ARGILA DISPERSA EM ÁGUA E GRAU DE FLOCULAÇÃO DE UM ARGISSOLO VERMELHO AMARELO SOB DIFERENTES COBERTURAS VEGETAIS Marilia Alves Grugiki1, Tiago Oliveira Godinho1, Marcos Vinícius Meneses Vieira2, Carlos Lacy Santos3, Renato Ribeiro Passos4, Otacílio José Passos Rangel5 1 UFES/Departamento Engenharia Florestal, Avenida Carlos Lindemberg, s/n, Centro, Jerônimo Monteiro, ES, [email protected] ; [email protected] 2 UFES/Departamento Engenharia Rural, Alto Universitário, s/n, Guararema, Alegre, ES, [email protected] 3 Escola Agrotécnica Federal de Santa Teresa do Espírito Santo – EAFST/Professor, Santa Teresa, ES, [email protected] 4 UFES/Centro de Ciências Agrárias/Departamento de Produção Vegetal, Professor Adjunto, Alegre, ES, [email protected] 5 Escola Agrotécnica Federal de Alegre – EAFA/Professor, Alegre, ES, [email protected] Resumo - O presente trabalho teve como objetivo o estudo da modificação dos atributos físicos do solo (argila dispersa em água e grau de floculação), em três diferentes coberturas vegetais (cultivo de eucalipto, mandioca e sorgo) e em três profundidades (0 a 0,05 m, 0,05 a 0,10 m e 0,10 a 0,20 m). As amostras de solo foram coletadas na área experimental do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES), Campus de Alegre. O delineamento experimental foi montado em blocos casualizados no esquema de parcelas subdivididas. Os resultados experimentais mostram que a argila dispersa em água não apresentou diferença significativa em relação à cobertura vegetal, sendo o solo cultivado com mandioca o que apresentou menor valor. Quanto ao grau de floculação, houve diferença estatística apenas em relação à cobertura vegetal. Palavras-chave: Atributos físicos do solo, dispersão do solo, uso e manejo do solo. Área do Conhecimento: Ciências do solo, Física do Solo. Introdução O solo é um corpo tridimensional formado por uma parte sólida e pelos espaços porosos (ZUCOLOTO et al., 2007). Constitui o recurso natural básico de uma nação, sendo um recurso renovável, se conservado e usado devidamente. Segundo Hamblin (1985), o processo de desagregação do solo pode causar impedimento ao crescimento das raízes das plantas e ao movimento da água no perfil do solo, limitando, assim, a produtividade das culturas. O preparo do solo, segundo Muzilli (1985) citado por Lemos & Silva (2005), pode ser definido como a manipulação física, química ou biológica do solo, utilizando-se várias técnicas adequadas, que permitem a alta produtividade das culturas a baixo custo. O cultivo intensivo do solo e o seu preparo em condições inadequadas alteram suas características físicas em graus variáveis. Tais fatos, associado às precipitações pluviométricas intensas que podem ocorrer na época de preparo e crescimento inicial das plantas, constituem fatores responsáveis pela desagregação da estrutura e formação de camadas compactadas (SOUZA et al., 2004). Com isso, podem-se observar alterações no teor de argila dispersa em água (ADA) e consequentemente no grau de floculação do solo (GF), já que GF e ADA são inversamente proporcionais (EFFGEN et al., 2006). O presente trabalho teve como objetivo o estudo da modificação dos atributos físicos do solo (argila dispersa em água e grau de floculação), em três diferentes coberturas vegetais e em três profundidades de um Argissolo Vermelho Amarelo. Material e Métodos O presente trabalho foi conduzido na área experimental do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo (IFES), Campus de Alegre, com latitude de 20° 45’ e longitude de 41° 27’, precipitação média anual de 1200 mm, altitude média de 120 m e temperatura anual em torno de 26° C. O clima é classificado de Köppen, como sendo do tipo Aw, com estação seca no inverno e verão quente e chuvoso. O solo da área experimental é um Argissolo Vermelho Amarelo (EMBRAPA, 1999) com diferentes sistemas de uso do solo, sendo selecionadas três áreas adjacentes (uma para cada tipo de uso), distribuídas numa faixa homogênea de solo. Os tipos de uso e manejo do solo avaliado foram: eucalipto, mandioca e sorgo. