I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO PROJETO “TRABALHAR AS DIFERENÇAS É PROMOVER A EDUCAÇÃO”: NA PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS Creusa da Silva Melo Resumo Este trabalho objetiva avaliar a efetividade do projeto “Trabalhar as Diferenças é Promover a Educação” na prevenção da violência e discriminação por orientação sexual nos espaços escolares. Para tanto nos propomos a identificar no discurso dos/as profissionais participantes do projeto comportamentos homofóbicos verificando os elementos e fatores que influenciam na construção social da homofobia. Caracterizamos as mudanças ocorridas na percepção, no modo de pensar e agir dos/as professores/as após sua participação nos dois seminários/capacitações que foram as duas principais ações do projeto direcionadas a professores/as da Rede Estadual de Ensino além dos/as professores/as da Rede Municipal de ensino da Região Metropolitana do Recife. O pressuposto é de que a capacitação realizada em dois módulos provoque a conscientização deste público produzindo postura orientada para mudança. Utilizamos variados instrumentos para coleta de dados junto aos/as participantes, entre eles: diário de campo, observação participante, questionário semi-estruturado e formulário. Podemos concluir a partir dos dados apresentados que o projeto alcançou em grande parte os seus objetivos, metas e resultados de forma que sua efetividade pode ser verificada ao fomentar o debate do respeito à diversidade sexual e a prevenção de práticas homofóbicas nas escolas a partir da formação e informação aos/as participantes do projeto. Palavras-chave: homofobia, educação, direitos humanos, avaliação de efetividade, diversidade sexual. Resumen Este estudio evalúa la eficacia del proyecto “El trabajo es la Diferencia Promover la educación sobre la prevención de la violencia y la discriminación por orientación sexual en los espacios de la escuela. Con este fin nos proponemos identificar el discurso de los / las participantes en el proyecto profesional de comportamientos homófobos por el control de los elementos y factores que influyen en la construcción social de la homofobia. Hemos caracterizado los cambios en la percepción, pensamiento y acción / los tutores después de su participación en dos seminarios de capacitación que fueron las dos principales actividades del proyecto dirigidas a los profesores de las escuelas estatales también del profesor de / las escuelas públicas en la enseñanza de la Región Metropolitana de Recife. El supuesto es que la formación llevó a cabo en dos módulos de los resultados en la conciencia pública de producir un cambio de actitud orientada. Utilizamos diversos instrumentos para recoger datos, junto a los participantes, entre ellos: diario de campo, observación participante, cuestionario semiestructurado y forma. Podemos concluir de los datos presentados en gran medida que el proyecto logró sus objetivos, metas y resultados para que su eficacia puede comprobarse mediante el fomento del debate sobre el respeto a la diversidad sexual y la prevención de las escuelas homófoba de la formación y información a los participantes del proyecto. Palabras clave: homofobia, la educación, los derechos humanos, la evaluación de la eficacia, la diversidad sexual. 214 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos Introdução O projeto “Trabalhar as Diferenças é Promover a Educação” faz parte das ações previstas no Programa Brasil sem Homofobia, financiado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República – SEDH/PR. O projeto tem como principais objetivos: empoderar educadores/as da Rede Publica Estadual de ensino de Pernambuco e da Rede Municipal em Recife com os conteúdos relativos à diversidade sexual, identificando na prática educativa, possíveis ações preconceituosas e discriminatórias e reorientando estas ações para o respeito à diversidade no espaço escolar. (projeto educação, 2008). O ano de 2008 foi o primeiro ano de execução do projeto no período de janeiro a dezembro de 2008. O projeto buscou com as suas ações, refletir sobre as práticas desenvolvidas dentro do espaço escolar no intuito de prevenir atitudes não discriminatórias por orientação