Comunicação RESIGNIFICAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR E SEUS OBJETOS QUE LHES SÃO PERTENCENTES SILVA, Amanda Cássia dos Reis1 LEITE, Vilma Campos (orientadora) Palavras-chave: Escola, Teatro, Resignificação. INTRODUÇÃO O presente trabalho visa expor o projeto de extensão universitária “Serelepe: encontros teatrais com crianças. Primeiro movimentos: Historias à brasileiras” elaborado e coordenado pela docente Mrs. Vilma Campos docente do curso Teatro da Universidade Federal de Uberlândia que tem em vista a criação, circulação e mediação de apresentações teatrais dentro de escolas dos anos iniciais e fundamentais, através do espetáculo “Histórias Á Brasileira”. O referido projeto conta também com três estagiários do curso de teatro com o objetivo de atender crianças com faixa etária de 6 a 13 anos. O projeto vai além da apreciação espetacular convencional, propiciando atividades de mediação que reflitam sobre a própria execução estética contribuindo com a formação de público em áreas carentes de produtos artísticos. A relevância do projeto centra-se na ampliação da perspectiva do lazer, ao somar atividades de desenvolvimento do olhar estético e sensível por meio da participação e da interação do público pré e após as apresentações das histórias em cena. O adjetivo serelepe tem como sentido figurado: faceiro, ardiloso; vivo e irrequieto. Ao intitular o projeto com esse vocábulo, há a intenção de abranger a ação de circular um trabalho de teatro em vários espaços alternativos e de convivência social. O fazer com e para crianças não raras vezes na história do nosso país esteve vinculado a uma prática de menor prestígio. Na produção teatral da década de 70 dos teatros da capital paulista (PUPO: 1991), os grupos com 1 Universidade Federal de Uberlândia peças infantis no período vespertino de um teatro, tinham que adaptar a concepção de luz, de cenários e outros signos do fazer teatral em função do espetáculo adulto que seria apresentado no período noturno, não lhes sendo reservados agendamentos para ensaios. Esse é apenas um dos exemplos e que se repete em outros lugares e tempos, que demonstra que é fato o desmerecimento para com o teatro infantil apesar da especificidade do período da infância conforme a ressonância dos estudos já em voga desde o limiar do século XX. O estudo de Jean Piaget sobre o desenvolvimento da psicogênese do conhecimento humano é apenas um dos exemplos que demonstra a impertinência do descaso para com a infância e de como é preciso se fundamentar para realizar um trabalho competente junto a esse público. O tratamento preconceituoso para com o produto artístico voltado para a infância está ligado a fatores de ordem complexa que estão além da área do conhecimento do Teatro. Envolve um debate mais amplo sobre a representação e a concepção de infância na sociedade moderna. As ações que têm sido feitas no ensino junto ao curso em questão ainda são insuficientes para a demanda e para possibilitarmos um encontro mais efetivo com a população, particularmente com o público infantil que representa uma parcela significativa do campo de trabalho para o artista e ainda mais para o professor. “Quando eu vejo certas peças de teatro para crianças fico pensando por que as crianças não reagem e montam uma peça para adultos!” (ABRAMOVICH, 1983). Millôr Fernandes consegue expressar nesse enunciado com humor crítico a importância de se realizar um produto teatral para esse público a partir de um pensamento respeitoso para com os seus saberes. A criança não é apenas um ser do futuro, como atesta a pergunta recorrente do cotidiano: “O que você vai ser quando você crescer?” A criança não é produtora de meios de produção de uma sociedade capitalista, mas ela já “é” alguém no presente com sentimentos, anseios e frustrações. O Teatro é uma linguagem que pode colaborar nesse processo e prática de seres autônomos, participantes e críticos. No Projeto Serelepe, encontros Teatrais com crianças, a opção é por trabalhar de mãos dadas com a literatura infantil, enquanto área do conhecimento humano e linguagem