Bol Of Sanit Panam 97(5), 1984 CAUSAS DE DEFICIENCIA VISUAL EM CRIANCAS Newton ‘Kara-José,’ Geraldo Vicente de Almeida,’ Carlos Eduardo Leite Arieta,’ Joelice dos Santos Araújo,’ Samir Jacob Becgara3 e Paulo Ricardo de Oliveira 0 presente trabalho fomece dados retrospectivos sobre as causas de deficiência tiual em crianpzs até 15 anos de idade atendidas em centros oftalmológicos de Brasil. Introducáo A Organizacao Mundial da Saúde (OMS), atentando para o crescimento do número de cegos no mundo - atualmente cerca de 20 milhok, que deveráo chegar a 40 milhoés no ano 2000 (‘11-e considerando que dois tercos dos casos seriam de causas potencialmente evitáveis, tem enfatizado a necessidade do desenvolvímento de programas de prevencão de cegueira. Sabe-se, por outro lado, que a prevalencia e as causas de cegueira variam enormemente em diferentes países, devido principalmente a condicóes geográficas e sócio-econômicas. Neste panorama os países em desenvolvimento contribuem com 80% dos casos. Enquanto na Índia, por exemplo, grande número de cegos sáo casos de catarata nao operados, por falta de estrutura mi%co-hospitalar, em vários países da África, t Universidade Estadual de Campinas, Hospital de Clínicas. Faculdade de Gbcias Médicas, Disciplina de Ofiahnologia. Enderece: Cidade Universitária “Zeferino Va?‘. 13100 Campmas, Sao Paulo, Brasil. * Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, Departamento de Oftalmolagia. São EmIo. s Universidade de Sào Paulo, Faculdade de Medicina, Sào PaOlO. 4 Centro CIínico de Olhos, ‘Goiãnia, Co&, Brasil. Ásia, América Central e América do Sul, a hipovitaminose A, a oncocercose e o tracoma sáo causas predominantes de cegueira. Em países mais adiantados economicamente os traumas, lesões congênitas e degeneracões senis ocupan-r o primeiro lugar como causadores de deficiencia visual. A cegueira na infancia é particularmente importante tanto pelos índices com que se apresenta nos países en desenvolvimento como porque representa um encargo sócio-econômico mais grave (21. Entre as causas mais importantes de deficiencia visual neste grupo etário situam-se as úlceras de córnea por hipovitaminose A, a oncocercose e o tracoma, todas elas responsáveís por grande contingente de cegos no mundo. Alves y Kara José (3), Belfort, Jr. (em comunica&%o pessoal) e as conclusóes do II Encentro de Oftalmologia do Norte Nordeste, em 1’981 (41, destacam a pouca importancia destes agentes etiol@icos em nosso meio. Ao se propor ‘urna planificacão de combate à cegueira é, pois, necessário que se conhecam as causas maís importantes na regiZo considerada, além dos recursos médico-hospitalares e das formas de atuar no sentido de minorar as dificuldades econômicas. Estima-se que o Brasil tenha no 40.5 406 BOLETIN DE LA OFICINA SANITARIA momento 4 500 oftalmologistas (relacáo médico-paciente aproximadamente 1:26 000), o que está dentro dos padrôes estipulados pela OMS. De outro lado, a OMS recomenda a realizacáo de investigacão de problemas oftalmológicos em amostras da popula@ío afim de se obter maior conhecimento do seu estado ocular. No Brasil náo se dispõe de dados sobre causas de cegueira, valendo-se os estudiosos de pesquisas realizadas em instituicóes de amparo a cegos e deficientes visuais (5) e alguns estudos isolados (6,. 