana. Promove uma reutilização de restos de tecido e EVA. Fonte: http://www.brazilinteriordesign.com/2010/06/cadeira-mesa-sofa-sushi-irmaos-campana.html. Figura 7: Luminárias desenvolvidas pela Fontana Arte e projetadas pelos Irmãos Campana. Sua matéria prima é o bambu. Fonte: http://odesignare.blogspot.com/2010/01/luminaria-bambu.html. 37 6. ARTE ECOLÓGICA No segundo capítulo são abordados dois artistas que trabalham com a arte ecológica de maneiras diferentes. Porém antes de exibir os seus trabalhos se exemplifica arte, preocupando-se com a sua função social e desenvolve-se o conceito de ecologia, estendendo-se de questões ambientais até a um cruzamento do termo ao desenvolvimento sustentável. 6.1 Arte Para Coli (2003) não existe um significado exato de arte, o que causa muita turbulência e discordância entre aqueles que se arriscam a lhe dar um significado. As respostas comumente são repletas de controvérsias, contudo pode-se afirmar que arte é uma atividade meramente humana, produzida com o objetivo de despertar emoções naqueles que a apreciam. Outra questão que atualmente levanta dúvidas, segundo Coli (2003), é o que se pode ou não considerar arte. Existem obras que inquestionavelmente são arte, porém, um amontoado de fios de cabelo expostos no Santander como parte da coleção de Gilberto Chateaubriand, pode ser classificado como tal? Para resolver essa questão foram criados os chamados críticos de arte, que não se contentam em apenas identificar os objetos artísticos e insistem em classificar algumas obras como superiores e melhor realizadas do que outras. Dentre todas as categorias que podem ser avaliadas em uma obra, existe o atributo de obra prima, que é o posicionamento máximo da arte. Na história da arte do século XX, o esfacelamento das fronteiras da arte faz com que um objeto qualquer possa ser elevado ao status de obra de arte, se não pela intenção do artista, pelo menos por sua intervenção, por menor que seja. No caso da arte contemporânea, a obra deixa de sair pronta dos ateliês ou oficinas para se colocar em relação direta e integral com o público. (LEITE 2005, p.21). Arte pública, artesanato, arte como um discurso crítico, arte como instrumento de embelezamento, como profissão, como um modo de protesto, como um ponto de escape, arte como obra prima. Há quem não encontre em arte nenhum sentido e outros que necessitam dela para sobreviver. 38 Pode ser considerada uma forma de linguagem universal, que com toda a sua simbologia expressa os mais belos sentimentos da alma humana. Ela unifica as pessoas e possibilita uma comunicação entre elas. Vê-se aí uma função social que permite ao homem a vida em comunidade. Vigotski (1999) afirma que se seu efeito se processa em um indivíduo isolado, não quer dizer que sua essência seja individualista. O social pode existir onde há apenas um homem e suas emoções pessoais. Já nos primórdios da humanidade ela surgiu como inscrições e desenhos pictóricos nas paredes de pedra de cavernas, denominada arte rupestre. Através do tempo pode-se observar o seu amadurecimento e engajamento entre as épocas. Artistas produziram obras indescritíveis, extraordinárias de tanta beleza e perfeição. Artifícios que vão desde templos majestosos, às telas, objetos e composições. A sociedade promoveu muitas revoluções impulsionadas pela arte, como o Iluminismo, a Revolução Russa, a Semana de 22, entre outros. Os artistas sempre utilizaram instrumentos artísticos para colocar em evidência os seus pensamentos, o seu descontentamento com a realidade, numa forma de resignação. Arte, então, é expressão, sentimentos crus, emoções sinceras, é evidenciar o pensar, é uma busca interior através de suas várias vertentes. É um próprio mundo interior, o que torna viver suportável. Ela possibilita olhares diferenciados sobre a realidade e age como um importante vetor para o crescimento pessoal, educativo, ambiental e profissional do indivíduo. A arte também tem que ser expressiva para quem a vê. O artista não vai estar sempre presente ao lado de sua obra para justificar quais foram suas idéias quando a fez, ela portanto tem que ter vida própria e ser significativa para o espectador. Cauquelin (2005) aponta que a arte atual, ou pós-moderna, sofre uma mistura de tradicionalismo e novidade. Nela não existe preocupações com distinção de tendências ou com o pertencimento de determinada corrente ou movimento. A arte dos dias de hoje é isenta de rótulos e possibilita aos produtores de obras a vantajosa oportunidade de criar uma nova mensagem. Essa situação está inquietando críticos e historiadores de arte, que não sabem como captá-la nem a quem aplicá-la. 6.2 Ecologia 39 Segundo Ribeiro (2005) a palavra ecologia surgiu em meados do século XIX, designada um biólogo alemão Ernst Haeckel. Basicamente trata-se das interações entre os organismos com o ambiente em que vivem. Aborda adaptações com o meio, transformações e todas as outras estratégias necessárias para a sua sobrevivência. A ecologia estuda a interação entre milhões de espécies de animais e de plantas, a biodiversidade que ocupa a fina camada da biosfera na superfície do planeta e sua inserção no ambiente constituído pela atmosfera (ar, gases e oxigênio produzido pelos vegetais), a hidrosfera (água doce, água salgada, vapor d‟água, água de superfície ou subterrânea) e a litosfera (solos que se decompõem, recursos minerais). (RIBEIRO 2005, p.496). Todas essas relações são influenciadas pelas energias cósmicas, que advêm dos diversos astros e outros sistemas do Universo. O centro da Terra, com o seu interior repleto de magma derretido e em ebulição, também influi nos ecossistemas. As explicações acima se referem à ecologia ambiental, que é a mais estudada e conhecida. Mas ao passar dos anos o conceito de ecologia ultrapassou aos estudos biológicos, tornando-se significativo em diversos outros campos. Ribeiro (2005) ressalta que essas outras categorias se reúnem na definição de Ecologia Integral, abordando a ecologia ambiental, a ecologia do ser e a ecologia social. Relacionando essas ramificações com o desenvolvimento sustentável podemos encontrar um sentido de ecologia ideal. A ecologia do ser, ou pessoal, visa a saúde do corpo, o bom funcionamento do organismo, equilíbrio mental e espiritual, e um relacionamento responsável e consciente com a natureza. O homem deve aceitar o seu controle sobre o mundo e tomar conhecimento de sua culpa pelos diversos problemas sócio-ambientais enfrentados atualmente. Depende apenas dos homens compreender os limites e as possibilidades do planeta e do progresso, com o intuito de evitar a autodestruição. A categoria de ecologia social preocupa-se com a integração do ser humano com a sociedade. Engloba a cultura, a arte, os direitos humanos, a justiça social, a política, economia, o desenvolvimento industrial, entre outros. Essa ramificação afirma que nenhum dos mais graves problemas ambientais que se enfrenta hoje pode ser solucionado sem que ocorra profunda mudança na organização social. 40 A evolução e a absorção de conhecimento das populações permitiram o nascimento da cultura. Ela influencia o meio ambiente tanto quanto ele pode influenciá-la, considerando o ambiente um fator cultural, que abriga as mudanças, os valores, comportamentos e indagações dos seres humanos. Pode-se dizer que a ecologia cultural promove constantes alterações nos ambientes naturais, através principalmente, da ciência e tecnologia, que se propaga aceleradamente. O desenvolvimento tecnológico e das comunicações fazem interromper o grande desafio do século XXI: o encontro compulsório – cooperativo ou antagônico – entre diversas matrizes de civilizações. Se, no passado, estas puderam vivenciar lentamente os processos de diferenciação e evolução, hoje, a civilização ocidental industrial, hegemônica e dominante, espalha sua influência por todo o planeta, com efeitos degradadores que podem levar a um colapso, inclusive cultural, caso não exista a auto-reflexão e a inflexão desse curso da história. (RIBEIRO 2005, p.506). Uma ecologia que tem um íntimo e direto vínculo com o ecodesign seria a industrial. Ela busca uma produção responsável, que integra a prevenção da poluição, a reciclagem, a reutilização dos produtos e o uso controlado e eficiente dos recursos naturais. Defende um sistema de parques eco-industriais, onde os restos de uma indústria serviriam como matéria-prima para outra. Também fazem parte desse contexto a ecoconcepção do ciclo de vida do produto, a segurança dos funcionários e usuários, a adoção de tecnologias limpas e um trabalho de qualidade. A nova ecoconcepção do ciclo de vida, segundo o Manual Promise do Pnuma (1996 apud KAZAZIAN, 2005), consiste na escolha de materiais de impacto menor, redução de massa e do volume do produto, fabricação limpa, otimização dos sistemas de embalagem e distribuição, redução dos impactos durante a utilização, otimização da duração de vida, otimização do fim de vida, valorização e um novo conceito e nova resposta às expectativas dos usuários. 6.3 Arte Ecológica O discurso ecológico expande-se gradativamente e em alta velocidade. Esse apelo ambiental já alcançou diversos segmentos e como não poderia ser diferente, englobou a arte. Nada mais propício, justamente pela arte ser um dos maiores instrumentos transformadores de consciência, permitindo uma visão clara e realista do mundo. É a linguagem da emoção que está contribuindo para a ruptura da 41 ignorância ambiental, e ajudando para que na atual sociedade mercadológica e capitalista ocorram as mudanças necessárias. Como exemplo desse trabalho pode-se citar o trabalho de Anna Garforth. Na sua série intitulada “Mossenger”, onde utiliza a técnica de grafite, substitui a tinta pelo musgo. Ele é uma solução ambiental correta para as tintas de spray. Resulta-se um trabalho criativo e de caráter sustentável. Figura 8. Anna Garfoth trabalham em um dos seus garfites ecologicamente corretos. Fonte: http://www.energiaeficiente.com.br/tag/artistas/ Outro percussor na arte ecológica é Frans Krajcberg. Seus trabalhos funcionam como uma forma de denúncia. Ele aponta os diversos crimes ambientais cometidos pelas pessoas com a intenção de impactar e conscientizar a sociedade do desenvolvimento ecologicamente destruidor em que se vive. Utiliza troncos de árvores e alguns pigmentos retirados de áreas queimadas ilegalmente em florestas. Sua principal preocupação acerca a floresta amazônica. Segundo o blog Pensando Verde, Krajcberg não considera arte os seus trabalhos, mas uma manifestação “de revolta, meu grito contra a barbárie que o homem pratica”. 42 Figura 9. Obra de Frans Krajcberg. Fonte: http://pensandoverde.blogtv.uol.com.br/2008/11/03/krajcberg-arte-ecologica-no-mamsp Figura 10. Obra de Frans Krajcberg. http://pensandoverde.blogtv.uol.com.br/2008/11/03/krajcberg-arte-ecologica-no-mamsp Fonte: 43 7. ARTIFÍCIOS DO ECODESIGN A seguir encontram-se alguns processos ou meios que o projeto ecologicamente correto pode ou deve utilizar. É importante esclarecer que a escolha de um artifício não exclui necessariamente a utilização de outro. 7.1 Matérias primas e energia A elaboração de um produto é possível apenas na presença de dois fatores, as matérias primas e a energia. As matérias primas fornecem a massa para a possibilidade de forma do objeto, e a energia consiste no fenômeno que gera a força de transformação dessa matéria. Matérias-primas Para Kazazian (2005) as matérias-primas conhecidas podem ser divididas em duas categorias: as renováveis e as não renováveis. As do primeiro tipo são escolhas ideais para um projeto ecologicamente correto. Elas sãoproduzidas pela natureza e após a sua extração, modificadas pela ação humana. Sua renovação leva um período de tempo menor ou igual ao de uma vida humana. Por isso sua retirada deve ser controlada e estudada, para que possa haver uma recuperação segura. Trata-se de materiais como a madeira, as fibras naturais, o algodão, a lã, entre outros. Podendo ter origem animal ou vegetal. Entretanto as matérias-primas não renováveis encontram-se de maneira limitada no meio ambiente. A sua renovação requer um tempo consideravelmente maior que a da vida humana, podendo levar milhões de anos para se reconstituir. Essas matérias estão sendo utilizadas de maneira intensiva, sendo que as suas reservas têm previsões de esgotamento. Pode-se citar como exemplo o petróleo, o carvão e o ferro. Energia O uso de energia mundial aumenta constantemente, conforme Kazazian (2005), e em menos de trinta anos o consumo cresceu em torno de 70%. De acordo 44 com os dados do World Energy Outlook, até 2030 esse crescimento deveria continuar ao equivalente de 1,7% ao ano, resultando num consumo aproximadamente dois terços maiores que o atual. Kazazian afirma que se o acesso à energia é uma das condições do desenvolvimento econômico e social o consumo energético hoje é sinônimo de poluição e aquecimento climático. Os efeitos da energia sobre a natureza estão relacionados tanto com a quantidade energética utilizada quanto pela fonte na qual a energia é gerada. As energias fósseis, como o petróleo, carvão e gás, representam quase a totalidade de consumo mundial. Isso implica no esgotamento de suas reservas, além de que a produção de energia a partir desses combustíveis é extremamente prejudicial ao meio ambiente. A