afetivo-sexual e identidade de gênero. Para tanto foram realizadas oficinas e seminários com alunos, professores e técnicos das escolas da rede estadual de ensino e municipal do Recife a fim de repensar as práticas pedagógicas capazes de promover a cidadania e os Direitos Humanos nesse ambiente. Deste modo, foi necessário elaborar um plano de atividades para ser desenvolvido junto aos educadores “fortalecendo as políticas já existentes e colaborando com a construção de novas políticas voltadas para uma prática educativa não-homofóbica”. (projeto educação, 2008). A construção de uma metodologia inclusiva com a participação coletiva a troca de experiência e dos diversos saberes, serviu de modelo para toda a rede de ensino e nos demais espaços formativos comunitários. Entre as metas do projeto constam: “sensibilizar 200 educadores/as da rede pública Estadual e Municipal de ensino na Região Metropolitana do Recife – RMR para a discussão e o aprofundamento de modo didático das temáticas sobre o respeito à diversidade afetivo-sexual e suas expressões, bem como à identidade de gênero”. (projeto educação, 2008). Foram desenvolvidas durante o ano várias ações no âmbito do referido projeto dentre elas estão o 1º e 2º Seminários “Trabalhar as Diferenças é promover a Educação”, além de oficinas e capacitações em escolas para os alunos, educadores e corpo técnico das escolas que solicitaram o trabalho. O projeto traz a perspectiva de que, o trabalho no âmbito da educação, deve se preocupar em colaborar com os processos de transformação dos indivíduos nos espaços onde são formados de forma coletiva. Uma vez que, as escolas reúnem pessoas que trazem diferenças sócio-políticas e econômicas que se materializam na diversidade de sexo, idade, religião, valores, princípios e interesses que distinguem cada sujeito. Ainda traz a reflexão de que, cada vez que as diferenças individuais são tratadas como desigualdades na escola, os sujeitos que não se enquadram ou desenvolvem comportamentos que diferem das normas estabelecidas pela sociedade são excluídos do espaço escolar. O conceito de educação trazido na elaboração do projeto remete ao conjunto articulado de processos pelos quais indivíduos são transformados ou se transformam em sujeitos de uma cultura, e que envolvem um complexo de forças e de instâncias de aprendizagem nas quais se incluem uma infinidade de instituições e lugares pedagógicos, para além da família e da escola. (Hall, 1997 e Meyer & Cols, 2006) Os resultados esperados pelo projeto estão entre outros: diminuir a exclusão de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais no espaço escolar; fomentar a discussão da temática dentro das salas de aula, como forma de desenvolvimento da cidadania, elevação do respeito e melhoria das relações sociais; promover os Direitos Humanos; Contribuir para desmistificação de preconceitos a respeito da homossexualidade, diversidade sexual e sexualidade e aumentar a motivação dos educadores para tra215 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos balhar a temática em sala de aula de forma didática, participativa e inclusiva. Avaliação da avaliação: a percepção dos/as participantes do projeto Inicialmente procuramos identificar através do discurso dos/as profissionais participantes do projeto, comportamentos homofóbicos como primeira via de acesso à realização de um trabalho de prevenção à violência e à discriminação por orientação afetivo-sexual no cotidiano escolar. Em seguida, passamos a observar todos os fatores sociais, político, econômicos, moral e religioso que davam base à construção social do preconceito à população LGBT por parte dos/as educadores/as entrevistados/as. Na segunda etapa do trabalho após fazermos a observação do comportamento que os professores desenvolviam antes de participarem do projeto, ou seja, durante o primeiro seminário, começamos a analisar as mudanças ocorridas na percepção dos mesmos, no modo de pensar e agir depois da realização dos seminários/capacitações. Estivemos junto com os professores em todos os momentos dos seminários e utilizamos vários instrumentos de coleta de informações sobre suas percepções e idéias. Em cada um dos seminários fizemos diário de