0 presente trabalho fornece dados retrospectivos sobre as causas de deficiência visual em criancas de até 15 anos de idade atendidas nos hospitais-escolas da Faculdade de Ciencias Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) da Faculdade de Ciencias Médicas da Santa Casa de Sao Paulo, de duas clfnicas particulares da cidade de Sáo Paulo (Centro Oftalmológico Pacaembu e Instituto Médico de Oftalmologia) e de urna clínica particular da cidade de Coiânia (Centro Clínico de Olhos). Materiais e métodos Foi realizado um estudo retrospectivo de 8 000 criancas de 0 a 15 anos de idade, utilizando-se fichas clínicas de pacientes das seguintes instituicóes: Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciencias Médicas da UNICAMP, 1 000 casos; Faculdade de Ciencias Médicas da Santa Casa de Sao Paulo, 2 000 casos; Centro Oftalmológico Pacaembu (COP), 1 000 casos; Instituto Médico de Oftalmologia (IMO), 2 000 casos; e Centro Clínico de Olhos (CCO), 2 000 casos. Levantaram-se de cada paciente dados relativos a idade, acuidade visual e diagnóstico. Para a idade de 0 a 3 anos a acuidade visual foi estimada pelas alteracões oculares encontradas. Para efeito de estudo, agruparam-se os pacientes em faixas PANAMERICANA Noviembre 1984 etárias (0 a 1 ano, 1 a 3 anos, 4 a 6 anos, 7 a 10 anos, 11 a 15 anos) e quanto ao local de atendimento. Considerou-se deficiente visual o paciente portador de acuidade visual menor ou igual a 013 no melhor olho com a melhor correcáo óptica. Resultados Os resultados são apresentados sob a forma de tabelas que correlacionam diagnóstico, idade da crianca, local de atendimento e número de deficientes encontrados. Em 8 000 criancas examinadas foram registrados 224 casos de deficiencia visual, sendo: 86 (4,7%) na Faculdade De Ciências Médicas de Santa Casa de Sao Paulo, 67 (6,7%), no Hospital de Clínicas da UNICAMP, 29 (1,45%) no Centro Oftalmológico de Pacaembu, 33 (1,65 %) no Instituto Médico de Oftalmologia e 10 (l,OQ/,) no Centro Clínico de Olhos (tabela 7). A tabela 1 mostra as causas mais comuns de deficiencia visual na faixa etária de até 1 ano por ordem decrescente: catarata, glaucoma, retinopatia congênitos. Na tabela 2, verifica-se a distribuicáo das causas de deficiências visual na faixa etária de 1 a 3 anos, encontrando-se, em ordem decrescente de freqiiência: catarata, retinopatia congênita, nistagmo e coriorretinite, como as mais relevantes. Observam-se na tabela 3 as causas mais encontradas de deficiencia visual na faixa etária de 4 a 6 anos, em freqiiência decrescente: ambliopia refracional, catarata congênita e neurite óptica. A tabela 4 mostra as causas mais comuns de deficiência visual na faixa etária de 7 a 10 anos: ambliopia refracional, catarata congênita e coriorretinite. A ambliopia refracional, a catarata congênita, 0 nistagmo e a coriorretinite apresentam-se como as causas mais comuns de deficiencia visual na faixa etária de 0 a 15 anos (tabela 6). A tabela 7 mostra que a prevalência de deficientes visuais foi respectivamente de 6,70T0 no Hospital de Kara-José et al. TABELA 1 -Diagnósticos de atendimento, 1982. DEFIClkNClA de pacientes portadores a Diagnóstico No Catarata congenita Glaucoma congkxito Retinopatia congkita Nistagmo Microftalmia Rubéola Síndrome de Marfan Neurite óptica 4 1 Total 407 VISUAL de deficiência b % 1 1 14.2 14,2 - 7 100,o - c No 57.1 14.2 - % 2 2 2 2 16.6 16.6 16.6 16.6 3 25,0 *,3- 1 12 visual de 0 a 1 ano, conforme 100.0 d No % 2 No % No % 60,O 20,o 20,o - 1 ~ - 100.0 - 15 5 4 4 44.5 14.7 11.7 11.7 3 1 1 1 8,7 2,9 2,9 2.9 34 100,o - - - - 100,o 10 100.0 2 - 6 2 2 Total % 50.0 50,o - - 4 î No locais - ~ 1 100.0 Fonte: fichas