TÍTULO: ADOLESCENTES E O USO DO PRESERVATIVO FEMININO
Autores:
Luiza Maria Figueira Cromack; Dulce Maria Fausto de Castro; Stella Regina
Taquette; Francislene Pace; André Melo; Janice Dutra; Roberta Souza.
INSTITUIÇÃO: PROGRAMA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA - NÚCLEO DE ESTUDOS
DA SAÚDE DO ADOLESCENTE - NESA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
Endereço: AV. 28 de setembro, 109 - Fundos - Pavilhão Floriano Stoffel - Vila
Isabel - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20551-030
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E-mail: ([email protected])
INTRODUÇÃO
O Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) é o setor da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) responsável pela atenção integral à saúde do
adolescente, conta com os três níveis de atenção a saúde. O Programa de
Orientação em Sexualidade e Prevenção em DST/Aids é desenvolvido pela equipe
de Atenção Primária do NESA, tendo em vista sua atuação na promoção de saúde
e prevenção de DST/ HIV. Desde 1994, este Programa funciona como projeto
extensão universitária, conta a participação de alunos de diversos cursos, tais
como : medicina, enfermagem, serviço social, psicologia, matemática e
comunicação social. Estes alunos
desenvolvem atividades assistenciais, de
ensino e de pesquisa.
O Programa de Orientação em Sexualidade e Prevenção em DST/Aids foi o
pioneiro
na
distribuição
sistemática
de
preservativos
masculinos
para
adolescentes e atualmente é o único serviço público do estado que possibilita o
acesso do preservativo feminino às adolescentes, resultado de uma parceria com
a Assessoria de DST / Aids da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro.
O objetivo principal do Programa é facilitar o acesso dos adolescentes a
informações e orientações sobre sexualidade bem como aos preservativos seu
uso e quanto a prática do sexo mais seguro. Tendo em vista a recente introdução
do preservativo feminino em nosso meio , entende-se a importância de uma
avaliação qualitativa de sua aceitabilidade, junto às adolescentes, com intuito de
nortear práticas educativas , individuais e de grupo, que possam promover mais
efetivamente sua adoção, reconhecendo-o como um importante instrumento na
prevenção das DST/Aids.
JUSTIFICATIVA:
No Brasil, foram notificados até 31 de março de 2001, um total de 210447 casos
de Aids, desses, com idade conhecida, 86,99% têm entre 20 e 49 anos. O estado
do Rio de Janeiro é o segundo da união em número de casos, com 30073 (dados
preliminares até 30/06/2001) precedido apenas por São Paulo. Dentro do estado o
município do Rio de Janeiro tem 21499 casos. Destes quase 10% (9,76%) entre
10 e 24 anos, o que se torna mais significativo se traduzirmos em números
absolutos, concluindo que nesta faixa etária, são 3237 adolescentes notificados no
estado com Aids. Do total de casos notificados, 70,3% foram notificados dos 20
aos 39 anos, fato que considerando o longo periodo, devido a história da doença,
que em geral se passa entre a contaminação e a notificação, sugere a
adolescência como período de provável contaminação em muitos casos.
Sabemos também que é em geral na adolescência que se inicia a atividade sexual
e que na maioria das vezes a primeira relação sexual se dá sem utilização de
nenhum método de prevenção quanto a gravidez indesejada ou DST/Aids e que
falta de informação e falta de acesso aos métodos de prevenção são apontados
como questões cruciais para alteração deste quadro ( Santos e Santos, 1999).
O Programa tem papel fundamental diante ainda, do cenário atual do crescente
número de casos de Aids entre as mulheres surgindo o preservativo feminino,
como mais uma opção de prevenção, conferindo às mulheres mais autonomia
quando da negociação do sexo mais seguro. Novas colocações surgem em
relação a questão de gênero e o uso de preservativo feminino. Este surge, não só
como mais uma opção de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e à
gravidez, mas também como um instrumento capaz de possibilitar mudanças na
relação homem – mulher, contudo muitas vezes é tido também como mais uma
responsabilidade que novamente ficaria nas mãos das mulheres.
De qualquer forma em pesquisa realizada com mulheres sobre a aceitabilidade do
preservativo feminino, as próprias usuárias reconheciam sua importância como
mais uma alternativa de prevenção.
