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Revista Semioses | Rio de Janeiro | Vol. 01 | N. 06 | Fevereiro de 2010 | Semestral
As Novas Tecnologias e o Livro para Crianças
Maria Zilda da Cunha - USP
RESUMO: Além do mundo eletro-tecnológico, representado pelas novas mídias, a
questão essencial, que se coloca é como professores e crianças poderiam trabalhar
com a diversidade de linguagens, entrecruzando suas diferenças, a fim de conquistar
uma melhor visão de nossa contemporaneidade.
Palavras-chave: semiótica - leitura - infância – linguagem.
ABSTRACT: Beyond the electro-technologic world, represented by new media, the
essential quest __ in this particular knowledge process __ is how teachers and children may work with diversity of languages, crossing over their differences, to get
better vision of our contemporaneity.
Keywords: semiotics, reading, childhood, language.
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1. Mundo contemporâneo
Queiramos ou não, somos participantes da
revolução eletro eletônica-digital. As tecnologias recentes disseminam informações e têm
caráter interativo, os novos meios de produção
de imagens, os novos alfabetos de luzes da
computação gráfica estão inaugurando uma
era pós - massa, hiper complexa, cujo limiar
começamos atravessar.
Somos uma sociedade sem fios conectada
através de informações, via uma rede urdida
interplanetária de telefonia e de sensores óticos interligando e formando um ciberespaço
(cyberespace). Co-habitamos o universo, hoje,
com seres sintéticos, em outras palavras, com
sínteses sígnicas. Ou, como diz Pierre Lévy
(1996), somos uma multidão de “signos-agentes em interação, vivendo, agindo, pensando,
tecemos o tecido mesmo da vida dos outros”.
Conseqüentemente, estamos em vias de atualizar uma nova ecologia cognitiva, que já se
impôs diante de tantas transformações.
É inegável que tudo isso provoca profundas modificações nas relações do homem consigo mesmo, com o outro, com as linguagens,
com o mundo e com o próprio conhecimento
(Cunha, 1997), e, por conseguinte, se modificam as relações com o livro, novas produções
textuais, novas formas de leitura são promovidas.
2. Re-lendo o problema da leitura
Para procedermos à discussão a respeito
do livro, da leitura, da literatura e sua relação
com a escola, temos de, em primeiro lugar,
atravessar uma brecha: reconhecer que com
a introdução da escrita nos meios eletrônicos,
emergem novas formas de leitura.
Evidentemente ler sobre uma tela não é
ler um códex. Conforme diz Chartier (1994),
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a materialidade do livro foi substituída pela
imaterialidade de textos sem lugar específico;
às relações de contiguidade estabelecidas no
objeto impresso opõe-se a livre composição de
fragmentos infinitamente manipuláveis - são
textos móveis que se dobram e se desdobram
à vontade diante do leitor. Com a desmaterialização do texto eletrônico, vamos ter um
suporte dinâmico que distribui textos on line,
que nos permite ter, pela primeira vez na história da humanidade, uma grande biblioteca sem
muros.
Mas, para avançarmos na discussão, precisamos nos livrar de dois preconceitos:
• O de que um novo meio de produção de
linguagem desintegra o anterior e
• O de que o livro é a única fonte de lazer,
cultura e informação, e que ele é composto tão somente de linguagem verbal e
escrita.
Os novos processos comunicativos têm
provocado o aparecimento de novas formas de
leitura, novos conteúdos de linguagem, novas
formas de subjetividade; têm produzido novas
estruturas de pensamento e outras modalidades de apreensão e intelecção do mundo.
O que traz modificações nos modos de vida
e de interações sociais. Além disso, como já
apontamos, o nascimento de cada novo meio
não leva à morte, nem desintegra aquele que
o precedeu.