clínicas dos pacientes atendidos a Faculdadr de CiPnclas Médicas. UNlCAMP ’ Faculdade de Cikncias Médicas, Santa Casa. São Paulo ’ Centro Clínico de Olhos. Gok~ia. Golás d Instituto Médico Oftalmológico. São Paulo. ’ Centro Oftahnoló,gico. Pacaembu. São Paulo. Clínicas da UNICAMP, 4,30y0 na Faculdade de Ciencias Médicas de Santa Casa de São Paulo, 1,45% no Centro Clínico de Olhos, 1,65% no Instituto Médico de Oftalmologia e 1 ,OO% no Centro Oftalmológico de Pacaembu. TABELA 2-Diagnósticos forme locais de atendimento, de pacientes 1982. portadores a Diagnóstico Catarata congenita Retinopatia cong&ita Nistagmo Coriorretinite Neurite óptica Catarata secundária Tumor Glaucoma congenito Rubéola Opacidade cong6mita de córnea Total N” Discussäo 0 estudo realizado em 8 000 criancas de 0 a 15 anos de idade atendidas em cinco servicos de oftalmologia mostrou ser a ambliopia refracional a causa mais co- de deficiência b % 6 2 60,O 20,o 1 10.0 1 10.0 10 100,o No 2 4 3 2 3 3 1 1 - 19 Fonte, fichas clínicas dos pacientes atendidos a Faculdade de tXncias Médicas. UNlCAMP b Faculdade de Ciéncias Médicas, Santa Casa. Sào Paulo ’ Centro Clínico de Olhos. Goiánia, Gol%. d Instituto Médico Oftalmológico, São Paulo. ’ Centro Oftalmológico. Pacaembu, São Paulo. e comentarios visual de 1 a 3 anos de idade, con- c d e Total % No % No % No % No % 10,5 7,1 15,7 10,5 15.7 15,7 5,2 5,2 - 2 -- 100,o - - - - - 10 6 5 5 4 3 2 26.3 15,7 13,l 13,l 10,4 7.8 5.2 - - - 1 33.3 100,o 2 100,o 3 100.0 - 1 1 - 33,3 33,3 - 2 1 50,o 25.0 - 1 25,0 - - - 4 100,O 1 1 1 38 2.6 2.6 2.6 100.0 408 BOLETIN DE LA OFICINA TABELA 3-Diagnósticos de pacientes forme locais de atendimento, 1982. portadores a Diagnóstico Ambliopia Catarata Neurite óptica Retinopatia congénita Coriorretinite Glaucoma conghito Trauma Nistagmo Microftalmia Doenca de Coat Total % 4 3 3 2 % 9 2 40,9 9.0 25,0 - 5 3 223 - - ,3,6 - - ,6,6 - 1 1 1 4.5 4.5 4.5 22 100.0 100.0 % 5 2 e No 55.5 22,2 - 5 1 % No 83,3 16,6 Total % No % - 75.0 - 26 a 49,0 15,0 5 3 3 3 9,4 5,6 586 5,6 2 1 1 1 3,7 53 100,o 3 - - - - 22.2 - - - 25,0 _ - - - - - - - - - - - 2 9 100.0 1984 visual de 4 a 6 anos de idade, cond No 33,3 25.0 12 de deficiência c N” Noviembre PANAMERICANA b N” refracional congénita SANITARIA 6 1 100,O 4 100,o 138 1,8 1,a Fonte fichas clínicas dos pacientes atendidos a Faculdade de C+nc~as Médicas, UNICAMP b Faculdade de Citnclas Médicas, Santa Casa, Sào Paulo ~Centro Clínico de Olhos. Goiânia, Golás. Instituto Médico Oftalmológico, Sào Paulo. ’ Centro Oftalmológxo, Pacaembu. Sâo Paulo mum de deficiência visual, seguida de catarata congênita, nistagmo, coriorretinite e retinopatia congênita (tabela 6). Notase um predomínio de catarata, glaucoma TABELA 4-Diagnósticos de pacientes forme locais de atendimento, 1982. portadores a Diagnóstico No de deficiência b % Ambliopia refracional Catarata congénita Coriorretinite Nistagmo Ulcera córnea Glaucoma congênito Retinopatia congênita Trauma Neurite óptica 3 7 2 4 1 1 12,5 29,I a,3 16,6 4.1 4,l 1 4,1 Descolamento retina Ceratocone Catarata secundária Trombose ocular Sindrome de Marfan 2 1 8,3 4,l Total e retinopatia congênitos nas criancas de até 3 anos: após essa idade, a ambliopia refracional aparece como a causa mais importante (tabelas 1 a 5). N” c % 4 3 3 No 1 1 1 1 22.2 16,6 16,6 5,5 5,5 5,5 5,5 1 5.5 - ~ - - 15 100,o 10 - - 5 1 1 1 1 - 1 1 23 4,l 100,O Fonte~ fichas clímcas dos pacientes atendidos. a Faculdade de Ciencias Médicas, UNICAMP. b Faculdade