campo, entregamos questionários e formulários para que eles respondessem e ao final do segundo seminário que se deu 05 meses após o primeiro, aplicamos com aqueles que aceitaram, um questionário semi-estruturado com questões para avaliação da mudança provocada no modo de pensar desses participantes. A avaliação que se desejava realizar não era simples, já que se tratava de verificar mudanças de percepção, ou seja, estamos lidando com subjetividades e nem sempre estas questões se tornam visíveis. No entanto, a utilização de variados instrumentos de coleta de dados, possibilitou que a avaliação fosse feita e em grande parte foi uma ação positiva. Porque a partir dela, o projeto está sendo remodelado em alguns aspectos antes de ser reaplicado a outros participantes numa nova etapa. Para uma aproximação prévia coma realidade dos/as participantes do primeiro seminário, nos utilizamos dos dados e informações colhidas por ocasião do mesmo através de um questionário semi-estruturado que segundo Marconi e Lakatos (2007), com suas vantagens e desvantagens, seria o instrumento mais apropriado para colher o tipos de informação que precisávamos no tempo que dispúnhamos. Posteriormente no momento do segundo seminário elaboramos um outro questionário também semi-estruturado, com o objetivo de analisar as mudanças ocorridas nos/as participantes dos dois seminários a fim de mensurar a efetividade do conjunto das ações realizadas, ou seja: conteúdos estudados, metodologia empregada e as mudanças que já podem ser evidenciadas por eles/as depois da participação no primeiro seminário. O universo da nossa observação foi composto pelos participantes dos dois seminários do projeto “Trabalhar as Diferenças é Promover a Educação”. No primeiro seminário colhemos 92 questionários respondidos de um total de 130 participantes e no segundo seminário participaram 74 pessoas, mas somente 31 responderam o formulário de avaliação que foi entregue com o objetivo de obter informações e sugestões dos mesmos para melhorar os próximos seminários. Finalizados os dois seminários passamos a fase da tabulação e análise dos dados obtidos. Os questionários e formulários foram tabulados nos programas SPSS (Statistical Package for the social Sciences 15.0) e no Excel. Em seguida analisados tendo como subsídio as leituras realizadas sobre a temática, o diário de campo feito a partir da observação participante nos dois seminários e o relatório feito pela coordenação do projeto. 216 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos Parte-se do entendimento de que qualquer que seja a ação realizada sobre um grupo com uma determinada finalidade acarreta um impacto sobre o mesmo e, pode ser medido ainda que não se possa afirmar que a mudança resultou, diretamente e exclusivamente daquela ação, mas, que levando em consideração o contexto histórico-político e sócio-econômico nos quais a ação foi desenvolvida, pode-se chegar ao entendimento de que sem ela os resultados alcançados não seriam os mesmos. Logo mais apresentaremos, portanto, os resultados obtidos através dos questionários que foram respondidos por 20 pessoas especificamente para a análise da mudança de percepção dos participantes do projeto. Lembrando que a participação foi livre e embora o questionário tenha sido entregue para todos os participantes, apenas 20 responderam e devolveram o questionário. Deste modo será com base nos dados desses questionários que desenvolveremos a nossa análise. O perfil das 20 pessoas que responderam a nossa pesquisa está na faixa etária a partir de 20 anos sendo que 08 pessoas estão na faixa de 30 a 40 anos, 05 têm acima de 40 anos e 03 tem mais de 50 anos. A grande maioria declarou ser heterossexual e apenas duas disse ser homossexual. O perfil profissional da maioria é de professores/as, ou seja, 16 são professore/as e também tivemos igual percentual para o sexo feminino. Sendo do sexo masculino apenas 04 dos entrevistados dentre eles 02 se declararam homossexuais e 18 como heterossexuais. Quando se trata das religiões as respostas acompanharam a tendência. São 13 católicos, dois espíritas, duas pessoas não responderam e 03 fazem parte de outros cultos não ligados a nenhuma religião em particular. São