Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios Comprador do Novo Banco livre para resolver papel comercial Maria João Gago | [email protected] Quando a venda do Novo Banco estiver concretizada, comprador terá liberdade legal para resolver problema do papel comercial. Mas BCE pode impor limitações à solução. Também Bruxelas pode levantar obstáculos. Clientes mantêm protestos. O comprador do Novo Banco terá liberdade legal para avançar com uma solução comercial para os clientes de retalho com papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES). Mas a apresentação de uma eventual proposta está sempre sujeita às condições que o Banco Central Europeu (BCE), enquanto supervisor da instituição, entender impor. E a própria Comissão Europeia poderá levantar obstáculos no âmbito das regras sobre ajudas europeias a que o Novo Banco deve ficar sujeito por alguns anos. Neste momento, pelas regras da resolução bancária, o Novo Banco está legalmente impedido de assumir a responsabilidade pelo reembolso da totalidade ou de parte dos montantes que os clientes de retalho aplicaram em papel comercial do GES. No entanto, logo que seja concretizada a venda, a instituição perde o estatuto de banco de transição e fica legalmente liberta daquela proibição, confirmou o Negócios. Ainda assim, o fim deste impedimento legal não significa que a eventual apresentação de uma proposta sobre o papel comercial não venha a estar sujeita a constrangimentos. O BCE, supervisor directo do Novo Banco, pode impor condições ou até limitações prudenciais a uma possível solução. No limite, pode exigir que o novo dono reforce o capital da instituição para compensar o pagamento de compensações aos clientes. Também a Direcção-geral da Concorrência da União Europeia (DGComp) deverá ter uma palavra a dizer sobre uma eventual oferta comercial relativa aos títulos de dívida do GES. Isto porque, após a venda, o Novo Banco ainda deverá ficar sujeito às regras europeias sobre ajudas de Estado, pelo facto de ter sido criado com dinheiro do Fundo de Resolução, considerado uma entidade pública. A DGComp poderá querer avaliar uma possível proposta comercial aos clientes de retalho do ponto de vista da concorrência. Isto tendo em conta que as regras europeias sobre ajudas de Estado pretendem precisamente garantir que os apoios públicos não se transformam numa vantagem concorrencial para as instituições que deles beneficiam. Problema de reputação Para os três candidatos à compra do Novo Banco - Fosun, Anbang e Apollo -, o problema dos clientes de retalho com papel comercial do GES é uma questão de reputação e relação comercial. Que tem de ser avaliada tendo em conta estes aspectos, mas também as implicações jurídicas. Uma posição final só depois da compra da instituição. O tema já suscitou a preocupação entre os interessados, aponto de o Banco de Portugal ter publicado uma deliberação em que refere que o futuro dono do Novo Banco não tem qualquer obrigação de avançar com uma solução comercial para os clientes de retalho. No entanto, a AIEPC - Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial promete manter as manifestações e outras iniciativas de protesto pelo facto de o Novo Banco não assumir o reembolso da dívida do GES. O objectivo é "fazer uma demonstração de resistência aos compradores, reiterando que não vamos desarmar até nos restituírem as nossas poupanças", como ficou claro na manifestação convocada para a última quinta-feira. 2015-07-08