A Arte Mestiça E s c o l a C u s q u e n h a d e P i n t u r a A Arte Mestiça Escola Cusquenha de Pintura Manuel Julio Vera Direção Geral / General Direction Vito D’Alessio Textos / Texts São Paulo - Brasil 2011 patrocinador / sponsorship A Usina Colombo S/A Açúcar e Álcool, produtora do Açúcar Caravelas, em seus 70 anos de existência, vem escrevendo uma doce história em nosso país. Essa história não retrata apenas a memória de uma família em particular, mas retrata também os sonhos, os desejos e a luta árdua de pessoas comuns, que labutam diariamente nas lavouras. The Usina Colombo S/A Açúcar e Álcool, producer of the Caravelas sugar brand, along its 70 years of existence, has been writing a sweet story in our Country. This story does not only depict the memories of a particular family, but also the dreams, desires and hard struggles of the common people, who dwelt daily in the plantations. Essas pessoas, simples e dedicadas, são as responsáveis legítimas pelo crescimento da cultura da cana no Brasil, pois é nesta ponta da cadeia que todo o processo se inicia. Processo que vai desde a preparação do solo, passando pelo plantio e terminando na colheita. These humble and dedicated people are the ones truly responsible for the development of the sugar cane industry in Brazil, for it is at this end of the chain that the whole process is initiated. The process, that begins with the preparation of the soil, continues with the planting and ends with the harvesting of the canes. Sem dúvida, outros profissionais também estão envolvidos, seja no processo industrial ou mesmo em outros setores, tais como o administrativo. Entendemos que não citá-los seria cometer um grave equívoco. Inegavelmente, está claro que a cana-de-açúcar foi uma das culturas responsáveis pelo crescimento e fortalecimento econômico de nosso país. Antes de existirem as máquinas, todo o processo era manual. Hoje, com o aparato tecnológico, a colheita já é 80% mecanizada em nossa empresa, evitando assim, o secular uso das queimadas, que prejudicam sobremaneira o meio ambiente. Assim, ao termos conhecimento do projeto “Cana Doces Memórias”, não hesitamos em apoiá-lo, pois além da possibilidade de nos tornarmos incentivadores e disseminadores da cultura, visamos a oportunidade de homenagear nossos colaboradores, verdadeiros protagonistas na construção deste livro, que retratou de forma leve e poética este tema que se confunde com a história do Brasil. Without any shadow of a doubt, other professionals are also involved, be it in the industrial level or even in other sections of the company, such as the administrative section. It would therefore be a mistake not to mention those individuals. Unquestionably, sugar cane has been a leading agricultural product, responsible for the strengthening and growth of our Country´s economy. Before the existence of proper machinery, the processing was entirely manual. Today, with the use of a wide range of technological instruments, our company already processes 80% of the harvest mechanically, thus avoiding the ancient tradition of the use of fire, that vastly burdens the environment. Therefore, as soon as we came in contact with the project “Sugar Cane – Sweet Memories”, we did not hesitate in supporting it, for beside the possibility to support and propagate culture, we envisioned the opportunity to make a tribute to our entire staff and collaborators, the true protagonists of the elaboration of this book that, in a light and poetic form presented the subject, that is an inseparable part of the history of Brazil. Representante Tejofran Diretor-Superintendente Director Superintendent índice / index ÍNDICE / INDEX mUITO ANTES DA CONQUISTA The mining Boom Started 08 ENTRE O SOL E A CRUZ The mining Boom Started 30 A ESTÉTICA DO SINCRETISMO The mining Boom Started 50 O APOGEU DO BARROCO The mining Boom Started 68 O FIM DE UM CICLO The mining Boom Started 86 AS CORES DA TERRA The mining Boom Started 100 mUITO ANTES DA CONQUISTA The mining Boom Started A SIMBOLOGIA NA ARTE INCA O homem Andino cultuou desde a antiguidade seus deuses do mundo panteísta e cosmogânico através de oferendas em “Queros”, vasos cerimoniais modelados em argila, cuja forma cilíndrica e cuneiforme é inspirada pela observação do seu entorno; a cordilheira dos Andes. Os “Queros” são considerados as primeiras manifestações artísticas do mundo andino, estabelecendo uma identidade tão forte que de alguma maneira influenciou todas as culturas posteriores, passando pelo império incaico, o vice- reinado, o período republicano e mesmo no período contemporâneo ainda apresenta sinais de resistência, como objetos de caráter ritual e seu emprego se limitava as festas rendendo cultos aos seus deuses tutelares. Os “Queros” surgiram na cultura “Chavim de Huantar”, entre os anos de 2000 a 500 a.C, denominado como o período formativo do mundo andino. Estes povos tinham a figura do Jaguar no centro do seu imaginário, representado através de suas garras, dentes, olhos na iconografia dos Queros, como forma de perpetuar os poderes sobrenaturais destes deuses. A influencia destes Queros tronco-cônicos, foi encontrada nas culturas Chongoyape e Cupisnique entre 1000 e 200 a.C. no litoral norte peruano, aonde também eram confeccionados em ouro. Continuando com a análise cronológica chegamos à cultura Tiahuanaco de 200 a.C. até 1000 d.C., talvez a precursora do império inca que representavam seus mitos e crenças também através de telas, cerâmicas, esculturas lítica. Marcadas por desenhos aparentemente abstratos que correspondiam a formas figurativas estilizadas como estrelas, felinos, aves, etc. Nela os Queros preservavam o formato tronco-cônico, de boca larga e superfície exterior polida, decoradas com pintura esquemática e geométrica e formas lineares que se repetiam cobrindo toda a superfície. Porém, substituindo a imagem do felino pelo “Deus Lloron”, a divindade suprema também esculpida na Portada do Sol no sitio arqueológico de Tiahuanaco, em território Boliviano. O caráter expansionista de Tiahuanaco marca uma forte hierarquia religiosa que foi transmitida a cultura Huari, que floresceu e se manteve BACKGROUND OF THE CUZCO SCHOOL OF PAINTING The Emergence of the “Keros” The Andean man since antiquity worshiped the gods of his pantheistic and cosmogonic world with offerings in “Keros”, ceremonial vessels modeled of clay, whose tapered cylindrical shape is inspired by observation of his surroundings; the Andes mountains. The “Keros” are considered the first artistic manifestations of the Andean world, establishing an identity so strong that in some way it influenced all subsequent cultures, through the Inca Empire, under the Viceroys, in the Republican period and even in the contemporary period it still shows signs of survival, as objects with ritual character and use limited to rites in worship of the Andes’ titular gods. The “Keros” appeared in the “Chavin of Huantar” culture between the years 2000 to 500 BC, known as the formative period of the Andean world. These people had the figure of the Jaguar at the center of their imagination, represented by its claws, teeth and eyes in the iconography of the Keros, as a way of perpetuating the supernatural powers of these gods. The influence of these cylinder-cone Keros, was found in the Chongoyape and Cupisnique cultures from 1000 to 200 BC along the northern coast of Peru, where they were also made of gold. Continuing with the chronological analysis we come to the Tiahuanaco culture from 200 BC to 1000 AD, perhaps the forerunner of the Inca empire that also represented its myths and beliefs through screens, ceramics and stone sculptures. They were decorated with seemingly abstract drawings that correspond to stylized figurative shapes like stars, felines, birds, etc. In it the Keros maintain the cylinder-cone shape, with a wide mouth and a polished outer surface, decorated with schematic and geometric paint and linear forms repeated over the entire surface. However, the imagery of the jaguar is replaced with the “Lloron God,” the supreme deity also carved in the Gate of the Sun at the Tiahuanaco archaeological site in Bolivia. The expansionist character of Tiahuanaco, distinguished by a pow- entre os 600 e 1000 d.C, e que preservou em sua iconografia a representação do “Deus Lloron”. Da mesma forma esta influência também é notada na cultura Nasca que se desenvolveu no litoral sul do Peru, e posteriormente no período Chimu de 1000 a 1430 no litoral norte do Peru, os “Queros” novamente aparecem no formato tronco-cônico, porém trabalhadas em ouro e prata pelos ourives chimus, substituindo o deus felino e o deus “lloron” pela deidade local “Naymlap”. Os “Queros” e o Império Inca. É através da conquista destas culturas anteriores das zonas do Titicaca, central e norte do Peru que os “Queros” são incorporados pelos Incas. Onde passaram a ser utilizados indiscriminadamente tanto pelo Inca, a elite e seu povo. Eleito como o recipiente para a “Chicha”, uma bebida a base de milho que fermentada eram servidas como oferendas para agradar os deuses em rituais e festas agrícolas como tradicionalmente já faziam as culturas anteriores. No calendário Inca cada mês acha se vinculado com uma festa. O mês de junho era pelo “Inti Raymi” a festa máxima do Império incaico para celebração do solstício de inverno nos Andes em homenagem ao deus Sol, onde as oferendas de ouro, prata, alimentos eram dedicados a ele em um evento de grande esplendor (como mostra o desenho de Guaman Poma – fazer a citação na legenda da imagem) Nesta festa o “brinde ao Sol” é oferecido pelo Inca como ponto alto da mesma, era a oferenda maior, a chicha é a bebida e o Quero é o vasilhame sagrado que é elevado ao deus Sol. Símbolo da nobreza, os “Queros” são difundidos pelo povo incaico, reproduzindo os hábitos da elite e do Inca o ato social de beber. Nos dias de “Inti Raymi” as múmias dos antigos imperadores saiam em procissão na praça principal de Cusco, (no Império incaico somente a nobreza e os Incas eram mumificados) .Tendo a frente o “Inca vivo” e sua esposa celebrando a passagem da vida terrena, aonde um “Quero” com chicha se derrama ao solo convidando a múmia a beber com os vivos. Estas cenas foram gravadas na decoração pictórica dos “Queros” que hoje são encontradas em acervos de vários museus. A maior produção de “Queros” incaicos pertence ao século 16, sendo estes de difícil distinção entre os executados antes o depois da conquista espanhola. Porém, sem duvida a técnica Inca chega até o ano de 1821 quando surgem “Queros” gravados com laca e representando um soldado carregando a bandeira do General San Martin, “O libertador da América”. erful religious hierarchy, was transmitted the Huari culture which flourished and endured between 600 and 1000 AD and which preserved in its iconography the representation of the “Lloron God.” Similarly, this influence is also noticeable in the Nasca culture that developed on the southern coast of Peru, and later in the Chimu period of 1000 to 1430 on the northern coast of Peru, the “Keros” again appear in the conical-cylinder shape, but worked in gold and silver by the Chimus goldsmiths, replacing the cat god and the “Lloron God” with the local deity “Naymlap.” Os Queros, são portadores dos elementos de poder sagrado da cultura andina, trazem consigo cenas da vida e do cotidiano, cuja iconografia se harmoniza com a natureza. Para a sociedade Inca a comunidade constitui uma unidade, assim os “Queros” eram produzidos e utilizados aos pares, expressando de certa forma o desejo de solidariedade social a partir da representação do equilíbrio entre os mundos de “Haman e Hurin”. Na tradição andina, Haman define o mundo superior habitado pelos deuses aonde somente as pessoas justas podiam entrar. Enquanto Hurin é o mundo inferior. The “Keros” and the Empire of the Incas. Os “Queros” no período colonial. The achievement of the earlier cultures of the areas of Lake Titicaca and of central and northern Peru, the “Keros” were assimilated by the Incas. They came to be used indiscriminately by all: the Inca, the elite and the people. They the chosen container for “Chicha”, a corn-based fermented drink that was served as an offering to please the gods in rituals and agricultural celebrations, as in the tradition of the prior cultures. A forma e a iconografia “Queros” na época colonial, continuam relacionados a moralidade incaica de mútuas obrigações, o que constitui a essência da comunidade andina. Porém segundo a visão européia são interpretados como a expressão do barroco peruano, transformado se gradualmente em objetos decorativos. In the Inca calendar each month is tied to a feast. The month of June was for “Inti Raymi” the Inca Empire’s greatest feast, celebrating the winter solstice in the Andes in honor of the sun god, where offerings of gold, silver and food were dedicated to him in an event of great splendor (como mostra o desenho de Guaman Poma – fazer a citação na legenda da imagem) The climax of the feast is the “Toast to the Sun” offered by the Inca, the greatest offering. The chica is the drink and the Kero is the sacred vessel which is raised to the sun god. Symbol of nobility, the “Keros” were spread by the Inca people, reproducing the habits of the elite and of the Inca in the social act of drinking. During the feast of “Inti Raymi” the mummies of former emperors were carried in procession in the main square of Cusco (in the Inca Empire only the nobility and the Incas were mummified.) Leading was the “Living Inca” and his wife celebrating the passage of earthly life, where a “Kero” with chicha was poured on the ground, inviting the mummies to drink with the living. These scenes were recorded in the pictorial decoration of the “Keros” which today are found in several museum collections. The largest production of Inca “Keros” dates to the 16th century, it being difficult to distinguish between those executed before and after the Spanish conquest. But undoubtedly the Inca technique was still alive in the year 1821 when there appeared “Keros” painted with shel- Assim, a arte dos Queros acha se intimamente ligada com a pintura colonial peruana já que recolhe a composição figurativa e as imagens narrativas introduzidas no Peru desde a Espanha. Guaman de Poma “…Alguns ao ler este livro chorarão, outros se rirão, outros o encomendarão a Deus, outros de raiva o queiram destruir, uns poucos queiram tê-lo entre suas mãos...” O cronista índio Guaman de Poma de Ayala, percorreu o território peruano entre os anos de 1584 a 1614 para colher informações do passado histórico e da tradição conservada pelos anciões “quipucamayoc”, administradores do império Inca, e os “amautas”, sábios do império Inca, que sobreviveram a catástrofe da conquista. Narrando a sobrevivência de crenças ancestrais, observando com tristeza as transformações e os abusos impostos pela conquista espanhola. Nascido em 1532, na cidade de Ayacucho na cerra central do Peru. Guaman Poma era descendente direto de um dos últimos Incas que governaram o Império. Seu nome era inspirado pelos ícones totêmicos “waman puma” que em língua quechua, significam a águia e o puma, os deuses tutelares da terra e do céu. Em sua obra, concluída provavelmente em 1615, e que foi escrita em castelhano arcaico e em língua Quechua, narra em 1.189 páginas e 398 desenhos, à visão indígena do mundo andino e permite reconstruir com detalhes aspectos da sociedade peruana depois da conquista, ao lac and representing a soldier carrying the flag of General San Martin, “The Liberator of America.” The Keros are bearers of the elements of the sacred power of Andean culture, carrying on them scenes of life and of everyday events, with iconography in harmony with nature. For the Inca society the community was a unit, so