espiritualistas e cristãos independentes. Na segunda parte do questionário abordamos questões mais abertas no intuito de conhecermos como se dá a prática de sala de aula dos professores envolvidos no projeto e como é a sua atuação frente aos temas transversais previstos nos Parâmetros curriculares da Educação Nacional (PCNs). Primeiramente perguntamos se eles abordavam em sua prática profissional temas como Homossexualidade e identidade afetivo-sexual. Ao que responderam positivamente em 100%. Todas as 20 pessoas entrevistadas responderam sim. Em seguida procuramos saber de que forma se dava tal abordagem. E obtivemos as mais variadas metodologias. Em sua maioria se dá por meio de conversas, filmes, leituras, debates, palestras, abordagem sobre direitos humanos, vídeos, músicas, projetos e conversas informais, textos e imagens, seminários, dramatizações e pesquisas na internet. Quando perguntados se tratavam de forma transversal em sala de aula, de temáticas como Direitos humanos de Lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexual LGBT, 17 deles responderam que sim e ao perguntarmos “por que” obtivemos as seguintes respostas: É importante aprender a não externar seus preconceitos; Para despertar a conscientização dos alunos sobre o tema; Porque faz parte da matriz curricular; Para combater a homofobia; porque é preciso trabalhar as diferenças em relação à orientação sexual; Para abrir a mente das pessoas preconceituosas, Para saberem respeitar; É importante para uma melhor assimilação da temática; É importante enquanto necessidade de humanização; Para criar respeito ao próximo, às diferenças; Acho importante acabar com o preconceito; Por falta de oportunidade e necessidade; Devemos falar dos direitos humanos, como da pessoa humana e não segmentar os direitos; Porque não trabalho com sala de aula. O próximo passo foi perguntar se a homofobia, a discriminação e o preconceito contra a população LGBT, são temas importantes para serem discutidos em sua formação profissional e na sala de aula e por que. As respostas foram todas positivas. As 20 pessoas responderam sim e justificaram a resposta da seguinte maneira: é uma forma de desconstruir o preconceito e melhorar o cidadão; porque 217 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos somos formadores de opinião e devemos contribuir para frear tanta violência; é necessário adquirirmos propriedade do assunto para saber posicionar-se diante das situações. E ainda, “é muito importante o educador saber como lidar diante de várias situações; temos que respeitar tidos/as e também evitar ações homofóbicas, estamos prevenindo a violência; é importante trabalhar as diferenças num cenário onde a desigualdade e a exclusão social se evidencia cada vez mais; o respeito à cidadania e à dignidade é importantíssimo, devemos lutar contra essa violência; como professor tenho o dever de formar cidadãos que respeitem às diferenças; ajuda a combater o preconceito; É um tema transversal, é atual, é real; esclarece a questão do direito individual e da diferença sexual; é preciso combater a discriminação. É possível observarmos a partir dos dados coletados que a relação entre falta de informação e preconceito não se legitima neste caso. Na verdade as pessoas que participaram deste projeto tem todo o conhecimento, por estarem em sala de aula diariamente, de que aspectos como violência, preconceito e discriminação são práticas que devem ser combatidas no cotidiano escolar para evitar violência e sabem também do seu papel de educadores em evitar reproduzir tais práticas. Mas quanto à homofobia não se tem muito conhecimento e então muitos não acreditam ser necessário um trabalho específico neste campo, justificando que poderia estar fragmentando os direitos humanos. Quando na verdade, tal atitude pode ser encarada como preconceito. Mas um preconceito que é legitimado por uma sociedade heteronormativa que reconhece como estranha toda pessoa que se comporta fora desta perspectiva. Essas afirmativas poderão ser mais bem evidenciadas a partir de agora quando começamos a analisar a homofobia internalizada nos participantes. Elaboramos um grupo de questões que indiretamente podem nos dar indícios da homofobia arraigada