sua conseqüência é a emissão de gases na atmosfera, aumentado o efeito estufa, responsável pelo aquecimento global. O aquecimento global é um dos maiores problemas ambientais enfrentados atualmente. Ele está gradativamente aumentando a temperatura do planeta aumenta, e com isso está causando diversas alterações como o derretimento das geleiras, a erosão do solo, inundações, tempestades, extinção de espécies da biota, além dos riscos à saúde dos seres humanos. Desde a Reunião da Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, negociações internacionais ocorreram em prol da redução das emissões de gás de efeito estufa. Durante a Conferência de Quioto de dezembro de 1997, os países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões até 2010. (KAZAZIAN 2005, p.98). Existem os que preferem a energia nuclear em relação às energias fósseis, classificando-a como uma energia mais limpa. Realmente suas emissões gasosas que influenciam o efeito estufa e os seus impactos no meio ambiente são menores. Porém existe o risco de acidentes industriais envolvendo o urânio e o rutênio, que podem ocorrer num nível catastrófico. Como exemplo tem-se o grave incidente de Chernobil, em 1986. Além disso, as soluções encontradas para os resíduos radioativos das indústrias nucleares possuem um custo muito elevado. Contudo, muitas opções de produção energética provocam danos menores ao meio ambiente, utilizando fontes de energias renováveis. São representadas pelo sol, rios, marés, vento, vegetais, e se forem bem utilizadas e manejadas, constituem um recurso inesgotável. Embora ainda existam alguns empecilhos como: o custo dessa tecnologia, o rendimento de energia inferior, o incômodo aos ecossistemas, 45 entre outros. Os países ocidentais estão cada vez mais interessados nessas fontes (embora haja também estratégias políticas) e esse tipo de produção energética possui a maior capacidade de atingir altos níveis de crescimento nos próximos anos. 7.2 Design para o desenvolvimento sustentável (DfX) Conforme descrito anteriormente, foi a partir da década de 60 que iniciam as preocupações relativas à degradação ambiental e segundo Nascimento e Venzke (2006) na década de 90 o design evolui em termos de perspectiva e abrangência. Surgem novas concepções de projetos, intituladas DfX, onde o X estabelece o objetivo desse projeto. Com o intuito de incluir questões ambientais aos projetos cria-se o termo DfE, ou, projeto para o meio ambiente. O conceito DfE (projeto para meio ambiente), criado a partir de esforços das indústrias eletrônicas dos Estados Unidos , que buscavam uma forma de produção que causasse o mínimo de impacto adverso ao meio ambiente. Assim, a Associação Americana de Eletrônica (American Electronics Association) formou uma força-tarefa para o desenvolvimento de projetos com preocupação ambiental e elaboração de uma base conceitual que beneficiasse primeiramente os membros da associação; a partir de então, o nível de interesse pelo assunto tem crescido rapidamente em outros setores. (ALCIR VILELA JÚNIOR(ORG), JACQUES DEMAJOROVIC(ORG) 2006, p.287) Segundo Annes (2005) o projeto de design para o Meio Ambiente (ecodesign), DfE, possui algumas variáveis como o design para Manufatura (DfM), design para Montagem (DfA), design para Desmontagem e Reciclabilidade (DfD e DfR) e design para Manutenção (DfS) , design para qualidade (DfQ) e design para ciclo de vida (DfLC). DfM – O design para manufatura consiste em compreender todo o ciclo de vida de um produto e seus impactos negativos sobre o meio ambiente. É preciso ter conhecimento de materiais e processos apropriados, assim como, projetos padrões com sistemas facilitados de engates. DfA – É o projeto direcionado à simplificar os métodos de montagem do produto. Desse modo o design está visando economizar despesas e tempo, como também, aumentar qualidade do produto. Para Annes (2005, p.28) “existem três tipos básicos de montagem: manual, semi-automático e de montagem programável”. 46 DfD e DfR – Consiste na criação de um projeto que facilitará o desmonte do produto, auxiliando também a sua reciclagem. Assim o trabalho de retirar componentes recicláveis do objeto será otimizado, como também a simplificação de manuseio e redução nas variações do produto. DfS – O produto deve ser planejado visando um tempo de vida útil prolongado, de fácil conserto e com estilo clássico para evitar ser considerado ultrapassado. Ele deve diminuir a procura de substituição do produto. Desse modo haverá uma contradição do ponto de vista de lucros empresariais, mas irá favorecer o meio ambiente e o sistema de serviços para manutenção, aumentando o seu valor agregado. DfQ – Os objetivos do design para a qualidade são: projetar o produto atendendo às exigências do consumidor, projetar o produto contendo ou minimizando os efeitos negativos da sua produção no meio ambiente, garantir credibilidade ao produto, bom desempenho, utilizar tecnologias para superar as expectativas do consumidor e oferecer valor acessível. DfLC – O design para o ciclo de vida é um conjunto de fatores que vão desde a pesquisa ao mercado, desenvolvimento do projeto, manufatura, qualidade, distribuição e disposição final. Sua definição desenvolvida pela Society of Environmental Toxicology and Chemistry – SETC (1991 apud ANNES, 2005, p.35) é “um processo objetivo de avaliar a carga ambiental associada a um produto ou atividade identificando e quantificando energia e materiais usados e rejeitos deixados no meio ambiente.” 7.3 Controle da Poluição Esse método preocupa-se com o controle da poluição durante o processo produtivo. Barbieri (2006, p. 104) destaca que [...] em geral, o controle da poluição tem por objetivo atender às exigências estabelecidas nos instrumentos de comando e controle às quais a empresa está sujeita e às pressões da comunidade. 47 Segundo Barbieri (2006), existem dois tipos de tecnologias a fim de controlar a poluição e que procuram não modificar ou danificar o produto final. O primeiro tipo ocupa-se de solucionar um problema ambiental que já ocorreu, atuando no meio ambiente. Tentar conter um vazamento de óleo no oceano é um exemplo dessa tecnologia de „remediação‟. A outra categoria, denominadas „tecnologias de controle no final do processo‟, ou end-of-pipe, tentam conter e tratar o restante de poluição, conseqüência de algum processo produtivo, antes que ela seja lançada ou descartada na natureza. Para Barbieri (2006, p.104) “[...] isso é feito adicionando novos equipamentos e instalações nos pontos de descarga dos poluentes”. Como exemplo dessa estrutura pode-se citar as estações de tratamento de efluentes, filtros, incineradores, entre outros. Muitas vezes as soluções de end-of-pipe tornam-se muito complexas, envolvendo até mais de um tipo de processo. Após incinerar resíduos líquidos, transformando o material em lodo, é necessário ainda converter esse lodo em material seco. E nem sempre essas estratégias tecnológicas conseguem obter sucesso definitivo, ainda podendo restar poluentes. Outra restrição seria o custo excessivo que algumas dessas tecnologias podem adicionar aos gastos da empresa. Para Barbieri (2006, p.105) [...] desde que exista regulamentação governamental eficaz, essas tecnologias agregam custos adicionais durante toda a vida útil da planta industrial em decorrência das operações necessárias ao controle da poluição e das providências para solucionar os problemas gerados pelos poluentes capturados. Mas como mostrado anteriormente, o poluente ainda pode permanecer. Se estes resíduos apresentarem substâncias tóxicas, o destino final necessita de licença do órgão ambiental competente, e a entidade fica sujeita a supervisões periódicas. Do ponto de vista empresarial a alternativa de controlar a poluição é pouco interessante. Aumenta significativamente o custo da produção, sendo que pode nem eliminar de fato um resíduo. E se os custos forem repassados ao valor total do produto, isso não será válido também para o consumidor. 48 Pensando no lado ambiental, algumas dessas alternativas são extremamente importantes, pois sem elas a humanidade já teria se extinguido. Considerando que se toda a poluição e resíduos gerados durante as fabricações fossem lançados ao meio ambiente sem nenhum tratamento, a capacidade de absorção do planeta já teria sido extrapolada há muito tempo. Embora a estratégia ainda seja insatisfatória, pois se preocupa apenas com a poluição, que é somente um detalhe do problema. 7.4 Prevenção da Poluição (P2) Conforme Gasi e Ferreira (2006) a Agência Ambiental Americana (United States Enrinmental Protection Agency – Usepa) reavaliou os esforços dos métodos de controle de poluição e, considerando os altos custos dos sistemas fim-de-tubo e as pressões populares, criou o conceito de prevenção da poluição. A P2 sugere que a solução para o problema se encontre antes do seu concebimento, ou seja, na sua fase de projeto. Em 1990 é publicada a Lei de Prevenção à Poluição e cria-se uma política de controle dos resíduos. De acordo com o Pollution Prevention Act of de 1990, a prevenção e o controle ambiental devem ser exercidos de acordo com a seguinte ordem de preferência: a poluição deve ser prevenida na fonte; a poluição que não puder ser prevenida na fonte deve ter seus respectivos rejeitos reciclados de forma ambientalmente segura; e a disposição ou outra forma de liberação de poluentes para o meio ambiente deve ser empregada somente em último recurso e deve ser conduzida de forma ambientalmente segura. (GASI; FERREIRA, 2006, p.50) Barbieri (2006) afirma que a prevenção da poluição consiste em minimizar ou conter os componentes poluidores antes que sejam produzidos e arremessados ao meio ambiente. Porém, ainda restarão alguns rejeitos por não existir nenhum processo 100% eficiente. Estas sobras deverão enfrentar um tratamento para serem inseridas novamente na produção. Essa prevenção é baseada em dois fatores, o uso sustentável dos recursos e a prevenção da poluição. Para obter o uso sustentável dos recursos, algumas táticas são citadas por Barbieri (2006), tais como a redução de poluição na fonte, a reutilização, reciclagem e recuperação energética. 49 Redução de poluição: consiste na primeira alternativa aplicada. Para isso acontecer as dimensões (volume e peso) do produto devem ser reduzidas e se necessário promover modificações em algumas de suas características. Barbieri (2006, p. 107) afirma que para isso seria preciso “reprojetar os produtos adequando dimensões e características físicoquímicas com o intuito de produzir o mínimo de resíduos e reduzir seu grau de periculosidade”. Portanto, algumas vezes, o projeto terá que ser atualizado substituindo materiais, modificando máquinas e equipamentos, revendo os estoques e reutilizando ou reciclando resíduos internamente. Reutilização: reusar internamente consiste em reaproveitar sobras de matérias-primas, peças com defeitos, embalagens e até energia e água para contribuir no processo de produção. Ainda existe a possibilidade de reuso externo, onde resíduos de uma fabricação são aproveitados para outras. Reciclagem: a reciclagem interna promove um tratamento dos resíduos para serem novamente usados na própria „fonte produtora‟. A reciclagem externa tem o mesmo princípio da reutilização externa, processa os resíduos para eles serem utilizados em outra unidade produtiva. Porém o procedimento da reciclagem requer o uso de energia e de novos materiais e podem causar tantos danos quanto a produção de um novo produto. Mas se, ainda assim, for verificada uma vantagem em reciclar externamente, os resíduos devem ser estocados até completarem um número satisfatório para seu transporte até o destino do reciclador. Recuperação energética: nem todos os resíduos poderão ser reutilizados e/ou reciclados. Quando isso acontece, ainda existe uma alternativa: a recuperação energética. Ela consiste no aproveitamento de energia calorífica de elementos como: papéis, plásticos inutilizáveis e contaminados, e material orgânico. Com esses métodos espera-se obter o mínimo possível de resíduos restantes. Além do uso consciente ainda existe a prática de prevenir a poluição. 50 Esse fator, embora não exclua a técnica de controle da poluição, facilita o seu procedimento. Barbieri pontua que podem ser adotadas algumas práticas fáceis e que apresentam um baixo custo, como a organização do local de trabalho (preservando sua limpeza e arrumação), redesenho dos produtos, manutenção preventiva, controle dos estoques, entre outros fatores. 7.5 Produção Mais Limpa (P+L) Para Gasi e Ferreira (2006) produção mais limpa é um termo desenvolvido pela PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e se caracteriza pelo seu enfoque de prevenção. Também conhecido por P+L, esse instrumento considera resíduos como produtos de valor econômico negativo. Segundo Barbieri (2006, p.120) em 1990, num seminário promovido pela Pnuma, a Produção Mais Limpa foi definida como: [...] uma abordagem de proteção ambiental ampla que considera todas as fases do processo de manufatura ou ciclo de vida do produto, com o objetivo de prevenir e minimizar os riscos pra os seres humanos e o ambiente a curto e a longo prazo. Esse conceito promove ações para reduzir o consumo de energia e exploração de matéria prima, como também, a emissão e o descarte de poluentes. Deve ser compreendido como uma estratégia preventiva aplicada em processos produtivos, produtos e serviços. Gasi e Ferreira (2005) afirmam que a P+L se torna um artifício mais eficiente e abrangente que a P2, pois se preocupa com os impactos ambientais durante todo o ciclo de vida dos produtos, incluindo o pós descarte. Engloba inclusive a redução de toxicidade dos produtos a fim de melhorias na saúde dos trabalhadores. 