the “Keros” were produced and used in pairs, expressing in a way the desire for social solidarity in the representation of the balance between the worlds of “Haman and Hurin.” In the Andean tradition, Haman rules the upper world inhabited by the gods where only righteous people may enter. While Hurin’s is the underworld. The “Keros” in the colonial period. Acho que este texto esta isolado The form and iconography of the “Keros” in the colonial era, continued to be related to the Inca mores of mutual obligations, which is the essence of the Andean community. But according to the European view they are interpreted as the expression of Peruvian Baroque, gradually transforming into decorative objects. Thus, the art of the Keros is found closely linked with Peruvian colonial painting since it absorbs the figurative composition and narrative images introduced to Peru from Spain. Guaman de Poma “... On reading this book, some will cry, others will laugh, others will call on God, others from anger will want to destroy it, a few will want to clasp it in their hands ...” The Indian chronicler Guaman Poma de Ayala travelled through Peruvian territory from the years 1584 to 1614 to gather information on the historic past and the traditions preserved by the “quipucamayoc” elders, administrators of the Inca empire, and the “amautas”, the empire’s sages, who survived the catastrophe of the conquest. Narrating the survival of ancestral beliefs, noting with sadness the transformations and the abuses imposed by the Spanish conquest. Born in 1532 in the city of Ayacucho in the central mountains of Peru, Guaman Poma was a direct descendant of one of the last Incas to rule the Empire. His name was inspired by the “waman cougar” totemic icons which in the Quechua language, means the eagle and the puma, the tutelary gods of earth and sky. His book, probably completed in 1615, and written in archaic mesmo tempo que ilustra sobre a historia e genealogia dos incas. Guaman Poma nos relata estes acontecimentos vivenciando com realismo, sem nenhum tipo de concessão em busca da verdade e a justiça, denuncia os abusos e barbáries das autoridades coloniais, da igreja católica e dos despóticos donos das terras e minas. Dominando perfeitamente o quéchua, espanhol, latim e com conhecimentos de aymara, Poma não apenas relata, mas sugere alternativas aos desequilíbrios da colônia, a partir de idéias visionárias. Propõe a criação de um "buen gobierno" que tenha como base as estruturas sociais e econômicas Incas, a tecnologia européia e a teologia cristã, adaptada as necessidades práticas dos povos andinos. Na educação defende a integração de indígenas e espanhóis seja no campo ou na cidade, tendo como base o quéchua como língua materna e o espanhol. Afirma que as crianças teriam melhor rendimento através do contato com a musica e seus instrumentos. É importante sinalizar que nesta época de dominação os monarcas eram tidos como descendentes de deus.Guaman Poma sendo extremamente católico considerava o Rei de Espanha como legitimo, apesar de não aceitar o domínio espanhol. Além de propor mudanças na sociedade, ele pretendia atrair a atenção do Rei para as injustiças, já que sendo este o representante de Deus na terra não poderia permitir. Assim sua obra é dedicada ao rei Felipe III, e enviada a Espanha, não se sabe como já que tudo era censurando e pelo seu conteúdo teria sido destruído. Atualmente o manuscrito original acha se na Biblioteca Real Dinamarquesa, em Copenhague, desde o ano de 1660, descoberto pelo alemão Richard Pietschmann foi publicado em 1908, sendo a sua primeira edição editada em 1936 pelo etnólogo Paul Rivet do Instituto de Etnologia de Paris. Os desenhos do cronista ilustrador passaram por todas as temáticas que um artista pode encontrar no seu cotidiano, assim são: Desenhos religiosos, desenhos históricos, desenhos documentais, que apresentam os diferentes aspectos da vida diária, antes e após a chegada dos espanhóis, desenhos de protesto contra os abusos e arbitrariedades a que foram submetidos os índios pelos espanhóis, os quais representa em desenhos alegóricos e irônicos ridicularizando como gordos, grossos e preguiçosos. Demonstrando sua genialidade de cronista, Guaman Poma representa composições do passado incluindo personagens índios com a sua evolução no tempo (Huari, Viracocha, Runa). Desenhos produto da imaginação do artista, sonhos, expressão de coisas absurdas misturadas no tempo e no espaço, como o desenho em que viajam nos mares do sul em um barco: Colombo, Pizarro, Almagro, em outro o apóstolo Santiago combatendo a Manco Inca que esta montado em um cavalo; Os desenhos de Guaman Poma são o melhor que a arte mestiça peruana pode produzir no século 17, trazendo a influencia européia em sua iconografia e composição, enquanto sua abstração e ilustração Spanish and in the Quechua language, recounts in 1189 pages and 398 drawings, the Indian vision of the Andean world and allows us to reconstruct in detail aspects of Peruvian society after the conquest, while at the same time it illustrates the history and genealogy of the Incas. Guaman Poma realistically relates the events he experienced, without any sort of concession in the search for truth and justice, denouncing the abuses and atrocities of the colonial authorities, of the Catholic Church and of the despotic landholders and mine owners. With his complete mastery of Quechua, Spanish and Latin, and with some knowledge of Aymara, Poma not only reports, but suggests alternatives to the colonial imbalances, based on visionary ideas. He proposes the creation of a “good government” based on the Inca social and economic structures, European technology and Christian theology, adapted to the practical needs of the Andean peoples. In education he advocates the integration of Indians and Spanish both in the countryside and in the city, based on the Quechua mother tongue and Spanish. He affirms that children would learn more through contact with music and its instruments. It is important to note that in this era of domination, monarchs were seen as descendants of God. Guaman Poma, being extremely Catholic, considered the King of Spain as legitimate although he did not accept Spanish rule. In addition to proposing changes in society, he intended to draw the King’s attention to injustices, since being God’s representative on Earth he could not allow them. So his work is dedicated to King Philip III and was sent to Spain. Why is unknown, since everything went through censorship and from its contents it should have been destroyed. Fazer a ligação do desaparecimento com a Dinamarca. The original manuscript has reposed in the Danish Royal Library in Copenhagen since 1660, where it was found by German Richard Pietschmann who published it in 1908, and ethnologist Paul Rivet’s Institute of Ethnology in Paris published its own first edition in 1936. The chronicler’s drawings go through all the everyday themes that an artist may encounter, such as: religious drawings, historical sketches, documentary drawings, presenting different aspects of daily life, before and after the arrival of the Spaniards, drawings protesting the arbitrariness and abuses the Indians were subjected to by the Spaniards, whom he represents in allegoric and ironic drawings mocking them as fat, rude and lazy. Demonstrating his genius as a storyteller, Guaman Poma presents pictures of the past including Indian characters with with their changes over time (Huari, Viracocha, Runa). The drawings are products of the artist’s imagination, dreams, expression of nonsense mixed up in time and space, like the drawing in which Columbus, Pizarro and Almagro sail together through the southern seas; in another the apostle St. James fights the Inca Manco, who is mounted on a horse. esquemática é notadamente produto da herança indígena Constituindo se a sua obra, em uma das primeiras manifestações da simbiose americana - européia, e que representa uma fonte elementar para conhecer em profundidade a história do Peru. O Inca Garcilaso de La Vega Os Incas conheciam a pintura e a utilizarão como suporte em telas, madeiras e muros. Estas pinturas contavam histórias, relatavam as façanhas de seus reis incas, suas conquistas, os mitos referentes às famílias da nobreza. Estes documentos das pinturas sobre tela e madeira foram usadas pelos curacas incas nos tempos coloniais nas brigas judiciais que mantinham para reconhecimento do uso e propriedade das terras ou reconhecimento de privilégios que as autoridades espanholas concediam aos descendentes da nobreza inca durante o vice-reinado peruano. O Inca Garcilaso de La Veja, passou a sua infância e juventude no Peru quando escutava de seus avos e parentes mais próximos as histórias e lendas de seus antepassados e do império incaico. Na sua maioridade foi residir na Espanha quando publicou em Lisboa em 1609 o livro “Os comentários reais dos Incas”, este livro relata as histórias, lendas e contos que conhecia segundo os relatos da sua família. Graças a esta publicação o mundo conheceu o império Incaico e fez da cidade de Cusco uma das mais conhecidas da América pré-colombina e hispânica. No livro Garcilaso conta sobre uma pintura mural feita sobre um morro no caminho que vai de Cusco a Chancas, segundo sob as ordens do Inca Viracocha, o nome da divindade invisível, criadora de toda a cosmovisão andina. Era considerado Mestre do Mundo, que provinha do Lago Titicaca, criando então o céu e a terra. Assim relata o escritor: “(...) que no tempo do Inca Viracocha mandou ao povo dos Chancas fazer em uma enorme pedra no caminho de Cusco, um mural gigantesco que se encontrava com dois condores, sendo um com as asas fechadas, a cabeça baixa e encolhida, como se posicionam as aves quando querem se esconder, por mais feras que sejam, com o rosto para o norte e as costas para Cusco. A outra em sentido contrário, com o rosto voltado para a cidade, com as asas abertas para voar e agarrar a sua presa. Explicavam os índios que esta pintura significava que um condor representava seu pai que tinha fugido de Cusco e que foi esconder-se no Collao (região andina ao leste do lago Titicaca, pertencente à atual Bolívia.) e o outro condor representava o Inca Viracocha que voltou a Cusco voando, para defender a cidade e seu império” Apesar destas histórias jamais estas pinturas foram encontradas vestígios delas nem de outras similares. Cusco e Lima Guaman Poma’s drawings are the best that mestizo Peruvian art could produce in the 17th century, carrying European influence in its iconography and composition, while its abstraction and schematic design is notably a product of Indian heritage. His body of work is the book, one of the first manifestations of the symbiosis between the Americas and Europe, and represents a primary source for a deep understanding of the history of Peru. Garcilaso de la Vega, the Incan The Incas knew painting and used it on such supports as fabrics, woods and walls. These paintings told stories, related the feats of the Inca kings, their conquests, the myths relating to the noble families. These documents in paint over canvas and wood were used by the Incan curacas in colonial times in their legal battles for recognition of use and ownership of land, or recognition of the privileges which the Spanish authorities granted to the descendants of the Inca nobility during the Viceroyalty of Peru. The Incan Garcilaso de la Vega spent his childhood and youth in Peru, and heard then from his grandparents and other close relatives the stories and legends of their ancestors and of the Inca empire. In adulthood he went to live in Spain where he published in Lisbon in 1609 the book “The Royal Commentaries of the Incas”, a book which tells the stories and legends that his family had told him. Thanks to its publication, the world learned of the Empire of the Incas, and the city of Cusco was one of the best-known cities of pre-Columbian and Hispanic America. In the book Garcilaso tells of a mural on a hill on the road from Cusco to Chancas, painted by order of the Inca Viracocha, name of the invisible deity, creator of the entire Andean worldview. He was considered the Teacher of the World, who came from Lake Titicaca, then creating the heavens and the Earth. So says the writer: “(...) That in the time of the Inca Viracocha it was commanded that the people of Chancas create on a huge stone on the way to Cusco, a giant mural with two condors, one with his wings closed, head bowed and crouching, like the position the birds take when they want to hide, however fierce they may be, facing the north with its back to Cusco. The other in the opposite direction, looking toward the city, with wings open to fly and to catch prey. The Indians explained this painting as meaning that one condor represented his father who had fled from Cusco and went into hiding in Collao (the Andean region to the east of Lake Titicaca, in what is now Bolivia) and the other condor represented the Inca Viracocha who flew back to Cusco, to defend the city and his empire.” Despite these stories these paintings have never been found, nor any trace of them nor of any similar paintings. Cusco and Lima Em 1534 se realizou a fundação espanhola da cidade de Cusco esta fundação sem dúvida sobre as bases da cultura incaica marca o encontro das culturas andina e espanhola, esta simbiose de raças é perfeitamente clara em todas as manifestações artísticas. É sob a ótica da pintura e pelo seu intermédio que poderemos estabelecer as mudanças históricas ocorridas no período colonial peruano. Entre 1534 e 1570 a cidade de Cusco, por ser ela o centro dos acontecimentos da época, viveu uma intensa e agitada turbulência de fatos históricos. É assim que em 1536 ocorre a fracassada rebelião do Inca Manco II, Logo depois vem a luta fratricida de Francisco Pizarro contra seu irmão Almagro e seus descendentes de 1542 a 1548 esta luta entre realistas e separatistas da coroa espanhola tem como teatro a Praça central de Cusco onde são decapitados Gonzalo Pizarro e Carvajal. Posteriormente em 1553 Hernandez Giron se rebela e é derrotado e executado em Lima. Em 1554 é morto o último Inca Manco II, porem seus seguidores como o Inca Tito Cusi continua a luta e é derrotado em 1568. Em meio a todos estes fatos o destino econômico e cultural da cidade de Cusco e de todo o Peru passaria por uma mudança radical com o descobrimento das minas de prata do “Rico cerro de Potosi” em 1545 e o das minas de mercúrio em Huancavelica em 1560 estes achados iniciam o período de grandiosidade para Espanha e o Peru. O renascimento chega ao Peru com a presença de pintores italianos, entre o fim do século 16 e início do século 17, se faz presente com a importação de obras italianas, mas, principalmente, com a chegada de três ilustres artistas, são eles: Bernardo Bitti, nascido em Camerino, nos Estados Pontifícios, em 1548, chegou a Lima em 1574. Mateo Perez de Alessio. nascido em Lecce, do reino de Nápoles, em 1547 pertencente a Espanha na época, chegou a Lima em 1590. In 1534 the Spanish founded the city of Cusco, and doubtless this founding on the basis of the Inca culture marks the meeting of the Andean and Spanish cultures, and this racial symbiosis is perfectly clear in all forms of art. From the perspective of painting and through it we can establish the historical changes that occurred in Peru’s colonial period. Between 1534 and 1570 the city of Cusco, being at the center the era’s events, lived through intense and agitated turbulence of historical facts. Thus, in 1536 the Inca Manco II rebelled – and failed; soon after came Francisco Pizarro’s fratricidal struggle against his brother Almagro and his descendants from 1542 to 1548. This fight between royalists and those wanting to separate from the