na sociedade de um modo geral. Perguntamos diretamente aos professores qual seria sua reação se deparar com um/a travesti no banheiro de um estabelecimento público e obtivemos como esperado que 10 agiriam com naturalidade, enquanto 09 não se incomodaria. E 01 acharia normal. Quando perguntados sobre o conhecimento de que seu filho (a) estuda com amigos/as gays, lésbicas, bissexuais ou travestis se tal fato seria um motivo de preocupação 18 deles responderam que não se preocupariam e 02 disse sim à resposta. Quando vamos analisar o porquê das repostas é que percebemos como as questões estão internalizadas que as pessoas nem percebem o que dizem e escrevem. Em primeiro lugar as que responderam sim, não se justificaram o que já denota evasão ao tema e as outras 18 disseram o seguinte1: Não acredito em influencia, cada um é o que é; Se não conviver na escola, vai com certeza conhecer em outro momento e local. Meus filhos estudam com pessoas assim e eu recomendo respeito; A orientação sexual não me preocupa, mas o caráter, a formação pautada na ética e no respeito; Não há motivos para separar amigos gays eles são ótimos; Não é a convivência que vai definir a sexualidade dele/a. Ele tem que conviver com a diversidade; Acho natural; Orientação não é contaminação; Ele tem uma educação baseada na verdade e em valores humanos; Esse grupo é apenas diferente na orientação/ identidade sexual; Para saber se o meu filho os respeita; É comum o relacionamento entre pessoas. A última questão elaborada para verificar o grau de homofobia nos participantes questionou sobre as reações que um beijo na boca entre pessoas do mesmo sexo causaria neles e as respostas foram bem diversificadas. 04 pessoas afirmaram sentir constrangimento, 05 delas sentiriam curiosidade, 06 1. As respostas foram agrupadas por semelhança. 218 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos afirmaram não sentir nenhuma reação, pois é uma relação de afetividade entre pessoas. 05 disseram: “dependendo do lugar me sinto constrangida seja por hetero, homo, ou bissexual”; Acho que ”ficaria com vergonha, pois nunca presenciei algo assim”. Como pode ser visto nas respostas citadas há um descompasso entre o compromisso com o respeito aos direitos humanos de LGBT e a prática e sala de aula. Essa mesma evasão costuma ocorrer em outras pesquisas quando se trata de assumir o próprio preconceito. As pessoas sabem da importância de acabar com o preconceito social e até falam dele, mas não tem o compromisso prático de acabá-lo dentro de si. Na última parte do questionário quisemos analisar a percepção dos participantes quanto às discussões do projeto “Trabalhar as Diferenças é Promover a Educação”, se elas mudaram de alguma forma o seu modo de pensar sobre a homossexualidade e sobre o preconceito. Para 18 dos 20 participantes a resposta foi sim. E 02 deles responderam que não porque já acredita ter uma visão aberta e opinião já formada e porque não tinha pensamento discriminatório. Para as 18 que responderam positivamente as contribuições mais citadas foram: Contribuiu para abrir minha cabeça; Acentuou a facilidade em ouvir e enxergar o outro de forma diferente; Antes ainda achava que era distúrbio/doença; Só acrescentou os meus conhecimentos; Desfez alguns mitos existentes em mim; Ajudou a compreender mais naturalmente essas reações; Em questões de respeitar as diferenças pessoais; Sinto-me mais segura para aceitar o diferente; Hoje minha visão sobre o tema é esclarecida; Na troca de experiência aprendemos muito; Minha forma de pensar não mudou. Mas facilitou a minha abordagem sobre o tema; Obtive mais informação; Revi alguns conceitos. É importante perceber que nesta questão pelo menos 08 pessoas assumiram ter antes uma visão de mundo mais fechada com relação á questão LGBT e que de certa forma a capacitação realizada serviu para lançar a idéia de que se torna cada dia mais necessário que haja uma mudança de pensamento no lidar com a temática em sala de aula. De antemão, afirmar que os seminários serviram para “abrir a cabeça”, tirar alguns mitos, rever conceitos, compreender as reações das pessoas LGBT com mais naturalidade, já são indícios de que para estes participantes as atividades