Um Partido Forte e Preparado Eu já disse que tenho saudades do período em que ocupei a presidência do PT, entre 1995 e 2002, dos nossos debates e da nossa luta para construir um partido democrático e pluralista, com raízes na sociedade brasileira. Nesses 25 anos, trabalhamos duro para derrubar a ditadura e consolidar a democracia no nosso país. Devemos muito disso à liderança do companheiro Lula, porque muitos de nós havia anos esperávamos por uma oportunidade como o PT. No meu caso particular, o PT surgiu quando eu ainda vivia na clandestinidade, em Cruzeiro do Oeste (PR) – e muito me emociona, hoje, ver o meu filho Zeca e o nosso partido administrando a cidade que me abrigou entre 1975 e 1979. Naquela época, eu li, pela primeira vez, notícias sobre um operário do ABC que, com outros sindicalistas, falava uma linguagem sincera, simples e direta, de liberdade, de rebeldia, de ir para a ação e conquistar seus direitos. Logo de cara simpatizei com eles e com sua luta – que tomei como uma continuidade da luta da minha geração, a geração de 1968. Como diria o nosso querido Carlito Maia, “oPTei”. Tempos depois, quando voltei para São Paulo, após a Lei da Anistia, tive os primeiros contatos com os núcleos, com as reuniões e com Lula. No encontro do Colégio Sion, assinei a ata de fundação do PT com o sentimento de que acabara de readquirir meus direitos políticos e minha nacionalidade que a ditadura roubara. O PT, então, entrou em minha vida para não mais sair. No partido, fiz um pouco de tudo. Comecei no Diretório Zonal do Jardim América. Depois, enquanto estudava, fui trabalhar como auxiliar administrativo na Liderança do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo. Em 1981, fui eleito para o Diretório Regional de São Paulo e fui secretário de Formação Política por dois anos. Ali começou a discussão sobre um programa de governo do PT. Nas eleições de 1982, aprendemos o que era uma disputa eleitoral – e também nunca mais esquecemos o papel da TV e do rádio em uma campanha, tanto que em 1985 já dávamos lições e revolucionávamos a comunicação. Não dá para esquecer a nossa participação na campanha das Diretas Já, em 1984, quando representei o PT na coordenação. Em 1987, voltei para a Assembléia Legislativa, mas então como deputado estadual constituinte. Em 1990 conquistei o primeiro mandato como deputado federal por São Paulo – que hoje é a minha terra, mas sou mineiro de Passa Quatro e me considero paranaense também. Como deputado, assinei com o companheiro Eduardo Suplicy o requerimento que criou a CPI do PC e levou ao impeachment de Collor, outro momento que mostrou a importância da nossa luta pela democracia e pela ética, pelo compromisso com o nosso povo. Em 1994, disputei o governo de São Paulo e recebi 2.085.190 votos (14,86% dos válidos). Após a eleição, retomei minha vida como advogado, mas, convocado pelo companheiro Lula, passei a coordenar o programa de combate à corrupção lançado pelo Instituto Cidadania. Em 1995, assumi a Presidência do PT, com a difícil tarefa de suceder ao Lula, e fui reeleito em 1997 e em 1999. Nesse período, ao mesmo tempo em que eu voltava para a Câmara dos Deputados, em 1998, enfrentei com outros companheiros o desafio de transformar o PT numa instituição, em fazer com que a sociedade visse o nosso partido como uma alternativa de governo, não apenas como um movimento de reivindicação, de luta e de protesto, mas como um Resoluções de Encontros e Congressos & Programas de Governo Partido dos Trabalhadores (www.pt.org.br) / Fundação Perseu Abramo (www.fpabramo.org.br) 1 conjunto de valores políticos, programáticos e éticos. Para isso era necessário, de um lado, organizar o partido de forma equilibrada e democrática, respeitando o pluralismo, e, de outro, abrir o PT para a participação da sociedade – porque o nosso partido sempre soube da importância da militância e da mobilização social. Além disso, foi nesse período que se consolidou o modo petista de governar nos municípios e nos estados que administramos e com os vários prêmios que recebemos. Essas experiências de êxito fortaleceram a confiança da sociedade no PT e nos deram maturidade para executar o nosso programa no governo federal, para ampliar as nossas alianças eleitorais e para, agora, implementar no governo federal as mudanças que todos queremos, sem jamais esquecer a nossa história. Em 2001, com a eleição direta dos seus dirigentes, o PT me deu mais uma oportunidade de presidir o partido, mas, além disso, demonstrou ao Brasil o seu compromisso com a democracia e com os seus filiados e deixou claro que nenhum de nós teme um debate público e transparente. Nessa trajetória, porém, ficou claro que a realidade do nosso país e do povo brasileiro exigia mais do PT e da esquerda em geral. Em 1989, sofremos uma derrota que sentimos muito, até porque naquele momento iniciou-se um processo de hegemonia conservadora, primeiro com Collor e, depois, mais intensamente, com FHC. Isso tornou mais difícil a tarefa de construir uma alternativa de poder que retomasse um projeto de desenvolvimento nacional, com o combate à exclusão social e às vulnerabilidades que acometiam o país. Foi necessário dialogar com a sociedade e com o partido, buscar alianças e definir um programa de governo que permitisse democratizar não