Spanish crown had as its stage the central square of Cusco, where Gonzalo Pizarro and Carvajal were beheaded. In 1553 Hernandez Giron rebelled and was defeated and executed in Lima. Manco II, the last Inca, died in 1554 but his followers such as the Inca Tito Cusi continued to fight and were defeated in 1568. Amidst all these facts, the economic and cultural fate of the city of Cusco and of all Peru would undergo a radical change with the discovery of the silver mines of the “Cerro Rico de Potosi” in 1545, and of the mercury mines at Huancavelica in 1560. These discoveries began the period of greatness of Spain and of Peru. The Renaissance arrived in Peru with the presence of Italian painters, in the late 16th and early 17th century, and with the importation of Italian works, but especially with the arrival of three distinguished artists, who were: Bernardo Bitti, born in 1548 in Camerino, in the Papal States, who arrived in Lima in 1574. Mateo Perez de Alessio, born in 1547 in Lecce in the kingdom of Naples, which then belonged to Spain, who arrived in Lima in 1590. Angelino Medoro, born in Rome in 1567, Angelino Medoro, nascido em Roma em 1567, chegou a Lima em 1600. Isto sem excluir as contribuições indiretas de El Greco e de Rubens. Notadamente com ênfase na beleza física das figuras, na impressão de volume estatuário dos mantos suntuosos, a monumentalidade das colunas e cortinas como num cenário teatral, o movimento retorcido das personagens, a forte tensão do claro-escuro e a estrutura piramidal dos retratos. Acrescenta-se, ainda, a estilização das formas, a elegância do ritmo linear, a translucidez do colorido e a musicalidade da composição. As guirlandas de flores e frutos de Rubens e Breughel foram retomadas freqüentemente pelos artistas americanos e enriquecidas de elementos locais como as penas e os brincos usados pelos Aymaras. Uma terceira grande fonte pictórica para a arte peruana foi a escola gótico-bizantina. A postura hierática das personagens em atitude de enigmática dignidade, a atmosfera de distanciamento majestosa das Virgens e dos Santos, a conformação estática das figuras agigantadas sobre fundo dourado, a realeza das vestes, dos cetros e das coroas, toda esta expressão mágica e visionária do simbolismo cristão, foi absorvida pelo espírito artístico andino. Todos os elementos da arte européia que chegaram a América como: o contraste entre a luz e a sombra, a tridimensionalidade, o material indispensável (óleos, gomas, vernizes, tinturas), a aplicação da técnica da têmpera e do óleo, foram importantes na construção da arte Cusquenha. Contudo, os artistas nativos não se limitaram a reproduzir os ditames evangélicos pregado pelos missionários. Implantaram uma releitura colorista de refinado gosto introduzindo nos temas a fauna e a flora locais, firmou a sua característica com o aumento escultórico de suas imagens e a introdução dos rostos mestiços das personagens. Murillo e Zurbarán também deixaram sua influência nas obras andinas e os mesmos temas europeus - "A Fuga para o Egito", "O Filho Pródigo", "A Virgem e os Arcanjos" - receberam a sua acolhida nas telas, no entanto o homem americano não se estreitou dentro dos limites de um mero copista. Assimilou e acrescentou. A formação da “Escola Cusquenha” tem, sem dúvida, suas raízes iniciais na cidade de Lima. Nos primeiros anos da conquista entre 1540 e 1560 existiam na cidade vários pintores que exerciam trabalhos artísticos para as Igrejas. A documentação existente mostra que estes artistas seguiram para Cusco. Em Lima o estilo predominante é a escola Sevilhano-flamenga alternando-se com a pintura espanhola quatrocentista, aparecem também alguns românicos, ou todos ao mesmo tempo. Trata-se de um ecletismo com pintores de segundo e terceiro nível que passam pela cidade e também de aprendizes indígenas que atuam com limitações. Além disso, todos os artistas europeus que estiveram em Cusco inicialmente ficavam em Lima, afinal ali estava a corte do vice-reinado, sendo Lima a capital social política e econômica da América do sul espanhola. Nesta época do século 16 não existem vestígios de pinturas ex- and who arrived in Lima in 1600. This without overlooking the indirect contributions of El Greco and Rubens. Especially the emphasis on the physical beauty of the figures, the impression of statuesque volume in sumptuous robes, the theatrical monumentality of columns and curtains, the suppleness of movement of the human figures, the strong tension of chiaroscuro and the pyramidal structure of the paintings. And as well the stylization of forms, the elegance of linear rhythms, the translucency of colors and the musicality of composition. The garlands of fruit and flowers of Rubens and Breughel were frequently borrowed by New World artists and enriched with local elements such as feathers and earrings worn by the Aymaras. A third major pictorial source for Peruvian art was the GothicByzantine school. The hieratic posture of characters in an attitude of enigmatic dignity, the atmosphere of majestic distance of the Holy Virgin and the Saints, the static conformity of the figures looming against a golden background, the majesty of the robes, crowns and scepters, all this magic and visionary expression of Christian symbolism, was absorbed by the Andean artistic spirit. All elements of European art that came to the Americas such as: the contrast between light and shadow; the three-dimensionality; the essential materials (oils, shellacs, varnishes, paints); the application of the techniques of tempera and oil; all were important in creating the art of Cusco. However, the native artists did not confine themselves to reproducing the artistic dictates preached by the Europeans. They implemented a new reading though their own refined taste, introducing local fauna and flora, established their own characteristics with an increase in sculptural images and the introduction of mixed race subjects. Murillo and Zurbarán also left their influence in the Andean works and the same European themes - “The Flight into Egypt,” “The Prodigal Son,” “The Virgin and the Archangels” - were welcomed in paintings, however the Andea man did not stay within the limits of a mere copyist. He assimilated and added. The formation of the “Cuzco School” undoubtedly has its initial roots in the city of Lima. In the early years of conquest between 1540 and 1560 there were several painters in the city who executed works of art for churches. Surviving documentation shows that these artists went on to Cusco. In Lima the predominant style is that of the Sevillian-Flemish school alternating with Spanish Quattrocento painting, while there also appears some Romanesque, or all of these at once. It is the product of eclectic second- and third-rate painters passing through the city and also of native apprentices who work within limitations. In addition, all European artists who went to Cusco initially stayed in Lima, which was after all the court of the viceroy, Lima being the political and economic capital of Spanish South America. ecutadas por artistas cusquenhos o que sim encontram se são algumas tabuas flamengas e alguns quadros de pintores espanhóis e flamengos. Esta falta de arte feita por artistas natos não é sentida somente em Cusco e sim em todo o Peru. Alem dos três italianos outros artistas europeus surgiram em Cusco e Lima orientando de certa forma a pintura cusquenha que se desenvolveria a partir do século 17. Estes pintores foram: o jesuíta Jesus Pedro Vargas de Andaluzia Espanha, o jesuíta Juan de Mosquera, sevillano, que esteve em Cusco no final do século sua obra de esculturas policromadas e grafitadas sobre “pan de oro” O que significa pan de oro muito influenciou os cusquenhos, o artista Pedro de Santagel de Florença que em Cusco realizou muitas obras,o artista Gomez Hernandez Galván suas obras grafitadas e policromadas estão em Cusco e finalmente Frei Diego de Ocoña que recorreu grande parte de América difundindo o culto a Virgem de Guadalupe de Caseres,, esteve em Cusco em 1599. Na atualidade varias heranças culturais incaicas e pré-incas são praticadas pelos joalheiros e artesão peruanos das diferentes regiões, todas elas com um profundo e forte sentimento regional. Em continuação descreveremos as principais que, da mesma forma que a manufatura dos Queros se mantém em produção. Pachacútec Inca Yupanqui (1438 ~ 1471) durante o seu governo, para organizar a memória do Império fez executar tabuas com desenhos que contam as histórias do seu reino. Posteriormente os Incas que o sucederam mandavam confeccionar retratos ou “Quellcas” a maneira de registro dos períodos governamentais do passado. Os cronistas mencionam que existia na cidade de Cusco um local denominado “Pokencancha”, que funcionava como um depósito ou museu onde se guardavam estas Quellcas. Da mesma forma o cronista Guaman Poma descreve na sua obra estas tabuas como registro dos fatos incaicos. Atualmente nas comunidades de Sarhua, localizadas na serra central do Peru, as casas são construídas com o apoio da comunidade. Os casais recém casados, com poucos recursos econômicos, recebem a ajuda dos pais, padrinhos, amigos e parentes. Estas pessoas se encarregam de doar a palha (Ichu) ou telhas, pedras, vigas, víveres para a alimentação dos que participam de este processo e diversos materiais que são necessários na construção do novo lar. A viga principal da construção é de responsabilidade do compadre do casal. Esta viga é uma herança das “Quellcas” do antigo império incaico. Nesta tabua o artista retrata cada um dos amigos ou familiares que participaram da construção e para que, desta forma, o casal os tenha sempre presentes. Também são retratados os parentes próximos de tal forma que a tabua se transforma em um registro genealógico. Na comunidade se denomina também de viga porque está localizada na parte central do quarto principal como parte estrutural da casa. Este costume existe faz trezentos anos e permanece também em sinal de resistência. In this 16th century era there are no traces of paintings executed by native Cuzco artists but rather what are found are some some Flemish works and some canvases by Spanish and Flemish painters. This lack of art by native artists is only felt not only in Cusco but throughout Peru. Os artistas “sarhuinos” da atualidade, executam diversas ilustrações num suporte plano geralmente de madeira em tamanhos menores que as vigas constituindo se na atual “tabla de Sarhua” onde se registram os costumes e vivencias da comunidade que normalmente estão acompanhadas de pequenos textos ou lendas. Besides the three italians, other european artists appeared in cusco and lima, in some way influencing the cuzco school of painting that began to develop in the 17th century. these painters were: the jesuit jesus pedro vargas from andalusia, spain; the jesuit juan de mosquera from sevillian, who was in cusco at the end of the century, making his polychromed sculptures and drawing over a background of “pan de oro” which greatly influenced the cuzco school; the artist peter santagel of florence who completed many masterpieces in cusco; the artist gomez hernandez galvan whose drawings and polychrome works are in cusco; and finally friar diego de ocoña who traveled through much of the americas spreading the worhip of the virgin of guadalupe de caseres, and who was in cusco in 1599. O buril, ferramenta de aço com ponta oblíqua cortante, usado na gravação em metal ou madeira que foi trazido pelos europeus para trabalhar na ourivesaria, permitiu aos artesãos maiores possibilidades plásticas como: gravar, marcar, fazer sulcos e representar motivos mais rebuscados na sua produção, os indígenas trabalhavam com ferramentas cortantes e pulsantes e toque de ferro quente na forma de pirogravadores. (melhor pirógrafo, pois não existe piro em português a não ser que seja uma nomenclatura técnica) Currently, various inca and pre-inca cultural heritages are practiced by jewelers and craftsmen in different regions of peru, all with deep and strong regional feelings. we will describe some of the principal ones which, like the keros, continue to be produced. Pachacutec Inca Yupanqui (1438 ~ 1471) during his administration, to organize the Empire’s memory, had tablets made with designs that tell the history of his kingdom. The “Matte perulero” is the name given to the matte tea gourd created by Peruvian goldsmiths, as a consequence of gold production from the Potosi mines in the 17th and 18th centuries. It is a gourd with its body ornamented with worked silver appliques and with its accessories also made of silver: the “bombilla and filter” (straw), the “trimmer” (herb separator) and the “salver” (support). The consumption of “yerba mate” in colonial Peru was de rigeur after meals or at any time of day because of its digestive, medicinal and nutritious qualities. Its decreased with the expulsion of the Jesuits after 1767, the changes in trade routes with the creation of the Viceregency of the Rio de la Prata, the introduction of coffee consumption and finally with the advent of tea in the 19th century. (em tese o chá chegou primeiro) O “Mate burilado” é uma elaboração artesanal praticada no “Valle del Mantaro”, Hayacucho, Huancavelica (alto Mantaro) e Junin (baixo Mantaro), na província de Huanta no Peru. A “Legenária Vulgaris” conhecida como mate ou calabaça (Cabaça em português) serve de suporte para a elaboração da depurada arte do “mate burilado” onde os artesões representam as cenas campesinas. Os mais antigos trabalhos de mate burilado datam de 3500 anos a.C e foram encontrados em Huaca Prieta, no Valle de Chicama no litoral norte do Peru. Os mates burilados do baixo Mantaro, produzidos pela classe mestiça para os campesinos de seu entorno. Foram formas artísticas criadas pelos grêmios de artesãos que se mantiveram longe dos centros das cidades grandes. Tem como características: o fundo preto dos cenários, os desenhos frontais das figuras humanas e um relato com detalhes da paisagem, da arquitetura e costumes dos povoados. Também são utilitários denominados “azucareros” Os que foram produzidos no alto Mantaro retomaram a tradição do piro gravado e utilizam o tingimento com anilinas. Seus temas se referem a cenas cotidianas, o calendário agrícola e os ritos e tradições e celebrações constituindo a memória do povo andino. Sintetizar este texto em azul Este trecho em cinza não deveria estar no começo do texto sobre mate burilado One of the most intriguing objects symbolic of ancient Peru is the “Spondylus”, known as thorny oysters or “oro rojo” or “red gold” that had ritual importance since the formative period, 2000 BC, on the northern coast of Peru. Durante o período colonial peruano dos séculos 16 ao 18 a cidade de Ayacucho viveu a prosperidade da prata e produziu uma espécie utilitária de mate burilado, devido ao consumo da erva-mate trazida pelos jesuítas. In pre-Columbian times it was also called “Mullus”, its Quechua name. It was an important component of Inca and pre-Inca jewelry and its use in Central America is evidence that there was trade between the cultures. The “Spondylus” is a sea shell that is not found in cold waters, and so only in the north of Peru near the equator. No século 16, os Jesuítas descobriram na região Tupi-Guarani a utilização pelos indígenas locais de uma bebida proveniente das folhas da árvore chamada de “Caá” que eram bebidas com um canudo de cana em recipientes de calabaça conhecidas como “caígua”. Os missionários deram o nome de Mate a bebida e ao recipiente, que passou a ser con- There are two species, the “Spondylus calcifies” being large and with a reddish purple inner border, and the “Spondylus princeps” smaller and with the inner border a dark red, usually found at depths of 50 to 60 