surtiram efeito positivo. Muito embora saibamos que ao voltarem para suas casas e convívios sociais as influencias e práticas sociais anteriores vão entrar em conflito com o novo apreendido e não se garante que o efeito será duradouro. Quanto às mudanças apontadas pelos participantes na sua forma de pensar, de ver o mundo e agir com LGBT depois da sua participação nos dois seminários do projeto, temos os resultados a seguir: melhor compreensão com o público; são muito organizados, informados e o mais importante, querem a educação para todos; a forma como passei a respeitar e ouvir esses jovens; Só melhorou, tenho amigos assim e me dou muito bem com eles; Um olhar diferenciado sobre pessoas com orientação sexual diferente; Passei a entender melhor o público LGBT; Mais respeito e consideração; Não tratar com discriminação; A compreensão da naturalidade da diversidade; O respeito às diferenças; Hoje consigo colocar o direito do outro à frente do meu preconceito; O fortalecimento dos movimentos sociais apoiados pelo Estado; Ao está ciente das ações desempenhadas e de tanta informação, hoje debato, esclareço tudo pela luta para que haja melhorias; Maiores esclarecimentos sobre o assunto, estímulo a participar mais ativamente das discussões; O entendimento do que é pertencer a esta comunidade (dificuldades e lutas, ousadia); Defende-los sempre; Tornei-me mais tolerante com outras diferenças; respeito e naturalidade. Ao serem perguntados sobre os elementos que influenciam na construção social do preconceito à população LGBT as respostas mais citadas entre eles foram: a religião e o pensamento machista (08 219 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos pessoas); Mídia, sociedade Alienada e machista (07 pessoas); ainda falaram da falta de conhecimento sobre os direitos humanos (03 pessoas), da resistência para mudar de pensamento e da escravidão no país (02 pessoas). Percebemos aqui uma retomada naqueles conceitos e práticas que expomos para fundamentar a homofobia na sociedade. Como vemos, as instituições sociais, os sistemas econômicos e a falta de informação aparecem como mediadores na construção social da homofobia. A nosso ver ter a consciência desses aspectos já é um elemento facilitador na prevenção e combate à violência para tal população. Mais adiante temos a confirmação da apreensão do conteúdo por parte dos participantes quando analisamos que ao serem perguntados pelas origens da homossexualidade, 10 pessoas respondem que ela é natural do ser humano. 02 ainda respondem que é genética, 02 assumem que é opção/escolha e 05 se evadem da resposta e 01 apenas diz que a homossexualidade tem origem sociocultural. Perguntamos aos participantes como devem proceder os/as profissionais de educação para prevenir/evitar a prática de violência e discriminação por orientação afetivo-sexual no espaço escolar e obtivemos uma variedade de respostas. Dentre as mais citadas temos: Com diálogo, socialização do assunto, sempre esclarecer e trazer ao debate para uma melhor compreensão; Trabalhar permanentemente contextualizando os temas relacionados à orientação afetivo-sexual nas várias modalidades promovendo o respeito ao outro e às diferenças;Orientando para o pleno exercício da cidadania por parte de todos;Ter ciência do seu compromisso de educador;Plantar sementes de conscientização nos mais novos para criar condições desses fatos diminuírem gradativamente;Informar, conscientizar as pessoas LGBT a levantar sua auto-estima pra que possam se defender, se amar e não se esconder ou se envergonhar;Não ser omissa. Os profissionais que não sabem lidar com naturalidade devem procurar parcerias para pedir ajuda. A apreensão do conteúdo dado durante todo o projeto foi bem realizada e os/as participantes já apontam as formas e os meios de se evitar as práticas homofóbicas em salas de aula. Tal fator indica que a primeira parte da conscientização foi realizada com sucesso e a partir deste momento resta aos/ às profissionais se aliarem de algum modo entre si de forma que possam se organizar para continuar realizando as ações de prevenção no cotidiano escolar. Vale salientar que uma grande aliada para este tipo de ação é a discussão dos direitos humanos que de um