“A história nos tem demonstrado que a
tendência dos meios não é a desintegração (e o vídeo texto é o exemplo mais
flagrante disso), mas de criar sistemas
integrais, interdependentes, de modo que
um meio se alimenta do outro ao mesmo
tempo que o retroalimenta”. (Santaella
1992)
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É assim que nessa era de telecomunicações, na emergência da Infoera, o livro tem um
lugar bastante importante. As novas formas
de linguagem não o anulam, mas se enredam
nele, aliás, o lêem. Lêem-no mediante outros
signos. Assim como o livro - mesmo com a palavra impressa cada vez mais lê/escreve novas
linguagens.
Ocorre que códigos como o jornalístico,
o da linguagem publicitária, o fotográfico, o
cinematográfico, o televisivo, o holográfico,
etc.. migram para livro, da mesma forma como
códigos do livro, migram para outros suportes.
Com esse trânsito os textos vão assumindo
características de estrutura hiper-textual; o
que vai requerer um programa de acesso,
via leitura, com características de um mapa
de navegação multidirecional e interativo do
hipertexto do computador para explorar os
limites e possibilidades desse hiper-livro, feito de linkes múltiplos, que vão traçando vias
permutacionais pelas quais é possível navegar.
Assim, é necessário alcançar um patamar
diferenciado de leitura. Pois esse programa
implica em um processo não linear à semelhança de redes neuronais, cuja dinâmica se
pauta pelas efemeridades de ligações, sempre
em trânsito – o centro em todos os lugares e
em lugar nenhum.Um processo de leitura que
inova a tradição, a cada linque, uma viagem
pela rede do conhecimento humano.
3. (A)ventura do livro para
crianças
E é no livro de literatura para crianças que
se torna cada vez mais evidente o intercâmbio
de recursos sonoros, visuais, verbais, em diálogos intertextuais; um diálogo que a ele confere dinamicidade e plasticidade. “livros que
apresentam uma concentração de linguagens
de natureza vária e variada e sem preconceito
em relação ao suporte.”(Góes, 1997)
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Aliás, a operação de linguagem de um
meio para outro vai implicar em consciência
tradutora capaz de perscrutar não apenas os
meandros da natureza do novo suporte, seu
potencial e limites, mas a partir disso, dar o
salto qualitativo, isto é, passar de mera reprodução para a produção”. Em outras palavras,
“traduzir com invenção pressupõe reinventar a
forma, isto é, aumentar a informação estética”.
(Plaza,1987).
Literatura Infantil de boa qualidade é lugar
de manifestações estéticas, e faz confluir as inter relações entre a literatura - arte da palavra –
outras linguagens e demais artes. Rede tecida
de diferentes códigos e linguagens, através das
quais a Vida e a Sociedade se cumprem. Além
do mais, plasmam-se as mutações do mundo
das linguagens, linguagens pelas quais o concreto histórico se fala.
E, evidentemente, como estudiosos de
Literatura, não podemos nos distrair narcisicamente, porque o outro lado do espelho, por
onde se movimentam homens, mulheres e
crianças, está carregado de degradações, crises
e escândalos. Perdemos certezas, valores, e
diante desse quadro, a realidade está exigindo
de nós reivenções. Novas relações humanas,
novas formas de pensar, novas condutas - Uma
nova Ética.
Diríamos, com Santaella, uma nova ética
alicerçada na Estética - na qual o que reina é o
admirável - o que causa admiração para o bem
ou para o mal, para produzir atração ou repulsão. E isto requer refinamento de qualidades
de sentimento, reflexões e raciocínio crítico.
Em síntese, uma Estética que alicerça a Ética e
formas lógicas de pensar.
Embora a questão da Estética seja mais
ampla, podemos dizer que obras de arte
constituem objetos privilegiados para esse
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refinamento, exatamente pelo intercâmbio que
promove entre razão, esforço e sentimento.
“contemplação estética não é contemplação beatificada ou abobada. Ao contrário
é contemplação ativa. Há um fisgamento
que nos atrai. Há um entretenimento, algo
que nos cativa. Mas há também uma razão que borbulha junto com o sentimento.