7.6 Análise do Ciclo de Vida (ACV) O ciclo de vida de um produto pode ser entendido, segundo Kazazian (2005) como uma série de fatores precisos para que esse produto exerça seu objetivo e estende-se até após sua vida útil. No geral ele possui cinco etapas: a extração de recursos naturais do meio ambiente, a transformação dessa matéria durante o 51 processo produtivo, a sua utilização, seu transporte e distribuição, e sua disposição final. O transporte é incluído por também afetar o meio ambiente. Figura 11 Ilustração representando o ciclo de vida de um produto. Fonte: KAZAZIAN, 2005 Levantamento Histórico Silva e Kulay (2006) afirmam que após o concebimento do conceito, criou-se uma técnica capaz de avaliar os aspectos ambientais dos produtos, denominada: a avaliação do ciclo de vida. Ela é feita a partir de estudos sobre o produto, identificando as ações humanas durante todo o ciclo de vida e as possíveis degradações ambientais que poderão ser geradas a partir dessas atividades humanas. O primeiro exemplo de estudos sobre os impactos de um produto foi realizado na metade dos anos 60, pelo Midwest Reserch Institute, a pedidos das empresas da Coca-Cola. A companhia estava preocupada com as conseqüências de suas embalagens sobre o meio ambiente. O projeto foi intitulado Environmental Profile Analysis (Repa) e uma das mudanças adotadas foi a substituição de 52 embalagens de vidro por garrafas de plástico. Atualmente os resíduos plásticos, compostos em maior número por garrafas e sacolas plásticas, são classificados como um dos maiores causadores de lixo no âmbito de problema ambiental. Podese encontrar uma nova demanda de garrafas de vidro no mercado. Algum tempo depois, esses estudos, os Repas, ganharam um embasamento teórico e foram de grande importância durante a primeira crise do petróleo. Foram avaliadas as condições de fornecimento energético do planeta, bem como alternativas paralelas de energia. Mas ainda faltava um sistema de técnicas confiáveis e, juntamente com o alto custo que esses estudos agregavam, a avaliação do ciclo de vida foi abandonada temporariamente. Centros de pesquisas comprometeram-se em aprimorar essa avaliação e em meados dos anos 80, surge uma metodologia do ACV. Embora atualmente continuem os estudos para o melhoramento de alguns componentes, fala-se tanto em sustentabilidade que o interesse pela avaliação cresce continuamente. A Society of Environmental Toxicology and Chemistry (Setac) é uma das instituições que se ocupam em aperfeiçoar a metodologia da análise do ciclo de vida. Em 2002 consolidou-se uma parceria entre a Setac e o Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) que fizeram nascer a Life Cycle Initiative (LCI). Segundo Silva e Kulay (2006, p. 319) a LCI procura tratar da avaliação do ciclo de vida através de três partes distintas, a primeira seria dedicada “[...] ao desenvolvimento de metodologia de elaboração de inventários ambientais”; a segunda “[...] trata da consolidação da etapa de avaliação de impactos nos estudos de AVC”; e a terceira busca “[...] estimular a agregação de uma perspectiva de ciclo de vida às ações inerentes à gestão empresarial com o objetivo de obter o aumento de eficiência ambiental.” No Brasil o estudo pioneiro em ACV foi executado no Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em 1999 e analisou os diferentes materiais utilizados na fabricação de embalagens de alimentos. Em 2002, com a intenção de catalogar os estudos de ACV e unificar os seus interessados, foi inaugurada a Associação Brasileira do Ciclo de Vida (ABCV). Aplicações 53 As aplicações da ACV podem ser divididas em duas correntes principais, conforme Silva e Kulay (2006). A primeira consiste em comparar no mercado produtos que desempenham a mesma função. Isto ocorre através da elaboração de rótulos ambientais e selos verdes, salientando a superioridade ambiental de certos produtos sobre os concorrentes. A outra vertente trata da melhoria dos produtos, no caráter ambiental. Pode influir na concepção de novos objetos ou na otimização dos já existentes. Nessa aplicação a ACV se presta à seleção de opções de projeto, em particular no que se refere à busca de novos materiais, formas de energia alternativas e implementação de melhorias de processo visando à minimização de perdas e à concepção de produtos menos agressivos ao meio ambiente. (SILVA; KULAY, 2006, p.322) Metodologia A ACV é uma tecnologia relativamente recente e por isso não existe uma metodologia mundialmente instituída para sua execução. De modo simplório podese dizer que a análise do ciclo de vida consiste em investigar as saídas e entradas de energia e matéria do meio ambiente para a fabricação do produto, além de identificar os impactos causados por essa movimentação. Figura 12. Ilustração demonstrando as etapas da Análise do Ciclo de Vida e as suas aplicações. Disponível em: http://www.ciclodevida.ufsc.br/acv/Main.php?do=adminAction&action=exibirSubMenu&idSubM enu=5 Silva e Kulay (2006) afirmam que a primeira etapa da análise, baseando-se nas normas da ABNT NBR ISO 14040, é definir o motivo principal que permitirá os 54 estudos seguintes e trata-se da definição do objetivo e do escopo. Para identificar as entradas e saídas durante a trajetória de um produto deve-se estabelecer o sistema de produto, com todos os subsistemas incluídos. Por exemplo, se for considerado o sistema do papel, terá também que levar em conta a sua matéria prima: celulose e todos os subsistemas de que ela faz parte. Desse modo deve-se integrar o subsistema da madeira e da soda, matérias-primas do papel, e ainda preocupar-se com os requisitos básicos dessas matérias: fertilizantes e defensivos. Em seguida, precisa-se incluir a extração do petróleo, utilizado na fabricação destes componentes químicos. Após toda essa avaliação é necessário incluir os subsistemas dos materiais suportes desse produto, como por exemplo, as embalagens. Obviamente os gastos energéticos também são avaliados, assim como, os métodos utilizados para toda essa análise. Tal avaliação permite identificar se equipamentos e intervenções ao meio ambiente podem ser nocivos. Deve-se estabelecer onde iniciar e onde parar os estudos, como também quais os subsistemas que deverão ser incluídos. Posteriormente deve-se elaborar um modelo reduzido de todos esses sistemas como forma de representação. Para a elaboração do modelo parte-se de uma descrição que inclui todos os subsistemas constituintes do ciclo de vida do produto e, em seguida, procede-se à exclusão de subsistemas, seguindo critérios bem-definidos, os quais devem ser explicitados no relatório final da ACV para garantir a transparência do estudo. (SILVA; KULAY 2006, p.322) Logo, é preciso produzir uma análise de inventário, a segunda etapa do processo, onde serão coletados alguns dados. As informações ficarão reunidas numa tabela, indicando o fluxograma, entradas e saídas de matéria e energia, durante o ciclo do produto. Essas matérias e energias recebem o nome técnico de aspecto ambiental. Avaliações mais simples podem ser realizadas apenas com os dados obtidos na fase do inventário. Entretanto quando forem detectadas grandes diferenças nos parâmetros de impacto ou quando houver necessidade de relacionar os dados do inventário aos problemas ambientais, deve-se continuar com o terceiro passo da metodologia. 55 A partir da tabela do inventário segue-se a avaliação de impactos do ciclo de vida (AICV). Essa etapa possuirá a fase de seleção e definição de categorias de impacto, as fases de classificação, de caracterização e de normalização. Para definir as categorias de impacto é necessário executar um estudo dos potenciais impactos ambientais provocados pelos aspectos da legislação ambiental. As categorias mais utilizadas, segundo Silva e Kulay (2006) são: Consumo de recursos naturais – matéria e energia, renovável ou não renovável; Aquecimento global; Redução da camada de ozônio- provocada por alguns gases como halocarbonos; Acidificação – provocada por gases ácidos como o óxido de enxofre e de nitrogênio; Eutrofização (ou nutrificação) – acúmulo dos nutrientes de nitrogênio e fósforo no meio ambiente; Formação fotoquímica de ozônio – formação de ozônio em camadas abaixo da atmosfera devido a reações entre óxido de hidrogênio e alguns hidrocarbonetos, em presença de radiação ultravioleta solar; Toxicidade – resultante de resíduos tóxicos eliminados no meio ambiente. Terá que ser relacionado os aspectos ambientais aos seus devidos efeitos ambientais, as categorias de impacto. Esses dados ficarão contidos numa tabela que irá demonstrar essa ligação, e será denominada de classificação de aspectos ambientais nas categorias de impacto. Após essa fase ocorrerá a caracterização, onde serão quantificados os efeitos ambientais. Como pode haver mais de um aspecto ambiental contribuindo para o mesmo efeito, devem-se converter os valores dos aspectos ambientais para a mesma base. Isso será feito através dos fatores de caracterização. Com esses fatores determinados é possível calcular a contribuição de todos os aspectos ambientais para cada categoria de impacto, multiplicando o valor do aspecto pelo fator de caracterização. Desse modo todas as categorias estarão apresentadas com a mesma unidade e a sua soma apontará o indicador de 56 categoria de impacto. O conjunto desses indicadores é chamado de perfil ambiental do produto. Uma pessoa sem conhecimento na área poderá se confundir olhando a tabela de indicadores de categorias de impacto. Os resultados do perfil ambiental poderão indicar valores de impactos mais elevados que outros, mas isso não quer dizer que esses impactos sejam os que mais afetam o ambiente durante o ciclo de vida do produto. Isso acontece porque os indicadores são medidos em unidades diferentes e para possibilitar a verificação deve-se ser realizada a normalização. Para viabilizar a comparação entre os valores dos indicadores, pode ser feita a sua normalização, dividindo-se os valores indicadores por um valor de referência, que pode ser, por exemplo, o valor das emissões totais para uma dada área, que por sua vez pode ser global, regional ou local. (SILVA; KULAY, 2006, p.333) Conforme Cheheb (2002) após concluir essas etapas deve ser realizada a interpretação de todo a processo. Deve-se identificar e analisar os resultados descobertos durante o inventário e a avaliação segundo o seu objetivo. Funciona como uma conclusão que fornecerá algumas recomendações aos designers e fabricantes do produto. 7.7 Selos Verdes A era contemporânea é caracterizada pela quantidade exorbitante de informações que chegam até a população constantemente, tornando as pessoas mais conscientes dos problemas ambientais. Como conseqüência surge o consumidor ecologicamente exigente, procurando cada vez mais utilizar produtos ecológicos. Um aspecto que comprova esse novo tipo de consumidor é o hábito de priorizar os produtos pelo caráter ambiental. Conforme Barbieri (2006), desde o final do século XX surgiram rótulos conhecidos como selos verdes, que comprovam o comprometimento sustentável do produto, que se tornam um aspecto decisivo na escolha do cliente responsável. Os selos verdes podem ser considerados solicitações ecológicas estampadas no produto. Eles podem vir em forma de símbolos estampados na embalagem ou no próprio produto, textos em bulas ou manuais, boletim técnico, em 57 anúncios ou outros meios de comunicação e expressão. O objetivo é atrair usuários que se importam com o meio ambiente e tornar perceptível a verdadeira realidade global. Sempre salientando as qualidades ecológicas do objeto e podendo até se tornar uma estratégia de marketing. O rótulo ambiental mais antigo foi criado na Alemanha, em 1977. Era conhecido como Anjo Azul (Umweltzeichen) e foi um projeto realizado pelo órgão ambiental federal da Alemanha, em conjunto com outras associações. Ele diferenciava produtos que causavam menores impactos que outros semelhantes. Figura 13. O primeiro selo verde, Anjo Azul, criado na Alemanha em 1977. Disponível em: http://www.earthpledge.org/images/cert_logos/Blue-Angel.jpg . O processo de verificação do produto passa por várias etapas. Primeiramente é feita uma avaliação de um comitê de rotulagem independente (Environmental Label Jury). Para Barbieri esse comitê é constituído por membros do setor produtivo, de sindicatos, instituições de ensino e pesquisa, entidades protetoras do meio ambiente e do consumidor, imprensa, igrejas e outros. Eles definirão os critérios abordados como exigências. Depois de aprovado pelo comitê, o produto será analisado pelo Instituto Alemão para Qualidade Assegurada e Certificação, seguindo as normas do comitê de rotulagem. Se o produto ou empresa for aprovado ele terá a permissão de utilizar o símbolo Anjo Azul por dois anos. Para obter direitos permanentes existe uma taxa tributária e o dinheiro é encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha. São aproximadamente 4.000 produtos e serviços de 800 empresas que já conquistaram o privilégio de utilizar o selo Anjo Azul. Com o passar dos anos outros selos verdes surgiram em diversos países, desenvolvidos por governos ou outras 58 entidades. Temos exemplos do Cisne Branco nos países escandinavos ou do Environnement Choice no Canadá. Existem os especificamente criados para fins de economia de energia, como o selo da Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), instituído pelo governo brasileiro. Ele vem estampado em produtos elétricos com o intuito de destacar os que manifestam os melhores resultados de eficiência energética, bem como procuram oferecer uma diminuição na fatura de energia do consumidor. O selo orienta o cliente na hora da compra e estimula a produção e comercialização de produtos mais eficientes. Atualmente o selo verde mais conhecido pelo grande público são os símbolos de reciclagem impressos em embalagens ou produtos. Figura 14. Selo da Procel. Disponível em: http://www.casadoaquecedor.com/imagens/SELO%20PROCEL%20gravata%20300.png Figura 15. Símbolo da reciclagem, o selo verde mais conhecido dos consumidores. Disponível em: http://www.codeca.com.br/images/layout/simbolo_reciclagem.jpg 59 8. FASES DO ECODESIGN Um projeto de ecodesign possui cinco fases distintas: a pré-produção, a produção, a distribuição, a utilização e o descarte e reutilização. 