só o poder, mas também a riqueza do Brasil, para tornar o nosso país mais justo e solidário. Em 2002, enfim, com o PT unido, forte e preparado, vencemos a batalha. Elegemos Lula presidente do Brasil, algo importantíssimo pelo significado histórico dessa conquista, pelo fato de um trabalhador, de um político de esquerda, assumir o comando do nosso país. Sabíamos que não seria fácil, que o trabalho pela frente seria imenso – e que seria necessário construir a governabilidade, porque o povo deu um mandato para Lula e o PT, mas não deu maioria no Congresso. Por determinação do presidente Lula, participei da transição, quando ficou evidente o tamanho das nossas tarefas, a herança que recebemos. No dia 7 de dezembro de 2002, durante reunião do Diretório Nacional, em São Paulo, me licenciei da Presidência do PT para participar do governo do presidente Lula e fui substituído pelo companheiro e amigo José Genoino, então deputado federal e vice-presidente nacional do PT. Em 1º de janeiro de 2003, fui nomeado pelo presidente Lula ministro de Estado chefe da Casa Civil da Presidência da República, quando então me licenciei do cargo de deputado federal. Agora, passados dois anos, é preciso destacar que as mudanças já começaram. Retomamos o projeto de desenvolvimento nacional, o planejamento e o papel do Estado. Isso não é pouco, porque não se trata de colocar o Estado apenas como agente de desenvolvimento social ou como agente de ampliação da democracia, mas como um ator fundamental da retomada do crescimento econômico. Neste sentido, é preciso lembrar que controle da inflação, ajuste fiscal e redução do risco-país são coisas importantes e necessárias. Mas nós também reorganizamos Resoluções de Encontros e Congressos & Programas de Governo Partido dos Trabalhadores (www.pt.org.br) / Fundação Perseu Abramo (www.fpabramo.org.br) 2 os bancos públicos, ampliamos o crédito e criamos as condições para que mais de 2 milhões de empregos com carteira assinada fossem criados em dois anos. O Brasil também assumiu um outro papel no mundo, uma posição soberana. Quero repetir: isso não é pouca coisa. Mas, evidentemente, é preciso fazer mais, passar da rede de proteção e da transferência de renda para o desenvolvimento social, com mais educação e saúde, com mais inovação científica e tecnológica. Todos nós sabemos que isso não acontece da noite para o dia. Em dois anos, porém, o governo do presidente Lula, o nosso governo, do PT e de seus aliados, conseguiu aprovar reformas que estavam adormecidas havia muitos anos. Aprovamos a reforma tributária, a reforma da Previdência. Desengavetamos a reforma do Judiciário. Vamos, logo mais, retomar o debate sobre as reformas sindical e trabalhista, que devem ajudar na criação de mais empregos, assim como deverá acontecer com a entrada em vigor da Lei de Falências. A política industrial, científica e tecnológica também vai dar maior competitividade à economia brasileira. E o governo vai cuidar da educação e do ensino profissionalizante, porque nós precisamos dar condições aos nossos jovens para que se adaptem ao país que estamos construindo. Além disso, estamos travando uma intensa luta contra a corrupção e o crime organizado, basta assistir à TV, ouvir o rádio ou ler o jornal. A verdade nua e crua é que o nosso governo não só enfrentou a instabilidade como deu ao país a perspectiva do crescimento econômico e da melhoria da renda e do emprego. Nós temos que sustentar esses avanços. A nossa agenda de prioridades inclui investimentos na infra-estrutura de transportes, mas também em saneamento básico, em educação, em ciência e tecnologia. Sempre é bom lembrar também que, se o governo faz um ajuste fiscal para estabilizar a economia, isso se dá no bojo de uma política mais ampla, não está separado da política industrial, do comércio exterior ou da política social, da reforma agrária, da agricultura familiar. Para cada ação do governo, no cenário externo ou interno, há uma outra ação na direção do desenvolvimento nacional. Isso deve ficar bem claro para o PT, para a nossa militância, para os nossos prefeitos e as nossas prefeitas, para os nossos governadores, para as nossas bancadas nos três níveis de governo. Cada um de nós tem que ter a consciência de que fazemos parte de um projeto político, um projeto que foi construído por nós no PT. Somos herdeiros de uma tradição política democrática, socialista e de esquerda. Temos um compromisso com o Brasil e com o seu povo, com o projeto de desenvolvimento nacional. O presidente Lula, quando foi eleito, assumiu, na “Carta ao Povo Brasileiro” e no seu programa de governo, uma missão clara para este mandato: governar democraticamente, combater a corrupção, retomar o crescimento econômico e combater a pobreza e a desigualdade no nosso país. Este é o nosso desafio neste momento: colocar em prática tudo o que sonhamos e construímos nos 25 anos do PT, para o bem do Brasil. Eu tenho certeza de que o país reconhece que estamos cumprindo o mandato que o povo nos deu. José Dirceu de Oliveira e Silva, deputado federal (PT-SP), ex-ministro-chefe da Casa Civil (2003-2005), foi presidente do PT entre 1995 e 2002 Resoluções de Encontros e Congressos & Programas de Governo Partido dos Trabalhadores (www.pt.org.br) / Fundação Perseu Abramo (www.fpabramo.org.br) 3