A suspensão do policiamento da racionalidade, a pura inocência dos sentidos é
fundamental ao estado mental estético,
mas isso não significa que a razão criativa
não entre também em operação para compreender o sentimento” Santaella (1992):
A literatura, como arte, encarna por excelência qualidades de sentimento e “formas de
sabedoria, de um tipo que fala à sensibilidade,
ao mesmo tempo em que convida a razão a
se integrar ludicamente ao sentir” (Santaella,
1994).
via criatividade e imaginação” Mendes.
(1994:)
4. O livro para crianças e as
novas tecnologias
Após esse olhar de sobrevôo, talvez um
tanto vertiginoso, nos detemos em algumas
obras.
I. A Bela Borboleta de Ziraldo
(Melhoramentos).
De natureza híbrida (misto de verbo e
imagem), traz a linguagem técnica do cinema.
O corte cinematográfico e a combinação dos
fotogramas imprimem movimento à narrativa.
E conforme Palo e Oliveira (1986: 11), “o
pensamento infantil é aquele que está sintonizado com esse pulsar... Portanto,.
A montagem cinematográfica interfere
no ato narrativo: os conectores lingüísticos
que garantem a sintaxe e o fio da narrativa
são substituídos por outros no encadeamento
dos fotogramas. O narrador reduz a fala e
fica em proeminência a linguagem imagética,
imprimindo maior movimento para traduzir
os pontos de vista. O foco narrativo no nível
do chão da página, em movimento para cima,
oferece maior abertura, e dá destaque ao
Gato de Botas (aquele que anuncia, que faz a
convocação). Plano geral e o primeiro plano –
close - alternam-se provocando o movimento
de distanciamento e proximidade do objeto
narrado.
“(...) mais do que pensar a Literatura
Infanto Juvenil como gênero sustentado
pelo receptor (que ao crescer a abandona), cabe-nos propor a boa literatura (sem
outras adjetivações), repropondo a qualidade estética, com um dado de fruição,
sem pré-juízos que a delimitem e confinem a uma camisa de força estabelecida
pelo e no seu uso. Almejar a criança é,
ao final, desejar a fruição de uma mente
No plano da história, são introduzidos
heróis de vários contos, que são refuncionalizados. Deslocados de seu posto de origem e
desreferencializados, passam a ser uma multiplicidade de heróis que convivem na história.
Desfazendo para refazer, multiplicam-se as
vozes. Assume o texto um caráter paródico. É
um livro que reverbera ao artesanal do passado, transforma-o e revitaliza-o, através de um
recurso tecnológico do presente.
É, pois, a dimensão estética da literatura
infantil/juvenil (que longe de arremedos de
texto) pode oferecer à criança (ou adulto, a
qualquer agente pensante) a oportunidade de
fruir a linguagem(s) em seu maior grau possível.
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II. Cena de rua
de Ângela Lago (RHJ). Com ausência do
verbal texto é realizado à semelhança de
uma reportagem televisiva3. Apresenta
fotogramas dispostos em seqüência e ligados
por uma lógica de implicação – o que
provoca, como efeito, a impressão de uma
relação de causalidade. Assim, uma relação
de causa e efeito parece mover a narrativa
cujas ações (conflitos, esforço, resistência,
confronto), realizadas pelos personagens no
tempo, se espacializam (geram a cena). A
obra inicia e termina com a mesma cena:
meio da rua, congestionamento de trânsito,
um menino de rua. Vendendo ou roubando?
As cenas seguem-se umas às outras dando
impressão de movimento, pela posição da câmara (visão do alto) e enquadramentos (afastamentos e closes). As cenas são embaçadas,
como se a câmara (em movimento) perdesse o
foco ao se deslocar.
As figuras deformadas e as cores fortes
causam impactos ao olhar do leitor: imagens
anamorfas cifram e decodificam uma realidade, deformando a própria representação – e,
no limiar da narrativa, a descrição: o texto
descritivo qualitativo transforma o caráter
linear da sintaxe, cria uma gestalt de relações
e acaba por recuperar analogicamente qualidades físicas e sensíveis daquilo que é descrito.