8.1 Pré-produção Conforme Kazazian (2005) o produto ecológico deve considerar conceitos atuais que aprimoram alternativas sustentáveis. O ecodesign exige uma nova maneira de conceber produtos, de forma que os efeitos predatórios sejam minimizados. Os aspectos ecologicamente corretos devem ser incorporados logo na fase de desenvolvimento do projeto. Cada etapa do ciclo de vida deve ser delicadamente analisada, antecipando os potencias impactos ambientais que o produto poderá causar ao meio ambiente. O projeto ecológico possuiu um enfoque de prevenção. Com ele considera que a geração de poluentes não é uma conseqüência inevitável da produção de produtos. Ela ocorre principalmente pelo mal uso de matéria-prima, devido a produtos malfeitos, derramamento e desperdício ao longo do processo produtivo e gastos excessivos de energia, durante o planejamento. Toda essa exigência ambiental estimula a criatividade do designer e possibilita a descoberta de novas tecnologias. Estratégias Para Brezet e Hemel (1997 apud NASCIMENTO; VENZKE, 2006) devem ser pensadas soluções que atendam necessidades específicas. Desse modo, buscamse estratégias que tornem produtos e/ou serviços, de menor impacto negativo, capazes de satisfazer a mesma necessidade de produtos e/ou serviços danosos ao ambiente. Uma das estratégias seria a „desmaterialização do produto‟. Ela consiste em tornar o crescimento econômico menos dependente da exploração de matériaprima. Um ponto positivo que contribuiria para esse recurso seria usar um número menor de matérias-primas diferentes em um mesmo produto. As estratégias de desmaterialização permitem que a empresa de economia leve se comprometa em uma abordagem de otimização de seus meios 60 (ferramentas de produção, concepção de produtos) para obter um resultado idêntico, ou até superior, ao de uma estratégia clássica. A desmaterialização se torna ainda mais necessária para a empresa que já se enquadra na evolução dos critérios de poder atual, baseados em valores cada vez mais imateriais, como o domínio dos conhecimentos científico e tecnológico, as transferências de informação ou as estratégias de organização. Em outros termos, menos matéria, mais raciocínio. (KAZAZIAN 2002, p.62). O uso compartilhado de um mesmo produto, segundo Brezet e Hemel (2006), faria que um número maior de pessoas o utilizasse, mesmo que não o possuísse. Na maior parte das vezes a importância não está no próprio objeto, mas no serviço prestado por ele. A intenção seria ampliar o uso de produto diminuindo o custo ambiental causado por ele. Figura 16. O jornal on line é uma estratégia eficiente que desmaterializa o produto e possibilita uma utilização compartilhada. Disponível em: http://www.jmnet.com.br/ Outra solução eficiente é a integração de várias funções em um mesmo produto. Ele teria várias utilidades, diminuindo a necessidade da fabricação de um artefato para cada função específica. Porém devem-se considerar algumas funções, identificando as supérfluas e as verdadeiramente necessárias. Se for verificado algum item que agrega apenas valor estético, este deverá ser eliminado a fim de economizar matéria-prima. A extensão do tempo de vida do objeto, ou seja, sua durabilidade se torna mais um desafio no projeto de ecodesign. Ela proporciona um maior tempo de 61 utilização, diminuindo a necessidade de renovação ou troca e, consequentemente diminui os impactos ambientais. Para aumentar a durabilidade de um produto, diferentes abordagens são possíveis conforme as etapas de seu ciclo de vida: procurar aparências menos subordinadas às modas, utilizar materiais adaptados ao envelhecimento, favorecer o reparo e a manutenção, propondo atualizações para retardar a obsolescência, e, por fim, criar uma relação afetiva entre o utilizador e o objeto. (KAZAZIAN 2002, p.44). Materiais Nessa fase existirá uma preocupação também com a escolha correta dos materiais que farão parte do projeto. Segundo Nascimento e Venzke (2006) o termo „ecomateriais‟ é empregado para identificar aqueles que causam menos danos ambientais e tem um bom desempenho. Na fase de experimentação do ecodesign é relevante investigar materiais biodegradáveis, que são descompostos por microorganismos e poderão ser aproveitados como material orgânico para plantas. Deve-se evitar o uso de materiais escassos ou em risco de extinção, não utilizando madeiras nobres ou de vegetação nativa, além de peles de animais. Mais um cuidado que o projetista deve ter, é o de escolher materiais de fontes renováveis. Eles não param de crescer, sem acabar com os recursos naturais. Isso os torna uma escolha ambiental ideal. Plantas utilizam a luz solar para criar seu material, e até mesmo os animais, produtores secundários, podem oferecer matéria prima como a lã, por exemplo. Na exploração da madeira deve-se ter o cuidado de escolher fontes certificadas. O indicado seria empregar materiais introduzidos com a finalidade específica de uso, ou de fácil recuperação em seu meio ambiente. É importante desconsiderar materiais contaminantes como: tintas, colas, pigmentos, grampos ou rótulos. Esses elementos ao serem impregnados no objeto o contaminam, causando uma dificuldade ou até impossibilidade de reciclagem. Evitar misturas, utilizando o material mais próximo de sua forma natural é um ponto positivo no projeto, pois irá reduzir o consumo de energia na sua transformação como também facilitar a reciclagem. 62 Focando evitar gastos energéticos o designer tem que optar por materiais leves e resistentes, pois diminuindo o peso, evitam-se gastos excessivos com o seu transporte. O ideal seria escolher materiais de fontes locais, próximos do local de fabricação, para também diminuir o consumo energético de combustível, diminuindo a emissão de gás carbônico na atmosfera. Existem materiais que necessitam de maior quantidade de energia para retirada do meio ambiente e/ou processo de fabricação, enquanto outros se mostram mais econômicos do ponto de vista de consumo energético. Durante o projeto devese optar por essa segunda opção e considerar também os materiais reciclados, que por sua vez evitam a extração de mais matéria-prima da natureza. 8.2 Produção Para Nascimento e Venzke (2006) essa fase do processo consiste em transformar materiais em produtos acabados, como também, no armazenamento e/ou controle de estoque dessa matéria, a locomoção de matéria-prima, a montagem do produto e a finalização com acabamentos. Aqui, o ecodesign é de fundamental importância para evitar ou amenizar os gastos energéticos e o desperdício de água e matéria, através de uma otimização dos processos produtivos. Deve-se escolher técnicas de fabricação que diminuam a degradação ecológica, utilizando princípios de produção mais limpa. Uma das estratégias mais populares, pela facilidade de adaptação, é a redução do uso de energia. Existe uma demanda de equipamentos mais eficazes em teor energético, com o intuito de reduzir o consumo. A implementação de motores mais eficientes, mecanismos que desligam automaticamente quando não estão sendo utilizadas ou solicitadas, são fatores contribuintes para a economia energética. Aproveitar condições naturais é uma alternativa válida, como servir-se da iluminação natural e de exaustão eólica. Seria indispensável a conscientização dos indivíduos que irão participar da fabricação, através da educação ambiental. Deve-se procurar reduzir o número de materiais utilizados e evitar desperdícios, fazendo um uso eficiente de matéria-prima. Para realizar essa estratégia pode-se diminuir o tamanho das serras, a fim de minimizar a perda de 63 madeira, ou calcular o tamanho dos materiais do produto para evitar sobras durante os cortes. Outro mecanismo de ecodesign para produção, consiste em reintroduzir resíduos descartados, ao processo de fabricação gerando um ciclo. Constantemente indústrias têxteis e químicas inserem materiais reciclados para o desenvolvimento de seus produtos finais, num sistema de reciclagem em circuito fechado (reciclagem interna). 8.3 Distribuição Na distribuição ainda existem fatores que desencadeiam consumo de energia e materiais, como embalagens, transporte e armazenamento. Uma estratégia que beneficiaria amplamente a distribuição seria a facilitação de desmontagem do produto. Essa solução iria reduzir os custos com materiais para embalagem e aperfeiçoaria os recursos de espaços para armazenamento durante o transporte. Além de otimizar a distribuição, a facilidade de desmonte também contribuiria para a durabilidade do produto e para a reciclagem de seus componentes. Para a implementação prática dessa estratégia, o projetista deve seguir algumas linhas de referência, como facilitar as operações de desmontagem, utilizar materiais que possam ser facilmente separados, evitando o uso de adesivos, utilizar sistemas de junção das partes que possam ser removidos durante a reciclagem e prever equipamentos para a desmontagem no final da vida útil. (NASCIMENTO; VENZKE, 2006 p.296) O produto dificilmente será ofertado como um elemento independente, pois faz parte de um sistema de componentes. O conjunto de componentes pode conter manuais, peças para troca, informes publicitários e, principalmente embalagens. A utilização de embalagens retornáveis possibilita que elas possam ser aproveitadas através da reutilização e/ou reciclagem. Um exemplo disso é a utilização de refil, alternativa que reabastece a embalagem vazia. Dessa maneira serão produzidos menos resíduos além de resultar em economia para o consumidor. Existe ainda a questão de transporte dos produtos, fazendo que nessa etapa seja necessária uma otimização do processo. O produto deverá ser levado da fábrica ao distribuidor e/ou usuário do modo mais prático e eficiente. As menores rotas deverão ser selecionadas, a fim de reduzir a emissão de poluentes na 64 atmosfera. Outra maneira de aperfeiçoar o transporte seria de optar pelo hidroviário ou ferroviário. 8.4 Utilização Durante o projeto de um produto deve-se analisar o quanto de energia ele consumirá em sua utilização e quanto de matéria-prima auxiliar será necessário para o seu funcionamento. É preciso também prolongar a vida útil desse artefato, fazendo que com ele seja usado no seu objetivo original por mais tempo possível. Para estimular a durabilidade, deve-se analisar se o produto pode atender as necessidades dos usuários por um tempo de vida maior, além de proporcionar uma fácil manutenção. O uso correto do produto também irá favorecer o prolongamento de utilização. Na fase de utilização seria interessante abordar a estratégia de compartilhamento de uso, com a possibilidade de um único produto satisfazer as necessidades de mais de um usuário. Um exemplo disso seria um sistema de aluguéis de roupas, sendo que um vestido de festa poderá ser usado por muitas mulheres ao longo de sua vida útil. A criação de produtos multifuncionais também é uma solução estratégica, pois utilizando a mesma porcentagem de matéria e energia poderá ser fabricados objetos que possuam várias funções. Segundo Fiskel (1997 apud NASCIMENTO; VENZKE, 2006, p. 298) os sistemas de múltiplas funções podem ser classificados em “funções paralelas, no caso de um mesmo produto servir simultaneamente a mais de um propósito; e funções seqüenciais, que ocorrem quando um produto possui um uso primário, após esse passa para um uso secundário, e assim por diante.” Deve ser previsto também a quantidade energética necessária na utilização de um produto. Como na fase de produção o ideal seria optar por fontes de energia renováveis como a solar e a eólica 8.5 Descarte e Reutilização Segundo Kazazian (2005) aprende-se que a matéria nunca é destruída, mas transformada. O fim de um produto pode tornar-se o início de outro. E isso não se 65 restringe apenas aos objetos, como também aos seres vivos. No corpo humano, exceto pelas células de sistema nervoso, as células são renovadas a cada três meses. É pelo mérito desse ciclo que os machucados são cicatrizados e em alguns animais membros são recuperados. Nota-se em nossa sociedade que o crescimento da economia é do tipo unidirecional. Ela necessita implacavelmente do uso de matérias-primas, cujo a depredação não é acompanhada de uma recuperação. A matéria transformada em produto poderá ser logo inutilizada, transformando-se em resíduo. Cria-se um quadro alarmante de destruição contínua de matéria-prima e produção de resíduos. Portanto uma característica notável do projeto de ecodesign é o planejamento do fim de vida do produto. O fundamental seria que todos os produtos manufaturáveis fossem valorizáveis, e reutilizáveis após seu descarte. Para Kazazian (2005) esse processo se tornará possível através de três técnicas distintas: o reaproveitamento, a reciclagem e a compostagem do objeto. O reaproveitamento: é uma técnica baseada em encontrar uma nova utilidade ao produto descartado. Alguns objetos já são concebidos com a finalidade de função após seu fim de vida. Um exemplo bastante conhecido é o da embalagem de requeijão que se transforma em copo. Outros produtos que não foram projetados com esse intuito podem ser consertados, a fim de serem reintroduzidos no circuito mercantil. A reciclagem: enquanto a técnica de reutilizar o objeto consiste em desmontar, cortar ou incrementar a reciclagem reintroduz a matéria do produto no ciclo industrial. Porém, como citado antes, uma avaliação será necessária para analisar os danos que o processo de reciclagem poderá causar como poluição ou gastos de energia. Em alguns casos a utilização de uma nova matéria-prima causaria menos impacto ambiental. A compostagem: para produtos fabricados a partir de fibras vegetais (papel, madeira, tecido,...) existe a alternativa de compostagem. Esse material irá se decompor e tornar-se adubo. 