A n O B E O S I S P O É T I C * A AO ILLUSTRISSIMO, E EXCELLENTISS1M0 S E N H O R LUIZ DE E YASCONCELLOS S O U S A , VICE-REI, E CAPITÃO de Mar, e Terra do Brazil, GENERAL &c. &c. &c. C A N Ç A O OFFERECIDA NO DIA 10 DE OUTUBRO DE 178$ ÍO R M A N O E L I G N A C I O A LVA DA SILVA R E N G A VrofcJJor Regio de Rhetorica na Opital do Rio de Janeiro. L I S B O A NA R £ GIA OFFICINA F Y P O G R A F I C A. f CANÇÃO. x r flor da Luíitana G e n t e , N o b r e inveja da eftranha, D ' a n t i g o s R e i s preclaro defcendente, ( i ) L u i z , a quem fe humilha quanto banha D o Grão T r i d e n t e o largo Senhorio , D e f d ' o Amazonio, até o Argenteo R i o . (2) J R — Á GREGIA Em quanto concedeis repoufo breve Ás redeas do G o v e r n o , Ouvi a M u f a , que a levar fe a t r e v e , Ao fom da Lyra de o u r o , em canto eterno O N o m e voíTo a fer brilhante Eftrella, Onde habita immortal a Gloria bella. Só ás Filhas do Ceo foi concedido D o Lethes f r i o , e laflo O s Heroes l i b e r t a r ; calca atrevido T e m p o devorador, com lento paíTo, T u d o quanto os mortaes edificarão; N e m deixa os écos das acções, que obrarão. * iii (4) Receba o vaíto Mar no curvo feio (3) Os mármores talhados; O amorofo Delfim, o Tritão feio Refpeitem temerofos, e admirados A Muralha, onde T h e t i s quebra a f ú r i a ; D o maritimo Jove eterna injúria. Ao ar fe eleve Torre mageftofa, (4) Thefouro a m p l o , e profundo Das riquezas, que envia a populofa E u r o p a , e Afia grande ao Novo M u n d o ; Por quem foberbo, ó R i o , ao mar te aíTomas, T u , que do Mez primeiro o nome tomas. (5-) Lago trifte , e m o r t a l , no abyfmo efconda (6) Peftiferos venenos; E o l e i t o , onde dormia a efteril onda r Produza os Bofques, e os Jardins amenos r Que adornando os frefquiífimos lugares, D e m fombra á terra , e dcm perfume aos ares» O voíTo invi&o Braço os bons proteja r E os foberbos opprima: Modelo fempre illuftre em Vós fe veja D e alma g r a n d e , a quem bella gloria anima ; Regendo o Sceptro r e f p e i t a d o , e b r a n d o ; Digno da Mão > que Vos confia o Mando» Os ( 5 ) Os juítos prêmios de emula Virtude Da voíTa mão excitem Ao n o b r e , ao generofo, ao f r a c o , e rude : As Artes venturofas refufcitem; E achando em Vós hum inclyto Mecenas, Nada invejem de R o m a , nem de Athenas. A P a z , a doce Paz contemple alegre As Marciaes bandeiras: P r u d e n t e , e jufto o voíTo Arbitrio r e g r e , E firme a forte de Nações inteiras; Derramando por tantos meios novos A ditofa abundancia fobre os Povos. Crefça a prófpera Induftria , que alimenta' O s folidos thefouros: O Ocio t o r p e , e a Ambição violenta Fujão com funeftiíTimos agouros; Fuja a céga I m p i e d a d e ; e por caftigo Negue-lhe o M a r , negue-lhe a T e r r a abrigo. Acções famofas de louvor mais d i g n a s , Que as de C e f a r , e Mario 1 Vós não fereis ludibrio das malignas Revoluções do T e m p o i n i q u o , e v a r i o : Que as bellas M u f a s , para eterno exemplo, J á vos confagrao no Apollineo T e m p l o . ( 6 ) Lá fe erige mais folida columna, Que o mármore de Paros; E longe dos teus g o l p e s , ó F o r t u n a , Lá vive a imagem dos Heróes preclaros: Aílim refpeita o tempo os nomes bellos D e Scipiões, de Emilios, de Marcellos. Entre eftes vejo o Achilles Lulítano, (7) Que prodigo da vida, Foi o açoute do barbaro Africano, E exemplo raro d'alma efclarecida, D e que são teftemunhas nunca mortas D'Ourique o c a m p o , de Lisboa as portas. O grande Vafconcellos vejo armado, (8) Que arranca, e defpedaça O alheio ferreo j u g o enfanguentado; E os foberbos Leões forte ameaça; Da