Ao recuperar qualidades sensíveis daquilo que
é descrito, a obra é capaz de excitar na mente
receptora sensações análogas às que o objeto
excitaria.
As imagens, assim, hiperbolizam a crueldade da vida de uma cidade grande, as cenas de
um cotidiano perverso. Pessoas ou monstros?
Cenas fortes, cores fortes, emolduradas pelo
negro. Flagrantes das contradições: violência/
serenidade, trabalho/roubo, egoísmo/alimento
compartilhado (vide a cena do menino e do
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cão). E o repórter, aparentemente, flagra e
registra apenas cenas de rua. No entanto, a
deformação, dada pela câmara, é também o
ponto de vista do narrador. A ambigüidade
imprimida, pelos movimentos e pela própria
deformação, os flagrantes em contraste, o distanciamento (grandes planos e os closes) que a
reportagem fílmica possibilita, abrem brechas
para outros pontos de vista.
Diversos pontos de vista, característicos da
perspectiva simultânea e múltipla, conseguem
uma realização espacial que dinamiza o espaço e totaliza a visão, e, uma simultaneidade
que significa movimentar-se no espaço.
O conflito também presente, como princípio de montagem, coloca a percepção e a
memória como elementos dominantes no processo de articulação do significado, detonando
efeitos no intérprete. Nós, como espectadores/
leitores, e o próprio repórter/narrador, parecemos não fazer parte dessas cenas. No entanto,
o texto aponta para um contexto sócio-político-cultural, arena da existência cotidiana,
onde esbarramos com coisas reais factivas que
— exteriores a nós — não cedem ao sabor de
nossas fantasias. Pelo interpretante que surge,
somos colocados como partícipes (não apenas
como espectadores) nesse universo.
A contigüidade invade a similaridade e o
texto se fecha para a identificação e se abre
para a crítica. Ficção e realidade no jogo da
representação. Assim, realiza-se um discurso que registra a apreensão/constatação das
coisas que se oferecem à consciência — uma
possibilidade dissertativa.
Este é um trabalho inteligente e sensível
de Angela Lago. Um trabalho ficcional ou que
reflete a realidade? Para crianças ou adultos?
Independente da resposta, esta é uma belíssima
obra que, em metalinguagem, intertextualiza
realidade/ficção, códigos do códice e códigos
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cinematográficos, códigos das reportagens
televisivas, códigos da literatura e da pintura.
“UM DESABAFO!”, diz a autora4. ”Livro
sem esperança. Sem final feliz.” E completa:
“É um final feliz que devemos dar às crianças.”
Os fotolitos rasgados (marca do gesto que
o produziu), o preto no alto da tela prefigura-se
num jogo modelado na alternância de prisão/
liberdade, em revezamento do espaço interior
e exterior, confinando os seres/personagens
em espaços limitados — quer da tela, do carro, dos cantos da rua (becos que se formam
na dobra do próprio objeto-livro), mobilidade
e acuamento. Um jogo que se efetiva com a
participação do outro. Ações que se processam
em estado de confinamento e clausura, ora encapsulando na quadratura da tela, ora propulsionando rejeição. Enlace e soltura. A tela fala
do outro: espelhamento alternativo em jogo de
inclusão e exclusão, adesão ou não.
Há, na forma quadrada, semelhança com
telas projetivas e televisivas que podem sugerir um monitor de televisão – símbolo de
comunicação do mundo moderno. Cria um
circuito de relações que pressupõe agentes
sem os quais o processo não poderia se efetivar. Ao mesmo tempo, a TV, como veículo caracterizado por imagem, pauta-se por códigos
e signos que devem ser do conhecimento dos
usuários. Estabelece-se uma relação dialogal.
O espectador que participa de uma transação a
que assiste e legitima.