meters. The latter oysters being difficult to obtain were the most appreciated for the production of jewelry worn by princesses and priestesses of Andean empires from Chavim through the Incas Found in the archaeological digs of San José de Moro in Lambayeque, northern Peru, were two priestesses of the Mochica culture, adorned with Spondylus. This makes us think that the oyster was devoted to sacred woman and offered as a rare and precious item, as gold and silver were reserved exclusively for deities. Contemporary jewelers and craftsmen of different levels still produce today, jewelry and ornaments for women using the Spondylus oyster adorned with gold and silver. hecida por este nome ou como “erva- mate” ou “chá dos jesuítas”. Posteriormente no século 17 os jesuítas comercializaram a erva por todas as regiões da América onde existiam casas jesuíticas da colônia espanhola e portuguesas, chegando ao Peru. O seu consumo passa a ser usual nas classes umildes e nos salões de Assunção, de Buenos Aires e nos luxosos de Lima Vice reinal. O “Mate perulero” é o nome concedido ao recipiente para o mate criado pelos ourives peruanos, como conseqüência da produção de ouro das minas de Potosi nos séculos 17 e 18. Trata se da cabaça com seu corpo decorado com aplicações de prata repuxada ou burilada e seus complementos também de prata: a “bombilla e filtro” (sorvedor), o “aparador” (separador da erva) e a “salvilla” (apoiador). O consumo da “yerba mate” era obrigatório no Peru colonial após as refeições ou em qualquer momento do dia por ser elemento digestivo, medicinal e nutritivo. O seu consumo decresceu com a expulsão dos jesuítas a partir de 1767, a mudança dos rumos do comercio graças a criação do vice-reinado do Rio da Prata, a introdução do consumo do café e finalmente com o advento do chá no século 19. (em tese o chá chegou primeiro) Um dos objetos simbólicos mais intrigantes do antigo Peru é o “Spondylus”, conhecido como ostra espinhosa ou “oro rojo” o ouro vermelho que foi de importância ritual desde o período formativo, 2000 a.C. no litoral norte peruano. Na época pré-colombina era também chamado de “mullus”, nome quéchua. Constituiu se em uma peça importante na joalheria incaica e pré-incaica e também na América Central, como mostra de que existiram intercâmbios entre estas culturas. O “Spondylus” é uma concha marítima que não é encontrada nas águas frias e portanto só norte peruano nas proximidades do Equador. Existem duas espécies “Spondylus calcifer” grande e com a borda interna púrpura avermelhada e o “Spondylus princeps” menor e com a borda interna vermelha escura, encontrada normalmente em profundidades de 50 a 60 metros da superfície do mar, estas ultimas ostras de difícil obtenção foram as mais apreciadas para a produção de jóias usadas por princesas e sacerdotisas dos impérios andinos desde Chavim até os incas. Foram encontradas em sítios arqueológicos de San José de Moro em Lambayeque, norte peruano, duas mulheres sacerdotisas da cultura Mochica, enfeitadas com Spondylus. O que nos leva a pensar que a ostra sagrada era dedicada a mulher e oferecida como elemento precioso e raro, já que o ouro e a prata eram exclusividade das divindades. As joalherias e artesãos contemporâneos de diversos níveis produzem na atualidade, jóias e enfeites de uso feminino utilizando a ostra Spondylus adornadas com ouro e prata. Dona maruja 1 Nonono nono non onononoooononooonnoon ENTRE O SOL E A CRUZ The mining Boom Started A PINTURA NA EVANGELIZAÇÃO NO SÉCULO 16 Para poder entender a arte peruana do século 16 é preciso compreender a religiosidade imposta na chegada dos espanhois e a base do pensamento europeu na época da conquista do Novo Mundo e principalmente as relações com o império incaico. Nesta pauta surgem três tópicos elementares, são eles: Martinho Lutero, nasceu em 1483 em Eisleben na Alemanha. Decidiu tornar-se monge agostiniano e como professor de teologia contestou a alegação de que a liberdade da punição de Deus sobre o pecado poderia ser comprada com indulgências. Sua recusa em retirar seus escritos a pedido do Papa Leão X em 1520 e do Imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521 resultou em sua excomunhão pelo papa e a condenação como um fora-da-lei pelo imperador. Lutero, fundou a Igreja Luterana, ensinava que a salvação não se consegue apenas com boas ações, mas de um livre presente de Deus, recebida apenas pela graça através da fé em Jesus como um redentor do pecado. Sua tradução da Bíblia em outros idiomas que não o latim, tornou o livro mais acessível, causando um impacto gigantesco na Igreja e na cultura alemã. Seu casamento com Catarina von Bora estabeleceu um modelo para a prática do casamento clerical, permitindo o matrimônio de padres protestantes.[6] esta referencia está deslocada O Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563, foi o 19º concílio ecuménico e é considerado um dos três concílios fundamentais na Igreja Católica. Foi convocado pelo Papa Paulo III para assegurar a unidade da fé e a disciplina eclesiástica devido à Reforma Protestante. Foi uma história demorada, com muitos conflitos de interesses, com a oposição sistemática de príncipes protestantes, os violentos escritos de Lutero, além dos desacordos entre o papa e os imperadores. Contudo, os 18 anos de duração do Concílio ofereceram à Igreja verdadeiros instrumentos de renovação e reforma. Contra reforma, ou Reforma Católica é o nome dado ao movimen- to criado no seio da Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante. O Concílio de Trento estabelecendo entre outras medidas: a retomada do Tribunal do Santo Ofício (inquisição), a criação do Index Librorum Prohibitorum, com uma relação de livros proibidos pela igreja e o incentivo à catequese dos povos do Novo Mundo, com a criação de novas ordens religiosas. Reafirmou-se a sacramentalidade e indissolubilidade do matrimônio, as indulgências, o culto dos santos, das relíquias e das imagens. Em materia teológica como dogma os sete sacramentos, a fe com base na Sagrada Escritura e a tradição, que o Papa é o sucesor de San Pedro e vicario de Cristo. Assim, é sob a sombra destes acontecimentos que os espanhóis chegam ao Peru. A igreja católica com a perda considerável de adeptos na Europa tinha que restituir seus fieis e os reis da Espanha assumiram esta responsabilidade na América com a evangelização e catequização de todos os indígenas das terras de seus domínios. Francisco Pizarro chega a Cajamarca em 16 de novembro de 1532 com 168 soldados. Acompanhado de padre Vicente Valverde, capelão castrense de Pizarro e Almagro, coberto pelo habito Dominicano, com uma Cruz na mão direita e a bíblia na esquerda, se dirige a Atahualpa e diz com ajuda de um tradutor nativo: “ Eu sou o sacerdote de Deus e ensino aos cristãos as coisas de Deus e da mesma forma venho a lhes ensinar. O que eu ensino é o que Deus nos disse e que esta neste livro (mostrando lhe a bíblia) e portanto te peço sejas amigo porque assim Deus o quer; vem falar com o governador (Pizarro) que te espera” O Inca escutou o tradutor, segurou o livro em suas mãos e o arremessou ao chão. Valverde, que seria o primeiro bispo de Cuzco e considerada o protetor dos índios naturais, se esforçou a obter a pacífica submissão de Atahualpa ao cristianismo. Sem sucesso o Inca foi considerado infiel é preso e posteriormente condenado a morte por heresia. A partir deste momento o Estado e a Igreja espanhóis se consubstanciavam delineando uma nova teocracia na qual o novo território deveria estar sob um mandato administrativo da Espanha e espiritual e religioso da igreja católica. Os religiosos dominicanos tomaram posição dos templos incaicos, tomando o templo do Sol, uma forma de reconciliação do cristianismo com a tradição paga, tendo assim a igreja a sua ação direta e militante na Conquista. mo do povo Colla e de Santiago com Illapa o deus do clima acreditava se que fazia chover desde a via láctea com águas que guardava em um jarro. Porém a correspondência de maior relevância foi a da Virgem Maria com a Pachamama, a Mãe Terra para os índios. O seu culto é muito antigo no mundo andino, anterior ao império Inca, aonde as montanhas são as protagonistas das oferendas e dos “pagos a terra”. Quando os dominicanos chegaram a populosa região do Collao no lago Titicaca, e se depararam com o fervor devocional dedicado a Pachamama, e por seu caráter feminino trataram logo de associá-la a virgem, por seu caráter feminino e a forma trapezoidal de manto assemelhada aos contornos das montanhas. Povoada desde tempos imemoriais pelos Uros e os Collas, esta região situada as margens do lago Titicaca, foi convertida pelos incas em grande Santuário, dedicado ao seu Deus genuíno, uma divindade antropomorfa e pisiforme, conhecido como Copacabana. Era um ídolo de pedra azul com rosto humano e corpo de peixe, adorado como deus do lago criador dos peixes, do sexo e do amor. Para anular a sua devoção foi necessário substituir este ídolo pela imagem da Virgem da Candelária que passou a ser a Virgem de Copacabana, sendo esta imagem católica a primeira a se impor na região do sul andina. Ainda perto de Copacabana esta o povoado de Pomata, cujo significado é: “Puma feroz”. Sabe se que na ilha do sol nesta época se adorava a figura um gato montês com olhos que ardiam em brasas,chamado “Titi”. Os Dominicanos se apropriam deste setor dominado pelo felino sacralizado pelos indígenas, passando a associa lo “Virgem do Rosário de Pomata” que é a virgem do Rosário com um grande ramo de plumas sobre a coroa da virgem e do menino, dando lhe uma aparência nativa e regional. Os moradores do povoado de Cocharcas, a 450 km de Cusco, tiveram conhecimento dos milagres que estava operando a Virgem da Candelária de Copacabana e levaram esta devoção mariana, instaurando se o culto a “Virgem de Cocharcas” que é a mesma Virgem de Copacabana na qual substituíram a vela (que é típica da Candelária) por um ramo de rosas. Ela apresenta se sob uma liteira e se sustenta sobre um altar, com um belíssimo manto triangular com as mangas de renda branca e na mão direita o menino leva uma coroa e o globo do mundo. Para os espanhóis era difícil aceitar que Deus tenha deixado esta parte do mundo andino sem a possibilidade da salvação e as verdades da fé cristã. Nos diversos locais do Peru a Virgem do Rosário adquiriu uma especial devoção, de tal forma que é venerada em muitas localidades andinas, e é conhecida como Nossa Senhora do Rosário e agregandose o nome do lugar ou região que a toma como a sua padroeira. Colocaram em questionamento se os deuses pré hispânicos não seriam manifestações divinas alteradas pelo demônio. Pensou-se e estudou uma dialética de analogias em busca de equivalências dos antigos deuses andinos com os santos católicos, desta forma surgiram diversas identificações como a de São Bartolomeu com Tunupa o deus supre- Assim é o caso de Nossa Senhora de Chapi, cujo santuário localizado em Arequipa, nos Andes do sul do Peru, foi erigida uma igreja em um local onde a imagem manifestou o “desejo de ficar” e é venerada até os dias atuais. A sua representação é a iconografia clássica da Virgem da Candelária com o Menino Jesus na mão esquerda e rosário na mão direita. Na Escola Cusquenha foram incorporados outros motivos de gosto e símbolos indígenas, que fazem parte do sincretismo religioso. É o caso de algumas pinturas onde a Virgem do Rosário com formato de morro, ricamente ataviada está portando a “Cantuta” ou Flor Incaica ou a inclusão de animais andinos, pássaros e mata típica da Amazônia peruana. Em Cusco desde os tempos coloniais a imagem da Virgem do Rosário é venerada no templo de Santo Domingo. Nesta Igreja, durante o período colonial existiam duas Virgens do Rosário; uma morena para veneração dos indígenas e outra loura para a classe espanhola. Estava assim implantada de forma definitiva a devoção mariana no território do vice-reinado espanhol. Para os espanhóis e os “fidalgos”, cavaleiros da nobre estirpe espanhola, a Virgem Maria era o ideal sobrenatural da mulher que tinha que ser defendida com as armas, caso necessário, para os indígenas passou a ser a mãe dos aflitos, a quem se poderia recorrer para veneração, assim como a “Pacha-mama”. O culto a Virgem Maria foi acolhido em todo o mundo hispânico como o derradeiro apelo às causas perdidas, como última esperança. No culto aos santos foi determinante para a evangelização devido a seu papel de intermediar as relações dos homens com Deus. A magia espiritual que estava centrada na oração, nas invocações aos santos e nas técnicas de purificação mental, destinadas as faculdades cognitivas do homem com a finalidade de estabelecer uma comunicação fluida entre o céu e a terra ajudou na difusão da religião católica. O mundo indígena peruano essencialmente de agricultores, escolheu como patrono a Sam Isidro Lavrador, que já era muito cultuado na Espanha. A sua historia de camponês humilde encontrou grande acolhida no mundo andino da América espanhola. As festas do calendário religioso espanhol foram trazidas ao Peru, fazendo parte da evangelização, cada povoado dos Andes peruanos por um motivo ou outro adotaram o seu patrono em função dos atributos ou da história que lhes apresentavam, desta forma as festas das comunidades constituem um acontecimento singular por seu colorido, sua efusividade e devoção. As procissões, peregrinações, desfiles e bailes contribuíram para o fortalecimento da fé e da arte. A descoberta dos povos de América durante o reinado da Espanha pelos reis católicos Fernando e Isabel origina a expedição das “bulas alexandrinas” pelo Papa Alexandre VI, em 1493, pelas quais outorga aos reis Católicos o poder sobre as terras descobertas e a obrigação da sua evangelização cristã, justificando a conquista, o despojo e a submissão do Novo Mundo a Coroa de Castela. Posteriormente em 1508, o Papa Julio II se instituiu o “Patronato Regio” que consistiu em um conjunto de privilégios e faculdades especiais que a Igreja concedeu a Espanha e Portugal em troca da evangelização da igreja católica na América, seguindo as determinações do “Concilio de Trento”. Estes privilégios constavam da nomeação de bispos, a arrecadação de dízimo e demais contribuições dispondo de recursos econômicos para facilitar a mobilização das congregações e missões religiosas, administrando os negócios eclesiásticos em nome do Papa. É importante mencionar que Europa vivia nesta época. O absolutismo, uma forma de organização político-religiosa, que substituiu o regime feudal. Onde o poder é dos Monarcas é por herança, por sangue, e são legitimados por Deus, tem origem divina, portanto são os seus representantes na terra. A Teoria do Direito Divino dos Reis Assim, no transcorrer do século 17 se fez cada vez mais presente a teorias do Direito Divino dos Reis. Frente aos poderes formidáveis dos barões feudais, da Igreja Católica e os desafios impostos pela Reforma, uma série de pensadores europeus, de inclinação estatocrata, conceberam uma espécie de “terceira via” entre o Império e o Papado. Defenderam uma teoria que afirmasse em caráter definitivo a autoridade e a legitimidade dos monarcas colocando-os acima da nobreza e do clero e dos protestantes. Luis XIV, desde bem jovem, em seguida a morte do cardeal Mazarino, em 1661, decidira assumir a integridade do poder, não aceitando conviver com nenhum tipo de constrangimento que lhe pudesse advir de um primeiro-ministro forte, assim como acontecera com seu pai Luis XIII, um monarca de fachada inteiramente dominado pelo cardeal italiano Richelieu. Preocupou-se logo em impor um governo pessoal fazendo do rei um ‘estadista ativo’, projetando a plenitude da sua majestade. Nas suas instruções deixa bem claro que o ‘rei é o representante de Deus na terra’. O que o move é a “salus publica”, o interesse e o bem estar do público. Nada, poder ou instituição (conselho, tribunal ou parlamento), deve lhe barrar a vontade, nem mesmo as ordens reunidas nos Estados Gerais. Por igual, nenhuma potência espiritual poderia privá-lo dos sagrados direitos que recebera do Todo-Poderoso. A única majestade a quem ele devia obediência era ao Senhor dos Céus, e assim somente sua consciência lhe impunha limites. É com estas características de governo e de poder que os espanhóis chegam ao Peru. Superada a face de implantação do vice-reinado após a luta fratricida de Pizarro e almagro, a fundação das principais cidades e a chegada dos primeiros vice-reis a Lima é que se implanta no Peru uma das mais significativas instituições que orientaram por séculos a vida religiosa e política dos peruanos que é a “Santa Inquisição”. No ano de 1584 o Tribunal do “Santo Ofício” foi implantado oficialmente em Lima, cuja missão era a de investigar e condenar os suspeitos de heresia e contumácia contra a religião católica através dos “autos de fé” A partir da descoberta da prata, em 1545, os solos generosos de Potosi passam a ser sinônimos de riqueza por toda a Europa, como bem o recorda Miguel de Cervantes quando Dom Quixote diz a Sancho Panza; “Se eu te recompensar com o que você merece, as minas de Potosi não seriam suficientes...”