artística, fundamentando o fazer artístico e desenvolvendo uma encenação a partir de “Histórias à brasileira”. “Quem assiste a programação noturna de televisão, não é capaz de imaginar que a diurna é pior”. (ABRAMOVICH, 1983) O pensamento de Stanislaw Ponte Preta é lembrado aqui porque se entende que ao trabalhar com o produto estético para a criança é preciso estar além de “um formato infantil”. O propósito aqui não é pôr em xeque a discussão sobre os Meios de Comunicação de Massa, que fugiria as possibilidades dessa justificativa, mas considerar a pertinência que se tem ao se eleger esse público como foco. A citação, a seguir, vai mencionar outra linguagem artística, a música, mas a analogia pode ser feita perfeitamente ao teatro, enquanto linguagem artística. “Não creio na música dedicada especialmente às crianças. Creio na música” (ABRAMOVICH, 1983) O enunciado é uma lembrança que elucida o quanto é preciso tratar com a especificidade da infância, mas sem subtrair ou fazer concessões do que é inerente à Arte enquanto área de conhecimento. É esse o desafio, proposto com esse primeiro movimento. Foram escolhidas histórias com temas geradores. Escolhidas pela relevância “social” e não “moral”. É preciso esclarecer que não há o intuito de “pedagogizar” a arte. Há um entendimento que a atividade artística é educadora por ela mesma, independentemente do tema que aborda. É como no conto das Mil e uma noites em que Xerazade vai contanto histórias, devolvendo ao rei Xariar a confiança e a crença na vida. Ao compartilhar histórias, o próprio monarca “educa a si mesmo”, num sentido largo e numa leitura calcada nos ensinamentos de Walter Benjamim em seu clássico artigo “O narrador”. As atividades prévias e posteriores às apresentações serão desenvolvidas como um diálogo ou interação com a platéia. É preciso aguçar a percepção e aprender com esse público. São momentos de natureza artística, enquanto portadores de experiências a serem partilhada e não com o intuito de se tornarem atividades de verificação, de entendimento, ou de tarefa ou de lições às crianças. Pretende-se refletir sobre a experiência estética como aprendizagem e formulações próprias de fruição e não como pretexto ou recurso didático. O projeto tem como objetivo, contribuir com a formação de público em áreas carentes de produtos artísticos, numa perspectiva de inclusão social, ampliando e consolidando as atividades de apreciação teatral e ampliar a noção de possibilidades de práticas artísticas teatrais com a infância em consonância com o desenvolvimento de varias áreas do conhecimento que tem essa faixa etária como foco. O espetáculo “Histórias á Brasileira” foi constituído pelas histórias João mata sete, o Macaco e a Velha e O Tesouro do Rei. O processo de criação do espetáculo foi feito dentro de sala de aula convencional, onde os atores utilizaram dos objetos presentes para uma pesquisa intensa. A lousa havia virado um bananal, a mesa do professor um poço, o ventilador uma ducha e assim foram criados os três contos populares que constituíram o espetáculo “Historias À Brasileira”. O trabalho de resignificação dos objetos do espaço escolar visa ampliar o olhar sobre novas possibilidades de fazer teatro dentro do espaço escolar. O curso de Teatro da UFU pretende uma formação e atuação de um artista e/ou professor engajado em seu tempo e em seu meio, inserindo-se aí a necessidade de lhe reservar um espaço para a prática e o debate sobre o papel da infância no fazer teatral, porque se acredita que é possível ir além de um teatro didático, comemorativo ou de entretenimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil, gostosuras e bobices. SP: Scipione, 1989. __________________. O estranho mundo que se mostra às crianças. SP: Summus, 1983. AGUIRRE, Luis Peres. Brincadeiras para toda hora. SP: Paulinas, 1992. ALVES, Rubem. A alegria de Ensinar. Campinas: Papirus, 2003. AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Rio de Janeiro: Vozes, 1997. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. BENJAMIN, B. 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