Os agentes se mostram. Imagem e realidade se tocam. No contato, o que se materializa
são fantasmas de luz e sombra habitando um
mundo sem gravidade e que só pode ser invocado por uma máquina de leitura. O livro
converte-se nessa máquina. Destruindo o
canal fora e dentro, o olhar antes à distância
aproxima-se, interpõe-se a concorrência da
mão (mão na massa): o livro lê e reinterpreta.
Essas identificações se fazem por efeito de
montagem. São atrações dominantes pensadas
através da sintaxe da montagem, que devem
produzir fluxos sinestésicos que, de alguma
forma, envolvam os sentidos. Concebido
dessa forma para gerar impacto psicológico.
O produto estético realiza-se ao privilegiar
o conflito, gerando tensões com presenças
impactantes. Transladas as marca do jogo
dialogal, a proposta do artista se clarifica. Sua
obra se quer desabafo, mas denúncia também.
As figuras são idéias e carregam conceitos, especialmente quando confrontadas na urdidura
plástica da montagem. A estrutura desta obra
funciona como que um diagrama de imagens
mentais que perfilam no momento de produção.
III História ...
Com o surgimento de uma multiplicidade
de suportes, a crescente variação de tipos gráficos, a diagramação no jornal e na publicidade
vão devolvendo à palavra escrita sua natureza
semiótica, suas características ideográficas e
pictóricas (sua propriedades de imagem).o que
desde a invenção do código alfabético passava
despercebido. Com a invasão da fotografia, das
histórias em quadrinhos, uma nova espécie de
linguagem começa a desabrochar, entretecida
nas misturas entre palavra e imagem. Mas, é
a introdução do código alfabético nos meios
eletrônicos, no entanto, que traz uma fantástica revolução.
Essa revolução, que vivemos, e cujas conseqüências já podemos depreender, traz para
o universo da linguagem fantásticas transformações. Letras, palavras, configurações,
desenhos nas telas informatizadas são móbiles
de cor, luz que se multiplicam ao infinito, fazendo emergir um código híbrido. Tal sintonia
estabeleceu-se entre visual, sonoro, verbal
que foram lançadas as bases do código hegemônico deste novo século, segundo Santaella
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(1998: 69) “não está nem na imagem, nem na
música, nem na palavra oral ou escrita, mas
nas suas interfaces.” Esta é a característica
dessa nova linguagem nascente: a hipermídia.
Fruto de criações engenhosas de artistas
que se dedicam à produção para crianças,
escolhemos um exemplar dessas obras hipermidiáticas. Consideramos que reflete as marcas dessa revolução e das possibilidades que
os artistas revelam para que esta nossa nova
aventura humana seja guiada pelo faro da inventividade e pelo perfume da vida.
E aqui, convidamos nossos interlocutores
para uma visita ao site de Ângela Lago, para
conferir mais um pouco do que vimos falando
através de
uma história para dormir mais cedo ...
Num espaço negro, pontos de luz surgem.
Em seguida, a lua também passa a compartilhar o espaço assim como a assinatura de
Angela Lago e vários trocadilhos visuais.
Um papagaio que dorme recostado na meia
lua, ao acordar, sugere algumas possibilidades
de o internauta partilhar alguns momentos de
um jogo virtual.
Clicando em HISTÓRIA, palavra que a
ave falante repete por muitas vezes, a estória
tem início. Uma narrativa com estrutura linear
e ao mesmo tempo interativa. As personagens
— mulher, menino, menina e cachorro - são
figuras sintéticas com animação. Uma animação que se faz no ritmo da lengalenga. Suas
ações dependem do cursor, do mouse do internauta e do movimento interno ao programa de
computação.
O verbal - oral e escrito - apesar de sua
dominância simbólica, adquire a função de
ícone de navegação. O som manifesto na lin-
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guagem oral permite atestar, nas inflexões da
voz, o caráter de linguagem híbrida. Temos em
sincronia som, verbo e imagem.