. Esta espantosa riqueza que transformaria a economia européia e principalmente da Espanha fez com que novas idéias surgissem para justificar a posse desta fortuna. A Espanha estruturou um plano com base a recompensa merecida com a introdução e expansão do cristianismo na América. Desta forma se idealizou a teoria do “El Trueque Divino”, ou troca divina. Onde os espanhóis deveriam ser recompensados por introduzir a fé cristã no infiel mundo andino. Uma espécie de intercâmbio teológico em três níveis: Espanha colocada no plano central, o mundo Andino abaixo e acima de tudo Deus. Assim a Espanha recebia a maior parte do ouro e da prata extraídos das minas do Novo Mundo pela evangelização para salvação das almas dos indígenas , enquanto uma parte menor desta riqueza é transformada em elementos de culto (igrejas, obras de arte, prataria, etc.) como forma de agradecimento a Deus pela riqueza terrena ofertada por Ele. Graças a este principio foram construídas igrejas com ricos objetos de culto e devoção em ouro e prata, e finalmente caberia ao povo indígena, em agradecimento pela sua evangelização e salvação das suas almas, o trabalho para extração destes metais das minas. Foi este sistema que deu origem a “Mita”, uma a lei criada pelos espanhóis onde um sétimo da população nativa ativa deveria servir aos trabalhos nas minas na extração da prata. Um serviço obrigatório para a população andina, que recrutava trabalhadores das comunidades indígenas com auxilio dos “Curacas” e da remanescente nobreza inca para a qual os espanhóis mantiveram seus privilégios para exercer esta função. Uma escravatura cruel e desumana que oferecia aos trabalhadores apenas água e folhas de “coca” para viver, sem nenhum pagamento pelo trabalho nas minas. Poucos sobreviviam ao martírio levando ao extermínio de uma grande parte da população indígena do Peru. Todos os fatos mencionados a partir do absolutismo na Europa constituem o início da evangelização no Peru quando a arte sempre esteve vinculada diretamente a nova fé. Como um meio de expressão que exercia um especial fascínio sobre os indígenas, convertendo se em um excelente suporte para as explicações didáticas sobre a doutrina católica uma vez que existiam sérias dificuldades em traduzir os conceitos teológicos e catequéticos do latim para as línguas nativas o Quéchua e o Aimara. É importante afirmar que estes procedimentos para difusão da fé Cristã foram expressamente tratados na “Sesion 25” do Concilio de Trento e por ordem do Rei da Espanha Felipe II foram aplicados no Peru, que ordena aos religiosos: “... as imagens de Cristo, da Virgem Mãe de Deus e dos santos devem colocar se especialmente nas igrejas, devendo render se lhes honra e veneração, por que se rende esta honra aos propósitos que elas representam...” “...ensinar por meio de histórias contidas em pinturas e em outra representações os mistérios de nossa redenção para que a gente se forme e possa instruir se nos artigos da fé...” Para confirmar e determinar a aplicação dos decretos tridentinos se convocou o Concilio de Lima, em 1567 e em 1582 e 1583, se chegando a uma das conclusões sobre a aplicação da evangelização. A evangelização impõe a substituição dos princípios religiosos incaicos pelos cristãos com as representações bíblicas, dogmáticas e místicas penetrando no sentimento indígena através da arte de forma refinada e progressiva. Tiveram no seu percurso algumas distorções que foram corrigidas como: a representação de imagens proibidas pelo Concilio de Trento em 1563 sobre o culto e veneração a imagens sagradas proibidas como as tri faciais e isomórficas. As primeiras mostram um deus com três cabeças e a segunda as três pessoas da trindade como três figuras humanas semelhantes. Ambas têm a intenção didática de colocar a equivalência do pai, filho e do espírito santo tentando explicar aos índios um dos mistérios mais complexos da fé cristã. Outro exemplo interessante de heterodoxia andina são os “Ângeles Arcabuceros”, a devoção aos sete Anjos, censurada na Europa, se materializou no Peru através da representação como oficiais das milícias celestiais armados de mosquetes, de forma a substituir o culto cosmológico andino pelo dos arcanjos. Assim como a imagem do diabo é condenada para evitar a sua veneração a representação de oradores indígenas colocados nas laterais dos quadros foram consideradas uma heresia anti dogmática, sendo substituídas pelas imagens de santos católicos.. O artista cusquenho não é precisamente um homem culto que domina a história e a religião católica é sim um homem dotado de grandes habilidades para copiar os modelos religiosos é um grande conhecedor da história dos santos, das coisas da fé e da biografia dos santos da religião cristã, de forma a pintar os personagens e a corte celestial. É um ser sumamente místico com costumes corretos e sadios porque a sua profissão assim o exige e todas as abstenções da vida católica dando exemplo a toda sua coletividade e a sua prole para que esta herdasse suas qualidades. Normalmente os artistas cusquenhos, principalmente os escultores estavam associados aos conventos, onde praticavam exercícios espirituais, comunhão, e atividades religiosas. Os mestres antes de iniciar a obra faziam abençoar todos os materiais de forma a conseguir uma bela reprodução que atende se a Igreja ou os “encomenderos”, homens ricos e doadores das Igrejas. Ele é um praticante das virtudes católicas, cuja vida regrada se confunde com os acontecimentos religiosos, sobrenaturais e inverossímeis: milagres patéticos, aparições, curas maravilhosas, revelações extraordinárias aos devotos. O acontecimento mais original se apresenta com as imagens religiosas manifestam o “desejo de ficar” em um determinado local, manifestado pelo excessivo peso da escultura ou pela beleza do lugar para ser residência da imagem, exigindo que se edifiquem ali seus templos, santuários, capelas. “O Senhor de Mollepata”, Cristo de origem europeia do escultor espanhol Martinez Montañez, que a ofertou ao Rei Carlos V para ser presenteada à cidade de Cusco. Em seu transporte ao passar por Mollepata, local intermediário entre Lima e Cusco, a escultura chegou a pesar tanto que não foi possível continuar com o seu transporte, fato que foi interpretado como vontade sagrada de Cristo em ficar no local, onde se erigiu um templo com o nome do local”. Na realidade edificar locais católicos buscava desarraigar, desmantelar e eliminar os antigos cultos incaicos, substituindo com a iconografia crista, atendendo a diretriz dos Extirpadores de Idolatrias: “... onde existir uma “Waka”, (construção incaica e pré inca cuja função era ritual e também defensiva) se construirá um templo cristão e onde existir um “Seqe”, (Local ritual de passagem existente nos caminhos incas), se construirá uma capela ou se colocara uma cruz...” ou por outro lado “...se queime tudo o que se possa queimar e se destrua tudo o que não se pode queimar...”. Temos que lembrar que os artistas incaicos também utilizaram o imaginario religioso para subordinar os povos conquistados. A Estética do Sincretismo The mining Boom Started A MESTIÇAGEM CULTURAL E O SINCRETISMO RELIGIOSO NA FORMAÇÃO DA PINTURA CUSQUENHA DO SÉCULO 17 O século 17 marca em Cusco o surgimento de grandes pintores nativos. É nesta época que se forma a futura escola cusquenha de pintura e os antecedentes da arte incaica não intervém formalmente na formação artística cusquenha que só eclodiram no século 18. Ela se mantém no subconsciente do artista, no seu sentimento e só se manifesta no uso da cor, no traçado da linha e no espírito das formas da natureza. O artista cusquenho pertence a uma sociedade agrupada, o “Ayllu”, era uma forma de comunidade familiar, do império incaico, com uma descendência comum. Um ambiente submerso nas características genéticas do grupo, onde os elementos formam uma unidade única como a natureza. Por isto que a tônica da arte pictórica colonial Andina foi mais o anonimato do que a obra personalizada, o que nos remete ao conceito Bizantino segundo o qual a atitude devocional do grupo deve predominar sobre as características pessoais. Esta concepção corresponde à vigência indígena da arte pré-colombiana - especialmente comunitária e ritual - e retorna igualmente a experiência do homem europeu da idade média. Se a pintura colonial andina só existiu graças à divulgação das obras européias, por outro lado Cusco, não deixa de marcar suas telas com um certo costume local. A pintura andina deve à escola Flamengo-Sevilhana o gosto pelo áspero realismo, presente em sua tendência primitiva marcada pelo vermelho cru e agressivo, e o interesse pelo naturalismo objetivo das cenas da vida doméstica. Foi este aspecto que mais lhe permitiu desenvolver um caráter documental muito valioso para o levantamento do “modus vivendi” da época. O primarismo da execução, a rigidez das figuras em grupo, a despersonalização das fisionomias, o formato elementar da perspectivas, a evidente pobreza do colorido, tudo isto dá a esta tendência um sabor especial acentuadamente ingênuo. técnicas e trabalho. As imagens que pinta não são singulares, estão rodeadas de elementos ornamentais, são figuras planas, sem perspectiva, os fundos das pinturas com paisagens onde não existe profundidade, o tamanho das imagens nos dá a informação dos planos ou a importância do personagem como elemento na composição. Chegaram artistas de outras cidades atraídos pela fama e desenvolvimento. A pintura cusquenha que até este momento se mantinha sob influencia dos artistas de Lima e da Espanha começa a ganhar a sua configuração regional, encarnando a expressão de coletividade que é a principal característica da Escola Cusquenha. Não foi uma mudança brusca, foi uma evolução lenta, ficando cada vez menor a percepção das individualidades e mais clara a presença da produção anônima da expressão coletiva. É notória a importância das gravuras flamengas, italianas e alemãs que chegaram ao Cusco principalmente as procedentes da escola de Flandres. Tradicionalmente a Espanha importava material religioso de Flandres com quem mantinha um monopólio de importação de livros religiosos. Ocorre nesta época a renovação religiosa proposta pela Companhia de Jesus com base as diretrizes do Concilio de Trento para confrontar a reforma protestante foi seguida especialmente pela Espanha e conseqüentemente pelos seus domínios na América, sendo estas gravuras com intenso caráter religioso enquadrados em rígidos preceitos que chegaram a Cusco nos finais do século 16 e início do 17. O perseverante e vasto trabalho de doutrinação espiritual e moral empreendido pelas principais ordens religiosas - jesuítas, carmelitas, mercedários, franciscanos e dominicanos - e a construção de incontáveis templos cristãos no território cusquenho, principalmente da Catedral de Cusco produziram o aparecimento dos mestres locais, a maioria anônimos que as cobriram de obras de arte religiosa. As guirlandas de flores e frutos introduzidas por El Greco, Rubens e Breughel, foram retomadas freqüentemente pelos artistas americanos e enriquecidas de elementos locais como as penas e os brincos usados pelos Aimarás. Uma terceira grande fonte pictórica para os artistas do Peru foi a escola gótico-bizantina. A postura hierática das personagens em atitude de enigmática dignidade, a atmosfera de distanciamento majestoso das Virgens e dos Santos, a estática atitude das figuras agigantadas sobre fundo dourado, a realeza das vestes, dos cetros e das coroas, o manifesto parentesco com os ícones helênicos, todos esses traços foram assimilados pelo espírito indígena nessa sua percepção mágica e visionária do simbolismo cristão. Renascia o maravilhoso medieval na mente do homem nativo do novo continente. Os artistas nativos não se limitaram a reproduzir os passos do ensino didático do evangélico pregado pelos missionários. Manipularam o instrumental europeu, desenvolveram uma tendência colorista e refinada, "americanizaram" as telas com a fauna e a flora local. Marcaram assim a sua presença com o agigantamento escultórico de suas imagens e a de personagens “Cholos”, que é o termo, normalmente pejorativo, que designa o homem nativo dos Andes.Os espanhóis os designaram como “servos livres da coroa de Castella”, ,mas na realidade os escravizaram e os tratavam como índios e cholos. Neste século começaram a funcionar em Cusco os ateliês dos artistas, à moda das corporações de ofício italianas, isso criou condições aos artistas de se organizarem em grêmios para troca de conhecimentos, O irmão jesuíta Bernardo Bitti foi sem dúvida o grande pintor europeu a influenciar as artes no Peru. Em todas as cidades que ele esteve suas obras marcaram e deixaram discípulos e seguidores da sua arte, em 1583 chegou a Cusco para pintar uma série de obras na igreja da Ordem da Companhia de Jesus. Bitti introduz o Maneirismo em Cusco, influencia que se manteve até cerca de 1650, e mesmo depois do desenvolvimento do Barroco mestiço, no século 18, ainda se percebe os traços da sua influência maneirista. No ano de 1583, o Reitor da Companhia de Cusco, Toledo Teruel, convida Bitti para pintar na cidade de Cusco o Retábulo do Altar Maior da Igreja da Companhia de Jesus. A sua presença teve um grande impacto nas artes plásticas da cidade. Ele impus o gosto pelo Maneirismo italiano, deixando uma obra fundamental para a pintura colonial peruana, com um marcado estilo centrado na figura humana e na pintura cusquenha. Deixou várias obras nas igrejas de Cusco como de Juli principalmente na de sua ordem a Companhia de Jesus, assim como em casas particulares. Angelino Medoro, desde a sua chega ao Peru manteve ateliê em Lima até por volta de 1630. Sua arte também reúne as características do estilo Maneirista romano, com figuras alongadas, escorsos acentuados, cores frias e tênues. Esta influência chega a Cusco através dos discípulos de Medoro, como o aprendizes índio Pedro Loyaza e de Luis de Riaño, iniciado com apenas 15 anos e que em 1643, morava em Cusco já como Mestre onde executou inúmeros trabalhos para igrejas e conventos formando também novos seguidores. Mateu Perez de Aléssio se estabeleceu em Lima onde alcançou uma destacada posição econômica e social. Ostentou o título de “Pintor da Câmara Real do Vice Rei”, a forma dos pintores da realeza européia e também o título de “Gentil-homem dos Arcabuceros da Guarda Vice reinal”. Representou em Lima o protótipo do pintor renascentista: rico, respeitado, com prestigio profissional e social