66 9. METODOLOGIA DE PROJETO DE PRODUTO Para Filho (2006) o design de produto pode ser entendido como a área que atua planejando e desenvolvendo objetos de configuração física predominantemente tridimensional. Abrangendo tanto objetos produzidos de modo industrial quanto de modo artesanal; ou da unificação das duas técnicas (industrial e artesanal). O conceito de projeto surgiu juntamente com a Revolução Industrial e foi sendo ampliado com o passar do tempo. Como cita Kazazian (2005) anteriormente, quando alguém necessitava de algum móvel era preciso contratar um artesão. O cliente acompanhava todo o processo de fabricação, que era feito inteiramente pelo marcineiro a partir de materiais encontrados facilmente em regiões próximas. O artesão ficava responsabilizado de todos os consertos do móvel. Atualmente o consumidor adquire o móvel, como um produto acabado, na hora de sua compra. Este produto é resultado de um projeto de design, produzido em série representando uma marca. Para conceber qualquer produto, na opinião de Annes (2005) é necessário seguir uma metodogia de projeto, que facilitará ao designer atingir o melhor resultado. Essa implementação de projeto trará enormes benefícios, simplificando os objetos, reduzindo custos e promovendo uma melhoria da qualidade. A seguir a pesquisa esclarece três das metodologias mais utilizados por designers: a Munari, a Bomfim e a Roosemburg. 9.1 Metodologia Munari Nos métodos de Munari (1998) a primeira etapa do projeto seria uma minuciosa pesquisa ao mercado e aos seus consumidores. Após reunir informações necessárias indentifica-se uma necessidade, que dá origem a um problema de design. O problema de design deve obrigatoriamente ter uma solução e ser resolvido através de uma elaboração. Definido o problema de design é necessário encontrar a sua solução. Acontece que podem existir inúmeras soluções para apenas um problema. É necessário, então, definir que tipo de solução espera-se atingir. Bruno Munari (1998) as divide classificando-as em: solução provisória (para uma exposição que deve durar um mês, por exemplo) ou uma solução definitiva, uma solução puramente 67 comercial, uma solução que dure no tempo (fora das modas que impõem um certo gosto naquele momento), uma solução tecnicamente sofisticada ou uma solução simples e econômica. A solução de tais problemas melhora a qualidade de vida. Esses problemas podem ser especificados pelo designer e propostos à indústria, ou pode ser a indústria a propor ao designer a resolução de algum problema. Muito frequentemente, porém, a indústria tende a inventar falsas necessidades para poder produzir e vencer novos produtos. Nesse caso, o designer não deve deixar-se envolver numa operação que se destina ao lucro extremo do industrial e ao prejuízo do consumidor. (MUNARI 1998, p.30) Para ser melhor esclarecido o problema deve ser dividido entre „componentes do problema‟. Cada componente pode ser considerado um subproblema que possui uma solução própria. Cabe ao designer unificar essas soluções ao projeto final do problema. É necessário uma coleta de dados que torne possível encontrar soluções para esses componentes. É importante certificar que não será concebido um produto repetido ou incapaz de concorrer com os já comercializados. Esse novo levantamento possibilita ao designer descobrir novos materiais e tecnologias que podem ser adaptados ao projeto. Após a análise de todos os dados recolhidos inicia-se o projeto. Haverá a fase de experimentação, afim de encontrar o „material ou instrumento‟ ideal. A experimentação de materiais e de técnicas e, portanto, também, de instrumentos, permite recolher informações sobre novas formas de aplicação de produtos inventados para uma única finalidade. (MUNARI 1998, p.48) Essas experiências resultam em novas informações que juntamente com todo o material recolhido tornará possível o início dos desenhos. Os esboços devem ser feitos agrupando as soluções para todos os componentes do problema, possibilitando a construção do „modelo parcial‟. O modelo, ou os modelos, após serem construídos, devem passar por uma verificação. Isso será feito através de uma pesquisa com potenciais consumidores, que apresentarão sua opinião sobre o objeto. Se as críticas forem válidas, o designer fará as mudanças necessárias no projeto. 68 Nesse momento, permiti-se o início dos desenhos de construção, que irão originar o protótipo do produto. O protótipo será fabricado utilizando os mesmos materiais e com o mesmo tamanho do produto original. Figura 17 Esquema de metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Munari. Disponível em:http://clientes.netvisao.pt/alfredoa/METODOLOGIA/METODOLOGIA%20PROJECTUAL%20c om%20arroz%20verde.htm 9.2 Metodologia Bomfim Para Bomfim (1995 apud PLATCHECK 2003) o uso da metodologia é necessário devido a complexidade de componentes envolvidos num projeto. Sugere um modelo identificando cinco fatores principais que caracterizam o processo de desenvolvimento do projeto. Esses fatores englobam o sujeito criador (designer), o sujeito produtor (empresa), o sujeito consumidor (usuários), a sociedade como instituição (que determina políticas, leis e normas para comercialização) e o produto ( que deve apresentar um mínimo custo e um máximo rendimento). É sugerida uma metodologia compreendida em três processos. A primeira etapa consiste na criação de um produto, que deve atender às demandas tanto do produtor como do consumidor. O produto passa a ter um valor de troca através de sua comercialização e um valor de uso perante sua utilização, gerando um ciclo de vida. A segunda etapa é o processo produtivo, que engloba matérias primas, 69 energia, capital e tecnologias. A terceira etapa é a utilização do produto, que passa atender e satisfazer as necessidades de forma independente. Bomfim salienta quatro alternativas possíveis para o pós uso de um produto: a sua conservação (se agregar valor histórico e simbólico), o reaproveitamento de partes ou do todo, a reciclagem e o descarte definitivo (com funções e reciclagem esgotados). 9.3 Metodologia Roosemburg Roosemburg (1996 apud PLATCHECK 2003) afirma que o processo de design é encontrar uma solução específica de um problema. Sua metodologia inicia com um estudo para verificar necessidades e encontrar a definição do problema. Logo, é preciso estipular metas no desenvolvimento do projeto de produto, sendo expressas de diferentes formas e em diferentes tipos de objetivos. Esses objetivos auxiliam na determinação das características do produto. Assim cria-se uma lista com diversos aspectos referentes aos objetivos como: matérias primas, desempenho do produto, dimensões e peso, impacto no meio ambiente, facilidades na fabricação, transporte, embalagens, durabilidade, segurança, reuso, reciclagem e descarte final. Entre a confecção e o descarte final o produto passará por uma série de procedimentos como manufatura, montagem, distribuição, instalação, operação, manutenção, uso, e reuso. E, para cada fase do ciclo de vida ele levanta questões cruciais: em quais situações e locais o produto irá atuar, quem está fazendo o que com o produto, que problemas são esperados e quais as soluções possíveis para os problemas. Roosemburg cita em sua metodologia de desenvolvimento de produtos a utilização dos 3Rs, reduzir, reutilizar e reciclar partes ou todo o produto antes do seu descarte final. 70 10. OBRA Como obra é confeccionado um produto que segue alguns dos princípios e técnicas citados anteriormente. A idéia inicial propõe a fabricação de uma luminária. Seguindo linha do trabalho, inicialmente preocupa-se com a escolha de matérias primas, que devem obrigatoriamente provir de fontes renováveis. É resgatado o valor do fazer manualmente, que acarretará em economia de energia durante o processo produtivo. Serão englobados os princípios da produção mais limpa (P+L) que possui um caráter de prevenção à poluição na fonte do problema, ou seja, antes que resultem os resíduos. E como mais uma característica do artifício todo o ciclo de vida do produto deve ser analisado. O projeto resulta em apenas duas fases do ecodesign: sua pré-produção e sua produção. Porém algumas soluções para as três fases restantes são pensadas. A luminária deve ser leve para privilegiar um consumo consciente de combustível durante o transporte e sua distribuição, promover economia de energia durante sua utilização e ser fabricada quase na sua totalidade de materiais biodegradáveis, que apontam a alternativa de compostagem após o seu descarte. Para a organização dos processos de projeto e confecção da obra é utilizada como base a metodologia sugerida por Bruno Munari (1998), a fim de facilitar todo o trabalho e evitar erros e desperdícios. Apesar do método não abordar especificamente o ecodesign e o desenvolvimento sustentável, esses fatores podem ser facilmente inseridos na definição e no componentes do problema. 10.1 Definição do Problema Segundo o método Munari, conforme já foi citado, tudo começa com uma pesquisa ao mercado para encontrar uma necessidade e assim identificar um problema de design. Como o problema era particular não houve necessidade dessa primeira etapa, sendo que o projeto é baseado na criação e na confecção de uma luminária. Luminárias 71 Historicamente, o fogo foi, sem dúvidas, uma das maiores invenções da humanidade. Surgiu na pré-história iluminando as noites dos Neandertais em suas cavernas. Logo, os mais evoluídos Homo Sapiens construíam equipamentos que queimavam gordura de mamute, podendo essas estruturas, talvez, serem consideradas as primeiras luminárias. A influência da luz segue através das fogueiras medievais, onde aconteciam rituais e confraternizações, em volta do fogo. As velas que iluminavam os interiores das residências, as lareiras que além de tudo aqueciam as famílias no inverno, os candelabros ornamentais que abasteciam de luz e decoravam castelos e nobres moradias. Os utensílios que necessitavam da queima de óleo para a produção de luz, como os candeeiros e lamparinas. A iluminação através do fogo encontrou diversos mecanismos, através de diferentes materiais. Mas ocorre um fato que mudará para sempre a história da iluminação. A descoberta da eletricidade permitiu a realização de experimentos transferindo ondas de calor para um fio de metal. O fio metálico conduz corrente elétrica fazendo com que a luz irradie através lâmpada incandescente. Dessa maneira foi possível direcionar o foco de luz para onde fosse necessário e também se podia escolher o local para a sua instalação. Logo, esse tipo de iluminação foi produzido aos milhares, ganhando todo o planeta. Hoje é difícil compreender um mundo ausente de eletricidade e, consequentemente, de iluminação elétrica, sendo eles completamente arraigados no modo de vida moderno e contemporâneo. Classificações Raphael Moura de Vasconcellos (2009) afirma que os projetos de iluminação podem ser classificados, segundo gênero, em: monumental, hospitalar, doméstico, industrial, urbano, comercial, cênico, entre outros. Dentro de cada um desses gêneros são encontradas diversas espécies. Por exemplo, no gênero comercial existem as espécies de: lojas, vitrines, bibliotecas, bares, escritórios, shoppings, restaurantes, anfiteatros e salas de aula. Já a categoria hospitalar pode ser dividida em: salas cirúrgicas, enfermarias e laboratórios. Toda variação acaba necessitando de algumas regras e normas de iluminâncias, especificadas pela ABNT. Porém na iluminação domésticas pode-se obter maior liberdade criativa, sendo as suas regras menos rígidas que as demais. 