METODOLOGIA
No Programa os adolescentes são atendidos individualmente e em grupos por
alunos, bolsistas da Universidade, previamente capacitados com os quais se
realizam supervisões istemáticas para discussão de casos e atualização.
O atendimento individual é realizado com auxílio de um questionário semiestruturado, a fim de mapear o conhecimento do adolescente sobre sexualidade e
prevenção de DST / Aids, bem como discutir práticas sexuais de risco e sexo mais
seguro. Neste momento troca-se informações com o adolescente e faz-se a
demonstração do uso correto dos preservativos, a partir do conhecimento do
próprio adolescente.
É realizada a oferta de ambos os preservativos às adolescentes . Aquelas que
optarem por experimentar o preservativo feminino, serão orientadas a levar
também o masculino para que possa utilizar ambos alternadamente ou como o
desejar. Há sempre orientação para retorno em caso de dúvidas ou necessidade
de mais preservativos,. Cabe destacar que a quantidade ofertada é aquela que
atende às necessidades do (a) adolescente.
O atendimento em grupo inclui: atividades em sala de espera e participação em
eventos junto à comunidade.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir de julho de 2000 iniciou-se a distribuição de preservativos femininos.
Desta data até setembro de 2002, o preservativo feminino foi oferecido a 688
adolescentes. 380 adolescentes quiseram experimentá-lo (tabela 1).
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembr
o
Dezembr
o
Total
2000
x
x
x
x
x
x
2
21
23
59
46
2001
15
15
54
17
18
6
10
42
32
36
22
24
13
175
280
2002
16
14
27
20
33
29
19
58
17
233
688
Tabela 1: Número de adolescentes a quem foi ofertado o preservativo feminino.
No período de julho/2000 até setembro/2002, 380 adolescentes quiseram
experimentar o preservativo feminino, destas 56 (14%) aderiram, 36 (9%)
desistiram, 140 (37) não quiseram aderir, 23 (6%) saíram devido a idade e 132
(34%) continuam em experimentação.
Aderidas
14%
Não quiseram aderir
37%
Desistências
9%
Sairam devido
idade
6%
Experimentação
34%
Gráfico 1: Distribuição das adolescentes egundo utilizaçào do preservativo
feminino.
Na análise qualitativa dos dados do questionário as desvantagens apontadas
quanto ao uso do preservativo feminino foram aquelas ligadas ao estranhamento
do novo, por exemplo: o companheiro achar engraçado, achar feio e estranho e
dentre as vantagens apontadas surgiram : a não necessidade de parar na relação
sexual para colocá-la , ser mais lubrificada e aumentar a sensibilidade.
CONCLUSÃO
É importante destacar que todos os adolescentes envolvidos no Programa terão
papéis de agentes multiplicadores, mesmo sem um caráter formal, tendo em vista
que uma das principais fontes de informação é a troca entre pares.
É importante também, aprofundar aspectos relacionados às questões de gênero e
compreender o papel desempenhado pelos mitos, tabus e preconceitos
socialmente construídos no que tange aos vários temas relacionados com
sexualidade a fim de facilitar a prevenção das DST/Aids através da criação de
possibilidades maiores da efetiva negociação do uso dos preservativos.
Os dados da pesquisa trazidos pelas adolescentes quanto ao uso do preservativo
feminino estão relacionadas à falta de informação sobre o mesmo, mitos e tabus
associados ao corpo e principalmente aqueles relacionados ao estranhamento
diante do novo. Consideramos que tais fatores poderão ser discutidos nos grupos
e atendimentos individuais, facilitando assim, a construção de novas formas de
relacionamentos e negociações entre homens e mulheres, a partir da maior
possibilidade de troca de informações e reconhecimento e discussão de mitos,
tabus e preconceitos que cercam as questões relacionadas à sexualidade. É de
fundamental
importância
que
outros
Programas
semelhantes
sejam
disponobilizados aos adolescentes para facilitar seu acesso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico de Aids. Ano XIV, no. 2,
abril a junho de 2001.
RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Saúde. Boletim Epidemiológico de
DST/Aids. Dezembro de 2001.
SANTOS, V. L.; Santos, C. E.: Adolescente, jovens e Aids no Brasil. Cadernos
Juventude, saúde e desenvolvimento. Volume 1, Brasilia, 1999.
65
4
Em experimentação
Aderiram
173
Desistiram
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