e pintor da nobreza. Forma um grupo de discípulos que teve grande importância na formação da escola cusquenha de pintura. Inúmeros pintores surgiram nesta época na cidade de Cusco como resultado da chegada da pintura européia, sendo os mais importantes: Diego Quispe Tito, Diego Quispe Tito (San Sebastián del Cuzco, 1611 - Cuzco, 1681) foi o maior pintor peruano do século 17. É um destacado membro da escola cusquenha oriundo da cidade de Cusco.Os documentos referentes a sua obra são poucos, porém pode se afirmar que teve início em 1627, data da sua primeira pintura identificada. Foi um dos seguidores de Gregorio Gamarra que também foi discípulo de Bernardo Bitti. No início a sua obra teve os traços do maneirismo, sendo que em uma segunda etapa pode verse na sua pintura a influencia das gravuras flamengas. A Serie do Zodiaco, é uma importante obra artística de Quispe Tito, datada de 1631, composta originalmente de 12 quadros, atualmente somente existem nove e pertencem ao acervo da Catedral de Cusco. Esta série foi pintada com base nos gravados flamengos de Rafael Sadeler sobre o Zodiaco. A temática principal da série representa parábolas e cenas do evangelho junto com signos zodiacais. Tito pinta a série de forma magistral, o primeiro quadro é de Aries sendo o ultimo de Peixe este é o único com assinatura. As obras pintadas de forma bastante européia onde o artista não se afasta dos modelos das gravuras. O tema destes quadros tem a finalidade de ajudar a catequização indígena e com a finalidade de extirpar as idolatrias dos astros indo contra as praticas astrológicas que no Peru estavam misturadas com a idolatria. No século 17 os cultos idolátricos estavam combinados com a adivinhação astrológica nas crenças da religião andina e se misturavam com a feitiçaria. Esta extirpação atende ao Concilio Limense de 1613, que reafirma os ditames do Concilio de Trento europeu, quando o arcebispo de Lima afirmou: “que os índios do Peru são hoje tão idolatras como no princípio” Quando os espanhóis chegaram ao Cusco, ficaram surpresos ao saber que os indígenas descendentes dos Incas, filhos do Sol, desfilavam em procissão com as múmias dos Incas durante o solstício de inverno (24 de junho). Os evangelizadores decidiram acabar com esta festa pagã, substituindo as venerações as múmias por imagens das Virgens e santos católicos. Surgindo assim a festa do Corpus Cristi, uma celebração católica cheia de matizes andinos. Nascem assim as pinturas do “Corpus Cristi. A série mais famosa é a composta por 16 quadros de pintores anônimos considerados obras primas da arte cusquenha pela qualidade da sua técnica, desenho e principalmente por seu valor histórico e etnográfico onde mostra em detalhes os estratos sociais de Cusco colonial, a festividade católica emoldurada com os costumes e valores incas. Nesta época aparece na pintura peruana a influência flamenga, com seu pintor mais notável Pedro Paulo Rubens (1567-1640). A influência de Rubens é muito visível na pintura cusquenha, a sua euforia pictórica, a coloração alegre e o tratamento luminoso claro da sua paisagem, a paisagem flamenga com extensos e suaves bosques e lagos impressionaram o pintor indígena que reinterpretou de variadas formas com muitas versões e foi Diego Quispe Tito, pintor vernáculo que se inspirou nos quadros flamengos naturalistas de onde interpretou a paisagem e a recriou com motivos andinos. Basilio de Santa Cruz Puma Callao (1635–1710) Foi o pintor pe- ruano do século 17, e seu estilo esta marcado pelo barroco pleno. Na sua obra pode se apreciar um paralelo entre a pintura cusquenha e espanhola. Trata se de uma pintura com composição dinâmica, decorativa, de grandes dimensões. Seu estilo é muito diferente ao de Diego Quispe. Ela não tem a influencia das gravuras flamengas vindas da Europa e sim a obra dos pintores espanhóis Murillo e Valdés Leal. Pode ser que isto seja resultado das obras trazidas de Madrid pelo Bispo Mollinedo e Ângulo que o acolheu como seu pintor favorito. Sua carreira teve inicio em 1660, já em 1661 é o “oficial pintor” assinando pinturas no convento mercedário e posteriormente, em 1667, no convento de San Francisco pintando a vida do Santo. Na segunda metade do século 17 os anjos são o tema favorito da pintura cusquenha e Basilio Santa Cruz pinta uma série de anjos com as típicas representações dos mensageiros de Deus com seus curiosos atributos e suas vestimentas barrocas tornado os figuras peculiares da arte cusquenha. A partir de 1690, Basilio de Santa Cruz Puma Callao inicia as obras decorativas da Catedral de Cusco, contratado pelo Bispo Mollinedo e Angulo constituindo se na sua consagração definitiva como artista. Sua produção é uma das mais vastas da Escola Cusquenha, considerado “o índio conhecedor da língua espanhola” podendo ver se como os índios através da pintura, puderam atingir altas patentes como os espanhóis. Em 31 de março de 1650 ocorre em Cusco um terrível terremoto causando grandes danos à cidade. Porém, surge nesta época um personagem importante que é Bispo Manuel Mollinedo y Ângulo, grande promotor da arte cusquenha, que governou a Diocese cusquenha a partir de 1673 até o final do século, marcando o início do auge das artes plásticas e a reconstrução da cidade. O Bispo trouxe da Espanha algumas pinturas dos grandes mestres: El Greco, Sebastian de Heredia, Juan Carreño, Caxes e Cano, obras estas que sem dúvida influenciaram o rumo das artes plásticas cusquenhas. Outro pintor que é importante mencionar é Juan Espinosa de los Monteros, ativo em Cuzco entre 1655 y 1669. Também copiou gravados, decorando seus quadros com abundantes inscrições. Duas características cusquenhas o definem claramente: os temas alegóricos e os pássaros de grande tamanho. Há que mencionar também a Martin de Loayza e Marcos Ribera que formam a classe de “pintores europeus, criollos e mestiços espanholizados”, com eles se afirma a influencia espanhola. O realismo, o claro-escuro, vem antes do barroco na pintura cusquenha. A suavidade das cores, a presença da paisagem, a valorização da figura humana definem a obra destes artistas. Na Igreja de São Francisco em Cusco, acham-se as obras dos dois pintores índios mais notáveis nesta época: Diego Quispe Tito e Basilio de Santa Cruz Puma Callao, sendo o primeiro o pintor do povo, rebelde, original, sua arte com um profundo sentido religioso, com seus anjos exóticos, suas paisagens e seus pássaros, viveu os períodos duros da evangelização: a extirpação das idolatrias e os processos da inquisição. Basilio Santa Cruz,Não deveria estar acima é um pintor disciplinado, europeizado e teve a proteção do Bispo Mollinedo e Ângulo toda a sua vida, se desenvolveu no meio da corte e a política centrada no Bispo de Cusco, por isto sua pintura é mais suave com amplos cenários, iluminadas, cheios de gloria e anjos soltos e nus. O fato mais importante ocorreu nos fins do século 17 na cidade de Cusco. Em 1688 após inúmeros conflitos e desentendimentos o grêmio de pintores cusquenhos sofre uma ruptura radical com o afastamento dos pintores índios e mestiços. O motivo que levou a isto foi a alegação dos cusquenhos que eram explorados pelos seus colegas espanhóis que eram minoria. Foi a partir deste momento que os pintores nativos livres das imposições do grêmio começam a pintar de acordo com seus pensamentos e sensibilidade mostrando principalmente a sua maneira própria de ver o mundo. O Apogeu Barroco The mining Boom Started A ESCOLA CUSQUENHA DO SÉCULO 18 É a partir do século 18 que começa o período de autonomia da pintura cusquenha em reação a influência européia. É a partir deste momento que o índio e o mestiço se expressam livremente criando formas e conceitos artísticos próprios, lidando com o ingênuo e o popular, fundando o que se conhece como estilo mestiço ou Barroco Andino. Este é considerado o primeiro momento do que agora pode se definir como uma arte “americana”, que aconteceu em Cusco, constituindo-se em um fenômeno resultante do sincretismo e da valorização do índio e do mestiço. A partir do momento da ruptura com os grêmios e livres das suas imposições, os artistas índios e mestiços começam a guiar sua produção a partir de suas referências. Por outro lado em 1700, assume o trono de Espanha o príncipe francês Felipe V, neto de Luis XIV, transformando a vida espanhola e de suas colônias. O afrancesamento dos costumes diversifica o comércio. Circulam idéias diferentes, surge uma consciência local mais esclarecida e operante, e a temática artística vai alem da religiosa, com cenário profano, mitológico e uso de maior liberdade. As crises surgidas nos grêmios em 1688 que separaram os pintores espanhóis dos índios e mestiços e estes se uniram aos escultores e douradores (Quem são os douradores) foi ficando no esquecimento nos primeiros anos deste século. Os artistas espanhóis foram perdendo a importância e os índios e mestiços vêem aumentado o seu trabalho. O grêmio mantinha a Confraria de San Lucas, santo venerado pelos artistas, que era comandado por espanhóis e cada vês mais perdiam importância em favor dos artistas índios que se fortaleciam melhorando suas condições econômicas e de trabalho. A Iconografia da nova arte cusquenha do século 18 se caracteriza por sua temática costumeira, sendo que quase a totalidade dos temas e composições vem das gravuras flamengas. Não se vê em nenhuma pintura cusquenha deste período uma única paisagem que lembre os Andes ou os vales andinos: as árvores são frondosas e de pouca folhagem, nunca apareceu uma árvore típica da paisagem andina, a não ser a “Chonta” da Amazônia peruana. Já a presença da fauna andina é constante, com pássaros coloridos - como o papagaio selvagem o que pode simbolizar segundo alguns estudos, as almas dos cristãos, os donos do quadro, ou também a nobreza incaica em sinal de resistência. As bordas de flores utilizadas principalmente nas Madonas provêm da arte flamenga, copiadas de quadros de Jan Brueghel, Kessel etc., pintadas com delicados detalhes que competem em muitos casos com o tema da obra. O brocateado ou sobredourado é o detalhe mais característico da arte cusquenha deste século; sua origem talvez seja bizantina ou medieval, ou mesmo espanhol dos mestres renascentistas do início do século 16. O brocateado se inicia por volta de 1750 é plano na sua forma, pintado sobre as vestimentas sem considerar as dobras, eliminando o tratamento de volumes, planificando completamente a imagem. Antes dele existia o perfilado, com maior economia em seu uso, consistia em dourar com ouro as auréolas, nimbos e bordas das vestimentas. O brocateado, diferente do perfilado, invade e preenche imagens como a cruz grega, a flor de Liz, a roceta, posteriormente chegando a cobrir os chapéus, casquetes dos soldados, os atributos dos santos, as orlas externas das flores e até os cascos dos cavalos. Com a chegada do neoclássico o brocateado desaparece assim como o uso do ouro. A pintura cusquenha é ingênua e expressionista, com uma preocupação particular nos rostos, os quais têm um colorido amarelado e amável dado aos santos, ascetas e personagens mais velhas - são figuras que se apresentam de forma frontal, inanimada. O tratamento técnico da pintura cusquenha assume soluções cromáticas com o uso de cores intensas, com utilização do vermelho e azul ultramar do renascimento europeu. Existiram regras para o uso das cores de acordo com a categoria dos personagens. Desta forma a Virgem da Candelária veste branco e manto azul, os apóstolos e São José vestem túnica verde e manto vermelho. A paisagem pintada em verde oliva, as flores vermelhas e brancas, as montanhas em siena, foi um padrão que facilitou a produção em série que no século 18 foi muito intensa nos ateliês cusquenhos. Os índios nobres, caciques principais e seus descendentes foram tratados de forma diferenciada na colônia, ficaram livres de contribuir com tributos e participar das Mitas, fora isto podiam ostentar escudos, andar a cavalo, portar armas e vestir se a moda hispânica. Porem era importante demonstrar serem bons cristãos por este motivo encomendaram inúmeras pinturas dedicadas as igrejas onde aparecem como doadores. São inúmeros os quadros doados para as igrejas pela nobreza incaica desta época inclusive uma das séries do Corpus Cristi da paróquia de Santa Ana de Cusco. No início do século a pintura cusquenha nos apresenta em primeiro lugar os artistas tradicionalistas que praticamente continuam pintando ao estilo de Quispe Tito ignorando completamente a aventura da pintura de Basilio Santa Cruz. Não se atrevem a incursionar na pintura ingênua. O segundo grupo formado por pintores que trabalham com a antiguidade clássica e erudita pintaram a série dos reis incas. É característica desta época a lembrança e a reverencia pelos incas e suas conquistas. São representadas em forma teatral: a queda de Atahualpa, as glorias de Huayna Capac, provavelmente dirigidas a população indígena, sobreviveram poucos quadros destas séries. Com estes artistas renasce o gosto pela antiguidade clássica e mitológica. Os pintores de santos conformam o terceiro grupo chamado de “Pintura industrializada”. Na metade do século a produção de quadros aumenta, são quadros de dimensões normais. Esta produção excessiva é explicada pela saturação de encomendas de obras de arte nas igrejas de Cusco com grandes quadros e murais principalmente na época sob a proteção do Bispo Mollinedo. Esta pintura pela qualidade e seu baixo custo tem uma grande procura no mercado de arte, chegando se a uma produção industrial que a coloca entre a arte e o artesanato. A repetição dos mesmos temas que são os mais aceitos produzem figuras estereotipadas, anulam a perspectiva, perdendo os valores individuais que caracterizam a “Escola Cusquenha” deste século. Durante ‘esta época a cidade de Cusco vive uma intensa movimentação econômica promovida pela produção artística local, os ditos “Atelier de produção industrial”. Um atelier podia produzir até 200 pinturas por mês, abastecendo a demanda em grandes quantidades para cidades do Peru como Arequipa, Lima, Trujillo e Ayacucho e outros mais longínquos como Argentina Chile e Bolívia. O pintor mais característico desta época é Mauricio Garcia y Delgado, pouco importante pela qualidade das suas obras e mais pela sua habilidade como grande contratante. Um exemplo nos mostra a sua destreza, em 1754 ele se compromete junto com o pintor Pedro Nolasco a pintar 435 quadros, a um custo baixo e para serem entregues em sete meses. Claro está que a produção precisava da participação de mais artistas e de outros ateliers montados exclusivamente para fins mercantis sustentados pela fama artística da cidade de Cusco. A série de quadros mais famosa desta época e a do “Corpus Christi”, que atualmente pertence ao acervo do “Museu de Arte religioso do Arcebispado de Cusco”. Este conjunto tem um grande valor histórico e etnográfico, pois apresenta as diversas camadas da sociedade colonial cusquenha - os espanhóis, seus descendentes e os “Curacas” da nobreza Incaica mantida em Cusco por conveniência. Estas pinturas nos mostram os elementos da festa religiosa da igreja católica celebrada para substituir a festa do “Inti Raymi” celebrada pela religião incaica ao deus Sol nos dias do solstício de inverno. Este período tem a expressão da arte americana simbiótica e mestiça onde se apresentam a arte européia e o ressurgimento dos valores, conceitos culturais e artísticos pré hispânicos ainda vivos na gente nativa e mestiça. No século 18, continua de certa forma a influencia da escola cusquenha do século passado e desta época que provem o gosto na pintura de “brocatear” aplicar pintura dourada sobre as aureolas das santidades, vestimentas e cortinas, talvez pela mítica lembrança do sol dos incas. Os Arcanjos da escola cusquenha eram representados com