de Ohcias Médicas, Santa Casa, São Paulo ’ Centro Chco de Olhos, Goiånia, Cok. ’ Instituto Médico Oftalmológico. São Paulo ’ Centro Oftalmológico, Pacxmbu, São Paulo. visual de 7 a 10 anos de idade, con- d % 50,o 10.0 10,o 10,o 10,o 10,o ~ 100,o No e Total % N” % No % - 42,a 14,2 14,2 ~ 28,4 ~ - 100.0 15 11 6 5 3 3 3 2 2 26.7 19.6 10,7 8-9 5,3 5,3 5,3 3,5 3,5 - - - - 2 1 1 1 1 3,5 1,7 1,7 1,7 1,7 56 100,o 3 1 1 2 7 100,o 1 - - 1 100,O Kara-losé et al. DEFICIÉNCIA TABELA 5-Diagnósticos de pacientes forme locais de atendimento, 1982. portadores Ambliopia refracional Catarata congenita Coriorretinite Trauma Glaucoma congkito Nistagmo Ceratocone Neurite óptica Ceratite superficial Retinopatia congênita Distrofia córnea Degeneracão mióptica Microftalmia Úlcera de córnea Total N” 4 - % N” 4 4 1 2 2 za,5 - 3 2 2 21,4 14,2 14,2 2 14,2 - - - 22.2 22,2 5,5 ll,1 ll,1 - 14 100,o 5.5 5.5 5,5 - 1 1 18 visual de ll a 15 anos de idade, con. c % 1 1 1 - de deficiéncia b a Dia.gnóstico 409 VISUAL 5.5 5,5 LOO,0 No 2 3 1 ~ 6 e d % No 33,3 - - - - - - 16,6 16,6 - 50.0 - 3 1 - - 16,6 - - 100,O 1 1 6 Total % N” % No % 50.0 16.6 ~ 100.0 - 13 5 5 28.8 11.1 11.1 - - - ~ ~ - - - - 100,o 1 1 100.0 4 4 3 2 2 2 1 1 1 1 1 45 a,a 8.8 696 4.4 4,4 4.4 2.2 2.2 2.2 23 2.2 100.0 Fonte: fichas clínicas dos pacientes atendidos. ’ Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP. b Faculdade de Cikcias Médicas, Santa Casa, Sào Paulo. ’ Centro Clínico de Olhos. Goiania. Goiás. d Instituto Médico Oftalmológro, São Paulo. e Centro Oftalmológico, Pacaembu. São Paulo. Nota-se (tabela 7) urna maior percentagem de casos de deficiencia visual nos hospitais-escolas, o que pode ser explicado por serem gratuitos e centros de referencia para o qual sáo encaminhados ou se dirigem espontaneamente os pacientes com casos mais graves. A análise das tabelas de 1 a 5 mostra que as principais causas de deficiencia visual se mantêm as mesmas nas diferentes instituicões estudadas, o que sugere a hipótese de nao haver influencia de nivel sócio-econômico no seu aparecimento. Devido ao carater de gratuidade, é de se supor que o nível sócio-econômico dos pacientes que procuram os servicos universitários estudados é mais baixo do que o nível daqueles que procuram as clínicas particulares referidas neste levantamento. Nas 8 000 criancas, apenas seis casos de úlcera de córnea foram detectados, todos eles em pacientes com mais de 7 anos. Esses resultados vêm revelar que causas infec- ciosas não sáo preponderantes em nosso meio como causas de deficiencia visual, pelo menos no que se refere às regiões ou áreas estudadas. 0 II Encentro NorteNordeste de Oftalmologia de 1981 (4) conclui igualmente náo serem a hipovitaminose A, a oncocercose e tracoma causas importantes de cegueira na região nortenordeste do Brasil. Por outro lado relatórios sobre causas de cegueira na América do Su1 freqüentemente citam trabalho realizado por Simons em 1974 (7), em que 0 autor localiza, através de entrevista e estudo retrospectivo de prontuários hospitalares, 1 000 casos de cegueira por ano em nove estados do norte-nordeste brasileiro, causados por hipovitaminose A. 0 autor nao relata, porém, o critério usado para o diagnóstico dos casos, como enfatiza Roncada (8). Quanto à hipovitaminose A, nao foi encontrada em nossa pesquisa como causa de lesão comeana bilateral em nenhum caso. 410 BOLETIN TABELA 6-Diagnósticos DE LA OFICINA de pacientes Até 1 ano Diagnóstico Ambliopia refracional Catarata