modo geral já está incluída no currículo escolar. Falta apenas vontade política por parte das gestões e coragem aos professores para desafiarem suas próprias crenças e preconceitos para reconhecerem os/as alunos/as LGBT como cidadãos de direitos em condição de igualdade como previsto nas Constituição Federal do Brasil e Declaração Universal dos Direitos Humanos. Conclusões É possível dizer que o objetivo principal do projeto foi cumprido. Ou seja, o empoderamento dos educadores da rede Estadual de ensino e da Prefeitura Municipal do Recife foi realizado sendo que o projeto ainda foi ampliado para alguns membros de movimentos sociais que trabalhavam com a temática da educação e direitos humanos. O intuito era introduzir no cotidiano escolar, temáticas relativas à diversidade sexual e identificar na prática educativa, possíveis ações preconceituosas e discriminatórias reorientando-as para o respeito à diversidade no espaço escolar. Na verdade essas temáticas já estavam previstas no módulo de Direitos Humanos dos Parâmetros da educação Nacional, o que o projeto proporcionou foi a reflexão sobre a necessidade de os professores trabalharem e darem mais atenção às mesmas. 220 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos Foram feitas ainda como previsto a reflexão acerca das práticas desenvolvidas dentro do espaço escolar voltadas à atitudes não discriminatórias por orientação afetivo-sexual e identidade de gênero. Como também a realização de oficinas e grupos de discussão para repensar as práticas pedagógicas voltadas à promoção da cidadania e dos Direitos Humanos no ambiente escolar. Neste sentido pode-se avaliar a partir do exposto sobre as atividade de cada um dos seminários que estes objetivos foram cumpridos bem como a perspectiva de trabalhar com uma metodologia participativa que foi garantida pela utilização de métodos como oficinas e debates. Além desses objetivos o projeto previa a elaboração de um plano de atividades voltado aos/às educadores/as da rede pública de ensino, no intuito de fortalecer as políticas já existentes e colaborar com a construção de novas políticas voltadas para uma prática educativa não-homofóbica. Quanto a isto podemos dizer que é um objetivo bastante amplo e que só em parte ele pode ser realizado. Uma vez que os efeitos dessa ação só poderão ser analisados posteriormente. O que é possível aferir no momento é que os planos de atividades foram elaborados por parte de alguns participantes, não todos, e que a etapa inicial do projeto deixou a desejar na construção dessa idéia junto aos participantes. Mas, o fato de 19 professores terem produzido seus planos de ação para serem aplicados em suas escolas e terem aberto o caminho para a discussão pode ser visualizado como indício de que novas políticas sejam empreendidas nas escolas que aderiram tais práticas. Vale salientar que mesmo aqueles professores que não conseguiram implementar os seus planos de intervenção estiveram o justificaram pelos entraves e dificuldades colocadas pelas gestões das escolas ou por resistência específica de seus diretores. Quando passamos a analisar as metas do projeto temos que a sensibilização de 200 educadores/ as para a discussão e o aprofundamento de modo didático das temáticas sobre o respeito à diversidade afetivo-sexual e suas expressões, bem como à identidade de gênero a diversidade sexual foi alcançada em parte. Embora o aprofundamento tenha sido realizado com sucesso, segundo a percepção dos participantes, o quantitativo de pessoas não o foi. Já que apenas 130 pessoas foram capacitadas. Mas isso não indica, a nosso ver, fragilidade do projeto. Houve na verdade uma falha na divulgação e comunicação da capacitação, que não foi feita por parte dos coordenadores do projeto, e sim da SEDUC, e isto inviabilizou a participação de algumas pessoas que gostariam de ter participado. Quanto à intencionalidade de colaborar com os processos de transformação dos indivíduos nos espaços onde são formados de forma coletiva, visualizamos que também é uma meta difícil de ser cumprida. Contudo vemos pela articulação das idéias colocadas por alguns participantes que grande parte dos conteúdos da capacitação foi apreendida e já pode ser