vestimentas e ornamentos de modo a garantir características assexuadas. A vestimenta foi inspirada na aristocracia, principalmente naquelas da guarda do vice-rei em Lima. Esta guarda acompanhava o nas festividades públicas, em sua locomoção pelas ruas servindo como sua escolta e segurança pessoal. Uma guarda similar existia em Cusco, os cavaleiros das ordens militares e a nobreza espanhola. Os indígenas acreditavam que aquela guarda do vice-rei, representante do rei da Espanha e por sua vez representante de Deus na terra, rodeado da guarda armada, tinha correspondência em Deus rodeado de um “exército celestial”, com seus anjos alinhados em diferentes hierarquias. Do ponto de vista iconográfico é importante mencionar as determinações do Concílio de Trento com relação do ensino e propagação da fé através das imagens “Invocação, veneração aos Santos e imagens sacras”, as quais há que lhes render honra e veneração. Esta determinação aos evangelizadores foi facilitada pelo uso de afrescos nas paredes das igrejas. Os jesuítas foram os que introduziram a devoção e culto aos “Anjos da Guarda”, na expectativa de atrair os indígenas para fé cristã por meio da atração e facilidade narrativa exercida pela imagem. Solicitavam insistentemente aos superiores de Roma o envio de imagens ao Peru. Para os indígenas indefesos a imagem do anjo da guarda significava proteção, necessidade comum diante dos abusos dos conquistadores. O imaginário andino criou também seres semelhantes aos anjos da religião judaico-cristã. Uma lenda andina menciona o Viracocha, que no idioma quechua se pronuncia “Apu Kun Tiqsi Wiraqutra” e é a divindade invisível, e criadora de toda a cosmovisão andina. Este Deus tinha criados, invisíveis como ele, alguns dos quais seriam soldados fiéis e constantes. Imaginário que também poderia ter facilitado a introdução da representação dos anjos e arcanjos da religião cristã na cultura andina. A representação iconográfica dos anjos na escola cusquenha segue a dos sete anjos que figuram na igreja de Palermo na Itália desde a sua fundação em 1516 e são: Orfiel, Anael, Zacarias, Rafael, Samael, Gabriel e Miguel. Marcos Zapata o Marcos Sapaca Inca (Cuzco, c. 1710-1773). pintor peruano, foi um dos últimos e brilhantes artistas da chamada “Escola Cusquenha”, autor de obras religiosas produzidas entre 1748 e 1773 entre elas, 24 obras sobre A Vida de São Francisco 50 obras sobre a Letania Laurentina para a Catedral de Cusco e 73 obras para a Companhia de Jesus. Seu estilo se caracteriza pela beleza doce e convencional das suas madonas, rodeadas na maioria das vezes de cabeças aladas de querubins. As obras alegóricas a Virgem Maria que se inspirou nas estampas de Christoph Thomas Scheffler em 1732 são composições didáticas, de leitura fácil com respeito aos dogmas e conceitos teológicos da igreja. Atendendo ao chamado dos jesuítas Zapata e ajudado pelo seu discípulo Cipriano Gutierrez pinta, em 1764, dentro da temática preferida de exaltação a Virgem para a paróquia da Almudena a obra “A Virgem Entronizada”. Esta obra foi muito bem recebida adquirindo fama, tendo sido copiada numerosas vezes pelos seus colegas pintores. Zapata exerceu uma influencia muito grande que atingiu o Alto Perú, Chile e o norte da atual Argentina. Porém a sua obra mais famosa é a pertencente a Catedral de Cusco. Trata se de uma versão da Ultima Ceia na mesa onde comem Jesus e seus discípulos há um “Cuy” ou preá, animal típico dos Andes peruanos, tradicionalmente comestível desde os pré-incas ate a atualidade, além da grande quantidade de frutos e pimentas. Ele reinterpretou a história bíblica de forma particular, aproximado o contexto incaico. O detalhe mais controvertido é o da figura de Judas, pintado com o rosto de Francisco Pizarro o conquistador que colonizou o Peru. De forma notável Pizarro apresenta se na figura de um dos personagens de mais desprezo da religião católica, o traidor Judas. Temos que recordar que Pizarro exigiu ouro em troca da liberdade de Atahualpa, então seu prisioneiro. Apesar de satisfeita sua exigência, Pizarro mesmo assim o condenou a morte. É de estranhar que o rígido controle inquisitorial da época tenha deixado passar este fato, mas, podemos entender que a cultura popular também é crítica política por parte das minorias que exercendo a resistência tentam legitimar seus direitos. Acho que estes dois parágrafos deveriam estar relacionados ao tópico “pintura barroca No decorrer das artes da colônia peruana é preciso relevar a chegada do Barroco. Como parte da contra-reforma determinada pela igreja católica, o barroco tenta sensibilizar o espectador através dos sentidos e não pela razão. Por este motivo que este estilo se caracteriza pela grande concentração de elementos e ornamentos vinculados a temas religiosos colocados meticulosamente de forma a criar uma atmosfera mística e ascética. O barroco dominou por quase 200 anos as artes no Peru e impôs uma marca na pintura, escultura, música e literatura. Teve sem duvida uma influencia externa. Porém, a interpretação peruana foi autoctona e regional, reinterpretando se sem deixar de colocar elementos os simbólicos e realistas que o barroco exigia. A pintura barroca O pintor barroco pinta a realidade como a vê, com seus limites imprecisos, suas formas que entram e saem, com os objetos de primeiro plano intransponíveis, com escorços e posturas violentas e com as composições diagonais que a obra um grande dinamismo. Recorre sempre aos temas religiosos: santos, temas mitológicos, retratos individuais ou em grupo, e a temática representando o regional. O barroco, para ser entendido precisa conhecer se: o tenebrismo, que consiste no choque violento da luz contra a sombra,deixando o fundo em penumbra ou desaparecendo, ficando a cena em primeiro plano; o ecletismo, que trata de salvar o gosto clássico dentro desta nova pintura, que é uma estética decorativa, de efeitos e teatral. Na escola cusquenha o barroco foi aceito em toda a sua plenitude, no século 17, as corporações e grêmios encontravam se fortalecidas e o “barroco mestiço” pode desenvolver se com elas muito organizadas e com autonomia, devido a sua ruptura com os espanhóis. Esta liberdade dá margem ao surgimento da criatividade indígena que recorre à temática dos costumes da região. No barroco mestiço da escola cusquenha a composição da pintura se apresenta complicada por que os temas inspirados na cultura incaica tem que apresentar se ao lado de motivos religiosos católicos obedecendo as normas da contra reforma. Este período se caracteriza pela expressão da arte latina americana, simbiose e mestiçagem produzida pela contribuição da arte européia e o surgimento dos valores e conceitos culturais e artísticos incaicos, vivos na população nativa e mestiça, produto da mistura cultural secular. O estilo mestiço foi o primeiro momento das artes plásticas da America que pode definir se como autentico arte cusquenho, que influenciou as diferentes regiões da América com as variações peculiares de cada região. Esta nova arte cusquenha se caracteriza, pela sua temática de costumes como a procissão do Corpus Christi, pela presença da flora e da fauna andinas. Aparece também uma serie de retratos de cacique e índios, de quadros genealógicos e heráldicos andinos e religiosos, o predomínio da fantasia sobre a realidade, a procura da originalidade a todo custo e uma exploração da psicologia humana. Este barroco teve um papel importante nos conflitos religiosos da época, pois enquanto os protestantes construíam edifícios de culto só- brios e sem decoração a igreja católica usou para os seus fins de culto edificações grandiosas e barrocas Na nova temática ocorre um desentendimento da perspectiva, existe também uma fragmentação do espaço em vários espaços em cenas compartimentadas. Novas soluções cromáticas com a preferência de cores intensas. No século 18 chegaram as novas tendências procedentes da França, Áustria e Alemanha. As artes não seriam mais exclusividade da religião, pelo contrario foram os laicos e as instituições compradores desta tendência. Um destes estilos foi o rococó, que foi incentivado pelos reis borbons que manifesta o gosto refinado e requintado, aparecendo principalmente na edificação arquitetura. O Neoclassicismo movimento cultural da Europa em meados do século 18, influenciou a arte e cultura do ocidente até o século 19. Com base no Iluminismo e um renovado interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do Barroco e Rococó. O neoclássico chega ao Peru por volta de 1780, como conseqüência do desdobramento do vice reinado do Peru. Espanha receosa da expansão dos domínios no sul do Brasil decidiu dar maior importância a Buenos Aires como forma de conter este avanço, iniciando se novas correntes comerciais, surgindo novas correntes intelectuais e artísticas como a chegada do neoclássico, ficando desta forma o Barroco mestiço relegado as áreas rurais. A melhor aceitação desta tendência foi a dos criollos sendo que a nobreza e a corte também manifestaram a sua acolhida. O neoclássico chega a Cusco misturado com o rococó ganhando força até chegar ao academicismo. praticado na arte cusquenha desta época foi o Barroco que abandonou a decoração indígena e mestiça para retomar tardiamente a estética européia. A pintura neoclássica se caracterizou pela limpeza, ausência dos elementos decorativos, figuras grandiosas, estudadas, gamas cromáticas mais frias, domínio do branco, vermelho e azul e a recuperação da realidade de forma lenta. O Fim de um Ciclo The mining Boom Started O DECLÍNIO DA ESCOLA CUSQUENHA No dia 04 de novembro de 1780 no distrito de Yanaoca, em Tinta a 110 Km de Cusco, o padre da igreja matriz, Carlos Rodrigues, como era de costume todos os anos, oferecia um almoço para celebrar o aniversário do nascimento do Rei da Espanha Carlos III. Encontravam se presentes entre outros o Cacique Tupac Amaru e o Corregedor Arriaga. Almoçaram até as quatro da tarde, hora em que o Corregedor decidiu voltar a Tinta (ele estavam em tinta). O cacique Tupac Amaru lhe ofereceu companhia para a volta e também passar em Tungasuca onde era residência de Tupac para ser recebido junto com a sua mulher Micaela Bastidas. Era o início da revolta. Assim que ali chegaram o Corregedor foi preso, depois julgado e enforcado. (acho que é necessário explicar esta revolta e suas conseqüências) Nesta mesma época a Espanha toma a decisão de criar vice-reinado da Prata, como forma de conter a influencia que os portugueses vinham mantendo na região gaucha, dando maior importância a Buenos Aires. Iniciam-se desta forma, novas tendências comerciais, fazendo surgir novas correntes intelectuais e artísticas. Isto tudo associado a difusão do estilo neoclássico, fizeram com que o Barroco Mestiço fosse perdendo sua força ficando relegado às áreas rurais. Estes dois fatos geram profundas mudanças nos sistemas econômicos e políticos do Peru atingindo as artes plásticas como fonte de recursos na cidade de Cusco. Por outro lado, em Lima o vice-rei Manso de Velasco e Amat atua como mecenas (Este trecho adiante eu não entendi o sentido) em este declinar da historia assim como de um setor formado pela aristocracia de “criollos”, tendo no ouvidor limenho Pedro Bravo de Lagunas y Castilla, colecionador e protetor das artes, que possuía uma vasta pinacoteca composta de obras espanholas e flamencas. O pintor da corte nesta época é Cristóbal Lozano (ca. 1705-1776) que dará um giro na sua carreira, em 1740 ( a cronologia esta indo e voltando) adotando a pintura espanhola do Século de ouro em detri- mento da escola cusquenha. arreios, atributos dos santos. Temos ainda os pintores José Joaquín Bermejo, Julián Jayo, Juan de Mata Coronado e Pedro Díaz. Vários destes participaram na decoração do convento Mercedário, entre 1766 e 1792, considerado como o projeto artístico culminante desta etapa. Com a chegada do Neoclássico o brocateado entra em desuso progresivo, chegando novamente a um simples perfilado. A pintura popular cusquenha é uma derivação da pintura culta e erudita que se praticou até o início do século 19, e que vai se misturando com o rococó fazendo a pintura cusquenha perder definitivamente as características barrocas. Na transição do século 18 para o 19, a medida que chegava a independência, o antigo sistema colonial de grêmios e ateliers teria que enfrentar e dar espaço as normas do academismo. Em 1791 foi fundada em Lima uma Academia particular, sob proteção do arcebispado quem inicio a renovação classicista dos interiores eclesiásticos limenhos. Cusco seguia fiel a suas tradições e teve nesta época uma grande produção de pintura mural colonial comparada com o auge dos primeiros tempos coloniais. Sendo Tadeo Escalante o mais prolífero muralista colonial reinterpretando o estilo de Marcos Zapata. Os seus seguidores transferem a técnica do muralismo a pequenos suportes de couro endurecidos com gesso nos quais pintam aos patronos dos agricultores como San Isidro Lavrador, San Marcos e San Juan Bautista por encomenda da clientela rural e provinciana. É através destes artistas anônimos classificados como “pintores populares andinos” que as tradições, técnicas e temática colonial-andina permaneceram vivas bem depois de estabelecida a República. O desenho da pintura popular cusquenha é ingênuo e expressionista. Procura sempre embelezar os rostos, dando-lhes um caráter amaneirado e amável mesmo aos santos ascetas e idosos. Na maioria dos casos as figuras se apresentam de forma frontal. Por serem cópias de imagens, são objetos inanimados. A cor é uniforme, intensos, cálidos, são cores puras com pouco cinza ou semitons, com o emprego do vermelho e seus tonos. As sobras feitas com terra siena e muito uso do branco e do negro intensos. Havia como uma espécie de código para o emprego da cor de acordo com os santos e divindades, assim a Virgem veste túnica branca em todas as advogações e manto azul ou em alguns casos túnica verde e manto ocre. A capa pictórica é muito suave, a tela e fina, com base de preparação de bol o procedimento de pintura é “a La prima”, pelo que muitos quadros se encontram em mal estado, não resistiram ao tempo. Nesta época novos elementos decorativos provenientes da França e Espanha que se incorporam ao brocateado como a rocalha, o roleo, a estrela, etc. O brocateado da decoração de 1770-80 enche completamente as vestimentas, cobre os chapéus, cascos dos cavalos e até os Neste mesmo periodo volta se a pintar os oratórios, que são quadros sobre tabua dentro de uma caixa de madeira com portinholas decoradas e pintadas encerrando verdadeiras obras de arte. Neste século 19, a pintura esta em mãos de mestres índigenas onde a ingenuidade converte se em primitivismo, chegando a uma simplificação quase infantil, produzindo peças expressionistas de grande qualidade. Se marca com isto o final da pintura do vice reinado, relegada aos povos indígenas, em quanto as grandes cidades preferem a pintura francesa Depois do movimento de emancipação, até 1821, surge no Peru um clima de instabilidade política e econômica. Durante estes anos a imagem republicana substituiu os símbolos do poder espanhol nos moldes herdados dos tempos coloniais. Por este motivo é que a forma artística mais desenvolvida seria a do retrato: onde antes existia uma figura do Rei da Espanha seria substituída pelos libertadores militares; Simon Bolivar ou San Martin. Nas primeiras décadas do século 19, surge no Peru a pintura republicana. Depois de pintar vice-reis e cortesãos na sociedade limenha, os artista assumem um caráter nacionalista representando aos generais peruanos e aos libertadores, marcando a etapa de transição do rococó ao neoclássico. (o conteúdo deste parágrafo é o mesmo do anterior) As Cores da Terra The mining Boom Started OS MATERIAIS E AS TÉCNICAS DAPINTURA Os primeiros