congênita Nistagmo Coriorretinite Retinopatia congênita Glaucoma congCnit0 Neurite óptica Trauma Catarata secundária úlcera de córnea Rubéola Ceratocone Síndrome de Marfan Tumor Descolamento/retina Ceratite superficial Microftalmia Trombose ocular Distrofia de córnea DoenCa de Coats Degenera& miópica Opacidade congénita de córnea SANITARIA portadores de deficiihcia 1 a 3 anos 4 a 6 anos No % No % No 15 4 4 5 1 - 44,5 ll,7 - 10 5 5 6 1 4 26,3 13,l 13,l 15,7 2.6 10.4 3 7,8 - ll,7 14,7 2,9 - 1 1 - 2,9 2,9 - 1 - 26 8 1 3 3 3 5 2 - 2,6 - 2 visual 7 a 10 anos 3 8.7 No % 49,0 15,o 1,8 5,6 5,6 5.6 9,4 3,7 - 15 ll 5 6 3 3 2 2 26,7 19,6 8,9 10,7 5,3 5.3 3.5 3,5 13 5 3 5 1 4 2 4 1 3 1,7 5,3 22,8 ll,1 6,6 ll,1 2,2 8,8 4,4 8,8 2,2 - - 2 3,5 - - - 1 1.8 - 1 - 34 100,o 1,7 1,7 2 3 2 028 4,4 2,2 2 2 2 5 1 1 038 038 1 4,4 2,2 2 2,3 1 1 0,4 0.4 2 1 - 4 4 1 1,7 1,7 1 38 2.6 100.0 1,s - 1,7 - - % 24,1 21.8 8,4 8,4 7,5 7,l 6,2 3,5 - - Total No 54 49 18 19 17 16 14 8 - 1 1 1984 1982. 11 a 15 anos % 2 - etárias, No - - Total por faixas % - - 5,2 Noviembre PANAMERICANA - _ - - - - - 53 100,o 56 100,o 45 100,O 1,3 0,8 0,8 2,2 0,4 0,4 1 226 0,4 100,O Fonte: fichas clínicas dos pacientes atendidos. Já Roncada, Alves e Kara-José (3), Magalháes, Souza Dias e Belfort Jr, haviam chegado a conclusóes semelhantes. Na faixa etária de até 3 anos, a catarata congênita foi a causa mais importante de deficiência visual (44% até 1 ano e 2274 de 1 a 3 anos). A nao ser nos casos TABELA 7-Número de casos atendidos forme locais de consulta, 1982. em que outras malformacóes congenitas estejam associadas, o prognóstico de catarata congênita é razoável principalmente considerando as novas técnicas e instrumental cirúrgicos. 0 V Congresso Brasileiro de Prevencão da Cegueira (9), realizado em Curitiba, Paraná, em 1982, colo- de deficientes visuais Náo deficientes NO Locais Hospital das Clínicas, UNICAMP Faculdade de Ciências Médicas, em relapáo dos náo deficientes, Deficientes N” con. Total % - NO % 934 66 6,6 1 000 100,o 1 914 1 969 1 968 989 86 31 32 ll 4,3 1,5 000 000 000 l,l 2 2 2 1 000 100,o 100,o 100,o 100,o 226 2.8 8 000 100,o Santa Casa, São Paulo Centro Clínico de Olhos, Goiânia, Goiás Instituto Médico Oftalmológico, São Paulo Centro Oftalmológico, Pacaembu. Sáo Paulo Total Fonte: fichas clínlcas dos pacientes atendldos. 7774 136 Kara-José et al. DEFICIÉNCIA VISUAL cou entre suas resolucões a necessidade de que os órgáos assistenciais de saíide considerem as cirurgias de catarata e glaucoma congénitas como urgencia, nao se justificando qualquer restricão a sua pronta realizacão. A ambliopia refracional foi causa mais importante de defkiência visual nesta pesquisa. Kara-José et al. (10) encontraram em escolares de primeiro grau de urna escola estadual em Sáo Paulo 4,07% de casos de ambliopia unilateral e 1% de ambliopia bilateral. Macchiaverni F. et al. (ll) verificaram 3,7$!& de ambliopia funcional em escolares de Paulínia, Sao Paulo, e relataram que 78% de escolares que necessitavam correcão óptica a tinham desatualizada ou nao a usavam. Considerando-se a ambliopia refracional como causa altamente prevenível de deficiência visual e de bom prognóstico, conclui-se pela necessidade de acão educativa junto à populacáo, sob a forma de programas que transformem em rotina a medida de acuidade visual em criancas de 3 a 4 anos de idade por elementos devidamente treinados. 