72 As luminárias decorativas para ambientes domésticos são comumente classificação em: Figura 18. Classificação de luminárias decorativas domésticas. Fonte: www.iar.unicamp.br/.../design%20de%20luminárias/Luminarias.pdf. Tratando-se de iluminação, elas podem ser classificadas como: luz direta, semi-direta, direta&indireta, semi-indireta, indireta e difusa. 73 Figura 19: exemplos de classificações de iluminação. Fonte: www.iar.unicamp.br/.../design%20de%20luminárias/Luminarias.pdf. Sustentabilidade Os acontecimentos dos últimos anos fez surgir uma consciência ecológica preocupada com o futuro do meio ambiente. Foi constatada a grande problemática da industrialização e do consumismo, e atualmente não há como negar a necessidade de mudanças, ou da continuidade delas. Foi através da ação humana que todos esses problemas ambientais surgiram, pelo uso irresponsável dos recursos. Tudo impulsionado pela ganância e egoísmo característicos do homem capitalista. Deve ser através da mesma ação humana, agora sensibilizada e responsável, que estes problemas devem ser solucionados e/ou minimizados. O design está intimamente ligado à geração e utilização de produtos, onde a ecologia é de fundamental importância e deve ser inserida como conceito básico. O designer tem a capacidade de recriar hábitos, para um consumo consciente. Devese pensar em utilizar o mínimo de recursos, encontrar materiais alternativos, 74 economizar energia durante o processo produtivo e durante utilização, como outros fatores componentes do ecodesign. Definição O trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica direcionada à procura de materiais, métodos e estratégias baseadas no ecodesign e nas soluções ambientalmente corretas para a confecção de produtos sustentáveis. Considerando também os conceitos de iluminação, a definição do problema é: luminária ecológica e decorativa para ambientes domésticos. Segundo as soluções propostas de Bruno Munari (1998), o problema se classifica como simples e econômico. No ecodesign a durabilidade é um fator muito importante, mas o projeto possui uma fabricação rústica com materiais naturais. Essas circunstâncias provavelmente irão limitar a vida útil do produto, mas isso será compensado com a possibilidade de reaproveitamento da matéria prima e com o preço acessível. 10.2 Componentes do Problema O problema é dividido em vários subproblemas que são, na verdade, os componentes desse problema. Estas categorias levantam algumas questões cruciais para o êxito do projeto. Como introduzir a ecologia no projeto? Que matéria prima utilizar? Qual tipo de lâmpada utilizar? Quais materiais necessários para a instalação elétrica? Qual será o seu desenho? 75 10.3 Coleta e Análise de dados A coleta de dados inicia com uma pesquisa ao mercado, mais especificamente, em cinco lojas da cidade especializadas em iluminação de ambientes. Aplicação de questionário Foi formulado um questionário simples e fácil, com seis perguntas objetivas, direcionado aos comerciantes que trabalham nas lojas escolhidas. Este artifício possibilitou conhecer um pouco do consumidor criciumense e das possibilidades do mercado local. Em termos de luminárias decorativas para ambientes domésticos, um tipo específico promove uma maior procura de venda: as luminárias pendentes. Representando um aparelho de primeira importância a luminária pendente é praticamente indispensável em um projeto arquitetônico, e talvez, por esse motivo seja a mais requisitada. 3,5 3 2,5 Arandela 2 Pendente 1,5 Mesa Coluna 1 Calha 0,5 0 Arandela Pendente Mesa Coluna Calha Gráfico 1 Resultado da primeira pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Por qual tipo de luminária decorativa para ambientes domésticos existe uma maior procura?". Como já citado os focos de luz podem variar, criando diversos tipos de efeitos, alcançados através das luminárias. Os consumidores criciumenses demonstram uma preferência pela iluminação direta. Porém a diferença entre as opções foi desprezível e mais três alternativas também foram selecionadas. Um dos 76 comerciantes afirma que comumente um cliente leigo em termos de decoração e design opta por um artifício de foco direto, porém, quando acompanhado de algum profissional (normalmente arquiteto) a luminária escolhida possui outras técnicas de iluminação. 2,5 2 1,5 1 0,5 0 Direta Semi-Direta Direta&Indireta Semi-Indireta Indireta Difusa Gráfico 2 Resultado da segunda pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Por qual tipo de iluminação decorativa existe maior procura?”. Quando indagados por qual seria o fator determinante da escolha de compra dos consumidores, todos os comerciantes são unânimes na resposta. Sem rodeios ou dúvidas, o preço do produto sempre acaba influenciando mais que design, qualidade ou preocupação ecológica. Geralmente, na hora da compra, os clientes selecionam algumas luminárias que mais lhe agradaram esteticamente e, na hora da aquisição, elegem a mais econômica. 6 5 4 3 2 1 0 Preço Qualidade Design Ecologia Outro Gráfico 3. Resultado da terceira pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Qual fator determina a escolha definitiva do cliente?”. 77 É constatado que todos os cinco estabelecimentos possuíam opções ecológicas de luminárias. Obviamente apareceram em número reduzido comparado às demais, porém é gratificante observar que este tipo de produto está evoluindo e alcançando espaço e reconhecimento na cidade. A maioria das luminárias ambientalmente corretas foram fabricadas a partir de filtro de café usado, madeira e fibras de plantas. Possuem design variado e um preço mais economicamente viável que a maior parte das outras luminárias disponíveis nos lugares. Apesar de não ser prioridade, já existe uma pequena procura dos clientes por produtos ecologicamente corretos. Contudo, ao invés de uma genuína preocupação ambiental, os consumidores optam por estas luminárias, principalmente, por uma questão de economia, já que elas custam menos que as demais. Outro fator que contribui com o relativo sucesso desses produtos é que são modelos atraentes e provocam um desejo de compra. Acredita-se que o mercado de luminárias ecológicas tende ao crescimento e sucesso, pois seus modelos podem tranquilamente competir com a sua concorrência, demonstrando produtos bonitos, acessíveis e apresentando atributos essenciais de sustentabilidade. A última indagação obteve uma resposta positiva de todos os entrevistados. Os comerciantes concordam que uma luminária produzida a partir de taboa, pode perfeitamente ser comercializada. 6 5 4 3 Sim 2 Não 1 0 Sim Não Gráfico 4. Resultado da quarta pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Existe em sua loja opções de luminárias decorativas de baixo impacto ambiental?”. 78 3,5 3 2,5 2 Sim 1,5 Não 1 0,5 0 Sim Não Gráfico 5. Resultado da quinta pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Existe uma procura e preocupação dos clientes por esse tipo de produto ecológico?”. 6 5 4 3 Sim 2 Não 1 0 Sim Não Gráfico 6. Resultado da sexta pergunta do questionário direcionado à comerciantes de cinco estabelecimentos especializados em luminárias, na cidade de Criciúma - SC. A questão era: "Você acredita que uma luminária decorativa para ambientes domésticos, bonita e economicamente viável, fabricada com taboa, poderia ser comercializada?. 79 Registro Fotográfico Durante a pesquisa nas lojas foi realizado um registro fotográfico dos potenciais concorrentes da luminária, evidenciando objetos ecológicos. Figura 20. Luminárias de design arredondado fabricadas com filtro de café usado. Figura 21. Pendentes fabricadas com madeira e fibras vegetais. 80 Figura 22. Pendentes feitas a partir de madeira e fibras vegetais. Figura 23. Efeito causado pela luz em uma arandela fabricada com filtro de café usado. Figura 24. Abajur fabricado a partir da reutilização de tecidos e outros materiais. 81 Figura 25. Luminárias de mesa fabricadas com madeiras e fibras naturais. Figura 26. Luminária de mesa de madeira e fibras. 82 Figura 27. Coluna fabricada basicamente com filtros de café usados. Observa-se analisando os modelos catalogados uma simplificação de formas e métodos de fabricação. Os resultados são gerados através de poucas etapas do processo produtivo e exibem um desenho fácil, heranças do movimento modernista. É notável, também, a procura de novos materiais e inovações nas combinações. Os produtos de base sustentável surgem como uma tendência no mercado, mas o objetivo do projeto vai além desses modismos. A esperança é que nos próximos anos eles integrem cada vez mais o dia a dia das pessoas. 10.4 Criatividade A luminária deve apresentar um bom funcionamento pois a iluminação é um fator essencial para o ser humano desenvolver suas potencialidades de visão. Durante o dia isso é saciado facilmente, porém a noite é preciso o uso de meios artificiais. As cores das luzes também devem ser consideradas, justamente porque algumas podem causar reações e emoções negativas nas pessoas. Além desses fatores, é priorizado o caráter ecológico que o projeto deve agregar. O enfoque começa com o uso consciente dos recursos. As matérias primas deverão obrigatoriamente provir de fontes renováveis. Essas fontes continuam a crescer mesmo após sua extração, que, quando bem administrada não causa danos irreparáveis na natureza. E se tratando de matériais naturais podem ser 83 biodegradadas após sua vida útil. Sendo um projeto de iluminação a economia de energia também deve ser contemplada, através da escolha das lâmpadas com selos de indentificação. O desenho tem que ser simples e se sobressair às tendências e modismos, permacendo bonito e atual através dos anos e, dessa maneira, auxiliar na sua frágil durabilidade. Devido a escolha de matéria prima é dado preferência a traços fortes e rústicos, que irão casar bem com o materiais naturais do objeto. 10.5 Materiais, Tecnologias e Experimentação Para o projeto são necessárias matérias primas que sustentem e decorem toda a luminária, além de lâmpadas e outros materiais elétricos. Taboa (Typha domingensis) Como matéria prima principal é utilizada, por uma sugestão do orientador João Luís Rieth, a fibra de taboa, uma planta de fácil obtenção na natureza. A fibra da Taboa é comumente utilizada para o preenchimento de travesseiros e na confecção de objetos artesanais. Para a obra será utilizada a espécie Typha domingensis, que entre outros lugares ocorre no município de Praia grande, Santa Catarina. Thyphaceae é uma família de macrófitas aquáticas conhecidas popularmente como Taboa, é uma planta emersa que cresce nas margens de lagoas e represas, sendo muito frequente em brejos e pântanos. (SOUZA, 2008). Entre as espécies de Typhaceae temos a Typha domingensis uma espécie que produz densos estandes em muitos ecossistemas do Brasil (IRGANG, 1999). Estandes de T. domingensis podem abrigar uma série de microrganismos, sendo importante nos ecossistemas referindo-se a grande quantidade de matéria orgânica produzida pela decomposição, e a participação de maior parte desta biomassa na teia alimentar de detritos (SANTOS; ESTEVES, 2002.) Reitz (1984) cita que esta planta também tem a capacidade de depurar águas poluídas, e está presente em todo o território catarinense. Para uma maior familiaridade com a taboa e a sua atuação e rendimento no processo produtivo de objetos, foi realizada em maio de 2010, uma saída de campo 84 destinada a conhecer o grupo de artesãs Itaimbé Artes, em Praia Grande. Aproveitando a oportunidade, as instalações destinadas à fabricação de papel de fibra de taboa, da ACEVAM, localizada na mesma cidade, também foram contempladas com uma visita. Bambu (Bambusoideae) O bambu entra no projeto como uma alternativa de sustentação da luminária, visando a sua resistência e versatibilidade. É uma planta bem ditribuida mundialmente classificando-se como um material popular e acessível. O bambu é muito utilizado artesanalmente e até mesmo em construções. Atualmente, Poaceae está dividida em treze subfamílias. Dentre estas, Bambusoideae constitui a principal linhagem de gramíneas de folhas largas associadas a ambientes florestais. Bambusoideae reune dois clados, correspondentes às tribos Olyreae (bambus herbáceos) e Bambuseae (bambus lignificados) (GPWG 2001; Sánchez-Ken et al. 2007). Devido a grande quantidade de espécies presentes no estado de Santa Catarina, não foi possível a identificação ao nível de espécie (SCHMIDT, R.LONGHI-WAGNER, H. M.2009.) Materiais Elétricos Para identificar os materiais elétricos que são necessários no projeto foi consultado um Técnico em Eletricidade além de ser realizada uma nova pesquisa ao mercado. Foram visitadas duas lojas especializadas no município de Criciúma. Encontra-se três tipos de lâmpadas: as incandescentes, as halógenas e as fluorescentes. As incandescentes são as mais baratas e utilizadas, porém duram pouco e perdem a eficiência devido ao escurecimento da lâmpada. De toda a energia consumida somente uma parte reduzida produz luz, sendo que o restante gera calor. As dicróicas também são incandescentes mas possuem um tempo de vida maior que as anteriores. Produzem bastante calor e o seu facho de luz direcionado é utilizado para destacar obras de arte. As fluorescentes tem uma durabilidade maior que as demais e o consumo de energia é bem inferior. A sua embalagem vem com o selo verde da Procel, indicando 85 uma economia de energia de até 80%. Essas características aliadas com o efeito de coloração azulada da sua iluminação tornam essas lâmpadas uma alternativa perfeita para a minha obra. Figura 28. fluorescente na sua embalagem, que contêm o selo da Procel. São necessários também receptáculos, interruptor de meio fio, tomada e fiação. Estes foram encontrados em pouca variedade de formas, cores e materiais, sendo a sua maioria de plástico e porcelana. E para a fixação parafusos e porcas. 