grandes mestres da pintura eram religiosos vindos da Europa. Traziam técnicas e materiais que utilizavam, principalmente, na Italia, Frandres e Espanha. A lavor evangelizadora era muita e a princípio se importaram todos os materiais da Europa. Com o decorrer do tempo, com a distância, com a necessidade de uma produção maior, passou-se a incorporar e adaptar materiais disponíveis nas terras peruanas. Porém fundamentalmente tiveram que depender das importações. No início do século XVII, a pintura a têmpera foi utilizada no lugar da pintura a óleo, a tempera trazida pelo artista Bernardo Bitti é aplicada em capas sucessivas com imprimação em branco, tem como características a ausência dos empastes, as veladuras colocadas uma sobre as outras e a acentuada marcação das líneas. A tempera foi usada até por volta do ano de 1636, como mostram as obras de Riaño e Pardo Lago. É difícil afirmar quando iniciou-se a utilização da tinta a óleo, parece ser que implantou-se definitivamente a princípios do século XVII quando foi empregado por Quispe Tito e Basilio Santa Cruz. Posteriormente a pintura a óleo seria amplamente utilizada. Estas técnicas tem diferencia pelo aglutinante utilizado. No primeiro caso, se utiliza a gema do ovo misturado com pigmentos minerais e vegetais e no segundo, o óleo de linhaça. Por outro lado, sem a introdução dos elementos básicos da pintura pelos europeus, ou seja, sem o conhecimento da tridimensionalidade e do contraste luz/sombra, sem o domínio do material indispensável (óleos, gomas, vernizes, tinturas), sem a aplicação da técnica da têmpera e do óleo, a pintura andina colonial não teria sido possível os cusquenhos chegarem aos resultados obtidos. Os procedimentos de pintura seguiam os materiais que costumeiramente se usavam na Europa: tela com base de preparação, desenho do trabalho e pintura à óleo.Em alguns casos foi possível detectar o uso de Bol de Armênia, proveniente da Europa, como imprimação das telas. Na falta deste, em muitos casos, passaram a usar terras vermelhas como fundo e este tipo de imprimação acabou sendo a causa de grandes problemas nas pinturas assim tratadas por causa da grande higroscopia deste material. Outro material utilizado para imprimação foi a cinza vegetal misturada com a borra da “chicha” que dava uma tonalidade marrom acinzentado ao fundo das pinturas. As telas foram preparadas nas mais diversas dimensões. Deveriam ser confeccionadas para revestir as paredes das igrejas. Desta forma, as obras de grandes dimensões eram costuradas para atingir os tamanhos desejados. Existem obras cusquenhas com tecidos de tramas e espessuras diferentes. Procuravam usar basicamente linho. Porém, todo tecido disponível foi aproveitado como telas de algodão, de fibras vegetais e também os tecidos que envolviam os fardos trazidos de navio da Europa para América. Portanto, os mais diversos suportes tela são encontrados nas pinturas cusquenhas. Os chassis foram executados em madeira cedro do tipo holandês (sem cunhas, sem chanfros) de encaixe simples que se danificaram com o tempo. A obra não era esticada no chassi, o prego era elemento caro e raro; deste modo a tela pintada era colada, sem bordas, fato que também caracteriza esta pintura cusquenha é visível em nossos dias porque muitas das obras foram recortadas internamente de seu respectivo chassi. Este procedimento foi executado por saqueadores no século passado que fracionaram muitas das telas para vendê-las em partes e as mantidas inteiras tiveram todas as suas bordas recortadas, faltando lhes os acabamentos laterais das imagens. As colas utilizadas foram obtidas por produtos fabricados a partir de ossos de animais como coelhos e bovinos com ótimos resultados. Os pigmentos europeus trazidos para a pintura no Peru não foram suficientes para a demanda, eram caros e foi preciso abastecer os ateliers de pintura com pigmentos produzidos na colônia. A produção de pigmentos para pintura já era largamente conhecida pelos incas. Desta forma os ocres provenientes das terras mineralizadas continuaram a ser utilizados. Para as encarnações prepararam pigmento feito com o marfim dos caninos de porco. Os vermelhos eram produzidos de diversas maneiras, porém, o mais apreciado era o que se extraia a partir da cochinilha, inseto que vive em algumas espécies nativas de cactos. O vermelho “sangre de dragón” era extraído da resina da árvore que tem este nome. O azul, que na época incaica era produzido a partir do Lápiz Lázuli, mineral existente na região andina passou a ser produzido também com o anil, trazido da América Central. O negro foi obtido com ossos calcinados. Com os conhecimentos trazidos pelos primeiros mestres de pintura muitas cores passaram a ser produzidas no Peru com a oxidação de metais, tais como: o branco do oxido de zinco; o amarelo do oxido de antimônio e de urânio; o azul através do oxido de cobalto; o verde através do oxido de cobre e muitos outros pigmentos a partir de metais e da mescla deles. O que é importante destacar é que com o crescimento da pintura cusquenha aumentou a necessidade da produção de materiais pictóricos e a criatividade dos artistas cusquenhos permitiu a descoberta de novos materiais pictóricos. Na atualidade, foram realizados inúmeros estudos estratigráfico em laboratórios em obras de arte cusquenhas dos século XVII e XVIII. Transcrevemos em continuação o resultado obtido de algumas cores mais importantes utilizados na produção da arte andina. Vermelhos e laranjas Almagre: oxido de ferro conhecido como hematite, terra vermelho de Espanha, pedra sanguinea. Nos Andes conhecida como Puca Alpa, utilizado para a pintura corporal. Bermellón: sulfureto de mercúrio. Nos Andes conhecido llimpi, linpi, yehma, ychma. Extraido das minas de mercúrio de Huancavelica na região central dos Andes peruanos. Carmín: É um corante orgânico, proveniente do inseto da cochinilha do cacto (Coccus cacti) ou kermes (Coccus illicis). Minio: oxido de chumbo calcinado, de cor vermelho alaranjado, também chamado minium, vermelho de Saturno ou zarcão. Foi usado como base secante para outras cores Verdes Cardenilho: acetato de cobre producido pela exposição de láminas deste metal a vapores ácidos que produz um pó verde intenso, muito venenoso. Nos Andes conhecido como llacsa, llaxa o copaquiri, producido no Peru ou importado. Malaquita: carbonato básico de cobre, conhecido em europeas e América como Chrysocolla, Chrysollita, verde montaña, tierra verde, na região andina como Coravari. Utilizado para conseguir brilhantes tonalidades de verdes e azuis. Extraídos dos yazigos de Sapo em Cochabamba e Cazpana em Atacama. Azules Anil: conhecido como índigo ou azul de Castilha, de origem vegetal (família das Papilionacae, Indigenae Caachira). Nos Andes conhecido como anir, annil, mintli, xiuhquilitl. Foi a cor mais utilizada nos cusquenhos. Azurita: carbonato básico de cobre, conhecido como azul de montaña, azul de Santo Domingo, polvos azules, ou cenizas azules parente da malaquita, é um pigmento azul intenso. A sua presença é notada nos céus, roupas das virgens e anjos. Prusia: criado em 1704 pelo alemão Ghislain Diesbach, chegou na metade do século XVIII, substituindo o pigmento lapislázuli (muito caro) e o final das minas de azurita. Smalte: óxido de cobalto, conhecido como esmalte, esmaltín, vetro di cobalto, o azul de Sajonia, pigmento vítreo de cor azul brilhante, produzido também para a industria do vidro. Amarelo de chumbo-estanho: oxido de chumbo-estanho, conhecido como hornaza, ornacha, giallo di Fiandra, o giallo di vetro de cor amarelo claro. Utilizado nos séculos XV e XVII e logo desaparece. Os pigmentos importados chegaram ao Peru a partir dos centros de produção como venesa, saxônia, Cadiz ou Sevilha que atendiam a demanda de Lima, Cusc, Puno, Chucuito e Potosi, alem do que os portos intermediários como Maracaibo e Portobello. A que considerar também o contrabando que tinha início em Buenos Aires, passava por Cordova, seguia a Tucuman chegando a Potosi e Cusco. Chegavam em forma de pó, pastas ou pedras Poe encomendas nas farmácias ou em casas de especiarias. Também era possível os mesmos artistas irem até as minas para produzir os seus pigmentos uma vês que estavam perto dos centros artísticos. Entre os pigmentos mais encomendados estavam: os polvos azuis ou azurita, ol albaialde, o vermelhão, a grana o carmím, o cardenilho, e o anil. Os artistas mantinham estes pigmentos guardados de forma particular em meio a segredos únicos de manipulação próprios de cada atelier. Assim no atelier de Holguín o pigmento Smalte (azul) que era moído inúmeras vezes para obter o seu maior ou menor brilho; O albayalde (branco) tinha que ser moido e amasiado em água antes de mistura lo com o óleo; os vermelhos mínios e almagres eram ótimos para desenhar, enquanto o carmim junto com uma laca servia para os relevos; as resinas podiam ser tingidas com o cardenilho (verde), pigmento que requeria cuidados especiais; Interessante e complexa era o curado e a destilação do Anil (azul) “...colocar o anil em grãos quarenta dias, retirar e durante oito dias enxaguar com alumbre de Castella todos os dias, após estes oito dias, seco e limpo a que moer lo com óleo de linhaça, novamente agregar o alumem de castella após nova moída coloca lo em um frasco de vidro colocamdo o em forno de padaria por 24 horas, após retiralo do forno tem que moer lo novamente com o óleo de linhaça e guarda lo agregando um pouco de vidro moido que é recomendável”. Ademais existiam manuais que recomendavam as formas e maneiras de tratar os pigmentos que junto com os conselhos e secretos eram seguidos pelos pintores, nos referimos aos textos de Georgius Agricola (1556) e de Antonio Neri, en su L´arte vetraria (1612). Para que estes pigmentos pudessem ser aplicados em pinturas à óleo tornou-se necessária a produção de óleos aglutinantes e vernizes. Estes materiais, da mesma forma que os suportes e os pigmentos, necessitavam de uma produção muito maior do que a disponível trazida da Europa. Assim, iniciaram plantações de linhaça para extrair o óleo, apreenderam a extrair o aceite das nozes, de ovos e de cravo. Apren- deram a clarificação destes óleos por meio do emprego do letargirio (monóxido de chumbo). Com estes óleos agindo como aglutinantes dos pigmentos passaram a ter tinta á óleo em maior quantidade para atender a demanda. Com resinas obtidas de diferentes árvores nativas obtiveram vernizes. Os bastidores das telas também eram confeccionados com madeiras de arvores nativas copiando os modelos dos chassis trazidos da Europa. O dourado e o brocateado foram muito utilizados principalmente a partir do século XVII. Aplicava-se sobre a tela preparada uma capa de terra vermelha antes da aplicação das folhas de ouro e prata. O brunimento se efetuou por meio de pedra ágata ou com bexiga de boi que também resultou eficiente. É interessante mencionar que estas obras estavam destinadas à devoção e por isto eram muito manuseadas, acarretando um desgaste das cores e demais deteriorações físicas. Assim sendo, foram sucessivamente submetidas ao chamado “refrescar los colores”, que era uma forma de restauração, o que significa uma repintura total ou parcial da obra. Este procedimento foi efetuado durante os séculos XVII e XIX, desta forma com o “refrescar los colores”, a obra ganhou características típicas dos mestres que a restauraram. O poder político em tempos incaicos já exercia um controle sobre as atividades ligadas a pintura. O Inca Tupac Inca Yupanqui como o relatado na “Nueva Corónicadel Buem cristiano” de Guamán Poma estabeleceu normas bem claras de como se exercia este controle “pintores que pintan paredes y en queros” ou os que fabricavam cores para tingir eram incluídos em uma estrutura piramidal regidas pelas necessidades que o Inca estabelecia. Assim sendo, certas cores eram regulamentadas para seu uso. Portanto, as normas ditadas pelo “grêmio” e que foram impostas pelos espanhóis já tinham uma tradição nas terras andinas e não existiram maiores problemas em serem exercidas. A implantação de um atelier artístico em terras peruanas deveria seguir as leis das cofrarias e grêmios espanhóis pelos quais se avaliava o grau de conhecimento no uso das cores, a arte de preparar as telas, o domínio das técnicas e a representação iconográfica com o que se obtinha o título de “maestro” que para os nativos não existia problemas como afirmou o padre José de Acosta, “...son maestros en el arte del pintar y modelar”. Também foram ditadas hierarquias no sistema de aprendizagem dos oficiais e aprendizes. A avaliação incluía: nobreza, honestidade e utilidade e eram os espanhóis e criollos os que normalmente tinham estas qualidades, cabia aos nativos os trabalhos mecânicos e de limpeza do atelier. Com grandes dificuldades os artistas cusquenhos conseguiram os cargos de “maestros”, situação esta que se agravou ate o rompimento final em 1688. O atelier cusquenho estava assim formado, cada atelier era comandado por um “Maestro” ou mestre que dava o seu nome, inicialmente a maioria eram espanhóis. Era ele que assinava os contratos e tinha sobre sua responsabilidade a produção e a qualidade das obras produzidas. Na execução das obras era o mestre que conceitualisava a obra, seguindo um modelo que em primeiro lugar atendesse aos preceitos estabelecidos pela religião católica, desta forma fazia o traçado geral da mesma e pintava as carmines, os rosto e as mãos dos personagens. O atelier estava também composto de oficiais que tinham especialidades definidas dentro da composição da obra, assim sendo uns executavam as flores, outro a mancha principal da cor, outro pintava os pássaros, outros a aplicação do “brocateado” (aplicação de ouro nas vestes dos personagens). O oficial também executava as cenas secundárias onde tinha liberdade de expressão sendo que nestas cenas que se encontram as manifestações da vida cotidiana indígena que contribuíram com o caráter da escola cusquenha de arte colonial. Faziam parte dos ateliers os “aprendizes” a princípio eles olhavam e assistiam aos oficiais com o passar dos anos e a experiências adquirida eram submetidos a uma prova com a presença de vários mestres que o qualificavam como oficial. O espaço do atelier típico cusquenho as cores se mantinham no espaço em meio a frascos, godês, pedras de moer, pequenos fornos, braseiros, morteiros, sempre com materiais em preparação, pinceis de todas as espessuras e tamanhos, mesas de trabalho, madeiras, chassis e telas em preparação. Nas paredes prateleiras com manuais e livros de secretos que só os mestres podiam consultar, chassis prontos pendurados e principalmente diversas gravuras (italianas, flamengas, etc.) a partir das quais se pintavam as obras que serviriam para a evangelização. Também as paredes tinham pinturas européias que ornavam as paredes e serviam de modelos e referencia que os pintores estudavam as qualidades técnicas, sua feitura e estilo para a produção artística. Tal é o caso do atelier de Melchor Pérez Holguín que segundo relatos tinha na parede de seu atelier uma tabua com o tema da “Piedad” de finais do século XVI, da escola flamenga, que a tinha para cópia e para estudo da sua técnica. Era costume ter nos ateliers cusquenhos as imagens de San Lucas o padroeiro dos pintores, pintado por artistas dos mesmos ateliers como é o caso da tela que esta no Museu de Arte de Lima (Peru), a iconografia mostra San Lucas pintando a Virgem Maria de início do século XVIII. Interessante apontar que a arte produzia a imagem que tinha o caráter evangelizador e doutrinamento católico para a grande massa andina, condições estas que não impediram a taxação de impostos nos materiais usados na pintura (pigmentos, pinceis, madeiras, telas, resinas, etc.). Em particular os pigmentos eram considerados mercadorias consideradas de farmacêuticos.