guerra o raio f o i , da paz o l e m e ; America inda o chora, Hefpanha o teme. Quem he o que entre todos fe aíUnála N o próvido confelho, E no valor, e na prudência iguala Da antiga Pylos o famofo velho ? (9) H e P e d r o , que com hombros de diamante (10) Foi d'hum > e d o u t r o Ceo robufto Atlante. Mas ( 7 ) Mas que lugar gloriofo Vos efpera A par de taes Maiores, Inclyto H e r o e , na fcintilante esfera ? Eu vejo o Bufto, que entre refplandores As Virtudes, e as Mufas vos levantão Ao fom dos hymnos, que alternadas cantão. L u i z , Luiz a abobada celefte Por toda a parte foa ; E * t u , ó C l i o , tu que lhe tecefte Co*a propria mão a nitida coroa, A voz levantas, entornando as Graças O ne&ar generofo em aureas taças. Delicia dos humanos, clara fonte D e Juftiça, e Piedade , Não fentirás do pállido Acheronte Ferreo fomno, nem denfa efcuridade. Cantou a Mufa : a Inveja fe devora, E o Tempo québra a fouce cortadora. Então, d'entre fegredos tenebrofos Erguendo o braço augirfto, Que vio nafeer os Orbes luminofos, Dá vida á Eternidade ao novo Bufto. Hum chuveiro de luz fobre elle defee, E nova Eftrella aos homens apparece. Af- ( 8 ) Aftro benigno! eu te offereço a Lyra De louros enramada; R e c e b e . . . . ella já voa, e íobe, e gira , Rompendo os ares de efplendor cercada; Já Satellite adorna o Firmamento, E te acompanha lá no Ethereo AíTento. Canção, quanto te invejo! Vai; e ao feliz Habitador do Téjo Conta que a nova Eltrella, Banhada em luzes da Rainha Augufta, Refleíle ao Novo Mundo a Imagem delia. F I M. ( 9 ) ( 1 ) Para verificar-fe Real a Afcendenein deita Excellentiflima Família, bafta norar, que fendo a lua varonía d e V a f concellos, e tendo principio noConde D. O f o r i o , efte cafou com D. R u f a , Neta d'ElRei D.Fernando; e igualmente que o Excellentillimo Senhor Affonío de Vafconcellos , fetimo Conde da Calheta , cafou com a Princeza Pelagia Semfronia de R o h a n , de quem nafceo o Illuftriflimo, e Excellentifiimo Senhor Jofé de Vafconcellos e S o u f a , quarto Conde de Caftello-Melhor. (2) Defde o Rio da Amazonas até o da Prata eílão as Províncias, que fórmão o Eftado do Brazil. (3) O novo Caes na Marinha da Cidade. ( 4 ) O magnífico edifício da Alfandega, qtie tem na frente cfta Infcripção í En, Maria Prima regnante , è pulvere furgit Et Vafioncelti Jlat domus ijla maiiu. , ( 5 ) O Rio de Janeiro. (6) O Paífeio púhiico no lugar , onde houve huma Laô a , que inficionava a vizinha Cidade. Eftc (itio he delicioo , pela fombra, e boa ordem das arvores, plantas aromáticas , e cryftallinas fontes. (7) Martim M o n i z , Filho efe D. Moninho O f o r i o , e N e t o do Conde D. Oforio , governou huma das linhas da batalha do Campo de O u r i q u e , onde deo grandes provas do feu val o r ; e depois no anno de 1147, quando EIRei D . AíFonfo I. fitiou , e ganhou Lisboa , morreo valerofamente nas portas do Caftello, que ainda conferváo o feu nome. ( 8 ) D. João Rodrigues de Vafconcellos e Soufa, fegundo Conde de Caftello-Mclhor, na guerra da Acclamaçáo ganhou muitas viftorias , e governou as Armas das Províncias de Trás os Montes, do M i n h o , o Exercito do A l e m - T e j o , e depois o EftaJo do Brazil. ( y ) Neftor o mais prudente dos Gregos. (10) Pedro de Vafconcellos e Souía , Filho de Simáo de Vafconcellos e Soufa , Neto de D. Joáo Rodrigues de Vafconcellos e Soufa, foi Mcftre de Campo General com o Governo das Armas do Minho, Beira, e Alem-Tcjo, Governador , e Capitão General do Eftado do Brazil , Embaixador extraordinário á Corte de Madrid, do Conielho de Guerra, Eltribeiro Mór da Princeza do Brazil, Scc.. f8" ^ *5*í V *cT £ a