De um equilíbrio inicial, a narrativa evolui para um conflito em que as vozes vão se
sobrepondo em camadas diversas — algo que
vai evidenciando o limite do aparato humano e
revelando um recurso possível da mídia tecnológica. São falas simultâneas que criam planos
sonoros, em uma montagem por sobreposição
de vozes, com seus timbres diferenciados —
fazendo com que a esfera do som deixe de
ser apenas percebida no tempo, ao longo da
duração, linearmente, para engendrar um espaço acústico e mental — o que estaria na base
de composição dos experimentos poéticos de
‘text-sound’.5
A simultaneidade do momento do conflito
contrasta lindamente com o desenvolver tranqüilo da lengalenga e a proposta da História
para dormir mais cedo.
Para a resolução do conflito, faz-se necessário o concurso da atenção, mapeamento
cognitivo e, da ação do internauta por meio do
mouse.
Som/voz/verbo/imagem/ e possibilidades
da leitura não linear explodem no hipertexto
e na hipermídia, nessa nova revolução da comunicação em que vivemos. Como assinala E.
de Melo e Castro a invenção poética é um processo de reciclagem de materiais imagéticos,
convocação histórica de reciclar poderes simbólicos gastos, pois em seus aspectos indiciais
e icônicos detém a propriedade da perenidade,
isto é do não desgaste, são sempre reservas
do pensamento, de suas representações, um
processo de re codificação da experiência sensível.
5. Uma nota final
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Ao intérprete (ouvinte/leitor/internauta),
cabe lançar-se à obra, construir similaridades, estabelecer relações, sobrepor imagens,
participar enfim de um jogo que, sobretudo,
é lúdico. Ao professor, cabe a condução das
crianças e jovens ao caminho da investigação:
viagem rumo à linguagem(s) como parte da
vida, senão ela própria, com os sinais de todos
os tempos...
2. Doutora em Literatura Comparada pela
USP; Profa Dra do Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas da Universidade de
São Paulo.
NOTAS;
5. SAGAE, Peter O’. A palavra e o rádio
para crianças. SEMINÁRIO LITERATURA
ARTE-EDUCAÇÃO LUSO-AFRO-BRASILEIRO, XIII Bienal Internacional do Livro de
São Paulo, CBL, 1994. Palestra.
1. Paper da comunicação apresentada em
Vila Real, Portugal, no 3º Congresso Internacional de Literatura Infantil e Juvenil,. Publicado pela Ed. Asa em 2006.
3. _____. Entrevista com a autora. Belo
Horizonte, 2001.
4. Idem ibidem.
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CUNHA, Maria Zilda. Criança e linguagem: um ensaio preliminar. São Paulo: PUC, programa
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____________. Matrizes de linguagem e pensamento na literatura infantil e juvenil: a tessitura
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2002.
____________. Matrizes de linguagem e pensamento na literatura infantil e juvenil. São Paulo:
Humanitas, no prelo
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GÓES, tos, 1990.
Revista Semioses | Rio de Janeiro | Vol. 01 | N. 06 | Fevereiro de 2010 | Semestral
Lúcia Pimentel. A aventura da literatura para crianças. São Paulo: Melhoramen-
__________ . “Um olhar de descoberta. Leitura, teoria e prática.” In: Revista da Associação da
Leitura do Brasil, nº 17. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991.
__________ . il. Eva Furnari. Olhar de descoberta. São Paulo: Mercuryo, 1996.
LÉVY, Pierre. O que é virtual. São Paulo: Editora 34, 1996.
MENDES, Maria dos Prazeres Santos. Monteiro Lobato, Clarice Lispector, Lygia Bojunga: o
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PLAZA, Júlio. Tradução intersemiótica. São Paulo: Cortez, 1987.
__________ . Ideografia em videotexto. São Paulo: PUC, Programa de Comunicação e Semiótica, dissertação de mestrado, 1983.
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