evidenciada na segunda etapa do projeto quando da apresentação dos planos de intervenção como muitos professores já se colocaram com perspectivas diferentes daquelas do início. Alguns se aliaram para elaborar e aplicar os seus planos o que indica o potencial transformador da ação realizada. Quanto aos resultados pretendidos pelo projeto é possível dizer que embora não tenhamos aprofundado a discussão sobre a exclusão em nosso trabalho, não é novidade dizer que os processos de exclusão para serem diminuídos ou erradicados necessitam de intervenções mais amplas do Estado inclusive, como principal garantidor de direitos sociais. Um projeto por si só não teria a capacidade de acabar com a exclusão dessa parcela da população. No máximo ele incorpora discussões e incitam a luta por respeito aos direitos deste segmento como o referido projeto conseguiu. A partir das primeiras ações do projeto já se verificou um aumento nos convites e solicitações para palestras em escolas de todo o Estado de Pernambuco. As discussões foram implantadas nas escolas 221 I Seminário Internacional & III Seminário de Modelos e Experiências de Avaliação de Políticas, Programas e Projetos tanto por parte dos participantes do projeto que se fortaleceram e se informaram sobre atemática como por parte dos coordenadores do projeto que passaram atuar com mais freqüência em várias escolas, com diferentes faixas etárias de alunos em variados níveis de ensino. Desde o primário até à Universidade. Embora reconheçamos que todos os entes da sociedade são responsáveis por respeitar e fazer valer os direitos humanos situamos que a exemplo da diminuição da exclusão, também entendemos que a promoção de direitos humanos se dá por parte principalmente do Estado associado à sociedade civil. E uma vez valorizando o coletivo como indispensável nesta construção, não poderíamos dizer que o projeto promoveu direitos humanos. Ele trouxe sim, a discussão sobre a realidade desconhecida por muitos, sobre a questão dos direitos humanos LGBT e sobre os entraves políticos que este segmento da população sofre para terem os seus direitos minimamente respeitados. No primeiro seminário foi dado prioridade ao tópico de formação e informação sobre todas as questões que envolvem o preconceito, a discriminação, a homofobia, a diversidade sexual e a sexualidade. Embora alguns participantes tenham reclamado da metodologia, ou seja, da forma agressiva, contundente ou tendenciosa de passar o conteúdo a grande maioria das pessoas afirmaram ter adquirido mais conhecimento e mais segurança sobre essas temáticas. Foram desmistificadas muitas questões nessa primeira fase do projeto principalmente com relação aos comportamentos, orientações e identidades afetivo-sexuais que eram as principais dúvidas dos participantes. Os professores demonstraram muita motivação, assim como criatividade no tratamento do tema. Foram diversificadas as metodologias utilizadas para a aplicação dos seus planos e eles declararam muita participação dos seus alunos ou público quando era ocaso. Já que algumas ações foram realizadas com vários segmentos das escolas e por vezes também aberto ao público em geral. De fato verificamos que a dinâmica dos dois seminários proporcionaram um aumento da motivação para esse tipo de trabalho para aqueles educadores que não sabiam por onde começar e que não tinham o apoio ou incentivo da gestão da escola para desenvolver este tipo de trabalho. Referências BRASIL. LEI de Diretrizes e Bases da Educação, (LDB). Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>acesso em: 29/09/08 ___________. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos: 2006/ Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. – Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2006. ___________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Brasília. MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf> Acesso em: 29/09/08. MARCONI. M. A. & LAKATOS. E. M. Técnicas de Pesquisa. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. SILVA, M. O. S. Avaliação de Políticas e programas sociais teoria e prática. São Paulo: Veras, 2001. ___________. Pesquisa avaliativa: aspectos teóricos-metodológicos. São Paulo: Veras, SP, 2008. 222