0 trauma constitui-se em fator importante neste estudo tendo em vista as causas preveníveis de cegueira. Conforme assinalam Kara-José et al. (12), há urna alta incidencia de ferimentos perfurantes em criancas, que se deve principalmente a falta de esclarecimento do público em relacão às causas mais comuns destes acidentes, justificando programas de saúde pública que visem à orientacáo da populacão sobre as principais causas de trauma ocular em criancas, e suas formas de prevencào. Conclusões Em 8 000 criancas de 0 a 15 idade atendidas, encontraram-se sos de deficiencia visual (2,8%). cipais causas de deficiencia visual anos de 224 caAs prinnos tres 411 primeiros anos de vida evidenciaram-se como catarata, glaucoma, retinopatia congênitos, nistagmo e coriorretinite. As causas principais de deficiencia visual na faixa etária de 4 a 6 anos foram: ambliopia refracional, congênit a , catarata neurite óptica, retinopatia congenita e coriorretinite. As principais causas de deficiencia visual em criancas de 7 a 10 anos foram: ambliopia refracional, catarata congênita, nistagmo, coriorretinite e retinopatia congênitos. A ambliopia refracional, a catarata congénita, 0 nistag;mo, a coriorretinite e a retinopatia congênita apresentaram-se como principais causas de deficiencia visual dos ll aos 15 anos de idade. Só foram detectadas causas infecciosas levando a úlcera de córnea bilateral a partir de 7 anos de idade, representando 2% dos casos de deficiente visual e 0,005y0 da populacão estudada. 0 presente estudo náo detectou oncocercose, tracoma ou úlcera de córnea por hipovitaminose A como causas de deficiéncia visual. Com base nos achados da presente pesquisa, recomenda-se que os programas de preven@io de deficiéncia visual deveriam no memento atual, visar: l A obrigatoriedade de exames oftalmológicos, ou pelo menos da medida de acuidade visual, em todas as criancas ao redor dos 4 anos de idade, assim como a obrigatoriedade desse exame por ocasiáo da matrícula nos primeiros anos de préescola ou ensino elementar; l 0 diagnóstico e a cirurgia precoces dos casos de catarata e glaucoma congênitos, com especial ênfase. Para tanto, sao necessárias a colaboracáo mais íntima dos pediatras e maiores facilidades cirúrgicas, por exemplo, através do Instituto Nacional de Previdéncia Social, considerando estes casos como urgéncia. Esta última recomendacão já foi incluida entre as resolucões do V Congresso Brasileiro de Prevencão da Cegueira (9). 412 BOLETIN DE LA OFICINA . 0 desenvolvimento de programas de saúde pública, a fim de prover orientacáo da populacão sobre as principais causas de trauma ocular em criancas e educa@0 para as possívels formas de preveni-las; l 0 controle de doencas hereditarias e congênitas através de aconselhamento genético e exames do líquido amniótico nos casos de alto risco. Este é um programa mais difícil e caro, mas que não deve ser descurado, dentro das possibilidades. Resumo Os autores estudaram 8 000 criancas de até 15 anos de idade atendidas em dois hospitais universitarios e três clínicas par- SANITARIA PANAMERICANA Noziem bre 1984 ticulares nas cidades de São Paulo, Campinas e Goiânia (regióes su1 e centro-oeste do Brasil). Encontram 224 casos de deficientes visuais (acuidade visual igual ou inferior a 0,30/,) sendo as principais causas: de 0 a 3 anos de idade, catarata, glaucoma, e retinopatia congênitos; de 4 a 6 anos de idade, ambliopia refracional, catarata congênita e neurite óptica; de 7 a 10 anos, ambliopia refracional, catarata congênita e nistagmo; e de ll a 15 anos ambliopia refracional, catarata congênita e nistagmo. Ressaltaram que a hipovitaminose A, o tracoma e a oncocercose náo serem causas importantes de deficiência visual, concluindo com consideracões sobre alguns pontos importantes de um plano de prevencão da cegueira. q REFERENCIAS 1. WHO urges massive support for prevention of blindness MJ Health Educ 21:120, 1978. 