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 A área com eucalipto (Eucalyptus spp.) foi anteriormente cultivada com pastagem sendo instalado em 2005. O plantio foi realizado no espaçamento 3x2 m, com adubação de plantio recomendada para a cultura e preparo convencional do solo (aração e gradagem), não sendo realizado nenhum corte de árvores. A área com cultivo de mandioca está sendo cultivada desde o ano de 2006. O plantio da mandioca (Manihot esculenta Crantz.) variedade Cacau Branca, foi realizado com revolvimento do solo (aração e gradagem) e adubação, sendo o controle das ervas daninhas feito com herbicidas pré-emergentes ou por meio de capinas manuais. Não houve o plantio de culturas intercalares ou em sucessão à mandioca. A área com o sorgo (Sorghum bicolor (L) Mench) variedade Agroceres AG 207, está sendo cultivada por período superior a 12 anos. O plantio do sorgo foi realizado com preparo convencional do solo (aração e gradagem) e adubação. O controle das ervas daninhas é feito com a aplicação de herbicidas pré-emergentes ou por meio de capinas manuais. O delineamento experimental foi montado em blocos casualizados no esquema de parcelas subdivididas. A determinação da argila dispersa em água (ADA) e do grau de floculação (GF) foi feita no Laboratório de Física do Solo do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA/UFES). Para tanto foram coletadas amostras deformadas em três profundidades (0 a 0,05 m, 0,05 a 0,10 m e 0,10 a 0,20 m) em cada parcela experimental, sendo, posteriormente, destorroadas e passadas em peneira de 2 mm, para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). Posteriormente foram determinados: argila total – AT (pela análise granulométrica); argila dispersa em água – ADA; e o grau de floculação – GF. O método de dispersão física utilizado foi o da agitação lenta a 175 rpm. Assim, para a determinação da AT pesou-se uma amostra de 10 g de TFSA e acondicionou-se em um recipiente plástico de 100 mL, com dez esferas de metal com diâmetro de 0,4 cm, colocando-se 50 mL de NaOH -1 a 0,1 mol L . Em seguida o recipiente plástico foi colocado, por 12 horas, em um agitador horizontal. Decorrido o período de agitação o conteúdo de cada recipiente foi passado em uma peneira de 0,053 mm (ABNT. Nº 70), para a retirada da fração areia. A suspensão que passou pela peneira foi colocada em uma proveta de 1000 mL, completando-se o volume com água destilada para 1000 mL e agitada por 1 minuto com um bastão. Depois dessas etapas, a fração argila foi obtida de acordo com a lei de Stokes – coletando-se 25 mL da suspensão a uma profundidade de 5 cm, após tempo estabelecido de acordo com a temperatura da suspensão e profundidade de coleta, sendo levada para estufa a 105ºC por 24 horas e posteriormente pesado em balança eletrônica de precisão (COSER et al., 2007). O peso de argila é obtido descontando o valor de NaOH coletado nos 25 mL de suspensão. Com -1 isso, o valor da AT (g kg ) de cada parcela foi obtido pela equação: AT = Massa argila (g) * 1000/10 * 1000/25 A determinação da ADA segue praticamente todos os passos apresentados para determinação da AT, entretanto, não é utilizado dispersante -1 químico (NaOH a 0,1 mol L ), sendo adicionado, ao recipiente plástico de 100 mL, 50 mL de água -1 destilada. Assim, o teor de ADA (g kg ) de cada parcela foi obtido pela equação: ADA = Massa argila (g) * 1000/10 * 1000/25 De posse dos valores de AT e ADA foi calculado o GF (%) pela Equação: GF = (100*(AT – ADA))/ AT Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o software SAEG. Resultados Na Tabela 1 são apresentados os resultados do teste F da argila dispersa em água (ADA) e do grau de floculação (GF) do Argissolo Vermelho Amarelo, nas profundidades de 0-0,05; 0,05-0,10 e 0,10-0,20 m, sob diferentes coberturas vegetais. Tabela 1 - Valores de F da análise de variância dos fatores cobertura vegetal e profundidades para a argila dispersa em água (ADA) e grau de floculação (GF) de um Argissolo Vermelho Amarelo Fonte de Variação ADA GF 0,55 ns 5,42 * Profundidade 0,65 ns 0,04 ns Interação 0,3 1,55 ns CV (%) 9,42 Cobertura Vegetal ns 19,83 ns Não significativo; * Significativo ao nível