10.6 Modelos e Verificação Modelos As fases anteriores possibilitaram reunir informações importantes e estabelecer relações entre os dados recolhidos. Com isso torna-se viável o início dos esboços para a elaboração do modelo do problema. Explorando traços chega-se a três formatos possíveis do produto. É elaborado o design de uma luminária pendente, de uma luminária de mesa e de uma coluna. 86 Figura 29. Desenho de uma luminária de mesa. Figura 30. Desenho de uma luminária de chão. 87 Figura 31. Desenho de uma luminária pendente. Para a fabricação dos modelos são reutilizados alguns materiais, ressaltando que não é preciso confeccioná-los com os materiais originais sugeridos nos esboços, e são produzidos em escala real. No modelo de luminária de mesa são utilizados quatro tiras verticais de bambu. Colheu-se a planta verde e não foi aplicado nela nenhum processo de melhoria e/ou refinamento. Seis quadrados de papelão são recortados, com os lados medindo 20 cm. Esses quadrados serviram para criar a forma do modelo e foram anexados aos filetes de bambu com a ajuda de uma fita adesiva. Com o auxílio de uma régua demarcam-se nas ripas de bambu as medidas indicadas no esboço e é iniciada a construção pelo o que seria a parte debaixo da luminária. O primeiro quadrado é posicionado de forma horizontal após 3 cm do início do bambu, e fixado com a fita a cada uma das quatro partes da planta. O segundo quadrado é colocado após 6,3 cm do primeiro, o terceiro após 3 cm do segundo, o quarto após 6,3 cm do terceiro, o quinto após 3 cm do quarto e o sexto após 6,3 cm do quinto. A estrutura conta com 27,4 cm até onde o último quadrado é fixado. Com a fita adesiva são reunidos, um pouco mais acima, os quatro filetes de bambu e com uma tesoura de jardim retiram-se os excessos da planta. Nas áreas 88 destinadas para a colocação da taboa são colados rascunhos de papel sulfite com o intuito de representar a fibra. Figura 32. Estrutura do modelo de uma luminária de mesa feita com bambu e papelão. Figura 33. Modelo pronto de uma luminária de mesa. 89 A confecção do modelo da coluna obtém um processo parecido. São separadas cinco tiras de bambu e recortados oito círculos em papelão. Os diâmetros dos círculos variam. Repetindo o mesmo método anterior, a construção é iniciada pelo o que seria a parte de baixo da coluna. Após 5 cm do começo dos filetes (com as medições já marcadas no bambu) instala-se o primeiro círculo que possui o diâmetro de 18 cm. O segundo (d=20 cm) é fixado após 22 cm do primeiro círculo, o terceiro (d=22,5 cm) após 12 cm do segundo, o quarto (d=25 cm) após 22 cm do terceiro, o quinto (d=25 cm) após 30 cm do quarto, o sexto (22,5 cm) após 22 cm do quinto, o sétimo (d=18 cm) após 12 cm do sexto e, por último, o oitavo (d=10 cm) após 22 cm do sétimo. Ao todo a estrutura possui 1,62 cm. Igualmente ao modelo de luminária de mesa, termina-se reunindo e fixando as cinco tiras de bambu com a fita adesiva, à aproximadamente 15 cm após o oitavo círculo. São inseridos rascunhos de papel sulfite nas áreas idealizadas para a taboa e, no lugar destinado ao papel de fibra de taboa, utiliza-se um papel plástico oriundo de uma caixa de sapato. Figura 34. Modelo finalizado de uma coluna. No modelo de luminária pendente o método usado é o mesmo dos anteriores. São utilizados cinco filetes de bambu e seis círculos iguais (d= 20 cm) de 90 papelão. O processo começa pela parte inferior do modelo, fixando o primeiro círculo. Depois de 8,3 cm do primeiro é colocado o segundo círculo, o terceiro é fixado após 5 cm do segundo, o quarto após 8,3 cm do terceiro, o quinto após 5 cm do quarto e o sexto após 8,3 cm do quinto círculo. Para representar a taboa e o papel de fibra de taboa utiliza-se rascunho de papel sulfite e sobras de papel plástico, respectivamente. Figura 35. Modelo de uma luminária pendente. Verificação Os modelos são apresentados a alguns possíveis usuários e, no geral, a idéia e a aparência das estruturas agradam as pessoas. Mas o design da coluna ganhou uma atenção especial e gerou mais interesse que as demais. Na pesquisa ao mercado foi verificado que dentre todos os cinco estabelecimentos visitados, existia apenas uma luminária de chão (coluna) ecológica. Esse fator unido à preferência das pessoas consultadas ajudou na decisão de escolher a coluna para a fabricação do protótipo. 91 10.7 Desenhos de Construção Escolhido o modelo da coluna, pode-se iniciar os desenhos de construção. Estes desenhos facilitarão a construção do protótipo. Pelo caráter mais rigoroso, eles são desenvolvidos com o auxílio de dois softwares: o AutoCAD e o Sketchup. Figura 36. Vista lateral do protótipo da coluna, com as respectivas medidas. 92 Figura 37. Vista superior do protótipo da coluna. Figura 38. Amostra de como será a disposição dos círculos. 93 Figura 39. Amostra da estrutura de bambu adaptada aos círculos. Figura 40. Desenho com as lâmpadas fluorescentes incluídas. 94 Figura 41. Desenho com a fibra de taboa já inserida. Figura 42. Desenho finalizado, contendo o papel de fibra de taboa. 95 10.8 Protótipo e solução Protótipo A construção do protótipo é bem semelhante à fabricação do modelo da coluna. Porém agora são utilizados os materiais originais. O bambu é colhido no município de Criciúma, Santa Catarina, e deixado de pé no local do corte por aproximadamente uma semana. Após esse processo inicial os pés de bambu são deixados ao sol, para uma secagem natural. Para um melhor acabamento é exercido um lixamento, retirando as impurezas da casca. São separadas cinco tiras verticais de bambu com o auxílio de uma faca. No protótipo, ao invés de utilizar os círculos de papelão do modelo para dar forma, são cortados 8 círculos de madeira. Começando a fabricação pelo lado de baixo, após 5 cm do começo das tiras verticais (com as medições já marcadas no bambu) instalase o primeiro círculo de madeira que possui o diâmetro de 18 cm e era o único fechado. Seguindo exatamente o mesmo esquema do modelo, o segundo círculo (d=20 cm) é fixado após 22 cm do primeiro círculo, o terceiro (d=22,5 cm) após 12 cm do segundo, o quarto (d=25 cm) após 22 cm do terceiro, o quinto (d=25 cm) após 30 cm do quarto, o sexto (22,5 cm) após 22 cm do quinto, o sétimo (d=18 cm) após 12 cm do sexto e o oitavo (d=10 cm) após 22 cm do sétimo. A taboa é instalada nos seus respectivos lugares, trançada na própria estrutura de bambu. Os papéis de fibra de taboa são fixados no centro do protótipo com cola de madeira. O uso de verniz sobre o bambu e a fibra foi desconsiderado, pois este impossibilitaria a reciclagem do produto. A coluna possui iluminação indireta proporcionada por duas lâmpadas fluorescentes de quinze watts de potência. O circuito elétrico da ligação da luminária é simples. As lâmpadas são ligadas em série, por um fio paralelo (Ø 1,5 mm), e acionadas por um interruptor simples de fio. A alimentação é fornecida por um plugue ligado diretamente a rede elétrica 210/220 V (CA). 96 Figura 43. Esquema de ligação elétrica da luminária. Figura 44: Protótipo finalizado. 97 Figura 45: Protótipo na exposição da Fundação Cultural de Criciúma. Para o evento procurou-se seguir uma linha sustentável de decoração. Além da coluna ecologicamente correta, o espaço obtinha uma mandala feita com jornal, um tapete de fibra de bananeira e uma almofada de fibra de taboa. 98 Solução Luminária ecologicamente correta TABOARTE. Fabricada com bambu, madeira, fibra de taboa e papel de fibra de taboa. Possui 1m e 62 cm e é relativamente leve. Possui dois receptáculos e sua iluminação é indireta e decorativa. Seu desenho, inspirado em arte indígena, é simples e de caráter rústico. 99 11. CONCLUSÃO Desde a Revolução Industrial vive-se em um intenso ritmo de desenvolvimento, tanto tecnológico, quanto dos meios de produção. Essa evolução propiciou a criação de diversos produtos e serviços que facilitaram e trouxeram comodidade à vida das pessoas. Porém, esse mesmo avanço causou sérios problemas ambientais e desigualdades sociais. Os designers contribuíram, e muito, para esse quadro. Aliados com o sistema capitalista, transformaram desejos em necessidades e incentivaram grande parte da população a praticar um consumismo exacerbado. Por muito tempo projetaram propositalmente produtos descartáveis para acarretar mais vendas. Empresas e indústrias trabalharam por anos retirando de modo irresponsável matérias primas da natureza e emitindo variados poluentes no meio ambiente. Tudo isto para atender a demanda de um mercado insaciável. Atualmente, a sociedade sente as conseqüências da constante degradação ambiental, tais como: aquecimento global, acúmulo de lixo no meio ambiente, poluição de águas, ar e solo, derretimento das geleiras, entre outros. O planeta não tem como recuperar-se dessa exploração e a vida contida na Terra está seriamente ameaçada. O ritmo de vida também se modificou com o passar dos anos. Aprende-se que tudo deve funcionar num processo acelerado e que o profissional bem sucedido é o mais ágil e veloz. É assim que as pessoas sobrevivem, com a mente fervilhando de responsabilidades e em um emaranhado de superficialidade. O modo de vida atual não permite um momento de fruição, um aprofundamento em tudo que é visto ou sentido. A identidade do ser humano é constituída a partir de um imaginário criado pelas indústrias. Essa aceleração e banalização somadas aos hábitos de consumo irracionais afastaram o homem da natureza e inverteram alguns de seus valores. Mas na verdade, a humanidade e todos os seus atos estão totalmente integrados ao meio ambiente e as pessoas precisam compreender essa realidade. Necessita-se recriar hábitos, modos de produção e consumo, e concordar em alternativas que levem à um desenvolvimento sustentável. A primeira modificação deve ocorrer no íntimo, no interior de cada ser humano, na sua visão de mundo, na sua maneira de pensar. Feito isso parte-se para 100 as ações. Todo profissional pode contribuir com a sustentabilidade. Artistas e designers, como genuínos formadores de opinião, também devem trabalhar em prol desse ideal. Designers devem encorajar hábitos de consumo ecologicamente corretos, criando produtos que carregam o que se chama de valor sustentável. Esses produtos deixam claro sua origem, informam sobre o seu uso, satisfazem uma necessidade real e colaboram com o crescimento sócio-econômico. Permitindo assim que o consumidor ou usuário reconheça-se em sua proposta, tornando-se um aliado consciente da situação global. A responsabilidade é de todos, mas o designer possui um papel fundamental na transformação da sociedade, porque ele afeta diretamente o modo de vida das pessoas e age como influenciador de atitudes. Sua ação ecológica é, sem dúvidas, muito importante para a continuidade da espécie humana. 101 12. REFERÊNCIAS AMBIENTE AS DIREITAS. Disponível em: <http://ambienteasdireitas.blogsome.com/2007/05/11/>. Acesso em: 13/06/2010. ANNES, Jacqueline. Manufatura ambientalmente consciente. Santa Cruz do Sul, RS : EDUNISC, 2005. BARBIERI , José Carlos. Gestão ambiental empresarial : conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo : Saraiva, 2004. BRAVO. Disponível em: <http://bravonline.abril.com.br/conteudo/bravo/materia_410734.shtm>. Acessado em 13/06/2010. BÜRDEK, Bernhard E. Design: História, Teoria e Prática do Design de Produtos. Tradução Freddy Van Camp. 1ª edição. São Paulo: Editora Edgard Blücher LTDA, 2006. CASA DO AQUECEDOR. Disponível em: <http://www.casadoaquecedor.com/imagens/SELO%20PROCEL%20gravata%20300 .png>. Acesso em: 03/05/2010. CHEHEBE, José Ribamar B. Análise do Ciclo de Vida de Produtos: Ferramenta Gerencial da ISO 14.000. Rio de Janeiro: Qualitymark, CNI, 2002. CICLO DE VIDA UFSC. Disponível em: <http://www.ciclodevida.ufsc.br/acv/Main.php?do=adminAction&action=exibirSubMen u&idSubMenu=5>. Acesso em: 04/06/2010. CODECA. Disponível <http://www.codeca.com.br/images/layout/simbolo_reciclagem.jpg>. 03/05/2010. Acesso em: em: COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 2003. DENIS, Rafael Cardoso. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2002. EARTH PLEDGE. Disponível <http://www.earthpledge.org/images/cert_logos/Blue-Angel.jpg>. 03/05/2010. Acesso ENERGIA EFICIENTE. Disponível <http://www.energiaeficiente.com.br/tag/artistas/>. Acesso em: 04/06/2010. em: em: em: FILHO, João Gomes. Design do Objeto: bases conceituais. São Paulo: Escrituras, dezembro de 2006. 102 GASI, Tânia Mara Tavares; FERREIRA, Edson. Produção mais limpa, ibid, JÚNIOR, Alcir Vilela; DEMAJOROVIC, Jacques (Orgs.). Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: Desafios e Perspectivas para as Organizações. São Paulo: Ed. Senac, 2006. GPWG (GRASS PHYLOGENY WORKING GROUP) 2001. Phylogeny and subfamilial classification of the grasses (Poaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden, 88 (3): 373-457. IRGANG, B. E. 1999. Comunidades de macrófitas aquáticas da planície costeira do Rio Grande do Sul - Brasil: um sistema de classificação. Tese de Doutorado, Curso de Pós-Graduação em Botânica, UFRGS, Porto Alegre. JORNADA. Disponível em: <http://www.jornada.unam.mx/2005/08/05/029n1mun.php>. Acesso em: 13/06/2010. JORNAL DA MANHÃ. Disponível em: <http://www.jmnet.com.br/>. Acesso em: 13/06/2010. JURISDIÇÃO DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <http://www.jurisambiente.com.br/ambiente/politicameioambiente.shtm>. Acesso em: 11/05/2010. KAZAZIAN, Thierry (Org.). Haverá a Idade das Coisas Leves: Design e Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Editora Senac, 2005. LEITE, Maria Isabel; OSTETTO, Luciana E. (Orgs.). Museu, Educação e Cultura: Encontros de Crianças e Professores com a Arte. Campinas: Papirus Editora, 2005. Coleção Ágere. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.); DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 26. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1998. NASCIMENTO, Luis Felipe do; VENZKE, Claudio Senna. Ecodesign, ibid JÚNIOR, Alcir Vilela; DEMAJOROVIC, Jacques (Orgs.). Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: Desafios e Perspectivas para as Organizações. São Paulo: Ed. Senac, 2006. NET VISÃO. Disponível em: <http://clientes.netvisao.pt/alfredoa/METODOLOGIA/METODOLOGIA%20PROJECT UAL%20com%20arroz%20verde.htm>. Acesso em 13/06/2010. PENSANDO VERDE. Disponível em: <http://pensandoverde.blogtv.uol.com.br/2008/11/03/krajcberg-arte-ecologica-nomamsp>. Acesso em: 04/06/2010. 103 PLANALTO DO GOVERNO FEDERAL. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 10/05/2010. PLATCHECK, Elizabeth Regina. Metodologia de Ecodesign Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. Porto Alegre, 2003. para o REA, Louis M.; Parker, Richard A. Metodologia de Pesquisa: do Planejamento à Execução. Tradução Nivaldo Montigelli Jr; Revisão Técnica Otto Nogami. São Paulo: Pioneira, 2000. REITZ, Raulino. Tifáceas. Itajaí, SC: Herbário Barbosa Rodrigues, 1984. RIBEIRO, Maurício Andrés. Ecologizar: pensando o ambiente humano. Brasília: Ed. Universa, 2005. SÁNCHEZ, Luis Enrique. Avaliação de impacto ambiental : conceitos e métodos. São Paulo : Oficina de Textos, 2006. SÁNCHEZ-KEN, J.G., CLARK, L.G., KELLOGG, E.A. & KAY, E.E. 2007. Reinstatement and emendation of subfamily Micrairoideae (Poaceae). Systematic Botany, 32 (1): 71-80. SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia Científica: a Construção do Conhecimento. 6. ed. Revisada (conforme NBR 14724:2002). Rio de Janeiro: DP&A, 2004. SANTOS, A. M. & ESTEVES, F. A. 2002. Primary production and mortality of Eleocharis interstincta in response to water level fluctuations. Aquatic botany 74(3): 189-199. SCHMIDT, R.LONGHI-WAGNER, H. M. A tribo Bambuseae (Poaceae, Bambusoideae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 7, n. 1, p. 71-128, jan./mar. 2009 SCOTTO, Gabriela; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; GUIMARÃES, Leandro Belinaso. Desenvolvimento sustentável. Petrópolis : Vozes, 2007. SILVA, Gil Anderi da; Kulay, Luiz Alexandre. Avaliação do ciclo de vida, ibid, JÚNIOR, Alcir Vilela; DEMAJOROVIC, Jacques (Orgs.). Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental: Desafios e Perspectivas para as Organizações. São Paulo: Ed. Senac, 2006. SILVEIRA, T. C. L.; SOUZA, G. C.; RODRIGUES, G. G. Crescimento, Produção Primária e Regeneração de Typha domingensis Pers.: Elementos para Avaliação do Uso Sustentável da Espécie. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 1, p. 678-680, jul. 2007 SOUZA, Vinicius; LORENZI, Harri. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2. Ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008. 104 UNIBLOG. Disponível em: <http://www.uniblog.com.br/aracelilemos/92336/o-mapados-conflitos-socioambientais-poe-a-nu-a-farsa-do-atual-modelo-dedesenvolvimento-na-amazonia.html>. Acesso em: 13/06/2010. VASCONCELLOS, Raphael Moras de. Luminárias de Bambu: o conceito e a razão. Rio de Janeiro, 2009. VIGOTSKY, Lev Semenovitch. Psicologia da Arte. São Paulo.Martins Fontes, 1999. WIKIPEDIA. Disponível <http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial>. 03/06/2010. Acesso em: em: 105 13. APÊNDICE Questionário Questionário formulado para comerciários, cujo objetivo é coletar dados para realização da Obra do Projeto de Conclusão de Curso – TCC II, onde o tema abordado é “O ecodesign como fator transformador da sociedade”. 1 – Por qual tipo de luminária decorativa para ambientes domésticos existe maior procura? ( ) Arandela ( ) Pendente ( ) Luminária de mesa ( ) Coluna ( ) Calha 2 – Por qual tipo de iluminação decorativa existe maior procura? ( ) Direta ( ) Semi-Direta ( ) Direta&Indireta ( ) Semi-Indireta ( ) Indireta ( ) Difusa 3- Qual fator determina a escolha definitiva do cliente? ( ) Preço ( ) Qualidade ( ) Design ( ) Responsabilidade ecológica ( ) Outro 4 – Existe em sua loja opções de luminárias decorativas de baixo impacto ambiental? ( ) Sim 106 ( ) Não 5 – Existe uma procura e preocupação dos clientes por esse tipo de produto ecológico? ( ) Sim ( ) Não 6 – Você acredita que uma luminária decorativa para ambientes domésticos, bonita e economicamente viável, fabricada com taboa poderia ser comercializada? ( ) Sim ( ) Não 107 14. ANEXOS Itaimbé Artes Segundo a presidente do Itaimbé Artes, Maria Inês da Rocha, o grupo de artesanato surgiu através de uma iniciativa da prefeitura de Praia Grande, que obteve apoio do turismo do município. Devido ao grande potencial natural, a cidade recebe um grande número de visitas, e uma das preocupações do turismo é fortalecer a cultura local com o intuito de mostrar-se mais qualificado. Em meados de 2005 foi consolidada uma parceria com a SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), na área de artesanato, com o intuito de produzir um produto que tivesse a „cara da cidade‟, identificando a cultura da região. Com os profissionais altamente qualificados do SEBRAE foi iniciado um trabalho junto à associação de mulheres, oferecendo um curso especializado. Conforme descreve Maria Eriete Pereira Delettine, ex presidente da Itaimbé Artes, o curso de capacitação começou com aproximadamente quarenta pessoas. Inicialmente foi oferecido um ano destinado à aulas teóricas, instruindo técnicas variadas de desenvolvimento de produto e modos de comercialização. No primeiro ano foram realizadas experimentações, resultando na fabricação de bonecos praticando o bóia cross e montanhismo, esportes típicos da região, devido à hidrografia e relevo com presença de cânions. Os bonecos eram confeccionados em madeira, pela matéria prima representar um fator forte da cultura local. Eles foram espalhados pela cidade, colocados em pousadas e outras instituições turísticas. Porém, como produto os bonecos não tiveram retorno, sendo sua demanda praticamente nula. No final do ano, decepcionado com o rendimento de seu trabalho, o grupo entra em crise e acontecem algumas desistências de artesãs. 108 Figura 46. Boneco montanhista confeccionado em madeira. Maria Inês informa que como sugestão de um dos profissionais da EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) a associação uniu-se com mais outros dois grupos fragilizados, com o intuito de reunir forças e aperfeiçoar os trabalhos. Um deles trabalhava com o tear e o outro havia iniciado estudos com a taboa. Através dessa junção foi resgatada a idéia dos chinelos, que já havia sido explorada pelo grupo da taboa e abandonada com o tempo. Com o apoio de alguns designers, entre eles João Luís Rieth, os chinelos evoluíram como produto, sendo gradativamente aperfeiçoados. Atualmente as mulheres produzem chinelos de taboa em modelos de inverno, verão e tamanco. Os chinelos de verão obtiveram ajuda de uma descendente de japoneses que ensinou uma técnica oriental de trança para os solados. 109 Figura 47. Trança utilizada pelas artesãs do Itaimbé Artes como base para a fabricação dos chinelos. O grupo Itaimbé Artes também produz outros produtos como suplás e suportes de panelas, e assim como os chinelos, são fabricados a partir de um trançado. Com o auxílio de um tear de prego algumas artesãs realizam outros projetos como: cortinas, cestas, esteiras, tapetes, bolsas e almofadas. Porém o chinelo caracteriza o trabalho primordial das artistas. Figura 48. Chinelos de taboa modelo de inverno. 110 Figura 49. Suplás e suportes de panelas confeccionados com taboa. A principal rentabilidade dos chinelos e outros produtos acontece através das vendas em feiras, nas quais as artesãs viajam constantemente para expor suas obras. Somente no ano de 2010, sendo que a entrevista aconteceu em maio de 2010, as mulheres já haviam participado de três feiras. Entre elas a Feira Sustentável em Joinvile, no mês de maio, e a exposição do Arte Catarina em Florianópolis, que aconteceu durante todo o mês de janeiro. Além desses eventos a associação possui alguns pontos que revendem seus produtos. Um deles, a loja da Coopervida, é localizada na própria cidade de Praia Grande e consiste numa cooperativa de consumidores de produtos orgânicos. A Itaimbé Artes também selou uma parceria com as lojas de artesanatos da SEBRAE, instaladas em Florianópolis, Lages e Criciúma. 111 Figura 50. Bolsa de taboa fabricada com o auxílio de tear e à venda na Coopervida , Praia Grande – SC. As maiores dificuldades enfrentadas pelo grupo atualmente, na opinião de Maria Eriete, se dá pela falta de um lugar propício para acontecer as reuniões, como também de um espaço adequado para a secagem da taboa. O único local disponível é uma construção aberta, com apenas uma pequena sala fechada que funciona como depósito, e localiza-se ao lado de uma barulhenta fábrica. Essas condições causam desconforto e desânimo nas artesãs e talvez seja responsável pelo número reduzido delas na associação (onze artesãs), que segundo Maria Inês, caracteriza um problema ainda maior que a falta de lugar apropriado. Figura 51. Artesã do grupo Itaimbé Artes, dando acabamento a um chinelo de taboa. 112 O grupo informa que a taboa nasce naturalmente, e pode ser considerada uma indicadora de áreas preservadas. A utilização do vegetal na região é antiga, os antepassados a utilizavam para compor algumas partes de cadeiras, rechearem colchões e travesseiros (aproveitando as plumas da taboa) e fabricar esteiras. Desse modo ela enriquece o artesanato por fazer parte da tradição da cidade. A responsável pela colheita e secagem da matéria prima é a artesã Lydia Bortolin de Jesus. Lydia pratica a extração preferencialmente durante o período de Lua Minguante para não “bichar” a planta e afirma que o processo de secagem é essencial para que a fibra não apresente fungos e bactérias no decorrer do processo produtivo. Ela informa que o manejo de retirada da taboa é de impacto positivo no meio ambiente. A planta não é prejudicada com o corte, na verdade, ele é benéfico porque a faz crescer com mais vigor. Os pontos de cortes são controlados, sendo que a retirada num local específico só acontecerá novamente após um ano. A utilização da taboa no artesanato local é de uma grande importância ambiental, pois promove uma conscientização ecológica nas pessoas através de seus produtos artesanais. A atividade altamente sustentável conserva os habitats da planta e ainda garante a sua permanência no local. Como também promove e valoriza a grande biodiversidade e todo o espetáculo de natureza existente na região dos cânions. Além do inquestionável beneficiamento ambiental não há como negar a importância social desse trabalho. A associação deu uma nova perspectiva na vida dessas tão simpáticas „mulheres de fibra‟. O artesanato consome boa parte de seu tempo e apesar de todas as dificuldades continuam e persistem na luta de um ideal. É emocionante perceber a paixão na fala de Maria Eriete quando diz “não sei o que faria sem o artesanato na minha vida”. 113 Figura 52. Colaboradores do Grupo Itaimbé Artes. ACEVAM Segundo Paulo Giovani Selau, técnico agrícola, a ACEVAM (Associação dos Colonos Ecologistas do Vale Mampituba) tem como principal objetivo a realização de trabalhos sustentáveis. Existe desde 1994 e incentiva a agroecologia, desenvolvendo produtos agrícolas sustentáveis sem a utilização de agrotóxicos e produtos químicos. Para angariar recursos a instituição auxilia alguns projetos do Ministério do Turismo e do Meio Ambiente. Em 2006 a ACEVAM inicia um vínculo com o turismo rural e com o artesanato. Um projeto do Ministério do Meio Ambiente, chamado PDA, sugeriu a utilização de fibras naturais, por ser uma matéria prima local. As artesãs inspiradas pelo trabalho de uma artista do norte catarinense adotam a idéia de fabricação de papéis a partir das fibras de taboa e de bananeira. A partir desses papéis são confeccionados cadernos, agendas, entre outros trabalhos do gênero. 114 Figura 53. Papel de fibra de bananeira fabricado pelas artesãs da ACEVAM, Praia Grande – SC. Figura 54. Papel de fibra de taboa fabricado pelas artesãs da ACEVAM, Praia Grande – SC. 115 Figura 55. Caderno e agendas confeccionadas a partir dos papéis de fibra de bananeira e taboa.