2. Temporini, E. R., Kara-José, N. e Rigolizzo, H. B. Envolvimento de pessoal da comunidade em projeto de detec@io de ambliopia em pt$escolares. Apresentando ao Y congresso Brasileiro de Prevencào da Cegueira, Curitiba 1982. (Documento mimeografiado.) 3. Alves, M. 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DEFICIl?NCIA 413 VISUAL Causas de deficiencia visual en los niños (Resumen) Los autores estudiaron 8 000 niños de hasta 15 años de edad atendidos en dos hospitales universitarios y tres clínicas particulares en las ciudades de Sao Paulo, Campinas y Goiânia (regiones sur y centro-oeste de Brasil). Encontraron 224 casos de deficientes visuales (acuidad visual igual o inferior a 0,30/,) cuyas principales causas eran: de 0 a 3 años, catarata, glaucoma y retinopatía congénitas; de 4 a 6 años, ambliopía refraccional, catarata congénita y neuritis óptica; de 7 a 10 años y también de ll a 15 años, ambliopía refraccional, catarata congénita y nistagmo. Se destaca que la hipovitaminosis A, el tracoma y la oncocercosis no son causas importantes de deliciencia visual. Se concluye con consideraciones sobre algunos puntos importantes de un plan de prevención de la ceguera. Causes of visual deficiency The authors examined 8 000 children up to 15 years of age who were attended at two university hospitals and three private clinics in the cities of São Paulo, Campinas and Goiâna in the southern and middle westem regions of Brazil. They detected 224 cases of visual deliciency in which visual acuity was equal to or lower than 0,3%. From 0 to 3 years of age, the main causes were cataracts, glaucoma and congenital retinopathies; from 4 to 6 years of Causes de déficience in children refractional amblyopia, congenital cataracts and optic neuritis; from 7 to 10 and ako from 11 to 15 years of age, the main causes were refractional amblyopia, congenital cataracts and nystagmus. The fact that neither hypovitaminosis A, trachoma nor onchocercosis are important causes of visual deficiency is pointed out. The article concludes with some considerations regarding important points in a blindness preventlon plan. w, visuelle L’observation de 8000 enfants de moins de quinze ans recevant des soins dans deux centres hospitaliers universitaires et trois cliniques privées de São Paulo, Campinas et Goiânia (villes situées dans les régions du sud et du centre-ouest du Brésil) ont permis aux auteurs de cet article de détecter 224 cas de déliciences visuelies se traduisant par une acuité visuelle égale ou inférieure à 0,3%. Ces déticiences avaient pour cause, parmi les enfants de 0 a 3 ans: cataracte, glaucome et rétinopathie congé- (Summary) chez les enfants (Résumé) nitale; de 4 à 6 ans: amblyopie refractionnelle, cataracte congénitale et névrite optique; de 7 à 10 et de 11 à 15 ans: amblyopie refraccionnelle, cataracte congénitale et nystagmus. Il est signalé que ni l’hypovitaminose A, ni le ni l’onchocercose ne sont causes trachome, importantes de la déficience visuelle. L’article se termine sur diverses considérations ayant trait à certains points importants d’un plan de prévention de la cécité.