de 5 % de probabilidade pelo teste F. Para as diferentes coberturas vegetais, o grau de floculação apresentou diferença significativa em seus teores (Figura 1). XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 35 A AB Graude floculação (%) 30 B 25 20 15 10 5 0 Mandioca Eucalipto Sorgo Figura 1. Valores médios do grau de floculação no Solo sob Mandioca, Eucalipto e Sorgo. Valores seguidos por mesma letra não apresentam diferença significativa entre os tratamentos ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. Não houve efeito significativo da profundidade do solo sobre a argila dispersa em água e o grau de floculação do solo. Discussão O fenômeno da dispersão-floculação é influenciado pela matéria orgânica do solo (OADES, 1988), a qual afeta o desenvolvimento da estrutura e relaciona-se com o balanço das cargas elétricas do solo (GOMES et al., 1994). De acordo com os resultados apresentados, observa-se que os valores para argila dispersa em água não diferem significativamente em relação as diferentes coberturas vegetais. Esperava-se diferenças entre os usos do solo quanto a ADA, em função das coberturas vegetais distintas utilizadas neste estudo. Em relação aos teores de ADA na diferentes profundidades, observa-se que em todas as áreas cultivadas não houve diferença significativa, o que geralmente não é esperado, já que os teores de ADA tendem a diminuir com o aumento da profundidade do solo, conforme observado por Alleoni & Camargo (1994). Outro fator que pode ter influenciado neste resultado é o fato de todas as profundidades terem sido revolvidas com a aração e gradagem. De acordo com Carvalho Júnior (1995), práticas de manejo tais como preparo do solo, adubações e calagens intensivas, algumas vezes executadas de modo incorreto, ocasionam alterações físicas do solo, com reflexos nos atributos físicos, químicos, físico-químicos e atividades biológicas. Quanto ao grau de floculação, apenas houve diferença estatística em relação à cobertura vegetal, já para as diferentes profundidades não ocorreu diferença estatística. A área cultivada com mandioca foi a que apresentou o maior índice do grau de floculação em comparação as demais áreas. Esperava-se que a área com o eucalipto apresentasse o maior de grau de floculação, pois, está há mais tempo implantada e também por ser, dentre essas culturas, a que apresenta maior aporte orgânico. O resultado encontrado está associado com o histórico da área cultivada com eucalipto, onde anteriormente havia pastagem e o trânsito de animais na área, favorecendo assim a compactação e, consequentemente, acarretando redução do GF do solo. Espera-se, com o decorrer do tempo, que haja um aumento do GF deste solo, principalmente na parcela cultivada com o eucalipto, pois segundo Metzner et al. (2003), em solo onde não há o revolvimento de solo, as partículas de argila e matéria orgânica participam como agregantes na floculação. Os valores de GF são superiores aos encontrados por Santos (2008) trabalhando com leguminosas em um Latossolo Vermelho Amarelo. Do ponto de vista agrícola, Lemos & Silva (2005) afirmam que a floculação é importante para o controle da erosão, já que propicia a formação de agregados estáveis ou grânulos. Isso se justifica, pois ocorre uma maior permeabilidade do solo penetração das águas, favorecendo o crescimento vegetal (BUCKMAN, 1979, citado por LEMOS & SILVA, 2005). Conclusão Com base nos resultados obtidos pode-se XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 concluir que: • Não houve interação da cobertura vegetal e da profundidade do solo, para os atributos avaliados, denotando que estes fatores, neste estudo, atuam isoladamente; • Com relação à profundidade ambos os atributos avaliados não apresentaram diferença significativa entre as camadas de solo estudada; • O solo cultivado com mandioca apresentou um maior grau de floculação. Referências - ALLEONI, L. R. F.; CAMARGO, O. A. Atributos físicos de Latossolos ácricos do nortes paulista. Acientia Agrícola, Piracicaba, v. 51, p.321-326, 1994. - CARVALHO JÚNIOR, I. A. 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